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História Unintended - Interrogatório


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá, estou de volta! Tenho uma provinha chata na quinta, mas como quarta é feriado consegui me aliviar um pouco e ajeitar o bendito capítulo.
Como o capítulo seguinte ia ficar bem pequeno, eu decidi juntar os dois e fazer um grandão aí, espero que não se incomodem.
Boa leitura!

Capítulo 16 - Interrogatório


Sesshomaru estava em uma conferência naquele fim de tarde, três de seus capitães sentados do outro lado da mesa, de frente para ele. Hayashi estava ao seu lado direito, recém-chegado de sua missão mais recente como babá da garota humana.

O general daiyoukai discutia suas estratégias de treinamento para os recrutas mais novos, procurando fortalecer ainda mais seu já poderoso exército, quando ele sentiu aquele cheiro familiar se aproximando.

Ele fez pouco caso da aproximação de Rin, preparado para ouvi-la bater na porta. Em vez disso, a intrusa bateu a porta, o bang da madeira contra a parede sobressaltando todos os ocupantes.

Cinco pares de olhos sobrenaturais encaravam a humana parada no vão de entrada. A expressão dela era, literalmente, a de quem tinha visto um fantasma.

- Rin, o que significa isso? – Sesshomaru questionou, claramente insatisfeito com a invasão indelicada. Rin havia sido educada melhor que isso, mesmo que a maior parte de sua criação tivesse se passado em um vilarejo humilde.

- Senhor Sesshomaru. – Ela disse, a respiração acelerada de quem havia corrido mil corredores até ali, o mais rápido que podia. – Eu preciso falar com o senhor. É muito importante.

Ele a olhou com olhos semicerrados, intrigado por ela parecer tão desesperada que nem ao menos se incomodara com um pedido de desculpas por seu comportamento inadequado.

E então, ele reparou no que ela usava, surpreso por não ter percebido antes. O colar com a pedra era gritante em volta do pescoço delicado dela. Era uma peça tão chamativa para uma garota de estatura tão pequena.

Sesshomaru não se incomodava realmente de vê-la usando a herança de família que sua mãe deixara para ele, pois ele estava sempre procurando formas de agradar e presentear aquela garota, de qualquer maneira. Mas era extremamente fora da personalidade dela simplesmente tomá-la para si e usá-la, sem ao menos pedir a permissão dele. Ele teria dado à ela de bom grado, se ela tivesse pedido.

Apesar de toda a sua curiosidade diante da estranheza com que ela agia, Sesshomaru foi firme:

- Não vou tolerar mais interrupções como essa, Rin. O que quer que precise dizer, certamente pode esperar.

- Não pode. É urgente! – Rin discutiu, o desespero tangente em sua voz.

Mais uma vez, nenhum pedido de desculpas sequer. Sesshomaru estava começando a ficar preocupado. E um pouco irritado também.

- Alguém tire essa criatura daqui. – Um dos capitães gesticulou com desprezo na direção dela, mas Rin não se deixou abalar.

- Não fale assim com ela. – Hayashi defendeu a nova amiga, em um tom conciliador.

- Senhor Sesshomaru, por favor. – Ela insistiu, seus olhos ansiosos não desviando dele por um instante.

Ele suspirou, decidindo dar um voto de confiança à ela. Seria um pequeno abalo para sua moral deixar que ela tivesse o que queria depois da cena que ela causou na frente dos capitães, mas ele pagaria o preço.

- Trataremos de nossos assuntos mais tarde. – Sesshomaru disse, se dirigindo aos militares. – Hayashi, adiante a discussão por mim.

- Sim, senhor. – Ele respondeu formalmente, como só fazia quando a situação exigia o reforço das diferenças de status entre eles.

Sesshomaru levantou-se, passando direto por Rin e saindo pela porta. Ela prontamente o seguiu, deixando os outros homens continuarem com a reunião.

 

- É melhor isso ser sério. – Ele avisou, fechando a porta de seu gabinete pessoal quando ela entrou. Os dois estavam completamente a sós. – Muito sério.

- Obrigada por me ouvir, senhor Sesshomaru, eu não sei o que fazer. – Rin se apressou em dizer. -  O senhor havia deixado isto comigo e-

- Por que está usando? – Ele a interrompeu enquanto ela apontava para a pedra negra em seu pescoço. – Não devia brincar com essas coisas, não sabe o que pode fazer.

Sesshomaru se lembrava bem do que aconteceu da última vez que ela havia sido exposta àquele amuleto, era sua lembrança mais sombria. De repente, ele começou a voltar atrás em sua decisão de deixar que ela ficasse com aquilo, sem saber o quão seguro seria. Não havia pensado nisso antes.

- Estou usando porque a senhora sua mãe me disse para usar. – Ela respondeu, fazendo-o erguer uma sobrancelha para ela.

- Do que você está falando?

Rin desatou a contar todos os detalhes do que havia acontecido naquela tarde, desde o momento em que tocou o objeto místico até toda a conversa que se sucedera. Ele ouviu em silêncio, envolvido no conto surreal sobre como sua falecida mãe usara as últimas energias de sua alma para passar aquelas informações à sua protegida.

Rin, uma frágil e inocente adolescente humana, que gostava de flores e arco-íris, detentora de um poder obscuro sobre o próprio inferno.

- Interessante. – Ele disse, quando ela chegou ao fim de sua narrativa.

Ela o olhou em descrença. Era realmente tudo que ele tinha a dizer?

- M-mas... O que eu faço agora? - Perguntou ela, completamente perdida. – A senhora disse que eu podia controlá-la. Eu tentei abrir o portal mais uma vez, na esperança de fazer mais perguntas, mas nada aconteceu.

Sesshomaru honestamente não sabia responder. Ele tinha muito pouca familiaridade com aquele artefato, só vira a mãe utilizá-lo em uma única ocasião. Sabia que era capaz de abrir portais de forma semelhante ao Meidou Zangetsuha, exceto pela ausência da força de sucção. Além disso, podia invocar criaturas infernais e também estabelecer canais de comunicação visual com o submundo. E trazer de volta ao mundo dos vivos qualquer coisa deixada lá dentro, incluindo almas.

Ele pensou rapidamente nas possibilidades que o controle daquele objeto ofereceria, e algumas delas não eram nada agradáveis. Sua mãe havia usado o objeto para preservar a própria alma antes da inevitável morte. Aquilo poderia ser feito acidentalmente por um usuário inexperiente?

Sua mente se encheu de imagens de Rin invocando cães do inferno para dentro de seu próprio quarto, acabando devorada por eles. Ou se perdendo para sempre nas profundezas do meidou, sem conseguir descobrir como voltar.

- Dê-me isso. – Ele ordenou, a palma da mão se abrindo na frente dela. – Minha mãe sempre foi uma inconsequente. Você não ficará com essa coisa.

- Mas... Por que não? – Rin questionou, insegura.

- Esse poder é claramente demais para você.

- Demais? Mas eu estou destinada a tê-lo. – Ela argumentou, não entendo como algo que só ela poderia controlar seria demais para ela.

- Rin, foi apenas um mero acaso e um descuido de minha mãe que esses supostos fragmentos do meidou tenham passado para você. – Ele explicou, desenvolvendo a lógica de última hora. – Você não devia nem ao menos ter estado naquele lugar, para início de conversa. Não vá acreditando em qualquer coisa que minha mãe diz, aquela lá pode ser uma manipuladora habilidosa quando quer.

A humana vacilou diante dos argumentos. Apesar de fazer sentido, ela ainda sentia que devia levar a sério a conversa que tivera com a falecida senhora do Oeste. Será que os mortos eram tão desocupados a ponto de ficarem inventando histórias para impressionar uma humana qualquer? Rin achava que não.

Além disso, a honorável senhora havia dito que ela precisava encontrar o próprio caminho, e Rin queria mais que tudo ser digna de Sesshomaru. Saber que os proprietários anteriores daquele instrumento e da Tenseiga formavam um par tão impressionante, do qual Sesshomaru nascera, a fazia sentir como se houvesse uma conexão especial entre ela e o primogênito também. Como se eles também pudessem ser um par impressionante. Ela precisava tentar.

- Por favor, me deixe ficar com a Meidou Seki. – Ela pediu, usando seu melhor tom de convencimento. – Eu prometo não tentar usá-la sem sua supervisão.

Sesshomaru não podia tolerar a possibilidade de colocar Rin em perigo. Apesar dos olhos dela terem um apelo tão forte sobre ele, ele ainda assim negaria. Não havia garantias de que aquilo fosse seguro, e seria uma tremenda irresponsabilidade deixá-la se expor àquela magia sem essas garantias.

Prestes a recusar o pedido dela, ele foi interrompido por uma sutil vibração. A Tenseiga tremia, inquieta, em sua bainha. Era o mesmo tipo de sinal que o compelira a reviver aquela humana naquela primeira vez, mas a urgência era ligeiramente diferente. Tenseiga estava reclamando, insatisfeita com a decisão que ele tomara.

E Sesshomaru, de certa forma, confiava naquela espada para cuidar de Rin. Fora aquela espada a primeira a querer unir os dois.

Eu vou mandar derreter você se qualquer coisa acontecer a ela, ele avisou em pensamento, ameaçando o canino da ressureição preso em sua armadura.

- Está bem, Rin. Faça como quiser.

E a Tenseiga finalmente se aquietou.

xXx

Rin estava uma pilha de nervos, enquanto Asai arrumava seu cabelo. Era quase hora do jantar, e ela era esperada no salão de refeições naquela noite.

A humana não entendia bem o propósito de uma produção daquelas apenas para descer lá, esvaziar seu prato, e voltar ao quarto para dormir, mas Asai insistira que ela deveria estar apresentável. Os youkais da corte se alimentavam apenas uma vez por semana, e a ocasião era bastante formal.

- Pronto. – A criada anunciou, orgulhosa de seu trabalho.

Rin olhou no espelho, uma figura elegante olhando de volta para ela, com cabelos escuros e brilhantes presos em um coque bem elaborado, algumas mechas livres aqui e ali, e camada sobre camada de quimonos belíssimos, que se abriam em um semicírculo sobre o chão quando chegavam aos seus pés. Em seu pescoço, repousava o pesado adereço mágico, o colar da mãe de Sesshomaru. Bem, o colar dela, agora.

- Que trabalho lindo, Asai.

- Você parece uma princesa, Rin. – A lontra elogiou, um sorriso sincero em seu rosto.

A humana corou com o elogio, mas recuperou rapidamente o foco.

- Vamos, não quero deixar ninguém esperando.

A maioria dos ocupantes já estavam à mesa quando Rin adentrou o grande salão. O teto era alto, mas o cômodo era bem iluminado por chamas acesas, bem distribuídas ao longo das paredes. A mesa era longa, e por um momento Rin não sabia onde sentar. Sesshomaru ainda não estava ali, e ela não reconhecia ninguém além de Hayashi, que estava sentado no primeiro assento do lado esquerdo.

- Hayashi. – Ela sussurrou quando se aproximou de youkai, insegura sobre como prosseguir.

- Oh, Rin, boa noite. – Ele saudou com um sorriso. – Nossa, olhe só para você!

- Obrigada. – Ela agradeceu o elogio no tom dele. – Você sabe onde o senhor Sesshomaru se sentará?

- Na cabeceira, é claro. – Ele apontou o assento na ponta da mesa, à sua esquerda.

Ela imediatamente olhou nas redondezas, avistando um lugar vago à direita de onde ele se sentaria, mas Hayashi indicou o lugar ao lado dele em vez disso, convidando-a com um pequeno sorriso.

- Aquele é o lugar da Mizuno. – Ele explicou, uma vez que a humana sentou-se confortavelmente ao seu lado.

A menção daquele nome trouxe um gosto amargo à boca dela, mas Rin tratou de disfarçar sua mágoa irracional que ainda permanecia firme e forte, mesmo depois de todas as explicações que Sesshomaru providenciara à ela na noite anterior. Ao invés de se preocupar com aquele assunto particularmente desagradável, ela tratou de engajar em uma conversa com Hayashi enquanto esperavam as refeições, sobre o passeio que fizeram e sobre a interrupção de Rin na reunião. Eles rapidamente se entrosaram na conversa, e estavam rindo quando o resto do salão se calou, prevendo a entrada do anfitrião.

Sesshomaru adentrou o grande salão, e era a primeira vez que Rin o via sem armadura. Ele vestia um traje em um azul profundo, sua nobreza ainda mais evidente. Entretanto, a pelagem característica permanecia em seu lugar, sobre o ombro direito dele, e os longos cabelos pálidos eram usados soltos como sempre. Rin teve apenas um momento para admirá-lo, antes de seu olhar desviar para uma figura menos agradável que se postava ao lado dele.

Mizuno.

A fêmea inuyoukai estava simplesmente estonteante naquela noite, ao ponto de fazer Rin sentir como se estivesse vestindo um trapo qualquer. Mas ela sabia que não eram as roupas que as diferenciavam, e sim a própria diferença de raças, de ranking social, de relevância. Era a forma como a youkai se portava, a sua postura, o jeito elegante com o qual ela escondia parte do rosto com um leque, até mesmo a maneira que ela caminhava.

Mizuno apoiou uma mão sobre o braço de Sesshomaru, e só então Rin percebeu como estava morrendo de ciúmes. O sentimento amargo era novo para ela, a pegando de surpresa. Imediatamente, se sentiu culpada por nutrir um sentimento tão desonroso contra aquela mulher que ela mal conhecia, simplesmente porque ela fora destinada por nascimento a estar naquela posição hoje.

Sesshomaru se desvencilhou do toque sutilmente, se afastando para ocupar seu lugar à mesa. Com um simples aceno de sua mão a um criado, os pratos foram finalmente servidos.

Rin observou ingredientes desconhecidos em todos os pratos, mas ficou surpresa - embora não completamente, levando em consideração o café da manhã delicioso que tivera - ao ver que para ela foram oferecidos arroz, peixes de água salgada, legumes frescos e coelho, tudo devidamente cozido e temperado, no ponto correto.

Mas, antes que ela pudesse ao menos erguer o par de hashi e confirmar se aquilo estava tão saboroso quanto aparentava, a voz calorosa de Mizuno soou acima das demais conversas sussurradas ao longo da mesa:

- Isso pertencia à senhora minha mãe.

Rin a encarou em confusão, sem saber do que a youkai estava falando.

- Minha mãe deixou a Meidou Seki para mim após sua morte. – Sesshomaru explicou, fazendo pouco caso da informação.

A mão de Rin imediatamente se posicionou ao redor do pingente, de forma protetora, como se Mizuno fosse arrancá-lo de seu pescoço ao menor sinal de distração. Ela não tinha muita certeza se essa sensação era originada do seu próprio ciúme ou se tinha algo a ver com os frios olhos azuis que a encaravam sem fazer muito esforço para esconder sua insatisfação.

- Eu não entendo. Pertencia à honorável mãe do senhor Sesshomaru, ou à da senhora Mizuno? – Ela questionou, completamente perdida.

- É um costume nosso que uma nora se refira à sua sogra como “mãe”, Rin. – Hayashi esclareceu brevemente.

O rosto dela instantaneamente adquiriu um tom ruborizado, pensando na pergunta estúpida que havia feito. Embora, de um jeito ou de outro, Mizuno não fosse nora da mãe de Sesshomaru, ainda.

Mas então, ela se lembrou do que a aparição havia dito quando ela estava no submundo: E agora, são Sesshomaru e você, filha.

Na hora, Rin havia pensado ser apenas modo de falar, mas agora que parava para pensar nisso, o termo era deveras muito informal para ser usado por uma nobre daquela forma... Seria possível que o tratamento também era válido para o lado oposto e, se sim, o que aquilo realmente significava?

- A mãe a deixou para você, senhor Sesshomaru, não para a humana. – Mizuno disse, tirando Rin de seus pensamentos e trazendo-a de volta para a pequena discussão.

- A partir do momento que algo me pertence, cabe apenas a mim cedê-lo para quem eu achar apropriado. – Ele rebateu, a voz fria e indiferente.

- E isso é o que o senhor acha apropriado? – A fêmea questionou, uma elegante sobrancelha arqueada.

- Precisamente.

O tom de voz de Sesshomaru cortou qualquer abertura para prolongar o assunto, seu olhar se dirigindo ao prato à sua frente, deixando claro que não queria ser interrompido com questionamentos enquanto se alimentava.

Mas o breve cessar fogo entre os dois pretendentes não foi o suficiente para aquietar o restante dos ocupantes da mesa, os cochichos sobrepondo uns aos outros, obrigando-os a tentar falar um pouco mais alto na tentativa de serem entendidos pelos respectivos ouvintes.

As vozes se tornaram tão caóticas que até mesmo Rin podia ouvir pequenos fragmentos desconexos em forma de protestos não tão discretos quanto deveriam ser.

- Parece que ele deu à ela uma relíquia da família-

- Uma coisa é ele supostamente protegê-la, agora isso-

- O que essa criatura sequer está fazendo aqui-

- Ele nem devia permitir que os animais sentassem à mesa-

Rin imediatamente procurou desviar o olhar para longe da fonte daquelas vozes hostis, e seus olhos acabaram cruzando com os da youkai que havia começado toda aquela confusão. Mizuno tomava um gole de sua bebida, e apenas seus olhos eram visíveis por trás do copo, mas foi o bastante para Rin entender que ela havia levantado aquela discussão em público e em voz alta justamente com o objetivo de agravar os outros convidados e fazê-la se sentir desconfortável desta maneira.

Ótimo, ela pensou. Estava mesmo procurando um motivo válido para não gostar dela...

À medida que os comentários começavam a se elevar a um volume verdadeiramente incômodo, a voz imponente e autoritária de Sesshomaru soou sobre todo o salão, fazendo até mesmo Rin saltar em surpresa.

- Silêncio! – Ele ordenou e, no mesmo instante, mal era possível ouvir uma só respiração no cômodo. – Se, por acaso, alguém aqui desejar fazer uma reclamação pessoal diretamente comigo, isso poderá ser agendado para o dia seguinte. Alguém?

Tímidos tilintares de hashis contra pratos começaram a soar, enquanto todos disfarçadamente começavam a comer em silêncio.

- Foi o que pensei. – Concluiu Sesshomaru. – Espero não ter mais interrupções desagradáveis durante este jantar.

Seus olhos dourados se dirigiram para Mizuno com aquela última frase, e ela sutilmente desviou o olhar, como se não fosse com ela. Hayashi se esforçou para segurar o riso e se focar no prato a sua frente.

 

xXx

 

Duas semanas passaram rapidamente, junto com o choque da maioria dos youkais a respeito da presença de uma humana pela primeira vez nas terras do Oeste.

A adaptação de Rin não viera sem sacrifício, mas com a ajuda de Hayashi e Asai, ela acabou se encaixando naquele ambiente improvável. Sesshomaru estava sempre muito ocupado, ela passara a vê-lo com cada vez menos frequência, mas preenchia seu tempo livre com constantes visitas à cidade e passeios sem fim aos jardins.

Na cidade, os moradores eram menos esnobes do que no castelo, pois eram pessoas mais simples, e os youkais que lá viviam tendiam a ser de nível mais baixo, portanto eram menos cheios de si e, graças a essa característica, puderam aceitar mais facilmente aquela estranha garota humana que vinha visitar tão frequentemente. E as crianças... As crianças adoravam Rin, e logo ela se viu prestando um serviço não muito diferente de quando ela ficava encarregada de ser a babá do vilarejo de Kaede.

Rin estava voltando de mais uma dessas visitas, um cesto de maçãs em suas mãos, que ela colhera junto às crianças, quando ela percebeu uma comoção no pátio do castelo. Vários guardas passaram por ela com pressa, e foram se juntar a um círculo que se formava.

No centro do círculo, estava Sesshomaru e, aos seus pés, havia um homem com as mãos acorrentadas, coberto de ferimentos.

O homem era um youkai, capturado por um dos patrulheiros enviados por Sesshomaru mais de uma semana atrás. Era a resposta pela qual ele estivera impacientemente esperando aquele tempo todo.

Ele chutou indelicadamente o youkai na lateral da costela, fazendo-o cair de lado com um gemido.

- Quem era o seu contratante? – Perguntou Sesshomaru em seu tom indiferente.

- Quanto vou receber por dar essa informação?

Mais um chute, dessa vez logo abaixo da mandíbula, forçando a multidão ao redor a mover o círculo para dar espaço. O prisioneiro cuspiu sangue no chão.

- Sua vida vale o bastante para você, verme? – O inuyoukai disse.

- Você acha que eu não sei que vai me matar de qualquer forma?

- É esperto por perceber isso. Mas esse conhecimento não vai te ajudar. – Sesshomaru estalou as garras, preparando-as. – Quando eu terminar com você, vai ter cuspido todos os seus segredos junto com o seu sangue e estará implorando para morrer.

De repente, o prisioneiro riu, sua cabeça levantando e se virando para um ponto específico atrás da linha de soldados.

- Olhe só esse cheiro, parece que o prêmio que eu estava caçando está bem na minha frente, afinal!

Com essa fala, a linha de soldados se abriu em uma fenda, afim de revelar o objeto da conversa. Entre eles, apareceu a figura confusa de Rin, que estivera o tempo todo tentando ver o que estava acontecendo ali no meio de tantos homens altos.

- Sim, aí está ela. – O mercenário acrescentou em um tom sedutor, um sorriso sádico em seu rosto ensanguentado.

- Rin, vá para dentro. – Sesshomaru comandou, não querendo que ela testemunhasse o que ele estava prestes a fazer com aquele youkai.

Em nenhum momento ele desviou os olhos da criatura patética aos seus pés, sabendo que, se tratando de um youkai, mesmo acorrentado, um movimento bem calculado poderia representar um risco para ela se ele não estivesse prestando atenção.

Rin apenas assentiu, um pouco temerosa agora que tinha matado sua curiosidade. Sem hesitar, ela se virou e correu para as portas do castelo.

- Então os inuyoukai agora se resumem a cães de guarda para humanas, não é verdade?

Outro chute, dessa vez forçando o círculo a se abrir, o corpo atingido rolando até o outro lado do pátio com um tilintar de correntes.

- Você vai falar comigo somente quando eu falar com você. – Sesshomaru ditou, caminhando até ele com toda a calma do universo, como um predador que toma seu tempo para aterrorizar ainda mais a presa. – E o que eu te perguntei foi: quem é o seu contratante?

O youkai tentou se levantar, se apoiando nos antebraços, apenas para ter sua cabeça brutalmente pressionada de volta contra o chão pelo pé do inuyoukai.

- Me diga quem ele é e o que quer com a humana.

- Eu só preciso da cabeça dela. – Ele respondeu.  – Você pode ficar com o resto para fazer qualquer coisa asquerosa que quiser. Ouvi dizer que inuyoukais gostam dessas coisas com humanos.

Sesshomaru o forçou a se levantar, puxando-o pelos cabelos e, em seguida, usando a mão livre para apertar o pescoço do interrogado, as garras se enterrando de leve na pele dele.

- Faça com que eu tenha que repetir minha pergunta mais uma vez, e vou deixar meu veneno cuidar de você. – O daiyoukai ameaçou. – Não vai ser nada agradável, isso eu lhe garanto.

- Meu chefe vai conseguir a garota cedo ou tarde, e então ela será o brinquedinho de outra pessoa. – Continuou o mercenário, sem temer as ameaças de seu captor.

Sesshomaru permaneceu inalterado, seu temperamento completamente sob controle, sabendo que o intuito daquelas palavras era meramente desequilibrá-lo.

Não ia funcionar.

Suas garras brilharam, esverdeadas, se aprofundando mais nos músculos tensos do prisioneiro, uma leve fumaça ácida sendo liberada a medida que veneno entrava em contato com tecido orgânico...

Horas depois, Sesshomaru estava de pé ainda no mesmo lugar, o homem estirado no chão já não aparentava mais ser o que era, a maior parte de sua pele dissolvida, expondo músculos e tendões – até os ossos, em alguns lugares. Sangue e veneno se espalhavam pelo piso, manchando as pedras que o cobriam. A maioria da plateia se dissipara, perdendo o interesse com a passagem do tempo, mas alguns permaneciam, observando cada instante com atenção.

- Por favor! Basta, por favor! Eu já lhe disse tudo! – O youkai torturado gritava a plenos pulmões, seu corpo tremendo em desespero.

Era verdade que ele havia confessado horas atrás, mas Sesshomaru ainda tinha muito tempo livre. E aquele homem realmente o irritara com as coisas que dissera sobre Rin. Ele pagaria por isso até o fim.

- Me diga em quantos eles estão.

- Eu não sei! Eu não sei, eu não AAARGH-

- Tem certeza? – O daiyoukai perguntou, recolhendo as garras venenosas das costas de sua vítima.

- Eu não sei mais nada... – O mercenário respondeu em uma voz falhada, suas forças completamente esgotadas. – Por favor, apenas acabe com isso.

- E sobre os aliados?

- Não! Eu não sei!

Sesshomaru estava prestes a deferir mais um golpe, quando Hayashi apareceu de repente, uma mão pousando em seu ombro.

- Já não acha que é o bastante? – O vassalo perguntou. – Já fazem horas que esse miserável está aí berrando.

- Cuide dos seus assuntos. – Sesshomaru respondeu, voltando seu foco à figura patética estremecendo em pavor no chão.

- Pelos deuses, Sesshomaru. Você está assustando a Rin.

À menção do nome dela, ele imediatamente parou seus movimentos, sua atenção voltando ao amigo.

- Rin estava ouvindo? – Ele perguntou, pela primeira vez pensando naquela possibilidade. Estivera tão entretido em seus jogos que aquilo passara completamente despercebido por ele.

- Quem não estava ouvindo? – Hayashi rebateu. – Estávamos assistindo da janela no começo, mas ela não quis mais olhar depois que você começou a se empolgar.

- Hm. Vamos ao meu gabinete, temos muitas informações novas para trabalhar.

Sesshomaru se virou para sair dali ao lado de Hayashi, como se nada de especial estivesse acontecendo.

- Espere! Aonde vai? – O mercenário gritou, a mão semi-dissolvida se estendendo na direção de seu torturador. – Você precisa acabar com isso primeiro!

Sesshomaru parou, sem se virar para a criatura deplorável.

- É verdade, eu quase esqueci. – Disse ele, se virando para um dos guardas que havia ficado todo aquele tempo ali. – Tranquem-no nas masmorras, uma hora ou outra vai acabar morrendo.

- Não! Acabe com isso agora! – O youkai desfigurado gritou quando o guarda veio levá-lo. – Eu imploro, por favor!

- Vamos, Hayashi. – Ele chamou, prosseguindo com sua caminhada em direção ao castelo.

- Você realmente é um monstro. – O amigo provocou.

 

Os dois inuyoukais estavam no gabinete, sentados um ao lado do outro, observando um mapa estendido sobre a mesa à frente deles.

- Do sul, então. – Hayashi disse, apontando para o respectivo ponto no mapa.

- Sim, e eu estava certo em minha suposição. – Sesshomaru falou. – Todos os últimos eventos estão ligados. O ataque ao castelo nas nuvens, os youkais de baixo nível procurando problemas comigo, e o mercenário contratado para matar Rin. Todos com o mesmo objetivo de me atingir.

- A questão é: por quê?

Eles poderiam apenas estar incomodados com o fato de um grande daiyoukai como Sesshomaru estar acompanhado de uma humana, mas isso certamente não justificava o ataque no palácio nas nuvens. Tudo indicava que o inimigo estava procurando brechas para atingir o próprio Sesshomaru por motivos pessoais e ele não tinha um inimigo declarado desde Naraku – nenhum que ainda estivesse vivo, pelo menos...

- É o que eu pretendo descobrir. – O líder inu decidiu, sua voz determinada. – Ou melhor, o que você vai descobrir.

Hayashi o olhou com surpresa por um instante, um sorriso divertido se abrindo em seu rosto logo em seguida.

- Oh, você vai realmente passar a oportunidade de uma pequena aventura, Sesshomaru?

Sesshomaru deixou escapar um suspiro de pesar, realmente lamentando que Hayashi fosse ficar com toda a diversão. Mas ele não podia se esquecer do aviso de sua mãe, que Rin transmitira a ele semanas atrás. Ele precisava estar preparado antes da hora da vingança e, para isso...

- Diplomacia... – Ele murmurou em resposta, o tédio evidente em sua voz. A palavra fora pronunciada como se fosse um xingamento. – Eu vou ficar e contatar os aliados.

Como um aristocrata, seu papel mais importante era a diplomacia. Apesar de detestar isso, vez ou outra ele se veria obrigado a deixar o campo de batalha para os soldados que, de certa forma, eram peças descartáveis.

- É claro – Hayashi concordou, observando novamente o mapa de forma pensativa. – Quem quer que sejam essas pessoas, temos que nos lembrar que tinham poder o bastante para matar a senhora do Oeste, e tudo isso sem deixar rastros. Ir lá sozinho só te deixaria em uma situação arriscada e, graças à sua teimosia, nós não temos um herdeiro para ficar no seu lugar se você acabar batendo as botas nessa encrenca.

- Me poupe da sua preocupação. – Respondeu Sesshomaru, revirando os olhos. – Tudo de que eu preciso são mais informações antes de decidir qual abordagem eu adotarei. E são essas informações que você vai conseguir para mim.

Assumindo uma postura mais séria, o subordinado assentiu.

- Você contatará nossos aliados no norte e nas terras centrais. – Ele revisou o plano, deixando de lado as brincadeiras por um instante. – E eu irei ao sul e descobrirei todos os detalhes sobre suas próximas vítimas.

Sesshomaru posicionou a palma da mão sobre o mapa em cima da mesa, as garras expostas e coçando para entrar em ação, apesar de todo o entretenimento que já haviam tido naquele dia. Em seu rosto, lentamente se formava o sorriso característico do senhor das terras do oeste, ameaçador, sádico e absolutamente letal.

- Não me decepcione, Hayashi.


Notas Finais


Novamente vou te que me desculpar mas não vai ter fanart :( [EDIT: SURGIU UMA INSPIRAÇÃOZINHA DE ÚLTIMA HORA E EU FIZ UM RASCUNHOZINHO DA FANART BEM RÁPIDO!]
Fanart do capítulo: https://c8.staticflickr.com/6/5336/30692480015_d51bcc799b_b.jpg
De resto, obrigada pelos comentários como sempre e obrigada a quem está acompanhando também!
Estou só observando vocês aí animadinhas com o Hayashi, já tratei de mandar ele embora por um tempinho hahaha (mas não se preocupem. muito.)
Esse capítulo foi mais transitório, mas é necessário.

Sintam-se a vontade para expressarem suas opiniões aí!
E até a próxima! :D


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