História Unidos Pelo Caos - Passeio Pela Floresta

Capítulo 15 – Passeio Pela Floresta
 

* * *Daryl:* * *

“Esse filho da puta vai me pagar!”

“Eu vou acabar com a raça desse idiota imbecil!”

Como ousa agarrar a chata da Emily a força desse jeito?

Eu bem que queria dizer “Bem feito! Você bem que mereceu o que te aconteceu já que deu tanta trela para aquele panaca!”.

Mas eu seria um cretino se não a socorresse. Eu jogara a besta no chão e avancei nele.

Após socá-lo com força, recuei e esperei ele se levantar. Shane limpou a cara e avançou em mim jogando seu corpo sobre o meu. Nós caímos no chão barroso e cheio de graveto.

Shane podia ser policial e entender de defesa pessoal, mas eu era caçador... ele não era páreo para mim.

Eu me levantei e o joguei no chão, então peguei ele pela gola da blusa e ergui seu rosto.

– A garota... disse que... não... queria... – eu pontuava cada pausa com um soco em sua cara.

Ele se levantou e socou meu queixo. Sangrou um pouco, mas eu não estava nem aí. Sentia tana raiva, tanta raiva naquele momento que minha vontade era de arrancar seu pinto fora e atira-lo aos zumbies.

Shane sacou a arma, mas eu o impedi de usa-la jogando– a bem longe de nós. Emily teve o bom senso de apanha-la e esconde-la.

Então, quando me dei por satisfeito, recuei alguns passos e observei aquele idiota. Shane estava estirado no chão tentando se levantar com dificuldade. Seu olho estava roxo e sua boca inchada.

– Se eu te ver perto dela de novo eu acabo com você, ouviu bem? Eu te mato!

Shane não respondeu, olhou para mim como se quisesse continuar a briga, mas acho que ele tinha entendido o recado. Bom, se não tiver eu o faria lembrar mandando-o para o inferno.

 Eu dei as costas para ele e apanhei a besta no chão e me virei para Emily. Caminhei até ela. Eu ainda estava muito irritado e minha respiração muito acelerada.

Eu olhei para ela em silencio. Emily fixou em mim seus olhos que estavam injetados e assustados. Sua íris negra estava brilhante pelas lágrimas que faziam trilhas por seu rosto delicado. Seu peito arfava em movimentos rápidos por baixo da blusa que usava.

Era a primeira vez que a via assim. Frágil e assustada. Como uma garotinha inofensiva e sensível. Aquilo só me enraiveceu mais ainda, pois em parte, era minha culpa também.

Quando ela saíra do quarto, transtornada e cheia de lágrimas, eu me perguntei o que tinha acontecido. Então me veio à lembrança de meu sonho. Um sonho absurdo e ridículo, onde eu e ela quase nos amamos.

Mas e se não fosse um sonho?

E se tudo que aconteceu realmente fosse verdade?

Então eu seria mais cretino ainda do que o Shane.

– Você está bem? – eu perguntei para ela.

Emily devia estar muito chocada, pois não me respondeu. Continuou a me olhar em silencio. Seus olhos estavam projetados nos meus, mas ela parecia não me ouvir.

– Vamos sair daqui. – Eu disse pegando no braço dela. Emily se assustou e se afastou de mim. Parecia mais assustada ainda. Ela olhou para mim e mais lágrimas vieram em seus olhos.

– Se afaste de mim! – ela gritou. – Você e ele não iguaizinhos.

Então saiu correndo para fora da floresta. Eu a observei se afastar, confuso e frustrado.

– Você não é tão diferente de mim, no fim das contas. – Shane que vira o que acontecera disse para mim.

– Cala a boca. – Eu respondi e fui atrás de Emily. Eu não podia deixa-la sair daquele jeito sem explicar o que aconteceu.

* * *Emily:* * *

Como isso podia estar acontecendo comigo?

Shane me agarrando daquele jeito era desprezível. Mas por mais incrível que pudesse parecer... eu não estava com raiva dele. Eu ainda estava assustada, mas não com raiva. Ao contrário, eu estava com pena. Será que Daryl tinha razão? Será que eu dei atenção demais para o Shane e ele acabou entendendo tudo errado? Achou que eu quisesse algo com ele?

Essa era uma boa explicação para o que aconteceu, mas se Daryl não tivesse chegado a tempo talvez essa não fosse a minha opinião.

Eu caminhei pela margem do rio, distraidamente. Longe de Shane e longe de Daryl. Eu não queria pensar em nenhum dos dois. Minha mente que sempre fora racional, estava tendo uma batalha épica com meu lado emocional. Quem ganharia essa batalha realmente não me importava.

O Daryl salvou sua vida, mesmo que não se lembre de ontem, você devia perdoa-lo. Dizia o meu lado emocional.

O Daryl e o Shane são farinha do mesmo saco! Esqueça os dois! Dizia meu lado racional.

Dúvidas e mais dúvidas. Ora, aquilo já estava me deixando de estomago virado. Sentei-me na margem do rio e deixei que a água fria molhasse meus pés enquanto eu pensava em qual decisão tomar. Sequei minhas lágrimas e olhei para meu reflexo no leito do rio.

Meus cabelos negros pendiam livres e ondulados como cortinas em volta do meu rosto. Eu tentei coloca-los por trás da orelha, mas não adiantava, eles tornavam a cair novamente.

Um segundo reflexo apareceu ao lado do meu sobe o leito do rio. Eu olhei por cima do ombro e vi que Daryl sentara-se do meu lado. Eu esperei que ele despejasse suas conclusões sobre o que acontecera. De que a culpa de tudo aquilo era minha, por ser tão fácil e por dar tanta atenção para o Shane. Mas Daryl não dissera nada desde que se sentou do meu lado. Ele também colocou os pés dentro do rio e olhou para mim.

– O que você quer, afinal? Que eu agradeça você pelo que fez? OK. Obrigada. – Eu respondi rabugenta.

– Você está me vendo pedir isso? – ele respondeu com outra pergunta.

Eu balancei a cabeça negativamente, não estava a fim de falar com ele, ainda mais depois da noite anterior. Dei uma última olhada em Daryl e voltei a fitar as águas do rio. Ele fez o mesmo e assim ficamos em silêncio por alguns minutos.

– Você tinha razão o tempo todo... – eu finalmente disse. Estava tanto tempo sem falar que minha voz saiu rouca e fraca. – Sobre o Shane. Eu acho que o fiz pensar que estava afim dele.

– Não. Você não tem culpa de nada. O único que errou aqui fui eu e o Shane... – respondeu Daryl dizendo a última parte como se fosse uma confissão.

Eu levantei meu rosto para Daryl e vi que ele fitava o leito do rio, pensativo.

– Eu me lembro do que aconteceu ontem. Bom, pelo menos parte do que aconteceu... da gente na cama juntos... do seu corpo embaixo do meu... Shane tem razão quando diz que nós dois somos iguais.

– Não, Daryl. Você e o Shane não são iguais. Você estava dopado pelos remédios e ele estava bem consciente do que fazia. – Eu disse após ver que seu semblante estava carregado de culpa e pesar. Então ele se lembrava da noite passada e isso era o suficiente para mim.

– Você falando assim, faz parecer que eu sou o bonzinho aqui. –  Ele disse com um leve sorriso nos lábios. – Mas acontece que eu não posso usar essa overdose como desculpa contra o que aconteceu, pois no fim eu queria isso e...

Eu sorri encabulada. Daryl também queria? Foi isso mesmo que eu ouvi? Não tinha como ficar com raiva dele por uma coisa da qual ele não tinha culpa.

– Às vezes você é... – Eu disse corado um pouco. – Você salvou minha vida mais de uma vez. Naquela loja, no CCD e agora... obrigada.

Daryl não respondeu. Acho que ficou tão vermelho quando eu. Então nós nos viramos um para o outro e meu rosto e o seu ficaram muito próximos. Eu sentia sua respiração quente sobre o meu rosto. Então uma de suas mãos pegou a minha.

– Acho melhor voltarmos. – Eu disse antes que nos víssemos obrigados a fazer algo que pudéssemos nos arrepender. Então me levantei e espalhei seus cabelos com a mão. – Não quero ficar nem mais um segundo dentro dessa mata.

Daryl se levantou também. Limpou a calça e começou a caminhar do meu lado.

– Emily. – disse ele. Eu me virei. – Foi mal o que eu fiz, eu sei que se você não quiser perdoar não precisa, mas eu queria...

– Sim.

– O que?

– Eu perdoou você. Sei que não teve culpa do que aconteceu. E no fim perdoou o Shane também... todos nós estamos vivendo no limite e coisas desse tipo são comuns...

Daryl riu debochado, eu que tinha voltado a caminhar parei e olhei para ele.

– O que foi?

– Você. Eu fiz o mesmo que o idiota do Shane e agora... – ele disse ainda rindo. – Como pode ser tão boba e tão boazinha assim?

– Daryl, você quer parar?! – eu disse erguendo a mão para ele calar a boca. – Pelo amor de Deus, você só abre a boca para reclamar... Vamos fazer o seguinte, bom, depois de tudo que aconteceu... eu te proponho uma trégua.

– O que?!

– Isso mesmo que você ouviu. Não se faça de desentendido. Surdo eu sei que você não é. Uma trégua. Nós dois... eu e você... sem ofensas. Eu paro de te provocar e você para de me chamar de ingênua, boba e patricinha o tempo todo.

– Mas é verdade! – ele se defendeu. Eu bati em seu ombro, divertida. – Você deve ser a única “madame” fresca que depois do mundo ter acabado ainda tem medo de aranhas e insetos.

– Você não tem jeito. Por falar nisso, o que faz aqui fora? Você devia estar de repouso na cama e não passeando pela floresta! – eu debati em tom profissional e irritado.

– Eu não aguentei ficar deitado naquela porcaria de cama parecendo um invalido. – E quando eu olhei para ele com uma sobrancelha erguida, Daryl balançou a cabeça. – Tá bom, tá bom. O médico me disse que você saiu de lá chorando então eu fui te ver... é...

Daryl ficou mais vermelho que antes e percebi que não era um bom sinal. Eu olhei de esgueira para ele e um sorriso sapeca brincou no meu rosto.

– Ficou preocupado comigo? – eu perguntei em tom provocativo.

– Não abusa. Eu só não te respondo como se deve por causa da trégua. Agora vamos embora antes que apareça uma aranha zumbie e você comece a gritar com essa sua voz chata. – Ele disse, mas não soou irônica e sim provocativa.  Nós finalmente saímos da floresta e eu obriguei Daryl se deitar dentro de sua barraca já que ele não queria mais dormir dentro da casa.

– Toma. – Andrea disse para Daryl entrando na abertura da barraca.

Eu que estava arrumando seus travesseiros e cobertas olhei para ela. Andrea segurava um livro de capa dura, eu o peguei e entreguei para Daryl em silencio. Ainda estava com raiva dela pela sua imaturidade.

– Este não é tão bom, mas... – ela disse enquanto eu entregava o livro para ele.

– Sem figuras? – Daryl respondeu e isso me fez rir.

– Eu sinto muito. Sinto-me péssima.

– Eu também. – Ele respondeu irônico.

– Eu não espero que você me perdoe, mas se tiver algo que possa fazer... – Andrea disse para ele com a voz penalizada. Eu até sentiria pena dela se não fosse tão superficial.

– Você estava tentando proteger o grupo. Eu entendo. – Daryl respondeu. Eu arregalei os olhos para ele, reprovando sua atitude. Ela quase o matara simplesmente por querer bancar a durona e ele dizia para ela que entendia?

Andrea sorriu e saiu da barraca. Quando já estava ao lado de fora Daryl a chamou e quando Andrea olhou para ele sorrindo, ele respondeu.

– Mas aí. Se atirar em mim de novo é bom torcer para eu estar morto. – Daryl disse para ela e quando Andrea começou a se afastar, ele olhou para mim indagador. – O que é, por que tá rindo?

– Depois eu que sou a boazinha aqui. Ela atirou em você e você diz apenas “eu entendo”?

– É...

– É? Se fosse eu que tivesse atirado em você não teria me tratado assim...

Daryl olhou para mim lascivo.  Eu dei de ombros e tomei o livro de sua mão. Era um livro de romance épico, já tinha lido ele antes. Sorri irônica, certamente era o tipo de livro que eu não imaginava Daryl lendo. Devolvi o livro para ele.

– Bom... agora você terá uma companhia enquanto se recupera. – Eu disse me levantando pronta para sair da barraca.

– Por quê? Você não vai ficar aqui cuidando de mim? – ele perguntou zombando de mim.

– Claro que não. A Sophia ainda está perdida e eu preciso acha-la.

Daryl que sorria para mim enrijeceu instantaneamente.

– Você não vai lá de novo! – disse ele ignorante.

Eu me sobressaltei com sua atitude e o olhei para ele, aturdida. Por que agora estava me tratando assim? Nós não tínhamos feito um pacto de trégua?

– É claro que eu vou. Nós estamos falando da Sophia! – eu disse para ele.

– Sozinha! Nem pensar! Você não vai e pronto.

– Ah é? E por que eu não iria? – Já percebi que eu e Daryl estávamos engajados em uma luta épica, que só terminaria no dia do juízo ao som das trombetas.  – Você não manda em mim ouviu bem Dixon! Você salvou minha vida sim, mas isso não lhe dá o direito de mandar na minha vida!

Daryl se ergueu dos travesseiros e olhou para mim irritado.

– Você disse bem! Salvei sua vida! E sabe o porquê? Eu sempre estava lá pra salvar sua pele e o único dia em que você saiu sem mim se meteu em confusão.

Daryl estava certo, mas eu não ia admitir. Eu não queria parecer uma donzela em perigo que precisasse ser salva o tempo todo. Eu dei as costas para ele e saí da barraca em silêncio eu ia atrás de Rick, pois quando voltamos, eu captei um fragmento de conversa onde ele havia dito que fariam treinos de tiro.

* * *Daryl:* * *

Idiota!

Menina mimada e estupida!

Acabou de passar por uma situação muito ruim com o imbecil do Shane e agora já quer se meter em confusão novamente. Eu não ia deixar isso acontecer. Ela não ia lá!

Eu joguei o livro longe. Ele bateu na parede da barraca e caiu no chão amassando algumas páginas. Eu me levantei e saí de lá. Emily não estava mais lá e nem Rick e os outros.

Eu comecei a mancar em direção ao Theiler em busca de respostas. Encontrei Glenn e Dale conversando próximos ao carro.

– Eí vocês! – eu gritei para os dois que pararam de conversar e me encararam. – Cadê a Emily?!

– Ela foi com Rick e os outros para treinar tiro. – O coreano me respondeu com uma cara de assustado.

– Pra onde ela foi?! Fala! – eu perguntei rispidamente, não tinha tempo para ser bonzinho com ninguém. Uma raiva sobreveio em mim e eu estava prestes a explodir.

– Eu não sei, disseram que era em um povoado aqui perto. – Dale respondeu.

– Quem mais foi junto?!

– Rick, T. Dog, Andrea, a filha mais nova de Hershel e o Shane, eu acho.

Se eu ia explodir... agora eu ia destruir.

– Aquela patricinha mimada! – eu gritei chutando um balde de água próximo a fogueira. – Eu vou atrás dela!

– Oh não! Você não vai. Você está ferido e se o Hershel souber...

– Para o inferno com o coroa! – eu gritei para ele já pegando minha besta e as flechas.

Dale se aproximou de mim e segurou meu braço.

– O que que é? Vai querer me enfrentar agora? – eu disse me postando a sua frente e erguendo a cabeça para ele.

Dale tirou a mão do meu braço e me olhou sério.

– Se não está preocupado com sua vida, faça pela Emily então. Ela passou o dia e a noite inteira acordada cuidando de você. E se não quer fazer isso por você, então faça por ela, Daryl!

Eu ouvi tudo em silencio. Eu estava com tanta raiva que se eu respondesse eu seria mais ignorante ainda.

– Pense como ela vai ficar arrasada quando souber que você se embrenhou na mata atrás dela sem motivos? Você nem sabe onde fica esse lugar.

Eu não respondi de imediato. Joguei a besta no chão e voltei para dentro da barraca. Dale me convencera afinal, eu aí esperar por ela na barraca, mas ela ia me ouvir.

Ela e o Shane juntos depois do que aconteceu? Não tinha cabimento. Essa menina ia ouvir poucas e boas.