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História Unintended - Reflexões


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Meu Deus, que fase! No dia que eu ia fazer aquela prova demoníaca de Cálculo IV eu fui assaltada no caminho, ainda vi uma hora antes da prova que eu não sabia fazer nada, fui pra casa lamentar a minha vida SHEIHSAHSAIEHAS
Mas hoje retorno aqui, como uma fênix ressurgindo das cinzas, pra postar um capítulo, apesar de estar atolada de coisas. Felizmente, esse já tava bem lapidado desde o início então não deu muito trabalho.

Desculpa qualquer coisa aí.

Capítulo 17 - Reflexões


Sesshomaru estava sentado de frente para sua mesa, a postura desalinhada, as garras batendo repetidamente sobre a madeira da superfície plana, uma de cada vez, começando pelo dedo mindinho até o indicador. Seus olhos continuavam a encarar aquele pedaço de papel estendido à sua frente, com caracteres marcados em tinta preta.

Senhor Sesshomaru das terras do Oeste, general dos inuyoukai,

Sinto muito em saber da sua grande perda, é deveras uma época sombria para o Oeste. Honrando nossa aliança que já dura séculos, o Norte se disponibiliza a auxiliá-lo nessa questão, seja nas investigações ou nas devidas punições cabíveis para os culpados.

Entretanto, visto que o senhor tomou o posto apenas recentemente, gostaria de solicitar sua presença em meu castelo, para que possamos negociar em pessoa e reforçar os laços entre o Norte e o Oeste por mais uma geração.

Respeitosamente,

Tsugaru, senhor das terras nortenhas.

 

Sesshomaru estivera ponderando aquelas palavras a manhã inteira, amaldiçoando seu plano de mandar Hayashi em uma missão tão precipitadamente. Agora, ele precisava atender ao chamado de Tsugaru, e não havia ninguém de confiança para guardar o castelo e, mais importante, para guardar Rin.

O castelo era sua menor preocupação, pois ele sabia que seus capitães eram leais ao Oeste acima de tudo. Pedir que eles guardassem uma menina humana por tempo indeterminado, por outro lado, já seria ingenuidade demais. Principalmente depois de toda a história de seu pai, Sesshomaru sabia que confiar Rin a qualquer youkai ali era deixá-la vulnerável em um ninho de cobras.

Farto de sentar ali o dia inteiro encarando aquele pedaço de papel, Sessomaru pôs-se de pé, ansiando por alguma ação. Ele decidiria aquilo mais tarde, precisava sair daquele cubículo de madeira e parar de pensar em políticas por alguns instantes.

O general youkai não realmente tinha um destino em mente para relaxar, mas, inconscientemente, ele se viu seguindo aquela trilha do suave cheiro que ele conhecia melhor do que o dele próprio. Seus passos involuntários o levavam até ela enquanto sua cabeça estava perdida em suas estratégias e, quando ele viu onde estava, suas botas pisavam sobre grama verde, e a brisa fresca dos jardins soprava seus longos cabelos gentilmente.

À sua frente, a garota humana que ele aparentemente estivera seguindo dançava entre lírios e cravos, as flores estampadas em seu quimono se misturando facilmente ao cenário ao seu redor, fazendo com que fosse impossível para qualquer um ali duvidar de que ela também fazia parte daquele jardim. E se encaixava perfeitamente.

Sesshomaru percebeu que não fazia ideia de quanto tempo ele permanecera de pé ali, não sabia se ao menos havia piscado alguma vez, seus olhos acompanhando cada movimento dela. Ele despertou apenas quando ela se virou pra ele, saudando-o com sua doce e alegre voz:

- Senhor Sesshomaru, boa tarde!

- Rin. – Respondeu ele, monotonamente.

- O que o senhor acha? – Ela perguntou, erguendo um pequeno e simplista arranjo de flores em suas mãos. – Uma senhora da cidade me disse que os youkais-borboleta usam essas flores para demonstrar amizade, foi o filhinho dela quem me deu. Pensei em trazê-las aqui e colocá-las junto das outras.

Ele observou as pétalas brancas, percebendo logo que o arranjo não havia sido feito por ela. Sesshomaru não sabia quando havia se tornado um especialista em ramalhetes de flores – ou, talvez, um especialista em Rin – mas ele reconhecia que a habilidade da humana para aquela atividade em particular era claramente superior à da criança.

- Você não devia aceitar coisas de estranhos, principalmente youkais. – Ele avisou, dando atenção especial à Meido Seki que ela agora usava o tempo inteiro.

Ele ainda não confiava plenamente naquele artefato. Na verdade, ele estava começando a perceber que confiava em pouquíssimas coisas e pessoas quando era a segurança de Rin que estava em jogo. Talvez ele estivesse ficando só um pouco paranoico, mas, apenas naquele caso, ele preferia prevenir do que remediar. Precisava sempre se lembrar de que, se ele a perdesse, não haveria uma substituta.

- Ah, mas eu os conheço, senhor Sesshomaru. – Rin garantiu com um sorriso. – Eu já lhe disse como as pessoas da cidade são boas comigo.

Sesshomaru estava prestes a dar a ela mais um sermão sobre não confiar demais nos outros, mas desistiu, sabendo que ela jamais aprenderia.

- O senhor parece um pouco preocupado. – Ela comentou.

Decidindo compartilhar com ela um pouco de seu estresse com questões políticas que o assolavam, ele respondeu:

- Gostaria que Hayashi não se demorasse tanto.

Mesmo que ela não entendesse muito daquilo, Rin sempre encontrava uma forma ou outra de aliviar sua tensão. A garota suspirou, seus dedos inconscientemente acariciando as pétalas das flores em suas mãos.

- É verdade, também sinto a falta dele. – Ela lamentou, interpretando as palavras do youkai de forma equivocada. – Eu queria que todos nós pudéssemos ter ido juntos. Uma aventura nova, como nos velhos tempos.

Ignorando o fato de que os “velhos tempos” aos quas ela se referia englobavam aventuras que terminaram apenas recentemente, Sesshomaru rapidamente viu no entusiasmo dela a solução perfeita para seu impasse. Pensando com clareza, no fim das contas, só havia aquela forma. Era a única solução disponível, embora não fosse o ideal.

Decidindo, ele anunciou seus planos:

- Rin, você virá comigo para o norte.

xXx

A viagem seria longa, e a presença de Ah-Un era indispensável. Jaken ficara para trás, como um substituto fajuto de Hayashi. A princípio ele esperneou, tendo dificuldades em aceitar que uma reles humana fosse mais digna de acompanhar seu senhor do que o auto-declarado mais fiel de todos os servos, mas rapidamente sossegou quando percebeu que a tarefa de cuidar do castelo de seu mestre na ausência dele era o primeiro passo para que ocupasse sua almejada posição de ministro do futuro império de Sesshomaru.

Rin estava animada com a viagem, mas, ao mesmo tempo, receosa. Quando foi a última vez que ela passou tanto tempo sozinha com Sesshomaru? Ah-Un não contava.

Normalmente, ela lidaria com isso sem o menor problema, mas, desde que descobrira sobre Mizuno, algo dentro dela mudara completamente. Os sentimentos que ela tão habilidosamente escondia e ignorava haviam todos voltado à tona, aparentemente muito mais fortes. Ela conseguia agir com tanta naturalidade antes, mas agora sua mente era constantemente invadida por pensamentos impróprios, invadida por Sesshomaru, a ponto de bastar fechar os olhos para vê-lo como uma image fixa atrás de suas pálpebras.

Ela sempre soube que o amava, mas o que era aquele desejo tão forte, tão abrasador? O que era aquela sensação quente que a invadia toda vez que ele simplesmente olhava para ela, principalmente se fosse aquele olhar especial, reservado só para ela? Rin sentia que podia derreter aos pés dele toda vez, só de ouvir a forma como ele falava com ela. Pensava que podia simplesmente morrer toda vez que ele a tocava.

E que morte maravilhosa seria!

Por outro lado, ela achava que explodiria de ciúmes sempre que Mizuno apenas dirigia a palavra a ele, da forma íntima como ela fazia. E, pelos deuses, quando ela o tocava! Mesmo que Sesshomaru nunca correspondesse aos avanços da prometida, mesmo que ele tivesse garantido à humana insegura que Mizuno jamais o teria, ainda assim...

Rin respirou fundo, tentando dispersar seus pensamentos tumultuosos. Naquele momento, eram apenas Sesshomaru e ela ali, com um horizonte inteiro à frente deles, um caminho preenchido com montanhas, florestas, campos, todos apenas esperando para serem explorados. Sem Mizuno, sem Jaken.

Ela podia observá-lo andar à sua frente, os brilhantes cabelos prateados balançando sinuosamente de acordo com os passos de seu orgulhoso proprietário. Primeiro para a direita, depois para a esquerda, e assim em diante. Ela admirava silenciosamente cada movimento, Ah-Un ao seu lado sendo a única testemunha de seus sorrisos bobos apaixonados.

Não demorou até que eles fossem incomodados por mais daqueles fracos youkais que insistiam em se postar no caminho de Sesshomaru. Como esperado, a morte deles foi rápida e silenciosa. O inuyoukai não gastara uma palavra e não demonstrara nenhum tipo de emoção quando suas garras ceifaram as vidas de seus desafiantes. Enquanto eles passavam pelos corpos sem vida para seguir em frente, como se nada tivesse ocorrido, Rin se pegou lembrando do evento que se passara dias atrás, quando Sesshomaru interrogara aquele mercenário para obter as informações essenciais de que precisava.

Naquele dia, não havia ficado nem um pouco surpresa ao ver seu senhor e protetor usar de violência, principalmente se o objetivo era justamente protegê-la. Entretanto, ela nunca antes havia visto uma cena daquelas. As matanças de Sesshomaru costumavam ser tão rápidas que a vítima mal tinha tempo de sofrer. Mas os gritos daquele homem ainda ecoavam na mente dela enquanto ela desenterrava a memória.

- Senhor Sesshomaru...

- Sim?

Vendo que tinha a atenção dele, ela prosseguiu:

- Matar é uma coisa que o agrada?

O general youkai ponderou sua resposta por algum tempo, a pergunta repentina o pegando de surpresa.

- Por que me pergunta isso agora? – Retornou ele. – Certamente, à essa altura, já está acostumada em me ver envolvido em tais atividades.

Rin pensou nos famosos contos de Kagome, e sobre a perspectiva diferente que ela trazia sobre o passado de Sesshomaru. Ainda era estranho para ela pensar que aquelas coisas aconteceram não muito antes de ele conhecê-la.

- Eu sei que o senhor precisa matar quando a situação pede, eu entendo isso muito bem. – Ela disse, os dedos se entrelaçando distraidamente. – Mas eu me pergunto se isso o diverte. Sempre achei que o senhor só fazia o que fazia por um bom motivo, mas... Com aquele homem no castelo...

- Você acha que eu me excedi. – Ele concluiu, ainda andando em frente, liderando o caminho. – Mas eu não o matei.

Ela abaixou a cabeça, aquele fato de alguma forma piorando um pouco a situação, na opinião dela. Entretanto, as perguntas dela nada tinham a ver com seu julgamento pessoal. Rin apenas queria se aprofundar nas facetas obscuras da personalidade dele, verdadeiramente entedê-lo. Os dois eram tão diferentes quanto a noite e o dia, mas até mesmo aqueles dois completos opostos se encontravam durante a aurora e o crepúsculo. Eles podiam se compreender, apesar de todas as disparidades.

Ela prosseguiu:

- Seu motivo para feri-lo era obter informações. Ele as revelou e, ainda assim, o senhor continuou por várias horas.

A cabeça de Sesshomaru se virou minimamente para olhá-la por um instante, sua expressão perfeitamente ilegível, e então ele voltou a olhar em frente.

- Sim, Rin. – Ele respondeu, finalmente. – Lutar e, consequentemente, matar é algo que me agrada.

A humana atrasou seu ritmo por um instante, a resposta a confundindo. Embora aquela tenha sido sua suposição inicial, ela não sabia bem o que fazer agora que tinha uma confirmação.

As palavras de Kohaku soavam em sua mente, você já perguntou quantos humanos ele assassinou a sangue frio?

Isso foi há muito tempo, ela respondeu em pensamento, a mesma coisa que ela tinha dito ao amigo na ocasião.

- Isso a incomoda? – Sesshomaru questionou, curioso e, ao mesmo tempo, receoso.

- Eu estava apenas pensando... O senhor sempre parecia precisar de um motivo para usar violência. – Disse ela. – Mas Kagome me contou... Que o senhor tentou matá-la algumas vezes.

Sesshomaru parou de andar, finalmente se virando para olhá-la, os longos cabelos seguindo o movimento. Olhos dourados a encaravam com um certo humor sarcástico que apenas alguém que o conhecia tão bem quanto Rin poderia reconhecer.

- Acredito que a sacerdotisa não tenha lhe contado como ela tentou me purificar com uma flecha sagrada. – Ele supôs, relembrando os fatos sob a própria perspectiva. – Se não fosse pela pontaria patética dela, talvez tivesse me atingido, apesar de eu duvidar que o poder dela fosse o suficiente para alcançar seu objetivo.

Rin parecia surpresa com a revelação. Realmente, Kagome não havia contado essa parte essencial da história. Entretanto, o resto do conto envolvia mais elementos do que apenas os levantados até ali.

- O senhor desejava matar Inuyasha. – Ela acrescentou. – Não culpo Kagome por tentar atirar em alguém que pretende matar o homem que ela ama. Eu faria o mesmo.

Os olhos dele tinham menos humor agora, se estreitando. A que ponto ele tinha chegado, de estar ali se justificando para uma humana. Mas, apesar de reconhecer o quão patético aquilo era, ele continuava se explicando, ansioso por convencê-la de que o caráter dele não era tão corrompido quanto as pessoas pintavam.

- Inuyasha tinha algo que me pertencia e se recusava a ceder. – O youkai disse, a voz ainda perfeitamente calma, embora um pouco mais grave que o usual. – Deve se lembrar de que eu sou o primogênito do nosso pai e, além disso, Inuyasha não passa de um filho bastardo. A Tessaiga devia ser minha.

Rin assentiu, aceitando a explicação. Ela lembrava bem como Sesshomaru era obcecado por aquela espada antes de ter a Bakusaiga. Caso estivesse na posição dele, ela provavelmente tentaria resolver a questão com uma conversa, pois não chegaria ao ponto de matar um irmão por causa de um objeto, mesmo que fosse apenas um meio-irmão. Mas ela sabia bem que as pessoas tinham pontos de vista diferentes sobre tudo, e ela devia respeitar o de seu senhor.

Ela estava feliz por ele ter tomado o tempo de explicar aquilo tudo para ela, assim ela podia compreendê-lo bem melhor. E, satisfeita, ela tinha a resposta que queria.

Sesshomaru podia até sentir prazer em tirar uma vida, mas uma coisa era certa: ele não o fazia de forma supérflua. Ele aproveitava para se divertir depois que já tivesse sido provocado por um inimigo. Ele não procurava vítimas para se entreter. Não era como outros youkais verdadeiramente sádicos, que atacavam vilarejos de pessoas inocentes só para vê-las morrerem em desespero.

- O senhor não me matou quando teve a chance. – Ela disse, um pequeno sorriso se formando em seu rosto, lembrando-se daqueles dias em que ela tentava empurrar comida humana para um youkai ferido em uma floresta. – Mesmo eu tendo testado tanto a sua paciência e repetidamente desobedecido quando me dizia para deixá-lo em paz.

Sesshomaru desviou o olhar, de repente decidindo que precisavam continuar andando. Rin o seguiu, sorrindo ainda mais. Ele sempre agia assim quando a conversa tocava em algum ponto emocional demais, era um sinal de que aquela lembrança despertava os sentimentos dele assim como os dela.

- Você era uma tola. – Ele comentou, ainda soando indiferente. - Para sua sorte, eu não podia me mexer.

Rin riu, apesar das palavras sombrias dele, implicando que se ele tivesse estado em perfeitas condições, teria sido diferente. Ela lembrava que ele não estava imóvel demais para derrubar com a mão a comida que ela havia trazido, e aquilo era mobilidade mais que o suficiente para alguém como ele ser capaz de matar alguém como ela. Sim, era tolice uma criança se aproximar de um youkai, todos sabiam daquilo. E ele podia facilmente ter tirado a vida dela, se ele quisesse.

Mas ele não quis.

xXx

A viagem seguia em silêncio após a conversa prolongada sobre um tema tão delicado, exceto por um ou outro comentário que Rin insistia em fazer toda vez que algo interessante capturava sua atenção no caminho, ou quando ela começava a cantarolar para se distrair. Ela amava estar Sesshomaru, mas às vezes sentia falta de Hayashi para tagarelarem juntos até a garganta dela começar a doer por excesso de uso.

Daquela forma se passaram os primeiros dias. Eles faziam a maior parte do percurso pelo ar, visto que uma viagem a pé seria demasiadamente prolongada. Porém, à noite, Sesshomaru tomava sempre o cuidado de encontrar um lugar seguro onde Rin pudesse dormir tranquila, sem receio de despencar da sela do dragão.

Naquela noite, ele havia encontrado uma caverna aparentemente perfeita, quase invisível à primeira vista, com árvores tampando a maior parte da entrada. O único defeito era o seu tamanho reduzido. Mas, mesmo com o pouco espaço, eles se acomodaram.

Logo, Rin estava dormindo profundamente logo ao lado dele, o corpo apoiado sobre Ah-Un do outro lado, usando a criatura reptiliana como travesseiro. Sesshomaru sentava perto à entrada, atento a invasores.

Ele estava perdido nos próprios pensamentos, dividido entre seus planos de negociações com o senhor nortenho e aquela outra coisa que ultimamente estava sempre ali presente, esperando uma deixa para se manifestar em sua mente. Rin.

O inuyoukai se sobressaltou quando ela caiu sobre ele, como se tivesse ouvido o chamado de seu senhor, através de algum tipo de telepatia. Ele a observou, a cabeça dela deitada desajeitadamente sobre o ombro forrado pela pelagem que ele carregava.

Sesshomaru não tardou a perceber, entretanto, que o motivo de ela estar ali não se tratava de telepatia, e sim um complô descarado. Ele encarou o dragão ao lado dela, rapidamente fazendo os cálculos de como a humana tinha ido parar ali, em cima dele. Ah-Un a havia empurrado, nada sutil.

As duas cabeças o olharam de volta por apenas um momento, antes de se virarem para o outro lado, tentando fingir que não tinham absolutamente nada a ver com aquilo.

Você dá liberdades demais à essa criatura, Rin, ele pensou consigo mesmo.

Rin se mexeu levemente, tentando inconscientemente ajustar a posição desconfortável em que estava, uma mão alisando o pelo macio sobre o ombro dele. Não encontrando conforto, ela logo começou a deslizar, a gravidade puxando o peso dela para baixo, tentando colocá-la em uma posição mais estável e horizontal.

Suspirando em derrota, Sesshomaru finalmente se mexeu, sentando mais ereto e permitindo que ela se deitasse sobre o colo dele. A garota, ainda inconsciente, se aconchegou alegremente, o corpo se encolhendo automaticamente em sua característica posição de dormir, um leve som de satisfação escapando de seus lábios.

O vento noturno soprava lá fora, fazendo as árvores na entrada balançarem violentamente de vez em quando, folhas se soltando dos galhos e voando para dentro da caverna. Uma dessas folhas pousou no cabelo de Rin, uma ofensiva mancha verde escura em meio a um mar de mogno. Sesshomaru tratou de remover a intrusa dali, afastando-a com uma mão, mas logo viu que apenas retirar a folha não parecia ser satisfatório o bastante. Sua mão se demorou ali, inicialmente apenas repousando levemente sobre a cabeça dela, mas logo seus dedos começavam a se mover.

Antes que ele percebesse, estava acariciando-a, os dedos com garras afiadas delicadamente correndo entre os fios negros sedosos. Ainda sem se dar conta, sua mão logo deixou de lado o interesse nos cabelos, descendo pelo pescoço, passando suave como uma brisa pelo ombro e, em seguida, pelo braço.

Ele não conseguia entender o que o compelia a prosseguir com aquilo, mas, ao mesmo tempo, não podia parar, sem controle sobre sua própria vontade. O youkai não compreendia suas próprias ações. Ele já tinha dificuldade em entender o porquê de ele apreciar tanto a companhia daquela humana para início de conversa, quanto mais a satisfação de tocá-la delicadamente daquela forma. As personalidades deles eram tão diferentes, mas ainda assim ele via prazer em tê-la insistindo em conversas despropositadas, em observá-la trabalhando com suas adoradas flores. Tudo sobre Rin o encantava, a forma positiva como ela encarava a vida e, principalmente, a forma como ela o apreciava em retorno.

Se o que o moleque taijya dissera fosse verdade, então os sentimentos de Rin a respeito dele eram mais do que simples apreço, mas ele tentava não pensar naquilo – sem sucesso. Era uma informação que ele nem mesmo deveria ter ouvido, e a própria Rin parecia ter forte aversão em compartilhar aquilo com ele, então ele também não levantaria questionamentos. Sesshomaru nem entendia porque ele iria querer questioná-la, afinal. Se a humana nutria tais sentimentos e queria mantê-los em segredo, ele não tinha nada a ver com aquilo, e era melhor que ficasse assim. A estranha, mas pacífica, relação que eles mantinham era como uma duradoura poça de água: À primeira vista, translúcida e límpida, mas bastava que alguém resolvesse revirar o líquido parado para que o lodo no fundo emergisse e tornasse a água turva e repulsiva.

Não seria ele a bagunçar com o equilíbrio perfeito que eles tão improvavelmente conseguiram manter por todos aqueles anos.

Mas sempre se pegava pensando no que ela diria se ele perguntasse e, principalmente, no que ele faria a respeito. E o que era mais perturbador: o fato de ele nunca ter conseguido imaginar como ele reagiria, quando a resposta deveria ser tão clara. Ele deveria recusá-la, talvez até zombar da tolice dela, dizer para esquecer aquilo, que era algo ridículo, um completo absurdo. De alguma forma, ele não se via fazendo aquilo, e o que ele realmente faria permanecia um mistério, que só seria desvendado quando a situação se apresentasse na realidade.

Sesshomaru, distraído com seus pensamentos, corria o dorso da mão pela bochecha macia dela quando Ah-Un fez um barulho baixo, mas o suficiente para chamar a atenção dele.

O dragão o olhava com seus dois pares de olhos, a expressão comicamente racional, como a de quem ergue as sobrancelhas sugestivamente, de forma acusatória.

- Fique quieto. – Sesshomaru sussurrou, mal-humorado, rapidamente recolhendo suas mãos para si mesmo, como uma criança pega no flagra fazendo algo errado.


Notas Finais


Fanart do capítulo (mais uma vez, corrida): https://c1.staticflickr.com/6/5473/30218309384_d4869ccdf4_b.jpg

Eu não resisto a umas fofurinhas (Ah-Un sendo culpido hahaha). Tenham paciência comigo. HISHSIHES

Bom, muito obrigada pelos comentários nos capítulos anteriores! Vocês colocam um sorriso enorme na minha cara, quase me fazem esquecer que to ferrada em cálculo hahaha
Por isso não deixem de comentar aí também, é sempre uma ajuda rs
Beijos e até o próximo!


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