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História Unintended - Lírio do Oeste


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Ufa. Oi rs

Mano, essa semana acabou com a minha organização, vocês não têm noção da zona que foi organizar esse capítulo. Eu simplesmente não tinha tempo pra escrever, então o que eu fiz? Usei toda minúscula fração de tempo livre pra botar a mão na massa: na fila do banco, esperando a aula começar, esperando o ônibus, no trabalho. E cada vez eu usava o instrumento que estivesse mais acessível, e acabou que eu tinha: três trechos em 3 folhas de ofício cada, um trecho no Google Drive, um trecho no tablet, dois no celular, um no pc, todos fora de ordem e com cenas que eu não sabia se ia botar (o que foi muito triste, porque as que eu não gostei foram as do papel. 6 folhas inteiras escritas na mão, amassadas e jogadas fora x-x)

Ai ai. Mas tá aqui. Desculpem a demora :/

Capítulo 35 - Lírio do Oeste


Rin se aconchegou na toalha macia, deixando que o tecido absorvesse a água acumulada em seu corpo e aquecesse sua pele, o vapor da casa de banho de Sesshomaru a envolvendo enquanto ela observava a enorme tina de água quente apenas esperando por ela.

A toalha, na verdade, havia sido oferecida a Sesshomaru ainda no salão de entrada por um criado prestativo, depois de eles terem chegado cobertos de chuva, mas ele a dispensou, colocando-a sobre os ombros da humana em vez disso. Na hora, ela achou que fosse morrer de tanta vergonha, mas agora estavam a sós finalmente.

E, deuses, se havia uma coisa de que Rin precisava naquele momento, era de um banho.

Deixando a toalha cair aos seus pés junto ao quimono encharcado, ela se aproximou da borda, antes de lançar um olhar convidativo ao youkai logo atrás dela. Sesshomaru aceitou o convite, postando-se ao seu lado e sacudindo a cabeça energeticamente, em um movimento nada gracioso que lançou gotas de água sobre todas as paredes e sobre ela. A humana riu sem se conter, e foi empurrada impiedosamente dentro da piscina de água morna em retaliação por ousar rir do grandioso daiyoukai. É claro que aquela pequena punição apenas serviu para fazê-la rir ainda mais. A única coisa capaz de calar aquele som melodioso foram os lábios de seu amado, quando ele se juntou à ela sob a nuvem de vapor.

Satisfeito que ela cessara o divertimento às suas custas, Sesshomaru rompeu o contato por um momento, embora mantivesse sua testa levemente encostada à dela. Na quase plena escuridão do cômodo, Rin podia apenas ver os olhos dourados refletirem a pouca luz que os atingia.

- O senhor não precisava ter feito aquilo. Podíamos ter entrado pela janela, como das outras vezes.

Ela ainda não entendia porque ele havia decidido fazer uma entrada tão chamativa e comprometedora. Está certo que já estavam planejando chamar alguma atenção para a possibilidade de estarem juntos, em uma tentativa de preparar as pessoas para a verdade. Mas, se fosse para ser tão descarado assim, ele podia muito bem beijá-la logo na frente de todos e seria igualmente revelador.

- Sim. - Concordou Sesshomaru. - Mas então ninguém teria visto quão bem você fica nos meus braços, depois de um banho de chuva.

A humana gargalhou com a resposta, o rosto completamente avermelhado em lisonjeio. A cor na face dela era tão tentadora que Sesshomaru pôde apenas beijá-la novamente, ainda não acreditando que ela estava de volta ali com ele, sã e salva, sem um arranhão. Pelo menos nenhum que não tivesse sido provocado por ele mesmo.

- Eu te amo… - Ela sussurrou na voz mais doce, enquanto ele beijava seu queixo e sua mandíbula, as garras traçando levemente as linhas em seu pescoço por onde podia sentir seu sangue pulsar aceleradamente.

Ele se manteve em silêncio, sem interesse em retribuir as palavras mais uma vez. Afinal, palavras eram levadas pelo vento, não faziam justiça à atemporalidade de seus sentimentos. Sesshomaru preferia ocupar-se com coisas mais palpáveis e mais verdadeiras, e foi exatamente o que ele fez ao envolver a cintura dela e deixá-la apenas abraçada a ele, como jamais permitiu que qualquer outra fizesse.

Quando a tinha assim tão perto, em um momento tão solene e acolhedor, era mesmo impossível ignorar o quanto a amava. No passado, havia encarado aquele sentimento com hostilidade, mas no fim das contas, era mesmo muito conveniente. Pois Rin era uma criatura que precisava de amor.

E ele era uma criatura que precisava dela.

E agora haveria ainda mais dela para amar, como se apenas Rin já não fosse mais que o suficiente para iluminar seu mundo obscuro. Haveria uma outra parte dela ainda desconhecida, mas pura e apaixonante, na forma de um pequeno filhote que se desenvolvia dentro de seu útero naquele mesmo momento.

Sesshomaru nunca havia visto como mais do que uma incômoda obrigação a ideia de tornar-se pai algum dia. O fruto dessa obrigação não seria mais que uma outra ferramenta em jogos de poder, uma mera peça a ser usada no governo e manutenção daquelas terras, como o próprio Sesshomaru havia sido.

Mas Rin o fazia ver tudo aquilo sob um novo ângulo, ela o fazia querer coisas que sempre preferiu evitar, e por motivos completamente novos, que ele nem chegava a compreender exatamente. Tudo o que sabia era que mal podia esperar para ver sua fêmea inchada com seu primogênito, até que seu crescimento estivesse avançado o suficiente a ponto de ele conseguir distinguir o cheiro dos dois um do outro. Imaginava como seria, se lembraria o intoxicante aroma de Rin.

Ele aspirou profundamente contra o pescoço dela, fortalecendo ainda mais sua imaginação, os olhos se fechando enquanto ele tentava visualizar como seria esse futuro próximo.                                                                        

- Fico feliz de não termos precisado nos esconder dessa vez. - Rin falou em uma voz baixa, ainda abraçada a ele, retornando ao assunto do qual ele se perdera. - Mas o senhor não acha que foi um pouco revelador demais?

- Rin… - Ele respondeu, o tom um pouco abafado pela pele dela que ele mantinha colada aos lábios. - Quanto tempo você acha que vai levar até que percebam sua condição? E quanto tempo vai demorar para suporem quem é o pai do filhote que você espera?

Rin não ofereceu uma resposta, ocupada tentando deduzir o que ele perguntava. Estando entre humanos, sabia que ainda teria alguns meses até alguém conseguir reparar em alguma mudança em seu corpo. Ali, entre youkais com bom olfato, não fazia ideia.

- Algumas semanas. - Ele esclareceu para ela. - E eu prefiro que, até lá, todos já saibam que você é minha e já estejam bem acostumados com a ideia. Assim saberão que esse é o meu filhote, e o herdeiro dessas terras. Não podemos mais esconder, Rin. A não ser que você queira que essa criança seja vista como um bastardo…

- Não... O que faremos então?

- Nos casaremos. Depressa. - Revelou simplesmente, recebendo um olhar surpreso da parceira, como se eles já não viessem planejando aquilo há algum tempo. - Eu não posso deixar que pensem que estou fazendo isso apenas por causa de uma gravidez indesejada. Já será difícil o suficiente, dada a... natureza do filhote. Se acreditarem que nem mesmo os pais o queriam, jamais conseguirá ser respeitado.

Rin sentiu sua boca ficar seca de repente, preocupação a atingindo de mais de uma maneira diferente. Preocupação por seu bebê, por Sesshomaru, pelo Oeste. Era verdade que já vinham se preparando, mas não esperava que a decisão definitiva viesse tão repentinamente. Não podia evitar temer que fosse precipitado, embora não visse muita escolha, dadas as justificativas certeiras de seu senhor.

Não havia nada mais mal visto que um filho fora do casamento. Especialmente um meio-youkai. Ele estava certo, era imperativo que a notícia do casamento viesse antes do anúncio da gravidez.

- Amanhã mesmo solicitarei uma nova convocação do conselho. Infelizmente, isso precisará passar por eles primeiro, embora a decisão que tomem não me importe de nada. - Sesshomaru disse, prendendo totalmente a atenção da humana ainda agarrada em um de seus braços. - Ainda teremos alguns dias até a chegada dos anciãos, de forma que quero que você os use para assegurar sua base apoiadora da maneira que julgar mais adequada. Vou te dar carta branca nesse assunto, visto que você lida com ele muito melhor do que eu.

- Alguns dias... Tão cedo?

Ela sentia o nervosismo a invadir com a possibilidade. Ser julgada por um conselho, como se fosse um objeto em leilão, era uma ideia nada reconfortante. Principalmente, porque ela já sabia o que eles diriam e, então... Não fazia ideia de como Sesshomaru pretendia contornar aquele último empecilho no caminho deles.

O daiyoukai a olhou nos olhos primeiro, uma certa ternura e calor por trás das irises douradas que a fitavam. Em seguida, seu olhar se desviou da face dela, descendo sugestivamente até o ventre parcialmente oculto pela altura da água ao seu redor.

- Não temos muito tempo, Rin. - Ele falou calmamente, erguendo uma mão para repousar à lateral do rosto dela, buscando confortá-la. - Não se preocupe. Apenas faça a sua parte, eu cuidarei do restante.

Rin respirou fundo, fechando os olhos, tentando relaxar na água quente como deveria estar fazendo. Precisava manter o foco no que havia prometido a ele, que faria todo o possível para que seus planos se realizassem. Ainda lhe parecia como um sonho quando parava para pensar na longa jornada que eles tiveram até ali.

- Como isso foi acontecer... Quase não consigo acreditar... - Ela falou em uma voz hesitante a princípio, mas que rapidamente se tornou embargada de emoção à medida que ela absorvia aquela realidade. Com um sorriso se construindo no rosto juvenil, as próximas palavras soaram em um sussurro, como um segredo inimaginável, - Eu vou ter um filho seu…

Sesshomaru se permitiu apreciar aquela pequena amostra de uma felicidade tão genuína ali, estampada na face dela, como se fosse a mais bela obra de arte já pintada. Nua, nublada em vapor de água, sorridente. Nunca a havia visto tão radiante, tão linda. Ele lhe beijou um ombro, mantendo-a na prisão de seus braços, deixando que os dois corpos absorvessem o calor da água quente e o redistribuíssem entre eles.

- Nós certamente nos dedicamos bastante para isso. - Comentou, fazendo-a rir, envergonhada.

Ah sim, eles definitivamente haviam feito por onde.

Sesshomaru quase se deixou levar pelo desejo que tais lembranças traziam à superfície, como nunca parecia conseguir ter o suficiente dela, sempre sedento para tê-la de novo e de novo, cada vez que a tocava. Entretanto, ele se conteve, apiedando-se da aparência cansada de Rin. Havia sido um longo e estressante dia.

E viriam ainda alguns mais.


xXx

 

- Mais chá, querida? - A youkai-ursa, Usagi, perguntou docemente, oferecendo o bule fervente à humana que assentiu com um sorriso.

- Deixa eu servir a senhorita Rin, mamãe! - Uma pequena menina pediu, animada com a perspectiva, as mãozinhas se estendendo em agitação.

- Não, deixa eu! - A outra só um pouco mais velha protestou, metendo-se no meio das duas e tentando agarrar o bule por conta própria.

Rin riu, elegantemente escondendo o rosto por trás da manga de seu junihitoe. As outras mulheres presentes na sala de chá copiaram o gesto, o som alegre preenchendo o cômodo com um clima tranquilo naquele fim de tarde.

- Yuki, está quente. É perigoso. - Ela falou em repreensão, estendendo a xícara para que a youkai adulta a servisse no fim das contas. As crianças a olharam com decepção, mas as caras emburradas logo se esvaíram quando a humana lhes lançou um sorriso gentil, uma mão carinhosamente enrolando os cabelos marrons da mais nova nos dedos. Automaticamente, ela se pegava pensando em como seria ter uma criança para si mesma, se seria um menino ou uma menina, se seria alegre ou reservada, teimosa ou comportada.

Um sorriso sonhador se abriu em seu rosto, o cérebro contando agora o tempo de mais uma semana que se passava, sem que seu sangramento desse qualquer sinal de aparecer. Ela já sabia que não viria, e aquele conhecimento a enchia de expectativa.

Sesshomaru havia lhe dado alguns dias para suas últimas interações com seus conhecidos da cidade, os últimos dias que teria sem que eles soubessem quem realmente ela era. Ou seria, assim que tudo fosse oficializado propriamente. Além disso, havia estendido a missão para a única outra pessoa que já estava a par dos planos, Jaken. O pequeno servo foi encarregado de sondar a situação e tentar mensurar exatamente quão apegada à garota humana a população se encontrava.

E se era aprovação que ela precisava obter, Rin não hesitou em jogar pesado, lançando todas as suas apostas naquelas últimas oportunidades. Em apenas poucos dias, ela foi capaz de integrar facilmente a vida na cidade com o castelo, convidando a todos para pequenos eventos como aquele.

O relatório de Jaken havia chegado no dia anterior, e Rin compartilhou do alívio de Sesshomaru quando o ouviram. Com exceção dos nortenhos que preferiam não opinar à maioria das perguntas, todos os outros que eram questionados pareciam encontrar as palavras mais fascinantes para descrevê-la.

Rin é um anjo, diziam. Não consigo imaginar o Oeste sem ela.

Quando ouviam dizer que ela e Sesshomaru tinham mais do que apenas uma relação de conveniência, pela primeira vez, as respostas não vinham com um mínimo de reprovação sequer.

Ela parece ser boa para ele, diziam. Há muito não víamos o nosso senhor parecer tão satisfeito e bem-humorado. A vida tem fluído com muito mais tranquilidade desde que ele a trouxe.

Rin suspirou, sorridente e satisfeita ao lembrar-se daquelas palavras confortantes. Por um momento havia duvidado que pudessem ser reais, mas olhava ao seu redor agora e o cenário que se mostrava era inegável. Todos a olhavam com sorrisos e a recebiam com palavras gentis, todos se ofereciam para fornecer-lhe qualquer coisa de que precisasse a todo momento e, quando alguém precisava de ajuda com alguma outra coisa, era à ela a quem recorriam.

Um homem aproximou-se de sua mesa, chamando sua atenção. Ele a cumprimentou educadamente, posicionando um fino pergaminho ao lado de seu chá.

- O documento que havia me pedido, Rin.

Ela sorriu em agradecimento. Na verdade não havia pedido, apenas perguntado se ele o havia visto por acaso. Mas o homem insistiu em encontrar e trazê-lo até ela, não importando o quanto Rin dissesse que não precisava e não era nada importante assim, apenas uma lista de alimentos para consumo humano que precisava entregar à cozinheira e não lembrava onde tinha deixado.

- Ah, muito obrigada mesmo. Eu disse que não precisava. - Ela pausou, acrescentando em seguida: - Como vai sua esposa?

- Ela também anda perguntando por você.  - Ele respondeu com um sorriso amigável.

Facilmente, os dois engajaram em uma conversa casual animada, e logo outros se integraram, o papo fluindo naturalmente entre anfitriã e convidados.

- Diga à sua mulher que eu separei aquele meu quimono que ela elogiou daquela vez. Lembre-me de pegá-lo para você depois.

- Ah, Rin, você não devia mimar Yohana assim…

- Imagina, eu-

A conversa foi interrompida abruptamente com o chamado estridente que Rin conhecia tão bem. O ouvia desde a infância, o tempo inteiro.

- Rin! - A voz de Jaken agora, entretanto, era séria e até um pouco tensa. A humana rapidamente se calou para ouvir. - O senhor Sesshomaru me pediu para vir buscá-la. Ele nos aguarda na Sala do Conselho.

Toda a sua animação e bom humor se esvaíram com aquele chamado, a cor natural sumindo de seu rosto. Ela respirou fundo, voltando-se aos companheiros à mesa, que a olhavam também com genuína preocupação, mesmo que não tivessem ideia do porquê da reação. A cara dela devia estar mesmo muito ruim.

- Por favor, me deem licença. - Ela pediu em um esforço para ser educada, embora a voz tenha saído tão baixa que não tinha certeza se todos a ouviram.

Parte de seu nervosismo se dava devido à seriedade da situação, mas também havia uma parte dela que apenas revivia memórias passadas da última vez que Jaken a havia chamado àquela mesma sala. Na ocasião, precisava convencer o conselho e todos os presentes de que Sesshomaru e ela não tinham absolutamente nada um com o outro. Agora, era justamente o contrário.

Haviam lhe perguntado se ela seria a amante do general. Decerto, a verdade que diria hoje surpreenderia muito mais do que a que eles imaginaram ouvir naquele dia.

Lutando para se acalmar, a humana se viu parada de frente para as intimidantes portas duplas da Sala do Conselho, que se abriam para ela sem que precisasse sinalizar aos guardas.

Ajeitando as roupas, ela se apressou a entrar, seus olhos fixando-se na figura reconfortante de Sesshomaru, exatamente onde ela o vira da última vez em que esteve ali. Notava com certo triunfo e satisfação a ausência da detestável fêmea que estivera ao lado dele na ocasião, mas logo o sabor da memória mudou para um tom mais amargo ao lembrar que Hayashi também não estava mais ali, por um motivo muito mais trágico.

- Finalmente, nossa convidada de honra está aqui. - Aoki, o macaco alvo, falou, quebrando o silêncio. - Será que agora vai nos dizer o porquê da invocação, Sesshomaru?

Sesshomaru não respondeu uma palavra, uma mão se oferecendo até ela, chamando-a do outro lado do corredor. Rin seguiu a passos apressados até segurar o membro que lhe era estendido, posicionando-se ao lado do amado, sentindo um estranho alívio consumi-la só de tocar nele. Agora mais confiante, ela encarou mais uma vez as três figuras do macaco branco, da Magnólia e do dragão rubro do outro lado da moldura.

- Não os chamei para solicitar conselhos desta vez. - Sesshomaru falou por fim, quando ela estava segura ao lado dele. - Apenas fazer um informativo.

- Mas o que-

- Prossiga. - Bokusenou interrompeu o macaco carrancudo, sua expressão talhada em madeira parecendo genuinamente interessada.

- Finalmente, eu tomei minha decisão a respeito da fêmea que se tornará minha parceira definitiva, como já venho sido pressionado a fazer há algum tempo.

As palavras do daiyoukai vieram acompanhadas de puro choque para todos os ocupantes da sala, exceto para Rin, que apenas sentia seu sangue gelar nas veias, tentando com todas as forças se concentrar em permanecer de pé e não acabar desmaiando de nervosismo, fazendo o seu melhor para copiar a famosa expressão de indiferença do youkai ao seu lado.

- Você não pode estar querendo dizer que... - Aoki supôs, quase engasgando com as próprias palavras.

- É melhor que você tenha mudado de ideia quanto à rejeição à senhora Mizuno... -  Completou cautelosamente Ichijou, como se falar calmamente fosse reduzir a violência daquele susto.

- Hm. Mizuno não poderia ser mais inútil para mim. - Sesshomaru respondeu com desinteresse, sem deixar de reparar que Bokusenou ainda não havia dito nada e apenas o observava com seriedade. - Um herdeiro puro para dar seguimento à linhagem... Que objetivo mais tolo. Basear minhas decisões presentes em algo que apenas será contemplado na próxima geração, que não herdará nada de mais grandioso do que o que há agora. Em vez disso, prefiro pautar minha escolha naquilo que julgo mais valioso para a herança dos inuyoukai, a construção de um verdadeiro império, a expansão do Oeste.

- Uma guerreira? - Bokusenou falou por fim, parecendo confuso enquanto olhava a humana com uma sobrancelha erguida. - Você deseja se unir a uma guerreira, então?

- Não é com as batalhas que me preocupo. Acredito que o termo diplomata seria mais adequado. - Esclareceu ele, o que causou uma estrondosa gargalhada vinda de Aoki.

- Você não é do tipo que gosta de resolver as coisas com conversas, Sesshomaru!

- Certamente, eu detesto. - Concordou, permanecendo sério, ignorando completamente a risada exagerada. - Por isso mesmo a escolhi para cumprir essas tarefas em meu lugar.

O macaco fechou a cara com a resposta, e o dragão já deixava o temperamento se alastrar, a fumaça característica brotando de suas narinas.

- A humana?! - Ele perguntou de uma vez a pergunta óbvia, como se fosse necessário, dado que as mãos dos dois ainda encontravam-se entrelaçadas. - Só pode estar brincando! Aoki, ele está brincando? Bokusenou?

- Acha que vamos concordar com esse absurdo? - Aoki questionou, incrédulo.

- Como eu disse. - Sesshomaru prosseguiu, ainda mantendo a calma, seu rosto não denunciava uma única emoção. - Não pedi conselhos, muito menos permissão. É apenas um anúncio para que fiquem cientes.

Agora o dragão estava realmente em fúria, chamas baixas podiam ser vistas soprando pelo nariz, os olhos reptilianos encarando o casal à sua frente em completa indignação.

- Ora, como fala assim com aqueles que vêm carregando esse território nas costas há séculos? - Berrou o ancião, furioso. - Sua raça não estaria aqui se não fosse por nossas instruções!

- E eu pretendo elevar minha raça para além de apenas “aqui”. Compartilho essa decisão em respeito aos anos de serviço, mas de nada me interessam suas opiniões a respeito.

Por um longo momento, o dragão encarou o inu com um olhar raivoso, ao qual Sesshomaru apenas respondeu com uma indiferença que só irritava ainda mais o ancião. Até que a voz sábia de Bokusenou soou mais uma vez:

- Então diga-nos o seu plano. Talvez possamos ajudar a aperfeiçoá-lo.

Dessa vez foi Rin quem encarou a árvore com surpresa, não estando esperando qualquer tipo de oferta de colaboração com o rumo que aquela reunião vinha tomando.

- O quê?! - Os outros dois disseram em uníssono, igualmente estupefatos.

- Ajudar um youkai a se unir com uma humana!

- Isso deu tão certo da última vez! - Aoki completou com sarcasmo.

- Não preciso de ajuda, meus planos já estão em movimento e indo muito melhor do que o esperado. - Sesshomaru garantiu, confiante. - A aprovação de Rin já é muito maior do que qualquer senhora antes dela conseguiu alcançar. Akizuki, do Centro, já declarou seu apoio por ela e chegou a ameaçar romper nossas relações caso não seja Rin a escolhida.

A humana o encarou, boquiaberta. Não estivera ciente daquela última parte! Também pudera, a carta apenas havia chegado naquela manhã, bem a tempo.

- Akizuki é famosa por suas imprudências emocionais-

- E também é famosa por seu exército gigantesco, o qual ela entregou em íntegra à Rin. - Rebateu o inu, antes que pudessem dizer algo para tentar desconstruir seus argumentos. Rin o olhou de soslaio, não havia sido bem assim que ela lembrava, mas permaneceu quieta de qualquer maneira.

O macaco pausou, incerto sobre como proceder. Mas o dragão ainda se deixava levar pela cólera do fogo que se alastrava ao seu redor, olhos amarelos estreitados em insatisfação.

- Isso vai muito além dessa única batalha que você arrumou, Sesshomaru! Você quer tomar uma humana por esposa, será que não vê quão drástica é essa decisão?

Com a insistência, Aoki também voltou a se inflamar, e logo os dois anciãos exaltados estavam gritando seus argumentos reprovativos em uma sequência frenética, sem deixar espaço para interrupções. Sesshomaru deixou que eles falassem, estava farto de ter que repetir que a opinião deles não faria a menor diferença. Mas a última sentença chamou sua atenção, quando os dois pareceram decidir por conta própria qual seria o desfecho daquela reunião.

- Eu decreto exílio para a humana também! - Ichijou esbravejou, sua voz tão quente quanto o fogo que ele exalava. - Essa criatura já causou problemas demais!

- Isso mesmo! Se Sesshomaru não consegue conter a si mesmo, cabe a nós a decisão de acabar de uma vez com esse absurdo! Já durou tempo demais.

Rin inconscientemente deu um passo para mais perto do parceiro, sua mão apertando mais a dele. Ele havia lhe garantido que aquele encontro era mera formalidade, que ninguém poderia mudar o resultado que já estava decidido no dia em que eles tiveram a consumação. Mas ainda assim ela procurou a segurança da proximidade, e o youkai apenas ergueu o queixo, sua postura impecável e o olhar perigosamente ameaçador pela primeira vez desde que haviam começado a discussão.

- A vocês não cabe absolutamente nada. - Esclareceu, a voz pausada para enfatizar o significado de suas palavras. - Eu ainda sou o Senhor aqui.

- E nós ainda somos o Conselho! - Respondeu Aoki, os espessos pelos brancos eriçados ao redor de seu pescoço, fazendo-o parecer maior do que realmente era. - Estamos aqui justamente para interferir em decisões estúpidas e desastrosas como essa!

- Andem logo com isso! - Ichijou complementou, antes que o inu pudesse fazer mais ameaças veladas. - Guardas, o decreto está decidido. Removam a humana dessa sala, vamos conceder à ela apenas tempo o suficiente para reunir provisões e seguir seu caminho.

- Mas esperem aí... - Bokusenou falou em sua voz conciliadora de sempre, parecendo realmente deslocado com a reviravolta. - Senhores...

Os apelos da antiga árvore pareceram ser ignorados pelos outros dois, que permaneciam firmes em suas sentenças.

- Guardas!

Sesshomaru não deixou sua calma se esvair tão facilmente, embora a humana parecesse não estar mais tão calma assim, se é que ela havia estado em algum momento. Ele apenas certificou-se de estar sutilmente à frente dela quando se viraram para encarar a plateia que os observava, seus olhos dourados esperando até que um dos homens acatasse a ordem dos usurpadores. Fosse como fosse, dificilmente algum deles seria páreo para o daiyoukai, de forma que ele permaneceu parado, desafiante.

O general cogitou lançar um último aviso de que qualquer um que tentasse tocar em sua fêmea seria morto sem hesitação, apenas com o intuito de evitar o massacre que se seguiria e poupar Rin de testemunhar o derramamento de sangue. Mas decidiu por não fazê-lo. Se houvesse alguém ali que ainda fosse capaz de erguer um dedo contra ela, era melhor que se revelasse logo.

Ninguém se moveu. Por um longo tempo, tudo que se podia ouvir na grande sala era o som vergonhoso da respiração acelerada de Rin, e nada mais.

- E então, o que estão esperando? - Aoki questionou, impaciente.

Mais silêncio se espalhou, parecendo grudar nas paredes, se arrastar pelo chão como uma névoa preguiçosa e tóxica que ninguém ousava respirar. Até que, por fim, alguém deu um passo à frente.

As garras de Sesshomaru se prepararam.

Os olhos de Rin se fecharam.

E então, o soldado falou:

- Ninguém aqui vai encostar na Rin, senhores anciãos.

Os três pares de olhos do outro lado da moldura se arregalaram, as bocas abertas em choque.

- Ora-

- E ninguém vai aceitar que ela saia do Oeste. - Outra voz falou de repente, interrompendo o que quer que Ichijo fosse dizer.

- É! - Alguém mais gritou, oculto na multidão. - O lugar dela é aqui conosco!

Mais vozes se juntaram aos protestos, todas igualmente determinadas em seu apoio à humana que observava tudo aquilo ao mesmo tempo surpresa e profundamente tocada. Sua vontade era ir até lá e abraçar cada uma daquelas pessoas que tão abertamente a aceitavam, mas não ousava ainda deixar o lado de Sesshomaru.

Os anciãos não conseguiam acreditar nas reclamações que recebiam, nunca haviam realmente sido questionados antes, não por subordinados, pelo menos. Líderes teimosos estavam sempre dando trabalho, mas aquilo era algo inédito e inacreditável.

Antes que pudessem reagir e encontrar algo para dizer, a porta da sala se abriu de supetão, a reunião privada de repente se enchendo de invasores que não pediam permissão para adentrar o cômodo a bel-prazer. E não eram sequer militares, mas meros civis que avançavam em desespero em direção ao casal parado em frente à tela mágica.

Rin reconheceu os amigos que lhe faziam companhia durante o chá mais cedo, surpresa de vê-los ali assim tão repentinamente. As expressões nos rostos deles eram todas de preocupação, e até as crianças estavam ali com lágrimas abundantes escorrendo pelas bochechas e braços estendidos como se pedissem colo.

Sentindo-se quase hipnotizada por aquele chamado coletivo, Rin finalmente deu um passo em direção aos recém-chegados, mas conseguiu apenas se afastar um pouco antes da mão de Sesshomaru a restringir, sutilmente a chamando de volta, um olhar de aviso e preocupação em seu rosto impecável. Ela apenas sorriu um de seus característicos sorrisos, assentindo com a cabeça como um sinal de que estava tudo bem, que ele podia deixá-la ir agora.

Relutantemente, a mão dele se soltou da dela, as pontas dos dedos tocando-se levemente uma última vez antes de ela se apressar pelo curto corredor e levantar nos braços a primeira menininha que alcançou, a criança chorosa imediatamente a abraçando de volta, enterrando o rosto no cabelo da humana.

- Senhorita Rin! - A menininha chorava, enquanto outra criança se agarrava às pernas da humana, dificultando sua locomoção. - Disseram que a senhorita vai embora!

Rin tentava se desvencilhar dos empecilhos que eram as duas pequenas agarradas nela, totalmente desnorteada, até um outro par de braços mais robustos a envolverem em mais um abraço.

- Não podem tirar nosso Lírio daqui! - A youkai ursa afirmou com convicção, um sorriso confiante em seu rosto.

Finalmente colocando a pequena criança de volta no chão, de repente ela se viu cercada de mais sorrisos como aquele, muitos mostrando caninos afiados que nunca lhe pareceram tão amigáveis. Perdeu a conta de quantos abraços havia recebido, os tapinhas no ombro e cafunés nos cabelos se confundiam entre os gestos de amabilidade, aos quais ela não conseguia encontrar outra resposta que não fossem patéticos “obrigada” sussurrados entre as lágrimas traiçoeiras que escapavam pelos cantos de seus olhos.

- Eles acham que podem expulsar o Lírio assim-

- Onde já se viu, quererem mexer com a nossa humana-

- Você não vai embora, vai, Rin?-

- Não, ela não pode ir!

As vozes se sobrepunham, por diversas vezes tornando difícil de se compreender o que estava sendo dito, embora ela tentasse ao máximo dar a devida atenção a todos que lhe falavam. A confusão era tamanha que ela até estranhou quando as falas começaram a se calar aos poucos, as pessoas parecendo se afastarem dela gradualmente até que, quando ela se virou no círculo vazio que se abriu, deu de cara com Sesshomaru parado bem à sua frente. Ele a encarou de cima com sua altura notável, os olhos dourados e a expressão ilegível, embora ela pudesse distinguir algumas das emoções ocultas por trás daquele olhar se observasse com cautela. Estava tão perto que podia sentir o calor que irradiava dele, suas mãos pareciam formigar para tocá-lo.

- Ela não vai a lugar algum. - Ele falou e, embora a intenção fosse afirmar para todos os interessados ali, ele parecia falar só para ela, a voz baixa e o olhar fixo nos olhos castanhos dela.

Então, sem nenhum tipo de aviso prévio, ele a beijou.

Rin arfou contra os lábios dele, e o som pareceu se repetir como um eco quando quase todos os observadores o copiaram ao mesmo tempo. Ela quase o empurrou com o choque da repentina exposição, mas os braços firmes dele ao redor de sua cintura garantiram que ela permanecesse bem ali onde estava. Foi o suficiente para que ela esquecesse completamente a situação anterior, para que cada lembrança de sua quase condenação ao exílio apenas agora a pouco estivesse esquecida em algum lugar bem no fundo de sua mente. Todo o resto estava preenchido com a luz que fervia, transbordando por todos os cantos, brotando da fonte infindável de amor que era o seu coração completamente aberto. As mãos foram parar sobre o rosto dele, os olhos se fechando em deleite e entrega, as covinhas nas bochechas coradas aparecendo para denunciar o sorriso que ela escondia por trás do beijo.

A humana apenas conseguiu voltar à realidade quando seus ouvidos foram tomados por altos assovios e outros sons comemorativos. Absurdamente envergonhada, ela se afastou do daiyoukai, apenas para voltar a se pressionar contra ele em uma tentativa de esconder seu rosto completamente vermelho. Sesshomaru, por outro lado, manteve sua aparência perfeitamente natural e inexpressiva, embora um braço permanecesse ao redor da cintura dela.

Ele lançou um olhar discreto para a tela emoldurada no fim do cômodo, percebendo que ambos os espaços das extremidades encontravam-se vazios. A Magnólia permanecia ao centro, entretanto, lhe lançando um olhar solene.

- Ah-ham. - A árvore anciã pigarreou, chamando a atenção dos outros ocupantes, forçando Rin a levantar o rosto corado do peito de seu senhor. - Visto que, aparentemente, represento agora a totalidade deste Conselho, vejo-me no dever de comunicar aos presentes a decisão final desta reunião. A humana... Senhorita Rin... permanece como residente desta província. Além disso, deverá assumir, a partir deste dia, a posição que lhe foi oferecida como parceira oficial do senhor destas terras, o senhor Sesshomar-

A fala de Bokusenou mal conseguiu ser concluída, sendo abafada pelo som de aplausos energéticos e gritos de apoio da multidão que apenas crescia à medida que mais pessoas pareciam surgir de lugar nenhum, brotando pela porta até que fosse difícil caminhar no espaço confinado.

Rin não tinha palavras para descrever a emoção de ver toda aquela comoção. Se pudesse, teria abraçado Bokusenou também. A princípio, quando aprendera em seus estudos a respeito da cultura dos inuyoukai, sentira-se profundamente decepcionada com a concepção que aquela raça tinha sobre o casamento. Para ela, um casamento devia ser uma bela cerimônia, cercada de amor por todos os cantos, com a presença de amigos e familiares que a cobririam de felicitações e presentes. A ideia de todo aquele evento romântico e maravilhoso ser reduzido a uma reunião como qualquer outra, onde alguns velhos que sequer a conheciam ouviriam a proposta de seu noivo e diriam apenas sim ou não, como se fosse qualquer outro assunto de negócios ou estratégias de guerra, a deixou realmente desanimada por algum tempo.

Não havia reclamado, é claro. As formalidades não deviam importar, desde que pudesse ter Sesshomaru no fim das contas. Mas, agora, quando ela se via ali no meio daquele tanto de pessoas que não pareciam cansar de parabenizá-la, ela não podia sentir-se mais satisfeita e realizada. Era melhor do que qualquer coisa que tivesse sonhado.

- Viva ao Lírio do Oeste! - Eles gritavam, a animação tão sólida que Rin quase podia tocá-la no ar.

- Curvem-se à nova Senhora do Oeste. - Sesshomaru ordenou finalmente, surpreso por ser necessário que ele dissesse aquilo, como se todos aqueles youkais serelepes que faziam fila para abraçar sua humana tivessem esquecido os bons modos tradicionais.

Todo o som cessou, o silêncio que restou no vazio parecendo chiar na atmosfera, enquanto todos se aquietavam e respeitosamente obedeciam ao comando. Rin quase protestou com a mudança de postura, estava muito bem com os abraços e sorrisos, mas manteve-se calada, aceitando as reverências com o máximo de dignidade que conseguia reunir.

Mas, em sua cabeça, aquelas vozes ainda soavam, ainda repetiam sem parar:

Viva ao Lírio do Oeste!

 

xXx

- Rin, se você não parar de se mexer, eu nunca vou terminar. - Asai disse em reprovação, quando mais uma vez as mechas escorregadias do cabelo da humana deslizavam pelo prendedor e desfaziam todo o seu trabalho.

- Me desculpe, eu não consigo! - Respondeu Rin, suas mãos se entrelaçando, a perna balançando em movimentos repetitivos e rápidos. - Estou muito nervosa!

- Ai, olha a hora, senhor Sesshomaru vai ficar impaciente! - A lontra protestou, o que apenas serviu para agravar o olhar de pânico da humana. - Você quer encontrar nosso senhor com o cabelo desse jeito?

- Não! Por favor, me ajude, Asai! Prometo que vou ficar quieta.

A criada riu, divertida com o comportamento da ama, apesar do trabalho descomunal que estava lhe dando. Rin respirou fundo e manteve-se parada da melhor forma que podia daquela vez, procurando pensar em qualquer outra coisa que não fosse o jantar que lhe aguardava lá embaixo ou os olhares raivosos que receberia quando finalmente aparecesse e todos vissem que ela era o motivo do atraso. Era verdade que já havia participado de muitos e muitos jantares desde que chegara ao castelo, mas aquele era especial. Aquele a deixava tremendo dos pés à cabeça.

Era o jantar onde Sesshomaru a apresentava oficialmente como sua parceira. Era o jantar onde ela entraria ao lado dele como anfitriã, da mesma forma que Mizuno fizera das outras vezes.

Mas Rin não era uma prometida, era uma esposa. E tinha algo que Mizuno nunca teve. Ela tinha um bebezinho crescendo dentro de seu útero.

Pensar em seu filho a deixou mais calma, permitindo que Asai finalmente pudesse concluir o trabalho em seu cabelo, organizando as madeixas em coques impecáveis e belamente enfeitados com seu famoso prendedor de cabelo entre os adereços, complementando perfeitamente o uchikake que a humana usava, que Sesshomaru a havia dado de presente especialmente para a ocasião, bordado minunciosamente com esplendorosos lírios dourados.

Por fim, Rin finalmente estava pronta, mal tendo tempo de verificar sua aparência com os próprios olhos, tendo que correr para encontrar Sesshomaru na porta principal do castelo. O jantar, tradicionalmente, deveria ser como qualquer um dos outros, mas a humana havia sugerido uma modificação que achava que devia depois de tudo que acontecera naquele dia. Então, a mesa foi posta no pátio do lado de fora, prolongada em sua extensão, de forma que não fossem apenas os capitães e outros nobres a sentarem-se com eles naquela noite. Ela queria todos os amigos que pudesse reunir ali.

Sesshomaru a olhou com olhos duros quando chegou, fazendo-a abaixar a cabeça em vergonha. Que bela forma de causar uma boa impressão, estava tão atrasada!

- Desculpe-me. - Ela sussurrou quando o alcançou, esperando que ele não estivesse muito bravo.

Ele simplesmente pegou a mão dela na sua, envolvendo-a em seu braço de forma que pudesse guiá-la até a saída. Ela não sabia se aquilo era apenas mecânico ou se ele realmente a tinha perdoado, até que sua voz grave falou em voz baixa ao seu ouvido, logo antes de passarem pelas portas.

- Está linda.

Jaken esperava por eles ao lado da saída, se apressando para abrir a porta quando o casal chegou até ele. Rin tinha um sorriso completamente bobo no rosto rosado, e foi com ele que ela recebeu seus novos súditos pela primeira vez.

A enorme mesa brilhava contra a escuridão da noite, as luminárias acesas ao longo do belo tampo de madeira escura e envernizada, que refletia as luzes de volta fazendo-as parecerem ter o dobro da intensidade. Distribuídos em intervalos precisamente iguais, encontravam-se ricos arranjos de lírios brancos. E, é claro, sentados em seus lugares, estavam os youkais que Rin agora podia considerar todos como queridos amigos.

- Antes de darmos início ao banquete, chamo a atenção de todos ao anúncio que tenho a honra de fazer. - Sesshomaru falou, como se toda a atenção já não estivesse sobre o casal desde o momento em que pisaram no pátio. Rin tomou um longo fôlego, a mão apertando mais firmemente o braço dele. - Visto que as notícias correram mais rapidamente do que o esperado, acredito não ser nenhuma surpresa que o jantar de hoje esteja sendo oferecido em homenagem à mais nova Senhora do Oeste. Minha esposa oficialmente a partir de hoje, Rin.

Daquela vez, todos apenas se curvaram em silêncio, lembrando-se bem da repreensão de Sesshomaru à algazarra que transcorrera na Sala do Conselho mais cedo. Mas a algazarra não era necessária, pois quando voltaram a endireitar suas posturas, era visível a aprovação no rosto de cada um deles.

Rin estava imensuravelmente grata por aquela demonstração de aceitação tão gratuitamente oferecida. Podia sentir umidade demais em seus olhos, mas se esforçou para segurar a emoção. O coração batia frenético, ainda achando que podia se derreter por completo a qualquer momento, depois de ouvir Sesshomaru tão naturalmente se referindo à ela daquela forma. Sua esposa.

Ela tomou mais um fôlego, sentindo que por algum motivo o ar disponível não parecia o suficiente naquela noite. Então, com um sorriso um pouco nervoso, falou:

- Eer... Perdoem-me, eu sei que não é exatamente esperado que eu diga alguma coisa, e eu prometo que já vou parar de atrasar o jantar de vocês. - Ela riu, sem saber exatamente o que estava dizendo, mas se sentia na necessidade de dizer, de qualquer jeito. Todos estavam sorrindo de volta para ela, o que talvez significasse que não estava sendo tão boba assim. Ou talvez estavam rindo porque ela estava sendo boba. Independentemente, prosseguiu, as palavras vindo hora exageradamente aceleradas, hora hesitantes. - Eu apenas queria dizer... Que sou imensamente grata pela forma como me recebem aqui. Estou ciente de que... Algumas coisas não saíram exatamente como muitos de vocês planejavam, mas estou muito feliz de receber tanta consideração apesar de tudo. Eu me comprometi a auxiliar o nosso senhor na tarefa árdua de providenciar prosperidade ao nosso Oeste, mas isso significa que meu comprometimento também é com todos vocês. Espero continuar, a cada dia mais, a ser digna desse apoio com o qual me presenteiam. Obrigada.

O fim de sua fala saiu em uma tímida voz baixa, o som sendo engolido em seguida com uma inevitável repetição da reação daquela tarde, quando o Conselho ameaçou removê-la à força daquele lugar. A diferença era fácil de se ver em contraste tão direto, o respeito que uma fala de Sesshomaru provocava e a alegria e euforia que era causada por Rin.

Finalmente, o daiyoukai moveu-se para guiá-la até a mesa, para que pudessem assumir seus lugares. No curto caminho, ele lhe sussurrou brevemente:

- Você não precisava ter feito um discurso.

- Eu sei. - Respondeu ela, envergonhada. - Não sei o que houve.

O inu apenas balançou a cabeça, divertido. Aquela era sua Rin, espontânea e só um pouco inconsequente. E, é claro, absolutamente cativante.

O casal sentou-se à mesa por fim e, quando as vozes animadas se acalmaram, Sesshomaru sinalizou brevemente para que a comida fosse servida.

Rin observou de novo, agora mais de perto e cuidadosamente, a arrumação da mesa, os olhares amistosos ao seu redor, as luzes brilhantes que davam um aspecto quase etéreo ao ambiente. E, é claro, seu amado Sesshomaru ao seu lado, em toda a glória e perfeição de sua beleza estonteante. O sangue derramado no caminho não seria esquecido, muito menos a promessa de mais no futuro. Mas, naquele momento, seus sonhos floresciam, tomando vida bem em frente aos seus olhos.

Era uma deliciosa sensação de surpresa e alegria, um dia que estaria para sempre gravado em sua memória. E, é claro, gravado também na história do Oeste.

Pela primeira vez, naquela noite, uma humana se sentava à direita do general.

 


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c1.staticflickr.com/5/4259/35087256146_d18859c48b_b.jpg (Decidi fazer um manga style dessa vez, fazia um tempo que não trabalhava com ele.)

Então, o que temos aqui?
Primeiramente Sesshy sendo uma gracinha se sacudindo pra se secar HAIEHISAHIEASHI
E os dois já estão babando muito nesse meio-youkaizinho *u*
Esse Conselho (2/3 dele) querendo mandar um #ForaRin HAHAHA Mas claro que a reputação maravilhosa da Rin fez eles terem que tirar o cavalinho da chuva.
E a noiva chegando atrasada no "casamento", como sempre :)


Então, parece que as coisas tão começando a andar né? To trazendo umas felicidades pra vocês, pra vocês verem como não tem só sofrência pra esse casal. Não sou má.
Mas e agora, como é que vai ficar esse relacionamento? Stay tuned!


P.S.: O último capítulo superou o número máximo de comentários que eu já tinha alcançado! NOSSA MANO VOCÊS SÃO DEMAIS! MUITO OBRIGADAAA! *---*

Mais uma vez, não sei quando vou voltar a vê-los, com essa correria. Mas me aguardem, eu volto :*


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