História Undercover - Hurricane

• Jasmine Maddox

A pior parte de tudo que estava acontecendo era ter que morar embaixo do mesmo teto que a Alexia e ainda suportar Travis vindo aqui ver a namorada. Pessoas sem noção me irritam até o último do fio de cabelo, como pode ser tão cara de pau? Esperava pelo menos um pouco de respeito, principalmente porque ele sabe que o que eu sinto por ele. Modéstia a parte, não sei mesmo como Travis me trocou pela Alexia. Não que eu seja perfeita e sem defeitos, porque todos sabem que tenho, sim, mas ao menos dá para manter uma conversa comigo sem ter vontade de socar o meu nariz. Ainda sem falar dos gemidos exagerados vindo do quarto ao lado; ela parecia uma galinha engasgada, para falar bem a verdade. Prometi a mim mesma que não iria chorar pelos cantos, que não iria me lamentar e tentei me convencer de que Travis não faz ideia da onde está pisando. Realmente pensei que precisaria embarcar naquele avião e voltar para a França, mas o alívio percorreu todo o meu corpo quando minhas súplicas surtiram efeito no meu incrível papai. Só viria deixar as minhas coisas em casa e ir direito para a casa do Travis, dizer que eu ficaria e que não cairia em nenhuma armadilha da Alexia, mas nada disso pôde ser feito. A primeira coisa que se passou pela minha cabeça quando vi os dois juntos, foi que ele estava perguntando por mim e tentando me procurar... até ver a porra do batom no canto da sua boca. Cretino. 

- O que você queria falar comigo? - atendi a ligação do Brad, após várias mensagens. 

- Abriu uma vaga para trabalhar na hamburgueria do meu tio. A que você me perguntou, lembra? - não consegui evitar o gritinho de animação. 

- Sério mesmo?! Obrigada, Brad! Estou louca para ter meu próprio dinheiro, mesmo que seja pouco. 

- Meu tio quer te conhecer. Será das quatro até às dez. Tudo bem pra você?

- Está brincando?! Poderia ser até meia noite que eu não ia ligar! Você tem noção que além de ter minha própria grana, ainda não vou precisar ficar em casa? Meu Deus, estou tão feliz! - dei alguns pulinhos em cima da minha cama. Brad soltou uma risada pela minha animação. 

- Está indo para o colégio? 

- Estou esperando Valerie vir me buscar. Eu vou sair do colégio 15:30 e as quatro estou na hamburgueria, tudo bem? Obrigada mesmo, Brad. Você não faz ideia de como está me ajudando. 

- Agradeça ao meu tio, linda. Te vejo depois. 

- Beijo! - mandei um beijo e finalizei a ligação. 

Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas com um sorriso enorme no rosto. Alexia, meu pai e Travis - filho da puta - estavam tomando café e eu peguei uma maçã na fruteira antes de sentar no meu lugar de sempre. Sabia que estavam se entreolhando sem entender a minha felicidade, mas ninguém ia estragar o meu dia hoje. Ninguém mesmo. 

- Estão me olhando por que? Podem guardar os comentários para vocês, porque ninguém vai estragar meu dia. - dei uma mordida na minha maçã e levantei. - Tchau! - olhei por cima do ombro, diretamente para Travis. Via saudade em seus olhos, mas a minha vontade era de enfiar dois garfos naqueles olhos azuis. Cretino. 

O carro de Valerie estacionou na frente da minha casa e entrei no lado passageiro deixando bem visível o quanto eu estava com o humor lá em cima. Valerie sabia que eu estava tentando arrumar um emprego há alguns dias e ela foi a primeira pessoa que eu contei da ligação do Brad. 

- Esse Brad está subindo no meu conceito, hein. - ela sorriu maliciosa e eu revirei os olhos. - Vocês ficaram desde que você e Travis... terminaram o que nem começaram?

- Não ficamos. Somos só amigos. - falei, pela milésima vez. - E não venha colocar o Warner no meio da história porque elas não tem nada a ver. Não sinto nada forte pelo Brad e sei que ele gosta de mim. Não quero ser uma heartbreaker. 

- Amiga, só por você colocar o garoto na friendzone já está sendo uma heartbreaker. 

- Não tenho culpa! Não posso amar todo mundo, não é mesmo? Imagina só se nós tivéssemos que amar todos aqueles garotos que gostavam da gente no internato. 

- Cruzes! Cada filhote de cruz credo. - disse fazendo cara feia e eu soltei uma risada. 

- Nem me lembre. 

O segundo período seria vago porque o professor estava viajando com alguns alunos que passaram na olimpíada e Valerie e eu fomos para o ginásio encontrar com o resto da galera. Nolan, Melanie, Sophie, Noah, Travis, Leon, Parker e Katie estavam sentados na arquibancada e torci o nariz no instante em que vi os dois desprezíveis lado a lado. Como Katie e eu estávamos no mesmo grupo de amigos, precisávamos aprender a conviver sem as alfinetadas, mas às vezes não consigo me segurar. Ela me deixa tão irritada, quase tanto quanto a Alexia deixa. Pessoas sonsas e dissimuladas me irritam, então estava bem explicado o motivo do mesmo desprezo por elas. Não entendo porque Travis não vai ficar com a Alexia ao invés de ficar sentado na minha frente, me olhando e contribuindo na minha dor interior. Não posso mentir, doía simplesmente olhar para ele... quem dirá vê-lo beijando a Alexia. Ou pior, ouvindo o sexo selvagem de todas as noites no final de semana. Ainda acho que a Alexia exagera para me provocar, porque não é possível que alguém dê gemidos naquele volume e daquele jeito tão horrível. Gemidos deveriam causar mais tesão no parceiro, e acredito que tesão é a última coisa que Travis sente quando escuta aquela galinha. 

- Por que está rindo, maluca? - Noah bagunçou meu cabelo.

- Pensamentos. - falei ainda rindo. - Estou muito feliz hoje. Adivinha quem arrumou um emprego e não vai precisar ficar em casa durante o dia e boa parte da noite?! - apontei os polegares para mim mesma e Noah levantou a mão. Fizemos um high-five.

Eles comemoram comigo pois sabiam o quanto eu queria me livrar um pouco daquela casa e arrumar uma grana.

- Finalmente vai ficar livre da porra da Alexia! - Leon disse levantando os braços e todos ficaram sérios ao olhar para Travis. Ops, ele é o namorado.

- Podem falar. Sei que vocês não gostam dela, não dou a mínima. - Travis deu de ombros e me olhou por alguns segundos antes de olhar para o lado. 

Revirei os olhos e cutuquei a Valerie ao ver os Freshmans jogando basquete na quadra. Max e Lacey estavam mais próximos do que nunca e mesmo que nenhum dos dois pense em romance, eu penso. Caramba, como eu penso! Lacey se acha muito nova para namorar e Max ainda gosta da garota ruiva que partiu o coração dele. Seu ódio por Travis continua o mesmo, mas ele não diz nada na frente da Lacey; compreensível. Os dois estavam jogando basquete de brincadeira e a Lacey estava irritada pois Max é jogador de basquete, então ela nunca conseguia pegar a bola e muito menos alcançá-lo; puxou a altura do nosso pai. 

- Opa, você viu?! - Melanie me cutucou também e olhei para os dois. 

A Lacey colocou o pé para o Max cair e ele ficou muito puto, até jogá-la no chão também. Meu Deus, nunca quis tanto que um casal acontecesse. Lacey levantou de cara feia e Max riu enquanto a puxava pelo pulso. "Para com isso, linda." Consegui ler seus lábios. Eu sabia que ele estava a fim! E eu não era a única a torcer pelo casal, não. Sophie, Melanie, Valerie e Leon estavam vidrados nós dois lá embaixo. Os outros conversavam e Travis parecia estar no mundo da lua. Até levantar da arquibancada e simplesmente sair do ginásio. Deve ter ficado com ciúmes da irmã. 

- Esse menino é louco. - Valerie disse gesticulando e eu dei de ombros. 

Ficamos conversando por longos minutos sobre assuntos aleatórios que não farão nenhuma diferença em nossa vida, até o meu celular apitar com uma mensagem do Owen. Claro. Ele apareceu algumas vezes durante essa semana, mas parava de responder de repente e eu comecei a fazer o mesmo. Contei a ele que não estava mais no internato, mas falei que minha família havia se mudado para Califórnia. 

"Owen: Oi, Skye. Está aí?" 

"Skye: Oi! Sim. Segundo período vago, e você?" 

"Owen: Estou sem aula hoje. Está feliz por algum motivo? Que "oi!" foi esse?"

Nunca dou "oi" desse jeito. 

"Skye: Meu amigo me arranjou um emprego e agora vou poder ficar longe de casa. Bem longe da minha irmã, do namorado dela e dos gemidos dela."

"Owen: Gemidos?! Namorado da sua irmã? O que você não me contou?"

"Skye: Ah, é que eu estava com um cara e descobri que ele é um babaca. Está com a minha irmã e eles transam no quarto do lado." 

"Owen: Transam?! Aposto que não. Ele não faria isso com você. A sua irmã é louca, lembra? Deve ficar gemendo sozinha."

Não contive a gargalhada. 

"Skye: Que horror! Será que ele não dá conta dela e ela precisa ficar se tocando? Puta merda, desculpa. Tô rindo." 

"Owen: kkkkkkkkk ele dava conta com você?" 

"Skye: Que vergonha de falar isso pra você, Owen." 

"Owen: Qual é, nós somos amigos há mais de um ano. Nunca nos vimos, mas você sabe o que significa pra mim. Não sabe?"

"Skye: Sei, sim. Então você quer saber sobre o meu relacionamento com o atual da minha irmã?"

"Owen: Pode começar. Vou classificar como babaca, muito babaca ou caso perdido."

Soltei outra risada e Valerie espiou as mensagens. 

"Skye: Tudo bem. Eu já te contei até a parte do primeiro beijo. O resto foi que estávamos bem, muito bem, mas depois da minha irmã armar contra mim e eu quase voltar para o internato, vi os dois juntos. Caralho, que ódio que sinto até hoje."

"Owen: Você só gostava dele ou, sabe... amava?"

"Skye: Sei lá! Ele não me dava espaço para amá-lo, porque sempre dava alguma confusão. Mas sei que ele tem um efeito sobre mim... nunca senti isso por ninguém."

"Owen: O que te garante que ele não sente o mesmo? Aposto que sente. Quem não sentiria por você?" 

"Skye: Deve até sentir, mas sente mais pela minha irmã. Sério, aquela garota é insuportável. Como ele voltou com ela?"

"Owen: Nunca passou pela sua cabeça que talvez eles não estejam juntos de verdade? Não estranhou seu pai ter mudado de ideia e o cara simplesmente parar de sentir por você?"

"Skye: Não importa. Ele teria me contado e não precisavam ficar se beijando na minha frente. Muito menos transando no quarto ao lado."

"Owen: Olha, classifiquei como muito babaca, mas não como caso pedido. Você deveria tirar satisfação e entender que porra está rolando."

"Skye: Nem fodendo. Eles estão juntos, legal. Vou começar a investir em outro."

"Owen: Em quem?"

"Skye: Se eu estivesse em Atlanta com certeza seria você, mas como não estou... é segredo." 

"Owen: Ah, então se você estivesse Atlanta ia querer me conhecer?" 

"Skye: Enquanto essa história com Travis não chegar ao fim, não vou conseguir me relacionar de verdade com alguém. Mas talvez eu me surpreenda."

"Owen: Tomara que não."

Franzi o cenho. 

"Skye: Oi?!"

"Owen: Ainda quero que seja eu, né gata." 

"Skye: Idiotaaa! Meu amigo está me chamando pra jogar basquete. Nos falamos depois, beijo no coração." 

"Owen: Beijo na boca, linda. De língua ainda."

"Skye: Idiota! Hahahaha."

Guardei o celular dentro da bolsa e estava pensando seriamente em dizer ao Owen que moro em Atlanta. Poderia ser interessante conhecê-lo, mesmo que não saiba se ele é quem diz ser. Eu mudei de nome, mas tenho a idade que digo e minha personalidade também não mudou. E se ele for um homem com mais de trinta anos? Não quero me decepcionar, então prefiro que as coisas continuem assim por enquanto. Além do mais, já basta a bagunça que Travis fez em minha vida. Não quero mais bagunças, estou farta dessas pessoas que instigam o afeto e depois vão embora. Foi covardia o que Travis fez comigo. Foi covardia despertar o amor sem a intenção de ficar. 

(...)

O tio do Brad era muito engraçado e divertido! Além do gerente ser um máximo, os outros que trabalhavam na hamburgueria também eram super legais. Coloquei o uniforme igual de todas as outras garçonetes - que achei tendência, por sinal - e uma das meninas me ajudou durante as primeiras horas. Ainda não me deixaram levar bandejas cheias demais por eu não ter o equilíbrio, então fiquei encarregada de anotar os pedidos. Como eu esperava, a hamburgueria sempre estava cheia, inclusive nos dias de semana e principiante na parte da noite. As três garçonetes - Scarlet, Grace e Sierra - tem a mesma faixa etária. As três estão fazendo faculdade e trabalham aqui nas horas vagas para se sustentar. Scarlet tem vinte anos e Grace e Sierra tem dezenove. Era bom simpatizar com as pessoas logo de cara, principalmente comigo que sou um pouco chata para essas coisas. Scarlet que estava me ajudando a ser mais ágil ao fazer os pedidos e Grace me ajudaria a equilibrar os pedidos na bandeja. Ainda tinham mais dois garçons, Wyatt e Jordan, que também são universitários. O tio do Brad tem um padrão; jovens divertidos para atender os clientes e adultos experientes na cozinha preparando aqueles hambúrgueres que deixou minha barriga roncando. 

- Gostou do primeiro dia, Jazz? - Scarlet questionou enquanto limpava uma das mesas. Estávamos fechando. 

- Muito! Nunca pensei que ia gostar tanto de trabalhar. - comentei enquanto deixava as cadeiras em cima da mesa.

- Quem não gostaria de trabalhar com a gente, não é mesmo? - Jordan disse enquanto ajudava Sierra a varrer o chão. 

- Você é convencido, mas sim. Vocês são mesmo legais. - dei de ombros e eles riram. 

- Você mora para qual lado? - Grace perguntou.

- Norte. 

- Quer uma carona? - Wyatt perguntou. - Grace, Sierra e eu também moramos para lá.

- Pode ser. Obrigada. 

- Quem vai escolher hoje, hein? - Sierra apontou para a jukebox.

- Eu! - Grace foi até a jukebox e o acionou com moedas. 

Logo uma música desconhecia por mim preencheu o ambiente e eles voltaram a limpar enquanto dançavam, riam e conversavam. 

- Caramba, já quero amanhã.