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História Underhanded; as You and Me - Chemical


Escrita por: swanperrylla

Notas do Autor


QUERIDAS MARAVILHOSAS CHEIROSAS DO MEU CORAÇÃO DE MANTEIGAmentira puta coração de pedra do………
GENTES, primeiro de tudo antes de qualquer explicação quero desejar um feliz aniversário à minha metadinha aka Raissinha Mello. Feliz Aniversário, angel! Sim, você acertou parte da surpresa: aqui estou eu jogando um cap de ligly 2 pra ti. Masssssss, a Aninha aqui é infelizmente desajeitada com prazos então ela só aperfeiçoou e melhorou o primeiro cap. Amiga eu espero que tu goste, do fundo do meu coração.

QUERO TODAS DESEJANDO PARABENZINHO PRA @KPRRILLA NO TWITTER. obrigada. E agradeçam ela também, caso contrário esse capítulo só sairia junto com os outros.

(Podem surtar pq tem mais sim gente, NÃO VAI FICAR ME COBRANDO PFVRZINHO EU IMPLORO)

Bom…………. Não vou ficar de explicações muito não. Apenas leiam e quem leu LIGLY pt 1, e escutou cada promessa que eu fiz sobre isso aqui, vai saber do que e de quando eu estou escrevendo. Eu espero que vocês curtam amores… Thank you always for your kind and beloved support. Without you, I’d be nothing over nothing. Which would be… Nothing.

Capítulo 1 - Chemical


Friday. Vancouver, 2014. 5:20 am. One year before.

"... Pousaremos na cidade de Paris por volta das 2 e trinta e cinco no horário local..."


"Ótimo." Fred bufou e revirou os olhos tentando se acomodar com toda sua pequena estatura na poltrona da classe executiva.

Lana, sentada ao lado, reparou o desconforto e o incômodo do noivo. "O que foi agora?" Indagou abaixando a revista que folheava.

"O congresso começa às 4." Os olhos de Alfredo estavam vidrados na pequena tv a sua frente, que informava detalhes sobre o vôo e curiosidades sobre a cidade do amor.

"Ah..." A morena deu de ombros já voltando a atenção para a revista.

"Se bobear vou chegar atrasado. Incrível como as viagens que faço com você tem o dom de me atrasar." Sutil como um coice, a repreensão eufêmica lhe incomodou.

"Alfredo, se preferir pedimos para o motorista te deixar onde precisar. E se achar necessário, pague uma diária no Roosevelt e tome um banho sossegado, sem pressa. Você conhece o trânsito de Paris..." Respondeu fingindo estar indiferente quanto ao humor tóxico do homem ao seu lado.

"Até porque o hotel que você escolheu não dava para ser mais longe não é mesmo?" Lana fechou os olhos e respirou fundo. Estavam em público, em um avião, prestes a passar 9 horas confinados um ao lado do outro. Ela precisava segurar as pontas.

"O que há com você? Está falando como se tudo isso fosse culpa minha. Se não queria olhar para a minha cara era SÓ você ter comprado algum outro assento. Ou quem sabe outro vôo, mais cedo por sinal." Ao dizer aquilo, alcançou a bolsa que estava acomodada em um pequeno compartimento da exclusiva e individual cabine executiva.

Alfredo permaneceu calado. Talvez considerando o quão certa Lana estava. Nada daquilo era culpa dela e mesmo assim estava agindo como um idiota.

"Aqui. Peça uma taça de vinho e delicie-se com um dramin." Entregou-lhe um minúsculo comprimido rosado. "Um não..." Despejou uma segunda drágea na mão dele. "Dois dramins."

{...}

Nove horas e trinta e dois minutos sem qualquer contato verbal, visual e muito menos físico. Evitaram-se durante vôo todo pelo bem daquela relação e pelo bem de Paris.

Lana não via a bendita hora que aquele avião pousasse e eles pudessem se separar. Fred provavelmente aceitaria a proposta e ficaria diretamente no hotel do congresso, e então ela poderia seguir tranquila e mais leve para o espaçoso e escandalosamente lindo quarto de hotel, porém a irritante vozinha insistente martelando "não é sua culpa, não foi gasto à toa, o dinheiro é seu, ele não deu opinião alguma quando você perguntou..." não a fazia sentir-se mais leve droga nenhuma.

"Lana..." A voz dele indicava cansaço, tinha um tom calmo e cauteloso destoante do início da viagem.

"O que?" Lana, porém, manteve a frieza principiante.

"Vou pedir para o motorista me deixar..."

"Tudo bem." Ela o interrompeu bruscamente mal prestando atenção em seu rosto. "Melhor assim." Um sorriso triste, cansado e minimamente aliviado surgiu em Lana.

Ao desembarcar a morena já podia sentir a brisa agradável do verão parisiense em seu rosto, mesmo ainda estando dentro do aeroporto. Depois do Brooklyn, aquele era definitivamente seu lugar preferido, consequentemente, o sorriso se renovava e abrilhantava como nunca. Paris tinha a tendência de fazer aquilo com as pessoas... E nem Fred em sua pior fase humoral poderia tirar o gosto romantizado e clássico que a cidade possuía.

Lana logo viu-se livre. Foram meia dúzia de palavras entre "fique bem", "me ligue" e "te vejo amanhã" vindas dele e um único movimento positivo com a cabeça vindo de Lana. Mínimo contato visual e muita distância física. Desapontador, porém necessário. Extremamente confuso na certa. Tanto que, ao assistir Fred desaparecer pelas portas do hotel, Lana pôde sentir a lembrança existente de um coração que ainda batia com vigor.

"Jacques, por favor, me leve para o Four Seaons George V o mais rápido que puder." Eram as palavras que havia ensaiado para dizer desde que levantaram vôo em Vancouver. E por mais que um resquício de culpa estivesse pesando em seu ser, Lana tinha certeza de que não se arrependeria de afastar-se de Alfredo naquele final de semana.

At Four Season George V

"Mademoiselle Di Blasio..." O recepcionista, muito simpático e na casa dos vinte por sinal, saiu da frente do computador e voltou o olhar para Lana. Ele falava um inglês adorável e incrivelmente compreensível, diferente dos outros franceses locais.

"Você pode usar o Parrilla." Lana sorriu e voltou os olhos para alguns papéis que o garoto apontava.

"Okay. Desculpe-me. Mademoiselle Parrilla."

"Muito melhor!" Louis, como indicava seu crachá dourado, devolveu-lhe um sorriso.

"Preciso que preencha os campos com as setas. Os que restarem em branco serão requisitados o preenchimento no check-out." Ela concordou com a cabeça e começou a escrever seus dados. "Perdoe-me perguntar, mas seu..." O francês não sabia como deixar a mulher a sua frente confortável. "Monsieur Di Blasio chegará esta noite?"

"Não. Meu... Noivo virá apenas amanhã." Lana adicionou um tom divertido e compreensivo à frase cujo qual permitiu que o garoto uniformizado relaxasse.  

"Se a senhora precisar de qualquer coisa é só procurar por Louis, como pode ver." Ele indicou a pequena plaquinha pendurada em seu peito. "Permaneço no hotel durante os turnos da tarde e noite." A morena não sabia se havia transparecido emoções ou se aquele era apenas um ser humano solidário. Contudo, independente da causa sentiu que aquela ação era o digno início de seu final de semana na França.

"É realmente muito gentil da sua parte. Merci, Louis." Sorriu e acomodou a bolsa no braço.

"Oui. À disposição, madame. Suas chaves." Um pequeno envelope foi passado de mão para mão e Lana afastou-se do balcão.

"Tenha um ótimo dia, Louis."

"Igualmente! Bienvenue à Paris!"

"Merci!" Acenou já dirigindo-se para o outro lado do lobby.

Aguardando o elevador, Lana checou o número do quarto no envelope com os cartões de acesso. Uma expressão suave e satisfeita ainda brilhava em seu rosto... Nada como um coração bom para animá-la.

Os fios negros e cortados na altura do ombro, estavam soltos e acompanhados de um óculos de sol com armação branca, que contrastava perfeitamente com a tonalidade do cabelo. Não usava nada demais, uma jeans escura e uma blusa cinza com desenhos - que lhe infantilizavam - faziam a vez. Definitivamente trajes de avião.

Subiu até o 15º e último andar. 1510 era o número que procurava nas portas. Ela entrou, analisou, suspirou e sem pensar ou se acomodar muito, encheu a banheira com água quente. Abusou daquelas pequenas bolinhas relaxantes para o banho e ficou observando o nível da água subir cada segundo mais. Aquilo estranhamente a acalmou e disseminou um efeito quase terapêutico por seus músculos que ainda nem tocavam a água.

Ainda com o sol batendo na janela, Lana despiu-se, banhou-se e cochilou. Cantou, bebeu algumas taças do champanhe que lhe deram de boas vindas, massageou-se e cochilou novamente... Foram infinitas repetições até seu celular lembrar que existia, e tocar. Alcançou-o. Era Fred. Uma pena, mas já havia caído na caixa postal.

Lana sorriu ao ver o horário. Duas horas haviam escorrido por seus dedos. Duas horas sem pensar no mundo. Duas horas sem ouvir algum tipo de barulho humano a não ser o da própria voz. Cento e vinte minutos de calmaria e paz interior...

Paris era sim, um paraíso.

Despediu-se da sensação acalentadora que sua pele sentia ao tocar a água morna e, quando já seca, besuntou-se com seu hidratante preferido. Vestiu um robe de toque sedoso provido pelo hotel e andou até a grande varanda que a suíte possuía. Arrasadora. Incrivelmente magnífica... A vista momentânea era, nada mais nada menos que o Sol na eminência de se pôr, posicionado exatamente atrás da Torre Eiffel. O céu limpo de verão tinha tons pasteis alaranjados e roxeados indescritíveis.

"Vamos tomar um drink, Lana?" Sustentou a questão para o nada, porém soando animada e renovada. "Claro, mademoiselle. Eu adoraria." Respondeu pra si e sorrindo, tornou a pisar no chão almofadado de dentro do quarto.

{...}

Lana aproximou-se do espelho e retocou o batom nude em seus lábios. Desarrumou os fios de cabelo com as mãos e saiu do quarto acompanhada de si mesma. Sentindo-se não bem, mas maravilhosa.

Chamou o elevador e no meio tempo, aproveitou para checar suas redes sociais, iniciando pelas mensagens, onde encontrou uma dúzia de notificações no grupo do cast. Emilie, Robbie e o adorável Jared já haviam confirmado a chegada e os respectivos hotéis em que se encontravam hospedados. Lana digitava algo mais ou menos do mesmo tipo, quando o elevador abriu as portas e seu olhar cruzou com o inesperado.

"Oi!" Aquela voz deixou-a, além de surpresa, sorridente.

"Sean! O que... O que você está fazendo aqui?" Lana adentrou o elevador comprimentando o amigo com um abraço e bom humor.

"Então, amanhã eu tenho um evento por causa dessa minha profissão doida. Vou encontrar uma mulher completamente maluca lá. Quer me salvar agora ou depois?" Lana gargalhou e empurrou-o com o ombro. Sean fez uma dramática - e voluntária - pausa para que pudesse escutar cada decibel daquela risada com gosto juvenil. Logo abriu a boca para responder propriamente a pergunta de Lana. "Estou hospedado aqui. Ia mandar uma mensagem no grupo agora mesmo." Ele indicou o iPhone em mãos e apertou a tecla enviar, fazendo com que o celular da morena vibrasse.

"Que coincidência louca!" Ela sorriu e enviou a mensagem que já havia digitado.

"Nem fale... Meus pais disseram que eu não poderia perder a chance de ficar aqui."

"E o que está achando da indicação até então?" Não que a resposta pudesse ser facilmente negativa, afinal eles pisavam em um palácio, não um simples hotel.

"Muito certeira..." As sobrancelhas de Sean se contorceram agradavelmente, deixando uma pequena ruga em seu nariz. "Vai encontrar Fred? Está muito elegante!" O sutil elogio arrancou um sorriso de Lana e fez com que voltasse os olhos para as próprias pernas delineadas pela calça rosa claro.

"Ah, obrigada, Sean. Mas... Não." Respondeu soando um pouco desconfortável. "Ele vai chegar só amanhã. Hoje sentarei no bar e beberei sozinha." Seus gestos fizeram Sean apertar os lábios em um sorriso rápido.

"E está incomodada ou aliviada com a situação?" A indagação fez Lana processar e pensar alguns segundos sobre a resposta. O primeiro pensamento fora alívio, mas repensou mais duas ou três vezes. Maldita culpa. O que há com você hoje?

"Mesmo com a aliança no dedo, de um modo estranho, me sinto aliviada." Deu de ombros procurando qualquer reprovação na expressão de Sean. Porém...

"Entendo bem." Compreensão fora tudo o que recebera.

"E você? Aonde está indo?" Mudou de assunto ao olhar-se no espelho atrás deles.

"Vou jantar com Tanya e a minha sogra."

"Ah!" Os dois caminharam para fora do elevador quando as portas abriram-se no térreo. "Bom jantar!"

"Não fique solitária. Se precisar de um ombro, me liga." Seus caminhos seguiriam em direções opostas e os corpos já se afastavam.

"Obrigada." Sean dava passos de costas para que o contato visual com Lana não terminasse tão rápido.  

"De verdade, me ligue mesmo! Aquela coisa sabe? Sogras e tudo mais..." Lana balançou a cabeça rindo.

"Vou pensar no seu caso, Maguire." Sean levantou uma das mãos e acenou, finalmente dando as costas à morena e seguindo o caminho para a grande entrada do hotel.

Ela observou seu andar até perder a silhueta de Sean do campo de visão. Tudo isso com um sorriso agradabilíssimo pousado em sua expressão enquanto segurava a bolsa preta com as duas mãos na frente do corpo. Os pensamentos vazios, vagos, que mais pareciam estar momentaneamente ocupados com o som longínquo de ondas do mar do que realmente concentrada na grande emoção que Sean trazia para sua mente, alma e corpo...

Suspirou erguendo as sobrancelhas.

Só siga reto e sente no bar, Parrilla. Não faça mais nada além disso. Quis apenas pensar, mas o fez alto demais, soltando pequenos murmúrios incompreensíveis com um tom repreensivo para si mesma. Tratou de obedecer. Estalou os saltos pretos até o ambiente escuro, porém agradável, de um dos restaurantes do hotel.

Estar com Sean era indescritível. Lana sentia-se à vontade como se Sean fosse sinônimo de casa. Conforto e naturalidade. Sorrisos eram facilmente arrancados de seu rosto e os assuntos apenas conectavam-se e surgiam, quase assimilando-se à propagandas na internet: não importa o quão cuidadoso seja, algo sempre te pegará de surpresa. Era dessa exata maneira que Lana sentia-se em relação à ele: uma surpresa a cada novo dia.

"Bonjour." Uma mulher magra, morena e de olhos incrivelmente azuis a recepcionou.

"Bonjour. Quarto 1510. Parrilla." Informou sendo o mais simpática possível. Lana já bem sabia como os franceses não muito apreciavam estrangeiros.

"Oh! Uma americana." Por sorte, a hostess entregou-lhe um sorriso encantador.

"Brooklyn. Born and raised." Lana respondeu reciprocamente.

"A senhora deseja uma mesa com quantos lugares?"

"Na realidade, vou me sentar no bar." Disse apontando para a área onde havia visualizado um balcão de mármore preto e copos com bebidas diversificadas.

"Ah! Como preferir. Fique a vontade e tenha uma ótima noite."

"Merci." Afastou-se da entrada lentamente e observou cada canto do local. O clima era extremamente propício para um encontro, um jantar a dois, uma comemoração apimentada. Lana virou os olhos imperceptivelmente. Claro, não deixava de ser lindo e agradável, mas obviamente dentre os quatro restaurantes que o hotel oferecia ela tinha justo que escolher o mais romantizado na única noite que ela teria sozinha... Quão irônico vida; estou impressionada com suas habilidades.

"Bonsoir, madame. Je peux vous offrir?" *Boa noite, madame. O que posso lhe oferecer?* O barman tinha uma voz aveludada, muito confortável de se ouvir a qual incrivelmente harmonizava com seus braços malhados e os olhos azuis em seu rosto.

"Conte-me uma história." Lana apoiou o queixo no dorso da mão e vestiu uma expressão instigante.

"Perdoe-me?" O homem permaneceu paralisado e confuso por alguns segundos. Não sabia ela se por causa do inglês ou de seu flerte enferrujado.

"Estou só brincando. Sua voz é très intéressant. Só queria ouvi-la mais." Um sorriso no canto de seu rosto finalizou toda a pose superior que Lana adorava mostrar para os homens.

Ela mesma achava infantil, mas em dias ruins um carinho no ego funcionava melhor do que qualquer receita que costumavam lhe aconselhar. O tiro não era no escuro e com certeza o ego inflaria em questão de segundos, era instantâneo. Bastava um olhar, de quem quer que fosse, e Lana lembrava-se da origem do sobrenome que possuía.

"Je vais prendre une vodka martini sec avec une olive, s'il vous plaît." *Eu vou querer um martini seco de vodca com uma azeitona, por favor.* Uma clássica frase em francês a qual Lana não se deixava esquecer por motivos óbvios.

O alívio percorrendo suas artérias e veias fora tão grande que Lana acabou deixando o pobre homem sem graça e sem vez de falar. Logo estava ele de volta com uma taça cheia do líquido transparente e com os olhos baixos.

"Me desculpe. Não era minha intenção lhe deixar sem graça." Ela pousou a mão no peito e riu.

"Está tudo bem!" Ele, felizmente, abriu um sorriso monumental. "É ótimo receber elogios de vez em quando. Mesmo se forem estranhos." A morena soltou uma gargalhada encantadora e fez um longo contato visual com o barman. "Marx." Ele gentilmente estendeu a mão.

"Lana." Devolveu o gesto e ficou surpresa quando sua mão fora beijada. "Oh..." Resmungou e antes que pudesse notar, Marx havia a deixado sozinha novamente.

Sem ter outra opção, Lana silenciou-se pelo que pareceram horas. Deliciou martinis de vodca e de gim. Observou as pessoas a sua volta jantarem, conversarem, trocarem carinhos e deixarem o local. Um pensamento relapso sobre Sean cruzou sua mente. Que diabos... Resmungou baixinho, estranhando o rumo que as coisas dentro de si tinham tomado depois de algumas gotas de álcool.

Lana visualizou o celular ao seu lado e pegou-o na mão, preparada para fazer a ligação. Interrompeu-se. Forçou sua razão a tomar controle da situação novamente. E para isso, foi necessário empurrar uma dose de uísque para o estômago e tratar de pensar em Alfredo.

Quantas vezes amém ela teria que dizer para agradecer o suficiente a ausência dele naquele momento? Parecia cruel? Sim. Tanto quanto insensível, frio, odioso e contraditório. Porém, ninguém além dela própria, sabia o que Fred poderia causar se quisesse. Eram palavras que marcavam a memória até de pessoas menos rancorosas. Ações que desencadeavam longas e intermináveis discussões nas quais ele sempre tinha que estar certo. Não haviam possibilidades, opções, escolhas ou vezes. Era sempre Alfredo. Nada mais, nada menos... O noivado tornara-se uma ditadura, a única diferença era que de vez em quando o ditador e o povo andavam de mãos dadas.

Ela desejava do fundo de seu coração que fosse uma fase. As coisas no trabalho dele estavam em um momento ruim, mas já havia até data para que virassem o jogo e saíssem com as apostas cobertas. Lana preferiu acreditar que ter paciência e apoiar Alfredo seria a melhor saída. No entanto, não conseguia negar o quão exausta e desgastada ela havia ficado com a situação. Jantares durante a semana, eventos até a madrugada, viagens... Santa Lana dona da paciência e da boa vontade Parrilla. Ela estava sempre presente. Em tudo. Envolvia-se e mostrava apoio a todos. Dava o braço para Fred e o acompanharia até o inferno. Mas então, no ponto máximo de seu comprometimento, foi que os desentendimentos começaram...

Reta final de filmagens da temporada, o auge da turbulência nos negócios de Alfredo, ambos precisando de máxima atenção pessoal e apoio moral. Duas procuras e zero achados... Lana começou a aumentar sua lista de faltas nos eventos. Regularmente perguntas a seu respeito eram feitas. Teriam os pombinhos mais apaixonados desse planeta se separado? Será que ela não aguentou a pressão? Pulou fora? Ele tem outra?!

Fred fora esquecendo de pequenas coisas, de como, por exemplo, as manhãs de domingo eram reservadas para Lana trabalhar em casa. Os meninos precisam de carona para a aula de canto, boxe, francês... Não consigo fazer isso sozinha, Alfredo. Estou em uma reuni- Jura?! Por que eu tenho que largar tudo pendurado aqui e você sai sem prejuízo algum no trabalho?

O celular nas mãos de Lana vibrou trazendo sua atenção de volta para o presente. Um novo martini já havia sido servido e o copo de uísque, sumido. Virou a tela do aparelho para si. A esperança de que aquela sexta-feira poderia ser salva mudou sua expressão para um pequeno sorriso...

"Olá queridos amigos que podem legalmente ingerir uma bebida. Pensei que eu chegaria podre do vôo, mas a verdade é que dormi o tempo todo, então estou preparada para a nossa clássica sexta à noite pré-convenção. Conheço um pub maravilhoso a três quadras do meu hotel. Me encontram lá as 21?"

Em um grupo adjacente ao do cast, exclusivo para os adultos e para as convenções, a esperança apelidada de Rebecca Mader havia acabado de injetar ânimo nos amigos, que rapidamente devolveram mensagens confirmando a presença. Lana fez o mesmo e agradeceu a "sis" pela brilhante ideia.

"Uma dose de Blue, s'il vous plaît." Uma voz masculina surgiu ao seu lado direito e Lana não economizou no olhar ao analisar a figura atraente e grisalha encostada no mármore do bar. "Perdoe-me." Como se fosse o George Clooney na escala do charme, o  homem falou inglês e ainda por cima deixou um sorriso saltar de seu rosto. "Não pude deixar de repará-la do outro lado do bar." O jogo das sobrancelhas de Lana fora forte o suficiente para mostrá-la surpresa e interessada. "A curiosidade me venceu." O homem alto chegou minimamente mais perto dela e estendeu a mão direita. "Brian."

"Lana."

"Muito prazer." Ambos trocaram um sorriso amigável, mas logo a morena abaixou o olhar, bebericando aos poucos sua bebida e tentando de algum jeito checar seu celular. "Ah... Me desculpe se te deixei sem graça."

"De modo algum, é só que... Estou noiva." Lana levantou sua mão direita imperceptivelmente, mostrando-lhe a pedra brilhante que pousava em sua mão.

"Ahn..." Brian limpou a garganta e vestiu uma expressão confusa. Aquilo fez Lana olhar para o próprio anelar direito. Porém, um susto instantâneo lhe atingiu e ela encolheu os dedos para perto de si. "Desculpe. Como pode ver, não tinha como eu saber." O homem pronunciava-se cinica e superiormente, mas nem aquelas atitudes conseguiram trazer Lana de seus pensamentos.

"Tudo bem." Concordou sem dar a mínima atenção a ele.

Tentava processar e refazer seus passos desde quando havia tirado o anel para tomar banho até sair do quarto... Nada...

A voz do homem loiro soava distante e vaga. As informações pareciam chegar pela metade nos ouvidos de Lana e sua atenção não captava nada além de pensamentos sobre a aliança e...

"...Mas se você se esqueceu até de vestir a aliança, algo está acontecendo, não?" A atitude de todo poderoso do homem fez a morena olhá-lo como o próprio imbecil que era.

"Não que isso seja minimamente da sua conta, não é mesmo?"

"Ah! Não quero me intrometer, o relacionamento é seu..." Ainda sem se tocar do quão inconveniente estava sendo, o incansável George Clooney sorria e se aproximava de onde Lana estava sentada. "Mas qual a chance de você me acompanhar até uma mesa? Ou quem sabe deixar eu me juntar a você aqui no bar?" Ela revirou os olhos. Inconveniente, folgado e burro.

"Nenhuma." Bebericou o martini olhando para o lado oposto na tentativa de ignorá-lo e irritá-lo.  

"Por que tão teimosa... Lana?" O ser deplorável adicionou um tom sarcástico ao dizer seu nome, irritando Lana ao extremo.

"Nossa, eu sou a teimosa da conversa? Já lhe disse que sou noiva e não pretendo pular fora desse status tão cedo. Você, porém, não mexeu um músculo daqui." Revidou imponente e séria, mas novamente os pensamentos se embaralharam. Tão cedo? Que merda é essa Parrilla? Não pretende casar mais? Ou a interpretação é mais radical e você está querendo sua solteirice novamente?

"Nem se eu te pagar algumas bebidas?" Lana sentiu um toque em seu pescoço e num salto levantou-se, pronta para voar no pescoço do homem se fosse necessário, mas para a sorte daquele rosto bonito, o gongo soou para salvá-lo.

"Ah! Olha que pena, meu marido está ligando." Após sarcasticamente mostrar o chamador para o homem, ela atendeu a ligação e iniciou seu caminho para fora do restaurante. "Oi, amor..." Não obstante, fora instantaneamente impedida de completá-lo pelo corpulento e insuportável ser humano a sua frente.

"Me dá licença ou vou empurrá-lo." Jogou o ultimato com fogo nos olhos, e sem esperar nem um segundo a mais, Lana o contornou e continuou seu caminho, dessa vez sem ser impedida.

"Ahn... Lana?" A voz no celular soava confusa e ela agradecia a todos os santos pela brecha da ligação, mas não podia deixar seu ato mal finalizado.

"Me desculpe, espere só um segundo." Apoiou o aparelho no ombro direito e parou seu caminhar exatamente ao lado da hostess que mais cedo fora tão simpática. "Para o bem de todas as mulheres presentes nesse salão, assegure-se de que aquele idiota dê o fora daqui. Ok?" A mulher vestida com um terninho cinza assentiu e não teve tempo de trocar palavras com a morena, que saiu dali estalando os saltos como se cantasse os pneus de um carro. "Sean..."

"Lana?" Ela adentrou o banheiro mais próximo e sentiu como se pudesse respirar novamente.

"Oi! Houve um problema e eu disse que era meu marido ligando, por isso atendi daquele jeito. Me desculpe." Encostou-se ao conjunto de pias marmorizadas e tentava colocar seus pensamentos em ordem.  

"Não tem problema. Está tudo bem? Você está no hotel?" Sean soava alarmado e ao fundo ouviam-se vozes femininas.

"Sim. Só um babaca flertando insistentemente comigo." Relatou, virando os olhos e apoiando a cabeça na mão livre.

"Que merda! Você já está longe dele agora?"

"Sim. Estou no toalete. Não se preocupe, já pedi para que a segurança desse um jeito."

"Claro que sim." Ele abriu um sorriso aliviado do outro lado da linha. "Às vezes esqueço-me de que você é Lana Parrilla." O comentário fez Lana distrair-se e também abrir um sorriso, apesar de que sem muita vida.

"Mudando de assunto e voltando para o objetivo principal creio eu... Por que ligou?" Usando apenas uma das mãos, a morena abriu a pequena bolsa em forma de carteira e tirou de lá o batom nude que mais cedo utilizara.

"Ah! Sim... Vi você respondendo que topa ir no pub que não é pub." Ele deu de ombros. "Não sei como eles chamam esses lugares em Paris."

"Boa colocação." Constatou com uma voz estranha pela careta que fazia ao passar batom. "Para você, serão eternamente pubs, para mim, eternamente bares e para os parisienses fica a dúvida como seria..."

"Talvez sejam os famosos bistrôs."

"Touché!" Os dois dividiram alguns segundos de gargalhadas.

"Mas então, você quer uma carona?" Sean ofereceu.

"Ai... Ahn... Não sei. Você não está muito longe daqui? Posso pegar um táxi, não há problemas." A mulher juntou as sobrancelhas hesitando, mas achando adorável tal convite.

"Um pouco." O loiro viu-se na frente do restaurante de onde Tanya e a sogra ainda não haviam saído. "Mas tenho que voltar de qualquer jeito. Preciso buscar algo que a Tanya quer e está nas minhas coisas."

"Isso é muito gentil. Obrigada, vou aceitar."

"Que bom! Chego aí em uns 20 minutos!"

"Tudo bem. Até daqui a pouco."

"Até!"

Lana guardou o iPhone na bolsa e se recompôs. Saiu do toalete convicta de que se sentaria em outro bar para ingerir mais uma dose de uísque pelo menos. Não seria qualquer babaca de terno que estragaria sua noite.

Pois então, Lana caminhou pela frente de todos os restaurantes que o hotel tinha e acabou por escolher um com teto de vidro, onde poderia enxergar o céu e quem sabe admirar as estrelas até que Sean chegasse...

{...}

"Bonjour." O recepcionista sorriu e movimentou a cabeça em um comprimento educado.

"Bonjour..." Sean forçou os olhos para enxergar o nome do rapaz. "Louis! Será que você pode fazer um favor para mim?"

"Claro..." Respondeu em seu inglês impecável.

"Por favor, você consegue me informar onde a hóspede Lana Parrilla está no momento?"

"Mademoiselle Parrilla?" Indagou em um tom amigável e com um sorriso no rosto.

"Sim!" Sean fez o mesmo.

"Você é o marido dela? Monsieur Di Blasio, certo?" O jovem funcionário animou-se e logo se pôs na frente de um computador.

"Ahn... Se eu disser que não, qual a chance de você ainda me dizer onde ela está?" O londrino mostrou um sorriso envergonhado.

"Pequena!" Sinceramente e cheio de humor, devolveu o francês.

"Droga... Eu sou um amigo. Estou hospedado aqui também. Encontrei-a mais cedo e marcamos de nos encontrar em um dos restaurantes, mas esqueci de perguntar em qual ela estaria."

"E por que o senhor não liga agora e pergunta?" Ele deu de ombros apesar de ter sentido a sinceridade na explicação do homem à sua frente.

"É... Vou ligar." Suspirando, Sean alcançou o celular dentro do bolso e iniciou uma ligação. "Eu queria surpreendê-la, só por isso." Louis agia estranho. Olhava para os lados, mordia as bochechas e parecia balançar a perna como um tic nervoso.

"Desliga isso!" Ele finalmente disse num grito abafado e urgente. Sean obedeceu, já com a expressão pretensiosa. "Ninguém te fez esse favor, estamos entendidos?"

"Qual favor?" Sean sorriu travesso como uma criança.

"Ela pegou uma mesa no restaurante latino há uns 10 minutos. Vá pela piscina externa que o acesso ficará mais fácil." Louis disse entre os dentes.

"Estou imensamente grato, Louis! Aceita?" O homem de olhos azuis cristalinos levantou uma nota de 20 euros e arqueou uma das sobrancelhas, todo espertinho.

"Quem não quiser que atire a primeira pedra, não é mesmo?!" Ele revirou os olhos e rapidamente arrancou a nota da mão de Sean, que sorriu largamente, deu um leve e amigável tapa no ombro dele e seguiu o caminho que lhe fora indicado.

Sean andou por quase toda a extensão do hotel. Bendito restaurante que Lana tinha escolhido, era na ponta oposta ao lobby... Quando aproximou-se do ambiente viu a morena inquieta fazendo uma ligação. Inusitadamente, seu bolso vibrou, indicando uma chamada. Ele olhou a tela e sorriu, adentrando o local cautelosamente, tentando não chamar a atenção dela.

"Alô?"

"Sean, oi!" Parou para assistir seus movimentos, Lana sorria e levantava as sobrancelhas, também passava insistentemente a unha pela mesa como se desenhasse.

"Oi!"

"Eu esqueci de te avisar, estou no..."

"No restaurante latino." Ele sorriu quando disseram juntos, mas Lana fez uma expressão interrogativa da qual Sean achou graça.

"Como você..." Ela procurava um rosto específico no meio das pessoas, mas nada de um inglês com barba e olhos azuis...

"Você quer fazer uma aposta?" Indagou Sean, ainda encostado onde Lana não podia o ver.

"Manda, mate." Respondeu ela forçando o sotaque de brincadeira.

"Eu aposto..." Ele foi se esquivando e se aproximando da mesa dela. "Uma dose de Jack Daniels, que a mademoiselle de calça rosa claro e blusa preta..." Lana olhou-se, parecendo checar a cor da própria vestimenta. "É a mais formosa do salão..." Finalmente Lana escutou seu sotaque e voz inconfundíveis e tirou o celular do ouvido quando o viu.

Sean sorriu. Abaixou a mão com o celular e deslizou este para o bolso. Lana continuava com os olhos brilhando e a face encantada. Ela não sorria. Estava, como sempre, surpresa.

"Quem será nosso juíz?" Perguntou ela na tentativa super bem sucedida e bem humorada de quebrar aquela troca de olhares intensa.

"O que acha daquele casal?" Sean apontou discretamente ao se acomodar no sofá ao lado de Lana. Eram dois homens sorridentes. Pareciam extremamente felizes e suas carícias entregavam o status casal que eles pareciam carregar.

"Feito! E o desenrolar?" Ela levantou a sobrancelha, desafiando-o.

"Precisamos ter certeza de que eles te vejam. Então... Que tal você ir até o bar, mais para aquele lado do balcão e pedir alguma coisa? Troque um olhar. Já vai ser suficiente, confie em mim." Ele averiguava o casal com um olhar pensativo enquanto Lana achava graça.

"Depois você vai checar?"

"Sim." Sean sorriu, voltando o olhar para a morena.

"Ok. Valendo um Jack." Eles apertaram as mãos e olharam-se divertidamente.

Lana levantou dali e andou até o local onde fora instruída. Sean pousou o olhar sob ela automática e instintivamente. Ali o permitiu ficar. Sentiu-se um criminal por alguns segundos por admirá-la... Estava observando, medindo e absorvendo cada detalhe da cena. Ou dela. Era incerto. Deliciosamente perigoso e incerto.

A morena conversou com o barman e logo, sua voz pareceu chamar a atenção do homem moreno, que sorriu ao encontrar os olhos negros e penetrantes de Lana. Não depois de muito tempo de espera, o londrino assistiu-a trazendo uma taça de vinho nas mãos.

"Sua vez..." Os quadris balançavam harmoniosamente de um lado para o outro dentro da calça flare. "Eles falam inglês, você deu sorte."

Sean levantou-se de modo sarcástico e superior. Ajeitou o blazer de cor clara que usava e dirigiu-se até o mesmo local que Lana há instantes se posicionara.

"Senhores. Com licença. Vocês chegaram a reparar na bela mulher morena que veio até aqui ao lado dos senhores?" Sean abordou o casal com a boa educação que tinha e felizmente obteve respostas receptivas.

"Sim!" Respondeu o homem de pólo vermelha, o mesmo cara cujo qual ele havia assistido trocar sorrisos com Lana.

"Eu vou pedir, por favor, para que deem uma boa olhada nesse salão e me apontem uma dama mais harmoniosa, bela e simpática do que a qual sorriu para vocês há instantes." Sean recostou-se ao balcão e deixou que o casal levasse o tempo necessário para concluírem que responderiam um belo de um "não"...

"Aquela ali." Suas sobrancelhas rapidamente se juntaram e os olhos voaram até a direção que um dos dois havia apontado.

"Danny! Olha bem os braços da coitada!" O mais moreno disse em um tom repreensivo.

"O que há?" Indagou o dito cujo, Danny, certo de sua opinião.

"O que NÃO há... Comparações!" O que vestia vermelho reclamou, estalando os dedos no rosto do mais loiro. "Os músculos da morena eram saltados, malhados e bem definidos. Principalmente nos braços. O que significa que ela ou malha ou treina algo pesado." Sean apertou os olhos fechados espantando a imagem que se formara em sua cabeça.

"Você tem razão..." Danny movimentou o rosto em concordância.

"Tá, espera aí. Como você conseguiu reparar nisso em tão pouquíssimos segundos?" Questionou Sean atordoado pela quantidade de vezes que concluiu já ter tocado nos tais braços definidos.

"Já estou a olhando faz um tempo, na verdade." Sinceramente ele disse, impressionando Sean positivamente.

"O quê?!" E Danny, negativamente.

"Calma, docinho! Eu só achei a maior gracinha quando ela sentou, se ajeitou e ficou o tempo inteirinho olhando para o céu. Quase imóvel, sem respirar. Me deixou curioso e imaginei que ela fosse alguém incrível." Danny observava o parceiro, que analisava Sean, que olhava Lana...

"Ela é." Suspirou.

"Hm..." O casal resmungou num coro pegando as respectivas bebidas para disfarçar.

"O que?" Sean perguntou ainda com os olhos distantes.

"Qual o dilema entre vocês dois?" Foi a vez de Danny interessar-se pelo assunto.

"Como assim?" O inglês embaralhava-se tentando compreender o que falavam.

"O dilema, problema, a confusão, a dúvida..." Especificou o outro.

"Por quê?" Ele ri desentendido.

"Querido, não sei se você sabe, mas você está apaixonado por aquela moça."

"O QUÊ? Não! Você já passou do ponto com o álcool, mate. Está vendo coisas." Negações com a cabeça, as mãos, o corpo todo. "Eu sou casado e ela tem um relacionamento há anos. Somos comprometidos com outras pessoas." Ele sorria sem jeito e evitando olhares.

"Bom..." Os olhos azuis do ator se concentraram na expressão cautelosa que o homem usava. "Se tem uma coisa que eu aprendi é que o casamento não impede você de descobrir coisas novas..." As mãos do casal se entrelaçaram. "Principalmente quando uma dessas descobertas for o amor da sua vida. Confie em mim."

"Muito bem colocado." Ele refletia cada palavra, no entanto não entendia como administrá-las direito dentro de si. "Mas ambos estamos ótimos em nossos relacionamentos, aposto que Lana acharia tudo isso loucura!"

"Tudo bem. Eu posso estar enganado, mas quase nunca estou."

"Que pena que dessa vez você está." Sean se voltou para o barman, levantou o indicador e fez seu pedido. "Dois shots de Jack Daniels, por favor."

"É..." Semicerrando os olhos, usou um tom sarcástico. "Mantenho minhas apostas firmes."

"Vocês me enrolaram tanto que eu quase me esqueci de perguntar o que deveria..." Coçou a nuca tentando se concentrar, tentando pensar em algo que não envolvesse a palavra apaixonado e Lana na mesma sentença. "A morena vestindo calça clara e blusa preta aberta nas coisas é ou não é a mulher mais linda desse salão?" Pergutou quase que irritado.

"Meu caro, isso é uma pergunta que merece a sua resposta..." Danny apoiou uma das mãos no ombro de um Sean perturbado.

"Não, mas a aposta era..." Os dois reduziram as expressões para nada. Definitivamente não responderiam sequer um "a" a mais. "Tudo bem..." Sean bufou, envergonhado.

"Ótima conversa. Somos Daniel e Gale." Ambos ofereceram a mão e ele as apertou.

"Sean. Foi um prazer..." Ainda extremamente pensativo, segurou as bebidas e caminhou desolado de volta à mesa.

"Eu ganhei?!" Lana surpreendeu-o com aquele carisma inigualável.

"Óbvio que não!" O inglês revirou os olhos e Lana reclamou a derrota.

"Droga!"

"Eu te disse..."

"O que eles falaram?!" Ela ajeitou-se no sofá a fim de chegar mais perto dele.

"Ahn... Eles..." Sean suspirou tentando formular uma frase sem se entregar. "Primeiro, Danny, o da esquerda," Iniciou a explicação apontando para o bar, onde Lana acompanhava com o olhar. "indicou uma mulher que julgou mais bonita. Mas aí, o namorado dele, Gale, disse que não tinham comparações, você é muito mais malhada e definida..." A morena, já sorridente, soltou uma gargalhada curta, porém gostosa.

"Eu não acredito!"

"Sim! Ele disse que estava te observando desde quando você sentou e parou para observar o céu." Os olhos dela voltaram-se para o teto de vidro e um sorriso iluminador surgiu em seu rosto.

"Eu adoro o céu." Sussurrou ela, mais pra si mesma do que qualquer outra coisa.

"É, eu sei..." Sean sussurrou de volta, analisando não o céu, mas a mulher a sua frente.

"E depois?"

"Daí... Nada." Como nunca havia sentido antes, Sean achou que estava corando. "Eu refiz a pergunta apostada e eles concordaram que você era definitivamente a mais bonita desse lugar."

"Bem... Se assim eles dizem..." Mal sabia Lana que quem havia decidido a aposta, fora Sean. "Assim será..." Antes de bridar e virar o shot, Lana levantou o copinho saudando Danny e Gale, que sorriram e acenaram de volta.

(Blue Ain't Your Color - Keith Urban)


"Mas, então Lana... Algo me diz que você está mal." Constatou Sean, ainda no processo de degustação daquela bebida que tanto gostava.

"Mal?" Ela contorceu a expressão formando uma pequena ruga entre suas sobrancelhas.

"É. Eu nunca te vi ir aos lugares sozinha. Você se mistura facilmente com qualquer pessoa, e se bem te conheço, não é sua atividade preferida ficar sozinha..." Lana deixou o olhar cair até que estivesse encarando o chão escuro do restaurante. "O que aconteceu?"

"Ah... Eu, eu não sei." Respondeu com os olhos fechados e com o coração praticamente dilacerado. Tudo doía ao falar sobre aquele assunto.

"Ai, me perdoa..." O loiro pousou a testa em uma das mãos. Sentiu-se arrependido pela pergunta e quis colocar-se dentro de um buraco. "Eu não faço ideia do que está acontecendo e estou colocando o nariz onde não devo. Desculpe." Os olhares não se encontravam e ele mostrava-se sem jeito.

"Não! Imagina! Sean... Você seria a única pessoa, além de Fred e da minha irmã, com quem eu dividiria meus segredos e medos." Lana o acalmou ao tocar cautelosamente seu bíceps. "Pode acreditar." Sorriu minimamente.

"Uau... Estou honrado." Sean arregalou os olhos como resposta, além de abrir um sorriso involuntário. "Você é a minha pessoa fora do casamento e dos irmãos também." Com extrema cumplicidade, olharam-se então.

A mulher acariciava o braço do confidente com o polegar e alguns apertões que julgava meigos. Um brilho agradecido nas pupilas negras de Lana era possível de ser visto mesas adiante. Logo, porém, a mesma diminuiu sua expressão a uma escala zero de felicidade e mordeu os lábios de, o que pareceu ser, nervosismo.

"Sabe, quando Fred me pediu em casamento eu não sabia onde colocaria tanta alegria que meu peito sentia..." A morena iniciou longínqua e nostálgica, com uma expressão gostosa dançando no rosto.

"Ele propôs?" Sean indagou sorrindo.

"Sim..."

"Eu... Eu não sabia!" Ele parecia surpreso, mas muito indeciso sobre o que sentir, já que Lana não se manifestava muito alegre sobre.

"É... Eu não tinha contado para ninguém além da família ainda. Estamos noivos já faz um ano e três meses." Afirmou ela ao apertar os lábios.

"Lana isso é incrível! Meus parabéns!"

"É, eu não sei se é tão bom assim..." Como ele previa, Lana não estava nem um pouco animada com a ideia.

"Como assim... O que você... O que você quer dizer?"

"Sean, estou vivendo um inferno." O sorriso irônico e machucado que surgiu em seu rosto fez o mundo de Sean cair.

"Não..."

"Sim. Um inferno. Fred não me deixa viver sem que seja pra ele. Os jantares idiotas que odeio com aquela gente mesquinha. Como se não bastasse eu chegar em casa de madrugada, ele faz com que eu me arrume e nos coloca dentro dos eventos. Sem contar os meninos..." Revirou os olhos e bufou, ainda com aquele sorriso ironicamente dolorido em seu rosto. "Céus, ainda bem se que se viram extremamente bem sem mim. Eles se ajudam demais e eu só checo se precisam de mim, porque senão tenho certeza que Fred e eu já estaríamos separados há um bom tempo." As palavras saíam e a culpa ia suavizando de seu peito. Os olhos, focados na marca mais clara de seu dedo anelar direito, onde carregava a aliança de noivado.

"Eu não acredito."

"Nem eu..." Levantou as sobrancelhas desolada. "Os negócios estão passando por inúmeras mudanças, e desde então ele vem mudado também. Estou esperando as coisas melhorarem e que ele volte a ser meu Fred, mas eu não tenho certeza se estou esperando algo que seja possível de acontecer, entende?" A expressão que ela carregava era de puro e simples cansaço.

"Lana desde quando isso vem acontecendo?" Sean tentava mentalizar qualquer mudança aparente ao longo dos meses.

"Desde quando ele começou a chegar em casa estressado e não me olhava nos olhos nem para dizer 'olá'." Lana girava os olhos pelo local, sem pousá-los sequer uma vez nas safiras brilhantes e envolventes que Sean tinha no lugar dos olhos.

"Alguns meses?"

"É." A atenção ainda era para suas mãos, o que deixava o homem nervoso a pensar que, talvez, houvesse ainda mais coisa por trás daquela história.

"Estou preocupado." Ele resmungou fitando-a descarada e seriamente, sem nem piscar.

"Não. Não fique." Bufou a morena enquanto ajeitava-se no sofá de couro. "Eu... Eu só fico tão chateada e exausta. Nunca na vida eu procurei por homens que me amparassem. Na verdade, nunca nem precisei deles." Ela finalmente colocou o queixo para cima e os olhares voltaram a se cruzar. "Eu tinha alguns relacionamentos aqui e ali, mas nunca mergulhava de cabeça porque eu sou uma mulher que se compromete de corpo e alma, e nenhum daqueles homens merecia meu esforço. Mas então conheci Fred e a coisa toda foi muito espontânea e instantânea. Olhei para ele e já sabia que o queria. E de alguma maneira estranha eu também sabia que ele se sentia do mesmo jeito." Ela gesticulava e brincava com algumas bolinhas de papel que havia feito a partir do guardanapo. "Depois disso, as coisas fluíram muito rápido. No ano seguinte estávamos viajando o mundo juntos e quando paramos em Israel ele disse que queria passar o resto da vida comigo. Ficamos noivos. Afinal naquele ponto do nosso relacionamento eu estava dependente de todos os sentimentos que ele me proporcionava e não consegui recusar." Apertou os olhos e sorriu. Se a sensação era nostálgica, feliz, entristecedora ou reconfortante, foi impossível de identificar. "E bem... Como já te disse, eu amo Fred apesar de tudo. E espero do fundo do meu ser que isso seja apenas uma fase. E desejo muito que logo acabe."

"Eu não sei o que dizer... Eu só... Estou aliviado que tenha me contado. E sinto muito." Sean arrastou a mão até o braço de Lana e o tocou com cuidado.

"Obrigada." Lana agradeceu com os olhos brilhando com possíveis e discretas lágrimas. "Sabe, eu precisava de alguém que..." Iniciou uma explicação. Sentiu-se de repente emocionalmente transtornada porém. "Eu o amo." Constatou metódica. Tentando provar para Sean e para si mesmo que realmente era verdade o que dizia. "Eu amo nossa relação e tudo que ele faz por mim. Ou... Costumava fazer." Corrigiu revirando os olhos. "Mas eu sinto como se algo estivesse sempre faltando. Está sempre bom, mas não o suficiente, não transbordando." Sean observava a luz crescente no rosto de Lana ao defender aquelas palavras. "Como se eu sempre tivesse que me desdobrar para preencher esse espaço entre o que temos e o que necessitamos."

"E isso te sufoca." A morena exalou um pulmão todo quando Sean disse aquilo.

"Demais." Internamente ela agradeceu pela estranha, mas incrível compreensão. "Eu sei que não existe tal coisa como uma pessoa perfeita para cada ser humano. Mas eu tenho que acreditar que podemos ter o que desejamos se perseguimos aquilo com a convicção necessária. E, meu Deus, como eu queria que fosse, mas esse relacionamento não é o que eu sonhei a vida toda. Eu sinto como se não coubesse com Fred, eu sempre tenho que me adaptar e procurar o caminho menos perigoso para nossa relação. E isso me destrói, sempre resta apenas meu pó." Suspirou sendo observada meticulosamente. Os músculos de suas bochechas faziam uma força descomunal para segurar aquelas lágrimas insistentes que ela julgava malditas. Emoções insolentes, eis a verdade. "Eu precisava de um relacionamento como..." Lana iniciou a fala animada por uma comparação, mas ao conectar as peças em sua mente, mudou completamente o tom de voz. "Como..."

"Como?" Insistiu ele, curioso.

"Eu e você." Admitiu encarando profundamente os olhos dele. "Me desculpe." Movimentou a cabeça e rapidamente abaixou o foco de seu olhar.

Sean emudeceu. O que significava aquilo afinal? Lana queria dizer o que ele havia entendido? Pareciam eles um casal? O que as fãs alegavam sobre terem química fora das câmeras, não estariam elas alucinando?

"Está... Está tudo bem." Tropeçou em seus próprios pensamentos. "Eu entendo." Entendo?

"Entende?" Lana juntou as sobrancelhas surpreendendo-se com a resposta.

"Não é como se... O meu relacionamento fosse um mar de rosas." Sean procurava as palavras corretas para se expressar, mesmo tendo milhões de perguntas para a constatação de Lana. "Não se compara com o seu problema, mas ah..." Um sarcasmo carregado de significado tomou conta de sua voz. "Tanya vem me tirando do sério."

"Se me permite perguntar, o que houve?" A morena procurava o olhar azulado de Sean.

"Esqueça. Não quero te deixar mais chateada. Vamos parar com as histórias tristes, pode ser?" Disse renovando a expressão e arrumando os copos da mesa como se ocupasse as mãos.

"Ok, mas você tem certeza de que está bem?" Lana indagou séria e preocupada com a súbita mudança de assunto. Demorou ele a responder... Sua expressão entregava que tentava processar a situação.

"Eu vou sobreviver..." Sorriu sincero e trocando olhares com Lana novamente. "Tudo bem, vamos comer alguma coisa?" Felizmente seu tom já era outro, de completa animação.

"Você já não jantou?"

"Bom, eu comi um prato com três nhoques, se você achar que isso satisfaz, então tudo bem por mim!" Lana riu das caretas que o homem fazia.

"Não!" Ela bateu os olhos em volta procurando um garçom. "Que tal... Empanadas?"

"Eu topo! Tenho certeza que precisaremos de no mínimo três para cada um. Juro, eu não entendo o que os franceses têm contra um prato bem servido." Sean apoiava os braços cruzados na mesa e apesar do sorriso sereno, a pergunta não soava nada como uma brincadeira.

"Meu Deus, eu sei! Se você não achar um restaurante mais popular, capaz de morrer de fome..." Obteve ele a concordância da morena, que bebericava sua taça de água.

"Pois bem... Ok, você concorda em jantar em um bistrô," As mãos dele gesticulavam metodicamente, fizendo mímica de pequenas caixinhas enfileiradas. "mas sai de lá e tem que se deliciar com uma pizza no quarto do hotel!" Riu, recostando-se à cadeira.

"Sim! E se quiser muito minha opinião, isso era o que deveríamos fazer..." Lana deixou sua vontade pairando no ar enquanto olhava o cardápio a sua frente. O comentário deixou Sean um pouco sem reação.

"Eu concordaria sem pensar duas vezes, mas infelizmente não temos tempo. Bex estará nos esperando em especificamente, 32 minutos." Calculou, verificando o relógio no pulso esquerdo.

"Já?"

"Sim... E ainda preciso subir pegar as coisas de Tanya e levar no hotel dela." Comentou em um tom mais baixo o qual fez Lana suspirar e voltar o olhar para o menu.

"Então vamos pedir as empanadas mesmo e comemos no pub se ainda sentirmos fome." O loiro assentiu e aquietou-se. Pôs atenção em Lana e seu francês encantador enquanto a própria trocava curtas frases com o garçom.

Aproveitaram rapidamente as famosas empanadas argentinas muito bem feitas e apresentadas, na companhia de um vinho californiano que ornou extremamente bem com o prato.

Lana pediu para que o garçom anotasse a refeição e as bebidas em sua conta. Logo os dois puderam sair do restaurante e refazer a longuíssima caminhada até o elevador que os levaria para os quartos.

Por mais incrível que pudesse parecer, nenhum dos dois estava bêbado ou exageradamente alegre. Estavam levemente sorridentes e Lana tinha um frescor iluminado arrebatador na pele. Talvez isto fosse coisa da cabeça do inglês; bobo e encantado admirava todos os centímetros de Lana... Pobre, Sean. Estava desesperadamente confuso sobre o que pensar... O álcool obviamente havia contribuído para tais pensamentos e visões, mas o que raios a morena tinha feito no cabelo? No rosto? Na pele? E aquele vestido? Por que sua amiga e colega de trabalho estava tão maravilhosamente atraente nos solos parisienses? E como ele nunca havia percebido aquele brilho de nível estelar nos olhos dela? Seria ele novo?

"Percebi que você fala algum mísero francês." Indagou Sean, quebrando o silêncio das quatro paredes do elevador, que naquele exato momento, pareciam estreitíssimas.

"Sinceramente?" Lana levantou uma sobrancelha, com o sorriso agradável que já vestia há tempos.

"Completamente."

"Na verdade decorei algumas frases úteis e o espanhol, pode se dizer que auxilia um pouco, mas bem pouco. E você? Fala?"

"Há..." Ele debochou de si mesmo. "Você com certeza deve estar com vantagem sobre mim, já que as únicas coisas que eu decorei foram: s'il vous plaît, merci e bonjour." Lana riu, enchendo de melodia a audição dele.

"Então, definitivamente eu estou em vantagem aqui." Ambos foram surpreendidos pelo elevador se abrindo. "Qual o número do seu quarto?" Lana perguntou ainda ali dentro.

"Ham..." Sean pôs as mãos nos bolsos procurando o cartão que lhe dava acesso ao quarto. "903."

"Ok. Vou subir pegar algo também. Te encontro aqui?"

"Pode ser!" A morena aperta os lábios em um tímido sorriso e Sean levanta uma das mãos, acenando levemente.

Assim que as portas se fecham e não é mais possível fazer contato com os olhos profundos dela, Sean é surpreendido por uma significativa onda de pensamentos e se flagra encarando o nada, com os olhos semi cerrados e a expressão um tanto confusa e outro tanto perdida... O que diabos está acontecendo aqui?! Essa é Lana. Lana, só Lana. Lana Parrilla com quem você divide as melhores risadas, com quem podia sempre contar na falta sorrisos, com quem... Espera! Sean repreendeu-se. "Não! Você não pode!" Ele passou as mãos pelo rosto e pelo cabelo repetidas vezes em uma indicação de que estava sob algum tipo de pressão psicológica. Nesse caso, uma absurda dúvida... E uma controversa vontade de fazer a coisa errada e indevida.

Lana estranhamente - ou compreensivelmente - teve a mesma reação. No segundo em que peças metalizadas preencheram sua visão e seus olhos perderam o conforto do mar azul o qual encarava anteriormente, deixou a cabeça escorregar para sua mão direita. "Meu Deus... Aí meu Deus... O que eu estou fazendo?" Balbuciava incrédula. Dispersa. Pensativa como nunca esteve nos últimos anos... Inconscientemente, pousou os dedos nos lábios. Acariciava de leve a região, criava uma sensibilidade que lhe trazia algum prazer. Percorreu todo o perímetro dos carnudos beiços. O que acompanhava tal ação? Seus altos, impróprios e, naquele momento, maravilhosos pensamentos...

Balançou a cabeça colocando os pés de volta no chão. Reparou, então, a sensação que as pontas dos dedos lhe causavam. Instantaneamente Lana fechou os olhos e recolheu os dedos, cruzando os braços a fim de assegurar que dali, sua teimosa mão, não sairia.

Conseguiu visualizar a imagem perturbada e preocupada de Sean andando até o quarto, que em sua cabeça estava muito semelhante a si mesma. Ou... Ou será que ela estava enlouquecendo? Aquelas imaginações eram cruéis efeitos do álcool? Sean não estava a olhando diferente? Os braços dele não estavam mais fortes e aquele sorriso era realmente o mesmo o qual ele usava todos os dias...?

Sem que pudesse notar, automaticamente o corpo de Lana levou-a até dentro do quarto e por alguns segundos a morena desatou-se de sua memória. O que raios vim buscar aqui... Envolveu as próprias mãos, entrelaçou os dedos olhando para todos os lados tentando lembrar-se... Quando um clique a atingiu. A aliança. O vazio no dedo direito lhe dava arrepios, ainda mais pela situação que acabara de presenciar.... "Ótimos lençóis que me envolvi, em..." Um resmungo irônico saiu dela ao encontrar o brilhante do diamante nas bordas da banheira a qual havia se banhado mais cedo. "Pelo menos isso... Obrigada." Como se brigasse com algo nos céus, Lana levantou o objeto e começou a colocá-lo no dedo. Porém, antes de consumar o ato, interrompeu-se.

Analisou o objeto prateado na eminência de encaixar com seu flagelo inferior... O que realmente aquele anel significava? Sorriu tristemente ao recordar-se da cena em Israel. A expressão felicíssima. Os beijos apaixonados. Os abraços apertados e as juras de amor eterno... Tudo soava convincente o suficiente. A famoso tipo anestésico amour...

Lana levantou o olhar e encarou o nada. Sentiu sua respiração escassear e a saliva de sua boca sumir, os olhos pesavam e piscavam rapidamente. Junto com um gigantesco nó na garganta, subiu um calor pelo corpo que trouxe lágrimas aos olhos da morena. Aspirou ruidosamente engolindo o choro. Terminou de empurrar o diamante pelo anelar e com as mesmas pontas dos dedos com que delineou seus lábios pensando em Sean, secou a pouca secreção límpida embaixo dos olhos causada por pensamentos em Alfredo.

Nada mais fazia sentido.

Renovou-se cacoalhando levemente as madeixas negras. Segurou o anel com vontade nenhuma de olhar a situação, apenas nutrindo inúmeros sentimentos ruins pelo objeto. Arrancou-o do dedo com repulsão. Largou o próprio em cima da pia do banheiro, agarrou sua bolsa e saiu ventando do quarto, parando apenas quando suas costas estavam completamente apoiadas na porta e sua respiração extremamente descompassada. Uma adrenalina absurda percorria suas veias como se tivesse cometido um crime. Suspirou profundamente mantendo os olhos fechados, desejando que um calmante estivesse dissolvido no ar que respirava...

A ideia cômica de sua expressão desesperada agarrando-se à porta fez com que Lana endireitasse as pernas em cima do salto e se reconstruísse. Olhou o estado de suas roupas e checou ambos os lados do corredor seguindo para onde encontraria o elevador.

{...}

Ao dar uma olhada dentro do quarto 903 não daria para decidir qual era a maior e mais desorganizada bagunça: a física ou a psicológica. A confusão que Sean havia feito com as coisas de dentro das malas por causa de Tanya ou a desordem que Lana causara nos pensamentos e desejos do inglês, acentuada pelas inúteis palavras do casal que jantava no restaurante latino...

Sua procura pela maldita bolsinha rosa e preta listrada horizontalmente, onde as tiras possuíam 3 centímetros de espessura parecia interminável... Por alguma razão, -provavelmente do nível Lana Parrilla - ele não conseguia concentrar-se. Tentar encontrar qualquer coisa naquele estado era como malhar em ferro frio. Principalmente quando a procura era por sanidade...

Ouviram-se duas batidas de dentro do quarto. Sean tratou de abaixar os fios de cabelo rebeldes na frente do espelho antes de abrir a porta.

"Entra... Eu ainda não achei o que precisava..." Lana projetou uma expressão zombeteira com a desorganização e o tom envergonhado dele.

"E o que é que está procurando?" Perguntou ao segui-lo pela acomodação.

"Uma bolsa pequena, listrada em rosa e preto." Observou-o curvar-se sob uma mala grande e azul-marinho.

"De zíper?"

"Creio que sim..."

"Ok..." Ela também iniciou uma busca superficial enquanto tinha o marcante e delicioso aroma de Sean concentrado em suas narinas. Parou por meio segundo, fechou os olhos e aspirou o cheiro agradabilíssimo que ele deixava na atmosfera... Contudo, fora cruelmente interrompida.

"Ah! Não acredito! Achei..." Sean pronunciou-se com ânimo e alívio fortes em seu tom.

"Há..." A morena girou o corpo, voltando-se de frente a ele. "Onde estava enfiado que não foi achado no meio dessa bagunça toda?" Debochou ela, rindo e gesticulando para Sean, que reagiu da mesma maneira.

"É, estava no meio..." Abruptamente, pausou a risada, após bater os olhos e pôr as mãos em algo envolvido nas roupas. "De alguns livros." Um tom seco lhe atingiu.

"O que aconteceu?" Lana questionou desmanchando o próprio sorriso e aproximando-se um pouco.

"Ah... Nada... Esqueça." Afirmou tentando parecer convincente. "Ah!" Ele pegou a bainha da peça em seu tronco e olhou-a. "Deixe-me trocar a camiseta que sujei de molho..."

"Claro! Ham... Você prefere que eu..."

"Não! Não..." Sean interrompeu-a, o que fez Lana abaixar a mão cuja qual apontava para a saída. "Eu vou até o banheiro, não se mexa."

"Ok..." Timidamente, Lana colocou um sorrisinho no rosto e acomodou-se na beirada da cama, exatamente de costas para a porta a qual Sean havia acabado de atravessar.

Cruzou e descruzou a perna algumas vezes, inquieta, observando tudo à sua volta e sem deixar para trás sua velha mania de mexer o pé fora do chão em círculos. Suas mãos estavam igualmente cruzadas sob os joelhos, com as costas retas Lana mostrava a melhor postura que aprendera nas aulas de ballet quando bem pequena...

Sem muita demora, Sean desencostou a porta do banheiro e encontrou uma figura bela e esbelta em todos os sentidos das palavras... A blusa de seda com uma enorme fenda nas costas prendeu os olhos de Sean na brilhante pele inegavelmente latina. A silhueta de Lana ornava perfeitamente com a roupa que ela usava, com a posição em que se encontrava, com o ritmo que o coração do loiro batia... Que mulher é essa e que porra de feitiço ela possui?

Num grau alto e fortíssimo, Sean foi tomado por um desejo compulsivo de tocar a região nua de Lana, de tê-la nos braços e poder acariciar a pele - que para sua ainda mais fantasiosa imaginação, não estava coberta por um sutiã. Uma completa loucura pensada com sua cabeça de baixo, claramente...

A visão de Lana encontrava-se vaga e rondando pelo chão quando percebeu uma leve sombra se movimentando. Lentamente voltou o olhar para aquela direção e assustando-se, levantou num pulo.

"Han..." Sean tratou de abaixar o olhar e suas bochechas deram um jeito de enrubescer, evengonhando-o ainda mais. "Perdoe-me, eu..." Olhares desviados e movimentos tímidos. "Eu..."

"Está tudo bem..." Lana o interrompeu. Muito sem graça ajeitou seus fios negros para trás. "Eu estava..."

"É eu também..." Interrompeu ele, finalmente fazendo contato visual.

Calaram-se como crianças perante uma bronca maternal: acanhados, arrependidos, incontrolavelmente tentados à repetição... Porém, com uma característica muito adulta para a comparação: estavam incomodados e inquietos.

Qual a origem daquele calor que incendiava ambos os corpos? Por quê? E o que fazia ali se manifestando entre dois amigos? Estavam eles na mesma sintonia ou Lana estava enlouquecendo? Sean havia bebido muito? O que exatamente estava acontecendo e por que raios de repente tudo pareceu ficar tão formal entre eles?

Sean, desajeitado, quebra o olhar carregado com tantas dúvidas e atravessa o quarto passando por Lana, que mais curiosa do que tímida, o encara fixamente sem hesitar nem por um único segundo.

"Vamos? Senão iremos nos atrasar muito." Sean diminui o ritmo da fala por sentir o vibrante e penetrante olhar sob si. "O que foi?" Lana semicerrou os olhos e imperceptivelmente inclinou a cabeça para a direita.

"Por que... Estou pensando em você romanticamente?" Indagou tão naturalmente que nem um mísero resquício de confusão soava em sua voz.

"Eu... Eu não faço a mínima ideia." Com os olhos mais conectados impossível, eles demoravam a piscar e tinham os corpos eletrizados. "Eu só posso afirmar que estou fazendo a mesma coisa. E é muito, muito viciante." Uma força extremamente intensa prendia os olhos um no outro. Tudo o que momentaneamente importava estava ali, localizado dentro das pupilas azuis interessantíssimas de Sean e impregnado nos intensos diamantes negros de Lana.

"Então..." Ela prolongou uma sílaba, adiando o máximo o processo que viria a seguir. "Ambos concordamos em parar?" Sean assentiu com a cabeça.

"Ambos concordamos em parar." Afirmou. Contudo, o olhar estendeu-se. Firmando-se ainda mais... Mal piscavam, mal respiravam, mal sabiam onde estavam. E o pior... Mal queriam sair de tal transe.

Hipócritas.

Lana relutou. Sentiu seu estômago dar cambalhotas, seu peito vibrar e o mais sem graça que já esteve na vida, quebrou a intensa troca de qualquer coisa que ali ocorria.

"Me d..."

"Não." A ríspida resposta assustou a morena. "Concordamos em parar, deveríamos simplesmente ter parado." Constatou soando convincente aos ouvidos dela e extremamente fracassado aos próprios parâmetros.

Como se não bastasse um momento tenso, outro foi iniciado... O longo e ininterrupto silêncio praticamente criou uma nova conexão visual que surgia entre eles.

Lana tanto havia pensando em "estranho" para descrever aquela situação, que o sentido da palavra havia se perdido.

"Vamos... Vamos indo?" Ela perguntou com uma rouquidão trêmula na voz. "Não queremos deixar Bex esperando, não é?"

"Definitivamente."

Obviamente, que os minutos extensos enquanto dividiam o mesmo elevador e veículo conseguiram ser mais tensos e ainda mais estranhos que os olhares ambiciosamente sexuais de dentro do quarto...

Mas a viagem seguiu normal.

"Normal"...

Sean dirigiu concentrado o carro alugado por entre as ruas largas e movimentadas do centro de Paris até estacionar na frente de um altíssimo e moderno hotel, que possuía um estilo completamente diferente do qual Sean e Lana hospedavam-se.

Tanya estava de prontidão e de braços cruzados, em pé perto da grande e simples entrada do hotel. Aquilo fez os olhos de Sean rolarem e abrir a boca para finalmente tentar melhorar o clima.

"Claro que o sargento já está me esperando."   Bufou soltando o cinto e pondo em mãos o objeto que Tanya queria.

"Respira fundo e vai." O som calmo da voz de Lana surpreendeu Sean, que voltou repentinamente o olhar para ela.

"Ah! Então você fala, estranha... Até que enfim." O comentário a fez rir e fitar as próprias mãos. "Eu já volto." Primeiramente o loiro estica a mão direita, quase a tocando na altura do joelho, mas no mesmo instante recua a ação por não ter intenção alguma de assustá-la.

Ainda sem ritmo certo em seu diafragma pelo quase toque que recebera, Lana o observa caminhar até perto da esposa. Sente-se extremamente culpada ao manter o olhar no casal, não era de sua conta, não deveria espionar. Porém, um infame sentimento de perigo espalhou-se pelas células da morena e com ele uma satisfação quase infantil.

______

"Minha visão está boa, sabe..."

"O que isso deveria significar?"

"Consigo vê-la."

"Quem, Tanya?"

"Lana."

"E o que há de errado com ela? Estou dando carona a uma colega, apenas para que ela não tenha que pegar um táxi."

"Tudo bem."

"O que tem aí dentro que você precisava tão desesperadamente?"

"Nada."

"Não me diga que são medicamentos."

"São, não... Eu..."

"Tanya!"

"Pára! Por favor. Vá para o seu coquetel e pare, por favor..."

"Eu ligo amanhã."

______

Envergonhada, mas ao mesmo tempo cara de pau o suficiente para assistir a cena de um abraço e um breve beijo do casal, um sentimento ainda mais errado e ridículo a dominou. Ele se assemelhava ao status que adicionava um par de chifres em pessoas algum dia amadas, se parecia demais com o pecado de desejar o que já pertencia a outra pessoa. Idiotice.

Por aquele mísero segundo de afeto Lana desejou e imaginou sê-la nos braços dele. Um resquício de carinho e a mínima consideração. Independente se a maior parte fosse dele por Tanya ou de Tanya por ele... Não estava claro qual face transparecia arrependimento e qual mostrava pura chateação.

"O que foi?" Indagou o inglês ao fechar a porta ao seu lado e perceber Lana cabisbaixa.  

"Nada, eu..." Perdeu-se nos pensamentos de tantos que tinha. Uma enxurrada de dúvidas banhando toda sua sanidade, momentos circulando desesperados por atenção, vontades invadindo qualquer limite a elas impostas...

"Você..." Curioso, instigou-a.

"Olhando vocês dois, parece ser tão fácil essa carga toda de fase ruim e energias negativas, vocês parecem estar lidando razoavelmente bem com isso." Admitiu aliviando parte do peso que carregava nas costas.

"Isso que você acabou de ver?" Foi possível ver uma das mãos de Sean apontar para fora do carro. "É um hábito."

"Como assim o que eu acabei de ver?" Lana justapôs as sobrancelhas.

"O beijo e o abraço, certo? São hábitos de anos. Não nos separamos nunca sem isso. É estranho e me pergunto por que ainda o fazemos se na hora seguinte estaremos gritando um com o outro por qualquer idiotice, mas ainda sim, parece ser uma espécie de pacto entre nós dois..." Relatou ele com o inicio de uma decepção na voz.

"Sean..." A morena hesitou por um mínimo momento, mas afetada por suas próprias palavras, o tocou. "Esqueceremos as chateações dentro do carro, ok?" O choque que a mão dela pareceu dar em seu ombro, alertou Sean, que segundos depois abriu um sorriso apenas com os lábios, extremamente grato pela compreensão. "Conte-me."

Sean fechou os olhos pousando as mãos no volante ao respirar fundo e tornar o olhar para frente. Tirou o maior proveito possível da sensação que a mão quente de Lana trazia enquanto escorregava por seu braço. Não Maguire, não!

"Em outubro desse ano farão dois anos que eu e Tanya estamos casados. Sim, eu acho isso incrível e ela também, mas... Ela não vê a hora de ter filhos. Eu quero ter filhos. O máximo possível porque adoro crianças e sempre tive a família lotada de gente, gosto de várias pessoas circulando pela casa, como minha infância foi. Mas Lana, todos os dias parece que as próximas horas serão as nossas últimas na terra porque é impossível o quanto essa mulher fala de que temos de ter filhos, e o quanto precisa ser o mais rápido possível por causa da idade, e se quisermos ter mais filhos ela não pode esperar muito mais... E ela engata milhões de argumentos para que a gente tente naquele dia, naquela semana... Mas, deus do céu, concorda comigo que é insuportável? Se você quer ter filhos, deixe que eles aconteçam. Não são uma parte obrigatória no contrato do casamento. Por mais que eu queira ter vários bebezinhos de olhos claros andando e fazendo barulho pela manhã, não significa que eu estou desesperado para que ela fique grávida. Mas parece que Tanya está. Desesperada e compulsivamente obcecada com o assunto gravidez." Lana engoliu em seco analisando o olhar profundo e longíquo que ele trazia na expressão. Percebendo o quanto aquele assunto o deixava pirado e o quanto estava o afastando de Tanya. "E, bom, para piorar tudo, não é como se não tivéssemos tentado. Pelo contrário, tentamos inúmeras vezes, e nenhuma dela foi um sucesso." Ele revirou os olhos e para a preocupação de Lana o foco visual de Sean continuava exclusivamente para frente, para o nada. "Ela só veio para Paris esse final de semana porque se ficasse em casa sozinha ela surtaria e iria até o médico checar se o problema não era com seu corpo. Ela morre de medo que isso seja o problema, e sinceramente eu também. Posso ser o incoveniente por acaso, sabe?" Lana puxou todo ar disponível quando as visões se esbarraram.

"Aham."

"E durante essas últimas semanas, Tanya andava com a auto estima extremamente baixa, então dei uma cortada nas tentativas, para protegê-la de se machucar, principalmente. O que eu não saquei, era que ela interpretaria toda a boa ação como uma escapatória para mim. O que definitivamente não era, mas acabei me auto golpeando. Infelizmente essa droga a abalou demais."

"Por isso que estão em hotéis separados?" Questionou a morena no tom mais manso que conseguiu.

"Não... Isso foi um mal entendido com a minha sogra e Tanya achou por bem mal não deixá-la sozinha." Movimentando a cabeça, Lana assentiu e ajeitou-se no banco do passageiro deixando que o assunto morresse e ali mesmo ficasse enterrado.

"Obrigada." O sussurro confundiu-o.

"Eu que deveria estar agradecendo." Novamente respondeu usando movimentos de cabeça, porém dessa vez, negou a frase.

"Você confia em mim. Pra valer." Seu estômago apitava de nervoso e a avisava de um possível choro cujo qual Lana tentava lutar contra a todo custo.

"Você não tem ideia do quanto significa para mim..." Sean mudou a intensidade de seu tom e sussurrou de volta, deixando-a tão vulnerável a ponto de fechar os olhos para acalmar-se, para engolir tudo o que queria falar, para recuperar sua sanidade e finalmente sussurrar uma resposta da qual não se arrependeria.

"Vamos."

{...}

"Para um inglês, sua pontualidade está muitíssimo atordoada..." Rebecca recebeu os amigos com um abraço, um largo sorriso e uma clássica brincadeira como sempre fazia. Agradável era apelido quando se estava na presença da ruiva.

Os dois atrasados cumprimentaram os amigos, os respectivos cônjuges e logo acomodaram-se na mesa que era localizadas bem ao lado do palco, onde uma banda não muito numerosa entoava uma canção em inglês.

"Eles lembram as minhas origens." Sean naturalmente comentou num tom que apenas permitia Lana de escutá-lo.

"Origens?" Captou ela que uma conversa particular estava se iniciando, então tratou de cruzar as pernas para o outro lado, a direção onde o loiro sentava.

"Eu cantava, lembra-se?"

"Claro... Mas não pensei que tivesse sido em bares ou... Pubs, como você diz." Deu de ombros observando os olhos dele brilharem ao ouvir a banda.

"Pois eu cantei... Era uma época muito gostosa, eu fazia o que gostava e estava sempre alegre." Um sorriso belíssimo brincou por sua expressão. "Inclusive, foi desse jeito que..."

"Que você a conheceu." Lana completou e o viu assentir.

"Um pouco impossível não pensar sobre o assunto." Demonstrou sua chateação quanto àquilo pelo jogo de sobrancelhas e o desvio acentuado de olhares.

"Mas ninguém te proibiu disso. Qual o problema?" Ela indagou e apoiou a cabeça na mão esquerda.

"Você e ela ao mesmo tempo na minha cabeça é extremamente confuso." Admitiu ele sem pensar em uma mísera consequência.

"O quê?" Agora a confusão localizava-se em outra mente.

"Nada. Me desculpe." Sean levantou o tronco e evitando o máximo os olhos confusos da morena, chamou o garçom.

"Sean?"

"Não é nada." Respondeu a ela antes de voltar sua fala para o jovem que o atendia. "Sil vous plaît, o melhor uísque que você tiver e..." Apontou o indicador para Lana e esperou que ela respondesse seu pedido.

"Um martini de gim." Pediu com o mínimo que lhe restava de voz e de fôlego. Não, ela não estava enlouquecendo. Pelo menos não sozinha.

"Um martini de gim. Merci." Repetiu mais alto e dali o moço logo saiu.

"Por favor, não deixa isso morrer assim." O mais curiosa que já esteve na vida, Lana queria a todo custo saber o que Sean pensava da situação.

"Isso o que?"

"O assunto, qualquer coisa sobre o que você estava falando no carro, no quarto, na sua aposta, agora..."

"Lana..." Sean interrompeu a enumeração dos fatos estranhos que lhe tinham ocorrido naquele dia, porém a morena não calou-se.

"Estou falando sério." E a expressão dela não dizia o contrário. "Você acha que é o único desesperado por uma explicação do que está acontecendo aqui?" A pergunta o surpreendeu, não esperava que ela fosse tão objetiva e direta... Estou lidando com Lana Parrilla, tudo é uma surpresa.

"Eu sinceramente achei que sim. Pensei que estivesse estupidamente alterado."

"Pois saiba que não é." Afirmou em alguns decibéis mais alto, chamando alguma atenção dos amigos ao lado.

"Shhh!"

"Estou enterrando esses frios na barriga que você anda me causando desde mais cedo quando me elogiou no elevador." Se Rebecca estivesse um pouquinho menos ocupada, com certeza aqueles sussurros serviriam apenas para que passassem muita vergonha.

"Não foi intencional..." Sean fechou os olhos e coçou-os com dois dedos. Mostrava-se emocionalmente cansado e perturbado.

"Eu sei que não! Você acha que pensar sobre você no meu tempo vago era realmente a minha intenção?"

"Lana! Por que Fred não veio?" Do outro lado da mesa, Rebecca indagou com o sorriso caloroso que sempre carregava no rosto, fazendo Sean e Lana olharem sincronizados para ela. "Oh... Estou interrompendo alguma coisa?" Perguntou, soando menos animada desta vez.

"Não, nós... Só estávamos conversando." Sean explicou e recebeu uma confirmação composta por meias palavras de Lana.

"Ele está em uma conferência, Bex. Até amanhã à tarde."

"Ah, tá!"

"Vocês estão com fome? Bex não aguentou esperar 10 minutos e acabou pedindo alguns aperitivos..." Marc debochou a namorada empurrando o cardápio para perto da morena.

"Tudo bem, Marc! Obrigada... Nós comemos antes de sair do hotel."

"Comeram e vieram juntos?" Novamente, a ruiva deu o ar da graça deixando Lana sem fala por alguns segundos.

"Ahn... Sim." Gaguejou incerta de qual seria a melhor opção. Mentir ou omitir.

"Oh..." Ela arregalou os olhos demonstrando uma expressão animada e travessa.

"Não! Bex! Não desse jeito..." A morena logo tratou de se explicar. "Nós só... Coincidentemente estamos hospedados no mesmo hotel." Sean deu de ombros assim como a mulher ao seu lado.

"Ah, sério?!" Indagou Bex, num tom provocativo.

"Sim... E nos esbarramos no elevador. Quando você mandou aquela mensagem, Sean estava fora e me ligou perguntando se eu não queria uma carona."

"Para que ele dirigisse e você pudesse beber?" Ela gesticulou e causou um pequeno atraso nos pensamentos da amiga.

"Sim... Não! Ele só não queria que eu tivesse que pegar um táxi." Corrigiu a fala tropeçando em seu próprio ritmo.

"Rebecca, você consegue ser tão irritante às vezes!" Emilie, que até então só escutava e dava algumas risadas, resolveu dar um suporte moral aos amigos.

"Eu sei né? Estou brincando com vocês! Está tudo bem! Até porque você ama o Fred e você ama a Tanya..." Rebecca ria desatenta, mas os dois olharam-se nervosos.  

"É!" Concordaram num coro.

"Oh Deus, vocês estão tentando convencer a mim ou a vocês mesmos?" A ruiva arqueou uma sobrancelha com uma expressão duvidosa, deixando o casal de mentirinha assustado. "As expressões de desespero são impagáveis! Estou brincando!" Tornou a rir, escandalosa e divertida como sempre.

"Rebecca pare!" Lana exigiu tentando não rir.

"Ah! Por quê?"

"Por quê! Porque nós jantamos como amigos e você fica falando como se formássemos um casal!" Brigou a morena, irritada, porém de modo divertido.

"Bom, querida amiga, quem não deve, não teme..." Lana revirou os olhos e sorriu a acompanhando. "Você deve algo a alguém?"

"Não..." Disse serena e sincera.

"Então por que teme, Parrilla?" Todos deram uma leve risada.

"Você tem razão..." Respondeu ela mal percebendo a expressão desconfortável de Sean, que abriu um sorriso nervoso e duvidoso. Lana dizia A, transparecia B e falava C. Como raios seria possível ele entendê-la?

{...}

"Os três casais nessa mesa daqui! Venham para a pista! Tragam esses corpinhos dançantes que avisto para cá!" O vocalista extremamente simpático colocou os olhos na mesa dos atores, que estavam em pé e contidamente dançavam a compilação maravilhosa de rock atual e old school.

"Vamos dois!" Emilie chamou Sean e Lana após tomar o resto de sua bebida e sem esperar uma reação, apenas puxou o namorado até à frente do palco. Porém, Lana sentou-se já anulando a opção de dançarem juntos. Especialmente por estarem em público.

Sean, por sua vez, não era conhecido por sua rápida desistência. Tomado pela impulsão e sem balancear qualquer consequência, ele se levanta e oferece a mão para que a morena o acompanhasse até a pista.

"O que você tá fazendo? Senta aí!" Reagiu ela com as sobrancelhas justapostas.

"Não! Vamos dançar!" A afirmação transformou o convite em um fato e Lana logo sentiu sua mão sendo agarrada.

"Sean Maguire, não posso levantar daqui." Repreendeu-o puxando a própria mão.

"Por quê? O que houve?" O loiro apoiou-se na mesa e aproximou o rosto preocupado à ela.

"Porque aqui eu consigo te ignorar e me controlar."

"Ah não! Você está brincando, né?" Esbaforido, ele riu, causando em Lana um suspiro combinado com olhos rolando.

(Shut Up And Dance - Walk The Moon)

"Não! Se levantarmos daqui..." Interrompeu-se para outro suspiro. Outra dose de coragem. Outra seleção das palavras corretas. "Eu e você depois de bastante álcool, esse jogo somos não somos rolando entre nós e essa música maravilhosa que começou... O que de bom pode sair disso, Maguire?" Lana surpreendeu-se na indagação. Tudo o que tentava perguntar há horas em uma única sentença: estavam afetados pelo álcool, entediados dos relacionamentos, cansados de decepcionarem-se ou arrebatados um pelo outro?

"Há! Você não faz ideia!" Os músculos de Sean trataram de puxar a morena para perto dele num susto, sem tempo para hesitação.

Lana, sem rumo algum, viu-se repentinamente na pista de dança, rodeada por inúmeros casais de variadas faixas etárias. Conteve-se no primeiro momento. A análise da circunstância pareceu levar uma década para Sean, que a aguardava ceder seu corpo para a música, com um sorriso enorme no rosto. Talvez este causado pelo toque desconfiado nos olhos de Lana ou pela visão estonteante dos lábios da própria...

Quando finalmente a ficha dela pareceu cair, seus olhos pousaram sob os de Sean e ali brincaram de transmitir pensamentos. O inglês ria e Lana parecia mudar suas expressões no ritmo da música, o que divertia Sean ainda mais...

"Eu te odeio..." Sibilou ela com a visão semicerrada e um sorriso pra lá de espirituoso segundos antes de apertar as pálpebras e deixar que aquela incrível melodia fizesse seu corpo dançar...

                                                                                       This woman is my destiny
                                                                                           She said oh oh oh
                                                                                    Shut up and dance with me...


Eles não sabiam do quanto, mas incrivelmente pareciam Rose e Jack quando compartilharam sua primeira dança juntos: lentamente se apaixonavam, estranhamente se aproximavam, inteiramente se entregavam, loucamente se desejavam. A grande dúvida era qual dos dois que se manteve tão firme e forte contrapondo aquela atração fora dos padrões que sentiam?

                                                                       A backless dress and some beat up sneaks,
                                                                          My discotheque Juliet teenage dream.
                                                                         I felt it in my chest as she looked at me.
                                                                           I knew we were born to be together,
                                                                                       Born to be together...


{...}

A música não mais podia ser ouvida do estacionamento e as luzes azuis da entrada do local iluminavam pobremente o caminho que Sean e Lana trilhavam até o automóvel.

Era possível porém, ouvir o barulho dos passos que Lana lentamente dava. A fraca brisa que a madrugada trazia colocava os cachos morenos para voar chamando a atenção de Sean regularmente. Desejava tanto tocá-los, cheirá-los e alisá-los. Colocá-los em ordem, bagunçá-los logo em seguida. Enrolá-los em seus dedos e puxá-los enquanto...

"Sean."

"Sim?!" Respondeu quase tropeçando nos próprios pés.

"Eu posso estar um pouco bêbada, mas ainda consigo processar a situação." Lana parou de andar de repente, o que pôs Sean em estado de alerta. "Quero deixar tudo isso crystal clear antes de que seja tarde demais."

"Já é bem tarde, Lana." Brincou o loiro ao olhar para o relógio.

"Mesmo?" Lana arregalou os olhos, séria e o fez rir.

"Não, Lana. Eu só estava brincando." Escandalosamente feliz, Lana gargalhou. Genuína.

"Você faz parecer que sempre é tarde demais." Rolou os olhos ainda com um sorriso sereno pendendo no rosto.

"O que você quer dizer?" As batidas cardíacas de Sean o sacanearam tentando engolir aquelas palavras que soaram tão maravilhosamente corretas, mas... seria o que soava ser?

"Você..." Lana avaliou a expressão curiosa e esperançosa que o colega carregava e arrependeu-se de ter bebido tanto - porque não a quantidade de sanidade que lhe restava não seria suficiente para evitar um pisão em falso. "Você é incrível. Isso que eu quis dizer." Sorriu com uma enorme carga de sentimentos nos olhos. Eram muitos e em grandes quantidades, assemelhando-se aos de um adolescente.

Sean não sabia exatamente como reagir. O coração idiota continuava não apenas pulsando, mas martelando em seu peito, fazendo-o questionar os limites. Precisavam mesmo estar sempre pisando no muro? Beirando ao erro? Mordiscando e aproveitando as lascas? Quão terrível seria por uma hora, apenas uma hora, ter um timing ao menos plausível?

Pilhado pelo sex appeal da morena e igualmente energizado por todo o álcool daquela noite, Sean deu um passo à frente e fez o que sentiu ser a coisa certa a se fazer, mesmo que só por um único momento...

Beijou-a uma vez. Lana o afastou como se lutasse contra um animal de grande porte - dentro de si mesma.

"Não eu... Eu... Eu bebi muito." Os lábios de Sean tocavam levemente os dela impedindo que completasse qualquer frase. "Meus sentidos... Minha visão, audição... Estão afetados... Estamos nessa cidade..." Os braços dele agora já estavam enroscados na cintura de Lana, que inutilmente negava cada beijo - mas encontrava-se envolvida naquela dança, onde seus dedos já tocavam alguns fios de cabelo na nuca de Sean. "Longe de casa... Já está tarde... E..." Ela hesitou sendo interrompida por segundos a mais. "E... As minhas desculpas acabaram..." Ele sorriu vitorioso pela clara controvérsia e vulnerabilidade presentes na mulher em seus braços, como nunca havia visto nem imaginado antes.

"Finalmente..."


Notas Finais


Um beijo, dois beijos, tres beijos. Imma outta here. I soon will be back, always. <3


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