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História Undercover - Daddy issues


Escrita por: loudestecho

Notas do Autor


Oieee! Boa leitura! ❤

Capítulo 21 - Daddy issues


Lembro de uma ligação que recebi do meu pai enquanto estava presa naquele internato. Após a minha primeira fuga rápida com Valerie, a direção resolveu que eu precisaria conversar com pessoas da minha família e resultou em uma discussão de duas horas seguidas por uma simples tela de notebook. Aquilo não havia sido o real problema, já que não afetou nada na vida perfeita que meu pai finge que tem. De alguma forma, ele ficou sabendo quando fui parar nos jornais como uma garota desconhecida e seu impulso foi me ligar instantaneamente. Queria saber se meu nome - seu sobrenome - havia sido exposto, se eu havia sido presa, se eu tinha me ferrado o suficiente para ser expulsa. Ele entrou em pânico na possibilidade de todas essas opções; e o que mais lhe aterrorizava era que eu precisasse voltar para Atlanta e manchasse o nome do império que ele construiu as custas da fortuna da minha mãe. A família da minha mãe - os Roden's - tem uma empresa de publicidade em Seattle e meus pais se conheceram quando uma filial foi construída aqui em Atlanta. Pela certa fama que eles possuíam, não demorou para que meu pai conseguisse o seu lugar dentro da empresa. O resto da sua família - os Maddox's - são da Califórnia e ele se formou em administração. Se aliou aos poderosos empresários de Atlanta - inclusive o pai de Travis, aposto - e, ao se envolver com a minha mãe, se tornou um dos diretores. Ele sempre fora desesperado pela sua reputação na cidade e nenhum de nós deveria fazer besteira para não manchar o seu nome. A minha vontade de arrancar o nome Maddox da família da mãe a força. Era patético como ele havia conquistado todos da família dela. "O império que ele se esforçou tanto para construir". Ata. Minha mente não parava de alternar entre o meu pedido, a sua recusa e o que ele enfartaria se eu fizesse. 

O que eu tenho a perder? 

Nada. Exatamente. Ele não pode tirar meu emprego, ele não pode tirar a minha liberdade - que sequer existe -, ele não pode tirar a minha faculdade. Ele não pode tirar nada. Não queria mais ser quem eu era enquanto estava no colégio interno, mas aquela Jasmine queria voltar e estava gritando para reaparecer. O bônus ainda seria infernizar a vida do meu pai, da mesma forma que ele anda fazendo com a minha. E a primeira manchete já estava jogada em cima da minha cama, enquanto Charles fazia um discurso sem controlar o tom de voz. Me meti em uma confusão em uma boate na sexta-feira passada e acabei jogando gelo nos peitos de uma garota. Ela não deixou barato e jogou toda a sua bebida em minha cabeça... coitada. Só paramos de rolar no chão quando um policial apartou a briga e ameaçou levar as duas para a delegacia. Bom, delegacia ainda era muito pesado para mim. Ainda. Então apenas fui em direção à saída da boate; porém aquilo foi sem a real de intenção de que caísse na boca de todos. Um jornalista local presenciou tudo e dedicou uma coluna apenas sobre a herdeira imprudente da empresa do Maddox. Rá, como se eu fosse a herdeira. 

- Se você aparecer uma segunda vez nesses jornais vagabundos com o meu sobrenome, terá consequências. - decretou, antes de sair do quarto batendo a porta. 

Ah, meu bem, isso nem era o começo. E a melhor parte: descobri quem é o tal jornalista e já havia encontrado outras vezes antes. Sua função no jornal no qual trabalha é bisbilhotar a vida dos poderosos da cidade e isso se resume em seguir a filha irresponsável de um deles. Só preciso saber o que quero que meu pai saiba ou não, senão aquele jornalista vai acabar publicando coisas pela qual eu não autorizei. Meu pai até ameaçou encontrar o responsável por usar o meu nome sem meu consentimento, mas já tenho dezoito anos e, felizmente, algumas coisas posso fazer sem precisar dele. 

- Desculpa o atraso, Joe! - digo assim que entro na cozinha da hamburgueria. - Acabei de levar uma bronca terrível.

- Imagino o motivo. - ele levantou o jornal em suas mãos e arregalei os olhos. - Que confusão, garota! 

Franzi o cenho quando notei um tom de brincadeira em sua voz. Logo me dei conta de que meus amigos do trabalho já devem ter comentado o que meu pai tem feito comigo durante os últimos... hã, anos. Não respondi nada a ele enquanto amarrava o avental preto em volta da minha cintura, mas ele parecia mesmo interessado na minha vida. Inclusive na minha relação com o seu sobrinho; só conseguiu minha atenção quando citou o nome do Brad.

- Não estou mais saindo com ele. - respondi rápido. - Ainda somos amigos, mas nada além disso. 

- Ah! Você está saindo com o cara dos bilhetes, né? 

Parei de andar e o olhei por cima do ombro. 

- Meu Deus, Grace precisa aprender a ficar de boca fechada. - falei, incrédula. - E por que você está interessado na minha vida, chefe?

- Não estou. Só queria socializar, já que somos só nós por enquanto. - disse, tirando alguns pratos do lava louças. - E você não está atrasada. Está adiantada. Nem os cozinheiros chegaram. 

- Adiantada?! - questionei, pegando meu celular do bolso. - São... opa. 15h30. 

- Os funcionários do primeiro turno foram embora agora a pouco. - respondeu. - Ainda tem meia hora para todos chegarem.

- Certo. Vou te ajudar a arrumar tudo. 

Se passaram duas semanas desde que meu pai disse que não me ajudaria a pagar a faculdade e acabei me distraindo com outras coisas sobre esse terrível desastre. Tentei encontrar outro emprego, mas me dei de conta que nunca conseguiria conciliar tudo. Colégio, esse emprego, outros estudos extras e mais outro emprego. Simplesmente não tinha tempo. Saio do colégio por volta das 14h30 - depende do dia - e preciso estar na hamburgueria ás 16h. Vou embora um pouco depois das dez, ou seja, não tinha a mínima chance de eu encontrar tempo para ter outro emprego. Trabalho até mesmo nos finais de semana e as folgas se dividem em: um dia da semana e ás vezes noite de sexta ou sábado. Joe sabe que seus funcionários são jovens que precisam de diversão de vez em quando. 

- Ei, gata! Está no mundo da lua? - Scarlet chegou, ocupando o ambiente com o bom humor invejável que sempre tinha. - O seu gato virá aqui hoje? 

- Ok. Foi você ou Grace que contou para o Joe que saí com Logan apenas duas vezes? - cruzei os braços, estreitando os olhos para ela.

- Não fui eu. - ela levantou as mãos na altura dos ombros. - E qual é! Todo mundo que trabalha aqui sabe que você estava recebendo aqueles bilhetes e devem ter te visto conversando com Logan. Ainda suspiro toda vez que vejo como ele olha para você. - ela se abana. - Queria ter isso. Estou sozinha há taaanto tempo. 

- Scar, você é maravilhosa e sabe disso. Você tem seus momentos de carência, mas gosta de estar sozinha. - falei, olhando-a com a cabeça inclinada. - Desde que comecei a trabalhar aqui, universitários brigaram aqui por uma certa garçonete. E caras diferentes. Exceto pelo... você sabe, o nome que não pode ser mencionado. 

- Sempre esse filho da puta com qualquer cara que dá em cima de mim. Ele tem problemas. 

- Tem mesmo. É seu ex-namorado. Hello-ou! 

- Graças a Deus ele arrumou outra para passar o tempo. - Scarlet balançou a cabeça. - Faz tempo que ele não vem aqui, lembra? 

- Sim. E isso me fez lembrar uma coisa: aceitou sair com Nolan?

- Não! Já falei que não saio com caras mais novos, Jazz. Não é minha praia e eles costumam ser chiclete.

- Então diga isso a ele, porque ele pensa que você está caindo no papo. Mesmo que sejam só amigos, aparentemente. - falei, apontando para ela como uma aviso. Ela soltou uma lufada de ar. - Você deveria dar uma chance a ele. Sair apenas uma vez. Vai que ele esteja interessado porque você não está. 

- Não vou ficar dando esperanças para algo que nunca vai rolar. 

- Qual é! Ele só é dois anos mais novo que você! E você não tem cara de vinte nem aqui, nem em Marte. 

- Não é questão de ter cara ou não. Estou quase terminando o segundo ano de faculdade e ele ainda nem entrou. - disse enquanto limpava uma das mesas.

- Tudo bem. Parei de falar sobre o assunto. 

- Posso tocar no outro assunto proibido? 

- Qual deles? Temos vários assuntos proibidos, Scar.

- Travis Warner. 

Não consegui evitar soltar um gemido de frustração. A minha vontade de falar sobre ele se igualava a zero. 

- Ok. O que você quer falar sobre ele? - murmurei, olhando para a mesa colorida que eu limpava.

- Ele não está mais com a Alexia. Certo? - assenti, dando de ombros. - E ele tem te evitado desde que te viu com Logan. Certo?

- Certo, Scarlet. E, sim, ele simplesmente decidiu voltar a sair com aquela... aquela piranha. 

- Nossa! Pensei que você só não fosse com a cara dela, mas parece que é algo pior. 

- Ela deixou meu amigo ser acusado de toda aquela merda. Lamento mesmo que ela apanhava do irmão postiço, isso é terrível e machista, mas... nossa! Ela é terrível. Tenta ficar enchendo a porra do meu saco. - desabafei. Queria socar a mesa. Ou a cara dela. - Fica se esfregando no Travis na minha frente, mesmo quando eu nem ao menos estou olhando. Desnecessário. 

- Ele... ele meio que gosta dela, né? Por isso você está tão chateada. 

- Eles tem um vínculo desde criança! Nunca tentaram se envolver emocionalmente e... bom, agora as coisas podem ficar muito mais intensas. - respondi. - Ainda o pego me olhando, mas é muito menos. Não consigo entendê-lo. Naquele dia praticamente implorei para que ele me contasse o que diabos escondia, mas... argh! - bufei de raiva. - Ele me tira do sério! 

- Você ainda é apaixonada por ele e isso é uma droga. Por isso está saindo com Logan, né?

- Não. Estou saindo com Logan porque gosto da companhia dele. E ele tem me acompanhando em todas as loucuras que fiz e vai acompanhar nas que eu quero fazer. 

- Hm... deveria questionar o motivo de Travis ainda aparecer por aqui. - Scarlet apontou com o queixo para a entrada e olhei por cima do ombro. 

Travis, Nolan e Leon estavam entrando na hamburgueria, certamente após o treino do futebol americano. Eles vinham aqui algumas vezes, mas... poxa! Já não basta eu ter que conviver e olhar para Travis no colégio, ele ainda vem até o meu local de trabalho? Era algum tipo de jogo baixo e ridículo para me enlouquecer? Só podia ser. 

- Boa tarde, meninos. - entreguei o cardápio para cada um. - O que vão querer hoje? 

- Fritas e uma coca. - Leon disse. 

- Nossa, atleta! - ironizei enquanto anotava o pedido. 

- Estou em fase de crescimento, linda. - Leon responde, me fazendo rir. 

- Nolan?

- Um chá gelado e... - ele levanta o olhar do cardápio laminado. - E aquela garçonete loira que está olhando pra cá de canto de olho. 

Olhei para Scarlet, que voltou a olhar para a mesa na mesma hora. Mordi o lábio inferior para impedir o sorriso grande demais. 

- Infelizmente, a garçonete loira que está olhando de canto de olho está em falta, mas... - olhei para o aparelho. - O chá gelado de limão vem em alguns minutos. 

Ele fez beicinho pela primeira parte. 

- E você? - me referi a Travis, mas sem olhá-lo. 

- O American Burguer. E uma coca também. 

- Só Nolan que não está em fase de crescimento? - brinquei enquanto recolhia os cardápios. - Já volto, meninos. 

- Não aguento você com esse uniforme. - ouvi uma voz conhecida e encontrei Logan encostado em uma das mesas vazias. Abri um sorriso. 

- Oi! - não me decidi entre dar um beijo em sua bochecha ou um selinho, então apenas o abracei. - Como foi em Miami? 

- Que abraço curto, Jasmin. Eu fiquei com saudade. 

- Foram só... - contei os dias nos dedos. - Cinco dias. 

- Então isso está mais sério do que eu pensava. - ele fingiu pensar e eu dei risada. - Sua folga do final de semana será hoje ou amanhã?

- Amanhã. Vamos sair, certo? 

- Certo. - ele assentiu, me puxando pela cintura. Me olhou por um tempo antes de me beijar. 

- Sem namoro no trabalho, Jasmine, caralho! - ouvi a voz do Jordan. Soltei uma risada. - Se Joe te pega, arranca seu coro. 

- Foi mal, Jordan! - falei, me afastando. - Você precisa ir embora. 

- Preciso. - ele assentiu e me deu um beijo rápido. - Vejo você amanhã. 

- Amanhã! - sorri brevemente antes de ir para a cozinha. 

- Olha só! Você gosta dele! - a voz da Sierra me deu um susto. - Está sorrindo até agora! 

- Admite, vai! Você curte um pouquinho a companhia dele. - Grace disse, sorrindo também. 

- Nossa! Tá legal, tá legal. Estou gostando da companhia dele. Muito, aliás. 

- Uhuuuu! - elas começaram a bater palmas e rodar o pano para cima. Caí na gargalhada enquanto me juntava a elas. Sabiam muito bem que eu estava bem chateada por causa do Travis e pelo lance todo da bolsa de estudos. 

- Muito bem, a festa acabou. - Joe disse, batendo palmas. - Os pedidos da mesa 18 estão prontos. 

- Ok! Lá vou eu. - coloquei os pedidos na bandeja e fui em direção à mesa dos meninos. - Oi de novo!

- Alguém está animada hoje! - Leon disse, rindo. - O motivo é o novo namorado? 

- Ele não é meu namorado, mas... estou animada sim. Valeu por notar. 

- Quem é o cara, afinal? - Nolan perguntou. 

- Se chama Logan. É universitário. Faz parte de uma fraternidade. E é uma ótima companhia. Quer o número da identidade dele também? 

- Nossa, atrevida. 

Não contive a risada pela forma que ele falou. 

- Querem mais alguma coisa? - perguntei, por fim.

- Aham. A voz do meu amigo de volta. - Leon deu duas batidinhas nas costas de Travis, que quase se engasgou com o hambúrguer. Acho que foi forte demais. 

- Vai se foder, cara. 

- Nossa! Alguém está nervoso hoje. - olhei para Travis e nossos olhares se encontraram pela primeira vez hoje. - Quer uma aguinha com açúcar? 

- Vai se foder você também, Jasmine. 

- Noooossa! Você precisa mesmo de uma água com açúcar. Vou trazer pra você. 

Dei as costas enquanto ouvia as risadas do Leon e do Nolan. E eu não estava brincando. Enchi um pouco de água, coloquei açúcar e levei até a mesa, fazendo os dois rirem ainda mais. Travis, pelo contrário, queria me matar com o olhar. Que pena. 

- Vão querer mais alguma coisa?

- Não. Valeu, Jazzy. - Leon disse e eu assenti, voltando para a cozinha. 

O homem que me dá gorjetas de duzentos dólares - e eu ainda não sei o nome - adentrou na hamburgueria e fui direto até sua mesa. 

- Fritas e milkshake de morango? - perguntei, sorrindo. 

- Isso mesmo! - ele riu. - Você está feliz hoje. 

- É! O dia está bonito. Não quer mais nada?

- Não, obrigado. 

Assenti e voltei para a cozinha. Os últimos dias se resumiam a isso e eu estava um pouco cansada da monotonia. E essa sensação acabou a partir do momento que passei a sair de verdade com Logan e... sei lá, era interessante sentir aquela agitação sem ser por causa do babacão do Warner. Sentia falta das borboletas no estômago tão comuns das minhas paixonites do colégio interno; ou das vezes que eu conversava com Owen sobre coisas mais profundas. Ah, Owen... não parávamos de nos falar. Era o tempo inteiro e parecia que tínhamos voltado para a época que eu estava no internato, mas com assuntos um pouco diferentes. Ele está focado nos estudos e ansioso pela resposta dos olheiros das universidades que vieram até o seu colégio há alguns dias atrás. Não duvido que ele consiga a bolsa para qualquer faculdade que quisesse; era bem determinado e mesmo que nunca tenha visto-o jogar - ou literalmente visto o seu rosto - ele deve ser bom. Não é qualquer um que consegue o posto de quarterback. Realmente espero que pelo menos ele consiga realizar algum de seus sonhos. 

***

- Onde você está indo? - fui parada pelo meu pai no sábado à noite. 

- Sair. - respondi tentando passar, mas ele se colocou na minha frente novamente. 

- Fica esperta. Se aparecer qualquer merda na segunda-feira você vai se ver comigo. 

- O que mais você pode fazer comigo além de não pagar minha faculdade? Quer me expulsar de casa? Vai fundo. Eu tenho amigos que se importam comigo e posso morar na casa deles até essa droga de ano acabar. - falei, esperando que ele respondesse. Nada. - Ótimo. Boa noite, papai

O carro do Logan estava parado na frente da minha casa e tirei os saltos para ir correndo o mais rápido possível. Não duvidava que meu pai tentasse me proibir. 

- Oi! Está frio pra caralho, nossa. - esfreguei uma mão na outra para esquenta-las. - Não está com frio, não? 

- Não muito. - ele riu e se aproximou para me dar um beijo. 

- Tem plateia aqui, viu? - ouvi uma voz masculina e levei um susto. Tinha um cara no banco de trás. - Oi, Jasmin.

- É Jasmine. - corrigi e abri um sorriso para não parecer grosseira. - Prazer. Qual o seu nome? 

- Mark. Prazer. 

- Para onde nós vamos? - perguntei. 

- Casa de um amigo nosso da faculdade. Tem uma mansão enorme e o cara conhece todo mundo. - Logan respondeu. - Ele estudava no mesmo colégio que você. 

- Sério? Em qual ano da faculdade ele está?

- Segundo. Você estava na França quando ele estava lá, né?

- Sim. Estudava em outro colégio antes. 

- França?! - Mark questionou, parecendo impressionado. 

- É. Não fique tão impressionado. Morei em um colégio interno por anos. - respondi. 

- Isso é maneiro. Não? Sempre quis estudar num colégio interno. 

- Acho que até poderia ser legal, mas eu não estava nas melhores situações. Gosto de ser livre e aquilo não me ajudava em nada. 

- Você sabe falar alguma outra língua além do inglês e do francês?

- Eu tinha alemão, mas não sou fluente. Só sei o básico. 

- Porra, que maneiro. Não vejo a hora de ser poliglota. - Mark disse. Simpatizei com ele, parecia ser cheio de sonhos. 

- Quais línguas você sabe falar? 

- Inglês e espanhol só. Por enquanto. - disse. - Você podia me dar umas aulas de francês, né?

- Eu? Acho que não. 

- Você fala super bem e me contou que ajuda as criancinhas do seu colégio com o francês. - Logan disse. - E você quer um segundo emprego. Certo?

- Eu posso pagar. - Mark disse. 

- Mas por que você não faz um curso? É bem mais eficiente. - falei. 

- É que eu vou para a França nas férias de verão. Quero aprender o suficiente para me virar, aí quando for pra lá vou saber conversar e tal. - Mark disse. - Por favor, Jasmine! - ele juntou as mãos, me fazendo rir um pouco.

- Como estou na reta final do ensino médio, tenho saído mais cedo. Tenho que estar no trabalho ás 16h. 

- E que horas você sai? 

- 14h00. 

- Ótimo! Quais dias ficam melhor pra você? 

- Quantos dias você quer?

- Pode ser três? - assenti. - Então três.

- Segunda, quarta e sexta então. Das 14h30 até as 15h30. 

- Fechou! Vou te buscar no colégio nesses dias. Pode ser? 

Olhei para Logan, estranhando o fato de ele não estar com ciúmes. Ele já mostrou que tinha um pouquinho de ciúmes quando saíamos e outros caras davam em cima de mim. 

- Está se perguntando porque Logan não está ligando? - Mark perguntou e os dois riram juntos. Não entendi. - Também gosto de rola, Jasmin. 

Me engasguei, fazendo os dois caírem na gargalhada. 

- O que?! Sério?! Eu nunca imaginaria! - falei olhando-o incrédula. 

- É sério. Eu gosto de homem, mas também gosto de ser homem. 

- Então você não é uma bicha louca que adora causar? 

- Que nada. Fico na minha. 

- A jaqueta de couro engana, né? - Logan perguntou, rindo e eu assenti com os olhos arregalados. - Mark se assumiu faz pouco tempo. Antes tinha medo da nossa reação. 

- Ah! Então vocês são da mesma fraternidade? - perguntei e eles assentiram. - Você estava com medo que os meninos te tratassem diferente?

- Sim. - Mark assentiu. - Foi bem engraçado, na verdade. Naquele dia o Logan disse "ow, vem logo, seu viado" e quando olhei de volta, ele estava dizendo "puta merda, esqueci que ele é viado mesmo". - cai na gargalhada ao imaginar como deve ser. - Mas eles são gente boa. 

- Só que a gente não fica mais pelado na frente dele. - Logan lembrou. 

- Ai meu deus, vocês ao menos ficam pelados na frente um do outro? 

- De vez em quando encontro alguns de cueca pelo corredor, mas eles vão correndo de volta pro quarto. - Mark riu. - É bem engraçado. Como se eu fosse querer dar a bunda para qualquer um desses otários. 

Enquanto eu caia ainda mais na gargalhada, Logan disse: 

- Cara, informação demais! 

- Opa. 

- Acho legal eles te tratarem igual. Tem caras bem babacas. - comentei. 

- Fiquei com medo que eles me expulsassem.

- Teve um que implicou. - Logan disse. - Ele quem foi expulso. Causou demais na frente de todo mundo. Falava que o Mark estava se insinuando para cima dele... foi bem otário. 

- Cara, a partir do momento que eles me respeitaram eu também ia respeitar eles. - Mark disse. - Seria falta de respeito ficar dando em cima deles sabendo que são héteros. 

- Se todos pensassem igual a vocês dois o mundo seria muito melhor. - falei, sincera. 

- Mas então! Fiquei sabendo que você tem "daddy issues". O que rolou? 

Logan repreendeu o amigo por ter dedurado-o, mas eu ri e falei que não tinha problema. Achei legal o laço de amizade deles. Principalmente o respeito que claramente existia ali. 

- Meu pai é um idiota. Ponto. - falei. - Nem quero falar sobre isso, mas eu tô afim de causar. Pode causar comigo hoje? - sorri para ele.

- Meu Deus, agora aguente. - Logan disse rindo quando Mark se animou a ponto de não parar de falar o resto do caminho. 

Ele era muito divertido. E conheci um lado divertido de Logan bem diferente. Aquilo estava ficando cada vez melhor! O casa estava bem cheia quando entramos e eu não conhecia nenhuma alma viva presente ali. Apenas Logan, Mark e o rosto familiar de dois amigos do Logan que iam com ele até a hamburgueria nos finais de semana. O restante eram um bando de desconhecidos mais chapados do que o Snoop Dogg. Por Deus, se já era horrível nas festas de colegiais com droga para menores de vinte e um anos, aqui piora ainda mais. Já fui em uma festa com universitários antes - com Travis, aliás -, mas essa aqui parecia muito mais louca. Algumas garotas estavam apenas de calcinha e rodavam o sutiã para cima enquanto dançavam em cima dos sofás. Também tinham alguns caras seminus, que se juntaram as garotas dançando. Caramba, eu estava me sentindo um peixinho fora d'água. Logan já me contou que todo mundo fica muito louco nessas festas e que se você não se juntar a eles, nem curte nada. Fica excluído. E me perguntei se ele era um dos que ficavam chapados a ponto de tirar a roupa e se jogar pelado na piscina. O que me preocupada de verdade não era nem isso... era saber que eles ficam chapados desse jeito durante o dia também. Não é a minha praia, mas nas festas não é nenhum pecado. O grande problema é durante o dia, onde não se consegue ficar sem a droga. Seja lá qual droga eles estejam tomando/fumando/cheirando. 

- Acho que isso não é mesmo o seu estilo. - Logan gritou por cima da música. Parei de franzir o nariz no mesmo instante.

- Não muito. Curto festas, de verdade. Mas ficar louca não é minha praia. - gritei de volta. - Podemos beber alguma coisa?

- Sim.

Sentamos em uma roda onde fui apresentada a alguns de seus amigos e eles fizeram várias rodadas de tequila. Não resisto a alguns shots, então eu sou uma das primeiras a beber. O problema é que eu fico alta rápida demais com tequila e quarenta minutos depois eu já estava rindo à toa, encostando a cabeça no ombro do Logan. 

- Eu estou odiando ficar aqui. - admiti, olhando para ele. - Não combino com seus amigos. Só com a tequila. - segurei a garrafa e Logan riu, tirando da minha mão. 

- Quer ir embora então? 

- Se você quiser ficar, tudo bem pra mim.

- Não. Podemos ir naquela casa noturna da semana retrasada. Lembra? - assenti. - Está com a ID falsa?

- Sim. Podemos ir. Não vai chamar o Mark? - tentei encontrá-lo no meio de pessoas. 

- Ele deve estar conseguido tirar alguns do armário. - Logan apontou e fiquei boquiaberta ao vê-lo se agarrando com um cara totalmente másculo. 

- Uau! Ele é rápido no gatilho. 

- É. Vamos? - ele segurou minha mão e eu assenti. 

Dessa vez apenas Logan e eu entramos em seu carro e eu tomei a liberdade de colocar alguma música para preencher o silêncio. Tinha a sensação de que Logan queria permanecer lá - não era apenas uma sensação, tenho certeza absoluta. Mesmo estando um pouco bêbada. Tentei perguntar novamente se ele queria ficar na casa do amigo, mas sua resposta foi não. O estacionamento do lugar que ele mencionou estava lotado e notei que tinham duas viaturas paradas do lado de fora. Certamente houve uma confusão um pouco mais cedo e eles estavam resolvendo. 

- Vamos entrar logo. Ver polícia me dá um pouco de nervoso. - falei, entrelaçando meu braço ao seu e quase tropecei nos próprios pés. Logan me segurou. 

Dois seguranças pediram para ver as nossas identidades e após permitirem a entrada do Logan de primeira, ficaram analisando a minha por mais tempo do que o necessário. Eles se entreolharam por alguns segundos e o mais alto entrou com a minha identidade, certamente para mostrar a alguém. Puta merda. Arregalei os olhos para Logan, dizendo por química labial que era melhor nós irmos embora antes que desse merda. O segurança voltou. 

- Desculpa, mocinha, mas você terá que vir comigo. - disse, fazendo um sinal com a cabeça. 

- Rá! Mas não vou mesmo! - tentei sair correndo, mas o homem segurou o meu braço. 

- Não piore as coisas, garota. Vem comigo. - disse, sério. 

- Hei! Solta ela. - Logan tentou tirar o braço dele de mim. Estava machucando. 

- Me solta! Você está me machucando! - gritei, mesmo sentindo minha cabeça girar. 

- Essa garota aqui tentou entrar com uma identidade falsa e está bêbada. Aposto que tem dezesseis anos. 

- Dezoito! Eu tenho dezoito! - gritei irritada. 

O segurança sorriu vitorioso e eu bati a mão na testa. Com força demais. 

- Você terá que nos acompanhar até a delegacia, então. - um dos policiais disse. 

- Eu já estou cansada de ouvir isso! "Você terá que nos acompanhar até a delegacia" - imitei uma voz grossa. - Eu não vou para delegacia nenhuma. 

- Não tente escapar, mocinha. Ou será pior. - o policial segurou o meu braço. Nem fodendo que eu seria presa sem querer. Ainda estava planejando minha ida proposital para a delegacia e irritar o papai. Ainda não. 

Logan ainda tentou contornar a situação, mas eu fiz um sinal para que ele ficasse quieto. "Eu tenho um plano" falei por química labial. Ele estava prestes a perguntar o que era, mas tirei os saltos só para disfarçar e me abaixei para pega-los. O policial me segurou mais forte. E eu mordi braço dele com força o suficiente para ele me soltar, então saí correndo segurando a mão de Logan e joguei os saltos no caminho para eles tropeçarem caso resolvam me perseguir. 

- Abre logo o carro, porra! - gritei desesperada e Logan abriu. 

Entramos rapidamente e vimos que um segurança e um policial corriam atras de nós. Logan manobrou o carro e saiu cantando pneu. Meu medo era a placa, mas estava escuro no estacionamento e eles não iriam se importar tanto com uma adolescente sendo irresponsável.

- Puta merda, você é louca! - Logan gritou entre risos e deu um tapa no volante. Comecei a rir junto com ele. - Será que eles vão vir atrás?

- Provavelmente. Eles são bem insistentes, então vira naquela rua. - apontei para a rua estreita e deserta. 

- Você já foi presa?

- Já passei uma noite na cadeia lá na França, mas meu pai pagou a fiança e eu voltei para a vida monótona. Fui quase levada outras vezes também. - dei de ombros. - Uma das vezes foi injustamente, pensaram que eu estava com droga.

- Aqui em Atlanta?

- Isso. Teve uma outra vez em Paris que eu consegui me livrar antes de ser levada até a delegacia. 

- Ah, não. O que você fez?

- Eu estava bêbada. - dei de ombros, com vergonha de falar. 

- O que você fez?

- Mostreiospeitospropolicial. 

- O que?! Fala devagar. Não entendi nada. 

- Mostrei meus peitos para o policial. - murmurei mordendo o lábio inferior. - Ele ficou vidrado, mas deu tempo o suficiente para eu fugir.

- Você tá me zoando! - ele riu, incrédulo. E notou que eu não estava quando me olhou. - Porra, você é ainda mais louca do que eu pensava! 

- Eu fico louca quando tô bêbada. Péssimas lembranças. - balancei a cabeça, mas depois sorri. - Na verdade, são as melhores lembranças. Exceto por uma coisa em particular. Eu me sentia bem livre e bem quando escapava com a Valerie. 

- Qual foi a coisa em particular?

- Ah, não. Sobre isso eu não quero falar. - falei, mexendo em minhas próprias unhas. 

- Ah, Jasmin, não me diz que é o que eu estou pensando. - disse baixinho. 

- Podemos mudar de assunto? Vou colocar uma música no meu celular. Você tem um gosto musical péssimo. - falei para descontrair e após um minuto me olhando sério, deu um sorriso solidário. Me puxou pelos ombros e deu um beijo em minha cabeça. 

- Meu gosto musical é ótimo, tá? - respondeu, fingindo estar ofendido. 

- Você tem gostos peculiares.

- Quer conhecer meu quarto vermelho? - disse, sorrindo malicioso e eu cai na gargalhada. 

- Muito obrigada pelo convite, mas não. - falei rindo. - Lembra onde é minha casa?

- Quer mesmo voltar para a casa agora?

- Podemos ir para a minha casa. Não tem ninguém lá além do Christian, eu acho. 

- Acho que não. Estou enjoada e só quero cair na minha cama. - respondi. - Mas obrigada. 

A música foi o único som no carro durante o resto do caminho até a minha casa, mas sentia o olhar de Logan sobre mim. Estava um pouco envergonhada por não saber o que ele pensava; ele queria me levar para cama ou estava pensando na coisa ruim que passei na França? Não conseguia distinguir, principalmente por estar enxergando-o um pouco embaçado. Tudo girava. 

- Obrigada pela carona. - me inclinei para lhe dar um selinho. Ele não tentou nada a mais e agradeci por isso. - Boa noite, Logan. 

- Boa noite, Jasmine. - ele sorriu sem descolar os lábios e me ajudou a abrir a porta. 

- Obrigada de novo. - cantarolei alto demais e cobri a boca com as mãos no mesmo instante. Logan riu. 

Entrei em minha casa fazendo um pouco mais de barulho do que eu gostaria. Tranquei a porta com cuidado e subi as escadas na pontinha dos pés, lembrando de que meus saltos novinhos ficaram no meio do caminho. Aí, que saco! Estava na cabeça que deveria ir para o banheiro tomar banho antes mesmo de ir para o quarto, mas a espiada na minha cama estragou tudo. Me joguei nela com os olhos fechados e rezando para que o enjoo no meu estômago passasse para que eu pudesse dormir em paz. 

***

- Que porra é essa? - murmurei ao sentir água gelada na minha cara. - Sai! Eu tô dormindo! 

- Não me faça jogar o copo todo. - ouvi a voz grave do meu pai e aquilo me despertou. 

- Você não me dá folga nem no domingo? Pelo amor de Deus! - coloquei o travesseiro na frente do rosto. 

- O que eu disse sobre não aparecer, Jasmine?! 

- Eu não apareci. Só fui beber ontem. 

- E depois tentou entrar em uma boate com uma identidade falsa, mordeu um policial e saiu correndo para seu carro de fuga?! Você... você ao menos escuta qualquer coisa que eu digo?! - fiquei alerta ao ouvir a primeira parte. 

- Como você sabe? - tirei o travesseiro do rosto e o encarei.

Ele jogou o jornal diário em cima da minha cama. 

- Você sabe ler? Sou a garota desconhecida nessa matéria. Não tem nenhum Maddox envolvido. 

- Claramente é você nessa foto. As roupas que você usava ontem e o seu cabelo igual o da sua mãe. 

- Bom. Sem nomes, sem provas. - dei de ombros. - Seu nome não foi citado. Não fique pilhado, papai

- E qual é o próximo passo para meu nome ser citado igual na última? Jasmine Maddox naquela pode ser facilmente associado a esta. 

- Bom, aí o problema não é meu. Agora vaza do meu quarto. 

Pensei que ele ficaria infernizando meu sono por um pouco mais de tempo, porém ouvi o barulho da porta se fechando. Soltei uma lufada de ar enquanto deitava a cabeça no travesseiro macio novamente, desejando que esse ano acabasse logo de uma vez. Faltam menos de dois meses para eu me formar e eu já havia mandado os Applications para as duas universidades que tenho interesse de entrar. Estou louca para receber a carta de aceitação de alguma delas e, bom, com o resto eu me viro depois. Posso pagar. Eu quero tanto e nesse caso querer será poder, sim


Notas Finais


Não esqueçam de deixar seus comentários marotos hein! Beijos e até Maio! ❤❤❤ ps: falta menos de dois dias pra minha viagem tô muito locaaaaa


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