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História Unintended - Confronto e Conforto


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá para vocês mais uma vez!
Finalmente cheguei no meu capítulo favorito até agora, mal podia esperar pra postar! *0*
Não vou nem perder meu tempo aqui.
Enjoy!

Capítulo 19 - Confronto e Conforto


Ela tentou olhar na direção que ele encarava, mas não via nada além de neve e árvores sem folhas. Eles haviam lidado com ataques de youkais algumas vezes naquela viagem, mas Sesshomaru sempre os eliminava sem preocupação nenhuma, como se fossem apenas um pequeno estorvo. A postura tensa dele agora a assustava. Normalmente, ele não agiria daquela forma, apenas seguiria em frente e encontraria os youkais para se dispor deles rapidamente.

Sesshomaru pousou a mão direita sobre o cabo da Bakusaiga, preparado para sacá-la a qualquer momento. Com o outro braço, ele puxou Rin para trás, deixando seu corpo formar uma barreira entre sua protegida e os inimigos que avançavam.

- Quantos são, senhor Sesshomaru? – Ela perguntou em voz baixa, assustada. Podia sentir o perigo no ar.

Ele não respondeu. Em vez de sua resposta, o que veio foi uma horda de youkais. Não como da última vez, porém. Esse era um pequeno exército de youkais, apesar de desorganizados. Aparentavam ser de alto nível e eram muitos.

- Finalmente o encontramos. – Um dos recém chegados disse, um machado de guerra enorme em suas mãos.

Rin não pode evitar se aproximar de seu protetor, sua mão inconscientemente apertando uma porção da pelagem ao redor dos ombros. Aqueles youkais eram poderosos, ela podia dizer só de olhar. E eles venciam Sesshomaru em número com ampla vantagem.

- Não se preocupe. – Ele sussurrou para ela, puxando a espada. O metal tilintou ao deslizar pela bainha.

Sem aviso prévio, os inimigos partiram para o ataque. O que se seguiu foi uma intensa batalha, que Rin mal podia acompanhar com seus olhos humanos.

Sesshomaru usou a Bakusaiga, matando um número grande de youkais logo de cara. Mas os outros, percebendo a extensão do poder, passaram a ser mais cautelosos. Muitos invocaram barreiras para protegerem a si mesmos e aos companheiros.

O inuyoukai segurou a mão de sua protegida, procurando controlar a posição dela, afim de mantê-la fora da linha de ataque dos inimigos. Ele podia dizer à ela para correr para um lugar seguro, mas preferia não arriscar deixá-la fora da sua vista, desprotegida, com tantos daqueles youkais ali. Seria muito fácil para algum deles ir atrás dela sem que ele percebesse. Em vez disso, ele a defenderia com tudo que tinha.

Apesar de seus esforços e autoconfiança, o exército ganhava território sobre ele aos poucos. Sesshomaru estava claramente em dificuldades. Enquanto degolava dois youkais com um só golpe, cinco saltavam à sua frente, forçando-o a pular para trás. Era possível até mesmo para Rin perceber que aquela batalha parecia lhe dar muito trabalho. De relance, ela viu que Ah-Un ajudava também, na medida do possível, visto que aqueles youkais eram muito mais poderosos do que os que eles estavam acostumados a lidar.

Raios luminosos e rajadas de poder varriam a floresta congelada, ao mesmo tempo que numerosas espadas enfrentavam a poderosa Bakusaiga, o som metálico das lâminas se chocando repetidamente soava quase como uma melodia, de tão ritmado e perfeitamente ensaiado que era.

Sesshoumaru usou seu golpe supremo novamente, eliminando vários que já tinham se distraído depois do primeiro golpe. Apesar da quantidade incrível de corpos inanimados ao redor deles, os números ainda eram enormes.

Sesshoumaru girou para tirá-la do alcance de um grupo, e arfaram ao mesmo tempo quando perceberam que estavam completamente cercados. Youkais vinham de todas as direções. Um deles avançou, conseguindo perfurar o ombro de Sesshoumaru. O sangue espirrou sobre a humana atrás dele, fazendo-a gelar em pavor.

O inuyoukai olhava ao redor, percebendo que não tinha mais como mantê-la fora da linha de ataque.

Mais um dos inimigos saltou à frente e segurou o pulso de Rin, e ela não pode segurar um grito de surpresa e medo. Antes que pudesse piscar, entretanto, a mão tinha sido cortada fora e o corpo do agressor havia sido chutado para longe, com tanta força que abriu uma fenda no círculo, carregando outros no caminho.

- Se afastem dela. - Sesshomaru disse, seu tom perigosamente furioso, embora sua fúria estivesse tão contida que provavelmente só Rin percebeu que estava lá.

Ouviram-se risadas ao redor, umas menos discretas do que as outras.

- Deixem ele por último. - Um dos homens sugeriu, seu rosto invisível na multidão que os rodeava. - Eu quero me certificar de que possamos ver a cara dele quando a humana estiver morrendo.

Sesshoumaru rosnou.

Os oponentes avançaram novamente.

O inuyoukai começou a vibrar levemente, seu corpo esquentando enquanto seu rosnado ficava assustadoramente alto. Uma aura vermelha o envolveu, o seu poder esmagador emanando de seu corpo, fazendo seus cabelos e roupas esvoaçarem ao seu redor. Rin tentou dar um passo instintivo para trás, mas Sesshomaru a manteve no lugar firmemente, enquanto ele começava a mudar, a crescer...

Sua forma se transformou e, de repente, Sesshoumaru era um enorme cão coberto de uma generosa pelagem densa e branca. Seus dentes afiados estavam à mostra enquanto ele salivava uma substância altamente venenosa. Rin cobriu o rosto com a manga do quimono, sabendo que não sobreviveria respirando o gás que a substância emitia.

O cão saltou sobre os inimigos rapidamente, varrendo o círculo ao redor com sua enorme pata. Então se voltou para a humana e seus dentes se prenderam em suas roupas. Ele levantou a cabeça, carregando-a junto e lançando-a para o alto. Ela gritou, assustada, enquanto voava pelo ar, mas pousou confortavelmente no meio da pelagem em suas costas. Rin quase caiu quando ele saltava de volta para a luta, mas consegui se segurar em seus pelos a tempo de recuperar o equilíbrio.

O exército lutava, raios de luz para todos os lados e rosnados de Sesshoumaru ecoando. De vez em quando, o cão emitia um leve ganido, deixando claro que estava sendo ferido. Porém, continuava batalhando bravamente, os inimigos continuavam vindo, apenas para serem destroçados por dentes e garras. Entretanto, com seu enorme tamanho, o canino também era um alvo fácil para espadas e lanças.

Sesshomaru aproveitou a vantagem daquela forma para saltar facilmente entre os oponentes, procurando sair do círculo de youkais, para deixar Rin em um lugar seguro, mas dentro do seu campo de visão. Uma vez que suas pesadas patas pousaram em um espaço livre, deixando o exército às suas costas, ele abaixou a cabeça, emitindo um som para que Rin descesse. Ela saltou, caindo sentada sobre a neve fofa e ele rapidamente voltou para a batalha.

A luta se arrastava, e parecia que o exército nunca terminaria. A noite avançava sobre eles como um mal presságio, e Sesshoumaru ainda lutava incessantemente, devorando corpos inteiros com uma só mordida, o som de ossos se rompendo sob dentes molares poderosos eram audíveis mesmo à distância que a humana se encontrava do epicentro da batalha.

Rin podia ver que ele ficava cada vez mais ferido, era claro que ele usava aquela forma para impedir melhor o avanço dos inimigos sobre ela. Caso contrário, estaria usando a Bakusaiga e tendo mais sucesso em aniquilar os desafiantes. Ele estava totalmente focado em mantê-la segura, por isso a postura dele estava tão vulnerável. Se Rin não estivesse ali, ele jamais adotaria uma postura de luta tão aberta.

Ele está perdendo as forças... Ela pensou, desesperada. Por um momento, pensou em pegar uma espada de algum dos soldados mortos no chão e partir para ajudá-lo, mas desistiu rapidamente, sabendo que não conseguiria abater nem mesmo um antes de acabar tendo a própria cabeça cortada por algum deles, inutilizando todos os esforços de seu protetor até então.

Antes que Rin pudesse começar a se culpar por tudo aquilo, um rosnado diferente chamou sua atenção. De repente, um tigre enorme se elevava sobre o campo de batalha, embora não tão grande quanto Sesshomaru. Rin arregalou os olhos, cobrindo a boca com ambas as mãos para suprimir um grito.

Um daiyoukai!

O tigre enfrentou diretamente o cão demoníaco, que à essa altura já estava esgotado de toda a batalha. Dentes se enterraram no pescoço de Sesshomaru, passando facilmente pela densa juba de pelos brancos, cortando pele e músculos com violência.

Quando era pequena, Rin costumava pensar que Sesshomaru era invencível. Não demorou para que ela começasse a aprender que ele também sangrava, que ele também perdia. E, embora sua fé nele fosse quase inabalável, por um momento ela sentiu genuíno medo. Não pelo que pudesse acontecer com ela caso apenas um daqueles youkais malignos pusessem suas mãos nela, mas pelo que aconteceria a ele se aquela luta não se equilibrasse logo.

O cão guinchou, fazendo o coração de Rin doer diante do som. Parecia que, quanto mais ela rezava, pior a situação ficava. Ela observou em desespero, incapacitada, enquanto tigre forçava a cabeça de seu senhor para o chão, afundando-o na neve, uma pata gingantesca pressionando a lateral do crânio com mais força, o pelo alvo impecável rapidamente ficando maculado de sangue.

- Não! – A humana gritou, horrorizada. Aquilo não podia estar acontecendo! – Senhor Sesshomaru!

Lágrimas escorriam livremente pelo rosto dela e Rin já se preparava para ir ao auxílio do inuyoukai, um pé hesitantemente tomando a frente. Ela sabia que seria inútil, mas, àquela altura, não importava. Se o tigre fosse bem sucedido, então nada mais importaria. O mínimo que ela podia fazer era não ficar ali parada como uma tola enquanto Sesshomaru sangrava por ela.

Os olhos deles se conectaram por um instante, os dela castanhos e molhados com lágrimas geladas, os dele vermelhos e molhados com sangue quente. Rin, decidida, deu o primeiro passo, ignorando o rosnado de aviso que Sesshomaru lançou para ela, os olhos quase implorando para que ela não saísse do lugar, ao mesmo tempo em que tentava resistir contra o tigre que ainda tentava romper os ligamentos de seus músculos por baixo da pelagem. Indepentende da vontade dele, ela sabia que não teria muita escolha, observando os outros youkais inimigos começarem a vir na direção dela, uma vez que seu defensor se encontrava imobilizado.

Ela parou, mas não por causa dos rosnados que a comandavam indiretamente a fugir, e sim devido a uma estranha vibração ao redor de seu pescoço.

Rin olhou para baixo, para a Meidou Seki, segurando-a hesitantemente quando-

Um grande portal se abriu à sua frente, a escuridão do submundo visível do outro lado. Fez-se um som de oco, de vazio e então-

De dentro do portal, saltou um impressionante cão do inferno, sua forma preta e grotesca chamando a atenção de todos os guerreiros.

Rin mal teve tempo de ficar chocada com a invocação, pois, imediatamente, o peso excessivo da fera negra causou o colapso do chão onde ela pisava.

Ela não havia percebido que estivera o tempo inteiro sobre um lago congelado, e pode apenas gritar antes de ser engolida completamente por águas impossivelmente geladas, o frio imediatamente paralisando seus músculos, impedindo-a de nadar propriamente.

O monstro infernal não se preocupou com a situação de sua invocadora, correndo em direção aos inimigos, raivoso e irracional. Um a um, ele começou a devorá-los, até chegar ao tigre que ainda mantinha o pescoço de Sesshomaru entre suas presas.

Os dentes do cão do inferno fincaram nas costas do felino listrado, forçando-o a largar o cão branco para se defender do novo ataque.

Os olhos vermelhos de Sesshomaru só conseguiam olhar a cratera de gelo quebrado, preenchida com água gélida.

Assim que se viu livre da mandíbula do tigre, ele transformou de volta para sua forma bípede, sem se importar com a poça de seu próprio sangue se formando na neve branca aos seus pés.

- Rin! – Ele gritou, tentando voar até ela, mas seu youki enfraquecido não respondia. Ele mal podia enxergar, sua visão embaçada pela perda de energia e de sangue.

Imediatamente, inimigos voltaram a atacá-lo, insensíveis para a tragédia que se desenrolava, e Sesshomaru desesperadamente procurava eliminá-los, usando toda a sua força restante para tirá-los do caminho, para que ele pudesse chegar até ela antes que ela se afogasse. Ou congelasse.

- Eu sabia que sua cara ia ser impagável quando a visse morrendo. - A mesma voz de antes comentou, provocante, enquanto Sesshomaru passava por seu portador. O estranho gargalhou. - Você parece um homem à beira do fim do mundo!

Com garras e com a lâmina da Bakusaiga, ele foi abrindo caminho entre os youkais. Alguém atravessou o abdômen dele com uma lança enquanto ele passava, fazendo aumentar a quantidade de sangue derramada sobre a neve. Sesshomaru retirou a lança, puxando-a pelo cabo, mais sangue jorrando pela abertura do ferimento, mas ele não parecia se importar. A única coisa que importava era chegar até Rin antes que fosse tarde demais. O último adversário entre ele e seu objetivo foi cortado ao meio verticalmente, o inuyoukai passando rapidamente entre as duas metades do corpo multilado que caíam, uma para cada lado.

Sem hesitar, ele guardou a Bakusaiga na bainha, se atirando no lago quando o alcançou, a temperatura surtindo pouco efeito sobre seu corpo resistente. Sesshomaru não demorou a ver o corpo de sua protegida flutuando a esmo na água escura, rapidamente tratando de tomá-la nos braços e tirá-la dali.

Alcançando a margem, ele a colocou deitada sobre o gelo, seus olhos preocupados observando-a cuidadosamente. A pele estava adquirindo um tom perturbadoramente azulado, os lábios, antes perfeitamente rosados, agora estavam roxos. Se ele não pudesse ouvir as fracas batidas do coração dela, acharia que estava morta.

Não, tudo menos isso.

Imediatamente, ele começou a repetidamente pressionar as palmas das mãos contra a caixa torácica da humana, tentando tirar a água acumulada de seus pulmões.

- Rin, acorde, por favor. – Ele se viu implorando, sua respiração acelerando em desespero. – Rin, por favor, não...

Ele não pode conter um suspiro de alívio ao vê-la começar a tossir, água brotando livremente de seus lábios. O inuyoukai apoiou as costas dela delicadamente, procurando ajudá-la a respirar, mas acabou abraçando-a contra o peito, o rosto se enterrando no cabelo molhado dela, sentindo o cheiro que ela emanava como se fosse tão precioso quanto o próprio ar que ele respirava, como se fosse desaparecer se ele a soltasse por um instante.

- Se-senh-or Se-ssh-oma... – Ela tentou dizer, sem muito sucesso.

Ele não conseguia colocar em palavras dentro de sua própria cabeça o tamanho do desespero que sentia só de imaginar que podia tê-la perdido em um ínfimo instante. Ele nem conseguia vislumbrar o que ele faria se tal destino caísse sobre ela, depois de todos os esforços que ele aplicara para vê-la sadia e segura acima de tudo. Sesshomaru, pelos motivos mais óbvios, nunca fora um crente, mas naquele momento ele se viu agradecendo silenciosamente a todos os deuses que pudessem estar ouvindo, se viu agradecendo por cada batida daquele tênue coração.

O nobre e imponente youkai chegava a estremecer só em pensar em como a vida era frágil, em como o acaso podia ser cruel e perturbador. Ele não tinha nada sob controle, nada. Tudo podia ser tirado dele em um piscar de olhos e ele apenas queria mantê-la isolada do mundo naquele abraço, como uma negação a tudo de mais provável e inevitável, ao fato de que ele ia ter que dizer adeus à ela cedo ou tarde, senão agora, logo... Em breve...

Tão breve...

Não...

Sesshomaru estivera tão preocupado com a falta de respiração dela e tão aliviado com o reestabelicemento desta, que só agora percebia que ela tremia violentamente. O vento gelado da noite não ajudando em nada a parar o fluxo de calor que era continuamente roubado do corpo dela.

Estarrecido, ele foi obrigado a voltar à realidade que continuava a tentar roubá-la dele a todo instante. Como se ele simplesmente não tivesse permissão para ter um pouco de paz, como se fosse algum tipo de punição por todo o mal que ele causou à humanidade. Rin não estava morta, mas ela ainda estava morrendo...

Antes que ele pudesse pensar em algo para ajudá-la, um rosnado chamou sua atenção de volta para a batalha. Ele via que estava terminada. O cão do inferno era o único remanescente, mas agora se dirigia até eles, os dentes expostos em ameaça.

- C-ccu-ida-do! – Rin conseguiu gritar, apavorada que o monstro que ela mesma invocara agora quisesse matar seu senhor também.

Sesshomaru se pôs de pé com dificuldade, esperando o cão vir até ele. Quando o ataque era iminente, a Tenseiga foi sacada, sua lâmina cortando a fera negra facilmente ao meio, fazendo a aparição dissolver em pleno ar, como se não tivesse passado de um pesadelo.

Mais importante do que aquilo era o som inconstante das batidas do coração de Rin. Ele rapidamente voltou para ela, descuidadamente deixando a Tenseiga jogada pelo chão enquanto ele usava suas mãos para segurar seu rosto e avaliar suas condições. Suas roupas estavam encharcadas, seus dentes repetidamente se chocando uns contra os outros, ela parecia distante, como se estivesse zonza. Ele precisava tirá-la daquele lugar, levá-la para uma região mais quente. Se não fizesse algo, ela certamente morreria logo.

Sesshomaru pensou suas opções freneticamente, descartando a possibilidade de mandar Ah-Un voar com ela em direção ao sul. O vento gelado na altitude, em alta velocidade, acabaria matando-a ainda mais rapidamente. Eles ainda estavam muito dentro do território nortenho, embora longe da civilização.

- O s-ssen-hor... – Ela tentou dizer, observando-o de onde estava sentada. – E-est-á f-f-f-feri-do...

O inuyoukai bufou. Claro que, mesmo à beira da morte por hipotermia, a menina ainda se preocupava com ele. Sua expressão rapidamente voltou à preocupação quando ventou mais forte, e ela tremeu mais, tentando se encolher sobre si mesma o máximo que conseguia.

Se eu não fizer alguma coisa, qualquer coisa, ela não resistirá, ele pensou, se apressando para pegá-la nos braços, decidido a levá-la para mais perto das árvores, afim de pelo menos bloquear um pouco a ação do vento. Rin se agarrou a ele como a única fonte de calor presente, os braços envolvendo o pescoço do youkai desesperadamente, o rosto se pressionando contra a garganta dele. Quando chegaram até a floresta congelada, Sesshomaru já sabia o que fazer.

Ele a colocou no chão e teve que segurá-la pela cintura quando as pernas dela não responderam. Ele não hesitou em retirar os pesados quimonos encharcados, junto da pelagem, de sobre os ombros dela. Rin permitiu que ele o fizesse, mas seus olhos se arregalaram quando as mãos de seu salvador foram até suas costas, facilmente desfazendo o laço do obi que prendia os quimonos internos no lugar.

- Não pode vestir essas roupas molhadas. – Ele explicou, vendo a surpresa na expressão dela.

Ele acenou para Ah-Un, chamando-o para mais perto, para que ele pudesse pegar um dos lençóis de Rin na bagagem da montaria. Uma vez que o tinha em mãos, ele rapidamente tratou de despi-la completamente, fazendo com que ela arfasse em constrangimento, tentando cobrir suas intimidades da vista dele. Ele evitou olhar para ela, apenas a envolvendo no lençol seco, deixando que ela se cobrisse com ele.

Finalmente ela estava coberta e um pouco menos congelada, mas ainda sentindo a temperatura de seu corpo perigosamente baixa. Porém, Rin mal teve tempo de se recuperar da situação constrangedora que passara, vendo Sesshomaru começar a desfazer as amarras da própria armadura, deixando as pesadas peças de metal e couro caírem sobre a neve aos seus pés. Assim que se viu livre da proteção extra, o youkai tratou de remover o haori banhado em água e sangue, revelando ferimentos gravíssimos por toda a extensão de seu tronco.

Rin não teve como ficar envergonhada ou fascinada de vê-lo semidespido, tamanho o choque de vê-lo naquele estado. Estava muito ferido, e continuava a sangrar mesmo agora.

Sem suportar mais o próprio peso, Sesshomaru se deixou cair sentado contra uma árvore, soltando uma lufada de ar com a pontada de dor que o movimento trazia.

- Venha aqui, Rin. – Ele chamou, observando que o lençol fino fazia pouco para manter o calor que ela precisava dentro de seu corpo.

Ela obedeceu prontamente, fazendo suas pernas dormentes se moverem até ele com dificuldade, cambaleante. Quando estava perto o bastante, Sesshomaru a puxou delicadamente pelo pulso, fazendo-a sentar confortavelmente sobre o colo dele. As mãos do youkai trataram de abrir o lençol que a envolvia, apenas o suficiente para exibir a frente nua de seu corpo delicado, a pele ainda azulada de frio.

Aturdida, Rin tentou fechar o tecido de volta, mas as mãos de Sesshomaru a pararam, puxando-a para mais perto dele em vez disso. Ela mal podia respirar quando sentiu seus seios se pressionarem contra o peito nu dele, não conseguia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.

- Calor corporal é muito mais eficiente do que um pedaço de pano. – Ele explicou, mantendo-a aquecida em seus braços, sentindo a pele gélida dela contra a dele, sabendo que ela finalmente estava absorvendo o calor de que precisava.

Apesar de extremamente envergonhada, Rin não podia resistir ao alívio de finalmente estar em um lugar quente. Não achava que poderia suportar o frio por muito mais tempo.

- O-obri-ga-d-d-a. – Ela agradeceu, se aconchegando no abraço caloroso, tentando inconscientemente colocar o máximo possível de sua pele em contato com a dele, apesar da bagunça de sangue fresco que se espalhava pelos dois corpos colados, devido aos ferimentos excessivos do youkai.

Ela encostou uma bochecha no ombro dele, e ele, por sua vez, apoiou o queixo sobre o topo da cabeça dela, fechando os olhos, finalmente podendo relaxar sabendo que ela estava segura. Seus braços fortes se apertaram mais ao redor do corpo magro e frágil, aproximando-os ainda mais, se aquilo fosse possível.

- Não me assuste mais dessa maneira. – Ele disse, a voz estranhamente suave.

- A-as-sustar? – Rin questionou, confusa. Susto implicava medo, e medo era um conceito que ela nunca antes associara a Sesshomaru.

Ele se afastou o bastante para olhar o rosto dela, fazendo-a se derreter no fundo daqueles olhos de ouro líquido.

- Achei que fosse perdê-la. – Ele respondeu, a voz transbordando honestidade.

Rin o encarou em absoluto choque, mas logo sua expressão se dissolveu em um delicado sorriso. Seus braços envolveram a cintura dele, suas mãos sentindo os músculos perfeitamente definidos por onde passavam.

- Me desculpe, senhor Sesshomaru. – Ela disse, seus dentes finalmente parando de bater.

- Desculpar você? Pelo que?

Ela abaixou a cabeça, desviando os olhos para a única coisa que a impedia de estar completamente nua, além do lençol sobre suas costas. A Meidou Seki.

- Eu acidentalmente abri aquele portal, foi minha própria culpa o que aconteceu. – Ela confessou, decepcionada consigo mesma.

Sesshomaru pousou um dedo indicador sob o queixo dela, erguendo-o, para que ela o olhasse nos olhos.

- Se não fosse pela sua invocação, aquele tigre provavelmente teria despedaçado o meu pescoço.

A humana o olhava com olhos arregalados, não querendo nem imaginar que tal coisa poderia ter acontecido e que só não acontecera devido a algo completamente acidental. Ela observou o rasgo na lateral esquerda do pescoço do youkai, ainda horrorizada com a profundidade.

- Deixe-me tratar disso, meu senhor, por favor. – Ela pediu, tentando se soltar para pegar os medicamentos que trouxera com Ah-Un.

Mas os braços de Sesshomaru ao seu redor eram firmes como aço, restringindo-a.

- Descanse. – Ele comandou. – Eu vou ficar bem.

Fique aqui só mais um pouco. Ele acrescentou em pensamento, pressionando a lateral do rosto contra o dela, sentindo que podiam ficar ali para sempre, daquela forma, e ele não se incomodaria.

Eles sentaram em silêncio por longos momentos, deixando que o único som fosse o vento passando pelas frestas entre as árvores. Ela tentou ficar quieta a princípio, mas logo começou a mudar de posição, procurando esquentar as partes que estavam expostas ao frio por muito tempo. E Sesshomaru se movia com ela, ajustando a posição para melhor acomodá-la. Em algum momento, as mãos dele estavam sobre as costas nuas dela, por baixo do delicado lençol.

Logo ele estava correndo garras afiadas, mas gentis, sobre a pele suave, inevitavelmente relaxando os músculos congelados da humana por baixo. Ela se surpreendeu com o toque no início, mas rapidamente se acostumou às carícias, suspirando em satisfação e contentamento.

- Hmm... – Ela murmurou, o nariz encostado no pescoço do youkai. – Isso é tão bom...

Completamente envolvido naquele momento, ele não parecia capaz de se controlar. Era quase como se não fosse ele mesmo, como se fosse apenas um observador, olhando de longe aquele casal abraçado na neve. Como se ele não fosse responsável pelos próprios atos ou pelas próprias palavras.

Depois de tudo que havia acontecido naquela noite fatídica, ele não queria nada mais do que tê-la junto a ele, do que ouvir a voz dela tão satisfeita e tranquila. Ele detestava ter que vê-la assustada ou com medo e, mais do que tudo, detestava vê-la ferida ou correndo risco de vida. Aquele momento era tudo que ele precisava para ter certeza de que ela estava a salvo, e ele se regozijava dele completamente. Pela primeira vez, Sesshomaru não estava contendo nada. Ele estava permitindo a si mesmo fazer tudo que fizesse aquela humana feliz, tudo que pudesse confortá-la, descobrindo que isso confortava a ele também.

- Isso a agrada?

- Muito. – Rin respondeu honestamente, os olhos fechados, os lábios sorrindo, como se estivesse no meio de um sonho muito bom.

Ele prosseguiu, deixando que os dedos percorressem o caminho ao longo da coluna dela, estranhamente entretido quando ela se arrepiou. Ali estava o temido príncipe guerreiro Sesshomaru, enterrando o nariz nos cabelos negros de uma mulher humana apenas para aspirar seu doce aroma. Como se apenas aquilo não fosse o suficiente, ele comentou:

- Isso é agradável também. O seu cheiro.

O sorriso de Rin se alargara. Em outra ocasião, um comentário como aquele vindo de seu senhor a teria deixado em choque, mas, àquela altura, ela estava apenas aproveitando cada segundo e jogando de acordo com as regras dele.

- Que cheiro eu tenho, senhor Sesshomaru?

- Algo como... capim-limão. – Ele revelou, analisando o aroma e tentando associá-lo a coisas que ela conhecia. – E pêssegos. Doces e maduros.

Ela riu, o som alegre enchendo os ouvidos do youkai, enchendo-o de um sentimento que ele ainda desconhecia, e preferia ignorar no momento.

- Eu gosto do cheiro do senhor também. – Ela disse, timidamente.

Aquilo o fez erguer uma sobrancelha. Pelo conhecimento dele, humanos não podiam sentir o cheiro de criaturas, suas essências. O olfato deles era extremamente subdesenvolvido, precário. Curioso, ele deixou a pergunta escapar:

- E como seria o meu cheiro?

- Hmm, deixe-me ver... – Ela ponderou por um instante, se permitindo respirar fundo de sua posição privilegiada, com o nariz tão perto do pescoço dele. – É amadeirado, como seiva, o cheiro das florestas...

Ele bufou com a resposta, inconscientemente mudando o padrão de suas carícias, agora desenhando preguiçosos círculos nas costas dela.

- Eu sou um cão. Não tenho cheiro de plantas.

Rin riu ainda mais com a réplica, um pouco envergonhada de sua descrição pobre de algo tão nobre quanto Sesshomaru.

- Bem, eu sou humana, e o senhor disse que eu tenho cheiro de plantas. – Ela justificou, tentando defender sua perspectiva.

O rosto de Sesshomaru deslizou pelo cabelo úmido dela, escorregando até que seus lábios estivessem diretamente em frente ao ouvido dela. E então, ele sussurrou:

- Não, Rin. Eu disse que você tem cheiro de comida.

Delicioso, ele completou em pensamento o que ele jamais diria em voz alta.

Suas palavras pegaram a humana de surpresa, fazendo-a se afastar para olhá-lo, os olhos levemente arregalados, as sobrancelhas arqueadas. Ele a olhou de volta com uma expressão cômica tão discreta que somente ela poderia reconhecer.

- Não se preocupe. – O youkai procurou tranquilizá-la. – Se eu quisesse devorá-la, estaríamos tendo uma conversa completamente diferente agora.

Sesshomaru nunca tivera apetite para humanos. Os considerava tão insignificantes que não eram dignos nem mesmo de servir como alimento para alguém como ele. Por outro lado, ultimamente, quando ele pensava na suposta insignificância dos humanos, havia sempre aquela excessão: Rin.

Mas, se ela parecia, de alguma forma, apetitosa, definitivamente não era no sentido literal.

- Eu não tenho medo do senhor. – Ela respondeu, demonstrando sua confiança inabalável naquele inuyoukai que continuava a abraçá-la noite adentro.

Normalmente, o inuyoukai se sentiria, no mínimo, ofendido com um comentário daqueles. Como se ele não fosse uma criatura digna de causar medo em reles humanos. Naquele momento, entretanto, ele apenas soltou ar pelo nariz em uma semi-risada discreta. Não havia sentido em negar que ela realmente era, provavelmente, o único ser vivo que não tinha mesmo motivos para temê-lo.

- Jaken tem razão. - Ele disse, por fim. - Eu estou te mimando demais.

- Mas não o suficiente. - Ela murmurou livremente em contrapartida, reajustando sua posição mais uma vez, aconchegando-se contra ele.

Sesshomaru fechou os olhos, concentrando-se no som do vento e, definitivamente, não na forma como o traseiro dela se pressionava no colo dele naquele momento...

- Não, - Respondeu, distraidamente enrolando a ponta de uma mecha comprida do cabelo dela ao redor de seu dedo indicador. - Não o suficiente.

xXx

Quando Rin pegou no sono, ele apenas a aninhou contra o peito, deixando-a descansar e se aquecer à vontade. Tê-la tão perto era a melhor forma de confirmar que ela estava realmente viva e inteira, e ele não parecia ser capaz de romper o contato físico com ela, mesmo que ela já estivesse quente o suficiente para viajar mais ao sul em segurança, para o clima era realmente mais ameno.

- Senhor Sesshomaru... – Ela sussurrou em seu sono, um sorriso tão doce e caloroso quanto a luz do sol em seu rosto adormecido.

Ele se inclinou sobre ela, observando a bochecha pálida, ainda gelada quando ele encostou o nariz na pele macia. Absorvendo o cheiro dela, ele deslizou o nariz até a têmpora, seus lábios automaticamente tocando a lateral do rosto. Aproveitando da proximidade, ele a lambeu sobre a bochecha, a língua quente rapidamente cessando a perda de calor que o clima gelado provocava naquela região exposta do corpo dela.

Rin se mexeu um pouco no colo dele, mas não acordou. Ele afastou o rosto do dela, se contentando apenas em observá-la, liberando uma lufada de ar que saiu por sua boca como uma nuvem de névoa branca. Seus pensamentos eram tumultuosos e confusos.

Mas o que eu penso que estou fazendo, afinal?


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c2.staticflickr.com/6/5327/30355719793_3523158de5_b.jpg [AVISO: a imagem tem sugestão de nudez, embora não seja explícito. Sei lá, vai que]

ENTÃO! Primeiramente, como de costume, quero agradecer pelos reviews e favoritagens hahaha
Segundamente, espero que vocês tenham gostado desse capítulo, eu já escrevi ele há tanto tempo e tava até os 45 do segundo tempo mudando coisas pra tentar deixá-lo ainda melhor. Espero que tenha agradado!

Um agradecimento especial ao meu namorado que me ajudou a desenhar essa pose dessa fanart que eu não tava conseguindo fazer como eu imaginava de jeito nenhum <3

Não deixem de comentar se tiverem um tempinho!
Beijos e até logo! ;)


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