História U.N.l - Everybody Wants to Rule The World

Bem vindo à sua vida, não há mais volta

Mesmo enquanto dormimos

Nós te encontraremos se comportando da melhor maneira

Dê as costas à mãe natureza, todo mundo quer dominar o mundo

LONDRES, MARÇO DE 2014

ASHTON

– Vocês twittaram pedindo pra votarem na música hoje? – cochicho rápido, aproveitando o intervalo do programa de rádio.

Luke faz que sim, Calum faz que não.

– Merda, cara! Não foi isso o que combinamos.

– Eu passei a noite respondendo mensagens de fãs, Ashton! Tem que ser suficiente.

– Não é! Você poderia ter se esforçado mais. Todos nós poderíamos ter nos esforçado mais.

– Não adianta cara, nós nunca vamos ficar em primeiro lugar. Eu já achei um milagre chegarmos ao top 3. – Michael se apoia na bancada, fazendo pouco caso e eu estou elaborando um grande sermão para dar a ele quando o pessoal da rádio volta à cabine.

– Relaxa galera, o que tiver de ser será. – Calum sussurra e logo nos endireitamos encerrando o assunto.

A repórter chega sorridente, nos parabenizando pelo aglomerado de fãs que nos esperam na entrada da rádio e eu aproveito a deixa pra ressaltar o quão importante todo esse apoio e carinho são pra gente. Enquanto falo, meus olhos vagam até a imensa janela de vidro que dá para o corredor e vejo nosso empresário andando de um lado para o outro com o telefone na mão, uma expressão séria. Perco a linha de raciocínio e fico grato quando Michael toma a palavra, finalizando meu discurso.

Sophia, que está escorada na parede ao lado de Kelsey, me lança um sorriso encorajador e eu tento me concentrar no que estou fazendo, lutando pra não ter um ataque de ansiedade dentro dessa cabine. Santo Deus, eles não podem só dizer quem ficou em primeiro lugar e acabar com esse tormento de uma vez?!

– Então, quem aí quer ouvir como ficou o ranking das músicas mais pedidas no Reino Unido?

– Puta merda, eu não estou pronto pra isso. – Michael dispara, colocando as mãos na cabeça e todo mundo ri.

Estou tão tenso que nem me dou ao trabalho de repreendê-lo pelo palavrão, apenas mantenho os braços cruzados, enterrando os dedos com toda a força na minha pele, ficando atento ao que os dois radialistas tem a dizer.

Eles começam falando sobre o terceiro lugar, que já sabíamos não ser a gente e até o Michael fica calado quando a radialista se prepara pra revelar quem está no topo.

– Bem, isso deixa vocês entre a primeira e a segunda posição, o que é algo muito bom pra quem acabou de lançar o primeiro single mundial, não é mesmo? – o outro radialista comenta e a garota concorda.

– Vamos acabar com o mistério de uma vez, podemos? – ela continua animada – 5 Seconds of Summer, vocês não são... O segundo lugar! Parabéns, o topo da parada britânica é She Looks So Perfect...

A mulher nem termina de falar e Calum já está gritando, abrindo os braços pro Michael que leva uma fração de segundo pra assimilar a informação e começar a gritar histericamente também. Descruzo os braços, sorrindo para eles, Luke larga o fone em cima da bancada e se lança nas costas de Michael. Estou meio de fora até que Calum se vira de lado, esticando o outro braço pra mim e então é isso, nós conseguimos. Somos quatro idiotas barulhentos e sentimentais que saíram das profundezas do anonimato na Austrália pra conquistar o topo das paradas britânicas. Isso é real. Agarro os caras como se minha vida dependesse disso, enterrando meu rosto no ombro de alguém enquanto Michael grita sem parar e a radialista segue nos parabenizando pela primeira posição.

Nos acalmamos e voltamos ao lugar, ouvindo o que os radialistas tem a dizer. Sophia e Kelsey também estão abraçadas lá fora, o semblante da pura alegria enquanto nos assistem e eu sorrio, acenando para elas antes de voltar a responder as perguntas.

O resto da manhã é pura alegria e terminamos o almoço em clima de comemoração, cantando e fazendo bagunça dentro da van enquanto somos encaminhados pra reunião com a agência responsável pela nossa banda.

– Então quer dizer que você é um nerd em Dragon Ball? – Sophia pergunta, se referindo à entrevista que demos.

– Er... Não é bem assim. Eu costumava gostar muito quando era mais novo, hoje em dia os garotos só estão exagerando quando dizem que eu sou obcecado. – desconverso, não querendo que ela me ache infantil.

– Ah, pois eu adoro!

– Sério? Você assistia?

– Tá brincando? Goku foi minha primeira paixão juvenil, seguido do Trunks do futuro, é claro. – ela anuncia de bom grado e eu rio, não acreditando nessa garota.

– Te vejo mais tarde? – pergunto, apertando a mão dela.

– Sim! Vou pegar as últimas peças pra transmissão ao vivo e encontro vocês na locação hoje à noite.

Aproveito que estamos sentados no banco de trás pra lhe dar um beijo na bochecha.

– Estou tão feliz por você estar nessa com a gente.

– Eu também. – ela garante com um sorriso imenso, apertando minha mão.

– Se prepare, acho que você está prestes a me acompanhar na primeira turnê mundial da 5 Seconds of Summer como atração principal!

– Você acha?

– Yep! Acho que a reunião e a transmissão ao vivo de hoje serão sobre isso. Eu estou com um bom pressentimento.

Ela toca a ponta do meu nariz, sorrindo brincalhona.

– Eu gosto de te ver todo animado assim.

– Você vai me ver animado mesmo quando eu estiver comemorando contigo mais tarde. – sussurro no ouvido dela e Sophia se encolhe, reagindo à minha aproximação.

– Quero só ver.

Sorrio para o efeito que provoco nela e a van estaciona.

Saio com a banda, Dave e Matt, deixando o motorista responsável por levar as garotas em casa.

Matt sai na frente, nos deixando na recepção e aproveitamos pra fazer vários vídeos agradecendo aos fãs e pra dar a notícia aos nossos familiares.

– É o que estou dizendo, nós teremos essa super reunião hoje e então eu vou saber como vai ser o resto do meu ano. Mas eu acho que a senhora pode esperar boas notícias muito em breve, mãe.

– Tão boas quanto ver meu filho voltando pra casa? – Anne Marie sugere.

– Tão boas quanto ver o seu filho sendo capaz de comprar uma nova casa!

Há um instante de silêncio e eu quase posso vê-la se apoiando no balcão da cozinha com uma taça de vinho na mão. A imagem me faz sorrir.

– Não brinque com essas coisas, Ashton Fletcher Irwin.

– Não estou brincando, mãe, as coisas estão indo muito bem com a banda, tenho certeza que eles estão considerando nos lançar em turnê mundial, imagina quão incrível seria isso?!

– Oh meu amor, você não tem ideia do quão orgulhosa eu estou de você.

– Eu sei. – respondo, me emocionando com a vibração na voz dela – Escuta, não se preocupe comigo estando longe, estou dando o meu melhor aqui, você sabe.

– É, seu sei, mas uma mãe sempre vai se preocupar com um filho longe dela.

– Se preocupe com o Harry e a Lauren, eu estou bem. Eu sempre estou bem.

– É, você sempre soube se virar. – ela faz uma pausa e então sua voz fica mais alta – Baby, por que todas as minhas amigas estão me mandando mensagens dizendo que viram meu filho pelado na internet?

– Oh! Suas amigas são tecnologicamente avançadas demais, mãe!

– Não mude de assunto, Ashton.

– Eu não estava pelado, todos nós vestimos essas cuecas gigantes e respondemos algumas perguntas pra um programa de rádio, não foi nada demais.

– Você tirou as calças? – ela pergunta séria e eu suspiro.

– Sim, eu tirei as calças, mas era um lance promocional. Você está perdendo o verdadeiro sentido da coisa aqui.

– Qual o sentido do meu filho ficar pelado pra todo mundo ver?

– Nós ganhamos um prêmio por ficar em primeiro lugar na rádio da BBC em Londres, mãe!

– Não se prostitua pra me dar uma nova casa, Ashton.

Eu rio alto e ela continua.

– Estou falando sério, garoto, mantenha suas calças no lugar.

– Tá certo, tá certo, vou tentar.

– Eu te amo, querido.

– Eu também, mãe. Tenho que ir agora, qualquer novidade te aviso. E pode ir começando a procurar a casa dos sonhos, seu filho pelado muito em breve vai compra-la pra você.

– Não me faça ir aí te dar umas palmadas!

Volto a rir, dando uma conferida rápida no relógio.

– Manda um beijo pras crianças, estou morrendo de saudades de vocês.

– Nós também. Se cuide meu amor.

– Pode deixar, a gente se fala depois.

A recepcionista avisa que podemos entrar e seguimos até uma sala com uma mesa enorme com apenas meia dúzia de pessoas presentes nela, uma delas é o velhote Robert Griffiths, um dos donos da empresa.

– Sejam bem vindos rapazes, podem sentar. – ele recomenda, ficando de pé, apertando nossas mãos – Em primeiro lugar, parabéns pelo sucesso com a nova música, Emsell me contou que vocês acabaram de voltar da rádio onde foram premiados com a canção mais comprada do Reino Unido. Vejam só a diferença que uma boa administração pode fazer na carreira de um artista, não é mesmo?

– Sim, nós estamos muito felizes por estar aqui, obrigado por nos receber. – lhe dou um meio sorriso, me acomodando na cadeira.

– Nós temos grandes planos pra vocês, meu jovem e é sobre eles que queremos falar hoje.

Aceno concordando e troco um olhar com os outros caras. É incrível como eles ficam absolutamente mudos em situações como essa.

– Pessoal, levou muito trabalho e muitos acordos, mas finalmente conseguimos fechar a agenda de 2014 da 5 Seconds of Summer. – Matt começa, folheando um caderno e eu movo o pé sem parar embaixo da mesa, esperando que ele continue – Daqui vocês partem direto pra Suíça, começando a turnê na Europa 5 Países em 5 Dias, depois voltam para a Califórnia para trabalhar no álbum e fazer a turnê nos EUA. A partir daí vocês voltam para Londres para algumas reuniões e eventos promocionais e em maio realizarão a turnê na Austrália, na qual estamos contentes em informar que duas datas extras foram adicionadas devido à grande demanda e os ingressos já estão esgotados.

A forma explicativa com a qual Matt fala deixa bem claro que ele está tentando ressaltar nosso sucesso para os donos da companhia e não para a gente, até porque, de tudo isso nós já sabemos.

– Nós também fechamos a data do lançamento do CD.

– FINALMENTE! – Michael dispara e eu o recrimino com o olhar – Foi mal. Pode continuar.

– Será no dia 27 de junho e nós faremos um grande evento promocional aqui em Londres. Obviamente vocês não podem divulgar essa data para mais ninguém até segunda ordem.

– Certo, pode deixar com a gente. – concordo, ansioso por ouvir o resto – E o que nós faremos até lá?

Matt hesita por um instante e o velhote Robert toma a palavra.

– Bem, senhor Irwin, estamos contentes em anunciar que de maio até outubro de 2014 a 5 Seconds of Summer sairá em turnê mundial novamente como banda de abertura do One Direction.

A declaração é como um balde de água fria levando cada célula de animação para longe do meu corpo.

– Como é? – pergunto hesitante, não acreditando no que ouvi – Depois de tudo o que a banda conquistou e nas vésperas do lançamento do CD nós vamos sair em turnê com o 1D... De novo?

Não me leve a mal, eu adoro os caras do 1D, mas pra mim esse é o ano da 5SOS deslanchar por conta própria, nosso momento de finalmente fazer uma turnê pelo mundo como ato principal. Nós fizemos tudo como tinha que ser feito e nos esforçamos tanto! Nós aprendemos e crescemos como banda desde o ano passado, temos um álbum prestes a ser lançado e uma base de fãs forte o suficiente pra nos manter de pé por conta própria, não precisamos dar mais um motivo para as pessoas continuarem nos comparando com o 1D e nos chamando de próxima boyband.

– Exatamente. Essa vai ser uma ótima oportunidade para vocês se tornarem uma banda mais experiente e para aumentarem a base de fãs.

– E quando vamos poder fazer uma turnê mundial por conta própria?

– É difícil prever agora, temos que analisar os números do EP e do álbum oficial para ver se a margem de lucro superará o investimento que a agência fez em vocês. Por hora vamos focar no marketing da banda e no que precisamos fazer para fortalecer a imagem de vocês e para vender mais. – Matt desconversa tranquilamente, gesticulando para a mulher ao lado dele – Por essa razão contratamos a Zoe, especialista em logística e gestão de pessoas. Ela vai acompanhar vocês vinte e quatro horas por dia de agora em diante e vai instruí-los sobre o que dizer ou não dizer em entrevistas, bem como coordená-los de um evento para o outro quando eu não estiver por perto. Ela também vai gerir a equipe de forma que...

– Eu pensei que nós estávamos indo bem nas vendas. – irrompo, ainda sem querer acreditar.

– E estão. Nós estamos indo muito bem, Ashton. – Matt alega com um sorriso tão inconveniente que eu quero gritar perguntando por que raios eles não nos dão uma turnê solo então!

– Não esqueça que 50% dos lucros da 5 Seconds of Summer contratualmente pertencem ao One Direction, então esse valor não entra na rotação financeira da banda. Descontando os 20% que são diretamente destinados a cobrir os custos da agência e da equipe, os 30% do total representam o verdadeiro valor mercadológico da 5 Seconds of Summer. – Robert explica pacientemente – Quando esses 30% demonstrarem um número significativo vocês poderão ter sua turnê mundial.

– Puta merda e que número significativo seria esse? – Michael solta parecendo tão assustado quanto eu.

– O total do que vocês valeriam agora, somado à variação da moeda no mercado. Faça as contas. – uma das mulheres na mesa responde, fazendo Michael bufar.

– Merda, sou péssimo em matemática.

Pisco algumas vezes e me apoio na cadeira sentindo minha cabeça girar. Estou hiper consciente do ar que entra nos meus pulmões de uma maneira cada vez mais rara e difícil. Eu me sinto estufado, como se minhas traqueias estivessem travadas e nada mais pudesse sair. Minha mente acelera e eu entro em pânico ao perceber que esse pode ser o resto das nossas vidas, que nós teremos que nos esforçar dez vezes mais por um indeterminado período de tempo se algum dia quisermos ter a menor liberdade sobre nossas carreiras.

Eu não posso ouvir mais nada, eu não posso absorver nenhuma outra informação sem passar mal e vomitar. Eu estou fazendo todo tipo de conta, quantos shows fizemos, quantos precisamos fazer e quanto tempo vai levar antes de podermos sonhar com a nossa primeira turnê mundial. Estou medindo passado e presente, me perguntando em que momento esse virou um caminho sem volta e como não percebemos. Nós nunca vamos conseguir dinheiro suficiente atuando como banda de abertura então provavelmente vamos ter que vender nossa alma para conseguir esse valor com merchandising.

E se o álbum não vender? E se o álbum for um completo fracasso? Caramba, nós estamos ferrados.

Eu estou em pânico. Eu estou entrando em total desespero ao perceber que minha carreira vai ser limitada a isso e eu não consigo parar de pensar no quão encurralado eu estou. Não tem um jeito na Terra de eu conseguir comprar uma casa para minha mãe agora se as coisas continuarem desse jeito...

– Está tudo bem, Ash? –  Calum pergunta em voz baixa, me tirando do transe.

Engulo em seco e obrigo minha respiração a normalizar, tentando restabelecer a calma antes de acenar pra ele de forma positiva.

Outubro, repito para mim mesmo, assistindo o ano inteiro passar diante dos meus olhos, nós temos até outubro pra entrar na lista das bandas mais rentáveis do mundo.