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História Unintended - Aceitação


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá de novo!!! Consegui chegar a tempo pro Reveillon? Até meio adiantada né?
Esse capítulo extra na semana é um presentinho de natal atrasado pras melhores leitoras que me acompanharam até aqui e esperaram pacientemente (ou nem tanto assim) enquanto estava no meu pequeno hiatus. Vocês são demaisss!!!
E olha, já adianto que extrapolei totalmente no limite de palavras, então se preparem pra sentar a bunda aí e lerem! Juro que não vão se arrepender! :D

Capítulo 22 - Aceitação


-  Rin, você está sentindo dor? - Asai perguntava, ajudando a amiga a se sentar em seu futon.

- Não... Estou bem.

- Então por que está chorando desse jeito? - A lontra tinha as sobrancelhas franzidas, claramente preocupada com a condição da humana.

- Asai, só me deixe sozinha, por favor. - Rin pediu, tentando esconder o rosto choroso, virando-o para o lado oposto.

A criada se endireitou, pensando no que devia fazer. Estava realmente preocupada.

- Eu vou chamar o senhor Sesshomaru. - Ela decidiu, indo para a porta. - Ele saberá o que fazer.

- Não!  - Gritou a jovem em desespero. - Eu não quero vê-lo!

Fez-se silêncio no quarto por um momento, somente os soluços de Rin sendo audíveis. Asai se afastou da porta, abrindo caminho e se curvando em seguida.

- Ele já está aqui.

Sesshomaru entrou no quarto sem cerimônia, indicando com um gesto para que a criada se retirasse.

A partir do momento em que eles ficaram a sós, o ambiente no quarto parecia ter mudado, o ar parecia mais pesado e era como se fosse o peso extra do próprio silêncio que se instalara enquanto nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer.

Rin não conseguia pensar em qualquer explicação para dar e Sesshomaru não sabia se ao menos queria perguntar à ela o que estava acontecendo, já tendo um bom palpite sobre aonde aquele assunto os levaria.

As lágrimas dela diziam tudo, se derramando em gotas espessas e translúcidas das verdades mais transparentes possíveis. No fim das contas, ele não realmente precisava perguntar, a resposta estava exposta bem ali, como um clarão de luz que ambos relutavam em reconhecer. Mas, se você ignora o trovão, isso impede que o raio caia de qualquer maneira? Se você fingir que não ouviu, isso diminuirá os danos causados quando céu e terra se conectam por um fio luminoso de destruição?

Não, eles estavam diante de um verdadeiro desastre natural. Implacável, imparável e absolutamente devastador. Haviam fechado os olhos para os avisos por tempo demais e não havia mais nada a ser feito. Mas ainda muito a ser dito.

Ele se aproximou da humana que se esforçava para manter os olhos longe dos dele, o rosto virado na direção oposta. Uma vez que ele chamasse seu nome, ela seria obrigada a olhar, forçada pela hierarquia existente entre eles. Por um longo tempo, ele não chamou. Ainda não estava preparado para olhá-la nos olhos, isso só tornaria o desastre ainda mais inevitável e iminente.

Como um relâmpago que vinha para lembra-lo de que ele não podia fugir, ela deixou mais um soluço escapar. Finalmente, ele falou:

- Rin.

Os ombros dela se mexeram brevemente com o som, se encolhendo um pouco mais, como quem tenta se esconder. Mas, ali, eles se encontravam em campo aberto, sem esconderijos disponíveis. Ela começava a aceitar também que deveria enfrentá-lo cedo ou tarde, não havia escapatória da situação onde ela se enfiara.

Fazendo o seu melhor para engolir o choro e enxugar as lágrimas, ela finalmente se virou para olhá-lo.

- Sim? – A voz ainda estava embargada, mas compreensível.

Ouvi-la daquela forma, por algum motivo que ele desconhecia, o incomodava profundamente. Ele reconhecia facilmente a fragilidade no tom, a vulnerabilidade dela, e isso normalmente seria o suficiente para explicar o motivo de seu incômodo. O youkai desprezava aquele comportamento, aquela demonstração de fraqueza.

Entretanto, vindo de Rin, o sentimento que despertava nada tinha a ver com desprezo. Era quase uma inquietação, uma crescente necessidade de ampará-la, de confortá-la até que aquele estado de espírito deprimente passasse. Não parecia certo que ela chorasse. O rosto de Rin era feito apenas para sorrisos.

- Foi um pouco indelicado da sua parte sair daquela maneira. – Sesshomaru começou por fim, decidido a ignorar os impulsos que as lágrimas brilhantes escorrendo pelas bochechas coradas dela provocavam. – Se sua saúde está sendo negligenciada, você deveria ter me informado de antemão.

Rin parecia surpresa com a conclusão a que ele chegara, embora Asai também tivesse pensado, a princípio, que ela estava sofrendo de algum tipo de dor física intensa. Mas Sesshomaru sabia bem que não era aquele o caso, apenas tendo escolhido abordar o assunto como uma tentativa vã de evitar o tópico verdadeiro.

- Minha saúde está ótima, senhor Sesshomaru. – Ela respondeu, após tomar um longo fôlego.

Rin teve que lembrar mais uma vez de que não havia escapatória. Você deve fugir quando não pode lutar, mas se não pode fugir, então deve lutar. Ela sabia bem disso. E havia uma parte dela que ansiava por essa exposição e pela promessa de alívio que viria com ela, independente do que acontecesse depois.

– Mas sim, há algo de que eu deveria tê-lo informado... Senhor Sesshomaru, eu acho que lhe devo uma confissão.

Apenas duas simples palavras preencheram o curto silêncio que se sucedeu, suaves como uma pluma, mas pesadas como um machado de guerra:

- Eu sei.

Aquelas duas breves palavras ganharam toda a atenção da humana, o rosto se voltando completamente para ele, com olhos que pareciam assustados, como se ela de repente estivesse encarando um inimigo ao invés de seu maior aliado e protetor.

- O-o senhor sabe?

Sim, ele sabia, mas desejava que não soubesse. Ele realmente desejava que Rin nunca tivesse decidido confessar, mas sabia também que era um desejo tolo. Cedo ou tarde, ele teria que encarar aquela fissura que já havia se aberto há algum tempo no meio da estrada por onde Rin e ele caminhavam. Enquanto eles não resolvessem aquele impasse, nenhum dos dois poderia avançar.

- Chegou à minha percepção que você tem se deixado levar por aqueles supostos sentimentos humanos.

Rin se acuou, ainda não completamente recuperada da sensação de medo que se alastrara sobre ela. Ela havia pensado que finalmente estava pronta para dizer em voz alta o que sentia, mas ouvir o objeto de suas afeições dizer por conta própria em seu lugar era, de certa forma, muito mais aterrorizante.

Ela se sentia como uma idiota, aquele tempo todo tentando manter tudo aquilo por baixo dos panos, pensando ser a rainha da discrição. E, durante todo aquele tempo, estava tudo escrito bem na cara dela! Era como se ela tivesse estado nua e só agora estava se dando conta disso.

Ele sabia... Ele sabia... Deuses, ele sabia!

Mas, à medida que a compreensão a invadia, a sensação de absoluta vergonha e humilhação começou a ceder lugar para a mágoa e a raiva.

Ele sabia!

E nunca deu a mínima.

Sesshomaru assistiu em silêncio enquanto a humana parecia entrar em desespero a sua frente, cedendo à ela todo o tempo do mundo para se recuperar daquela simples revelação. Quando a voz dela finalmente soou, era baixa e acuada, como ele imaginara que seria.

- O senhor sabia o que eu sinto pelo senhor...

Rin finalmente pôs-se de pé, ficando o mais próxima do nível dele que sua baixa altura permitia e, então, ela levantou os profundos olhos amendoados para olhá-lo e por aquilo ele não estivera esperando.

Se ele se esforçasse, podia se lembrar de ter visto Rin realmente brava ou realmente decepcionada com alguém antes. Mas, nem mesmo com todo o esforço do mundo, ele conseguiria lembrar de ela direcionar aquele olhar para ele.

A forma como ela o olhava era quase como se ele a tivesse traído da forma mais desprezível possível. Como se tivesse jurado que ela podia confiar nele, apenas para apunhalá-la pelas costas assim que ela se virasse.

- Senhor Sesshomaru... O senhor sabe que eu o amo então... Por quê?

A pergunta terminou de forma abrupta, quase estrangulada, como se a energia necessária para pronunciá-la tivesse se esgotado por completo naquele último instante, a voz falhando na última sílaba.

Sesshomaru não realmente compreendia o que ela quis dizer. Por que o quê? Por que ele nunca agiu? Por que ele nunca correspondeu? Ele achava que a resposta seria bem óbvia, dispensando a necessidade de perguntas desse tipo.

Ele era um youkai e ela era humana. A combinação daqueles dois fatores explicava perfeitamente sua inércia, pois o relacionamento deles só podia chegar até um certo limite, e ele não queria ousar ultrapassá-lo. Entretanto, se pudesse, se fosse de outra forma, ele iria querer? Ele poderia desejá-la?

Mas não era isso que Rin queria saber afinal. Não queria saber por que ele não tinha feito nada e sim porque ele tinha feito tudo o que fez.

- Se o senhor sempre soube, por que continuou indo me visitar tão frequentemente quando eu ainda vivia no vilarejo? - Ela questionou em um tom acusatório, insubordinado. - E, como se não fosse o suficiente, por que o senhor trazia os mais belos presentes toda vez? Por que me deixou voltar a viajar com o senhor e continuou me protegendo?

Sesshomaru estava honestamente perdido em meio a tantas perguntas, quase se desligando delas para poder ao menos pensar, mas o som desconcertante do choro daquela humana o impediu de ignorar a situação que o envolvia. As respostas pareciam confusas e entrelaçadas, mas todos os motivos e razões tinham algo a ver com a necessidade incessante que ele sentia de vê-la feliz, de permitir a si mesmo um pouco de felicidade diante de uma vida inteira de ausência de emoções. Ele sempre viveu em um universo de sangue e escuridão, e por tanto tempo ele se satisfizera com apenas aquilo, mas... A partir do instante em que ele viu aquele brilho de luz, aquele pequeno arco-íris de sorrisos e bobas canções, era tão difícil convencer a si mesmo de que aquilo não era a melhor parte do mundo, um mundo do qual ele parecia incapaz de se privar novamente.

- Por que o senhor me trouxe até aqui? - Rin prosseguiu, a voz progressivamente aumentando de tom, indiferente às reflexões de seu interrogado. - Por que me deu tanto tratamento especial? Por que me fez me sentir tão especial, para depois beijá-la na minha frente e me fazer ver que eu não sou nada?! O senhor não se importa mesmo com a minha dor?

Ele tinha previsto a tempestade que enfrentariam, mas apenas prever nada fizera para ajudá-lo a estar preparado quando a enxurrada finalmente chegou.

Ele pensou que estava pronto para protegê-la dos danos, mas acabou por perceber que não conseguia proteger nem a si mesmo. Estavam ambos igualmente perdidos em meio a uma inundação e nenhum deles fazia ideia de como escapar com vida.

Rin já havia claramente decidido que, não havendo mais esperanças, só restava aceitar e deixar que acontecesse o que tivesse que acontecer. O youkai, por outro lado, não era dado a desistências e ainda procurava uma forma de responder a tudo aquilo sem agravar ainda mais o desastre que se desenrolava. Havia muita coisa que ele podia dizer, era verdade. Coisas no campo de “você significa muito mais para mim do que ela jamais irá”, mas aquilo estava longe de ser apropriado, correndo o risco de, inclusive, aumentar mais ainda um sentimento que ele sabia que nunca poderia alimentar.

E Rin tinha razão, ele finalmente entendeu o ponto aonde ela queria chegar. As respostas que ele havia mentalmente atribuído à cada uma daquelas perguntas, não importando o quão bem maquiadas estivessem, no fundo diziam respeito apenas a ele mesmo.

O que ele queria. O que ele sentia. O que satisfazia a ele. Seria mesmo verdade que absolutamente nada do que ele fazia era realmente por ela? Ele era realmente tão egoísta assim, a ponto de achar que, enquanto ela mantivesse sua paixão em segredo, ele nunca teria que lidar com aquele estranho sentimento e poderia simplesmente se aproveitar da parte deles que lhe convinha?

Sim, ele era egoísta. E ele sabia. Quando aquele simples fato sobre sua personalidade passou a ser um problema?

O silêncio se alastrou pelo quarto como uma névoa densa e pesada, enquanto Sesshomaru lentamente se dava conta de que ele a havia machucado de uma forma que ele jamais imaginou ser possível. Simplesmente por ignorar a informação de que aquela tola menina humana havia se apaixonado por alguém como ele, e seguido com sua vida como se não houvesse nada de errado, permitindo a si mesmo prosseguir em sua companhia, mesmo sabendo que jamais seria capaz de correspondê-la da maneira como ela esperava.

Como se Rin pudesse simplesmente compreender que ele devia ceder a uma demonstração física de afeto com Mizuno quando estivesse sob pressão social pública, levando em consideração a impaciência que ele mesmo provocara em seu próprio povo ao retardar tanto suas obrigações matrimoniais.

Ele realmente pensou que ela teria bom senso o suficiente para não se importar com nada daquilo, já que ela sabia, da própria boca dele, que o casamento era uma farsa infundada. Sesshomaru acabou esquecendo que o sentimento de amor dificilmente vinha acompanhado de bom senso, como seu próprio pai demonstrara ser verdade anos atrás.

Agora, ele devia se desculpar? E se, por mais improvável que fosse, ele fizesse isso, os problemas deles estariam resolvidos?

Sequer havia uma forma de resolvê-los?

Sesshomaru achava que não e Rin provavelmente concordaria com ele.

- Parece que eu falhei em perceber que tais coisas te incomodariam. – Ele falou por fim, e era o mais próximo de um pedido de desculpas que ele se permitia chegar. Pelo menos ele admitia parte da culpa. Devia ser o suficiente.

Rin deixou escapar um riso seco, quase não-intencional, mas não completamente.

- O senhor afirma saber que eu o amava mais do que deveria. Ao mesmo tempo, parece que nem ao menos faz ideia do que é isso.

Ele decidiu ignorar o humor melancólico na fala dela, não muito disposto a tentar compreender as facetas daquele sentimento tão confuso e incômodo sobre o qual ele sabia muito pouco – ou nada.

- Se todas essas coisas que você listou te causaram desconforto, você deveria ter me contado sobre. – Ele disse, livremente atribuindo a outra parte da culpa à ela mesma.

- Eu não podia. O senhor me odiaria se soubesse. O senhor detesta humanos.

- Mas eu sabia. E eu não detesto você, Rin.

Aquelas palavras, ditas se emoção alguma, provocaram a ameaça da aparição de um pequeno sorriso no rosto dela, mas este rapidamente esmaeceu para dar lugar a um rosto franzido.

- O senhor está fazendo aquilo de novo. – Ela disse, parecendo realmente desapontada. Talvez mais consigo mesma do que com ele. – Falando como se eu fosse sua exceção especial para tudo. Como se eu significasse alguma coisa.

E significa. Ele pensou, cauteloso para não dizer em voz alta e “fazer aquilo de novo”, como ela dissera. Ele apenas não sabia exatamente a extensão daquele significado.

 - Então você não está satisfeita com o que tem aqui. – Ele disse por fim, mas não foi sem dificuldade. - E eu não posso te oferecer muito mais do que isso, Rin.

Não havia mais motivos para eles continuarem jogando aquele jogo, fingindo que no fim das contas tudo se acertaria. No fundo, ele sempre soube que era uma questão de tempo até que a diferenças entre eles começassem a causar problemas irreparáveis. Era tudo tão mais fácil quando ela mal tinha altura para alcançar a cintura dele e só se preocupava em segui-lo por aí e colher flores.

Aquele seria o veredicto final. A confirmação do que o taijya alertara meses atrás. Não ia dar certo. Ele não se importava o bastante e ela se importava demais. Ele não demonstrava o bastante e ela demonstrava demais. Kohaku avisou que ela se arrependeria e tudo indicava que aquele momento havia finalmente chegado.

Lágrimas frescas escorriam pelo rosto jovial da garota, antecipando o luto pelo que estava por vir, como o relâmpago antecipa o trovão.

- Eu sei. – A voz dela não era mais que um sussurro. – Eu quis tanto que fosse o suficiente.

Mas não era.

Àquela altura, a tempestade parecia ter parado, deixando para trás apenas a sombria calmaria cercada por destroços. Escombros por todos os lados. Mas estava acabado, finalmente, e era isso o que realmente importava.

O nobre assentiu e, tranquilamente, virou de costas para ela, os longos cabelos brancos dançando na atmosfera densa que os envolvia, seguindo-o em direção à porta do quarto. Uma mão feminina e delicada impulsivamente segurou a manga de seu haori, impedindo seu avanço.

- Senhor Sesshomaru...

Ele estava cansado daquilo, toda aquela conversa continha mais drama emocional do que toda a sua relativamente longa vida. Ela parecia exausta também, mas a mão que o restringia ainda era firme, como se fossem suas últimas forças. Lentamente, o punho dela se afrouxou, deslizando pelo tecido inacreditavelmente suave da peça de roupa, deixando-se levar pela gravidade até que sua mão pousasse sobre a dele delicadamente.

Com dedos finos e unhas arredondadas, ela percorreu a palma da mão dele, que era coberta com uma pele resistente e dotada de garras afiadas treinadas para derramar sangue. A mão se virou sobre a dela, e os dedos se entrelaçaram por um momento.

Sesshomaru sabia que estava “fazendo aquilo de novo”, mas a sensação era boa demais para que ele pudesse se conter. Sim, ele era egoísta e cruel, mas ela seria uma tola se só agora se desse conta disso. Além do mais, ela havia começado.

- O senhor ainda não faz ideia... – Ela disse, ainda em voz baixa, a mão ainda na dele. Ele permanecia de costas para ela, voltado para a porta, pronto para escapar ao primeiro sinal de distração. – Do quanto eu o amo, não é?

Por algum motivo, aquela conversa era muito mais fácil para ele quando ela parecia com raiva do que agora, quando ela falava com aquele tom tão suave e doce. Ele estava de costas para ela, mas podia imaginar aquele característico sorriso se formando no rosto dela enquanto ela falava.

- Eu acredito que já estamos terminados com esse assunto, Rin.

Rin liberou um suspiro derrotado, finalmente recolhendo sua mão para si. Sesshomaru não se moveu, seu queixo mantido erguido e seus olhos firmes na saída à sua frente, a mão vazia parecendo estranhamente mais fria do que o normal.

- Eu entendo, meu senhor. Mas, se realmente estamos terminados, pode ao menos olhar para mim?

Honestamente, ele preferia não fazer aquilo, por mais singelo que parecesse o pedido. Dependendo do olhar que estivesse no rosto dela quando ele se virasse, o desfecho daquela prolongada conversa poderia seguir caminhos totalmente imprevisíveis. Ela tinha algum olhar secreto cujos truques ele ainda desconhecia, mas que guardava o poder de fazê-lo tomar as decisões mais inesperadas. Como, por exemplo, perguntar para uma garotinha humana praticamente desconhecida o que havia acontecido com o rosto dela, como se ele desse a mínima. Ou permitir que a humana previamente citada o seguisse em jornadas perigosas por aí. Isso depois de revivê-la com uma espada que ele nunca tinha tido a menor motivação para usar antes.

Sim, decisões inesperadas, certamente.

Apesar das possibilidades, ele fez o que ela pediu, finalmente virando-se de volta para ela, frente a frente com aquela criatura pequena – maior do que antes, mas ainda pequena – que o encarava de volta com aqueles olhos castanhos que pareciam aprisionar os dele sempre que se cruzavam por acidente. E, daquela vez, não era acidente, então a prisão era ainda mais poderosa.

- Se realmente estamos terminados, apenas me diga então, e eu finalmente o deixarei em paz.

- Do que está falando?

Os olhos dela eram firmes, mas pouco a pouco foram ficando cada vez mais brilhantes com o excesso de líquido se acumulando novamente nas bordas, apenas para transbordar como delicadas gotas de orvalho.

- Diga-me aqui e agora que realmente não sente nada por mim, que meus sentimentos são unilaterais. – Ela explicou com dificuldade através do nó apertado em sua garganta. – Diga-me a verdade.

Sesshomaru hesitou, tentando entender porque ela precisava que ele dissesse uma coisa daquelas. Se ele se importava com ela? Isso era óbvio para qualquer um que tivesse observado suas ações nos últimos anos. Se ele queria admitir?  Isso já era outra história completamente diferente.

Quando ele já estava pensando não ter escolha, ela finalmente piscou e ele desviou o olhar para uma das janelas. O encanto perverso dela estava desfeito.

- Eu sugiro que você esqueça desse assunto.

Ele, o grande senhor das terras do oeste, general dos inuyoukai, o matador perfeito, estava fugindo? Estava fugindo de uma mera conversa, tudo por que não queria admitir seus reais sentimentos por aquela garota humana e, pior ainda, porque ele não conseguia mentir para ela. Ele não conseguia dizer as palavras que ele sabia que iam destroçar o coração dela.

O quão difícil poderia ser dizer a uma mulher humana fraca e ingênua que ele não a amava, por todos os deuses? Que ele jamais poderia amar uma criatura como ela. Que ela não era digna dele nem nunca seria. Que ela era patética por sequer cogitar aquela possibilidade.

Naquele momento, para ele, era tão difícil quanto arrancar o próprio braço que ele apenas recentemente ganhara de volta. Não, arrancar o braço seria mais fácil.

- Eu planejo fazer exatamente isso, senhor Sesshomaru. – Ela disse, diante da resposta dele. – Mas primeiro, preciso que o senhor me diga, de uma vez por todas, essas últimas palavras. Então, eu irei embora.

O youkai a encarou imediatamente, os cabelos longos voando com o movimento brusco da cabeça.

Será que a fissura que se abrira no caminho deles se tornara uma cratera, depois de tanto ser ignorada? Ou será que se tornara um enorme precipício, marcando o fim da jornada definitivamente? Eles só podiam parar na beirada e olhar a escuridão sem fim que os esperava, não havia mais ação a ser tomada.

Ele se lembrava de ter dito adeus para ela uma vez, mas era diferente. Ele sabia que a veria de novo, que voltaria para buscá-la quando ela fosse mais velha. Era Rin quem não sabia disso, era ela quem acreditava que aquela era uma despedida eterna. Mas, apenas o fato de que ela acreditava nisso já fora o suficiente para tornar aquela memória tão dolorosa para ele quanto fora para ela.

Dessa vez, era ela quem dizia adeus, e com o queixo erguido e apenas algumas lágrimas sorrateiras. Ela não era mais uma garotinha, que tinha licença para fazer um escândalo diante de uma situação como aquela. Se bem que, mesmo com a pouca idade que tinha, ela se comportara admiravelmente bem da primeira vez. E ainda melhor na segunda.

- Irá embora para onde? – Ele perguntou quando encontrou sua voz de novo, tomando o cuidado de mantê-la tão séria e indiferente como sempre.

Ela suspirou, observando o quarto ao redor com cuidado, absorvendo os detalhes, como se quisesse guardá-los na memória. Talvez aquele fosse ser o último dia dela ali.

- O senhor me disse que da próxima vez que eu o desobedecesse, me mandaria de volta ao vilarejo. - Ela lembrou, a memória de como ela arriscara a vida para recuperar um presente de Kohaku voltando a inflamar a fúria adormecida de Sesshomaru. - Eu vou desobedecê-lo agora. Porque não vou deixar esse assunto de lado até que o senhor me responda. Não depois de tudo que eu disse.

As palavras dela eram inaceitáveis para ele. O pedido era justo, isso ele admitia a si mesmo, mas a exigência era pura petulância, do ponto de vista dele. Como se ele tivesse a obrigação, como se ela estivesse lhe dando uma ordem.

Tudo bem, Rin. Se é o que quer.

Ele se postou diretamente em frente à ela, sua altura forçando-o a olhar para baixo para que pudesse conectar seus olhos com os dela. Os olhos dourados eram duros como ouro sólido, perfeitamente sérios e inexpressivos. Daquela vez, era ele quem a prendia, indefesa, sob o olhar de um verdadeiro predador pronto para matar.

- Claramente, você tem confundido as coisas. - Ele disse finalmente. Até os soluços dela pararam para ouvir o que ele diria a seguir. - Não, Rin, eu não nutro tais sentimentos por você. Ou por qualquer uma, a propósito. Eles são completamente inexistentes para mim.

Por um longo momento, ela parou de respirar. E, em seguida, começou a ofegar, a frequência dos fôlegos aumentando.

Ela sempre soube que ele diria algo como aquilo, mas realmente ouvir era muito mais difícil do que ela jamais podia imaginar. Ela queria chorar, mas nem isso conseguia. As palavras dele a congelaram totalmente, ela nunca sentira tanto frio em sua vida.

- Era só isso que você queria saber? - Perguntou o youkai após tanto tempo de silêncio.

Rin assentiu fracamente, os braços automaticamente abraçando o próprio corpo em uma tentativa falha de se manter inteira. Ela respirou fundo, fechando os olhos, procurando estar focada para o próximo passo inevitável. Aquele era o fim de tudo. Ela resistira até ali, mas agora estava perdido.

Rin delicadamente removeu o colar da Meidou Seki de seu pescoço, oferecendo-o para Sesshomaru, que o aceitou com uma expressão confusa.

- Vou pedir à Asai um quimono emprestado. - Ela disse, tentando organizar os pensamentos. - Assim que arrumar as poucas coisas que são realmente minhas, estarei partindo.

- Esses objetos lhe foram dados. - Disse o inuyoukai, pretendendo devolver à ela o colar. Ele queria que ela ficasse com ele, com os quimonos, tudo. Eram coisas que ele dera à ela para que se lembrasse dele, eram parte da história deles. - São seus.

Rin sorriu um sorriso triste, observando a pedra negra que parecia a observar de volta. Como fora boba de pensar que a posse daquele objeto podia significar algo sobre ela, sobre Sesshomaru. Sobre eles dois.

- Meu senhor, se eu levar essas coisas, nunca vou poder seguir em frente com a minha vida. Eu nunca vou poder esquecer dos meus sentimentos pelo senhor. - Ela justificou. - Mesmo sem elas, não acho que eu possa, mas vou pelo menos tentar.

Ele trocou o peso para o outro pé, claramente desconfortável. Um pouco irritado, um pouco decepcionado. Resignado, ele guardou o colar no quimono.

- E é isso o que você quer? Por causa de um mero mal entendido, pretende esquecer tudo a meu respeito? - Sesshomaru não pretendia cobrar dela alguma gratidão, todas as coisas que ele fez foram pelo simples propósito de protegê-la e vê-la feliz, mas precisava dizer. - Depois de tudo?

O sorriso triste de Rin se transformou em uma expressão completamente desolada. Ele tinha razão, não era culpa dele se ele não a amava, ele não merecia que ela quisesse simplesmente deixar todas as memórias dele para trás, depois de tudo que passaram juntos, depois de todos os sacrifícios que ele fez por ela sem nunca pedir nada em troca. Mas também não era culpa dela que tivesse que ser assim. Era necessário.

- É exatamente por causa de tudo que o senhor fez por mim que preciso fazer isso. Se eu me lembrar de como o senhor foi o primeiro a se importar com o meu bem estar, ou de quando me trouxe de volta à vida e me deixou acompanhá-lo quando ninguém mais me queria por perto. Se eu for pensar nas vezes que me salvou do perigo, muitas vezes colocando a si mesmo em risco. Ou nos presentes que o senhor se dera o trabalho de encontrar e trazer para mim, chegando ao ponto de frequentar um vilarejo humano só para me ver. - Ela listou as doces memórias, com um gosto salgado de lágrimas na boca. - Me responda, meu senhor, se eu tiver que lembrar de tudo isso... Como vou deixar de amá-lo a cada dia mais?

Ele pausou, tentando entender os absurdos do que ela dizia. Toda aquela história de amor era muito mais complicada do que ele previra, e ele realmente não queria ter que lidar com aquela situação.

Era, claramente, fraqueza em sua forma mais absoluta. Uma fraqueza humana, que impedia Rin de continuar vivendo sua vida normal, de permanecer ao lado dele, porque ela não podia suportar a simples verdade de que seus sentimentos não eram recíprocos. E, por conta de tudo isso, ela estava disposta a jogar tudo fora, deixar tudo para trás.

Sesshomaru detestava o conceito de amor mais ainda agora.

- E será impossível para mim continuar aqui... - A humana continuou, ansiosa para desabafar tudo o que sentia de uma vez por todas. - Pelo simples fato de que, além de todo o passado, eu também amo tudo a respeito do senhor cada vez mais, mesmo no presente. Bom, talvez tenha uma coisa que eu não goste muito...

- E o que seria? - Perguntou o youkai, um leve centelho de curiosidade em seus olhos sérios.

- A sua dificuldade em demonstrar que se importa, em demonstrar suas emoções e preocupações, mesmo quando elas parecem tão óbvias.  - Rin respondeu, mas depois pareceu pensar melhor.  - Ou talvez eu goste até mesmo disso. Talvez a raridade das suas demonstrações de afeto seja o que me faz sentir mais especial quando o senhor finalmente demonstra, vez ou outra.

- Talvez, então, isso devesse realmente ser o que você mais detesta. - Ele supôs, com o rosto inexpressivo. - Por ter sido isso o que te levou a confundir nossa relação com algo tão absurdo, em primeiro lugar.

Ela abaixou a cabeça, assentindo fracamente.

- Talvez. - Respondeu com um sussurro. - Peço-lhe perdão se o ofendi.

- Vá aonde achar que tiver que ir. - Sesshomaru concluiu, por fim. - Pode levar Ah-Un. Mande-o de volta para mim depois, para evitar suas temidas memórias, se necessário.

- Certo, senhor Sesshomaru. Obrigada.

xXx

Quando Sesshomaru saiu pela porta, o youkai de longos cabelos lilases estava logo à frente, encostado na parede do corredor, observando-o de volta com olhos sérios e os braços cruzados na frente do peito.

- Fiquei surpreso de você não ter me dito para parar de bisbilhotar a conversa. – Hayashi confessou.

Sesshomaru o ignorou, seguindo pelo corredor. O vassalo rapidamente foi atrás dele.

- Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar do que um enxerido. – Respondeu o daiyoukai, sem olhar para o seguidor. – Vou pensar em uma punição para você mais tarde.

Ele abriu a porta para o gabinete, vendo que o amigo pretendia falar sobre Rin, e ele preferia discutir aquele assunto específico em um local mais privado que os corredores.

- Você tinha que ser o maior filho da puta possível com ela, não é? - Hayashi questionou, assim que entraram no cômodo.

- É melhor dessa forma. Além disso, eu não disse nenhuma mentira.

Hayashi sentou-se no lugar que era tradicionalmente de Sesshomaru, encarando-o. Olhos dourados contra olhos dourados.

- Não disse toda a verdade, também. Está certo que a garota estava num mundo de fantasias, mas você realmente se importa com ela. Poderia ter dito ao menos isso.

O daiyoukai ergueu uma sobrancelha para o amigo, ponderando se deveria se dar ao trabalho de negar aquelas conclusões. Desnecessário, dada a obviedade do fato. Se Rin precisava que ele dissesse aquilo em palavras para saber, ela claramente não estivera prestando atenção nos últimos oito anos de sua vida.

- Não vai ajudá-la em nada se eu continuar a alimentar essa utopia. Rin já viveu nela por tempo demais.

Os olhos dourados de Hayashi se estreitaram, as sobrancelhas se curvando em uma expressão chateada.

- Você realmente vai deixá-la ir embora, Sesshomaru?

- Ela faz o que ela quiser, sempre foi escolha dela. - Sesshomaru lembrou.

- Vou sentir falta dela. - Confessou, suspirando. - Mas algo me diz que alguém vai sentir ainda mais...

Sesshomaru desviou o olhar para uma das janelas, por um instante preocupado que alguma coisa em sua expressão pudesse denunciar sua apreensão com aquela perspectiva. Ele realmente não queria pensar naquilo, ou não seria capaz de deixá-la ir. Lembrava-se bem de como era quando ela vivia no vilarejo e ele só podia vê-la de tempos em tempos e agora... Mesmo aquelas visitas estariam fora de seu alcance...

- Ela realmente significa muito para você, não é verdade? - Hayashi deduziu, de alguma forma sendo capaz de reconhecer a verdade daquelas palavras, mesmo que o amigo tentasse ocultar. - E se vocês tentassem...

- Hayashi. - Cortou Sesshomaru, percebendo pelo tom sugestivo do vassalo que ele estava prestes a dar uma ideia bem absurda, e que poderia correr o risco de parecer extremamente tentadora naquele momento onde tudo que ele queria era encontrar uma solução onde Rin não precisasse deixá-lo. - Cale-se.

- Tudo bem, então. - O subordinado pôs-se de pé. - Faça como quiser. Eu vou ver se a Rin precisa de alguma coisa.

Hayashi deixou o cômodo, a porta se fechando com um som suave. Sesshomaru estava finalmente sozinho.

Ele sentou-se no assento antes ocupado por Hayashi, seu assento, e descansou os cotovelos sobre a mesa por um momento. Mas logo estava de pé de novo, vagando pela sala, mexendo na posição dos quadros e tapeçarias nas paredes, organizando pergaminhos nas estantes, trocando-os de lugar desnecessariamente, até que parou em frente à janela, que permitia a ele uma boa visão do pátio principal e dos portões além. Portões aqueles pelos quais Rin passaria em breve, para nunca mais voltar.

A intenção dela era esquecer que um dia o havia conhecido, das jornadas que tiveram juntos, das visitas que ele fizera, dos presentes, tudo. Ela pretendia seguir em frente, livre da influência dele. Talvez acabasse casando-se com Kohaku no final das contas. Ou outro homem.

Ela era uma menina - não, uma mulher - bonita. Certamente haveria alguém em algum momento. Alguém que faria o que ela tanto almejava, demonstraria livremente os sentimentos por ela, a amaria com todo o coração, da forma como ela merecia.

Sim, ela se casaria, teria filhos, uma família.

E Rin e ele nunca mais voltariam a se ver.

Inconscientemente, sua mandíbula se apertou com aquele pensamento. O pensamento de outro homem que a protegeria dali para frente - e Sesshomaru não confiava em ninguém para mantê-la segura como ele -, outro homem que a abraçaria da forma que ele abraçou quando ela estava com frio e com medo. Alguém que seria ainda mais íntimo, que a teria verdadeiramente.

Alguém que tocaria nela da forma que nenhum outro jamais tocou.

Foi a escolha dela, ele disse a si mesmo, se afastando da janela, procurando parar de pensar naquele assunto.

Porém, logo ele estava lá de novo, observando os portões, a mente voltando a se encher de imagens completamente inapropriadas. Rin, em seu leito de núpcias com um fracassado qualquer. As mãos dele sobre ela, despindo-a, acariciando-a. O corpo asqueroso deitando-se sobre ela, os lábios tocando os dela a tempo de abafar um doce gemido de prazer.

Inaceitável. Quem poderia esperar ser digno dela daquela maneira, afinal? Amor estava longe de ser tudo que um homem precisava ter para proteger sua família, e aquele homem estaria disposto a lutar por ela, como Sesshomaru lutou? Ele sangraria por ela, como ele sangrou? Mesmo seu pai, o mais poderoso daiyoukai de seu tempo, não teve o suficiente para proteger aqueles que ele amou, que chances um humano teria? Que chances Rin teria?

A cena em sua mente era de um samurai postando-se protetoramente à frente dela, os dois cercados por youkais ferozes. Lentamente, a imagem foi tomando formas diferentes, até que o homem não era mais um humano desprezível, e sim um imponente daiyoukai, com longos cabelos brancos e a marca de uma lua crescente no centro da testa, e os youkais ao redor já não pareciam tão ameaçadores, e Rin estava segura. Sem pedir permissão, sua mente voltou para a cena da noite de núpcias, exceto que o parceiro dela também fora substituído pelo daiyoukai, que a tocava habilidosamente com uma mão marcada por um par de listras púrpura. Alguém que a fazia emitir sons ainda mais deliciosos.

Basta! Ele pensou, revoltado consigo mesmo e sua inabilidade de manter aquela humana longe de seus pensamentos por meros instantes sequer. Ele voltou a atenção ao pátio do castelo através do vidro.

Dessa vez, ele não estava vazio. Uma humana de cabelos escuros, vestindo um quimono bege simples, caminhava a passos lentos sobre o piso de pedras, puxando um dragão de duas cabeças pelas rédeas.

Ao lado dela, vinha um pequeno youkai de cor verde, carregando um bastão de duas cabeças, junto a um inuyoukai de cabelo levemente lilás e armadura.

Sesshomaru podia ouvi-los, mesmo daquela distância.

- Imagino o que você fez dessa vez, para o senhor Sesshomaru chegar ao ponto de te mandar embora hein. - Jaken perguntava, seguindo-a pelo pátio. - Seja lá o que for, é bem feito para você! - Acrescentou, para esconder o fato de que ele parecia melancólico com a partida dela.

- Ele não me mandou embora, senhor Jaken. - Rin esclareceu. - Eu mesma decidi ir.

- Sua ingrata! Depois de tudo que nosso senhor fez, você vai simplesmente abandoná-lo, sua humana insolente!

Rin não respondeu, apenas continuou guiando Ah-Un, com a cabeça baixa.

- Deixe-a em paz, Jaken. - Hayashi disse, apoiando uma mão sobre o ombro da humana. - Você fez o que achou que tinha que fazer, Rin. Vou sentir sua falta, humana de estimação.

Ela parou de andar, entregando as rédeas do dragão para Jaken. Uma vez com as mãos livres, ela se atirou sobre Hayashi, envolvendo seu pescoço em um abraço apertado. Ele rapidamente a abraçou de volta, e as imagens na mente de Sesshomaru voltaram à vida. Ele via mais uma vez como Rin abraçaria seu esposo no futuro, e aquilo rapidamente desfez toda a sua resolução de simplesmente aceitar aquele futuro.

O daiyoukai abriu a janela, facilmente saltando para fora, pousando sobre o telhado azul por um instante, antes de realizar mais um salto até o pátio, logo à frente do pequeno grupo.

- Solte-a, Hayashi. - Ele ordenou com o tom mais rígido do que pretendia. Nem ao menos sabia de onde tinham saído aquela repentina agressividade.

Hayashi obedientemente se afastou da humana, erguendo uma sobrancelha para o general.

- Estávamos apenas nos despedindo, senhor Sesshomaru. - Rin explicou em um tom conciliatório.

- Vocês dois, desapareçam. - Sesshomaru ordenou, indicando com uma garra o servo verde e o amigo inuyoukai.

Jaken estava prestes a discutir, mas Hayashi percebeu com um olhar entre Sesshomaru e Rin que era melhor mesmo os dois saírem dali imediatamente.

- Vamos, Jaken. Obedeça seu senhor. - Ele disse, puxando o youkai menor pela parte de trás das roupas e arrastando-o dali. As rédeas de Ah-Un acabaram jogadas ao chão e o dragão permaneceu parado ali, observado a dupla restante.

Assim que eles saíram de vista, Rin voltou seus tristes olhos castanhos para Sesshomaru, se preparando para aquela última e dolorosa despedida.

Mas Sesshomaru tinha outros planos, sua mão se estendendo para agarrar o braço dela, puxando-a com pouca delicadeza na direção oposta à do portão de saída.

- Senhor Sesshomaru, o que-

- Você não pode voltar ao vilarejo. - Ele disse em um tom firme e indiscutível, forçando-a a acompanhar seus passos apressados.

- O quê? Por que não?

A mente de Sesshomaru trabalhava rapidamente, pensando em uma justificativa que, apesar de fazer bastante sentido, não passava de uma desculpa de última hora e ele sabia.

- Há mercenários aos montes tentando te matar. Não é seguro.

- Mas eu preciso ir! - Ela respondeu, antes de tropeçar em uma das pedras do piso. A mão firme de Sesshomaru em seu braço a impediu de cair, forçando-a a continuar em movimento.

- Eu não posso negligenciar minhas obrigações aqui só para levá-la ao vilarejo, tampouco tenho alguém de confiança livre para o serviço. - Ele insistiu, agora já dentro do salão de entrada do castelo, ainda seguindo em frente.

- O senhor disse que se me mandasse de volta ao vilarejo, eu não seria mais sua responsabilidade. - Rin argumentou, tentando se soltar do aperto em seu braço. - Quando eu passar por aquele portão, minha vida ou morte não têm mais nada a ver com o senhor ou com o oeste.

- Diga o que quiser, Rin. Independentemente do que aconteceu entre nós, eu não desejo que você seja morta. - Sesshomaru disse, virando em um corredor. - Eu já gastei energia demais tentando impedir que isso acontecesse.

- E eu sou grata, mas não é mais seu papel! - A humana teimou, lágrimas começando a brotar de seus olhos, os pés tentando se fincar no chão, sem sucesso. - É a minha escolha, o senhor não pode me prender aqui!

- Veremos.

- Senhor Sesshomaru, me solte!

- Silêncio!  - Ele rosnou, entrando em uma sala vazia em uma tentativa de ocultar aquele drama dos outros ocupantes do castelo.

- O senhor está me machucando! - Ela reclamou, lutando contra o aperto de aço da mão dele.

Ele relaxou um pouco o punho, mas ainda tentando conter os movimentos dela. Rin protestou com um grito baixo, mas antes que pudesse ter qualquer outra reação, seu corpo estava sendo girado, as costas se pressionando contra uma das paredes. Ela piscou, desnorteada, antes do corpo de Sesshomaru se postar logo à frente do dela.

Finalmente liberando o braço da indefesa humana, ele a calou com um beijo.

Rin esqueceu completamente do braço que formigava, os olhos se arregalando em choque no primeiro momento, para depois se fecharem suavemente, permitindo a ela se concentrar apenas na sensação dos lábios de Sesshomaru sobre os dela.

As lágrimas que já estavam presentes em seus olhos começaram a cair em torrencial e, pela primeira vez naquele dia, o sentimento que acompanhava a queda não era de tristeza e desespero. Era um sentimento tão único que Rin nem ao menos sabia como começar a descrevê-lo. Podia apenas senti-lo, emergindo das profundezas de seu ser e transbordando pela pele translúcida na forma de um rubor intenso que tomava conta de todo o seu rosto.

Não satisfeito, o sentimento continuava queimando, descendo por seu pescoço, chegando ao colo e se acumulando em um emaranhado de sensações em sua barriga, tão coloridas e brilhantes que a deixaram totalmente atordoada. Rin não se importava, sentia como se estivesse em algum tipo de sonho induzido, vívido e totalmente irreal ao mesmo tempo.

As pernas dela perderam as forças, obrigando o daiyoukai a segurá-la pela cintura, suportando o peso do corpo para mantê-lo de pé. Ele aproveitou a posição de suas mãos para puxá-la para mais perto, colando completamente os quadris dela nos dele.

A proximidade era tentadora, atraindo-a como um ímã. Rin pousou as mãos sobre os braços dele, acariciando por um momento que pareceu durar para sempre, como se ela tentasse decorar cada linha formada pelos músculos rígidos por baixo daquele tecido nobre que ele usava. Eventualmente, sem saber exatamente quando ou como, ela estava envolvendo o pescoço dele, procurando ainda mais proximidade, ainda mais contato físico.

Não era o bastante! Nada do que ele se esforçava para dar a ela parecia o bastante. Ela se sentia ambiciosa, como se toda a discussão que eles tiveram apenas momentos atrás não tivesse existido, como se ele nunca tivesse destruído todas as esperanças dela com palavras duras.

Rin sorriu contra os lábios dele, suas mãos se entrelaçando nos fios sedosos de prata que ela sempre sonhara em tocar daquela forma.

Ele estivera mentindo quando disse que não sentia coisa alguma por ela. Mas falava a verdade quando a beijava daquela maneira. E nada soava tanto como verdade quanto o som, deveras interessante, que os lábios deles provocavam quando se moviam um contra o outro daquele jeito. Rin estava fascinada.

Sesshomaru finalmente rompeu o beijo, deixando que ela respirasse, mas manteve a testa encostada na dela, olhando no fundo daqueles olhos castanhos que ele tanto apreciava. Daquela vez, não temia ficar preso neles.

De fato, era exatamente o que ele queria.

- Vá desfazer sua bagagem, Rin. - Ele disse em voz baixa, antes de se afastar.

- S-sim... - Ela respondeu, ofegante, uma mão sobre o coração em uma tentativa de acalmar os batimentos descontrolados.

 


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c2.staticflickr.com/1/721/31988167705_7cb56dbe19_b.jpg

AEEEEE CARAMBA, FINALMENTEEEEEE!!!! Sesshomaru não nos fez esperar por isso até 2017! *O*
Já vamos aproveitar os fogos de artifício de amanhã pra celebrar esse momento <3

E obrigada pelos comentários no capítulo anterior e pra quem teve a paciência de ler tudo até aqui. Espero que tenham mais comentários pra mim depois de eu ter sido tão boazinha!
Agora vamos ver aí como as coisas vão andar né? :3

Feliz ano novo cambada!


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