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História Unintended - Julgamento


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olar, meus amores!

Olhem só, já vou ser direta aqui. Estou chegando num ponto dessa história onde temos muita coisa acontecendo, e eu to tendo muitaaa dificuldade de manter os capítulos razoavelmente curtos, esse aqui eu só fui escrevendo e pah, tinha quase 10 mil palavras O_O
Claro que dei uma ajeitada e agora tá menos monstruoso. Só queria pedir um pouco de paciência, porque eu fico um pouco sem escolha, se eu deixar curto demais eu acabo tendo um capítulo sem graça, só de construção dos momentos, porque a parte boa das conclusões teve que ser cortada. Eu, como leitora, sei como é uma droga esperar um tempão por uma atualização e na hora que ela aparece ser um capítulo bosta, então prefiro deixar o textão mesmo mas com algo interessante acontecendo. (até as notas do autor estão ficando gigantescas, SOCORRO)
Chega, leiam aí. :)

Capítulo 27 - Julgamento


Sesshomaru sabia que devia agir rápido, tratando de se recompor rapidamente diante dos olhares questionadores que os conselheiros lançavam para ele.

- Então chegamos ao ponto de falsas acusações, Mizuno? - Ele perguntou, o tom de voz cuidadosamente indiferente e descrente. - Não pode aceitar a sua derrota com o mínimo de dignidade que ainda lhe resta?

- Mas o que significa isso, afinal? - Ichijo questionou, claramente alterado. - Que história é essa de humana?

Mizuno deu um passo à frente, parecendo confiante em si mesma. Sesshomaru observou a fêmea erguer a mão direita, contendo sua insegurança atrás de uma máscara cautelosa de calma. Ele tinha certeza de que saberia se Rin e ele tivessem sido vistos em alguma ocasião comprometedora mas, parando para pensar, ele sempre tendia a se distrair muito quando a humana estava por perto. Uma imagem errada seria tudo o que bastaria para expô-lo de maneiras que ele não poderia remediar, e ele não tinha como saber as cartas que Mizuno tinha na manga.

A daiyoukai, impossivelmente elegante para quem usava apenas um lençol, pousou a mão com garras perfeitamente polidas sobre a superfície cristalina, as formas se dispersando momentaneamente para mostrar breves flashes de uma garota humana jovial e bela em suas pequenas interações com o senhor daquelas terras.

Sesshomaru quase deixou escapar um suspiro de alívio enquanto observava as imagens inocentes onde ele simplesmente caminhava ao lado da humana pelo pátio, conversava com ela, ou tomava a frente para defendê-la da opressão de outros membros da corte, como a própria Mizuno.

Quando as lembranças de Mizuno terminaram, a tela voltou a exibir os três rostos dos anciãos, que portavam similares expressões surpresas. Era verdade que, apesar de aquilo não ser nada comparado ao que Rin e Sesshomaru vinham fazendo nos últimos dias, ainda eram situações que seriam difíceis para ele explicar, em sua posição de líder youkai e principalmente levando em consideração o histórico de sua família.

Mas, independente disso, não eram provas concretas. Mizuno não tinha nada contra ele, como ele esperava.

- Falsas acusações? - A prometida rebateu, erguendo uma sobrancelha. - Qualquer criado desse castelo sabe como você adora essa menina.

- Especula, você quer dizer. - Corrigiu ele, mantendo sua façada. - Eu não os culpo, estou ciente da impressão que isso dá.

- O senhor trouxe uma humana ao castelo? Para viver aí? - Aoki soava escandalizado, cortando a discussão do casal. - Mas o que diabos está acontecendo aqui?

- Não importa a veracidade sobre sua relação com a garota, rumores podem destruí-lo! - Ichijo argumentou, indignado. - Essa criatura deve ser removida do Oeste agora mesmo!

A sala se preencheu com vozes e burburinhos entre os ocupantes, tornando impossível qualquer discussão séria. Os comentários agitados abafavam o silêncio completamente, caos se instaurando no ambiente.

- Ela fica. - Sesshomaru respondeu, firme, fazendo com que todos voltassem a se calar para prestar atenção no debate.

O dragão encarou o governante com fogo em seus olhos, fumaça saindo de suas narinas. Antes que ele pudesse retaliar, a voz de Bokusenou soou após ter permanecido em silêncio pensativo por tanto tempo:

- Tragam a garota aqui. Eu quero ver isso com meus próprios olhos.

Sesshomaru hesitou, não tendo planejado colocar Rin pessoalmente no meio daquilo. Ele pensou em simplesmente inventar uma desculpa para que ela não comparecesse, mas recuou da ideia, ciente de que a última coisa que ele precisava naquele momento era parecer irracionalmente protetor com a humana.

Traçando o melhor plano de ação, Sesshomaru sinalizou com uma mão para Jaken se aproximar.

- Traga Rin até aqui, Jaken. - Comandou, acrescentando em voz mais baixa: - Diga à ela para usar o colar.

- Agora mesmo, meu senhor! - Acatou o pequeno youkai, que saiu correndo em suas curtas pernas o mais rápido que conseguia.

Enquanto esperavam, Sesshomaru encarou a Magnólia cautelosamente, não se esquecendo da última vez em que o tinha visto, quando procurava informações sobre a natureza do sangue youkai que dominava Inuyasha. Rin estivera com ele naquela época, mas Bokusenou não demonstrou nenhum incômodo com a presença dela. Entretanto, uma bela mulher humana era completamente diferente de uma criança descalça e descabelada. O general daiyoukai podia apenas esperar que o ancião não a reconhecesse, ou sua história dificilmente seria comprada.

Em apenas alguns minutos, entrava pela porta o servo de volta, acompanhado de uma humana hesitante, cujos olhos castanhos avaliaram todos os rostos intimidantes na sala, sem entender o que estava acontecendo, até encontrar a figura de Sesshomaru no fundo, alívio tomando conta de seu espírito imediatamente.

Ela se sentia tão insegura que quase cedeu ao impulso de correr até ele, porém foi capaz de manter a compostura assim que os olhares deles se cruzaram. A seriedade nos olhos dourados de Sesshomaru gritava que a situação era crítica, e Rin imediatamente percebeu que devia ficar perfeitamente quieta até segunda ordem. Ela abaixou a cabeça, ocultando da melhor forma qualquer olhar que pudesse denunciar os segredos dos dois a qualquer um ali.

Sesshomaru sinalizou com a cabeça para que ela se aproximasse e a humana caminhou com receio até o fundo do cômodo, parando ao lado dele após olhar por um longo momento para Mizuno do lado oposto, sem compreender o porquê do estado semidespido da fêmea, ou dos pequenos arranhões sobre sua pele de porcelana excessivamente exposta.

- Aqui está ela. - Sesshomaru disse, se dirigindo aos anciãos.

Os três pares de olhos do outro lado da tela avaliaram a humana cuidadosamente, seus rostos sérios e pensativos. Ela evitou olhar nos olhos de qualquer um deles, apesar de sua curiosidade, tentando não parecer desnecessariamente desafiadora ou desrespeitosa.

- Quem é você, humana? - A voz grossa de Aoki perguntou indelicadamente, sobressaltando-a levemente.

Ela lançou um olhar cauteloso para o inuyoukai à sua esquerda, o qual assentiu brevemente.

- Meu nome é Rin, senhores. - Ela disse em voz baixa, curvando-se em saudação.

- Você nega as acusações de ser uma amante de Sesshomaru? - Continuou o símio, direto e ríspido.

Sesshomaru interrompeu rapidamente, prevendo que a humana ficaria inevitavelmente intimidada e insegura com perguntas tão indiscretas como aquela. Ele preferia evitar que ela demonstrasse qualquer tipo de constrangimento, poderia não tornar muito convincente qualquer negação que eles planejassem fazer.

- Aoki, tenha modos. - Pediu ele, sem se deixar alterar. - Isso não é coisa que se pergunte para uma garota de quinze anos.

- Ah sim, não vamos querer ofender a queridinha do Sesshomaru, não é mesmo?  - Mizuno debochou, risonha.

- Basta. - Sesshomaru declarou, o tom de voz firme garantindo a atenção de todos. - Eu reconheço a base para a desconfiança de todos, mas vou garantir de uma vez por todas que não há motivos para tal. A humana não é nada para mim. Vocês, mais do que ninguém, sabem do meu desprezo por essa raça de miseráveis. Provavelmente, não há no Oeste alguém que abomine mais essas criaturas do que eu.

Ele percebeu Rin ficar rígida ao seu lado, os ombros se encolhendo brevemente enquanto ela mantinha a cabeça abaixada. Apenas vê-la daquela maneira gritava para que ele a envolvesse em seus braços e a consolasse, mas definitivamente não era hora para aquilo. Ele apenas podia esperar que Rin conseguisse se controlar o suficiente para não entregar as mentiras que ele tentava construir, se ela derramasse uma lágrima sequer ele perderia toda a credibilidade.

Você conhece a verdade, Rin. Não se deixe atingir.

- Conte-me outra! Ninguém aqui nunca o viu tratar ninguém da forma como você trata essa garota! Poupe suas evasivas, Sesshomaru!

- Cale-se, Mizuno. - Ele cortou rispidamente, as garras estalando em irritação. - Eu vou matá-la com ou sem aval do conselho, se continuar me testando.

- Vamos todos nos acalmar. - Bokusenou apaziguou, a sua voz tranquila acalmando os ânimos exaltados. - Estamos todos esperando uma explicação para essa garota estar aqui, se o que você diz é a verdade, senhor Sesshomaru.

Voltando seu foco à situação presente, ele arriscou mais um olhar para a humana ao seu lado, desejando que Bokusenou não tivesse pedido pela presença dela ali. Ele teria preferido que ela não tivesse que ouvir o que ele tinha a dizer, mas não havia nada que ele pudesse fazer àquela altura para evitar.

- Pois bem. - Começou ele. - Rin não é para mim mais do que uma ferramenta de guerra.

Exclamações de surpresa ouviram-se de todos os lados da sala, todos os rostos se voltando para o daiyoukai, inclusive o da humana.

- Só pode ser brincadeira! - Ichijo protestou, incrédulo.

- Essa é a pior desculpa que eu já ouvi em minha vida. - Mizuno completou, balançando a cabeça.

Confiante, Sesshomaru prosseguiu, ignorando os ruídos de surpresa e choque:

- Pensem o que quiserem, mas a humana é uma ferramenta indispensável para o Oeste. Pelo simples motivo de ela ser a única entre nós a ter pistas sobre o nosso inimigo atual. - Observando os rostos ainda mais confusos ao seu redor, ele continuou: - Rin herdou o poder sobre a Meidou Seki de minha mãe, pela vontade da própria. Eu não sei os motivos que levaram minha mãe a isso, dar tal poder para uma simples humana, mas foi o que ela fez e está feito.

- Isso é verdade? - Aoki questionou, não parecendo muito convencido.

- E como isso ajuda o Oeste em alguma coisa? - Bokusenou emendou.

- Rin tem monitorado os planos do inimigo através de portais pelo submundo, embora ainda seja necessário sondar mais para podermos nos aprofundar nas informações. - Explicou, a história fluindo mais naturalmente à medida que ele tentava se manter próximo o suficiente da verdade. - Graças à ela, já temos um nome e noção dos números deles.

Um punho bateu sobre a borda do painel, fazendo a imagem tremeluzir levemente.

- Mentira! - Protestou Mizuno, enfurecida. - Foi o próprio Sesshomaru quem deu esse colar à ela, como os inúmeros outros presentinhos. Não passa de um enfeite patético. Toda essa história é ridícula.

Indiferente ao surto raivoso da prometida, o general voltou-se para a humana, perfeitamente calmo e sobre o controle da situação. Não havia como seu plano dar errado, não agora. Mizuno não tinha provas sobre o caso deles, ninguém tinha, a não ser talvez Hayashi.

- Rin. - Ele chamou, tomando o cuidado de não deixar deslizar por seu tom de voz a delicadeza que ele sempre dirigia à ela. - Posicione sua mão sobre a tela e tente relembrar seu último encontro com a pessoa quem lhe deu esse amuleto e, depois, com Takayama.

Incerta, ela deu um passo à frente e fez o que ele pediu, a mão tremendo levemente quando tocou a superfície gelatinosa. Ela assustou-se quando a imagem mostrada mudou, temerosa de que tivesse feito algo errado, mas logo se acalmou em ligeira curiosidade ao ver imagens de sua própria mente sendo projetadas para que todos pudessem ver.

Sesshomaru quase podia sentir suas mãos suando enquanto o testemunho da humana começava a se mostrar. Muita coisa poderia dar errado, aquilo tudo era um improviso perigoso, uma jogada arriscada. Rin não sabia o que estava fazendo, e ele não tinha abertura para aconselhá-la. Se a mente dela se desviasse por um momento sequer para lembranças dele, por exemplo, tudo estaria arruinado. Ela também não deveria tentar mentir, a magia a denunciaria no mesmo instante.

Ele só pode respirar de novo quando Rin recolheu a mão para si novamente, vendo que ela foi esperta o suficiente para filtrar as partes da conversa onde Takayama ou sua mãe falavam deles dois de qualquer maneira que pudesse ser interpretada como sugestiva, já tendo percebido quais eram as acusações em jogo ali. Aquilo apenas teria atirado mais lenha na fogueira. Orgulho o preencheu, fazendo-o sentir-se satisfeito por eles terem conseguido trabalhar tão bem em equipe sem terem planejado com antecedência.

- Veem? - Ele disse, quase não conseguindo conter a expressão vitoriosa em seu rosto. - Não podemos abrir mão dessas informações, independente dos rumores absurdos que inventem. Rin concordou em me auxiliar com as investigações em troca de proteção, visto que é órfã e está sozinha no mundo. Isso é tudo que há a respeito da nossa relação.

- Você podia apenas ameaçá-la. - Sugeriu o dragão, simplesmente.

- Ora, mas isso lá é maneira de se tratar um aliado de boa vontade, Ichijo? - Bokusenou contestou, decepcionado com o colega. - A humana decerto tem uma habilidade promissora.

Sesshomaru não perdeu o olhar discreto que a Magnólia lhe lançou e, de alguma forma, ele soube o que a árvore estava tentando lhe dizer: Ele lembrava de Rin. E, se fosse o caso, sabia que boa parte da história contada pelo daiyoukai era baseada em inverdades, que ele estivera ao lado daquela humana muito antes de ela ter qualquer utilidade bélica para ele ou para o Oeste.

Por algum motivo, o ancião decidiu não falar nada a respeito daquela informação extra, mas antes que Sesshomaru pudesse pensar que talvez ele realmente não lembrasse, conseguiu ler perfeitamente o que o conselheiro queria dizer com aquele olhar: “Eu vou deixar essa passar dessa vez.”

- Em respeito à vontade de minha mãe, eu vou abrigar a garota. Da mesma forma como deixei a princesa humana e o híbrido bastardo em paz, em respeito à vontade de meu pai. - Sesshomaru enfatizou, como uma justificativa para seu tratamento tão cortês para com a protegida.

- Certo, certo. - Concordou Aoki, a contragosto. - Mas, se realmente quiser mantê-la, a acusação de adultério contra a senhora Mizuno deve ser perdoada.

Qualquer traço de triunfo que Sesshomaru pudesse estar mostrando em seu rosto desapareceu por completo com aquela sugestão.

- Não apenas não será perdoada como sua pena será a morte.

- O senhor não entende a gravidade da situação da sua linhagem? - Ichijo esbravejou, seu temperamento esquentando junto ao fogo em suas narinas. - Goste ou não, precisa da senhora Mizuno! Principalmente se pretende manter uma humana em sua companhia, com todos os rumores e o passado de seu pai! Se não fizer isso, enfrentará oposições fortíssimas!

Sesshomaru observou os outros dois assentirem em concordância, enquanto Mizuno cruzava os braços como se tivesse vencido.

- Hayashi, leve Rin de volta. Isso não é mais sobre ela. - Ele comandou, dando por encerrada a participação da humana naquela reunião.

Rin não deixou de perceber que ele mandara Hayashi em vez de Jaken, sentindo o clima muito mais pesado sobre ela do que quando havia entrado, e ela nem achava que aquilo era possível. Ela podia sentir olhares de verdadeiro ódio sobre si enquanto ela passava para ir até o amigo, que a guiou até a porta, a mão sobre o cabo da espada não passando despercebida para ela. A realidade da situação a atingiu com força diante daqueles sinais:

Ela estava correndo perigo.

 

Sesshomaru ponderava cada vez com mais afinco o quanto realmente custaria a ele se simplesmente derretesse aquela tela com suas garras venenosas e mandasse aqueles velhos de volta para o lugar de onde vieram, à medida que as horas se arrastavam e o conselho tentava incessantemente convencê-lo a se unir à Mizuno, a despeito de sua traição. A fêmea parecia tão entediada quanto ele, e ele imaginava se ela ia simplesmente desistir e ir embora eventualmente, como ele tinha vontade de fazer.

- Quantas vezes mais eu vou ter que dizer isso? - Insistiu, pelo que devia ser a milésima vez. - Eu a quero morta. Mizuno não só está dormindo com outro homem, o que pode torná-la inútil para mim no primeiro descuido que ela cometer, como também tem a perigosa tendência a desafiar minhas ordens e decisões, o que eu não posso aceitar. Insubordinação, ao meu ver, só é resolvível com execução.

- Para os senhores verem a que ponto uma fêmea tem que chegar quando seu macho é incapaz de tomar uma decisão racional. - Ela rebateu, o tom de voz monótono deixando claro a falta de energia para continuar discutindo com o afinco inicial.

- Senhora Mizuno, por favor, lembre-se de que estamos tentando convencê-lo a não matá-la, sim? - Pediu Bokusenou, percebendo que a convicção de Sesshomaru só aumentava cada vez que ela abria a boca para dizer algo.

- Eu estou disposto a lidar com as retaliações, isso está em minhas mãos. - Continuou Sesshomaru, ansioso para terminar com aquilo. - Mas esse compromisso será anulado de qualquer maneira, como permite o meu direito.

- Pois bem! - Concedeu Aoki, seu rosto cansado pela longa discussão. Só queria banhar-se em uma confortável fonte termal naquele momento e deixar aqueles cães teimosos se virarem. - Concordaremos com a anulação, contanto que o senhor desista da execução.

Os outros dois rostos voltaram-se para o macaco, questionadores, antes de voltarem-se para o inuyoukai, afim de ver qual seria sua resposta.

- Eu não a quero por perto, tampouco. - Respondeu prontamente.

- Exílio então, que seja! - O dragão sugeriu depressa.

- Mas isso é um absurdo! - Mizuno protestou, indignada. - Não percebem que ele só quer me tirar do caminho para me substituir pela humana medíocre?

Todos pareciam ter entrado em um consenso para ignorá-la, os olhos fixos no líder do Oeste, ansiosos por finalmente parecerem tê-lo feito considerar novas possibilidades.

Sesshomaru pensou cuidadosamente, sua vontade de terminar aquilo começando a vencer a sede de sangue pela cabeça da fêmea que o atormentara por tantos séculos. Por um lado, ele sabia que o conselho não cederia tão facilmente, eles tinham claramente um motivo para tentar dissuadi-lo da ideia de execução e fazê-lo trocar por uma pena mais leve. Queriam dar a chance de que ele se arrependesse quando visse que precisava de um herdeiro, de que ele pudesse ter Mizuno de volta quando se desse conta do quanto precisava dela. Sesshomaru sabia que, independente do que acontecesse, ele não voltaria atrás em sua decisão de romper com a nobre, mas desde que ele se livrasse dela por enquanto, já era o suficiente.

- Feito. - Concordou, finalmente, antes de voltar-se à fêmea para oferecer-lhe sua sentença final. - Você está oficialmente banida das terras do Oeste e de todo o meu domínio, até o fim dos tempos, a partir de agora.

A fêmea o encarou em choque, desacreditando por um momento, até o conselho confirmar com um breve aceno de consentimento dos três anciãos.

- De acordo. – Disseram em uníssono.

Imediatamente a postura elegante de Mizuno se desfez, seus olhos azuis se arregalando, suas mãos impulsivamente segurando a manga do haori de Sesshomaru.

- O senhor não precisa chegar a esse ponto! – Ela argumentou, voltando a usar o pronome de tratamento adequado em seu desespero. – Ainda podemos ter uma consumação, pense no bem do Oeste! Assim que o filhote for concebido eu iria para o Castelo nas Nuvens, ainda deve ser possível reformá-lo. O senhor nunca mais teria que me ver de novo, e teria o seu herdeiro!

- Deveria ter sugerido isso antes da minha paciência com você se esgotar. – Respondeu o general, friamente. – O que já aconteceu há séculos. Guardas!

Com o aceno do líder, os soldados presentes se moveram para tomar a fêmea pelos ombros, afastando-a à força do conselho.

- Eu espero que você tenha tido bons momentos embaixo desse lençol, Mizuno. – Provocou Sesshomaru, vendo-a resistir aos homens que a restringiam. – Ele será a única coisa que você levará daqui.

- Você vai se arrepender disso, Sesshomaru! Será a pior decisão da sua vida, você não vê?! – Ela gritou para ele uma última vez antes de ser removida da sala.

O daiyoukai não gastou um olhar de piedade com aquela que sempre esteve destinada a ser sua parceira para a eternidade. Entretanto, o alívio de ver aquele destino que ele tanto evitara ser finalmente desfeito para sempre não teve o sabor doce que ele imaginou que teria. Não quando os olhares de todos ao redor eram de intensa insatisfação e talvez até uma pitada de revolta. Ele sabia muito bem que, da mesma forma que havia males que vinham para bem, poderia também haver bens que viessem para mal.

- Agora que terminamos com isso... - Bokusenou falou, chamando a atenção do nobre governante de volta para a fatigante reunião, justamente quando ele pensou que tinha acabado. - Sobre essa suposta guerra...

Sesshomaru teve que conter um rosnado. Aquele seria um longo dia.

 

xXx

 

Hayashi e Rin se apressaram pelos corredores lado a lado, passando por diversos youkais mal encarados no caminho de volta para o quarto da humana.

- O que está acontecendo, Hayashi? – Ela perguntou em voz baixa, observando atentamente os diversos olhos ameaçadores que a encaravam quando passava por eles.

Rin não se lembrava dos corredores ficarem tão cheios de gente, era quase como se ela estivesse sendo propositalmente cercada.

- Aparentemente as notícias do conselho já foram espalhadas. – Hayashi explicou, igualmente discreto. – Estão sondando para verificarem se você está desprotegida.

A humana arregalou os olhos em surpresa, um arrepio de medo percorrendo sua coluna. Ela imediatamente apressou o passo, nunca tendo se sentido tão ansiosa para estar de volta à suposta segurança de seus aposentos.

- Você acha que o conselho decidiu contra mim?

- Eu duvido, Sesshomaru não permitiria. – Respondeu ele, cuidadosamente puxando-a para mais perto quando um youkai no caminho quase esbarrou na humana “acidentalmente”. – Ele fez uma boa jogada, te tornando uma aliada indispensável. Mas parece que alguns não estão aceitando isso muito bem.

Os dois amigos finalmente chegaram ao quarto ocupado por Rin, aliviados por finalmente estarem a sós.

- Eles podem fazer isso? Me matar sem ordens superiores?

- O que eles podem fazer e o que eles fariam são duas coisas bem distintas, Rin. – Hayashi disse, fechando a porta atrás de si. – Se Sesshomaru realmente dispensar a Mizuno, muitos estarão dispostos a te eliminar nem que custe-lhes as próprias vidas. A presença dela aqui era a única garantia que eles tinham que de as coisas entre vocês dois não tomariam rumos inaceitáveis.

Após aquelas palavras sombrias, Rin ficou em silêncio, seus olhos voltando para a porta de tempos em tempos, como se temesse que alguém fosse arrombá-la a qualquer momento para tentar um ataque. Nada daquilo era o que ela tinha planejado, se é que ela tinha planejado qualquer coisa. Parecia tão fácil, simplesmente estar apaixonada por Sesshomaru e tomar uma atitude a respeito disso. De repente ela se via quase cogitando voltar atrás, esquecer o que se passara entre os dois nos últimos dias e fazer o que Asai lhe pedira meses atrás, convencer Sesshomaru a seguir em frente com o noivado e fazer o que era melhor para o Oeste.

Mas ela sabia que seu altruísmo não chegaria tão longe, ela o amava demais para abrir mão daquela pequena felicidade da qual eles compartilhavam quando estavam juntos. Rin podia apenas esperar que ele soubesse o que estava fazendo, que desse tudo certo no final.

Parecia que havia se passado uma eternidade desde que eles entraram ali, a tensão aumentando exponencialmente quanto mais Hayashi ficava parado ao lado da porta como uma estátua, a luz do sol se pondo pela janela fazendo seus olhos dourados se acentuarem no ambiente fechado. Rin não sabia o que fazer, ela nunca havia ficado tanto tempo em silêncio quando na presença de Hayashi, a situação a deixava inquieta, fazendo-a caminhar pelo quarto de tempos em tempos, ajeitando coisas aleatórias por onde passava.

Justo no momento em que ela pensou que não poderia mais suportar aquela atmosfera enlouquecedora, a porta se abriu, fazendo-a congelar no lugar e soltar o fôlego lentamente ao ver que era Sesshomaru.

- E então? - Hayashi perguntou prontamente, assim que a porta voltou a se fechar para conceder privacidade ao trio.

- Mizuno está banida. Rin permanece sob minha custódia. - Informou o líder, para o alívio da humana. - A insatisfação geral diante das decisões é clara como o dia.

- Sim, eu te avisei que isso aconteceria. - Hayashi lembrou, correndo os dedos pelos cabelos lilases em preocupação. - Eu já perdi a conta de quantos passaram em frente à porta nas últimas horas, discretamente procurando uma abertura para cuidarem de Rin com as próprias mãos. O conselho era a última esperança deles para que você tomasse uma atitude, agora que você conseguiu dobrar até mesmo os anciãos, muitos estão indignados.

Sesshomaru franziu o cenho, sua expressão obviamente esgotada de toda aquela situação. Calmamente, ele caminhou até Rin, ansioso pelo conforto que ele sabia que sentiria quando estivesse perto dela. A humana ficou inevitavelmente mais calma quando ele se aproximou e a tocou gentilmente sobre a bochecha, tanto para simplesmente fazer contato com ela, como para tranquilizá-la melhor, fazê-la sentir-se protegida novamente.

- Não vão aceitar isso, Sesshomaru. - Hayashi enfatizou, sem saber o que mais poderia ser feito. - Não depois do que aconteceu com o seu pai, você bem se lembra...

- Os que não aceitarem minhas decisões, morrerão. - Sesshomaru sentenciou, determinado. - Eu não sou chamado de senhor dessas terras por nada. Aqui, valem as minhas regras. De que lado você está?

Respirando fundo, o subordinado caiu sobre um joelho, o som metálico de sua espada preenchendo o silêncio no cômodo quando ele a desembainhou, postando-a aos pés do daiyoukai soberano à sua frente delicadamente.

- Eu estou do seu lado, é claro. Sempre.

Assentindo, Sesshomaru voltou-se para a garota confusa ao fundo:

- Rin, reúna itens de necessidade, o que puder carregar. - Comandou ele, o tom de voz automaticamente se suavizando para falar com ela. - Precisaremos fazer algumas mudanças.

E, certamente, muitas mudanças aconteceriam dali para frente.

 

xXx

Rin se encontrava de pé, sentindo-se completamente deslocada parada ali, no centro do quarto onde estivera pela primeira vez naquela manhã. Lembrava-se da sensação de liberdade que sentira naquela ocasião, após a escapada até o litoral, mas agora a atmosfera de repreensão a cercava, escurecendo seu humor naturalmente alegre. Ela observava a bela e sombria tapeçaria do cão gigante na parede, as mãos se entrelaçando em nervosismo, antes de seus olhos se desviarem de volta para o grande youkai que posicionava uma pequena pilha de quimonos cuidadosamente bem dobrados sobre uma mesa. Roupas limpas, sua escova de cabelo e outros itens de higiene, alguns dos remédios que ainda possuía e uma pequena faca, só para o caso de precisar. Aquelas foram as coisas que ela decidira trazer em sua apressada mudança do quarto anterior para o quarto de Sesshomaru.

Aparentemente, o perigo sobre ela era tão iminente que Sesshomaru não mais permitiria que eles estivessem a nada mais que um cômodo de distância um do outro.

- O senhor tem certeza disso? - Ela perguntou, hesitante. - Eu ficar aqui não vai apenas agravar mais a situação, senhor Sesshomaru?

Sesshomaru suspirou, seus olhos se fechando por um instante, sentindo-se extremamente esgotado. Ela estava certa naquele aspecto, mas naquele momento não havia nada mais vital para ele do que assegurar-se de que ela estivesse devidamente protegida.  

- Os soldados não me dão escolha, te rondando daquela maneira. - Explicou ele. - E não podemos nos esquecer de que você é uma arma e uma espiã essencial para as minhas estratégias, algo que eu não posso simplesmente permitir que matem à vontade, como eles pretendem.

Ela sorriu, o gesto vindo com certa estranheza depois de ter passado tanto tempo sem usá-lo, o que era extremamente incomum. Sentindo-se mais relaxada diante do humor absurdo daquela afirmação, ela se permitiu caminhar mais livremente pelo cômodo, aproximando-se de deu senhor enquanto ele começava a organizar papeis sobre sua mesa, analisando-os cuidadosamente.

- Eu ainda me preocupo que algo possa dar errado. - Ela confessou, resquícios de nervosismo aparecendo em sua expressão. - Eles não deviam estar desafiando-o assim... E se-

Sesshomaru deixou de lado sua tarefa para interrompê-la com um gesto, não querendo ouvir o quão realistas as preocupações dela soavam naquele momento. Não importava, já estava feito. Ele não se arrependeria das manipulações que teve que fazer para mantê-la ao lado dele, sabia que não havia nada que ele não faria para ter Rin por perto. Qualquer consequência que tivessem que enfrentar não se compararia jamais ao medo que ele sentia de perder o privilégio de tê-la em sua vida. Ele não trocaria aquilo por nada.

- Não se preocupe, Rin. - Ele disse, tanto para tranquilizar a si mesmo quanto à ela. - Você está segura comigo.

Ela tentou presenteá-lo com um de seus característicos sorrisos, mas o gesto saiu apagado pela onda de receio que ainda tentava afogá-la. Ela confiava nele para protegê-la, mas podia confiar em si mesma para não ser responsável pela ruina de tudo que ele construiu ou almejava? Era ali que moravam seus maiores medos.

O youkai sentou-se de frente para sua mesa coberta de papeladas, observando a tensão remanescente cercando sua protegida. Ele apontou para um corredor que saía de uma das paredes do quarto, ligando-o à uma outra área privada.

- Sinta-se à vontade para usar a casa de banhos. - Ele concedeu, esperando que ela pudesse relaxar um pouco mais após um momento de repouso e conforto. - A água está quente.

 

Sesshomaru, despido de sua armadura e com a parte de cima dos longos cabelos presos atrás de sua cabeça para mantê-los longe do rosto enquanto ele trabalhava, colocou o pincel de volta no pote de tinta negra horas depois, largando os papeis empilhados em sua mesa para observar a humana parada de volta no fim do pequeno corredor, regressando enfim de seu prolongado banho, o cheiro de água limpa e essências florais sutis emanando do corpo dela. Rin ainda tinha as mãos entrelaçadas entre si como sempre fazia quando se sentia deslocada ou desconfortável, o pé direito desenhando padrões aleatórios no chão.

- Você pode ficar à vontade, Rin. Não há necessidade de agir como se essa fosse a primeira vez que estamos a sós. - Ele lembrou, ansioso para convencê-la a retornar ao seu estado natural de alegria e despreocupação, embora sua fala repentina tivesse servido apenas para sobressaltá-la.

- E-eu... Não quero desconcentrá-lo, senhor Sesshomaru. - Ela explicou timidamente, finalmente se movendo do canto e caminhando a esmo pelo amplo espaço do quarto, soltando os cabelos presos no alto de sua cabeça para que caíssem em ondas suaves pelas suas costas.

- Eu já estava quase terminando. - Disse, dobrando uma última folha de papel uma vez que a tinta secou, antes de apagar a vela gasta sobre a mesa, apertando a ponta do pavio entre o dedo indicador e o polegar. - Você deveria ir dormir.

Rin olhou pelas grandes janelas, surpresa com o quão tarde já estava. Ela sentia como se o dia tivesse sido longo demais, mas as preocupações rondando seus pensamentos não a deixariam descansar. Havia tanta pressão ao redor dela, ao redor deles dois, tantas expectativas que eles deviam superar e, principalmente, segredos que precisavam ocultar. Era desgastante.

Seus olhos se desviaram para a enorme plataforma adornada ao fundo do quarto, com lençóis que pareciam macios só de olhar, prometendo uma ótima oportunidade de repouso.

- Venha. - Sesshomaru chamou, percebendo a hesitação da humana, compreensível para alguém hospedado no quarto de outra pessoa.

Segurando-a pela mão, ele tomou para si a tarefa de ser um bom anfitrião e a guiou até o futon, subindo os pequenos degraus necessários para chegar até lá. Rin sentou-se confortavelmente entre os cobertores felpudos, mas sua mão permaneceu conectada à dele, recusando-se a soltar. Percebendo o convite implícito no gesto, o daiyoukai prontamente aceitou, abaixando-se ao lado dela.

Os dois deitaram lado a lado no leito nobre, permanecendo em um silêncio amigável por algum tempo, as finas cortinas elegantes dançando ao redor deles com a suave brisa noturna. Sesshomaru inevitavelmente se pegou lembrando das várias vezes em que ele secretamente a confortara durante o sono, aproveitando-se do estado de inconsciência da humana para não ser flagrado em atividades constrangedoras.

Felizmente, aquelas restrições estavam no passado, e agora ele livremente levou uma mão aos cabelos castanhos dela, brincando com as mechas escuras ao mesmo tempo em que tentava acalmá-la o suficiente para que ela conseguisse pegar no sono e esquecer todos os medos que preocupavam sua mente.

- Durma, Rin. - Incentivou, o tom de voz baixo e suave ajudando os expressivos olhos castanhos a se fecharem lentamente. - Amanhã tudo estará melhorando.

 

Não estava.

Sesshomaru despertou de um sono levíssimo que só acontecera por ele estar mentalmente esgotado de tudo que transcorrera no dia anterior e, também, por estar especialmente confortável ao lado de uma certa humana. Seu despertar não se deu devido a aproximações de estranhos, visto que ele havia monitorado o movimento de pessoas nos corredores durante toda a madrugada. Foi justamente o oposto, ele acordou ao perceber que estava tudo muito quieto. Estranhamente quieto.

E então ele percebeu detalhes mais graves, como o cheiro de sangue sendo detectado por suas narinas sobrenaturalmente dotadas. Ele podia dizer só pelo odor que o sangue pertencia a mais de uma pessoa, e também que não era uma quantidade comparável à uma verdadeira batalha. Mas, ainda assim, era desconcertante.

Sesshomaru sentou-se, movendo a franja que caía sobre seus olhos com uma mão. Rin mudou de posição com o movimento, virando-se para o outro lado, ainda perfeitamente adormecida, abraçada com a ponta da pelagem que o youkai usava. Ele a sacudiu o mais delicadamente possível para acordá-la.

- Rin, levante-se. - Chamou, em uma voz baixa, mas urgente. - Tem algo errado.

Rin voltou a rolar pelo futon espaçoso, posicionando um braço sobre os olhos afim de bloquear a claridade da manhã entrando pela janela. Não parecia nem um pouco mais acordada do que antes.

- Rin! - Ele chamou com mais afinco, fazendo-a sentar-se subitamente com um arfar de surpresa, a mão imediatamente colocando-se sobre o coração inevitavelmente acelerado.

- O que hou-

A fala dela foi interrompida quando Sesshomaru a empurrou repentinamente, o corpo chocando-se contra o dela e levando os dois ao chão, uma queda de quase um metro de altura. Ela gemeu com o impacto, embora não fosse nada sério. Desnorteada, olhou em volta quando o youkai saiu de cima dela, apenas compreendendo o que havia acontecido quando seus olhos encontraram uma flecha fixada firmemente na parede, na exata altura onde ela estivera segundos atrás.

Sesshomaru a ajudou a se levantar, virando o rosto dela para si com uma mão em seu queixo, o dedo indicador traçando uma linha em sua bochecha. Só quando Rin sentiu a ardência com o contato é que ela percebeu que estava ferida.

Era só um corte fino, de uma flecha que a pegou de raspão, mas foi o suficiente para trazer uma expressão furiosa à face do daiyoukai. Ele observou a flecha e refez a trajetória mentalmente, traçando a origem até a janela oposta.

Sesshomaru caminhou até o vão, Rin seguindo-o de perto, mas mantendo-se parcialmente oculta atrás da barreira que era o corpo do youkai. Debruçando-se sobre o parapeito, ele observou as torres de arqueiros ao longo da muralha que cercava o castelo, tentando localizar o atirador. Não encontrou absolutamente ninguém.

Não conseguindo evitar a curiosidade, Rin arriscou uma olhadela rápida, mas, ao contrário de seu senhor, seus olhos dirigiram-se para baixo, para o pátio. A visão a fez gritar em pavor, as mãos automaticamente tampando a própria boca, sem saber se era para tentar abafar seu grito ou para impedir a si mesma de vomitar.

A figura exibida no meio do pátio era tão chamativa que Sesshomaru não sabia como não tinha reparado antes, principalmente com o forte cheiro de sangue sendo exalado. Sangue humano.

Amarrada a um poste de madeira, estava uma mulher humana decapitada. A cabeça dotada de cabelos lisos e escuros, banhada em sangue coagulado, estava jogada aos pés do cadáver. A barriga estava aberta, as tripas ensanguentadas se espalhando pelo chão. Mas o mais desconcertante de tudo era a mensagem escrita no chão ao redor do corpo com o próprio sangue da vítima, as letras grandes para serem lidas à distância:

“Assim é como recebemos humanos no Oeste”

Sesshomaru imediatamente tratou de tirar Rin de perto da janela, segurando-a enquanto ela ia ao chão, as pernas sem forças para mantê-la de pé. Ela chorava, a imagem horrível fixada em sua mente. Ele abaixou-se junto à ela, deixando que ela o abraçasse e enterrasse o rosto molhado de lágrimas em seu peito.

- Estão apenas tentando te assustar, Rin. - Ele sussurrou, acariciando o cabelo dela enquanto ela soluçava em desespero. - Ninguém vai encostar em você, eu prometo.

- Eles mataram... Aquela pobre mulher... Por minha causa!

- Isso não é culpa sua! - Ele afirmou, puxando o rosto choroso dela para que pudesse olhá-la nos olhos.

Ela desviou o olhar para o chão, não se deixando convencer pelas palavras de conforto. Antes que Sesshomaru pudesse dizer qualquer outra coisa, o som de alguém batendo à porta chamou sua atenção.

- Fique longe das janelas e da porta. - Ele disse à ela ao levantar-se para atender ao chamado. Rin assentiu, encolhendo-se em um canto, apoiando as costas contra uma parede.

O daiyoukai abriu a porta para encontrar cinco de seus guardas do lado de fora, o mais alto deles tomando a frente, expressões preocupadas em seus rostos. Sesshomaru fez questão de esconder a própria preocupação, tomando o cuidado de manter seu rosto inexpressivo como de costume.

- O que querem?

- Senhor, trazemos péssimas notícias. - Disse o homem da frente, de imediato. - Ao longo da noite, muitos homens desertaram do exército. Temo que chegue a ser até metade dos nossos números.

A informação pegou o líder youkai de surpresa, mas ele rapidamente tratou de se recuperar, seus olhos dourados atentos às posturas dos soldados atrás do principal, reparando que um deles tinha pequenos respingos de sangue em seu uniforme.

- Interessante... - Sesshomaru disse, cautelosamente. - Mais interessante ainda é você precisar de tantos homens apenas para vir aqui me dizer isso.

- Tsc. - O soldado da frente sibilou, avançando repentinamente sobre o general com um punhal mirando em seu abdômen desarmado. Os outros soldados rapidamente seguiram o primeiro, puxando espadas e investindo contra Sesshomaru, que recuava do primeiro ataque, desembainhando a Bakusaiga e enterrando-a até o cabo no peito do primeiro.

Com a abertura, os outros entraram no quarto, golpeando com suas lâminas em uma tentativa de abater o senhor do Oeste.

Rin pôs-se de pé, observando a repentina luta do fundo do cômodo em desespero, sem saber o que fazer.

Sesshomaru degolou um dos youkais com sua espada, ao mesmo tempo enterrando suas garras venenosas na garganta do que vinha pelo outro lado, fazendo o homem gritar em agonia ao ser derretido de dentro para fora pela substância esverdeada.

Os dois últimos não se deixaram intimidar pela queda dos companheiros, um deles fazendo uma investida direta contra Sesshomaru em um ato quase suicida enquanto o outro aproveitava a distração para passar por eles, em direção à humana desnorteada do outro lado do cômodo.

Rin, ao observar o youkai correr até ela em alta velocidade, rapidamente sacou a pequena faca encapada presa na faixa ao redor de sua cintura e apontou-a para o inimigo com toda a coragem que lhe restava.

Antes que o soldado pudesse encostar nela, entretanto, um fio luminoso o enlaçou pelo pescoço, puxando-o de volta para trás violentamente.

Sesshomaru manipulou seu chicote ao redor do homem, a cabeça do mesmo desprendendo-se do corpo com um puxão bem dado no fio verde brilhante. A imagem rapidamente trouxe de volta à tona na memória de Rin a mulher morta lá fora, com o agravante de estar acontecendo em tempo real bem ali na sua frente.

Durante sua infância, foram tantas as vezes em que Rin vira seu senhor destruindo seus inimigos, até mesmo em tempos recentes eles haviam se encontrado em diversas situações desafiadoras como aquela. Mas, por algum motivo, daquela vez era demais para ela. Ela gritou, desviando o olhar, tentando se afastar o mais rápido possível da enorme poça de sangue que se formava pelo chão, brotando dos cinco cadáveres abatidos.

Tantas mortes, deserções... Ela fizera tudo aquilo?

 


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c1.staticflickr.com/1/731/32637793605_ff6fb51ce0_z.jpg (Pela primeira vez, estou postando uma fanart que NÃO FUI EU QUE FIZ. Não sei quem é o artista, mas como acabei me inspirando nela pra cena dos dois dormindo, achei válido usá-la para ilustrar em vez de simplesmente fazer uma igual.)

Para você que chegou até aqui, quero dizer: PARABÉNS! Você acaba de ler aproximadamente 200 páginas de fanfic (e eu uso fonte tamanho 10 no Word rs). Um pequeno livrinho, yay! Parabéns pra mim também, vai. To super feliz de ter chegado nessa marca *-*

E sobre o capítulo, Mizuno nos deixou e de quebra levantou um monte de problemas pros nossos queridos protagonistas. Obrigada Mizuno, você é uma fofa mesmo.
E a Rin agora é espiã pro Oeste, ou pelo menos é o que o Sessh disse hahaha. Acertou quem chutou que ele ia usar a Meidou Seki pra convencer o conselho :D

Mas agora eles vão ter que lidar com as consequências disso, vamos aguardar cenas dos próximos capítulos.
Até lá, beijos!


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