História Unexpected Love (Camren) - Goodbye.

Camila Pov's 

Uma semana depois... 

Eu me olhava no espelho e tudo parecia literalmente tão preto. Meu vestido longo e completamente fechado na cor preta nunca tinha me parecido tão mórbido. Meus olhos eram um misto de vazio e cansaço. Eu estava completamente acabada. 

A dor me consumia de uma forma absurda e a minha única válvula de escape eram as lágrimas.

Eu não conseguia explicar e muito menos conseguia tentar mensurar como é a dor da perda. A certeza de que não vai mais ver aquela pessoa ou até ouvir falar dela. A ficha tinha demorado e eu até agora não tinha a total certeza de que ela tinha caído. São tantas lembranças e tanta saudade que as vezes o coração para de bater e sofre como se estivesse apanhando.

É como se levassem um pedaço de você, é como se te batessem sem dó. Em minha opinião a dor emocional era três vezes pior do que a dor física. Eu me sentia apanhando. Eu me sentia como se a vida estivesse me batendo cada vez mais forte. 

Hoje fazia exatamente uma semana. Uma semana que o maior amor da minha vida tinha ido embora. Minha mãe lutou tanto contra a doença que no final acabou vencendo. Sim, eu considero como uma vitória.

Ela não está mais sofrendo, ela não está mais sentindo dor e no fundo eu tenho a certeza de que ela está em um lugar mil vezes melhor. Os céus com certeza estariam em festa por receber alguém tão maravilhoso com minha mãe. Uma pessoa que só pensava em fazer o bem por tudo e por todos. Uma pessoa que me acolheu e me cuidou com todo o amor do mundo. Deus não podia ter feito escolha melhor para mim. Era ela e sempre vai ser ela. 

– Vamos? - disse Lauren com sua voz suave entrando no meu quarto.  

Eu não sabia expressar o quanto Lauren estava me ajudando.

Ela parecia um anjo que tinha sido enviado na minha vida para me ajudar e me fazer enxergar uma luz no fim do túnel. Todas as noites que eu acordava completamente atordoada cheia de pesadelos e medos ela me abraçava e ficava comigo me dizendo que estava tudo bem.

Ela era sem dúvidas o meu porto seguro a minha paz. Parecia que tudo melhorava quando eu olhava para aquelas lindas íris verdes. E mesmo eu tentando negar, eu estava começando a amar Lauren. 

– Sim. - respondi dando um meio sorriso. Peguei o buquê de rosas brancas e a minha pequena bolsa também na cor preta e me levantei da cama. 

Hoje era o dia do preto. O dia da despedida. O dia que eu iria dizer não um adeus, mas sim um até logo para minha tão amada mãe. Eu tentava pensar nisso como uma coisa fatalmente normal. Todos nós iriamos ter essa hora. Afinal mesmo que sendo injusto era para isso que nós viemos a terra. Nascer, crescer, reproduzir e envelhecer.

A gente cria vínculos, se apaixona, compra carros e coisas matérias para no final tudo ficar aqui. A morte era bem clara, sem opção de escolha. Tudo que a gente tem de matéria fica nessa plano e a única coisa que podemos levar de acordo com a lei da morte é os nossos sentimentos. Por isso que Sinu sempre me ensinou que o nosso corpo é totalmente mortal e inútil mas a nossa alma não. Essa durava para sempre para guiar e estar perto de todos que ficassem na terra. Por isso eu acreditava que minha mãe ainda estava comigo nessa. E sempre iria estar. 

(...) 

Desci as escadas sem pressa e sem nenhuma vontade também até chegar na sala. Dinah, Normani, Clara, Michael, todos devidamente vestidos de preto e com olhares transbordando pena se voltaram para mim assim que eu terminei de descer as escadas.

Eu não queria ninguém com pena de mim aliás eu não queria nenhum sentimento de nenhum deles ligados a mim. E sim a Sinu. Eu queria que eles estivessem com ela no pensamento apenas para desejar tudo de melhor possível para que ela completasse sua passagem em paz. Minha mãe merecia isso. Ela merecia encontrar a paz. 

– Como você está querida? - Clara disse vindo em minha direção. 

Eu não queria e nem tinha a mínima vontade de ficar repetindo para todo mundo que eu não estava bem mas iria ficar em breve. Eu só queria ficar calada e em paz. 

– Camila está cansada mãe. - disse Lauren para a minha salvação me abraçando de lado. – Vamos logo antes que a gente se atrase.  

Ah, mal sabia Lauren o quanto eu queria me atrasar. Eu queria atrasar uns dez anos da minha vida e fazer tanta coisa diferente. Eu queria tanto ter aproveitado mais minha mãe. 

(...) 

O caminho para o cemitério não foi longo. Em poucos minutos Lauren já estava estacionando o carro em uma das vagas espalhadas na enorme grama verde aonde tinha as vagas. Eu não sei porque os cemitérios tinham tanto verde. Não era uma coisa feliz e não brotaria nada naquele mato a não ser lágrimas e saudades. 

– Eu vou estar com você o tempo todo. - sussurrou Lauren em meu ouvido assim que nós saímos do carro.  

– Obrigada. - respondi percebendo o quanto minha voz estava fraca e rouca. Quem me olhava e me ouvia falar com certeza me achava anêmica e me aconselharia urgentemente um médico. 

Seguimos de mão dada até a parte da entrada do cemitério. Eu não quis velório. Sempre achei muita baboseira e muita falsidade todo mundo chorando no leito da minha mãe. Ninguém além de mim e eu acredito que Clara sentia realmente a morte dela. Ficar triste ou comovido não indicava que você realmente se importa com alguém. Só indica que você tem um coração. Eu não queria a pena de ninguém eu queria o respeito. E eu não estava dando a mínima para o que as outras pessoas iriam pensar. 

As meninas e o Michael estavam logo atrás de mim e Lauren em uma distância respeitosa. Eu não queria ninguém me abraçando e nem me beijando além dela. Respirei fundo quando nós chegamos no local indicado pelo coveiro.

O caixão branco com uma cruz enorme na frente estava em cima de uma pequena maca segurado por dois coveiros. Era o ritual. A gente passearia pelo cemitério até a cova. Isso foi a única coisa da tradição que eu realmente aceitei. Soltei minha mão da de Lauren e me separei da mesma indo em direção ao caixão de Sinu. 

Eu não queria chorar mas era quase inevitável. Meu coração doía e a minha cabeça também. Meu cérebro e o meu coração não pareciam entrar em um consenso. Eu tentava aceitar o fato de sua partida mas eu não conseguia. Eu andava junto aos coveiros com a minha mão em cima do caixão o tempo todo. Eu não queria ver Sinu daquele jeito. Eu queria me lembrar dela feliz, viva e com o seu enorme sorriso que me fazia sorrir também só de olhar. Essa era a imagem que eu iria guardar para sempre em minha memória e que ao mesmo tempo  me trazia um conforto enorme dentro do meu coração. 

~Flash back On~

– Para com isso Camila. - disse Sinu em meio a gargalhadas. 

Eu não conseguia parar. Minha mãe estava tão linda em seu habitual vestido vermelho e também tão feliz por eu ter finalmente conseguido me formar no ensino médio. Eu brincava com a câmera do meu celular enquanto tirava algumas fotos de Sinu que por sinal estavam saindo uma melhor do que a outra. Incrível como ela era linda. 

– Eu vou viajar em poucas semanas. Preciso ter bastante fotos suas para matar a minha saudade no futuro. - respondi me jogando em cima dela. Nós duas parecíamos duas crianças gargalhando no sofá. 

– Eu tenho tanto orgulho de você minha filha. - Sinu disse com a voz chorosa. Olhei para ela e percebi seus olhos marejados. Revirei os olhos abrindo um sorriso em seguida. 

– Deixa de ser chorona dona Sinu. - dei um beijo estalado em sua bochecha. – Eu te amo e quem tem orgulho da senhora sou eu. 

E era verdade. Não tinha uma pessoa melhor do mundo do que a minha mãe. E se dependesse de mim ela saberia disso todo dia. 

~Flash Back Off~

Chegou a hora. Observei lentamente os dois homens tirando o enorme caixão de Sinu de cima da maca e colocando delicadamente dentro da cova. Eu estava estática. As lágrimas caiam e eu já não sentia mais elas descerem. Já tinha se tornado um ato completamente involuntário. 

– A senhora vai querer falar algumas palavras antes da gente jogar a terra? - me perguntou o coveiro. Passei a mão no rosto sem muito cuidado e assenti. 

Dei uma breve olhada para trás e percebi todo mundo me olhando como se esperassem alguma atitude de mim. Dei um meio sorriso para todos ali e me virei. Ajoelhei-me no chão sem me importar com a terra me sujando toda e delicadamente joguei o buquê com rosas brancas dentro da cova. Respirei fundo tentando segurar um pouco as lágrimas e comecei a dizer. 

– Eu não sou muito boa com palavras. Ainda mais em um momento como esse. Mas ainda sim eu sinto como se eu tivesse que dizer alguma coisa. Minha mãe merecia isso. - mordi os lábios na tentativa de segurar o choro. – Tem uma música que eu acho que traduz tudo o que eu estou sentindo agora e eu acho apropriada para a situação. Sinu adorava e eu vou cantar para ela pela última vez. 

(PLAY NA MÚSICA) 

I miss you 

Eu sinto a sua falta 

Miss you so bad 

Sinto muito a sua falta 

I don't forget you 

Eu não te esqueço 

Oh it's so sad 

Oh, é tão triste 

I hope you can hear me 

Eu espero que você possa me ouvir 

I remember it clearly 

Eu lembro claramente 

Não me importava se eu estava afinada ou se minha voz estava saia no tom certo. Até por que eu sabia que não estava. Eu só cantava com todo o meu coração. Meu coração estava totalmente exposto por meio daquela música. 

The day you slipped away 

O dia que você partiu 

Was the day that I found it won't be the same oh 

Foi o dia que eu descobri que não eu seria a mesma 

Terra. Cada pá cheia de terra que era jogada dentro da enorme cova era uma pontada no meu coração. Eu observava tudo enquanto cantava com todo o meu coração. Todos meu observavam em silêncio e com lágrimas nos olhos. 

I didn't get around to kiss you 

Eu não encontrei a ocasião para te beijar  

Goodbye on the hand 

para dar um beijo de despedida na sua mão 

I wish that I could see you again 

Eu gostaria de poder vê-lo novamente 

I know that I can't oh oh oh oh oh 

Eu sei que eu não posso oh oh oh oh oh 

Mais uma pá com terra cheia e fim. O caixão de minha mãe estava completamente emerso de baixo da terra. Respirei fundo olhando para aquela cena. Era oficial. Ela não estava mais entre nós. Ela agora estava enterrada de baixo da terra junto a um grande pedaço de mim. 

– Eu te amo. - sussurrei ainda estática olhando para a terra. 

Minha mãe tinha levado uma grande parte de mim junto dela. Mas não era a parte boa. Mas sim a ruim. Eu daria a volta por cima e honraria o meu sobrenome. Eu faria minha mãe me olhar com orgulho lá de cima. Eu seria quem ela sempre sonhou que eu fosse. E ai de quem se metesse no meu caminho.