História Unidos Pelo Caos - O Celeiro

Capítulo 16 – O Celeiro

Aquele homem...

Onde já se viu?

Acha que só porque salvou minha vida tem direito de mandar em mim. Ninguém manda em mim, ninguém. Nem mesmo meus amados pais conseguiram quando eu decidi me mudar para a Florida e não seria agora que alguém o faria.

– Até que você está indo bem... – disse Rick se aproximando de mim e analisando meu desempenho ao disparar em uma lata a cem metros de distância.

Eu sorri para ele, pois em apenas algumas horas eu já tinha acertado mais do que errado. Mas ainda não estava pronta para o “treino avançado” como a Andrea que agora estava treinando com o Shane em outro canto da floresta. Irônico, pois ela quase matou o Daryl ao pegar uma arma.

– Acho que é ora de voltarmos. – Rick falou para todos nós. Então guardamos as armas e as munições e começamos a caminhar de volta para o carro.

– Emily... – Rick me chamou.

– Sim? – eu respondi olhando para trás. Rick começou a caminhar em minha direção então parei para espera-lo.

– Eu queria realmente falar a sós com você... – ele começou dizendo um pouco baixo para que somente eu ouvisse. – Aconteceu alguma coisa lá na floresta com você e o Shane?

Eu retesei. Não queria mais tocar naquele assunto. Mas Rick era perspicaz e não seria fácil dissuadi-lo.  Então tentei me fazer de desentendida.

– Não, Rick. – Eu disse balançando a cabeça negativamente. – Eu e o Shane fomos procurar pela Sophia como você tinha pedido, mas...

– Emi, não me trate como um tolo. Eu vi o Shane todo machucado e o Dale disse que você e o Daryl saíram da floresta juntos.

– O.K. Rick, você venceu... Eu o Shane nós apenas discutimos, nada demais. Só que o Daryl viu e achou que era outra coisa então o atacou. Foi só isso. Só um mal intendido.

Rick me olhou seriamente nos olhos. Depois sorriu e se afastou. Eu sabia que ele não tinha engolido nada do que eu disse, mas eu não fazia questão. Como eu havia dito, não é da conta de ninguém o que acontece comigo.

Eu segui para o carro em direção à fazenda. Em um fragmento de conversa, ouvi T.Dog dizer que o Shane tinha achado uma pista da Sophia e que ele e Andrea iriam juntos verificar. Eu sabia que não seria somente isso que eles iriam fazer, mas...

Já estava tarde quando voltamos, mas ainda estava claro e o sol ainda exibia seus raios sobre as planícies. Quando o carro finalmente parou, eu abri a porta e desci. Caminhei normalmente até o restante do grupo que havia ficado no acampamento quando fui abordada por Dale.

– Emily... eu tenho que te contar uma coisa. – Ele me disse soando um pouco preocupado.

– Pode falar, Dale.

– Eu sugiro que você fique longe das barracas por um tempo...

– Mas por quê?

– Bom... O Daryl ficou... Bem... Ele ficou muito nervoso quando soube que você tinha ido com os outros. Não quis dizer nada sobre o assunto e eu também não tenho nada a ver com isso, mas... desde que que você saiu que eu e o Glenn temos sofrido com suas reclamações constantes. Olha, eu não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas acho que conversar com ele agora não vai ajudar muito.

Eu ouvi tudo em silencio, um pouco confusa. Eu sabia que Daryl não tinha engolido o fato de eu ir ao treino junto com Shane. Mas o fato de estar nevoso com isso era absurdo.

– É claro que vou ouvir seu concelho, Dale. Obrigada. – eu disse desviando minha rota em direção à casa de Hershel, já que antes do concelho eu me dirigia para a minha barraca que era encostada com a de Daryl.

Mal coloco os pés no primeiro degrau e a porta se abre como se alguém estivesse a minha espera. Eu ergui meu rosto acreditando que veria Maggie a esperar por sua caçula Beth. Daryl fechou a porta pelo lado de fora e me encarou.

Eu respirei fundo e fingi que não o vi.

– Olha só que finalmente voltou do passeio romântico com o panaca do Shane... – Daryl me disse destilando todo seu veneno e sarcasmo. – Você é muito tolinha mesmo, não é?

– Olha só, eu não estou a fim de ficar a minha tarde inteira discutindo com você. Então por que não volta para a barraca e vai repousar antes que seus pontos se abram e novo e me deixa em paz? – eu disse tentando soar pacificamente, mas acabei sendo mordaz também.

Então eu desviei dele que barrava parcialmente a entrada e ergui a mão para abrir a porta. Daryl segurou meu braço estendido e me puxou para si. O choque foi tão avassalador que meus seios se chocaram contra seu peito rígido e meus cabeços dançaram ao vento antes de pararem sobre meu rosto.

– Onde pensa que vai? Eu não terminei de falar ainda. E se você não me ouvir eu vou lá agora contar para os outros o que ele fez!

– Você não vai fazer isso! Não é da sua conta!

– Tenta a sorte!

Eu tentei me soltar já sabendo que minhas tentativas seriam inúteis, seu aperto era muito forte e dolorido, então por fim desisti, jogando minha cabeça para trás para tirar os fios dos olhos e o encarei.

– O.K. Então fala logo o que você quer dizer, pois não tenho o dia todo.

– Não aqui. – Ele respondeu me puxando em direção ao celeiro.

Daryl andava rápido demais então eu meio que corria para não ser arrastada por ele que ainda segurava meu braço.

– Por que você está me trazendo para esse celeiro velho e nojento? – eu perguntei sentindo-me enojada, pois de dentro das tabuas puídas saia um odor fétido de algo apodrecido.

– Você não para nunca de reclamar?

– Não! Ainda mais quando tem um homem caipira me arrastando como se fosse um homem das cavernas. – Eu respondi irônica.

Daryl não disse nada, mas me lançou na parede do celeiro e me fitou demoradamente.

– Por quê? Por quer você foi com ele? Emily, ele tentou violentar você! – Daryl começou, ele estava possesso, seus olhos azuis brilhavam homicidas e sua pela clara estava vermelha de fúria. Seus músculos estavam rígidos em tamanha tensão que ele estava. Isso não me intimidou em nada.

– Ele não fez nada disso! E eu já disse que você não manda em mim!  Ah, eu já sei por que está assim... você não tem ninguém para encher o saco então escolheu a mim! Por que não pega o seu tempo inútil e o utiliza com algo de benéfico apara o grupo?

– Tipo salvar sua vida? – ele disse letalmente.

Eu que ia proferir mais alguns insultos fechei minha boca imediatamente. Eu me senti uma idiota por ter dito tudo aquilo e agora um arrependimento havia me batido. Daryl tinha razão. Ele foi o único que vem procurando incansavelmente por Sophia desde que a menina sumiu. Até se machucou gravemente por isso e mesmo quando devia estar de repouso em uma cama lá estava ele salvando minha dignidade do Shane.

O olhar que Daryl me lançou antes de virar as costas e sair me deixou pior ainda. Eu não podia deixa-lo ir sem me desculpar.

– Daryl! – eu o chamei quando ele me deu as costas e começou a caminhar.

Ele parou e me encarou em silencio.

– Me desculpa. Eu disse sem pensar...

Daryl ficou quieto por um período e depois refez o caminho até mim de novo.

– Por que você faz isso, hem?! – ele disse em voz baixa, mas era evidente que ainda estava muito irritado.

Eu olhei para ele sem entender aonde ele queria chegar. Eu abri minha boca e tomei ar para perguntar, mas fui interrompida.

– Fica fazendo coisas idiotas o tempo todo só pra fazer a gente ficar preocupado com você.

– Mas eu não estou fazendo nada para que fiquem preocupados comigo! – eu respondi séria antes que ele me cortasse de novo. Daryl sorriu debochado como as palavras que saíram da boca fossem imaturas e ridículas.

– Você acha que sair do meio da mata sozinha e desamada com o Shane não é se arriscar?

– Não. Claro que não! – Meu Deus que papo maluco, aonde é que Daryl queria chegar realmente era um mistério para mim, se ao menos eu tivesse estudado psicologia... talvez eu entendesse a cabeça daquele maluco parado a minha frente. – O Shane é um de nós, não tem para que se preocupar...

– Mas eu me preocupo! – Ele gritou para mim. Eu me assustei com seu grito que nem pude dizer nada. Fiquei em silêncio observando sua expressão em busca de respostas. Então ele mudou sua expressão e passou a olhar para mim de modo diferente, parecia... ferido emocionalmente.  – Você é ingênua demais para perceber... só vê o lado bom das pessoas. Ele tem estado de olho em você há muito tempo. E ele não te olha como alguém apaixonado não, viu? O que ele fez hoje cedo só confirma o que eu digo.

Eu estava sem palavras, literalmente sem palavras. Daryl estava preocupado comigo isso ele deixou bem claro. Contudo, o que eu não entendia era o porquê? Por que me protegia se nós dois nos adiávamos? Porque estava ali me dando sermão como se fosse um namorado ciumento.

– Daryl, é... eu... – eu comecei a dizer. Mas o que eu ia falar? Eu não tinha nada melhor para dizer?

– Não precisa dizer nada. – ele me respondeu colocando suas mãos calejadas e ásperas em meus ombros. – Só que diz pra mim que vai ficar longe dele, ok?

– Ok... – eu concordei sem nem ao menos saber por quê. Eu estava tão aérea, tão vã que não havia nada melhor a dizer ou fazer a não ser ter que concordar com ele. E acredito que teria concordado com qualquer pedido que ele fizesse naquele instante.

– Sabe... – ele me disse agora bem mais calmo, mas ainda sorrindo debochado. – Até que você é bem atraente quando está calada.

Eu saí de meu transe e olhei para ele fingindo indignação.

– Olha aqui, seu caipira Dixon, por que não vai limpar os estrumes dos cavalos e me deixa aqui em paz!

– Eu já disse que calada você fica melhor...

– Então vem me calar se você é tão esperto assim? – eu disse me aproximando mais e aproveitando que ele segurava meus ombros passei meus braços em volta de seu pescoço.

Daryl se aproximou e inclinou sua cabeça para frente em direção a minha. Seus olhos fitavam minha boca e em alguns segundos estávamos a ponto de nos beijar quando um ruído gutural saiu de dentro do celeiro.

Eu e Daryl nos soltamos e olhamos um para a cara do outro com o senso franzido. Então ouvimos o barulho de novo, desta vez, mais alto e forte. Daryl me soltou e caminhou lentamente até a entrada do celeiro e com a mão pediu silêncio para mim. Eu assenti e o segui. Quando estávamos bem perto da porta, ela se mexeu como se tivesse sido empurrada pelo lado de dentro.

Eu me sobressaltei e guinchei assustada. Daryl olhou para mim e depois espiou por entre a brecha das duas portas.

– Vem ver isso. – Ele me disse muito sério estendendo a mão para que eu a pegasse. Então caminhei lentamente até a porta do celeiro e espiei lá dentro.

Pelo vão das portas eu avistei pelo menos quinze zumbies andando de um lado ao outro sem rumo. Havia alguns ossos de galinha no chão e o cheiro era muito mais forte e mais podre ali dentro. Então uma mão avançou em mim, mas a única coisa que passou pelo vão foi dois dedos. Eu me afastei dali assustada e me apeguei em Daryl.

– O que vamos fazer? – eu lhe perguntei.

– Contar aos outros. – Ele respondeu.

Eu assenti e juntos caminhamos em silêncio até o grupo que estava todo reunido em torno de uma fogueira comendo alguns pedaços e carne assada. Lori abraçava Rick, Andrea afiava uma faca, Carl comia em um prato e Carol servia os demais.

– Vocês querem comer? – Ela nos perguntou solicita. Eu neguei com a cabeça. – E você Daryl, precisa comer? – ela insistiu para ele.

– Não Carol, a gente precisa falar uma coisa. – Daryl começou.

– O que é? Veio anunciar que vocês dois brigaram de novo? – Shane perguntou fazendo T.Dog rir.

– Não. – Eu respondi segurando o braço de Daryl antes que ele avançasse de novo no Shane. – É uma coisa do interesse de todo mundo aqui.

Quando Shane se calou e todos passaram a nos olharem, eu continuei.

– Eu e o Daryl estávamos dando umas é... “voltas” aí perto do celeiro e descobrimos que ele está cheio de zumbies.

A reação foi geral. Todos nos olharam assustados e em choque.

– É verdade. – o Glenn disse se levantando. – Eu já sabia, mas a Maggie me pediu para não contar.

Então começou uma briga entre nós, pois todos queriam pegar o Glenn por não ter contado dos zumbies.

– Ei! Para aí gente. Vão ficar brigando ou vamos resolver isso de uma vez por todas? – Daryl disse se sobrepondo a voz dos outros.

Então após discutirmos os pros e os contras seguimos de volta para o celeiro para que todos vissem por conta própria. Shane começou a gritar enlouquecido dizendo que ou entravamos no celeiro e acabava com tudo ou que devíamos ir embora. Rick por outro lado dizia que não podíamos tomar nenhuma das duas decisões, pois as terras eram de Hershel e nós não mandávamos em nada ali e por outro lado também não podíamos sair do celeiro.

– Me dê um motivo para ficarmos aqui! – Shane perguntou aos gritos.

– Por que minha filha ainda está sumida. – Carol respondeu em lagrimas.

Shane cobriu a boca com as mãos como se estivesse pensando em algo sensato a dizer.

– Tá bom... tá... Eu acho que já está na hora da gente começar a considerar que a garota está morta.

– Shane... – Rick tentou adverti-lo. – Nós não vamos deixar a busca.

– Eu tô perto de achar a garota! Eu achei a boneca dela perto do rio há um dia! – Daryl disse entrando na conversa.

– Você achou uma boneca Daryl, foi só isso o que você fez. – Shane respondeu pacientemente.

– Qual é a sua?! Você não sabe o que você tá falando! – Daryl se exaltou saindo de perto de mim e caminhando até o Shane. Rick o segurou pelo ombro.

Então uma confusão começou onde Shane e Daryl começaram a trocar ofensas enquanto Rick tentava apartar. Andrea, T. Dog e Glenn tentavam evitar que os dois se atracassem.

– Se ela tivesse viva por aí e te visse vindo todo esquisito com sua faca e orelhas penduradas no pescoço ela ia correr para o outro lado!

Daryl avançou com tudo no Shane, Andrea e T.Dog seguraram ele e Rick e Lori ao Shane.

– Retira o que disse! Retira o que disse!

– Para com isso! – Lori disse para Shane segurando-o.

– Tira as mãos de mim! – ele respondeu se afastando.

– Eu converso com o Hershel! – Rick gritou para ele. – Eu converso com ele e a gente resolve isso pacificamente.

Então outra briga começou desta vez do Shane com Rick. Eu caminhei até Daryl e o segurei para que ele não começasse de novo.

Então Dale disse que sabia dos zumbies e que o Hershel os via como pessoas doentes ao invés de zumbies.

– Mas não estão doentes! – eu exclamei entrando na conversa. – Não estão. Se ele tivesse visto o playback do doutor Jenner ele saberia.

– Vamos sair daqui! – Shane repetiu novamente.

– Não podemos! A Lori esta gravida!

Então houve uma movimentação entre todos nós. Eu já sabia, mas a maioria havia sido pega de surpresa.

– Vamos sair daqui. –  Eu disse para Daryl tirando ele da confusão, pois já havíamos nos estressado muito. Ele me repeliu e caminhou em direção ao estabulo.

– Eu vou atrás da Sophia. – Ele disse se afastando.

Eu sabia que não podia impedi-lo. Olhei para o lado em busca de ajuda então vi Carol ao meu lado e ela ouvira tudo.

– Deixa que eu falo com ele. – Carol disse caminhando atrás de Daryl. Eu fui atrás devagar. Quando Daryl e Carol entraram no estabulo, eu me coloquei ao lado de fora e os observei em silencio.

– Daryl por favor, não vai. – Ela disse enquanto Daryl pegava uma cela para colocar no cavalo... – Eu não posso te perder também.

– Vá parra o inferno! – ele respondeu jogando a cela no chão e em seguida se curvando de dor por causa dos machucados. – Vadia!

Então ele saiu mancando de volta para a barraca. Eu me escondi atrás da porta para que não me visse. E quando ele saiu eu caminhei até Carol. Ela estava chorando.

– Obrigada Carol... ele não poderia sair sozinho do jeito que está.

– Eu sei... – ela respondeu chorando. – Sabe, eu o amo e não o quero perder...

Eu arregalei meus olhos... A Carol amava o Daryl? Mas por que essa informação me abalara tanto? Afinal, eu não tenho nada com ele e não sinto nada por ele...