Na segunda noite, eu fiz tudo o que pude para não adormecer. Mas esta era uma batalha destinada ao fracasso, e não suportei o invencível peso de meus olhos, e foi levada ao sono, e sonhei. Estava em minha cama, na mesma cena que acontecia de fato, como se eu despertasse em meu quarto, mas era parte do sonho. Me levantei e caminhei pelo quarto. Estava normal. Apesar de um intenso cheiro de morte que dominava o lugar. Na janela, não havia luz da lua que entrasse, nem nada lá fora que não fosse somente uma pesada e densa escuridão absoluta. Voltei para a cama, e tentei dormir no sonho para talvez acordar na realidade. O que veio depois, se foi sonho ou não, eu não sei dizer. A minha porta se fechou, revelando o canto escuro atrás dela. E como se a sombra fosse mais uma porta para uma dimensão que não cabe aos vivos conhecer, veio um ser, caminhando em minha direção com passos lânguidos. Se eu estava paralisada, não sabia, mas o medo me impedia de mover meu corpo, por mais que desejasse a cima de tudo fugir daquela cena de medo e horror. Ele se aproximou de mim e parou na minha frente. Tentei olhar fixamente para ele mas só a visão periférica no canto do olho lhe dava algum contorno. Era um ser cujo sexo foi impossível de definir. Completamente negro como uma sombra viva. Não pude ver olhos, mas pude ver dentes. Finos e afiados como agulhas em um sorriso macabro, sorrindo para mim. Ele desapareceu e eu consegui encontrar coragem para me mover. Sentei mas pulei para a cama quando meus pés tocaram o chão. Estava completamente coberto de sangue. O ser das sombras surgiu mais uma vez. Desta vez com olhos vermelhos. Ele olhou para mim, e eu acordei chorando em minha cama, em meu quarto normal, com a luz entrando pela janela e sem sangue cobrindo o chão. Só havia uma coisa de diferente agora. Uma fétida e vermelha mancha de sangue estava no chão. Perto do canto escuro atrás da porta. Não me lembrava de ter levado as pontadas no peito nessa noite, mas meu peito doía, e as feridas recém-cicatrizadas estavam abertas e sangrando, e minha pele estava fria, e parecia muito mais pálida.
Acordar me dava sempre uma sensação de alívio. Fora apenas um sonho, antes parecia real mas agora dá para saber que nada foi real e que estou segura em um mundo normal. Mas não mais. Agora, acordar não me dava alívio. Me dava medo de esperar pela noite que eu sabia que chegaria. Esta foi a segunda noite do meu eterno pesadelo.
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