História Undercover - Alarm

Descobri que o meu pai tinha uma cópia de todos os jornais em que eu apareci enquanto estava na França. Tinham três ao todo, onde eu era conhecida como "garota não identificada". Sempre conseguia fugir antes de pedirem a minha identidade e sempre ficava por isso mesmo; ninguém procuraria uma garota maluca dentro de um internato. A questão é que a segurança do colégio interno não era das melhores e por mais que fosse um colégio repleto de regras, Valerie e eu tínhamos vantagens com os seguranças dos enormes portões. No início eles ficaram receosos, como se pudessem ser pegos - e realmente poderiam -, mas com uma grana e um pouco de charme conseguimos pela primeira vez. Depois que fomos pegas pela primeira vez, nós não entregamos os nossos cúmplices, mas as regras ficaram mais firmes em relação a nós duas. Paramos de usar os seguranças para escapar. Após um protesto dos alunos, podíamos sair do internato durante os finais de semana; mas com supervisão. A maioria dos alunos estavam lá porque os pais colocaram, então poderiam tentar fugir durante essas saídas e esse foi o motivo da supervisão. Conseguíamos escapar todas vezes e ligar para os nossos pais nunca resolvia nada. Ligar para a polícia também não seria bom para a política do colégio, devo imaginar. E como a Diretora nos conhecia muito bem, sabia o que estávamos procurando e sabia que voltaríamos. Sempre tínhamos que voltar e os castigos se estendiam cada vez mais; isso não era grande coisa para nós duas, comparada as noites loucas que compensavam. 

Sentia falta da sensação de ser despistada por eles. Sentia falta das noites em que Valerie e eu dávamos as mãos e simplesmente saíamos correndo pelas ruas iluminadas com o vento gelado batendo contra o nosso rosto, bagunçando nosso cabelo. Me sinto mais presa aqui do que lá e demorei para notar isso. Acho que gostava de estar presa e ser liberta - mesmo que sem permissão. Acima de tudo, sei que gostava mais de estar lá pelo simplesmente fato do meu pai estar aqui. Estar longe dele e da Alexia era um dos maiores alívios; pensava nisso quando estava na detenção, pensava nisso quando estava limpando os dormitórios, pensava nisso quando estava ajudando a lavar as louças e pensava nisso cada vez que deitava em minha cama. As pessoas tem me perguntado o que quero da minha vida, qual curso quero na faculdade e qual universidade escolher... tenho vontade de mandar todos se foderem com essas malditas perguntas. Me sinto tão pressionada, quando ainda nem sei o que realmente quero. A única que eu sei é que quero estar longe das pessoas que partilham o mesmo DNA que eu e quero ser livre. Só. E sei que não é o bastante. 

"Owen: Por que não está conseguindo dormir? Aconteceu alguma coisa?"

"Skye: Tenho tido muita insônia ultimamente. E parece que você também. Sinto falta de quando ficávamos as madrugadas dos finais de semana conversando... era divertido."

"Owen: Também sinto falta. Pelo menos as coisas estão um pouco diferente agora... mais ou menos."

"Skye: A causa da sua insônia é alguma garota, Owen? Não acredito!!!"

"Owen: É, é por causa da minha namorada. Ex, na verdade. Não consigo parar de pensar nela, tô fodido."

"Skye: Nossa, você está mesmo apaixonado! Nesses quase dois anos que nos falamos, eu nunca te vi apaixonado. Você nem falava das meninas para mim, só das que você trepava. E sem nomes."

"Owen: É... não sei o que essa menina faz comigo. Nem lembro mais qual era a minha zona de conforto antes de conhecê-la."

"Skye: Que fofo! Agora ela é sua zona de conforto... mas por que vocês terminaram?"

"Owen: Não tenho uma relação muito legal com os pais dela. Foi para o bem dela, só queria que ela ficasse por perto."

"Skye: Isso não cabe a você decidir, Owen. É escolha dela se quer ficar com você ou não. Sério, deixa essa de "é para o bem dela" para os filmes. Ela deve estar puta."

"Owen: Você não faz ideia..."

"Skye: Mas me fala mais sobre ela."

"Owen: Não sou bom nisso, mas sei lá... ela é diferente de qualquer garota que eu já conheci. Tem uma maturidade e uma energia fora do normal." 

"Skye: É tão fofo te ver apaixonado! Qual o nome dela?"

Estranhei a demora da resposta, mas aproveitei para pegar um cobertor mais quente dentro do meu armário. Não estava mais nevando, mas o frio era intenso. 

"Owen: Jessie."

"Skye: Hmm, Jessie. Bonito nome. Ia perguntar se ela é bonita, mas imagino que deve ser."

"Owen: Pra caralho. Porra, como estou sentindo falta do sorriso dela..."

"Skye: Não perde tempo não, cara. Aposto que ela está do mesmo jeito que você."

Bufei impaciente quando Owen não me respondeu mais. Não parava de me revirar na cama e decidi levantar um pouco. Saio do quarto para poder tomar uma água ou talvez assistir televisão até pegar no sono. Não importava o que eu fizesse nos últimos dias, nada me fazia ter sono no meio da madrugada. Ou eu dormia antes da meia noite ou eu não dormia o resto da noite; ao não ser quando íamos em festas, aí o sono vinha automaticamente. Sentei na bancada da cozinha enquanto tomava um copo de suco de laranja e soltei uma lufada de ar ao ser ignorada pela minha melhor amiga - de novo. Sabia que ela estava com o Leon, mas eu estava carente e queria conversar. 

Notei que não conseguia ficar parada e pulei da bancada para ir até o sofá. O lado bom de os quartos serem no segundo andar é que se torna impossível ouvirem o som da televisão ligada - pelo menos na minha casa sim, graças a Deus. 

- Está com insônia, Minnie? - ouvi aquela voz sussurrar perto do meu ouvido e meu primeiro instinto foi fechar os olhos pela sensação familiar. O segundo, ao lembrar que se tratava de Travis Warner, foi dar uma cotovelada. 

- Não me enche. Vai dormir. - retruquei enquanto ele colocava as mãos na barriga pela dor da cotovelada. 

- Não faz assim comigo. - seu semblante se tornou sério e preciso, o que me fez esquecer por um segundo o que ele tinha feito. 

- Você quem fez. - cruzei os braços, voltando a olhar para a televisão. - Qual é a sua afinal? Você queria perder um tempo comigo? Era divertido? Foi divertido pra você brincar com os meus sentimentos? - me virei para ele, disposta a fazer todas as minhas perguntas. Travis se endireitou ao meu lado e se virou para ficar de frente para mim também. - Ah, é! Tinha me esquecido que era isso que você fazia sempre antes de me conhecer. Perdia tempo iludindo várias garotas e ainda se divertia. 

Ele engoliu em seco. 

- Isso era antes de te conhecer...

- Então por que a mesma história está se repetindo comigo? - perguntei, encarando-o. - Eu pensei que você...

- E eu sou. Eu sou apaixonado por você. 

Soltei uma risada irônica enquanto virava para frente novamente. Aquilo soava mesmo como uma piada. 

- Queria entender que tipo de paixão é essa. 

- Minnie... 

- Não me chama assim, Travis. - fechei os olhos e no segundo seguinte senti seus dedos roçando o meu braço. Respirei fundo ao perceber o efeito que ele ainda tem sobre mim e por mais que quisesse, não consegui me afastar. 

Viro o rosto e levanto o olhar para encara-lo. A minha vontade era de questionar o que ele queria de mim, mas no fundo eu sabia que tinha algo muito errado acontecendo. Era instintivo; simplesmente não entrava em minha cabeça Travis querer ficar com a Alexia dessa forma. Podia perceber o que ele sentia pelo jeito que me olhava e como seu corpo reagiu quando cedi ao seu toque. Queria que ele me dissesse o que diabos está acontecendo. 

Pareceu que meu corpo inteiro adormeceu quando senti seus lábios roçando o meu pescoço. E ele reacendeu novamente quando sua mão foi até a minha nuca e minha boca finalmente encostou na sua. Deixo de lado todas as minhas dúvidas ao segurar seu rosto para puxa-lo o mais perto possível. Sabia que estava fazendo uma idiotice do tamanho do mundo, mas sempre fui acostumada a seguir os meus instintos e naquele instante, algo me dizia que tudo isso era um grande mal entendido. Só queria que ele me contasse; quem sabe depois do beijo que estava fazendo todo o esforço de evitá-lo ir por água abaixo? 

- Você não pode fazer isso comigo. - sussurrei, sentindo nossos lábios se roçando. Levantamos o olhar ao mesmo tempo. - Você não pode! - levantei do sofá. - Fica longe de mim, Travis. Enquanto estiver com ela, fique longe. 

- Minnie... 

- Você vai me contar o que está acontecendo? - perguntei e ele abaixou a cabeça. - Então, ótimo. Você sempre consegue o que quer, na hora que quer e não fique pensando que vai me beijar sempre que me ver. Eu nem sei o que estava pensando! Você me viu aqui sozinha e veio tirar proveito, né? Volte para sua namorada. 

Senti meu sangue ferver quando seus lábios se curvaram em um sorriso. Um sorriso ridículo. 

- Por que caralhos você está sorrindo, Warner?! Você é doente. - passo por ele com os braços cruzados e me irrito ainda mais quando ele me puxou pela cintura. - Me solta ou eu vou gritar. 

- Grita. - sussurrou antes de dar um beijo casto em meu pescoço. Me arrepiei dos pés a cabeça e tive vontade de me bater. 

- Babaca! - o empurrei para longe de mim, que ainda estava sorrindo. 

Ele é um idiota. Sempre foi: dá para saber só pelo sorriso presunçoso. Sabia que nunca poderia confiar em garotos bonitos com sorrisos presunçosos. 

- Boa noite, Minnie. 

- Chupa meu pau, Travis. - mostrei o dedo do meio e quase dei um tapa na boca dele pela sua gargalhada alta demais. 

Ouvimos o barulho de uma porta se abrindo e arregalei os olhos ao ter certeza que era Alexia. Eu nem iria ligar, mas Travis ficou completamente nervoso e subiu as escadas correndo. Agora ela chamava e ele ia correndo? Legal, Travis. Show! 

(...)

Brad me deu uma carona para o trabalho no sábado e eu não conseguia parar de pensar no que Valerie tem me dito desde que comecei a vê-lo todos os dias. Sabia que era errado pensar nele como uma forma de desviar os meus pensamentos de Travis, mas eu realmente gostava dele e adoraria que o nível aumentasse. Por enquanto, gosto no nível da amizade, mas quem sabe o dia de amanhã?

- Obrigada pela carona. - agradeci antes de abrir a porta. 

- Espera, Jazzy. - ele tocou o meu braço. - Você quer sair comigo amanhã?

- Pode ser. Para almoçar ou no final da tarde? 

- Você escolhe. 

- Almoçar, então. Te ligo quando eu estiver pronta. - me inclinei para dar um beijo em sua bochecha e saí do carro. 

Scarlet, Grace, Wyatt, Jordan e Sierra estavam se divertindo ao som de Rihanna enquanto arrumavam tudo para a hamburgueria ser aberta e dei bom dia para todos antes de vestir o uniforme para ajuda-los. As meninas estavam combinando de ir a uma casa noturna quando saíssem hoje e me convidaram para ir junto. Nenhuma de nós quatro temos vinte e um anos, mas todas nós temos identidades falsas - o que era algo bem comum para universitárias como elas. 

- E aí? Você está saindo com o sobrinho do nosso patrão, safada? - Sierra disse me olhando com um sorriso. 

- O conheço desde pequena. - dei de ombros. - Ele me chamou para sair amanhã. 

- E por que não está animada? Ele é um gato. - Scarlet disse. 

- Gosto de outra pessoa. 

- Por que não está com essa pessoa? 

- Longa história. 

- Quero ver uma foto. Me mostra aí. - Grace se inclinou para perto de mim. - Você deve ter uma foto por aí? 

- Apaguei todas. 

- Então, conta. Temos um bom tempo até abrir. - Sierra disse, claramente curiosa. As três pareciam curiosa. 

Não queria me aprofundar naquele assunto, então contei só por cima mesmo. E, no final, elas tinham certeza de que tinha algo que não estava sendo contado. Eu também acreditava nisso. 

- E estamos abertos! - um dos funcionários gritou da cozinha e o tio do Brad, Joe, bateu nas mãos de todos nós enquanto passava. Era sempre assim. 

Tem bastante movimento durante o dia todo e mesmo com poucos dias trabalhando, já peguei a prática de equilibrar uma bandeja com os pedidos. Apenas uma. 

- Fala, Valerie. - atendi a ligação da minha melhor amiga no momento que só tinham duas mesas ocupadas.

- Merda, esqueci de novo que você não vai mais poder sair no final de semana. - ela bufou.

- Eu vou poder sair um sábado sim e um não. Hoje todos estão aqui, mas semana que vem vai ficar apenas Sierra, Jordan e um tal de Will. No outro sábado eu, Wyatt, Scarlet e Grace. Vai mudando. - falei. - Já te contei, Valerie. 

- Eu sei, mas eu estou um pouco esquecida ultimamente. - disse. - E você está bem? Em relação a recaída de ontem? 

- Ótima. Vou sair com Brad amanhã e não quero ouvir falar de Travis até ele me contar o que diabos está rolando. - respondi. - Preciso desligar. Nos falamos amanhã. 

- Bom trabalho. Te amo, JM. 

- Também te amo, VP. - falei rindo e finalizei a ligação, guardando o celular em um dos bolsos do uniforme. 

- Se aquele velho nojento da mesa 8 continuar me olhando daquele jeito e fazendo comentários machistas, eu vou jogar cerveja na cabeça dele. - Scarlet entrou na cozinha completamente puta. - Tá legal, nossa roupa é uma saia e é curta, mas ele pensa que é quem? Sério, estou irritada.

- Se você jogar cerveja na cabeça dele, Joe te mata. 

- Joe também odeia esses velhos nojentos. Já aconteceu uma vez com a inocente Grace. - Scar disse encostando na parede. 

- Wyatt, vem cá! - chamei Wyatt e ele franziu o cenho enquanto vinha até nós. - Agora você vai atender a mesa 8. 

- Por que? 

- E... - Scarlet sorriu ao perceber o que eu ia fazer. - Você vai dar em cima dele. 

- Hã? Estão loucas? 

- Ele está dando em cima da Scarlet. Quero só ver o que ele vai fazer se você der em cima dele. 

- Eu não vou fazer isso. Joe vai me demitir. 

- Qual é, você sabe que Joe ama todos nós. - Scarlet disse. - Vai lá, Wyatt. 

- O que ele disse pra você? 

- Nem queira saber. Você iria querer bater nele. - Scarlet balançou a cabeça. 

- Vai, Wyatt! Por favor. - coloquei as mãos em seus ombros. - Vai! 

Ele soltou uma lufada de ar e inclinou a cabeça para o lado. 

- O que vocês me pedem sorrindo que eu não faço chorando? - ele revirou os olhos e deu as costas, saindo da cozinha. Soltei uma risada enquanto olhava para Scarlet. 

- Essa vai ser boa. 

Wyatt pegou mais uma cerveja pedida pelo homem da mesa 8 e ele franziu o cenho ao ver que tinha mudado de garçom. Grace e Sierra começaram a rir também quando viram Wyatt jogando seu charme para o cara, que começou a ficar puto. Soltou "você acha que eu sou veado, moleque?". Wyatt respondeu "Você pode não ser, mas eu te faço querer ser". 

- Wyatt vai apanhar. - Jordan disse rindo. 

E o cara realmente partiu para a agressão, segurando Wyatt pelo colarinho. Babaca. Grace, Scarlet, Sierra, Jordan e eu fomos até eles. 

- Não gostou? É assim que eu me senti com seu convite para ir ao motel. Na verdade, muito pior. - Scalert o impediu de ir para cima de Wyatt novamente. 

- O que está acontecendo aqui? - Joe apareceu, parecendo bem irritado. 

Scarlet disse algo em seu ouvido e seu olhar se voltou para o cliente. 

- Pague o que você consumiu e saia daqui. Não aceitamos assédio com nenhuma das funcionárias. 

Ele pareceu envergonhado ao ver que todos estavam olhando-o. Deveria estar mesmo. 

- Ah! Pede desculpa. - não consegui me segurar. 

- Eu não vou ped...

- Você sabe que assédio é crime, não sabe? E aposto que sua esposa odiaria saber disso. - falei, com os olhos fixos em sua aliança no anelar da mão esquerda. 

- Desculpa. Não queria te ofender. - ele olhou para Scarlet. 

- E peça desculpas para o cara que tentou bater. - Sierra apontou para Wyatt, que sorriu piscando os olhos; ainda interpretando o papel de gay. 

- Desculpa. Extrapolei. - ele deixou o dinheiro em cima da mesa e caiu fora praticamente correndo. 

As pessoas das outras mesas bateram palmas, certamente porque viram o que ele estava fazendo e Wyatt olhou nervoso para Joe.

- Não me olha com essa cara. Não vou te demitir. - Joe disse. - Jasmine, você é nova aqui, mas quero deixar claro que nenhum tipo de assédio contra vocês são aceitos. Se algum cliente te desrespeitar, insinuar algo... pode falar comigo. 

- Tudo bem. Acho muito legal vocês fazerem isso. 

- Obrigada, Jazzy. E obrigada, Wyatt, seu medroso! - Scarlet sorriu. 

- Podemos voltar ao trabalho, certo? - Joe disse e todos assentimos, circulando dali. 

- Querem mais alguma coisa? - perguntei, parando perto da mesa 12. Era um encontro triplo aquilo. Achei bem fofo. 

- Não, obrigada. - uma das garotas disse e eu assenti, voltando para a cozinha. 

- Como você reparou na aliança dele? - Grace perguntou. - Eu nem tinha visto. 

- Tinha visto desde que a Scarlet levou a primeira cerveja. - respondi. 

- É sério que ele falou para vocês irem a um motel? - Sierra perguntou, indignada. - Nojento. 

- E ainda disse que ele poderia me pagar se afetasse o meu trabalho. - Scarlet riu incrédula. - Nojento é pouco. 

- Tá legal, vamos mudar de assunto. 

- Ou vocês podem parar de conversa e ir trabalhar. - Joe disse enquanto passava por nós. 

Fui até o caixa e a esposa do Joe, Lucy, disse que eles já pensaram várias vezes em trocar as meninas bonitas, mas disse que o problema não estava nelas e sim nesses machistas que não sabem separar as coisas. E o pior: acham que todas as mulheres estão interessadas em seu pau. Palavras da Lucy; adoro ela. Ela e Joe são casados há menos de três anos e ambos são jovens - trinta e dois anos. 

Por volta das oito e meia, a hamburgueria começou a encher de uma forma maluca. Era sempre assim. A galera e eu ficávamos doidos, correndo de um lado para o outro para poder atender todo mundo. Até que vi Travis entrando na hamburgueria. Quase derrubei a bandeja e Scarlet perguntou o que tinha acontecido. 

- É ele, não é?! - ela adivinhou ao olhar para onde eu estava olhando. - Gato demais. Porra... 

Me aliviei quando Valerie, Leon, Nolan e Melanie entraram atrás dele. Ufa. Era muito melhor ver todos eles do que Travis sozinho ou apenas com Alexia. 

- Vai lá! - Scarlet deu um tapinha no meu traseiro. 

- Eu não quero ir! 

- Eles são seus amigos, certo? Vai logo! 

Bufei enquanto pegava o aparelho onde anotávamos os pedidos; era bem mais fácil assim do que com as canetas e os bloquinhos. Travis quase se engasgou ao me ver indo na direção deles. Ele sabia que me encontraria aqui, mas ao ver seu olhar descer para o resto do meu corpo notei que era por causa do uniforme. Idiota. 

- Oi, gente! - entreguei um cardápio para cada um. 

- Caralho, você ficou muito gata com essa roupa de garçonete. - Nolan levou um tapa de Travis na cabeça após esse comentário. 

- Obrigada, Nolan. 

- Está gostando no emprego novo, Jazzy? - Melanie perguntou. 

- Vocês não fazem ideia do quanto! Tem alguns clientes otários, mas no geral é incrível. 

- Caramba, por que você não falou que os outros dois garçons são tão gatos? - Valerie disse, certamente para provocar Travis. 

Leon olhou feio para ela e Travis bufou, ainda sem direcionar um olhar sequer em minha direção. Fiquei olhando-o só para provocar; estava nítido que ele estava morrendo de vontade de levantar o olhar, mas permaneceu fitando o cardápio. 

- Quando decidirem o que querem, me chamem. - sorri rapidamente e dei as costas, voltando para a cozinha. 

- E aí? Caralho, até eu senti o climão! Está óbvio que ele ainda te quer. - Scarlet disse. 

Antes que eu respondesse, ela precisou levar o pedido até uma mesa e eu fui atender a mesa de alguns garotos indecisos. Uau, eles eram bonitos. 

- O que vocês vão querer? - perguntei com o aparelho nas mãos. 

- Pode ser você? - olhei para o garoto que disse isso. 

- Um cara foi expulso daqui hoje por fazer comentários para a outra garçonete, então cuidado com a sua língua. - respondi e os amigos dele fizeram um coro de "wooow". - O que vocês querem? 

Os quatro meninos disseram o que queriam e eu sorri antes de ir até a mesa dos meus amigos. 

- E aí? Já decidiram? 

- Você não pode mesmo sentar um pouquinho aqui com a gente? - Melanie perguntou. 

- Olha como isso está cheio. É impossível. 

- E o gatinho da mesa 16 está de olho em você. - Valerie sussurrou e eu revirei os olhos, um pouco impaciente. Merda de estresse de ter passado a noite passada inteira em claro. 

- Gente, preciso atender outras mesas. Já decidiram? 

- Sim. Mas que bicho te mordeu? - Nolan perguntou. 

- Só me falem, vai. 

Anotei o pedido deles e voltei para a cozinha, encontrando Wyatt e Sierra também um pouco impacientes. Sempre acontece quando começa a lotar demais, mas Joe diz que sempre precisamos estar com um sorriso no rosto; simpatia gera simpatia. 

- Jasmine, fique um tempo no bar com o Will. Está cheio também. - Joe disse. 

- Mas eu não sei preparar... - tarde demais. Ele já tinha voltado para o caixa. 

Bufei enquanto ia até o bar e Will franziu o cenho ao me notar. 

- Joe me mandou vir aqui. O que eu faço? 

- Me fala as bebidas que são pedidas. 

- Ok. 

Tinham vários homens e mulheres encostados no balcão do bar; que era mais afastado das mesas e fui avisando ao Will as bebidas que eram pedidas. Soltei uma lufada de ar assim que vi um dos garotos daquela mesa sentar perto de onde eu estava. 

- Qual bebida você quer? - perguntei. 

- Dois shots de tequila. 

Ia pegar a garrafa de tequila e os copos, mas franzi o cenho e voltei para perto do balcão. 

- Preciso ver sua ID antes. 

- Sério? - disse com deboche. 

- Seríssimo. Meu patrão me mata se eu deixar um menor beber. 

- Tá legal, você me pegou. Tenho dezenove. 

- Que pena. Agora volte para sua mesa. 

- Me diz o seu nome. 

- Cara, eu estou trabalhando. Tchau. 

Aproveitei que Joe estava passando e perguntei se eu precisava mesmo ficar aqui se sou mais útil servindo as mesas. Não sei preparar nenhuma bebida e servir de porta-voz para Will estava irritando-o. Joe permitiu e eu peguei os pedidos da mesa dos meus amigos. 

- Aqui. 

- O gatinho foi te azarar? - Melanie riu. 

- Nossa, eu estou irritada em um nível hoje. - falei séria. - Espero que gostem e bom apetite. 

- Espera aí! - Nolan disse. - Você vai sair que horas? 

- Depois da meia noite. 

- Vai ter festa na casa do Garrett. Vamos pra lá depois. Quer ir? 

- Eu acho que quero ir embora. Não dormi a noite inteira ontem e estou cansada. - falei. - Mas obrigada pelo convite. 

Precisei aguentar olhares daquele garoto de dezenove anos em mim. Pelo menos ele não estava sendo nojento. Iniciar uma conversa é bem diferente de ser um babaca. 

- Estou morta. Quero mandar todo mundo embora. - Grace disse no meu ouvido e eu assenti, rindo um pouco. 

- Falta pouco. 

Os meus amigos foram os últimos a ir embora ainda tentando me convencer a ir a festa do tal de Garrett, mas eu só queria aproveitar o meu sono e ir para casa. As meninas foram embora mais cedo por terem um compromisso com a faculdade amanhã e Wyatt, Jordan, Will e eu ficamos limpando com a ajuda dos outros funcionários. 

- Pode ir embora se quiser, Jazz. Você parece tão cansada. - Jordan disse. - Nós damos conta. 

- Aí, eu quero. - fui sincera. - Posso ir, Joe? 

- Pode. Bom descanso amanhã. - disse. 

- Obrigada! Boa noite, galera! - me despedi de todos, que responderam "boa noite" em uníssono. 

O lado bom de trabalhar no centro da cidade é que as ruas são bem iluminadas durante a noite. Tinha um longo caminho até o ponto de ônibus; e o frio era gritante mesmo com o sobretudo que eu usava. Franzi o cenho ao sentir um papel dentro do bolso do uniforme. 

"Não acreditava em paixão a primeira vista até te ver sorrir, Jasmin."

Soltei uma risada com o bilhete clichê. Mas o segundo reflexo foi perceber que ele me chamou de Jasmin, então deve saber o meu nome. Tá legal, aposto que era Wyatt ou Jordan tirando com a minha cara. Como conseguiram colocar dentro do meu bolso? Peguei o meu celular para ligar para a Scarlet e perguntar se ela viu alguma coisa. 

- Fala, gata. 

- Ainda não estava dormindo, né? 

- Ainda nem chegamos no apartamento. - disse. - Mas o que aconteceu? 

- Apareceu um bilhete estranho no bolso do meu uniforme. Você viu alguma coisa? - perguntei. 

- Você tem um admirador secreto?! O que está escrito no bilhete? Aí, meu Deus! - Scarlet sempre tão espontânea. 

- Que ele não acreditava em paixão a primeira vista até me ver sorrir. - falei meio rindo. - Clichê, não é? 

- Clichê, mas romântico. Adorei! - disse. - Espera aí, a Sierra está dizendo aqui que foi o Jordan quem colocou no seu bolso. 

- O Jordan?! - quase gritei. 

- Não o Jordan, mas o Jordan a pedido de alguém. - Sierra explicou. Ufa. - Eu não vi quem pediu, mas eu o vi colocando enquanto você estava concentrada mexendo no celular. E o Wyatt também viu, então foi perguntar. Jordan disse que um cara pediu. 

- Pelo menos Jordan continua sem acreditar em amor a primeira vista. - falei rindo. - E o cara sabia meu nome. Jordan deve ter falado. 

- Ele escreveu seu nome? 

- Escreveu "Jasmin", referente a flor. Um "amigo" meu me chamava só de Jasmin assim... é meio estranho. 

- Não está curiosa para saber quem é? - Scar perguntou. 

- Eu acho que foi aquele garoto da mesa cheia de testosterona. - falei. - Ele me cantou algumas vezes e é bem provável que tenha feito isso. 

- Ahhh, o gatinho! - Sierra disse do outro lado. 

- Vem cá, e se foi o seu ex-namorado tentando te deixar desse jeito? - Scarlet perguntou. 

- Não, Travis não faria isso. E ele diria algo relacionado a nós dois, mesmo que sem citar nomes. 

- Pelo menos não foi uma cantada do tipo "Doeu quando você caiu do céu?" - Scarlet disse, me fazendo rir. - Ele não assinou nada? Nem um codinome? 

- Nadinha. E achei a letra dele bonitinha. 

- Manda foto. Vou analisar. 

- Quando eu chegar em casa mando. Estou chegando no ponto de ônibus. 

- Tudo bem. Beijinhos. 

Finalizei a ligação e tentei ligar para Valerie, mas deu caixa postal como imaginei. Ela deve estar na festa do Garrett, então só mandei uma mensagem contando o que tinha acontecido. Ela ia surtar. Está maluca para que eu arrume outra pessoa e pare de pensar em Travis; e sinceramente... eu também estou.