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História Unexpected Connection - Muito difícil ficar longe dela


Escrita por: brunacezario e MaluBrochu

Notas do Autor


Não disse de quem.

Será se vai ficar muito repetitivo agradecer vocês de novo? Se for, não estamos nem ai! Muito, muito obrigada mesmo por todos os comentários, por todas as zoeiras que rendem até edits e as melhores teorias e obrigada por terem entrado na história de verdade junto com nós duas, pois nós criamos a fic, mas também surtamos como se fossemos leitoras, não ta normal isso não gente asdfghgfdfghgf

Ótima leitura!

Capítulo 6 - Muito difícil ficar longe dela


Prédio da L-CORP, 8:00 A.M.

Dormir havia se tornado uma palavra quase inexistente no vocabulário de Lena Luthor. Embora tentasse, desde o acidente, sempre que encostava a cabeça no travesseiro um milhão de pensamentos tomavam conta de si e o resultado disso era uma terrível insônia.

Diferente das outras noites que o motivo da sua insônia era a culpa que carregava por ter sido a responsável de autorizar a construção de um prédio que desabou, dessa vez sua noite em claro tinha nome e sobrenome: Reign Reid.

“Estou trabalhando para os Luthor há um grande tempo, Srta. Luthor, e nunca vi nenhum de vocês se apaixonarem de verdade.”

As palavras de Kara ecoaram em sua cabeça durante boa parte da noite. Lena continuou a analisar todas as suas ações dos últimos dias e tentou se convencer de que tudo não passava de implicância da Kara, mesmo que seu último ato antes de deixar o hospital desse um pouco de razão para a advogada.

Por qual motivo ela teve que tocar no rosto de Reign? Por que sempre ficava tão desconsertada quando estava na presença da morena? Por que um minuto ou outro fechava os olhos tentando lembrar de cada segundo dos lábios macios em sua bochecha naquele beijo sem segundas intenções? Era uma pessoa tão carente ao ponto de estar confundindo uma amizade que mal começara com qualquer outra coisa? Estava tão desesperada assim em ter uma vida “normal” que estava prestes a estragar o pouco de normalidade que aquela família trazia para sua vida? Que Reign trazia para a sua vida?

Quando o despertador tocou, avisando que estava na hora de Lena levantar para mais um dia de trabalho, ainda nenhuma resposta era boa o bastante para os seus questionamentos – e ela não daria razão para Kara. Ela odiava perguntas sem respostas, ainda mais aquelas que colocavam em risco a sua sanidade.

- Srta. Luthor, tem um minuto? – Mon-El interceptou-a na saída do elevador. – Eu preciso da assinatura da Srta. nesse contrato... – entregou a pasta com o contrato para Lena.

A empresária parou de andar no meio do caminho para dar atenção ao contrato. Após o que acontecera, a última coisa que queria era ser surpreendia com mais algum contrato que causaria um grande acidente.

Lena riu, desacreditada assim que terminou de ler somente a primeira página do contrato em suas mãos.

- Isso é algum tipo de brincadeira? – Lena balançou a pasta em sua mão, séria. – Você não está mesmo querendo que eu assine isso. Está?

- E-eu... – Mon-El ajeitou os óculos no rosto, desconsertado. – Eu preciso que a Srta. assine isso. – Enfatizou o “preciso”, arrependendo-se logo em seguida por causa do par de olhos verdes encarando-o com irritação.

- Você precisa? – Lena também deu ênfase na palavra. Sua expressão estava mais fechada do que a de segundos atrás. – O que você precisa é arrumar todos os erros absurdos que tem nesse contrato. Como é seu nome mesmo?

- M-Mon-El.

- Mon-El, você está querendo acabar com toda a credibilidade da empresa querendo que eu assine uma porcaria dessas? – Lena bateu com a pasta no peito do rapaz. – Você aprendeu a fazer contratos onde? Tutorial do Youtube? Yahoo respostas?

- Srta. Luthor se eu não entregar esse contrato hoje nós vamos perder o acordo.

- Você sabe com quanto tempo de antecedência um contrato passa pelas minhas mãos?

- Eu sei. O problema é que fica muito difícil entregar qualquer coisa para a Srta. com antecedência sendo que a Srta. nunca está aqui. – Mon-El disse com firmeza. – Então se perdermos esse acordo hoje a culpa vai ser da Srta. não minha. – Ergueu as mãos em forma de isenção.

- Desculpa? – Lena soltou um riso, incrédula. – A culpa vai ser minha? Você não faz o seu – Bateu com o dedo na pasta que Mon-El segurava em cima de seu peito, fazendo com que o rapaz desse dois passos vacilantes para trás. – trabalho direito e a culpa é minha? - A essa altura, os funcionários que estavam passando por aquele corredor diminuíram os passos, somente para ver o que estava acontecendo. – Não tente me culpar pela sua incompetência! – Tomou a pasta das mãos de Mon-El. – Eu nunca admitiria alguém que faz um trabalho porco desses. – Jogou a pasta no chão. - Aliás, quem te contratou? – Questionou enquanto Mon-El recolhia os documentos no chão. - Eu quero o nome de quem te contratou.

- Srta. Luthor. – J’onn colocou-se entre ela e o Mon-El. – Pode voltar para a sua mesa, Mon-El. Daqui a pouco eu passo lá para conferir o contrato.

Mon-El assentiu, segurando os papéis em seu braço todo desengonçado e saiu da frente dos dois em passos largos, quase correndo.

- Quanta incompetência! – Lena exclamou, furiosa enquanto era direcionada até o seu escritório. – Ele deveria estar no olho da rua! – Apontou para porta, possessa. – Você viu a forma que ele falou comigo? Que tipo de mensagem isso vai passar?

- O que aconteceu, Lena? – J’onn perguntou, sereno. – Você nunca falou dessa forma com um funcionário.

- Não aconteceu nada, J’onn. – Passou a mão pelos cabelos, tentando se acalmar. – Eu não posso simplesmente acordar um dia e não aturar mais funcionário abusado? – Sentou-se no sofá. – Já não basta tudo que tenho que aguentar da “Garota de Aço”? – Falou o apelido de Kara com desdém.

- Jesus, Lena! Não vai me dizer que você está assim por causa daquela família? Eu sei que você se importa com elas...

- Não é nada disso J’onn! – Lena adiantou-se com o intuito de fugir do sermão. – E se eu me importar com elas? Qual o problema?

- O problema são todos os contratos que você deixou de assinar e todas as reuniões que você não foi e eu tive que te representar porque você passa mais horas naquele hospital do que trabalhando agora. Eu sei que você se culpa pelo que aconteceu, mas as pessoas estão começando a comentar sobre a ausência da CEO.

- Cadê a novidade das pessoas comentando sobre mim? – Lena questionou, sarcástica. – Vocês querem que eu trabalhe? – Levantou-se do sofá. – Eu trabalho! Cadê a tonelada de contratos que eu tenho para assinar? – Deu a volta na mesa, sentando-se em sua poltrona. – É só para isso que eu sirvo mesmo: assinar contratos, ir a reuniões, ser mal falada na mídia e, quando eu tenho tempo, fazer besteira.

- Você não vai mesmo me contar o que aconteceu? O motivo de você estar agindo assim?

- Eu quero que você chame a Kara para mim, agora, Sr. J’ozz. – Lena ordenou, fugindo do assunto.

- Como você quiser, Srta. Luthor. – J’onn disse, formal. Se Lena não queria contar o que estava acontecendo, certamente ele não iria insistir. Quando a empresária tivesse pronta para conversar, ele seria todo ouvidos.

Hospital Infantil da L-CORP, 8:50 A.M.

- Só um pouquinho... – Lentamente Alex foi inclinando Ellie para frente. Agora que ela estava apresentando uma melhora significante, precisava fazer maiores testes para poderem seguir com a segunda cirurgia da pequena. – Só mais um pouco. – Inclinou Ellie mais um pouco para frente.

- Ai, ai, ai! – Ellie resmungou de dor, deixando Reign aflita. A morena pensou em se aproximar, mas Alex fez um sinal para que ela não o fizesse. Pelo menos não ainda.

- Está bem. – Com cuidado Alex encostou novamente o corpo de Ellie nos travesseiros. – Nada que eu já não esperasse. – Comentou, tentando tranquilizar Reign. – Agora vamos ver como estão essas pernas. – Alex puxou o lençol que estava cobrindo a garota da cintura para baixo. Com cuidado pegou a perna direita dela e a ergueu um pouco. No mesmo segundo Ellie gemeu mais uma vez de dor. Alex deu a volta na cama, fazendo o mesmo processo com a outra perna e recebendo mais gemidos de dor em resposta. – Prontinho. – A médica cobriu Ellie com o lençol novamente. – Prometo que parei de te torturar por hoje, mas eu precisava saber como essa coluna está.

- Por que ela está sentindo tanta dor assim? – Reign questionou preocupada, aproximando-se da filha na cama. – Isso tem a ver com os fluídos acumulados na espinha?

- Também. Mas essa dor que ela está sentindo é mais por causa do impacto que sofreu e, por causa desses fluídos, os hematomas não estão se curando da forma que deveria, por isso que vamos precisar fazer outra cirurgia. Se Ellie continuar se recuperando assim, vamos poder marcar a cirurgia para a próxima semana já.

- Eu não estou comendo aquele monte de verduras para nada, doutora Danvers. – Ellie disse em um tom sem paciência, arrancando uma risada das duas mulheres.

- Vou pedir para mandarem o dobro de verduras de almoço para você hoje, então. – Ellie respondeu com uma careta, fazendo com que Alex esboçasse um sorriso. O celular da médica tocou. – Mais tarde eu passo aqui novamente para ver como você está. – Disse Alex com a atenção voltada para o celular. – Eu tenho uma emergência agora. – Sorriu para as duas, deixando o quarto da UTI.

- O que foi, meu amor? – Perguntou Reign ao notar a expressão tristonha da filha. – Isso é sobre a cirurgia? – Passou a mão nos cabelos da criança. – Não precisa ficar preocupada. A Alex é excelente no que faz. Vai ficar tudo bem.

Reign poderia ter dito aquilo no intuito de acalmar Ellie, mas uma parte de si também procurava acreditar em todas aquelas palavras. Quanto mais próxima estava dessa cirurgia se realizar, mais preocupada ela ficava.

- Não é isso mamãe. – Ellie respondeu com os olhinhos baixos. – É que eu lembrei que não vou para a festa do Colin. Sabe quanto tempo eu esperei por essa festa? – Soltou um suspiro, chateada.

- Eu sinto muito, criança. – Reign deu um beijo na têmpora da pequena. – Eu sei o quanto você estava ansiosa para essa festa, mas terá várias outras festas dos seus amigos para você ir. Pode não ser nenhuma festa do Colin com coelhos de verdade andando pelo quintal, mas qualquer festa que tem os seus amigos são legais, não são? – Ellie assentiu, concordando, mesmo que sua chateação por perder a festa ainda não tivesse passado. – Sabe a ideia que eu tive? Nós podemos fazer um cartão desejando feliz aniversário para o Colin? O que você acha?

- Eu acho que o coelho que eu vou desejar vai ser mais bonito que eu seu. – Ellie disse com um sorrisinho superior, alegrando o coração de Reign. Se tinha uma coisa que a morena odiava na vida era ver sua filha triste, portanto sempre procurava formas para que isso fosse raridade.

- Ainda bem que eu trouxe os seus materiais de colorir. – Disse Reign tirando algumas folhas de sulfite de dentro da bolsa. – E eu que te ensinei a desenhar um coelho, então acho pouco provável que o seu fique mais bonito que o meu. – Disse colocando os materiais em cima da mesa de refeições.

- Não era melhor a gente esperar a tia Lena chegar? Tenho certeza que ela ia gostar de desenhar vários coelhos também.

Lena.

Após ter perdido muitas horas de sono na noite anterior pensando na empresária, o nome não tinha vindo em sua mente durante boa parte da manhã, tudo isso graças a todos os exames que Ellie foi submetida, caso contrário, se não fosse toda a aflição e preocupação, passaria mais alguns horas tentando entender o que exatamente tinha acontecido entre as duas antes de Lena deixar o hospital.

Reign nunca havia parado para pensar na forte conexão que as duas possuíam até aquela noite. Nunca negou que a presença de Lena lhe fazia bem, quando estava com a empresária conseguia tirar um pouco de todo o peso do mundo que carregava em suas costas, conseguia rir, sentia-se... Segura? Por que estava procurando segurança em Lena? Sempre conseguiu controlar sua carência emocional por causa de Ellie. Não podia simplesmente incluir uma pessoa nova na vida da filha, e nem tempo para isso ela tinha. Quando não estava trabalhando tentava passar o máximo de horas com sua cria. Desde que deixara Lena entrar, tudo dentro de si parecia diferente.

Ainda conseguia recordar dos dedos quentes de Lena em seu rosto e todas as sensações que o toque causou em seu corpo. Por diversas vezes durante a noite tocou em seu rosto, sorrindo ao lembrar de como os dedos de Lena eram macios. Outras vezes levou os dedos até seus lábios, recordando-se do demorado beijo que depositou no rosto da empresária. Parte de si dizia que o ato foi precipitado e que as coisas poderiam ficar estranhas por causa daquilo, entretanto naquele momento ela sentiu necessidade de fazer aquilo, caso contrário, se demorasse mais alguns segundos, não sabia se ia acertar o caminho da bochecha por aqueles lábios marcados em um batom vermelho serem tão convidativos.

Por que estava confundindo as coisas? Lena era somente uma boa amiga. Talvez por causa disso estivesse confundindo as coisas, não estava acostumada a ter esse tipo de suporte e afeto em sua vida – com exceção do Winn que era como um irmão para ela. Após muitos questionamentos, chegou a conclusão que teria que deixar isso pra lá, caso contrário acabaria afastando Lena, isso se já não tivesse afastado pela forma que a empresária havia deixado o hospital na noite anterior.

- O que eu falei sobre a Lena? Ela tem um emprego...

- Ela é bastante ocupada. – Ellie adiantou-se em todo o discurso pronto que a mãe ia fazer mais uma vez. – Eu sei, eu sei. – Completou, sem paciência. – Mas ela disse que sempre vai ter um tempo para mim.

- Um tempo não é o dia inteiro. Ela não está te ensinando a jogar xadrez? Se ela vier hoje...

- Ela vai vir hoje. – Afirmou a garota com convicção. – Vamos desenhar os coelhos, então. – Pegou um lápis de cor preto. – Quero saber o que a tia Lena vai achar deles quando chegar.

 Prédio da L-CORP, 12:23 P.M.

Lena soltou a caneta em cima de um dos contratos, jogou todo o peso do seu corpo no encosto da poltrona e esfregou o rosto com as mãos. Não estava nem no meio do expediente ainda e um cansaço já tomava conta de si. A empresária preferia que o cansaço fosse físico e não mental. Embora tivesse passado a manhã inteira colocando o trabalho em dia, ainda assim estava longe de trabalhar em seu ritmo de costume. Toda hora sua cabeça lhe sabotava e seus pensamentos viajavam para o hospital junto da mulher de cabelos castanhos longos, dona de um belo par de olhos cor de mel e que tinha uma filha que ganhou todo o seu coração em tão pouco tempo.

Por muitas vezes Lena pegou o celular e ficou encarando o nome de Reign na lista de contatos. O que mais queria era ouvir a voz da morena, saber se estava tudo bem com Ellie, se estava tudo bem com ela. Desistiu todas as vezes por ainda estar bastante abalada pela que aconteceu na noite anterior.

Um medo percorria cada fibra do  corpo de Lena somente de imaginar a conversa que poderiam ter. Na melhor das hipóteses acabariam tendo alguns minutos de bastante desconforto e, na pior delas, Reign acabaria pedindo um tempo por tudo estar tão confuso. Ela não se importava com toda essa confusão, acreditava que uma hora acabaria se encontrando. O que lhe desesperava era a ideia de passar por toda essa confusão longe da causadora dela.

- Boa tarde, Srta. Luthor. – Disse Kara com um enorme sorriso. Alguém estava de bom humor naquele dia. Bom para ela.

- Eu pensei que você não trabalhasse mais aqui. – Lena atacou, ríspida. – Tem horas que eu pedi para que você me trouxesse os documentos.

- Eu ia trazer mais cedo. Acontece que eu ouvi comentários de que você estava listando os seus funcionários por: Incompetentes; Muito incompetentes; Comprou o diploma; Mon-El. Eu não queria entrar em nenhuma dessas listas, portanto reuni todos os documentos que encontrei até agora. – Kara jogou a pasta em cima da mesa.

Lena começou a folhear todos os documentos em sua frente. A cada folha o estômago da empresária revirava. Poderia ter sua assinatura em todos aqueles papéis, porém ela não recordava-se de ter assinado nenhum deles.

- Isso não faz o menor sentido. – Lena passou a mão pelos cabelos e soltou um longo suspiro, frustrada. - Já passei todos os meus passos nessa empresa no dia que eu assumi e eu não... – Levantou algumas folhas, indignada. – Eu não assinei isso! – Jogou os documentos de volta na pasta.

- Ou assinou. – Kara disse, despreocupada. – Sua mesa aquele dia estava dessa mesma forma. – Apontou com a cabeça para as diversas pastas que tinha em cima da mesa de Lena. – Quantos documentos a Srta. só assinou hoje?

- Srta. Davers diferente do que você pensa eu faço o meu trabalho muito bem.

- Não é isso que está parecendo nos últimos dias.

- Também te falaram que você não era uma ótima advogada quando o Lex foi preso? – Lena retrucou, desaparecendo com o sorriso cínico do rosto da loira.

- Não importa o que falaram. – Disse Kara tentando recuperar sua pose superior. – A melhor coisa para a L-CORP foi ele ser preso, você não acha?

- A melhor coisa para a L-CORP teria sido não ter um CEO corrupto.

- Você quer brincar na neve? – Lena encarou a advogada, confusa. – Um sapato de cristal? Uma maçã, talvez? Não sabia que você achava que a vida é um conto de fadas.

- Srta. Danvers se você terminou de fazer comentários desnecessários, pode se retirar. – Lena fez um gesto apontado para a porta, sem paciência. – Eu já tenho tudo que preciso.

- Tudo bem. – Kara ergueu os braços, um sorrisinho irônico tomava conta de seus lábios. Irritar a Luthor mais nova havia se tornado seu passatempo favorito. – Se precisar de mais alguma coisa é só pedir. Prometo não demorar muito dessa vez. – Completou debochada, encaminhando-se até a porta. – Ah... – Parou antes de abrir a porta em sua frente e voltou sua atenção para Lena. - Estou muito feliz que tenha ouvido meu conselho, Srta. Luthor. Sabe o motivo de “grande amores” ser no plural? Porque sempre tem mais de um grande amor para uma pessoa. Você pode ter achado que o seu grande amor poderia estar nessa família sem graça. – Kara fez uma breve pausa. – Até poderia. – Deu de ombros, com desdém. – O único problema é que grandes amores assim nunca dão certo com mulheres como nós. No começo até pode ser divertido, pode dar a sensação de que pertencemos a algum lugar, mas depois... – Balançou a cabeça em negativo. – Só não vai para frente. Pessoas assim não aguentam viver no nosso mundo. A vida não é mesmo um conto de fadas. Se você quiser, não sei para que, mas se você quiser, pode encontrar um outro grande amor em umas circunstâncias melhores. – Abriu a porta do escritório. – Já tentou sites de relacionamentos para bilionários? Deve funcionar. – Mandou um sorrisinho irônico para Lena e deixou o escritório.

Lena varreu todas aquelas pastas de documentos em cima da sua mesa com as mãos, totalmente irritada. Kara estava louca se acreditava que elas eram parecidas. No dia que encontrasse um grande amor, nunca ia deixar o seu mundo interferir nessa felicidade. Tentou ignorar o fato de que, de certo modo, ele já estava interferindo.

Hospital Infantil da L-CORP, 15:59 P.M.

Reign e Ellie estavam jogando um jogo da memória. Muitas vezes as duas esqueciam que estavam no andar da UTI do hospital e se empolgavam mais do que deveriam na hora de comemorar algum par feito. As enfermeiras estavam tão acostumadas que nem chamavam mais a atenção delas, contanto que não tivesse nenhum acompanhante de nenhum outro paciente no andar.

Reign recebeu uma ligação de um número desconhecido em seu celular. Ela pediu licença para a filha, indo atender a ligação do lado de fora do quarto. Era estranho para ela receber ligações de números desconhecidos por raramente isso acontecer.

- Alô?

- Ei R.R!

Reign sentiu suas veias saltarem de tanta raiva ao ouvir aquela voz grossa do outro lado da linha. Sabia muito bem quem era. Somente uma pessoa lhe chamava daquela forma. Aquela ligação só podia ser algum tipo de piada do universo.

- Quem está falando? – Reign resolveu se fazer de sonsa.

- Sou eu, Lucas.

- Lucas?

- Lucas, seu ex-namorado, pai da Ellie? – O homem disse pausadamente para ver se assim a ex recordava-se dele, mesmo tendo certeza que se lembrava.

- Pai da Ellie? – Reign riu, debochada. – A Ellie não tem pai. O que você quer, Lucas?

- Quero saber como ela está. Eu vi o acidente pela televisão e fiquei preocupado.

- Você ficou preocupado? – Exaltou-se. – Onde estava toda a sua preocupação todas as vezes que ela ficou doente? Onde estava a sua preocupação todas as vezes que ela caiu de cara no chão quando estava aprendendo a andar? Onde estava toda a sua preocupação todas as vezes que ela caiu da bicicleta enquanto aprendia a andar? Onde estava a sua preocupação durante esses sete anos?

- Nossa, Reign, qual o seu problema? É pecado agora eu querer saber da minha filha?

- ELA NÃO É SUA FILHA! – Reign disse, ríspida. – Ela é minha, somente minha! Você só me ajudou a fazê-la, só isso. Não venha querer dar uma de homem arrependido agora não. Ela  nunca precisou de você para absolutamente nada e não é agora que ela vai precisar. Lucas, faça um favor a você mesmo e, por favor, não me ligue nunca mais. Ellie está muito bem sem você na vida dela.

Reign desligou o celular sem nem ao menos dar a oportunidade do homem retrucar. Suas mãos tremiam de nervoso e seu coração batia tão forte que a qualquer minuto era capaz dela ter um ataque cardíaco. Era muita cara de pau depois de todos aqueles anos Lucas ligar querendo saber de Ellie. A morena respirou fundo, recompondo-se. A última coisa que queria era que sua pequena lhe visse naquele estado.

- Assunto de adulto? – Ellie questionou assim que a mãe voltou ao quarto.

- Assunto de adulto. – Confirmou, esboçando um fraco sorriso. – Onde nós paramos? – Perguntou, sentando-se ao lado da filha no leito. – Eu espero que você não tenha espiado as cartas enquanto eu estava lá fora.

- Quem sempre faz isso é você, não sou eu. – Ellie disse, ganhando um beijo no rosto da mãe.

Prédio da L-CORP, 6:19 P.M.

Lena estava tão concentrada na tela do computador em sua frente que quando o seu celular tocou, exibindo o nome de Reign no visor, o coração subiu até a garganta, desceu para o estomago, deixando o local dolorido e voltou para caixa torácica. As mãos da empresária suavam, pois mais uma vez recordações da noite anterior passaram por sua cabeça. Será que ela queria conversar sobre o que aconteceu? Será que lhe daria respostas sobre o que estava acontecendo? Ou daria somente mais perguntas? Ela respirou fundo, tentando se recompor e atendeu ao celular.

- Oi.

- Tia Lena, por que você não veio me ver hoje? – Ellie perguntou, tristonha. - Pensei que íamos jogar xadrez.

Lena sentiu uma pontada no coração. Recordou-se da promessa que fez para Reign sobre não sair da vida de Ellie. Embora não tivesse quebrado a promessa, sentiu como se tivesse a quebrado. Deixou sua confusão sentimental tomar tanta conta de si que acabou se esquecendo que tinha uma criança no meio de tudo isso.

- Me desculpa, Ellie. – Lena disse, sinceramente. – Eu ainda estou presa aqui no trabalho.

- Você e minha mãe brigaram? – A garota perguntou, pegando Lena completamente de surpresa.

- Não. – Lena limpou a garganta, desconsertada. – Claro que nós não brigamos! Por que brigaríamos?

- Eu não sei. – Ellie deu de ombros. – Às vezes adultos brigam por bobagem mesmo. Mas se vocês não brigaram, então você ainda vai vir me ver hoje?

- A coisa que eu mais queria nesse mundo era te ver, mas eu não sei se vou conseguir. – Soltou um longo suspiro. – Eu acho que sua mãe tinha um pouquinho de razão quando disse que eu era muito ocupada. Falando nisso... Cadê a sua mãe?

- Ela foi comprar um café. Eu estou te ligando escondida, se ela souber que eu liguei para você ela vai brigar bastante comigo.

- Eu não conto se você não contar. – Lena disse, docemente.

- Promete que vem me ver amanhã, tia Lena?

- Não posso prometer algo que eu não sei se vou cumprir, mas vou fazer de tudo para conseguir ir te ver amanhã, tudo bem?

- Melhor que nada. – Ellie disse um pouco chateada. – Agora eu vou desligar, senão já viu. Tchau, tia Lena, até amanhã.

- Tchau, pequena. – Lena desligou o celular, sorrindo.

Lena havia passado o dia inteiro com uma nuvem cinza em cima de sua cabeça, com raiva de tudo e de todos sem nenhum motivo em especial e só precisou de uma ligação de Ellie para que o sol voltasse a dar as caras em seu mundo e tudo dentro de si ficasse em paz novamente. Em paz, não menos confuso.

A empresária começou a se conformar que viveria com aquela confusão por algum tempo, afinal não tinha absolutamente nada que ela pudesse fazer, não era como se fosse correspondida. Sua carência estava confundindo as coisas com Reign e ela teria que lidar com aquilo sem fazer com que Ellie pagasse por isso. A criança não tinha nada a ver com sua confusão.

Hospital Infantil da L-CORP, 8:29 P.M.

Essa era a terceira vez em um minuto que Reign bloqueava a tela do celular, impedindo-se de ligar para Lena. Estava tão acostumada com a presença da morena que não vê-la tinha deixado o seu dia extremamente estranho. Sentiu seu coração diminuir e foi tomada por uma angustia só de imaginar Lena distanciando-se por causa do que havia acontecido na noite anterior. O que para muitos poderia ser somente um beijo entre amigas, em seu interior ela sabia que tinha sido bem mais do que isso e, pelo sumiço de Lena, chegou a conclusão que a empresária também havia notado.

Como se uma estivesse mesmo conectada a outra, Reign levantou os seus olhos do celular e esboçou um sorriso fraco ao ver Lena parada na entrada do quarto. Era como se a morena soubesse que Reign estava almejando vê-la antes que aquele dia terminasse.

- Pensei que ia conseguir pegá-la acordada ainda. – Lena disse, desapontada.

- Ela até tentou, mas o dia foi muito exaustivo com coelhos e jogo da memória. – Reign disse, descontraída. Ela pegou um dos desenhos que estava na mesa ao seu lado e estendeu para Lena.

- Ela é talentosa. – Lena disse com um sorriso. – Me desculpe por não ter vindo mais cedo, mas quando eu cheguei na empresa hoje...

- Lena, está tudo bem. Você não me deve explicação nenhuma. Sempre soube que você era uma mulher ocupada. Me desculpa por ela ter te ligado. Amanhã eu vou deixar o meu celular bem longe dela.

- Não precisa fazer isso. Meu dia ficou muito melhor depois que ela me ligou. – Lena esboçou um fraco sorriso, observando aquela mulher sentada na poltrona em sua frente. Deus! Como tinha sentido falta de ver aquele rosto durante o dia. – Bom... Eu acho que vou embora, então. Fala para ela que eu vim vê-la, mas que ela estava dormindo?

- Pode deixar que eu vou dizer sim.

Reign levantou-se com o intuito de acompanhar Lena até o elevador, mas foi sabotada por seu próprio corpo. No mesmo instante sentiu uma vertigem horrível, desequilibrando-se. Por sorte Lena estava muito atenta e conseguiu segurar a mãe de Ellie pelos braços, impedindo-a de cair.

Os corpos ficaram mais próximos do que deveriam, assim como os seus rostos. Ambas conseguiam sentir a respiração pesada da outra. Caso estivessem alguns centímetros mais próximas, provavelmente também conseguiriam sentir os corações batendo de forma descompensada. Os olhos verdes se encontraram com os olhos cor de mel, sendo responsável por um inverno inteiro na barriga de ambas. Lena deu uma vacilada por causa de suas pernas bambas devido a corrente elétrica que sentiu passar por seu corpo, mas conseguiu sentar Reign de volta na poltrona.

- Você está bem? – Lena perguntou, preocupada. – Quer que eu chame uma enfermeira? A doutora Danvers?

- Não, não precisa. – Reign fez um gesto com a mão, reforçando a sua resposta. – Eu estou bem. Foi somente um mal-estar.

- Quando foi a última vez que você se alimentou, Reign? – A mulher desviou o olhar, em silêncio. – Eu fico um dia sem vir aqui e você... – Lena balançou a cabeça, indignada. – Eu sabia que você ia acabar passando mal qualquer dia desses. Quantas vezes eu vou ter que dizer que você também precisa se alimentar?

- Eu não estava com fome. O pai da Ellie ligou...

- Quem ligou? – Lena teve que interrompê-la com sua pergunta, precisava ter a certeza de que ouviu direito.

Reign voltou sua atenção para a filha que dormia tranquilamente no leito ao lado da poltrona. Levantou-se, estava se sentindo um pouco melhor, mas isso não foi o suficiente para que Lena deixasse de segurar em seu braço, garantindo que ela não desse nenhum passo em falso. Reign fez um gesto, dizendo que estava tudo bem e as duas deixaram o quarto.

- O Lucas ligou. Ele disse que a viu no noticiário e que ficou preocupado. – Reign disse com um pouco de raiva em seu tom de voz. Só de lembrar da ligação o seu sangue ferveria.

- O que ele queria? Ele pediu para vê-la? – Lena perguntou, bastante incomodada. Só a ideia do homem que ela nem conhecia, mas sabia o suficiente para não ir com a cara dele, visitando as duas lhe embrulhava o estomago.

- Eu não faço a menor ideia. Achei muita cara de pau ele ligar depois de todos esses anos. Para o bem dele espero que não me ligue de novo.

- Eu passo um dia longe do hospital, a Ellie desenha coelhos, o pai da Ellie liga, você quase desmaia... O que mais eu perdi? – Lena brincou, tentando descontrair o ambiente.

- Eu acho que foi basicamente isso. – Reign respondeu no mesmo tom, esboçando um fraco sorriso. – Acho melhor você não ficar mais sem vir ao hospital. – Continuou, ainda em tom de brincadeira, embora estivesse falando sério.

- Eu não vou mesmo ficar mais nenhum dia sem aparecer no hospital. – Lena disse, séria. – Muito difícil ficar longe dela. – Lena olhou rapidamente para o leito de Ellie e voltou sua atenção para Reign, esboçando um sorriso.

- Eu sei bem como é. – Reign disse, retribuindo o sorriso de Lena. – Essa é a hora que você me chama para jantar? Acho que minha fome voltou.

- Eu não posso mesmo ficar mais nenhum dia longe desse hospital. – Lena disse, descontraída. – O que você quer comer? Em uma ligação eu consigo pedir o que você quiser.

- Isso era para me impressionar, Srta. Luthor?

- Eu não sei. – Lena deu de ombros. – Funcionou?

Reign riu, balançando a cabeça para se livrar do contato visual e, com sorte, dos pensamentos que rondavam sua cabeça. Se continuasse flertando inconscientemente com aquela mulher em sua frente, sem nem ao menos saber se estava sendo correspondida ou se era somente Lena Luthor, sendo Lena Luthor, todo o autocontrole que nem fazia ideia que precisava ter iria para o espaço.

Lena agradeceu mentalmente pelo contato visual ter sido quebrado. Estava sentindo suas pernas fraquejarem mais uma vez. Não que elas não lhe deram uma enganada ao ouvir o som de risada de Reign, mas era mais fácil de se manter na pose quando não estava diretamente olhando para os olhos cor de mel. Independente do que acontecera na noite anterior, provavelmente deveria ter ficado no passado, portanto ela não faria mais grande caso sobre isso. As duas estavam bem, então era isso que importava. 


Notas Finais


Hello slow burn, my old friend.

Até o próximo capítulo <3


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