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História Unintended - Visitantes


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


OIIEEE!!
Feliz dia das mães pra todo mundo!! Esse capítulo meio que caiu bem no clima rs
Estou atrasada, meu namorado vai passar daqui a pouco pra me buscar então não vou escrever muito, senão não vou conseguir postar tão cedo.

Enfim, aproveitem! <3

Capítulo 37 - Visitantes


Folhas secas cobriam o caminho que serpenteava sinuosamente através do antes verdejante jardim. A maioria das flores já havia murchado àquela altura da estação, embora uma ou outra espécie mais resistente persistisse em sua exuberância colorida, o que concedia à folhagem avermelhada um esplendor especial.

Os pés calçados da humana seguiam a trilha de folhas caídas, suas sandálias provocando suaves sons ao romperem a estrutura seca dos vegetais, o delicioso som do outono. Rin aproveitou para dar uma última olhada em suas flores remanescentes, admirando-as pelo que poderia ser a última vez antes de estas, também, caírem sem cor ao chão. Lembrava-se bem de como aquele jardim estivera vivo quando ela pisou pela primeira vez no Oeste, durante a primavera. E agora mais um ciclo se fechava, enquanto todo um novo começava dentro de si.

Sorrindo, ela apoiou ambas as mãos sobre o abdômen crescente, sentindo-o inchado e mais rígido do que normalmente seria. Gostava de senti-lo, apreciar a solidez da magia que se desenrolava dentro de si. Por outro lado, ninguém ali precisava realmente de evidências físicas para reconhecer seu estado.

A aura da criança denunciava facilmente sua existência, especialmente vinda de dentro de uma humana como ela, que a princípio teria zero manifestação mística. Rin ainda podia senti-lo, embora seu corpo houvesse aprendido, já fazia algum tempo, que não era nada a temer. Não negaria que a impressão que tinha ainda era um pouco obscura demais para o seu gosto, mas era insignificante quando não prestava atenção nela.

Os primeiros a lhe parabenizarem pela concepção haviam sido, obviamente, sua inseparável Guarda que a recebera na saída da Ala Oeste assim que Sesshomaru e ela se retiraram dos aposentos onde haviam se isolado por dias, enquanto Rin tentava desesperadamente lidar com a energia sinistra de seu bebê. E, desde então, onde quer que fosse, o fato de que havia um outro ser habitando o seu corpo não passava despercebido por absolutamente ninguém. Mas nem todas as reações que recebera foram calorosas felicitações.

Muitos pareciam extremamente cautelosos com a ideia de que Rin, uma humana, estava atualmente esperando um herdeiro do grande senhor Sesshomaru, um dos maiores daiyoukais de que se tem conhecimento. Apesar do respeito que mantinham por ela, lhe era bem claro que não era tão fácil assim aceitar a natureza mista da criança que ela carregava. Felizmente, até o momento, aqueles que não se sentiam exatamente confortáveis preferiram manter seu silêncio. E havia também, é claro, os olhares mais que hostis dos nortenhos, sempre frios como o gelo de seus youki.

Quanto mais o tempo passava, mais os youkais de gelo do Norte tornavam-se um problema. Suas tradições ainda mais rígidas deixavam bem óbvia sua discordância de todas as pequenas revoluções que o Oeste propusera nos últimos meses. Uma senhora humana, um herdeiro apenas metade youkai. Ainda assim, eles permaneciam presos ali, sob a liderança dos inu.

E era exatamente por conta de fatores como esses e mais outros que quem a acompanhava naquela tarde de ventania não era a sua Guarda, mas o imponente senhor daquelas terras.

Sesshomaru silenciosamente seguia de perto a humana, seus passos acompanhando os dela automaticamente, de forma que nem sequer precisava pensar para saber qual seria o próximo movimento. Seus músculos moviam-se por conta própria, os olhos dourados atentos a cada sinal ao redor, a cada folha que caía ao chão ou era carregada pelo vento. Seus ouvidos, ainda mais alertas, não perderam o som sutil de quando um bocejo escapou pela boca da protegida.

- Está cansada?

Rin virou-se em direção à voz familiar que a chamava, era fácil esquecer da presença dele quando permanecia tão quieto daquela maneira. Ela sorriu, percebendo o leve tom de preocupação na voz dele, como se ela fosse simplesmente desmaiar a qualquer momento.

- Apenas com um pouco de sono. - Respondeu com honestidade, percebendo que à medida que os dias passavam, sua energia parecia decrescer gradualmente, embora ela tentasse manter-se ativa e se exercitando. Ela sabia que aquilo era perfeitamente normal, dada a experiência em acompanhar outras grávidas durante boa parte de sua infância.

Sesshomaru, por outro lado, não parecia tão tranquilo. Passando ao lado da parceira, ele gentilmente apoiou uma mão na base de suas costas levemente mais recurvadas que o normal, para equilibrar a nova sutil diferença de peso na parte frontal do corpo da humana.

- Deveria ir se deitar, então. - Aconselhou, guiando-a a dar meia volta até a saída do jardim. - Está ficando frio aqui fora, de qualquer maneira.

A humana apenas sorriu, embora estivesse tentada a dispensar os cuidados exagerados, de certa forma era praticamente irresistível ser cuidada por ele daquela maneira, por mais desnecessário que fosse. Quando Sesshomaru caminhava ao seu lado lentamente, como se a humana não pudesse andar mais depressa por causa de apenas um pequeno peso a mais, Rin não podia evitar sentir-se tão realizada, como as primeiras evidências de que finalmente tinha de volta o que perdera tantos anos atrás, o que achou por tanto tempo que nunca mais voltaria a ter. Uma família, criada do zero, somente sua.

Com um suspiro satisfeito, deixando seus cabelos longos serem acariciados pelo vento, ela deitou a cabeça contra o ombro de seu senhor, as mãos nunca deixando de proteger o pequeno volume em seu ventre da mesma forma como as mãos do youkai protegiam à ela.

 

 

As fases da lua mudaram tão depressa quanto a aparência da floresta do Oeste, que passou de um verde brilhante e vivo para um marrom avermelhado e logo em seguida tudo que restava era a aparência melancólica de galhos escuros expostos ao relento, fragilizados pela queda brusca de temperatura.

Apesar de seu amor pelas estações mais quentes, Rin não pode deixar de sorrir ao olhar pela janela naquela manhã e ver pequenos flocos brancos caírem preguiçosamente do céu, aos poucos se acumulando no parapeito.

- Está nevando! - Ela exclamou em excitação, se apressando até a abertura para ver mais de perto a paisagem lá embaixo. Logo que deu os primeiros passos, entretanto, uma mão dotada de garras a segurou pelo braço, contendo-a gentilmente.

- Não corra. - A voz de Sesshomaru aconselhou, como era de seu costume fazer nos últimos tempos. Com o avanço da gestação da humana, ele parecia sempre rondá-la e se certificar de que ela não se expusesse a quaisquer tipos de riscos, mesmo os mais casuais.

Rin apenas lhe lançou um sorriso constrangido de desculpas, reconhecendo que seu entusiasmo exacerbado às vezes saía do controle. Apesar dos exageros de Sesshomaru, realmente não lhe faria mal ser mais cuidadosa.

- Vem ver a neve comigo, senhor Sesshomaru? - Ela pediu com seu olhar mais apelativo, embora não houvesse necessidade de tanto. Sesshomaru ia sempre aonde ela fosse.

- Sim. Mas vista roupas quentes.

Rin rapidamente tratou de atender àquela condição, vestindo seus quimonos de inverno para que pudessem finalmente sair ao pátio a tempo de ver uma fina camada branca se depositar sobre as pedras do piso e sobre os galhos da vegetação.

Ela sorriu com a paisagem. Já havia visto a neve muitas vezes e a memória mais recente que possuía era a de quase congelar até a morte em meio a um inverno fora de época. Mas era a primeira vez que a via no Oeste, e a beleza fria e tranquila tornava o castelo ainda mais impressionante.

Ela se virou para fazer um comentário a Sesshomaru, mas franziu o rosto quando viu que ele havia se afastado dela para falar alguma coisa a um pequeno grupo de seus homens, provavelmente algo a respeito dos reforços na segurança do perímetro. Percebendo que ele se encontrava de costas para ela, Rin viu ali uma oportunidade que não poderia perder.

Abaixando-se com certa dificuldade, equilibrando-se cuidadosamente sobre os calcanhares, era juntou o máximo que podia da camada sutil de neve no chão, moldando-a habilidosamente em uma esfera perfeita como havia aprendido a fazer quando criança. Ajeitando sua postura e aguçando sua mira, ela lançou a bola na direção exata da cabeça de seu senhor, que ainda discutia assuntos provavelmente importantes.

No exato instante que precederia o choque do golpe, Sesshomaru desviou automaticamente do projétil sem nem precisar olhar para trás para vê-lo. Com a remoção do seu alvo, a bola atingiu em cheio o rosto de um dos capitães imediatamente à frente do general.

A humana cobriu a boca com as mãos quando percebeu seu erro. Estava prestes a pedir desculpas ao pobre homem, quando Sesshomaru virou-se para olhá-la com pouca ou nenhuma reprovação em seu rosto.

- Boa pontaria, Rin. - Elogiou ele, enquanto a vítima limpava os resquícios de neve do rosto e dos ombros com as mãos e os outros riam de seu infortúnio.

- Me desculpe! Eu apenas queria pegar o senhor Sesshomaru com a guarda baixa.

- Minha guarda nunca está baixa. - Sesshomaru esclareceu, antes de voltar-se novamente aos homens. - E é melhor que o mesmo possa ser dito sobre o castelo.

- Sim, senhor. Vamos cuidar dos rearranjos agora mesmo.

Com isso, os militares trataram de se recompor e seguir as novas instruções, deixando o casal ter novamente seu momento em privacidade. Assim que eles saíram de vista, Sesshomaru retornou ao lado da companheira, que o olhou com constrangimento.

- A culpa foi sua, por ter desviado. - Ela argumentou em sua defesa. O youkai apenas deu de ombros.

Rin sorriu, deixando de lado a situação, já que ele lhe poupara da bronca por interromper suas conversas. Em vez disso, ela preferia focar no motivo de estarem ali, seus brilhantes olhos castanhos dirigindo-se novamente para a neve que caía lentamente.

Ela tentou pôr a língua para fora, em uma tentativa de capturar um dos flocos errantes em sua boca, mas uma sensação completamente diferente rapidamente sugou toda a sua atenção. Ela arregalou os olhos, ambas as mãos se postando ao redor da esfera em seu abdômen, procurando desesperadamente a fonte da sensação.

Em um instante, Sesshomaru estava à sua frente, os olhos dourados sobre a humana com uma expectativa tensa ao vê-la sobressaltada daquela maneira.

- O que houve? Rin?

A humana apenas levantou a cabeça para olhá-lo com um sorriso. Havia lágrimas sutis se acumulando em seus olhos emocionados.

- Eu o senti. Ele está se mexendo! - Ela explicou com a voz embargada, enquanto sentia novamente uma gentil pulsação contra sua palma. Já fazia um tempo que ela tinha a impressão de sentir pequenos movimentos dentro de si, mas senti-lo pelo lado exterior, era a primeira vez.

O youkai apenas permaneceu parado no lugar, sem saber realmente como reagir àquela notícia. Só voltou à realidade quando percebeu a mão de Rin segurar a sua e guiá-la cuidadosamente até a parte de baixo de seu ventre, posicionando-o exatamente na região exata onde um pequeno membro parecia mover a pele da mãe, esticando-se à vontade no espaço restringido.

- Sentiu? - Ela perguntou em um sussurro, observando o rosto dele em busca de qualquer sinal de reconhecimento.

Sesshomaru assentiu, as palavras ainda lhe faltando. Apesar de ser capaz de sentir a presença energética do filhote, não se comparava àquilo. Era tão sólido e real, tão palpável. Parecia que ele era incapaz de recolher suas mãos, ansiosamente procurando pelo próximo lugar a ser tocado.

- Pelo o que eu sei, isso é um marco. - Rin explicou, deixando que ele se focasse em sua busca por mais contato. - Deve levar apenas mais alguns ciclos lunares agora...

Aquilo chamou a atenção de Sesshomaru, que finalmente ergueu a cabeça para a parceira. Ele se recompôs, ajustando sua postura perfeita, assumindo novamente seu tom usual de seriedade.

- Devemos fazer os preparativos, então.

Rin envolveu uma mão dele na sua, acariciando a pele pálida carinhosamente. Respirando fundo, ela tomou coragem para falar:

- Eu preciso lhe fazer um pedido.

 

xXxXxXx

 

Kagome respirou o ar puro do dia com satisfação. Ainda não conseguia acreditar que a atmosfera havia sido tão limpa algum dia na História quando lembrava-se de sua moderna Tóquio. Seus olhos treinados localizaram a erva que procurava com a precisão de uma águia, apressando-se para colher as últimas folhas ainda verdes antes de começarem a queimar com o frio que viera com o Solstício de Inverno.

Sem aviso, seu marido surgiu atrás dela, sobressaltando a sacerdotisa por um momento.

- Inuyasha! Que susto!

O hanyou cruzou os braços, os expressivos olhos dourados fitando a floresta de galhos secos que os cercava.

- Hunf, parece que temos visita.

Antes que Kagome pudesse questioná-lo, uma sombra passou sobre o casal no céu. Desajeitadamente, uma fera de duas cabeças pousou na clareira, sua aterrisagem mal executada sendo certamente um resultado da habilidade do youkai que o guiava. Jaken desmontou com um salto, subestimando a altura da montaria e despencando de cara ao chão.

Kagome não conseguiu evitar uma risada, antes de reparar que o pequeno erguia um papel no alto, como se precisasse se certificar de que não seria danificado pela queda. Jaken se recompôs, lançando um olhar ofendido para a miko risonha.

- Me desculpe. - Ela pediu, não parecendo nem um pouco arrependida. - Mas o que faz aqui, Jaken? Aconteceu alguma coisa? Com a Rin?

- Anh, não exatamente... - Ele explicou vagamente, antes de limpar a garganta audivelmente, estufando o peito e ajeitando sua postura, mantendo a coluna reta em orgulho. - Eu, Jaken, o fiel seguidor do grande senhor Sesshomaru e futuro ministro de seu poderoso Império, venho cumprir minha missão, enviado pelo próprio magnífico e destemido senhor Sesshomaru-

O youkai verde foi repentinamente interrompido por um murro impaciente de Inuyasha bem no topo da cabeça.

- Mas que droga, fale de uma vez! - Reclamou o sempre mal-humorado hanyou.

- Inuyasha! - Kagome repreendeu.

- S-seu... Como ousa agredir a mim, Jaken, o servo de-

Jaken hesitou, ouvindo o rosnado de aviso de Inuyasha que parecia preparar o punho para outra rodada de agressões.

- Jaken, apenas nos diga se Rin está bem. - Kagome pediu, procurando apartar o pequeno conflito e ir direto ao que importava.

- É senhora Rin para vocês! - Corrigiu o pequeno, trazendo expressões de confusão para os rostos do casal. - Trago uma mensagem da própria para a sacerdotisa. O caráter é extremamente confidencial. Por isso mesmo só um bravo servo como eu poderia entregar a mensagem em segurança e garantir que não caia nas mãos de youkais miseráveis que ousam despertar a fúria do senh-

- Tá, me dá isso aqui! - Inuyasha cortou rudemente, puxando o papel dos três dedos dele sem cerimônias, abrindo-o para verificar o conteúdo.

Kagome se apoiou no ombro do cônjuge, tentando ver o que estava escrito.

- Inuyasha, ela disse que é para mim!

- Eu estou preocupado com a pirralha também, fique quieta.

A humana não perdeu seu fôlego discutindo, Inuyasha sempre arrumava um jeito de transformar qualquer situação num inconveniente. Suspirando, ela pôs-se a ler o papel que ele segurava na sua altura.

“Querida Kagome,

Espero que as coisas estejam indo bem no vilarejo. Sinto muito não ter escrito antes, a situação tem estado... Complicada, já faz algum tempo.

Gostaria de poder te contar pessoalmente, mas infelizmente minha situação não é das mais favoráveis. Por onde começar? Primeiro, quero dizer que estou muito bem, estou vivendo no Oeste, junto ao senhor Sesshomaru. Você não iria acreditar em como o castelo é incrível!

Quanto ao meu senhor, ele tem cuidado muito bem de mim. Mas o motivo principal dessa carta, e eu sei que não é a forma mais sutil de dizer isso, é que preciso da sua ajuda. Você é uma das pessoas em que eu mais confio e eu não iria querer mais ninguém ao meu lado em um momento tão importante da minha vida.

Muita coisa mudou desde que saí do vilarejo, e agora sou uma mulher casada. [...]”

Kagome pausou a leitura, os olhos azuis arregalados em choque. Inuyasha pareceu alcançar o trecho logo em seguida, pois quase deixou o papel cair.

- O quê? A pirralha se casou? - A voz estupefata do hanyou soou. - Sesshomaru permitiu isso?!

- Shh, eu quero ler! - Reclamou Kagome, ansiosa para saber o que dizia o restante, desesperada por mais explicações.

“[...] Sim, eu sei o que você vai pensar. Eu não tive tempo de enviar convites, acabou sendo uma cerimônia fechada, foi tudo muito apressado. Desculpe.

Mas o importante é que senhor Sesshomaru e eu estamos finalmente unidos. Acho que isso faz de mim a nova senhora do Oeste, o que explica porque não pude me ausentar para lhe fazer uma visita digna. Ainda estou me acostumando com a ideia. [...]”

- O quê? - Agora era ela quem questionava, encarando o papel como se ele pudesse invocar Rin ali instantaneamente, para que Kagome pudesse inundar a garota de perguntas.

Inuyasha não tinha nem palavras para extravasar sua surpresa, seu corpo estava paralisado no lugar, a boca congelada com a mandíbula aberta.  Era impressão dele ou Rin quis dizer que Sesshomaru... e ela...

Sesshomaru, aquele que havia feito de sua vida um verdadeiro inferno devido à humanidade de sua mãe, havia realmente se casado com uma humana? E com Rin!

- Hipócrita desgraçado! - Ele finalmente disse, a voz cheia de veneno e mágoa. Não era justo que o irmão pudesse simplesmente ter alguém tão doce quanto Rin depois de tudo que ele havia causado à raça dela, à raça dele.

“[...] Bom, eu explico melhor quando você chegar. Isso é, se você puder aceitar meu pedido.

A questão é que - e essa é a parte delicada dessa carta - eu devo dar à luz dentro de alguns ciclos, embora você saiba que às vezes acontece mais rápido do que o esperado.

Confesso que estou muito nervosa com as possibilidades, honestamente não sei o que fazer sem sua ajuda. Não me atrevo a pedir pela senhora Kaede, ela já tem idade demais para viajar e o Oeste... Não é o lugar mais seguro no momento. E é por isso que eu gostaria que você estivesse aqui, Kagome, para acompanhar a minha gestação e realizar o parto quando chegar a hora. [...]”

- Meu Deus! - A sacerdotisa exclamou, cobrindo a boca com ambas as mãos para esconder seu choque. Naquele ritmo não achava que ia sobreviver até o fim da carta. - Rin vai ter um bebê?!

- Bebê de quem? - Inuyasha questionou, completamente confuso. - Ela não disse!

- Sesshomaru, não é óbvio? Ela disse que se casaram!

- Não, não é óbvio! - O hanyou respondeu em um tom indignado. - Nada disso faz o menor sentido! A Rin deve ter se envolvido com alguém, e Sesshomaru só se casou com ela para proteger sua honra ou-

- Inuyasha! Quem você acha que a Rin é?

- Eu sei quem Sesshomaru é! - Insistiu ele, descrente. - Aquele maldito nunca faria um filho numa humana! E mesmo se fizesse, eu teria pena dessa criança, com um pai desses!

Mal serve como um irmão..., completou em pensamento, com amargura.

- Ora, é muita ousadia sua duvidar da dignidade de minha senhora e do comprometimento de meu senhor! - Jaken interrompeu, indignado. - Vocês vão terminar de ler isso ou não?

Kagome respirou fundo, perguntando-se se Rin ainda podia surpreendê-la mais nas poucas linhas de texto que restavam.

“[...] Eu vou entender se o pedido for muito repentino. Realmente, não há pressa, acho que só estou um pouco paranoica. Lembra da Sango na primeira vez?

De qualquer forma, estarei esperando se decidir vir. Diga ao Inuyasha que ele também é mais que bem-vindo, embora eu compreenda se ele não se sentir confortável com o convite.

Envie lembranças minhas a todos. Sinto saudades.

Com amor,

Rin.”

Ao fim da carta, Inuyasha apenas segurava o papel no ar, imóvel. Kagome o observou, a garganta seca enquanto avaliava o estado emocional de seu sempre explosivo parceiro.

Tomando um fôlego, ela acenou para Jaken finalmente, indicando que haviam terminado.

Parecia que estariam fazendo uma viagem em breve.

 

xXx

- Senhora Rin, eu posso tocar?

- Como a senhora vai chamá-lo?

- É um macho?

- Não, eu acho que é fêmea!

- Senhora Rin, é fêmea?

Rin riu das perguntas incessantes que as crianças faziam enquanto observavam sua barriga com enormes olhos admirados e curiosos.

Sesshomaru mantinha sua distância, monitorando a cena do outro lado do espaçoso salão principal do castelo, deixando que Rin e seus pequenos convidados ficassem à vontade. Encontrava-se estranhamente fixado na imagem da humana interagindo com as crianças da cidade, embora aquela fosse uma cena que se repetia bastante na maioria dos dias. Não conseguia evitar imaginar que em breve ela estaria brincando com a própria cria, a qual ele ainda ansiava por poder ver com os próprios olhos.

- Claro que pode tocar. Aqui. - Ela respondeu, segurando uma pequena mão na sua e pousando-a cuidadosamente sobre a barriga arredondada. - Não sabemos se é menino ou menina, o senhor Sesshomaru diz que a diferença nessa idade é difícil de distinguir por olfato. Então ainda não temos um nome para ele.

- Ah, eu também quero tocar! - Uma outra criança falou com animação. De repente, todas as outras vozes agudas imploravam para terem suas vezes e tocar o abdômen da humana também.

Sesshomaru estava prestes a intervir na confusão que se iniciava ao redor de sua vulnerável parceira, quando um guarda atravessou a porta principal de entrada, chamando a atenção de todos os ocupantes da sala.

- Meu senhor, o servo Jaken retornou. Mas está ao portão com dois forasteiros, uma sacerdotisa e um meio-youkai. Devo conceder entrada?

- Ah, são Kagome e Inuyasha! - Rin gritou com entusiasmo, usando todo o seu precário equilíbrio para se colocar de pé em sua animação. Não podia acreditar que ia mesmo ver os amigos de novo depois de tanto tempo longe!

- Rin, não faça esforço. - Sesshomaru a repreendeu antes que ela pudesse sair saltitando como se não estivesse com o dobro de seu tamanho normal. Quando ela o obedeceu a contragosto, ele se voltou ao guarda novamente. - Traga-os até aqui.

- Pacificamente, por favor. - Rin acrescentou antes que tivesse que ver os amigos serem atirados ao chão envolvidos em correntes, embora duvidasse que Inuyasha fosse permitir tal tratamento sem fazer um grande estardalhaço e um bom estrago com a Ferida do Vento.

- Sim, senhor. Senhora.

Rin mal podia conter a expectativa que a assolava enquanto seus brilhantes olhos castanhos fitavam a entrada após a saída do guarda. Não conseguia desviar o olhar por um instante sequer. Quando a figura de uma mulher com olhos cor de safira e cabelos preto-azulado entrou por ela finalmente, acompanhada de um hanyou que parecia muito mais mal-humorado do que o normal e a familiar forma do pequeno youkai sapo, a única coisa que impediu Rin de sair correndo e os envolver no abraço mais apertado que o Oeste já havia testemunhado eram os olhos rígidos de restrição que Sesshomaru lhe enviava do outro lado do cômodo.

- Kagome! Inuyasha! - Ela gritou na mais absoluta alegria. - Aparentemente eu não posso me mexer daqui, então vocês vão ter que vir!

- Rin! - A miko foi a primeira a responder, com igual entusiasmo. Atendendo ao pedido da amiga mais nova, ela correu a distância que as separava em uma velocidade impressionante, largando ao chão o arco e a aljava de flechas antes de envolver o pescoço da outra em um abraço, fazendo o possível para desvencilhar-se da barriga enorme entre elas.

A Guarda do Lírio, que permanecia na lateral do cômodo apesar de seus serviços serem dispensáveis com a presença de Sesshomaru ali, prontamente se colocou em alerta com a proximidade da estranha com aquela que eles haviam jurado proteger. Mas eles relaxaram diante de um breve sinal de seu senhor, que levantava-se de seu assento sobre o piso elevado e caminhava calmamente até a singela reunião de velhos conhecidos.

- Kagome! Que saudades! - Exclamava a gestante, com lágrimas já escorrendo pelas laterais de seus olhos.

- Meu Deus, Rin! Olhe só para você!

- Eu sei! Eu tenho tanta coisa para te falar!

E as duas humanas rapidamente iniciaram um falatório sem fim que preencheu todo o silêncio no salão de entrada, deixando as crianças confusas encarando as duas adultas em lágrimas e, mais desconfortáveis ainda, o senhor do Oeste e o recém-chegado meio-youkai que encaravam um ao outro à distância como dois animais cautelosos.

Como esperado, Inuyasha foi o primeiro a interromper a conversa calorosa das mulheres com seu sempre amigável tom de desdém:

- Há, então é essa espelunca que eles chamam de castelo do Oeste. Devia mesmo te agradecer por ter me banido desse lugar miserável, Sesshomaru.

Diante do insulto, todos os olhos se dirigiram ao daiyoukai parado ao lado de sua fêmea, como se esperassem um grande desastre acontecer. Até mesmo as duas amigas recém-reunidas pararam a conversa entusiasmada ao sentir a tensão súbita no ar.

- Não seja por isso, posso providenciar um novo banimento, se gostou tanto assim do primeiro.

- Inuyasha!

- Senhor Sesshomaru!

As vozes femininas em uníssono quebraram o clima tenso instantaneamente, embora a segunda fosse consideravelmente menos rude do que a primeira.  

Apesar da voz mais respeitosa, que soava mais como um pedido do que uma bronca, os olhos castanhos de Rin encaravam seu senhor com mais dureza. Sabia que as relações entre os dois irmãos não estavam exatamente curadas pelas circunstâncias que acabaram os reunindo nos últimos anos, mas a presença de Kagome ali era importante para ela naquele momento. E a presença e a aceitação de Inuyasha eram ainda mais essenciais, levando em consideração que em breve haveria no Oeste um herdeiro que também compartilhava do sangue daiyoukai e humano em suas veias.

Sesshomaru havia concordado em colaborar para a pacificidade daquela reunião, sabendo como Rin desejava obter a perfeita noção de família com a qual ela sempre fantasiou. Reunindo sua paciência, ele deixou a hostilidade em sua postura e expressão se esvair.

- Você e a sacerdotisa estão convidados a permanecerem pelo tempo necessário-

- Pelo tempo que quiserem. - Rin corrigiu prontamente, sabendo que Sesshomaru não estava acostumado com a cordialidade que a situação exigia.

- Certo. Jaken, mostre o quarto a eles.

- Sim, senhor Sesshomaru! - O servo acatou imediatamente, virando-se para os viajantes em seguida. - Venham comigo!

xXx

- Então, Rin, você vai me contar o que está acontecendo aqui?

Kagome perguntou, uma vez que estava acomodada no conforto de seu novo quarto. Inuyasha estava estranhamente calado em um canto enquanto Rin começava a falar, sentado com as pernas cruzadas e agarrado à sua inseparável Tessaiga. Ainda sentia-se incomodado de estar ali, por mais que Sesshomaru tivesse deixado claro que era bem-vindo, não podia evitar lembrar-se dos tempos em que havia sido enxotado daquelas terras como se fosse uma praga, sendo obrigado a se virar por conta própria quando era apenas um garotinho que apenas recentemente havia perdido sua mãe.

- Então deixa eu ver se eu entendi direito. A mãe do Sesshomaru foi assassinada por um youkai desconhecido, então ele teve que voltar ao Oeste para governar suas terras. No meio disso tudo, vocês acabaram se apaixonando, se casaram, vão ter um filho e, além disso, tem um inimigo querendo matar os dois e destruir o Oeste. - A miko pausou para recuperar o fôlego, surpresa com a quantidade de informação a absorver.

- E Sesshomaru está demorando esse tempo todo para matar esse desgraçado? - Inuyasha questionou finalmente, com desprezo. - Ele já foi mais eficiente.

- Nós temos algo mais importante para nos preocuparmos no momento, caso você não tenha reparado. - Rin rebateu, aninhando sua barriga como que para enfatizar do que estava falando.

- Hunf, e para quando vai ser esse pirralho? - Perguntou, com a delicadeza típica de sua personalidade.

Kagome estava prestes a repreendê-lo, mas Rin apenas deu de ombros, analisando cuidadosamente seu tamanho atual e tentando usar sua experiência de observações passadas para tentar fazer uma estimativa.

- Eu não sei direito, tenho a impressão de que está crescendo mais rápido do que o normal. - Confessou, com um pouco de incerteza em sua voz. - Talvez ainda no inverno. O que acha, Kagome?

- Pode ser, parece mesmo bastante avançada... Mas um ultrassom faz uma falta...

- O que é um ultrassom?

- Nada. - Respondeu a sacerdotisa, lembrando-se mais uma vez que não estava em sua época. Sequer possuíam um calendário, quem dirá uma tecnologia daquelas.

- Bem, de qualquer maneira, fico feliz que você esteja aqui. - Rin sorriu um de seus radiantes sorrisos, genuinamente feliz de ver a amiga que tinha como uma irmã mais velha. De certa forma, agora eram mesmo como irmãs, pelos elos familiares entre seus respectivos maridos. - Você também, Inuyasha. É bom te ver de novo.

- Que seja. - Respondeu o hanyou, não se deixando atingir pela doçura na voz da humana. Ele se colocou de pé com um salto, ajeitando a espada na cintura e voltando-se a uma das grandes janelas no quarto. - Eu vou ficar um pouco pela floresta, esse lugar me dá nos nervos.

- Vá logo, você só está atrapalhando. - Kagome respondeu prontamente, gesticulando com a mão como quem enxota um animal incômodo.

Inuyasha se virou como se pretendesse responder com um comentário bastante mal-educado, mas pareceu mudar de ideia e apenas deu de ombros, saltando janela afora sem cerimônias e desaparecendo pelo telhado.

Rin observou a interação do casal com uma fração de divertimento, mas principalmente estranhamento. Não imaginava um mundo onde se atrevesse a falar com seu senhor daquela maneira tão malcriada. Muito menos que ele fosse simplesmente sair para dar uma volta por conta própria e deixa-la sozinha em um ambiente novo e possivelmente hostil. Mas, pensando melhor, Kagome era provavelmente a sacerdotisa mais poderosa atualmente, capaz de reduzir youkais de alto nível a nada com apenas uma única flecha sagrada. Não havia motivos para que Inuyasha agisse de forma tão protetora assim.

- Vocês dois não mudam nunca. - Comentou com um sorriso, ganhando outro em retorno.

- Você, por outro lado, mudou bastante. - Kagome disse, com certo orgulho em sua voz. No quesito aparência, a menina não destoava tanto de suas últimas memórias, se fosse descontar a barriga enorme e os cabelos consideravelmente mais longos que aparentemente não haviam sido cortados há quase um ano, desde sua partida do vilarejo. A maior mudança, entretanto, era a maturidade por trás do olhar inteligente da nova senhora do Oeste, embora aquele centelho de pureza não houvesse desaparecido por completo. - Posso?

A mão de Kagome sugestivamente se estendeu na direção do ventre de Rin, os olhos azuis parecendo arder em expectativa. Rin não tinha como negar aqueles olhos.

- Claro! - Concedeu, assentindo com a cabeça.

A miko aproveitou a permissão, tocando com a palma da mão aberta a superfície rígida por cima dos tecidos ricos que Rin vestia. Fechou os olhos, analisando a impressionante energia sinistra que emanava do interior do útero, uma emoção furtiva crescendo pelas bordas de seu coração lentamente, atingindo finalmente seu ápice quando Kagome sentiu um suave movimento por baixo da pele, um pequeno chute contra sua mão.

Antes que percebesse, tinha lágrimas em seus olhos, um baixo soluço denunciando seu estado emocional instável para a garota que a olhou com confusão a princípio, a emoção logo mudando para medo.

- Kagome? O que foi? - Perguntou, a voz beirando o desespero. - Você sentiu alguma coisa? Tem algo errado com meu bebê?!

- Não, não! Não... - Apressou-se em reconfortar a amiga, envergonhada com a sua reação. - O bebê está ótimo, pelo que posso ver.

- Então por que está chorando?

- Não é nada...

Rin apenas a encarou com insistência, deixando claro que não deixaria o assunto passar. Agora que sabia que o bebê estava bem, sua preocupação era com a sacerdotisa.

- Eu não quero te estressar com os meus problemas. Essas coisas não fazem bem. - Desviou ela. - Me desculpe, estou só sendo boba. Esqueça isso.

A senhora do Oeste gentilmente pegou a mão da outra e a apertou entre as suas, lançando-lhe um olhar gentil e cúmplice.

- Pode me contar, Kagome. Vou ficar ainda mais preocupada se não contar.

Kagome a fitou, apertando os lábios em uma linha fina em uma tentativa de conter suas emoções descontroladas. Suspirando em rendição, ela relaxou os ombros, finalmente cedendo ao apelo da amiga.

- É só que... A energia dele... É tão forte. - Murmurou, a voz embargada pelas lágrimas que lutavam para saírem. - Me fez imaginar se seria assim que eu sentiria, se os meus chegassem tão longe.

Rin arregalou os olhos, surpresa com o tópico levantado. Abriu a boca para pedir esclarecimentos, mas não conseguiu a coragem necessária, de forma que apenas voltou a fechá-la. A voz de Kagome era quase inaudível quando ela falou novamente, respondendo às perguntas não feitas.

- Meu poder os purifica automaticamente, antes mesmo de eu conseguir sentir qualquer traço. Por causa da aura demoníaca de Inuyasha. - Explicou, finalmente deixando as lágrimas fluírem livremente enquanto Rin a fitava, horrorizada. - Não importa o quanto nós tentamos, o resultado é sempre o mesmo.

Rin não sabia o que dizer. Já havia se perguntado antes porque Kagome e Inuyasha nunca tiveram filhos, mas dada a reação da miko sempre que alguma menina do vilarejo que ela julgava ser jovem demais se casava e engravidava logo em seguida, Rin apenas supôs que Kagome não desejava ser mãe. Estava sempre falando sobre como, em sua Era, procriar não era exatamente a prioridade das mulheres.

Jamais havia parado para pensar que algo tão trágico estivesse por trás do motivo.

Diante da falta de palavras, a nobre apenas abraçou a mulher chorosa no abraço mais acalentador que podia oferecer, deixando que descarregasse seu sofrimento à vontade, as lágrimas molhando seus cabelos.

- Eu sinto muito... - Sussurrou, sem saber mais o que poderia ser dito.

Naquela noite, elas fizeram companhia uma à outra, conversando sobre suas vidas como costumavam fazer nos velhos tempos. Muitas coisas haviam mudado, mas os laços construídos com a convivência não era uma dessas coisas. E Rin estava verdadeiramente grata que, mesmo com o passado cruel de Inuyasha e o sofrimento silencioso de Kagome, ela ainda pudesse contar com aquela amizade.

 

 

Sesshomaru estava prestes a finalizar sua ronda, as botas de alguma forma pisando com firmeza sobre a neve fofa que se formava sobre o chão, os flocos passando facilmente pelas copas sem folhas das árvores que envolviam o castelo. A fortaleza do Oeste estava mais poderosa do que nunca, com homens cercando o perímetro do castelo, armados e prontos para qualquer ameaça que pudesse surgir.

O daiyoukai se apressou para finalizar o serviço do fim de tarde, ansioso para terminar com aquilo de uma vez e poder retornar ao calor de seus aposentos, onde Rin repousava no leito do casal. Nos últimos dias, a mobilidade de sua humana encontrava-se extremamente reduzida, de forma que ele apenas aconselhou que ela permanecesse deitada a fim de evitar a exaustão do peso extra e as dores que vinham com ele.

Detestava distanciar-se dela em um momento tão delicado como aquele, quando, de acordo com as previsões de Rin e da sacerdotisa de Inuyasha, seu filhote poderia decidir vir ao mundo a qualquer momento. Mas era justamente devido àquela possibilidade que ele precisava garantir que a segurança de suas terras estava nos conformes, adequada para receber seu primogênito quando a hora chegasse.

- Andando bem depressa hein, Sesshomaru. - A voz incômoda de seu meio-irmão soou, vinda do topo de uma árvore onde ele sentava em sua típica postura canina deselegante. O hanyou preferia ficar na beirada da floresta na maior parte do tempo, mesmo com o frio prolongado do fim de inverno. Convenientemente, permanecia sempre na menor reta até o quarto ocupado por sua fêmea. - Indo ver a Rin? De novo?

O general inu não respondeu, passando pela árvore como se ninguém tivesse dito nada, seu foco na tarefa em mãos. Não se deixaria distrair tão facilmente pelas provocações de Inuyasha. Alcançando o penúltimo grupo de soldados daquele lado da muralha, ele casualmente questionou o mais próximo com a mesma pergunta de praxe que fizera aos anteriores, ansiando por ouvir a mesma resposta.

- Algo fora do comum por essa zona?

- Nada, senhor. Tudo tranquilo por toda a floresta. - Respondeu prontamente ao superior. - Avisaremos se qualquer coisa acontecer, o senhor devia ir ver sua humana.

O daiyoukai pausou por um instante, considerando as palavras amigáveis e tentando identificar o porquê de ter estranhado alguma coisa nelas. Eram amigáveis até demais para o seu gosto. Ele elevou uma sobrancelha, analisando cuidadosamente as feições do subordinado antes de concluir com desconfiança:

- Quase ninguém mais chama minha esposa assim.

O homem pigarreou, evasivo.

- Bom, senhor, perdoe-me se fui ofensivo. Mas ela é sua humana, correto?

- Correto. - Concordou, calmamente, antes de repentinamente erguer o guarda pelo pescoço, pressionando-o contra o tronco de uma árvore próxima com força o suficiente para fazer os generosos acúmulos de neve nos galhos acima caírem sobre os dois. - E qual é o nome dela?

Sesshomaru sabia que soldados dificilmente se preocupariam em decorar os nomes de membros avulsos da nobreza. Muitos sequer sabiam o de Mizuno, embora ela tivesse vivido ali durante toda a sua vida.

Mas Rin havia se dado todo o trabalho de se integrar a todos os núcleos do Oeste, ela visitou as concentrações militares em diversas ocasiões e seus homens sempre a chamavam pelo nome ou pelo apelido pelo qual era conhecida na cidade. Agora, a chamavam de senhora, mas mesmo assim o nome era conhecido. Não era difícil lembrar o nome da única humana no Oeste, afinal de contas, ainda mais um tão simples quanto o dela.

Portanto, quando o homem a sua frente apenas o olhou de volta pateticamente, sem oferecer uma resposta à sua simples pergunta, Sesshomaru soube. Aquele não era um dos seus.

Com a súbita cena de violência que se desdobrava, Inuyasha rapidamente saltou de seu galho, a Tessaiga já transformada na mão, embora não fizesse ideia do que estava acontecendo ali.

- Vejo que está um pouco mal informado, para um espião. - Sesshomaru comentou, pressionando as garras na pele do repentino inimigo, suas presas afiadas se mostrando em ameaça.

O invasor apenas riu, deixando sua fachada cair completamente ao observar os outros guardas do grupo começarem a avançar lentamente contra o daiyoukai.

- E você está bem desinformado, para um general. Ficar se preocupando com aquele seu filhote imundo te fez esquecer da sua contagem? Agora já é tarde, Sesshomaru.

A primeira ação a surgir na mente do general diante da descoberta de intrusos em suas defesas havia sido interrogá-los por mais informações, torturá-los lentamente se necessário. Mas, com aquela simples última fala, todas as prioridades de Sesshomaru se voltaram imediatamente ao castelo, à Rin.

Agora já é tarde, ele havia dito.

O ataque já estava em execução.

- O que infernos está acontecendo, Sesshomaru? -  Inuyasha questionou finalmente, começando a ficar nervoso com a tensão no ar.

Sem uma palavra, as garras de Sesshomaru rasgaram através dos músculos e artérias de sua presa como se não fossem nada. Antes que Inuyasha pudesse mover a Tessaiga, a cabeça do falso soldado estava se rompendo do pescoço com um estalo agudo, caindo ao chão logo em seguida.

Diante da eliminação do primeiro, os outros inu partiram ao ataque, sacando suas espadas e avançando contra o líder. Inuyasha não precisava de mais explicações, tratou de levantar a pesada lâmina da relíquia de família e cortar ao meio um dos que tentavam atingir o irmão.

Sesshomaru deixou que Inuyasha lidasse com os adversários periféricos, enquanto se ocupava dos imediatamente mais próximos.

O primeiro pisou diretamente em seu espaço pessoal, acreditando que se aproximar tanto do lendário inuyoukai seria um grande feito. Seria, se Sesshomaru não estivesse perfeitamente no controle de seus movimentos, propositalmente deixando que a espada inimiga se aproximasse perigosamente de sua jugular antes de suas garras venenosas finalizarem brutalmente o atacante.

Ele saltou sobre o corpo que caía de joelhos, a neve branca manchando-se com o sangue recém-derramado. Sem uma pausa para respirar, Sesshomaru estava abatendo o próximo, dessa vez atravessando o estômago do infeliz com seu punho em um golpe violento.

O homem cuspiu sangue, e o general passou por mais esse cadáver também.

Com mais três eliminados, ele viu seu caminho livre à frente, enquanto Inuyasha ainda batalhava com um inimigo remanescente, o som das duas lâminas parecendo gritar no silêncio da antes tranquila floresta.

A mente de Sesshomaru corria na mais alta velocidade, pensamentos frenéticos se dividindo entre medidas estratégicas de ação e Rin. A parte que pendia para sua parceira ganhava com um peso inacreditável, de forma que tudo que o daiyoukai conseguiu fazer foi lançar ordens apressadas ao confuso meio-irmão.

- Encontre Jaken e mande-o repassar aos capitães a informação de que podemos estar sob invasão.

- Você acha que eu sigo suas ordens estúpidas agora-

- Vá, Inuyasha! – Rosnou o mais velho de uma forma tão urgente que imediatamente calou as palavras malcriadas do hanyou, quase distraindo-o o suficiente para que o oponente pudesse acertar um golpe. – Diga que quero qualquer suspeito morto sem hesitação.

Com essas últimas instruções, o inuyoukai de branco voou facilmente sobre a enorme muralha, sem se preocupar com portões ou qualquer outra formalidade. Só conseguia pensar na segurança de Rin, tentando se manter sob controle ao lembrar repetidamente de que a Guarda do Lírio estava com ela, ou pelo menos por perto.

Mas não era o suficiente.

Uma vez dentro do pátio de seu castelo, Sesshomaru percebeu que o serviço que havia solicitado a Inuyasha seria desnecessário, visto que o cheiro de sangue derramado e o som das batalhas recentes pareciam ter colocado ambos seus aliados e inimigos em movimentação, deixando que os dois lados soubessem que o que quer que aguardassem, havia começado.

Como se precisasse de mais confirmação, o sino da cidade começou a soar naquele instante, uma indicação mais do que clara de que estavam sob ataque. Os falsos guardas que havia matado lá fora haviam aberto passagem para o restante dos invasores, que conseguiram penetrar as muralhas sem levantar suspeitas.

Agora, de todos os lados, brotavam inuyoukais hostis enfrentando uns aos outros, antigos desertores que retornavam à terra natal agora para descontarem as frustrações que os fizeram partir em primeiro lugar, contra leais soldados que permaneciam ainda mais fieis sob influência do infalível carisma da nova senhora.

Os olhos dourados do daiyoukai mantiveram-se firme à batalha que se desenrolava pelo pátio, observando apenas por um instante o sangue dos traidores ser derramado sobre as pedras polidas da pavimentação com um tipo cruel de prazer. Era uma cena que ele havia aguardado um bom tempo para presenciar.

Mas, infelizmente, não podia se dar ao luxo de aproveitar o massacre. Com todo aquele ruído, não demoraria para que Rin ficasse a par do conflito que os alcançara, e a última coisa de que sua humana precisava naquele momento era preocupar-se com mais aquilo.

Deixando seus soldados verdadeiros cuidarem dos invasores ali fora, ele se apressou castelo adentro, não deixando passar a oportunidade de aniquilar um ou outro que tinham o desprazer de cruzarem seu caminho.

 


Notas Finais


[EDIT] Fanart do capítulo: https://c1.staticflickr.com/5/4269/34982913675_e4ae155d73_b.jpg (versão final digital atualizada, amém!)

Então, Rin e Sesshy estavam muito bem brincando de casinha. :3
E finalmente temos Kagome e Inuyasha de volta na história *u*
Mas a treta... A treta tarda mas não falha, olha ela aí! E agora, o que será que vai rolar nessa invasão?

Descobriremos algum dia! hahahaha
Por enquanto tenho que ir ficando por aqui. O próximo capítulo já está sendo escrito, estou animada porque na verdade as cenas do próximo capítulo foram a primeira coisa que eu escrevi nessa fic. A emoção de finalmente apagar os milhões de "enter" que tinham entre o que eu tava escrevendo e esse próximo trecho é maravilhosa. Agora esse trecho vai estar finalmente dentro da história!
E, para aqueles que leram até aqui, parabéns de novo! Passamos das 300 páginas! *O*
Obrigada por tudo!!
(Disse que não ia falar muito né? Ops)


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