História Undertale - True Reset - Apenas um Sonho?

[Frisk]

A luz dourada... Era tão familiar... Um lugar tão bonito, mas recheado de tristes memórias, eu reconheceria em qualquer linha do tempo o lugar onde eu estava. O salão do julgamento.

A dor era excruciante, mas logo foi substituída por um calor aconchegante, era o meu sangue se derramando em um corpo, interna e externamente, eu via aquele olho brilhante azul que me encarava a poucos metros, sendo seu brilho a última coisa que eu era capaz de ver antes de cair na escuridão da morte. Eu estava agradecida, queria permanecer ali, no conforto da morte, mas minha alma que era muito determinada e estava aprisionada sob o controle de outra pessoa não me deixaria descansar, isso não teria fim.

A maioria dos meus sentidos tinham mergulhado na escuridão, mas eu ainda podia sentir algumas coisas, mas eu não sentia dor, eu senti um calor um aconchego, uma paz. Ao longe eu podia ouvir, o que parecia ser um choro e um murmúrio de desculpas. Eu sabia que cena era aquela, era Sans me abraçando logo depois de ter me matado.

Me prendi mais um pouco à sensação de seu abraço, e o sentimento familiar de todas as vezes que fui protegida em meus pesadelos, que eu me sentia ser envolvida por uma doce, calma e aconchegante magia, uma luz azul que me trazia paz, que fazia com que eu me sentisse segura. Somente ele poderia me dar essa sensação, essa era a certeza que minha alma possuía.

Aos poucos fui afundando de vez na escuridão, era a sensação conhecida da morte, mas nada disso durou muito, pois logo tudo isso se dissolveu para dar lugar a outro cenário... Familiar e ao mesmo tempo irreconhecível por mim.

Eu estava em um lugar totalmente escuro, mas de certa forma não era aquela escuridão de quando você está na ausência de luz, e sim como se todo o ambiente fosse negro, sem distinção de piso paredes teto, tudo o que eu via era uma grande imensidão negra, mas não me sentia cegada pela escuridão. Aos poucos foi aparecendo diante de mim uma figura, de certa forma parecida comigo, achei que seria um reflexo meu, mas passei a ver suas roupas, um tanto diferentes das minhas, mas familiares, roupas bem parecidas com as que encontrei enquanto vivi com Toriel nas Ruínas. A imagem se tornou uma garota, muito parecida comigo de fato, mas tinha diferenças óbvias, seu cabelo era de um castanho mais claro e liso, assim como sua pele era mais clara, eu era levemente morena, ela poderia ser classificada como branca, ela também tinha as bochechas coradas, em uma leve tonalidade de rosa, porém foi somente uma característica que me fez realizar quem estava ali, diante de mim. Seus olhos de um vermelho brilhante, afiados, que me olhavam, imediatamente reconheci: Chara.

— Onde estou?

— Bem, aqui é o vazio, um lugar fora das linhas temporais, mas bem, você não está exatamente aqui, você só foi projetada aqui em seus sonhos pois eu estou aqui.

— Entendo, mas o que você quer comigo?

— Calma... Eu não estou aqui para te ameaçar ou qualquer coisa do tipo, não sou essa Chara... digamos que aqui, todas as faces da minha personalidade podem se separar... Eu estou aqui para conversar... sobre o que você sente.

— Como assim?

— Primeiramente, peço desculpas por não ter me apresentado desta forma mais cedo. Acredito que isso teria te livrado de uma série de problemas.

— Eu entendo, se o caso de poder só mostrar essa face da sua personalidade for esse lugar.

— Isso em parte. Não me leve a mal garota, mas também considero o que o meu lado destrutivo tem a dizer. Apesar dela não ser nada sutil, ela tem seus motivos.

— Se você está aqui para me convencer a deixar que tomem o controle de mim outra vez, está perdendo o seu tempo. Eu prometi a uma pessoa que faria o possível para não deixar que isso acontecesse, e essa pessoa me prometeu que me pararia a qualquer custo, caso eu não fosse forte o suficiente.

Eu estava desconfiada, eu tinha um sentimento de empatia por Chara, sentia que podia salvá-la, mas depois de tudo o que passei na outra linha do tempo, eu não poderia dar nenhum deslize, nem que para isso eu tivesse que agir de forma desconfiada.

— Poderia muito bem realmente recomendar isto, mas isso seria insensato. Recorrer ao meu lado destrutivo sempre poderia deixar que oportunidades, digamos assim, interessantes fossem desperdiçadas. E é por isso que estou aqui.

— Não entendo onde você quer chegar.

— Sua convivência com o Sans é no mínimo... peculiar. Ele é uma pessoa no qual é difícil de se convencer. E por isso vim aqui para entender melhor isso.

Senti meu rosto esquentar, não acredito que ela queria saber como eu convivia com o Sans, tentei me manter calma, e procurar a resposta mais correta, sem denunciar meus sentimentos.

— Ora, ele é divertido, e até fácil de lidar quando se fala a verdade, ele é muito perceptivo, observador, então nunca consegui mentir para ele, ele costuma respeitar as minhas escolhas, sinto como se ele fosse um grande irmão mais velho, que me protegeria se eu corresse perigo, mas tentaria me corrigir caso eu fizesse algo errado. Acho que posso dizer que confio nele, e acredito que pelo menos nessa linha do tempo ele também confia em mim.

— Entendo... E pelo visto é desnecessário dizer que você ficaria ao lado dele não importa o que acontecesse, não é mesmo?

— Sim, ficaria ao lado dele sempre que possível...

— Hum... Então eu devo lhe alertar de uma coisa.

— Me alertar? Sobre o que? O que ainda preciso saber?

— Sans ainda guarda coisas de você, no qual ainda não foram ditas... Mas não tenha uma impressão errada dele. Isso não significa que ele não confie em você. É que... Isso remete a coisas extremamente complicadas, relacionadas ao mundo no qual você vive.

— Sei que ele ainda tem segredos, que ainda não se sente confortável para compartilhá-los comigo, sei que ele tem um passado, e que por mais que ele me considere como um membro da família dele, ele não vai confiar em mim o suficiente para se abrir comigo... Tudo o que posso esperar é que um dia ele se sinta confortável de me revelar, ou que eu tenha tempo para chegar a esse nível.

— Não ache que isso será simples garota. Isso não remete a você. Afinal de contas, você é uma humana e ele um monstro. Acha mesmo que este detalhe passaria despercebido? O Sans presenciou muita coisa garota, coisas diretamente envolvidas com o Subterrâneo, com a atual situação dos monstros, e indiretamente falando, sobre minha falta de confiança em todos. Acha mesmo que você, uma mera garota humana é capaz de lidar com coisas que simplesmente moldaram o mundo como ele é hoje?

— Não me entenda mal, não estou sendo presunçosa, achando que vou resolver todos os problemas e angustias dele, nem de todos os monstros, eu realmente desejo quebrar a barreira e libertá-los, mas também sei que eles enfrentariam muitos problemas lá fora, pois sei como os humanos podem ser cruéis, eu vivi isso, eu, uma mera humana, senti na pele a crueldade da minha própria espécie, mas se o que eu fizer valer para dar um fio de esperança para todos eles, então o farei. Mesmo que para isso...

Eu me calei, eu sabia que eu dificilmente sobreviveria para que a barreira estivesse quebrada, eu me fazia promessas de que contaria para Sans o que eu sentia sob as estrelas da superfície, mas a verdade é que eu sabia que era quase certeza que eu entregaria minha alma para o Rei Asgore, e ele quebraria a barreira, por isso eu não podia contar a Sans como eu me sentia, eu sabia como ele iria reagir, ele iria querer me impedir de fazer isso, de novo.

— O quê? Se sacrificar, achando que isso será aceito como um presente? Garota, o inferno é pavimentado de boas intenções. Acha mesmo que a mente do Sans ficaria intacta depois disso? Acha mesmo que os monstros que prezam por você não se encheriam de remorso ou até mesmo ódio pelos humanos por terem te forçado a tomar esta decisão? Sem falar daqueles que já buscam vingança antes mesmo de você surgir, fazendo do seu sacrifício uma boa razão para desencadear a destruição tão almejada! O que é irônico, já que você está fazendo o trabalho de meu lado destrutivo ainda mais fácil!

— Então... o que devo fazer? Que eu saiba não há outra maneira de quebrar a barreira...

Ela tinha razão, Toriel, Papyrus, o pessoal de Snowdin, Sans, e todos os monstros que eu viesse a conhecer e fazer amizade, eles não aceitariam de bom grado o meu presente... Toriel até me pediu para que nunca mais voltasse às Ruínas para não passar por esse sofrimento.

— Isso eu não posso te responder... Afinal de contas até eu busquei algo parecido. E o que ganhei? Virei uma entidade que busca a destruição de tudo, julgando ser mais fácil... Mas, como eu disse antes, eu me dei o trabalho de vir até aqui, entender melhor o que você busca. Isso é um sinal que você carrega algo a mais... Se deseja respostas, busque o Rei Asgore. Se você está mesmo determinada a encarar este martírio, só ele poderá lhe dizer com detalhes o que se passa entre humanos e monstros.

— Chara... qual é a sua relação com o Rei?

Chara ri.

— Hahahah! E porque você quer saber? Eu já não te causei problemas o suficiente? O mínimo que você deveria nutrir de mim é desprezo, não curiosidade!

— Eu fiquei curiosa, você parece saber muito sobre ele, eu o encontrei por muito pouco tempo na outra linha do tempo. E para que você me aconselhe a procura-lo, posso jurar que senti algum afeto em suas palavras, isso me deixou curiosa. Não me leve a mal, eu desprezo suas atitudes, pois sei que as coisas podem ser resolvidas sem violência, mas isso não significa que te julgarei sem conhecer os seus motivos. O tempo que compartilhamos o mesmo corpo, eu sentia uma enorme tristeza, mesmo sem você me deixar saber o que tinha acontecido a você para que sentisse tanto ódio de todos a sua volta, mas sentir o pouco afeto em suas palavras pela primeira vez, realmente me deixou curiosa. Você quer que eu entenda os seus motivos, mas não me revela nada.

— Você definitivamente é uma pessoa engraçada garota. Infelizmente eu não tenho muito tempo para lhe contar toda a história. Meu lado destrutivo é uma pessoa muito impaciente e quer voltar ao show logo. Mas se você realmente quer saber mais, aconselho você procurar com mais cuidado. Afinal de contas, uma certa florzinha pode saber uma coisa ou duas, mas ele provavelmente está mais preocupado em causar a discórdia do que qualquer outra coisa.

— Florzinha? Não me recordo de nenhuma Flor Eco te mencionar... — Foi quando a realização bateu em mim como um tapa. — Flowey! Ele te conhece. Lembro dele dizendo que esteve te esperando, te chamando... Ele é alguém do seu passado? Do tempo que você estava viva?

— Ele é uma pessoa relativamente próxima, por assim dizer. Tal como se fosse um irmão. — Chara começa a desaparecer. — Isso é tudo que tenho a dizer. Talvez eu volte em algum momento, mas até lá, você está por sua própria conta, Frisk...

Logo eu estava sozinha, no meio daquela escuridão, pensando em tudo o que me foi dito, como ela parecia conhecer muito bem essas figuras, o que me deixava curiosa para saber mais sobre ela, sobre o passado dos monstros, logo em seguida, comecei a me sentir puxada para trás. Esse sonho foi se dissolvendo, para dar lugar a outro, um pouco mais agitado.