— Que tal essa, senhora Kaede? – Rin perguntou, erguendo uma erva para que a idosa pudesse analisá-la.
— Ah, sim, muito bem, Rin. – Ela elogiou. – Essa é mesmo boa para dores.
A menina sorriu, satisfeita, colocando as pequenas folhas verde-escuro em seu cesto.
— Quando terminar isso, pode ir. – A velha senhora concedeu. – Kohaku deve chegar a qualquer momento, de acordo com Sango.
O sorriso de Rin se alargou ainda mais, e ela automaticamente apressou o trabalho, colocando as folhas o mais rápido possível no cesto. Ela terminou em tempo recorde, entregando o recipiente de palha trançada para a sacerdotisa, e se levantou do campo, batendo a poeira de seu quimono.
Ela estava animada para rever o amigo, já fazia mais de um mês que não o via, agora que ele havia decidido se dedicar mais às atividades de exterminador de youkais, e Sango, estando já grávida, não podia mais auxiliá-lo em seu treinamento.
Rin vinha se adaptando bem à vida no vilarejo, sob os cuidados da senhora Kaede. Era realmente completamente diferente da vida que levara antes de encontrar Sesshomaru.
A velha sacerdotisa a ensinava muitas coisas interessantes, e Rin percebeu que podia ter algum propósito em sua vida também. Ajudar a curar as pessoas era uma tarefa nobre, da qual ela se orgulhava de ser aprendiz. Na primeira vez que ela participou de um parto, a menina achava que ia vomitar de tanta agonia. Mas ao ver a mágica da vida acontecer, quando um bebê saudável sai de dentro da barriga de uma mulher, ela apenas sorriu, com lágrimas nos olhos.
Sango a tratava como uma irmã mais nova, e Rin aprendera a apreciar a companhia e conselhos da antes exterminadora de youkais, mas que agora era apenas uma mãe de família.
Kohaku era seu melhor amigo, e apesar de ele não frequentar muito o vilarejo, ele visitava ocasionalmente para ver sua irmã e os outros amigos, e contar sobre seus feitos.
— Kohaku! – Rin chamou assim que avistou o amigo sobrevoar o vilarejo, montado em Kirara.
Ele sorriu e acenou em resposta quando a viu, imediatamente pousando e descendo para envolver a garota em um abraço apertado, levantando-a do chão.
— Que saudades, Rin! – Ele disse, ainda mantendo-a colada ao se corpo.
— Por onde você andou dessa vez, hein? – Ela perguntou com curiosidade, sentindo falta de quando era ela quem vivia em aventuras com um certo youkai.
— Ah, você sabe... Por todos os lugares. – Respondeu o exterminador. – E Sango?
— Está ótima. Você tem que ver o tamanho da barriga dela! – Rin comentou, rindo, enquanto acompanhava Kohaku em direção à cabana de sua irmã mais velha.
— Mana! – Kohaku chamou, batendo de leve na madeira ao lado da porta de entrada quando chegaram até a singela edificação.
Não demoraram dois segundos para a moça aparecer na porta, imediatamente envolvendo o irmão em um abraço desajeitado devido à barreira que era sua barriga redonda.
— Kohaku! – Ela exclamou, enterrando o rosto sorridente no ombro dele. O garoto crescia cada vez mais toda vez que ela o via.
— Ei! Olha só pra você! – Ele comentou, se afastando um pouco do abraço para pousar uma mão delicadamente sobre sua barriga.
— Está enorme, não é? Kaede tem quase certeza de que são dois. – A ex exterminadora informou, soando orgulhosa.
— Dois? Uau! Vão dar um trabalhão. – Kohaku disse, risonho.
— Vão mesmo, - Rin acrescentou, falando diretamente com os bebês dentro da barriga. – Mas a tia Rin vai estar aqui para ajudar, não é?
Sango assentiu, e em seguida foi surpreendida pela pequena gatinha de duas caudas que saltou para o seu colo, afagando o rosto contra suas roupas e liberando um miado satisfeito.
— Kirara! É bom ver você.
— Sango, minha querida. – Uma voz masculina soou de dentro da cabana, interrompendo a pequena reunião, e Miroku apareceu por trás de sua esposa. – Onde estão seus modos? Vamos convidá-los a entrar.
— Ah, claro! Venham, Kohaku, Rin. – Ela chamou, ainda carregando Kirara em seus braços.
Sango serviu um chá de ervas frescas e bolinhos, e eles conversaram sobre os extermínios de Kohaku e as poucas novidades que ocorreram no vilarejo desde a última visita dele.
Após a visita à Sango, as crianças voltaram ao ar livre com energia renovada. Eles foram juntos até o bosque ali perto, colher amoras frescas que estavam quase explodindo de tão maduras.
— Ainda não vi Inuyasha. – Kohaku comentou, roubando uma amora do cesto de Rin, mesmo tendo acabado de comer os bolinhos de sua irmã.
— É. – Ela concordou, sua expressão se tornando mais triste. – Ele está no poço...
— Verdade, devia ter imaginado. Ele continua esperando, não é?
— Não acho que ele vá desistir algum dia. – Rin disse, caminhando ao lado dele na direção do rio. – Nós sempre esperamos as pessoas que amamos, não é verdade?
Ele a encarou com um olhar sereno por um momento, antes de desviar o rosto, percebendo que estava começando a corar.
— É por isso que você também continua esperando pelo senhor Sesshomaru?
Ela voltou o rosto para ele, um pouco tímida, mas respondeu honestamente:
— Sim. Eu vou continuar acreditando que ele vai voltar, um dia.
— Mas Rin. – Ele interrompeu. – Você não acha que as situações são um pouco diferentes? A senhorita Kagome obviamente está sendo impedida de voltar por algum motivo, mas o senhor Sesshomaru poderia vir vê-la quando quisesse...
— Ele tem os motivos dele! – Ela insistiu, desviando o olhar para o céu. – E eu não vou questionar. Senhor Sesshomaru disse que nossos caminhos podiam voltar a se cruzar, e eu vou acreditar nisso!
— Tudo bem, então. – Kohaku assentiu, se rendendo. – Eu espero que dê tudo certo. Para você e para o Inuyasha também.
— Obrigada, Kohaku! – Rin agradeceu com sinceridade, envolvendo o amigo em um doce abraço que trouxe o rubor de volta às bochechas do menino. – Você é maravilhoso!
— Ah, eu sei disso. – Ele retrucou, convencido. – Você bem que queria ser maravilhosa assim que nem eu né?
— Até parece! - Rin revirou os olhos, tentando parecer entediada, mas seu sorriso denunciou sua brincadeira.
Os dias com Kohaku eram sempre divertidos e animados. Rin realmente não tinha do que reclamar quanto a isso. Na verdade, todos ali eram gentis e bondosos com ela, e quanto mais o tempo passava, mais à vontade ela se sentia.
Durante todo o dia ela se cansava de tanto correr por aí com Kohaku, de ajudar na colheita e na lavagem das roupas, de tomar conta das crianças mais novas do vilarejo quando os pais estavam ocupados com suas tarefas, de preparar remédios junto à Kaede.
Mas, quando a noite chegava e ela se retirava para o seu futon, a melancolia se apoderava de seu coração de forma devastadora.
Senhor Sesshomaru, ela pensou naquela noite, encarando a escuridão da cabana com olhos marejados. Onde o senhor está agora?
—--
Lá fora, na friagem da noite, o hanyou se levantava do lugar onde estivera sentado durante toda a tarde, dando mais uma olhada prolongada no poço, como uma última chance de algo acontecer antes de ele ter de ir. Nada aconteceu.
Ele suspirou, absorvendo o ar puro da floresta ao seu redor. Seu nariz rapidamente pegou um cheiro familiar, e ele se virou na direção do odor, correndo até parar de frente para um nobre youkai que o olhava de volta, indiferente. Olhos dourados fitaram um outro par de cor idêntica, e longos cabeços similarmente pálidos esvoaçavam levemente com a brisa noturna.
— O que você está fazendo aqui, Sesshomaru? – O meio-youkai questionou, cruzando os braços. – Achei que você e a velhota Kaede tinham combinado-
— Estou apenas de passagem. – Ele justificou a contragosto, o rosto voltado para o vilarejo onde podiam-se ouvir os humanos se preparando para a noite, embora uma certa frequência de respiração em especial captasse a atenção do youkai.
A doce respiração de uma certa menina em seu leito de dormir, lembrando-o, a cada inspiração e expiração, que ali havia uma vida se sustentando, saudável e fora de perigos.
— Ha. Sei. – Inuyasha respondeu, irônico. – Ela está bem, sabe.
— Hm. – Ele murmurou, indiferente. – Eu confio que você vá manter o seu bico calado sobre esse encontro, hanyou.
— Pedindo tão educadamente assim... Por que não? – Ele replicou, carrancudo. – Mas você devia saber que não ia passar despercebido por mim.
— E é melhor, pelo seu bem, que nada mais passe. – Sesshomaru avisou, para lembrar o meio-irmão de sua função essencial como protetor do vilarejo - e de Rin -, olhando-o seriamente antes de simplesmente se virar e começar a caminhar para longe calmamente.
— Imbecil. – Ele sussurrou para si mesmo, também se virando para a direção oposta, indo para o vilarejo.
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