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História Unintended - Noite Longa


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


OLÁ MEUS AMORES!!!
Então, só queria dizer que não aguentei, eu precisava postar esse capítulo e eu precisava postar tudo, não consegui dividir em duas partes porque meu coração não ia suportar. Então fiquem aí com o capítulo mais longo da fic até agora, fazendo jus ao título! :D

Capítulo 38 - Noite Longa


Sesshomaru não entendia o propósito de tamanha estupidez. Os inimigos deviam saber que não eram páreo para ele. O ataque não fazia sentido, era apenas desperdício de guerreiros enviá-los sem liderança alguma, bem no meio da fortaleza inimiga, onde seriam alvos fáceis.

Ele atravessou um corredor do castelo, deixando uma trilha de cadáveres desmembrados às suas costas enquanto se apressava para chegar até Rin. Os adversários morriam tão rapidamente em suas mãos que ele mal conseguia dizer se já chegavam até eles mortos ou não.

Um cadáver saltou a sua frente, pateticamente lhe apontando uma espada.

Outro rosnou primeiro, denunciando sua estratégia de combate com garras afiadas em uma investida óbvia.

Quando Sesshomaru passou por eles, não havia mais dúvida se estavam ou não mortos.

Aquele jogo já havia deixado de ser divertido quando a onda de ataques começou a atrasá-lo. Àquela distância da Ala Oeste, ele sabia que não havia como a balbúrdia ter passado despercebida pela parceira, mas, uma vez que estivesse ao lado dela, ela se sentiria mais calma. Não havia motivo para pânico, essa era uma batalha vencida para eles desde o início. Estiveram se preparando incessantemente para o conflito, mesmo que tivessem sido pegos de surpresa com o início dele, a situação facilmente pendia para o lado do Oeste. O único ponto delicado era Rin.

Ele estava prestes a encontrar os seus aposentos, só precisava seguir até o fim do corredor para alcançar sua eterna protegida e futura mãe de seu herdeiro, quando sentiu.

De início, apenas uma pontada em suas costas, o que ele ignorou, pensando ser apenas alguma flecha que ele não ouvira. Chegar até Rin era mais importante do que isso.

Mas, antes que ele pudesse dar mais um passo, o daiyoukai repentinamente encontrou-se incapaz de se mover.

Mas o que...

Em poucos segundos, toda a sua energia demoníaca começava a se esvair, como um líquido escapando através de um rombo no recipiente, não havia nada que pudesse fazer para conter o vazamento. Ele piscou, desnorteado, perdendo a acuidade de seus sentidos extras a uma velocidade alarmante. A falta mais perceptível de todas era o olfato, de forma que ele quase não conseguia sequer se localizar, sem entender os cheiros ao seu redor. Não sentia os cheiros ao seu redor, como poderia navegar daquele jeito?

- Pegamos você, cão. – Uma voz disse, vindo de trás dele.

Sesshomaru se virou até a origem do som, irritado que precisasse fazer isso para identificar quem estava vindo, já que não conseguia dizer apenas pelo odor. Então, olhos dourados encontraram os alaranjados, e o inu trincou os dentes, forçando-se novamente a sair do lugar, sem sucesso.

E onde estavam todos os malditos cheiros?!

- Homens, prendam-no. Vamos logo com isso.

Entretanto, quando dois youkais vieram segurá-lo pelos braços, Sesshomaru imediatamente se rebelou contra a magia que o prendia no lugar. Rosnados irrompiam de sua garganta, tão altos que faziam as paredes vibrarem ao seu redor. Seus olhos foram invadidos pelo vermelho, e os soldados tiveram que se esforçar para mantê-lo parado, enquanto Sesshomaru tentava arrancar o braço de alguém com os dentes afiados que se alongavam em sua mandíbula.

 

 

Rin tinha os olhos arregalados com o som inconfundível que vinha do lado de fora do quarto, passando facilmente pelas finas paredes que a envolviam. Seu coração batia em desespero, a boca seca de tanto tentar reprimir o impulso de gritar por aquele que ela sabia, como um sexto sentido no fundo de seu ser, que estava apenas do outro lado daquela porta. Precisava vê-lo, precisava estar junto a ele.

Mas os olhares de seus guardas pessoais eram rígidos sobre ela, como se já soubessem muito bem o que ela estava pensando e desaprovassem abertamente a ideia.

- Vocês não vão ajudá-lo? - Ela questionou, começando a tremer em nervosismo com os rosnados cada vez mais altos.

- Nós somos a sua Guarda, Rin. - Um deles a lembrou, os outros assentindo.

- Por favor, Rin, apenas sente-se. Você vai acabar se machucando.

A humana apenas os olhou em indignação. Como se pudesse sentar e relaxar enquanto seu senhor lutava do lado de fora! Por mais que a oferta parecesse tentadora para seus pés e coluna, ela permaneceu impassível, caminhando pelo grande quarto.

Justo quando estava prestes a fazer mais uma tentativa de convencê-los a tomar uma atitude, a pesada porta em madeira trabalhada se abriu com um baque estridente, caindo ao chão em lascas disformes enquanto diversos youkais passavam pela ampla abertura.

Prontamente, a Guarda do Lírio entrou em ação, espadas sendo sacadas a uma velocidade impressionante, o sangue dos inimigos invasores sendo espirrado pelas paredes em um estilo de corte muito mais descuidado do que ela estava acostumada a ver Sesshomaru usar.

A princípio, ela procurou se afastar do conflito, encostando-se na parede oposta. Apenas atrapalharia seus homens se ficasse no meio da luta. Mas foi então que o ouviu, seu amado senhor Sesshomaru, em mais um rosnado ensurdecedor. E talvez não estivesse claro para os outros ali, embora Rin esperasse que os inu se entendessem melhor do que ela conseguia, mas para ela era muito dolorosamente óbvio o que aquele som queria dizer.

Seu senhor estava com problemas. Algo estava dando errado.

Rin sabia bem que sua única tarefa era se manter escondida e evitar ao máximo ser vista pelos inimigos, e talvez fosse capaz de seguir o protocolo se as circunstâncias fossem diferentes. Mas, se algo havia acontecido a Sesshomaru, então as circunstâncias estavam longe, muito longe do ideal. E aquela incerteza, aquele medo de que ele pudesse se ferir gravemente, era mais do que ela podia suportar. Não queria reviver a cena sangrenta que presenciara no Norte, não poderia deixar que isso acontecesse.

Portanto, assim que seus olhos atentos perceberam a abertura da porta escancarada e seus dedicados guardas completamente ocupados com os inimigos que tentavam passar por eles, Rin deu seu melhor para avançar até o corredor com o peso enorme de sua barriga.

A situação lá fora fugia completamente de qualquer coisa que houvesse imaginado. Havia soldados rivais com pedaços dos corpos faltando, as paredes e chão pintados quase inteiramente de vermelho, braços e músculos não identificados largados pelos cantos. E, no centro daquela bagunça macabra, seu senhor Sesshomaru, lutando contra os captores da forma que podia com seus movimentos limitados.

- Senhor Sesshomaru! – A voz de Rin ressoou com preocupação quando ela parou de correr, lutando para se equilibrar com sua barriga. No momento que os olhos castanhos encontraram os dele, a humana arfou em choque. Ela ouvira os rosnados violentos, mas nunca imaginara encontrá-lo restringido daquela forma.

- Rin! – Ele conseguiu dizer, cessando seus rosnados. Sua fúria sendo substituída por preocupação. – Volte!

- Parece que tiramos a Senhora do Oeste da toca. – A voz de Takayama anunciou, divertido. Vê-lo ali, em pessoa pela primeira vez, trouxe arrepios de pavor para o corpo da humana. – Dessa vez o seu inu não vai poder te proteger, humana. Ele está preso por uma rede que sela qualquer manifestação do seu youki, é um instrumento lendário cedido pelos próprios deuses para conter o mal, não há nenhum youkai que possa resistir ao selo divino.

- Não! – Rin protestou, se aproximando de seu senhor sem pensar, mesmo sabendo que não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar. – Soltem ele!

- Peguem a humana. – A voz ordenou em vez disso, e mais soldados se moveram para segurá-la. Com todo o peso extra do bebê que estava para nascer a qualquer dia desses, o tempo de resposta de Rin era muito lento, mesmo para uma humana.

Apenas um soldado foi o bastante para contê-la, pressionando seus pulsos contra as suas costas.

Então os rosnados recomeçaram, ainda mais assustadores do que antes. Mesmo Rin tremeu com a intensidade da fúria de seu senhor, e ela observou com apreensão enquanto ele lutava contra amarras invisíveis. O rival havia dito claramente que a barreira selava a manifestação do youki, mas Rin podia sentir o youki de Sesshomaru se expandindo de forma impressionante ao redor deles, e podia ver na expressão do inimigo que ele mesmo não entendia como aquilo podia acontecer. Mais cinco soldados se uniram aos outros para segurar Sesshomaru no lugar enquanto este resistia contra eles, sua forma oscilando entre a aparência humanoide e uma grotesca semi-transformação para a forma bestial.

- Soltem-na agora! – Ele demandou em um rosnado violento, veneno escorrendo de suas garras, forçando os guardas a recuarem enquanto ele avançava na direção de Rin com dificuldade.

Rin tentou lutar também, fincando os pés no chão com toda a sua força, fazendo seu peso pender para frente, na direção de Sesshomaru, impedindo que os guardas a arrastassem para trás. O captor a segurou pelo pescoço para conter seus avanços, e a humana rapidamente engasgou com a pressão em seu canal de respiração.

Sesshomaru sentiu todos os músculos tencionarem ao ver o inimigo colocar as mãos sobre sua fêmea. Com seus sentidos bloqueados, ele não conseguia sentir o cheiro do medo dela, mas podia ver o terror em seus belos olhos castanhos. Não conseguia ouvir seu coração acelerado, mas sabia que ali batiam dois simultaneamente, e ele precisava proteger a ambos nem que significasse perder todo o resto.

Takayama deixou escapar uma risada vitoriosa, vendo suas duas presas em seu poder finalmente. Dando um passo à frente, ele puxou uma adaga de cabo dourado decorado, segurando-a sugestivamente entre suas garras negras, os olhos laranjas ardendo em expectativa ao encarar a humana indefesa. Ele tomou pontaria, a lâmina brilhante e afiada direcionada precisamente à garganta de sua futura vítima.

Sesshomaru rosnou mais uma vez, desespero preenchendo-o completamente, embora ele lutasse para não deixar transparecer.

- Não se atreva! - Ele ameaçou, a fúria clara em seus olhos vermelhos.

Takayama desviou os olhos de volta para o inu, divertido.

- Ah, sim. Implore à vontade pela vida da sua humana e seu patético hanyou, Sesshomaru. - Ele disse, sadicamente. - Você não sabe como eu almejei o momento em que eu os mataria na sua frente, para poder matá-lo logo em seguida.

- Hm. Me matar através de um golpe pelas costas. Um youkai apelando para uma arma divina. - O inu respondeu com repulsa em sua voz. - Atacando uma humana que mal pode se mover, precisando que alguém a segure no lugar para você não ter chance de errar em um espaço limitado como esse. Você é mesmo o ser mais pusilânime que eu já encontrei.

- Chame do que quiser, mas eu te venci, Sesshomaru!

Com aquelas últimas palavras raivosas, Takayama lançou a lâmina em um movimento impossivelmente rápido até seu alvo.

Sesshomaru invocou todas as suas últimas energias para derrubar os guardas que o restringiam, suas garras desesperadamente avançando contra o braço do takayoukai em uma tentativa de atrapalhar a pontaria do oponente, agindo tarde demais devido a todos os seus sentidos e reflexos momentaneamente enfraquecidos.

Rin fechou os olhos, reprimindo um grito.

Simultaneamente, uma outra lâmina surgiu, vinda do fundo do corredor. Um som metálico soou quando uma espada interceptou a adaga no ar, desviando a trajetória até que as duas caíssem ao chão inofensivamente.

Rin sentiu seu corpo se banhar em sangue fresco antes que pudesse processar o que acontecia ao seu redor. Só percebeu que não era seu sangue ao sentir as mãos do guarda que a prendia a soltarem, o corpo do mesmo caindo sem vida, a garganta aberta jorrando líquido vermelho-escuro.

Desnorteada, sentiu novas mãos a puxarem para trás, afastando-a dos agressores. Ela lutou contra eles, seus olhos focados em Sesshomaru que já voltava a ser contido novamente, embora parecesse incrivelmente aliviado de vê-la a salvo.

- Rin, afaste-se daqui. - Uma voz a chamou, e só então Rin notou que era a Guarda do Lírio que a segurava, após terem a salvado da morte certa instantes atrás.

- Mas o senhor Sesshomaru...

- Saia, Rin! - A voz clara e autoritária do mencionado daiyoukai interrompeu, um certo desespero na urgência de tê-la em segurança. Não sabia o que faria caso o próximo golpe não fosse defletido com tanto sucesso assim. - Deixe o castelo. Agora!

- Como se eu fosse permitir! - Takayama disse, furioso por seu glorioso momento de vitória ter sido adiado. - Capturem a humana, seus inúteis!

Rin permaneceu congelada no lugar, dividida entre seus guardas que tentavam convencê-la sem que precisassem arrastá-la dali e potencialmente ferissem à ela ou ao bebê, e os inimigos que se apressavam em sua direção com olhares assassinos determinados. Eles tinham Sesshomaru, e Rin não podia deixá-lo ali.

- Vá, Rin! Eu a encontrarei depois. - Prometeu a voz grave de seu senhor, seus olhos pela primeira vez parecendo lhe implorar para que ela seguisse as instruções. - Mantenha o filhote a salvo até lá!

Ela o olhou uma última vez com lágrimas nos olhos. Aquelas palavras a convenceram. Seu filho, ele estava contando com ela para protegê-lo. Além disso, uma vez que Takayama conseguisse matá-la, ele não perderia tempo em se desfazer do senhor do Oeste também. Ela era a chave que faltava para a vitória dos inimigos, a vida que conectava todas as outras. Precisava levar essa vitória para bem longe, custe o que custasse.

- Por favor, tenha cuidado! - Ela disse por fim, antes de aceitar a ajuda da sua Guarda e se permitir ser protegida. Kotarou rapidamente derrubou a parede do cômodo mais próximo no corredor, apressando-a a passar pelo buraco, enquanto os outros quatro batalhavam para conter os perseguidores.

- Limpem o caminho para ela! - Sesshomaru ordenou, sentindo finalmente a aura divina daquele estranho instrumento começar a vencer a velocidade com que conseguia repor um pouco da energia que lhe era sugada.

- Sim, senhor! - Seus homens assentiram após derrotarem os oponentes ali, desaparecendo em seguida pelo vão na parede, logo atrás de sua senhora.

Sesshomaru permaneceu atento, mesmo com a barreira que parecia rasgá-lo pedaço por pedaço toda vez que ele tentava manifestar sua energia demoníaca, seus ouvidos precários tentando captar qualquer grito que pudesse indicar que Rin estava com problemas. Quando os passos do pequeno grupo saíram de seu campo de audição, ele finalmente cedeu, perdendo a consciência.

 

 

Rin fugiu com dificuldade pelos fundos do castelo, tentando não ver os corpos ensanguentados ao seu redor, com medo de reconhecer alguém. Envolvia a barriga com ambas as mãos, lutando contra seus pés inchados e costas absurdamente doloridas, enquanto ouvia sua fiel Guarda travando batalhas ferozes com seus perseguidores e tentava não olhar para verificar se estavam tendo sucesso também. Ela precisava fugir e encontrar um lugar seguro, ela devia isso a Sesshomaru.

No momento em que pisou no pátio, soube que havia sido um erro. Uma multidão de olhos hostis a fitaram apenas por um instante, antes de começarem a vir atrás dela. Não havia como os soldados do Oeste conseguirem impedir a todos. Aquele caminho estava fora de questão.

Só tenho uma chance... Os estábulos...

Dando meia-volta com todo o equilíbrio que conseguia ter, ela correu na direção de sua mais provável salvação, tentando prestar atenção ao pisar nas pedras irregulares. Um tropeço agora seria fatal, não só para sua fuga como também para sua gravidez. Quando ela alcançou o destino, entretanto, não conseguiu manter a compostura. A maioria das montarias estava morta, mas o que ela realmente queria não estava em lugar algum...

- Ah-Un! - Ela chamou em voz alta, lágrimas de desespero escorrendo livremente por seu rosto. - Ah-Un, cadê você?

Ela viu os soldados se aproximarem rapidamente por um lado, e do outro, um som característico que a fez sorrir de alívio em meio a uma situação tão desesperadora.

- Ferida do vento! - A voz inconfundível de Inuyasha gritou, logo antes de um clarão amarelado se dividir em três faixas brilhantes e rasgar o chão, levando junto as almas daqueles que tiveram o azar de estar no time oposto ao do hanyou.

- Inuyasha! - Ela gritou de volta o mais alto que podia com sua voz embargada em choro. Acrescentou em seguida ao ver uma flecha rosa atravessar o ar e atingir mais um do novo grupo que começava a se formar, por mais que sua Guarda os mantivessem razoavelmente afastados dela. - Kagome!

A sacerdotisa a abraçou quando a alcançou, e Rin se permitiu um minuto de alívio ao ver que os amigos estavam a salvo no meio daquele desastre.

- Rin! O que está acontecendo?

- É Takayama! Ele... Ele está aqui! E eu tenho que ir! - Ela explicou, sem conseguir fôlego o suficiente para falar coerentemente depois de tanto correr com aquele peso todo. - Não acho Ah-Un! E... o senhor Sesshomaru...

Inuyasha cortou mais um inimigo, antes de voltar-se à nobre humana.

- Aonde você está indo?

- Rin, você não pode ir a lugar nenhum desse jeito, nem pensar! - Kagome disse, preocupada.

- Ela não pode é ficar aqui, estão atrás dela. - A voz familiar de Kotarou se acrescentou à discussão de repente, enquanto ele vinha se postar ao seu lado. - São ordens do senhor Sesshomaru, de qualquer forma.

- Então vamos com você. - A miko respondeu, determinada.

- Não! Vocês precisam ir encontrar o senhor Sesshomaru! - Rin argumentou imediatamente. Os amigos eram os únicos capazes de resgatá-lo, os únicos não comprometidos a proteger o castelo. - Ele precisa de vocês!

Inuyasha riu audivelmente, ao mesmo tempo que bloqueava um golpe de espada inimigo e revidava, usando o peso extra da Tessaiga para compensar a diferença de força do youkai completo com quem lutava, afastando-o.

- Sesshomaru precisa de nós? - Ele repetiu, como se fosse a piada mais épica que já ouviu na vida.

- Por favor, encontrem-no! - Rin insistiu, desesperada por estar separada dele, por não saber se Takayama decidiria eliminá-lo enquanto ainda podia afinal. Seu coração doía impossivelmente com aquela possibilidade. - E digam a ele para vir me encontrar, como prometeu.

- Você tem que ir agora, Rin! - Kotarou a lembrou com urgência, chamando sua atenção de volta à horda de youkais que ele e o resto da Guarda tentavam conter. - Nós vamos segurá-los!

Justo quando Rin começava a perder o que lhe restava de sanidade ao olhar ao redor e não ter a menor ideia de como escaparia dali, um novo ruído chamou sua atenção acima dos gritos e baques metálicos da batalha.

Ela virou em direção ao som, mas seu sorriso se desfez assim que avistou seu companheiro de viagens atender ao seu chamado.

Era Ah-Un, como ela tinha rezado para ser, mas ele estava em condições horríveis. Uma trilha de sangue se arrastava pelo chão enquanto ele se esforçava para chegar até ela. Ele mancava de uma pata, e várias flechas e lanças estavam fincadas em sua carne. Rin sabia que não havia muita possibilidade de que a criatura ficasse viva por muito mais tempo, e esse fato causou um aperto em seu coração.

Ela correu até ele, apesar disso, decidida a garantir o desejo de seu senhor a qualquer custo. Além do mais, se ficassem ali, era provável que os dois terminassem mortos.

- Ah-Un. – Ela chamou, determinada, ganhando a atenção do dragão de duas cabeças. – Eu preciso sair daqui agora, para o mais longe possível. – Ela montou na criatura, desviando dos cabos das armas que estavam cravadas nele. – Você consegue me levar, por favor?

As cabeças assentiram em compreensão, e Rin estava voando, longe do alcance dos inimigos.

- Rin! - Inuyasha gritou para ela lá de baixo, fazendo menção de segui-la.

- Encontrem o senhor Sesshomaru! - Ela reforçou seu pedido, enquanto Ah-Un ganhava mais altura, começando a passar pelo muro.

Deixando para trás o caos do castelo que Rin havia aprendido a chamar de mais do que apenas lar, mas de sua terra, ela e o velho amigo de duas cabeças voaram pelos céus. Ela chorou durante todo o percurso, desolada por não conseguir saber qual seria o destino de seu senhor, sentindo-se absurdamente culpada por tê-lo deixado para trás como a humana fraca que era. Mizuno teria lutado ao lado dele. Mas, conhecendo bem a antiga rival amorosa, Rin tendia a acreditar que Mizuno estaria mais inclinada a ajudar Takayama a eliminar Sesshomaru, para que pudesse ter toda a glória e poder para si mesma, como regente e mãe do herdeiro.

Ela dispersou os pensamentos inúteis, não a levaria a lugar algum agora ficar pensando em como as coisas poderiam ter sido. Era ela quem carregava o herdeiro, e era ela quem precisava protegê-lo, sendo humana ou não. Alisando sua barriga carinhosamente, ela pensou no pedacinho de seu senhor que havia ali dentro. Ao mesmo tempo, rezou a todos os deuses para que pudesse em breve estar perto dele inteiro de novo.

Apesar de tudo, não parecia que ela tinha tempo para ficar preocupada com a situação do castelo, já que parecia que tinha seus próprios problemas ali naquele momento. À medida que percorriam uma maior distância, o voo de Ah-Un ficava cada vez mais baixo, e já começava a ficar rente ao chão abaixo deles, embora a criatura parecesse se esforçar ao máximo para manter a altitude.

- Ah-Un? Tudo bem?

Rin arfou quando a criatura se chocou contra o solo, rolando pela neve, derrubando a humana no chão com o movimento. Felizmente, a camada de neve era espessa o suficiente para amortecer o choque.

- Ah-Un! – Ela chamou, se arrastando até alcançar o dragão, observando uma de suas cabeças fechar os olhos. – Oh não! Por favor, não!

Ao perceber a respiração do youkai ficar cada vez mais rarefeita, ela aceitou o destino dele, se deitando contra as escamas de sua barriga, como fazia quando era criança, toda noite na floresta, antes de dormir. Ela chorou, apertando os lábios em uma tentativa de conter seu sofrimento. Aquele pesadelo nunca acabaria? Quantos amigos mais ela teria que ver partirem antes de finalmente poder ter paz?

- Vá em paz, meu amigo. – Ela sussurrou, enterrando o rosto nas escamas do dragão. - Eu nunca me esquecerei das nossas aventuras. Obrigada por tudo.

Rin pode apenas deitar ao lado dele por um momento, pois parecia que teria pouco tempo para se despedir do amigo de infância, logo sendo atingida por uma pontada forte de dor. Ela se afastou do corpo, procurando entender melhor sua situação. Havia caído de uma montaria, no estado avançado de gravidez em que se encontrava... Isso podia ser perigoso. Tinha ralado as palmas das mãos em alguma rocha sobressalente, mas, fora isso, parecia bem.

Então, sentiu uma piscina de líquido começar a se acumular aos seus pés, o que a colocou em alerta imediatamente. Com mais uma onda de dor, ela gritou em agonia.

Oh deuses, justo agora...

Olhou ao redor, desesperada por estar completamente sozinha. Mas ficou chocada ao ver a silhueta do castelo do Oeste, iluminado pela pouca luz do fim de tarde. Ela não tinha ido tão longe quanto pareceu! Ainda permanecia na floresta das redondezas, perfeitamente dentro dos limites do território.

Mais uma onda de dor a atingiu, mas Rin não gritou dessa vez. Em vez disso, se arrastou para uma região de mata mais fechada, procurando algum tipo de abrigo. Devido à ausência de folhagem, era difícil conseguir ocultar sua forma, embora os galhos espessos fossem bons substitutos. Só podia agradecer por pelo menos ter parado de nevar há alguns dias.

De joelhos, Rin ficou realmente feliz por ser obrigada a vestir roupas tão espalhafatosas dentro do castelo. Seu quimono de infinitas camadas seria útil uma vez na vida.

Ela se despiu de todas as camadas, deixando apenas a última peça de youkata leve. Com os outros quimonos, forrou um leito sob a copa de uma grande árvore com galhos volumosos o suficiente para conter a maior parte do acúmulo de neve, após fazer o melhor que podia para cavar a neve que restava para fora do caminho, até conseguir revelar o solo por baixo. Manteve um dos quimonos separado para que ela pudesse se manter aquecida, sabia que não seria nada fácil fazer isso em silêncio ali, sozinha, mas precisava fazer.

Não podia correr riscos de atrair algum inimigo até ela agora, por mais que tivesse conseguido evitar deixar uma trilha de seu cheiro ou de passos, graças a Ah-Un, youkais ainda podiam ouvi-la à distância se fizesse um estardalhaço.

Cuidadosamente, ela se deitou sobre o leito improvisado, controlando a respiração, pressentindo mais uma contração. Quando ela veio, Rin pressionou o rosto contra o tecido do quimono que ela havia separado, mantendo o mais absoluto silêncio na floresta além do som do vento. Ela estendeu uma mão, pegando um punhado de neve e esfregando entre suas palmas até que derretesse com o calor do atrito, a água em estado líquido novamente fazendo o trabalho de lavar suas mãos para o procedimento que prometia vir a seguir.

Ela tentou relaxar quando a dor cedeu por um momento, fechando os olhos e respirando fundo.

Aquilo doía muito mais do que jamais poderia ter imaginado ao observar outros partos. E nunca tinha realizado um sozinha. Muito menos em si mesma!

Que os deuses nos protejam... Ela rezou, cobrindo o rosto mais uma vez para uma próxima contração.

xXx

Sesshomaru abriu os olhos para a completa escuridão, sem ser capaz de enxergar um palmo a sua frente sequer. Ele tentou se mover, apenas para ouvir o som de correntes e perceber que seus pulsos estavam atados em fortes elos de metal. Elos que normalmente não seriam problema algum para ele, mas que, de alguma forma, se recusavam a ceder sob sua força. Por acaso seria um metal especial? Ao olhar o ambiente mais uma vez e perceber que agora conseguia distinguir com mais clareza seus arredores, o youkai notou que a verdade era que ainda estava pateticamente selado em suas habilidades sobrenaturais. Normalmente, sua visão nunca precisava de tempo para conseguir enxergar na presença de pouca luz.

O daiyoukai sondou seu próprio corpo, analisando suas condições mais cuidadosamente. Podia sentir resquícios de sua aura demoníaca, mas era como um copo de água que havia sido deixado exatamente fora de seu alcance, de forma que ele só pudesse observá-lo sem nunca ter acesso e saciar sua necessidade. Ele suspirou, sentindo-se exausto como não se lembrava de ter sentido alguma vez em sua vida. Apesar disso, reuniu o máximo da força restante em seus músculos para dar mais um puxão nas correntes que o prendiam naquela sala escura. Havia prometido que encontraria Rin, e quanto mais demorava, mais tempo dava aos seus inimigos para a encontrarem primeiro...

Com o som de sua luta, duas figuras foram atraídas até sua sela. O inu olhou para cima, tendo certeza de que seus olhos estariam vermelhos caso ainda houvesse alguma energia sinistra que pudesse invocar para extravasar seu ódio por aquele homem. Aproveitando que aquela reação, que na maioria das vezes fugia de seu controle, estava indisponível no momento, ele se permitiu permanecer perfeitamente sério e indiferente, como se absolutamente nada naquela situação o incomodasse.

- Vejo que finalmente acordou. - A voz odiosa de Takayama comentou, enquanto o youkai lagarto ao seu lado permanecia em silêncio. - Já estava achando que tinha acidentalmente te matado com essa coisa.

- Vai precisar de mais do que isso. - Sesshomaru respondeu, calmamente.

- Ah, mas não era minha intenção. Não ainda. - Justificou. - Primeiro, eu vou cumprir minha promessa. Eu vou eliminar tudo que lhe é precioso. Como a sua querida humana.

Sesshomaru ergueu seu queixo ao ouvi-lo mencionar Rin. Não haviam encostado nele ainda, o que queria dizer que...

- Vocês não vão encontrá-la. - Garantiu, sabendo que Rin havia sido eficiente em sua tarefa. Se havia conseguido escapar de inuyoukais até o momento, era porque haviam perdido o seu rastro.

O youkai falcão pendeu a cabeça para um lado, como se estivesse ponderando aquelas palavras. Então, ele riu, sinalizando com a garra negra de seu dedo indicador para a escuridão da entrada da sala.

- Ou será que estávamos apenas esperando que você estivesse consciente para poder testemunhar o fim sangrento da sua amada?

Sesshomaru forçou os olhos a enxergar as figuras que se aproximavam, mas o grito agudo se adiantou à imagem. Aquela voz feminina familiar gritando em desespero enquanto mais um youkai a segurava pelos braços e a forçava a andar até o centro do cômodo.

- Me solte! Me solte agora!

- Rin! - Sesshomaru finalmente deixou cair sua máscara de frieza, os olhos se arregalando ao vê-la ser trazida até sua frente. Ele farejou, frustrado com a inutilidade do ato. A humana o olhou com lágrimas inundando seus olhos. Automaticamente, ele tentou erguer uma mão para tocá-la, mas o som de correntes o restringiu prontamente.

- Agora que estamos todos reunidos, devemos começar? - Takayama avançou, suas garras longas segurando o queixo da humana e forçando-a a olhá-lo nos olhos. Ela chorava audivelmente.

- Por favor, não...

- Não toque nela! - Sesshomaru ordenou, o coração absurdamente acelerado ao ver seu mais detestado inimigo tão perigosamente perto de sua fêmea e do filhote que ela carregava. - Eu vou matar você, Takayama!

- Uma promessa ousada para alguém na sua posição, cão. - Provocou o outro, as garras deslizando do queixo de Rin até sua nuca, puxando seus cabelos em seguida, fazendo-a gritar com a dor. - Não devia começar a me oferecer tudo que eu quisesse em troca da vida dela?

Sesshomaru bufou, indignado.

- Você não a deixará ir. Você a quer morta desde o início.

- Boa desculpa para não ter que se humilhar por causa de uma humana inútil. - Parabenizou o inimigo, ainda risonho. - Não vou te culpar, não valeria à pena mesmo, por uma coisinha dessas. Devemos prosseguir então?

Ainda com a mão em seus cabelos, Takayama levou a mão restante à garganta da garota, seus dedos se apertando ao redor do pescoço frágil. Desesperadamente, Rin começou a se debater, as mãos inutilmente tentando afastar a dele.

- O que você quer, desgraçado?! - O inu trincou os dentes, só conseguindo respirar novamente quando Takayama a soltou, a deixando cair no chão com a fraqueza repentina. Ela arfava, sem ar. Mas viva.

O falcão o olhou, como se estivesse pensando em alguma proposta, até que simplesmente deu de ombros e voltou novamente à sua presa, chutando-a na lateral da costela, fazendo-a deitar no chão com um gemido de dor.

- Não, você tinha razão. Eu só a quero morta.

Antes que Takayama pudesse deferir mais um golpe contra a gestante indefesa, um repentino fio luminoso o paralisou, envolvendo-se várias vezes ao redor do pescoço do takayoukai em um aperto poderoso. Os olhos de Sesshomaru apresentavam-se em carmim novamente, suas garras conectadas às extremidades do fio, mantendo o inimigo detido sob seu poder oscilante.

Os dois rivais encararam um ao outro por um prolongado instante, os olhos alaranjados de Takayama em choque e receio enquanto considerava se aquele único ataque seria seu fim, e os olhos firmes de Sesshomaru lutando para manter o foco impossivelmente difícil, até que, por fim, a luz de seu chicote piscou uma, duas vezes, antes de desaparecer junto a suas últimas energias, deixando para trás apenas uma marca avermelhada inofensiva na pele do adversário.

Takayama riu, tentando disfarçar o nervosismo por trás da sensação de quem havia acabado de encarar a morte de frente por um momento. Aquilo não deveria ter sido possível, não depois de toda a aura demoníaca do inu ter desaparecido por completo!

- Vejo que está um pouco cansado, Sesshomaru. - Comentou, escondendo sua surpresa com pouca eficiência. - Será que devo ir logo com isso e finalizá-la de uma vez?

O daiyoukai encarou a esposa em desesperança, sem saber por quanto mais tempo conseguiria segurar Takayama, ou como lidaria com a possibilidade de simplesmente perder Rin e seu filhote ainda nem nascido para aquele miserável. Rin o olhou de volta mais uma vez, levantando a cabeça hesitantemente. Tremia, apavorada.

- Sesshomaru...

Sesshomaru pausou, em seguida liberando um longo fôlego, permitindo que seus pulsos relaxassem contra as correntes, os ombros caindo em alívio. Takayama não gostava daquela tranquilidade repentina, só porque a humana parecia bem? Pois bem, ele aumentaria o nível.

Forçando sua presa a se erguer sobre os joelhos, ele a socou no rosto, abrindo imediatamente um ferimento em seus lábios que sangrava abundantemente. Sesshomaru continuava apenas observando, toda a postura novamente perfeitamente calma.

- Eu juro que vou matá-la, Sesshomaru! Isso não é um teste.

- Mate. - O inu respondeu, indiferente. - De fato, eu também quero assistir a morte desse impostor.

Dessa vez foi Takayama quem trincou os dentes, enfurecido.

- Impostor? Você vai arriscar-

- Você não a tem em sua posse. Por isso apela para esse truque barato, para de alguma forma cumprir seu objetivo de me atingir apesar da sua incapacidade em capturar uma presa tão vulnerável. - Sesshomaru falou, a voz firme e confiante de sempre. - Rin nunca me chama apenas pelo nome. Você precisa prestar mais atenção nos detalhes se pretende enganar alguém.

O rival apenas permaneceu de pé diante do argumento. Sesshomaru o encarou com vitória. Podia estar sem seu sentido principal, de forma que nem ao menos conseguia sentir o cheiro de sangue na sala, que normalmente seria o mais proeminente de todos. Era difícil para ele reconhecer diferenças sutis de aparência e expressões, ou mesmo na voz, quando seu olfato não funcionava. Parecia sempre que alguma coisa estava faltando em suas percepções, como se mesmo imagens ou sons sempre tivessem tido algum tipo de odor que ele só percebia que influenciavam tanto em como via o mundo ao seu redor agora que os havia perdido. Mas, ainda assim, conhecia sua fêmea.

- Saia daqui, Takayama, se não tem mais nada a fazer. - Ele falou com desdém. - Só volte quando tiver a verdadeira, é vergonhoso para mim permanecer na presença de um youkai tão incompetente.

O falcão franziu o rosto em uma expressão distorcida pela raiva. Impulsivamente, ele sacou a espada, apontando-a para o daiyoukai. Sesshomaru fixou seus olhos na lâmina, não acreditando que suas provocações haviam surtido efeito e que finalmente o covarde o enfrentaria em combate direto. Mesmo naquelas condições desfavoráveis, Sesshomaru o destruiria nem que o despedaçasse com os dentes como havia feito com tantos de seus soldados no corredor do castelo. Já quase podia sentir o gosto do sangue em sua boca que salivava por um confronto.

Para seu desapontamento, o homem pareceu recobrar o bom-senso ao analisar o olhar assassino do prisioneiro, voltando a guardar a espada. Com um aceno de cabeça impaciente, ele chamou os companheiros a se retirarem. A suposta Rin levantou do chão, e logo se revelou apenas um kitsune, seguindo seu mestre até a saída, junto aos outros.

Sesshomaru fechou os olhos em frustração ao se ver só mais uma vez. E pensar que chegara ao nível de decadência de ser enganado por ilusão de raposa! Mal podia esperar para ter seu nariz de volta.

xXx

Rin arfou, os olhos fechados com toda a força que conseguia, lágrimas abundantes escorrendo pelos cantos. Apesar do frio, ela suava, os dentes apertados com afinco contra o tecido de seu antes elegante quimono de inverno. Sentia os músculos de seu abdômen se contorcerem numa dor de tirar o fôlego, seu interior parecia estar sendo torcido como uma toalha molhada, a entrada entre suas pernas pulsava em uma tentativa de se expandir o suficiente para permitir a passagem de seu bebê.

Já faziam horas, e Rin ainda permanecia ali, tentando seguir os procedimentos conhecidos, respirando compassadamente, contando o tempo das contrações, tentando ter alguma ideia do que seu corpo estava tentando fazer além de torturá-la até que não conseguisse mais suportar. Ela tentava tocar a entrada com as pontas dos dedos, com dificuldade, devido ao obstáculo redondo que era sua barriga. Não conseguia alcançar mais do que as beiradas, de forma que lhe era impossível saber a magnitude de sua dilatação.

Estivera tão preocupada com Sesshomaru, mas agora se odiava por não ter pedido que pelo menos Kagome viesse com ela. Inuyasha podia dar conta do resto sozinho. Mas nunca imaginou que dentre todas oportunidades que o danado teve, seu filho escolheria nascer justo agora. Depois de todos os cuidadosos preparativos que fizeram para que seu parto fosse o mais confortável possível, tudo aquilo que apenas as mulheres da mais alta nobreza tinham direito, ela havia acabado ali, sozinha no meio da floresta, com um monte de quimonos e o cadáver de um dragão ali por perto. Sem mencionar a parte onde tinha um bocado de pano enfiado na boca por pavor de que algum inimigo a ouvisse gritar.

Deuses, ela queria gritar. Queria gritar até que seus pulmões se esgotassem. Queria Kagome, queria Sesshomaru! Mas não os tinha ali, de forma que quando a próxima contração chegou, ela apenas chorou mais, as cordas vocais vibrando sem emitir som algum. Reunindo suas forças, Rin empurrou, os pés plantados no chão, as mãos apertadas em punhos.

Voltou a respirar em ritmo constante quando passou, preparando-se para a próxima, contando o tempo com o tamborilar dos dedos. Estavam ficando mais frequentes, aquilo ia acabar em breve.

Com mais uma contração, ela empurrou novamente, e quase foi demais para a humana quando sentiu a cavidade entre as pernas finalmente se expandir, suas mãos voltando a sondar até sentirem os primeiros fios de cabelo molhados tentando abrir passagem. Não conseguia acreditar que a dor ainda podia piorar, quase queria poder voltar atrás. Queria poder guardar o filho de volta dentro da barriga, cancelar aquele parto e seguir em frente grávida para todo o sempre.

Mas não podia, aquela criança tinha que sair, e tinha que sair rápido antes que Rin perdesse a sanidade.

Eu não quero mais fazer isso, eu não quero...

Mas os deuses eram indiferentes aos seus pedidos, pois mais uma onda de dor aguda excruciante voltou a atingi-la. E então ela empurrou mais uma vez, os dentes de alguma forma parecendo quase se quebrarem contra o pano quando ela sentiu mais uma porção da cabeça do bebê atravessar a passagem.

Com mais horas inacreditavelmente longas se passando, Rin não achava que podia encontrar forças para mais um empurrão, todo o seu corpo doía, todos os seus músculos protestavam. Estava com frio, estava cansada, estava com medo. Mas sabia também que faltava pouco e que, quanto mais adiasse, pior seria. Seus braços esticados levaram os dedos novamente entre as pernas, analisando seu progresso apenas para reafirmar a si mesma que estava quase terminando. Ela tateou a cabeça do bebê, até o início dos ombros. Se pudesse dar o seu melhor daquela vez, seria a última. Só precisava ser corajosa, só precisava ser forte, só mais um pouco...

E, com um último movimento de pressão descomunal, o restante do corpo da criança veio ao mundo todo de uma única vez, a extensão mais esbelta passando facilmente após a cabeça ter aberto caminho. Rin quase ponderou deitar-se e fingir-se de morta por pelo menos algumas horas, mas seus instintos eram felizmente mais responsáveis do que ela, de forma que rapidamente tratou de se erguer o suficiente para recolher a criaturinha que havia acabado de expelir, embrulhando o corpo viscoso no quimono que estivera agarrando aquele tempo todo. Cuidadosamente, ela limpou os resquícios de líquido uterino o melhor que podia, revelando a pele branca translúcida por baixo, as minúsculas veias azuis e roxas visíveis sob a fina cobertura. Ela olhou o resultado de seu esforço, sentindo mais lágrimas caírem de seus olhos ao vê-lo.

Tudo havia valido a pena. Faria tudo de novo, agora mesmo, se precisasse, apenas para ver aquelas mãozinhas enrugadas fechadas em punhos com dedinhos impossivelmente pequenos.

Então Rin arfou, os olhos se arregalando. Por tantas horas seu maior objetivo havia sido manter silêncio, que nem ao menos estranhara o fato da criança não ter chorado. Rapidamente, com preocupação em suas feições, ela examinou melhor o bebê, suspirando em alívio quando as mãos e pernas se mexeram ao serem incomodados pela mãe. A boca se abriu, um bocejo se formando com uma língua rosada para fora. A humana sorriu, aninhando seu bebê e finalmente se permitindo conhecê-lo.

Ele estava bem. Era apenas filho demais do pai para ficar choramingando.

xXx

Sesshomaru rangeu os dentes. Não havia imaginado que apenas perder sua energia sinistra afetaria tanto sua percepção de dor, mas descobrira do jeito mais difícil que afetava, e muito. Mas apesar disso, ele prosseguiu, as garras continuando a cavarem sobre a pele e carne do pulso oposto, em um processo lento. Se tivesse seus poderes, poderia cortar músculos e ossos com um só movimento, mas, aparentemente, a força que conseguia aplicar agora só fazia de suas garras um pouco melhores do que uma pequena faca. Ainda assim, ele prosseguiu.

Apesar de ter desafiado Takayama a encontrar Rin como uma provocação, na vã esperança de que ele cedesse à raiva e chegasse perto o suficiente para que Sesshomaru pudesse destruí-lo, o inuyoukai não conseguia conter sua preocupação com a possibilidade de que ela fosse realmente encontrada. Esforçava-se para manter-se minimamente são com o pensamento de que se não a haviam encontrado ainda, era porque haviam perdido seu rastro. Rin agora seria uma agulha no palheiro para eles.

Mas, independentemente disso, ela devia estar perdida e assustada, e na condição dela... O youkai apressou o passo, as garras serrando freneticamente entre os ligamentos de seu pulso. Só precisava se livrar daquelas correntes e estaria livre para ir até ela e garantir que estivesse a salvo, mesmo que precisasse perder algumas partes de seu corpo para isso. Não seria a primeira vez, e Rin era infinitamente mais importante do que sua integridade.

Sesshomaru pausou seu trabalho ao sentir as estruturas de sustentação da parede e do piso tremerem, ouvindo um estrondo poderoso de algum lugar lá fora. Ele aguardou em silêncio, tentando ouvir mais alguma coisa, sentir algum cheiro, qualquer coisa. Rosnando em impaciência, se aquietou, resignado com a sua incapacidade de obter informações. Repentinamente, a parede oposta se arrebentou com mais um barulhento estrondo, lascas de madeira se espalhando pelo cômodo.

Sesshomaru observou os invasores, reconhecendo as figuras de seu meio-irmão e a esposa entrando apressadamente no cômodo.

- Sesshomaru, achamos você! - Kagome declarou o óbvio quando o alcançou.

- E Rin? - Perguntou imediatamente, enquanto a sacerdotisa analisava suas condições e pensava em como tirá-lo dali. Ela o encarou com olhos azuis apreensivos.

- Ela fugiu. Nos pediu para procurarmos por você.

As próximas palavras de Sesshomaru saíram com cautela e uma boa dose de ameaça velada.

- E quem foi com ela?

- Aquele seu dragão. - Inuyasha respondeu, cortando a hostilidade do irmão com sua mulher. - E nem me olhe com essa cara. Aposto que ele faz um trabalho melhor protegendo-a do que você.

- Inuyasha! - Kagome sibilou, revirando os olhos. Nem em uma situação delicada como aquela ele conseguia se comportar. - Pare com isso, me ajude a soltá-lo. Estou preocupada com a Rin.

- Há, olha a sua situação! - O hanyou zombou, passando à frente para atender o pedido de Kagome. - O que aconteceu com você, afinal de contas?

Sesshomaru se recusou a responder, olhando o meio-youkai com impaciência enquanto este rompia as simples correntes com um puxão. O daiyoukai esticou os braços, analisando brevemente o corte parcial no pulso e o sangue que escorria até seu cotovelo.

- O que diabos você estava fazendo? - Inuyasha perguntou, vendo a ferida obviamente auto-infligida.

- Resolvendo meus assuntos. - Disse, simplesmente. - Vamos, temos que encontrar Rin.

- Mas e essa rede ao seu redor? - Kagome perguntou inocentemente, chamando a atenção dos dois irmãos que a encaravam como se não fizessem ideia do que ela estava falando. Ela andou até o cunhado, estendendo um dedo indicador para apontar a película brilhante que via ao seu redor. - Não estão vendo? Tem algum tipo de barreira o contendo, e a energia sinistra...

- Consegue removê-la? - Sesshomaru questionou, impaciente para ter suas habilidades de volta, se fosse esse o obstáculo que o impedia de acessá-las.

A miko deu de ombros.

- Vamos tentar. - Ela disse, entregando o arco para Inuyasha para que pudesse usar ambas as mãos e tentar puxar a rede de cima de Sesshomaru. Mas, no instante em que suas palmas fizeram contato com a magia, ela simplesmente se dissolveu em uma leve luz pura cor-de-rosa, sobressaltando-a.

Sesshomaru sentiu o peso ser tirado de seus ombros com um alívio imensurável. A uma velocidade equiparável a uma represa que se rompe, sua energia sinistra o inundou novamente, fluindo tão fora de controle que quase escapava pelas bordas do recipiente que era seu corpo. Fechou os olhos e, quando os abriu de novo, podia ver com clareza na escuridão da noite.

Mas, mais importante do que tudo, podia distinguir perfeitamente cada cheiro ao seu redor. Ele respirou fundo, aproveitando a sensação ao máximo. Entretanto, detectou apenas resquícios antigos de Takayama. Além disso, só o cheiro de corpos mortos que Inuyasha provavelmente havia abatido em sua invasão.

- Vamos logo. - Ele chamou com urgência, se adiantando em sair daquele lugar.

- Ei! Como é que se diz, hein? - Kagome perguntou com indignação enquanto o seguia junto a Inuyasha, esperando algum tipo de agradecimento que nunca veio.

O senhor do Oeste se apressou pelos corredores em direção à saída, percebendo que se encontravam em uma casa abandonada em algum lugar da floresta. Não havia muito no local além de caixas guardando armas de batalha jogadas descuidadamente pelos cantos, sinais de que guerreiros se preparando para uma luta haviam se alojado ali. Mas uma arma em especial chamou sua atenção quando pôs os olhos nela.

Interrompendo sua fuga, ele parou, pegando a antiga espada em sua mão direita, analisando-a para ter certeza de que era ela mesmo. A certeza veio quando a sentiu pulsar em sua palma com sua aura azulada.

A Tenseiga.

Silenciosamente, ele a colocou de volta presa na armadura, ao lado da Bakusaiga, aonde pertencia. Havia deixado a bainha no castelo, mas não se incomodava com a falta dela agora. Aquela era a espada que havia trazido Rin para ele anos atrás, e isso lhe conferia um valor sentimental muito mais poderoso do que a lembrança do pai, mesmo que fosse verdadeiramente inútil como arma propriamente dita.

E era até Rin que ele precisava ir naquele momento, portanto não perdeu mais tempo após sua reunião inesperada com o artefato perdido - ou roubado, pelo que parecia -, acenando com o queixo para que os dois companheiros o seguissem.

O trio prosseguiu em frente até a saída, o frio do inverno recebendo-os quando enfim alcançaram o ar livre.

- Agora, para onde? - Kagome perguntou, esperando do fundo de seu ser que um dos dois tivesse uma resposta.

- A pirralha foi pelo ar. - Inuyasha respondeu para o seu desapontamento. - Não tem rastro claro para seguir.

- Eu me esqueço o quão inútil é seu nariz, Inuyasha. - Sesshomaru comentou, sem se importar com o fato de o seu próprio também tê-lo sido apenas momentos atrás. - Posso senti-la daqui.

- O quê? Ela está tão perto assim?

- Não. Bastante longe, na verdade. - Ele respondeu, agarrando-se àquele traço sutil de Rin com toda a sua atenção. - Vamos.

O hanyou cruzou os braços com a resposta, virando a cabeça para o lado.

- Hunf. Exibido.

xXx

Rin abriu os olhos, percebendo que os havia fechado por vários minutos de novo, não importando o quanto tentasse manter-se acordada. Observou o bebê em seu colo, como que para se certificar de que ainda estava ali após seu cochilo descuidado. A criança dormia tranquilamente, sem uma preocupação sequer em sua mente inocente. Rin a invejava.

Como se tivesse pegado a deixa, o bebê abriu os olhos dourados para a mãe, uma pequena voz em soluços baixos e suaves começando no fundo de sua garganta, como se finalmente fosse começar a chorar. Rin apressadamente o ajeitou no colo, murmurando sons de conforto perto de seu ouvido para impedi-lo de fazer um escândalo como já vira muitos bebês fazerem.

Ela gentilmente tentou postar um dedo na frente dos lábios abertos, procurando abafar qualquer som. Mas, para sua surpresa, o recém-nascido apenas tentou sugar seu dígito, deixando que ela soubesse qual era o incômodo. Havia tentado amamentá-lo logo que nasceu, mas o bebê havia recusado veemente o peito, e Rin logo desistiu de tentar convencê-lo.

Pronta para mais uma tentativa, a humana afastou a abertura da yukata, liberando um pesado seio preenchido por leite para a satisfação da pequena criatura que rapidamente encontrou um mamilo para fechar os lábios ao redor, os sons sutis de sucção preenchendo os ouvidos eufóricos de Rin em seguida. Ela sorriu, com mais lágrimas em seus olhos, ao observar o pequeno ser se alimentando tão vigorosamente. Estivera preocupada antes. Aparentemente, sem motivos. Pelo que podia ver, ter participado da criação de tantas crianças não a ajudara em nada a não ser uma mãe de primeira viagem completamente desorientada.

Apenas quando o bebê terminou de mamar e os sons cessaram, é que Rin pôde prestar atenção em outros sons que não estavam lá antes. Sons que não deviam, não podiam estar lá.

Mas estavam.

Ela ajeitou as roupas, apertando o embrulho com a cria contra o peito enquanto se encolhia, atenta a qualquer movimento nas redondezas. O som de passos e ranger de galhos continuou, ficando cada vez mais próximo, cada vez mais depressa, até que três figuras apareceram em sua visão.

E Rin respirou fundo, aliviada e impossivelmente feliz ao ver Inuyasha, Kagome e Sesshomaru ali.

- Rin! - O casal amigo falou em uníssono ao ver a humana finalmente, os dois rapidamente se apressando até o lado dela.

A humana, por outro lado, mantinha seus olhos fixados na silhueta extra que aparecia entre as árvores, os olhos amarelos e as inconfundíveis duas cabeças de Ah-Un a olhando de volta. Ela abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo ali, mas seus olhos se desviaram automaticamente para o daiyoukai ainda parado no lugar, com uma expressão indecifrável. Presa em sua cintura, estava a Tenseiga.

- Senhor Sesshomaru... - Ela sussurrou, as lágrimas agora caindo livremente de seus olhos. - O senhor veio.

Os olhos dele, por outro lado, estavam presos no quimono embolado que ela apertava contra o peito.

- Isso é...

- Sua filha. - Ela completou com um sorriso emocionado, percebendo a expressão incrédula do marido, como se a última coisa que ele esperasse que fosse sair de dentro daquela barriga enorme que ela carregara fosse um bebê. Apoiando o embrulho em um só braço, ela estendeu a outra mão até ele. - Venha, venha vê-la.

Hesitantemente, ele caminhou o restante da distância que os separava, sentando-se ao chão ao lado de seu futon improvisado. Kagome e Inuyasha se afastaram brevemente, dando espaço ao casal.

Rin riu de como ele continuava a olhá-la como se tivesse três cabeças de repente. Mas tentou lembrar-se de que ele não havia passado por horas de tortura para se acostumar com a ideia de que a criança estava chegando, como ela havia.

Levantou um pouco o embrulho para que ele pudesse ver sob um ângulo melhor, e Sesshomaru inconscientemente inclinou seu tronco para frente, tentando ver mais de perto o pequeno rosto que se mostrava por entre os tecidos.

Sua filha, como Rin havia dito, o olhou de volta com brilhantes olhos dourados e, embora a cor fosse uma cópia exata dos seus, o formato adorável e cativante era claramente herdado da mãe, assim como os finos cabelos negros que cobriam sua cabeça e se estendiam até as pequenas orelhas triangulares que agora estavam erguidas em atenção. Mas, como prova definitiva de sua linhagem, a menina exibia orgulhosamente a marca da meia-lua no centro da testa.

Estava tão encantado, tão hipnotizado, que poderia ter ficado horas ali analisando cada detalhe daquela inédita criatura, até que a voz alegre de Rin voltou a chamá-lo para a realidade:

- O senhor quer segurá-la?

Ele a encarou como se ela de repente tivesse começado a falar alguma língua estrangeira que ele desconhecesse. Rin quase podia rir da comicidade de seu olhar, como se o grande senhor das terras do Oeste jamais fosse se rebaixar a segurar um recém-nascido nos braços. Mas apenas o olhar de divertimento de sua humana o convenceu a aceitar o desafio, e ele assentiu prontamente, como se tudo estivesse perfeitamente sob seu impecável controle.

Cuidadosamente, Rin passou o emaranhado de tecidos ao parceiro que, igualmente cuidadoso mas consideravelmente mais desajeitado, estendeu um braço para pegá-lo.

Com aquela cena, ambas Rin e Kagome riram, sem conseguirem evitar, ao verem o grande youkai tentar equilibrar o corpo molengo da criança em uma posição que se assemelhasse minimamente a que Rin havia mostrado anteriormente.

- Parece que há uma coisa que o senhor não faz com absoluta perfeição, senhor Sesshomaru. - Rin provocou, ainda risonha.

- Como dizia? - Ele rebateu, ao conseguir copiar exatamente a postura impecável de Rin quando segurava a filha. A criança, que já estava começando a se irritar com as posições desconfortáveis, imediatamente se aquietou no colo do pai pela primeira vez.

- Tenho que parar de subestimá-lo. - Rin murmurou em derrota, embora ainda sorrisse com a cena adorável ao vê-lo mais uma vez observando o rosto da filha.

Ao tentar movê-la para o braço oposto, ele percebeu que havia algo pendurado, escapando do embrulho. Afastando os tecidos que a cobriam, pôde finalmente ver com clareza o cordão umbilical ainda conectado à placenta, embora notasse que havia um laço feito com um pedaço rasgado de seda atado bem apertado, bem próximo ao que seria o umbigo da criança.

- Eu não consegui cortá-lo ainda. É resistente demais e eu não tenho nada para...

Silenciosamente, ele ergueu uma de suas garras em direção ao cordão, hesitando por um momento para dar tempo de alguma das duas mulheres presentes impedi-lo se estivesse fazendo algo errado. Como ninguém se pronunciou, ele foi em frente e rompeu a conexão logo depois do nó que Rin havia feito, voltando a enrolar a recém-nascida no quimono da mãe da melhor maneira que conseguia.

Sesshomaru podia sentir o calor do pequeno corpo em seus braços, farejando a inacreditável mistura dos cheiros de ambos Rin e ele que ela exalava. A pequena parecia fazer o mesmo, o nariz se movendo enquanto ela parecia tentar erguer a cabeça para senti-lo melhor. Ajudando-a com o processo de reconhecimento, ele levou um dedo perto do rosto dela, surpreendendo-se quando ela mudou de ideia e preferiu simplesmente segurar o dígito com sua mão inteira, apertando-o com uma força perceptível.

- Você pensou em um nome para ela? - Ele perguntou, quase como se não estivesse falando com a esposa, já que seus olhos não se desviavam dos igualmente dourados que o fitavam de volta com atenção.

- Na verdade, sim. - Rin admitiu, sentindo-se impulsiva por ter decidido meio que por conta própria. Mas havia feito o trabalho quase todo por conta própria, e tinha sido muito mais difícil tirar aquela criança de dentro dela do que botar havia sido, então era justo. - Miyuki.

Sesshomaru finalmente ergueu a cabeça para olhá-la, absorvendo aquela nova informação. Ele assentiu em aprovação.

- O silêncio da neve profunda.

- Sim. - Ela concordou, sorrindo docemente com a ideia. - Ela foi tão quietinha, quase nem parecia que estava aqui. Provavelmente seu primeiro ato para salvar ambas as nossas vidas. Tive medo que alguém pudesse nos ouvir.

A lembrança obscura do medo de Rin trouxe à tona novamente o clima tenso que enfrentavam originalmente. Era fácil esquecer de tudo o que havia acontecido quando tinham a bênção que era a pequena Miyuki ali. Ele observou a parceira, analisando seu estado desajustado. Os cabelos desalinhados, os quimonos arruinados, o olhar exausto por trás de sua alegria.

- Rin, o que aconteceu? - Ele perguntou, preocupado com os eventos que poderiam ter se passado em sua ausência, e também os que certamente haviam se passado. Os outros dois presentes estavam igualmente interessados.

Rin suspirou pesadamente, apoiando as costas contra o tronco da árvore. Calmamente, ela procurou narrar os acontecimentos desde sua fuga do Oeste, passando pela queda de Ah-Un e seu dolorosamente longo trabalho de parto em seguida. A luz da manhã começava a espreitar no céu nublado quando ela concluía a história e Sesshhomaru permanecia calado, sentindo-se extremamente culpado por não ter conseguido estar ao lado dela em um momento como aquele, nem que fosse apenas para afugentar seu medo dos inimigos.

- Rin, não acredito que você teve que fazer tudo isso sozinha! Meu Deus! - Kagome lamentou, finalmente se pronunciando. - Eu me sinto completamente inútil agora.

A senhora das terras do Oeste apenas riu, embora houvesse um tom pesaroso que era facilmente percebido em sua voz normalmente alegre.

- Eu devo ter implorado pelo seu nome mais do que qualquer outro que eu já tenha chamado na vida. - Disse ela, lembrando-se de como havia desejado que a miko tivesse estado ali. - Mas não é sua culpa, fui eu quem pediu que fossem procurar o senhor Sesshomaru.

Kagome assentiu, hesitante. De qualquer forma, ainda havia algum trabalho para ela afinal, detalhes com os quais Rin não conseguia lidar por conta própria, como as limpezas finais. Ela voltou seus olhos até o silencioso daiyoukai, ansiosa.

- Eu posso vê-la? - Perguntou em uma voz cautelosa, percebendo a forma protetora como ele segurava a recém-nascida.

Sesshomaru a encarou com frios olhos dourados, ponderando simplesmente fingir que não havia escutado o pedido. Mas, deixando os instintos de lado e ouvindo seu lado racional, ele cuidadosamente passou o embrulho para as mãos animadas da sacerdotisa.

Kagome aninhou a pequena meio-youkai em seu colo, observando com admiração as feições claras de ambos Sesshomaru e Rin estampadas no rosto infantil.

- Ela é linda, Rin. - Sussurrou, emocionada, sorrindo para a mãe que lhe sorriu de volta em concordância.

Inuyasha curiosamente deu uma olhadela por cima do ombro de sua humana, experimentalmente farejando-a com discrição, reconhecendo facilmente o traço do sangue familiar que corria em suas próprias veias e também nas de seu meio-irmão. A menina moveu as orelhinhas felpudas ao olhar de volta os dois novos rostos que acabara de conhecer, e Inuyasha se encontrou pateticamente sorrindo com o gesto.

- Sorte que ela parece com a Rin. - Ele comentou, em uma tentativa de provocar o irmão, mas Sesshomaru apenas assentiu.

Era mesmo sua grande sorte, pois Rin não lhe duraria muito tempo, mas suas belas e inesquecíveis feições seguiriam em frente na aparência de sua prole.

Miyuki se aconchegou no colo da tia, os olhos dourados parecendo cansados de todas aquelas apresentações, começando a se fecharem. Em perfeita sincronia, Rin deixou um bocejo escapar, sentindo suas próprias pálpebras pesadas.

Sempre atento às necessidades de sua parceira, o daiyoukai pôs-se de pé por fim. Delicadamente, ele levantou Rin do chão, deixando que ela deitasse confortavelmente em seus braços.

- Vamos para casa.

Rin reprimiu o impulso de questionar em que condições sua casa estaria naquele momento, sentindo-se cansada demais para mais novidades. Em vez disso, ela voltou a olhar para Kagome, pretendendo obter de volta a preciosa criatura que a miko ainda segurava.

- Deixe o filhote com a sacerdotisa, por enquanto. - Sesshomaru sugeriu, completando a explicação quando Rin ameaçou protestar. - Estão seguras agora. Apenas durma.

Aquela oferta era tentadora demais para que Rin resistisse, com o calor mais do que bem-vindo de Sesshomaru a envolvendo. Com um último olhar para o rosto perfeito de seu senhor, a exausta humana adormeceu, ao mesmo tempo que o sol despertava para saudar o grupo.


Notas Finais


[EDIT]
Fanart do capítulo atualizada: https://c1.staticflickr.com/5/4197/35305042976_307f14f148_b.jpg

MEU DEUS COMO EU TO FELIZZZ DE POSTAR ISSO AAAAAAA. Espero que todos tenham aguentado ler até aqui, sei que forcei um pouco a barra com o tamanho mas não consegui cortar de jeito nenhum esse primeiro encontro do Sessh com a filhotinha meu deus eu vou morrer de fofurice! *O* *O* *O*
Mas que sufoco que a Rin passou hein. Sessh também não teve lá uma experiência muito agradável. Sorte nossa que nossos heróis do anime original estavam lá para salvar o dia como sempre. E agora temos uma família feliz de novo.
Mas será que a treta toda vai ficar por isso mesmo? Hmmm...

Agora deixem eu ir lá estudar pras minhas provas, senão o negócio vai ficar feio é pra mim. rs

Espero que tenham gostado. Mais uma vez, não faço previsões sobre meu retorno aqui, mas vocês sabem que eu nunca abandonarei meus leitores maravilhosos :3
Beijos!


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