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História Unintended - Acerto de Contas


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá a todos, bem-vindos de volta!
E lá venho eu de novo com as minhas desculpas, já sabem né.
Enfim, peço desculpas por ter feito alarde sobre minhas férias e no fim das contas ter escrito vários nada nesse meio tempo. Eu me enrolei com meu enredo, achei que tinha algumas coisas definidas pra história e depois descobri que eu simplesmente não queria mais fazer e não tinha ideia de pra onde ir a partir dali. Isso minou totalmente a minha inspiração e escrever o capítulo deixou de ser uma parada super divertida que eu tava ansiosa pra fazer nas férias e passou a ser uma parada trabalhosa que ia exigir um monte de raciocínio e concentração, que era a última coisa que eu queria fazer depois de um período puxadíssimo de estudos na faculdade (o mais intenso de todos até agora).
Felizmente, eu relaxei bastante, dormi muito, voltei a jogar o falecido Pokemon Go e me diverti horrores, passei em todas as matérias, e agora que minhas aulas voltaram meu foco está de volta também e eu me encontrei na história, amém!

Mil desculpas por ter deixado vocês esperando.
Agora, o capítulo, finalmente.

Capítulo 40 - Acerto de Contas


O velho youkai saltou das costas da montaria, seus pés descalços pisando sobre a neve enquanto ele analisava a situação à sua frente. O polegar e o indicador puxavam sua barbicha em um gesto inconsciente, os olhos enormes passando repetidamente do daiyoukai para a jovem humana.

- Ora, é para isso que a Tenseiga me chamou aqui? - Ele reclamou, insatisfeito.

Sesshomaru encarou a bainha negra em sua cintura, estreitando os olhos para a lâmina guardada dentro dela. Aquela espada intrometida, sempre querendo interferir em suas decisões. Agora chegara ao ponto de invocar Totosai até ali, e o general inu apenas queria terminar logo com aquela maldita batalha.

- Tente criar espadas menos expressivas da próxima vez. - Ele sugeriu, segurando o cabo da arma mencionada que começava a vibrar em contrapartida.

- Bom, não se pode esperar que lâminas poderosas não tenham uma personalidade forte. - Justificou o ferreiro, dando de ombros, antes de voltar-se à humana que permanecia parada ao lado do daiyoukai. - Então essa garota agora tem a posse da Meidou Seki? Uma humana?

Rin ergueu uma sobrancelha, pendendo a cabeça para o lado.

- Bem, eu não esperava mesmo que o senhor me reconhecesse. - Rin justificou. - Afinal, fazem uns cinco anos desde que foi ao vilarejo entregar a arma de Kohaku.

Com aquele lembrete, os olhos de Totosai ficaram impossivelmente maiores, a boca desdentada se escancarando em choque.

- Ah, é mesmo! Você é aquela menina! - Lembrou, voltando-se para Sesshomaru em seguida. - E aparentemente, a nova senhora do Oeste, pelo o que a Tenseiga está tentando dizer...

- E no que esse assunto te diz respeito? Você nem deveria estar aqui, e Rin muito menos. - Rebateu, impaciente. Aquela discussão toda já se prolongara demais, e ele não tinha tempo para reuniões de velhos companheiros e ainda menos para ficar se justificando sobre sua escolha de cônjuge.

O velho voltou a colocar a mão no queixo, parecendo prestar atenção em algo, antes de falar:

- Ah, estou vendo. Então você quer manter a mestra da Meidou Seki fora dessa batalha e usar apenas a Bakusaiga. Típico de arrogantes como você.

Todos os olhares se voltaram para o idoso com aquelas palavras, tanto pelas palavras desrespeitosas proferidas contra o líder, quanto pela afirmação exagerada quanto à habilidade de Rin. Sesshomaru reprimiu o impulso de revirar os olhos.

Não se tratava de arrogância, apesar de ele não ter pretensão alguma de negar aquela característica específica como um de seus traços mais marcantes. Mas ele sabia bem que Rin estava longe de dominar por completo os poderes daquela pedra e, mesmo que ela tivesse perfeitas habilidades, essa seria sua última preocupação. Ele simplesmente não a queria em um campo de batalhas, e fim da história. Mesmo que fosse a guerreira mais habilidosa de todos os tempos.

- E você sabe por que a humana não tem total domínio sobre a Meidou Seki, Sesshomaru? - Totosai continuou, ignorando o fato de que Sesshomaru realmente não se importava com o porquê no momento, contanto que pudesse manter Rin em um lugar seguro logo. - Porque o mestre da Tenseiga, além de se recusar a reconhecer o poder da própria espada, ainda se recusa a reconhecer a própria fêmea que ele mesmo escolheu!

Era a voz de Totosai quem falava em alto e bom som no acampamento, mas era a vibração de Tenseiga que Sesshomaru ouvia ressoar em seus ouvidos com os mesmos protestos e acusações. O inu franziu o cenho, ignorando o público ao seu redor e focando-se na insolência de sua própria lâmina. Aquela espada estúpida não entendia. Será que depois de acompanhar sua jornada até ali, a Tenseiga ainda não compreendia que a vida de Rin havia se tornado o centro de todo o seu propósito? Uma vez que isso estivesse perdido, nada mais teria valido a pena. Deixar que Rin se arriscasse em uma batalha de verdade, uma batalha onde ela era um dos alvos principais, apenas para mostrar que confiava em uma habilidade que ela sequer possuía totalmente, estava fora de questão.

Você não entende, Tenseiga?

- Rin não tem controle sobre o objeto. Minha opinião não vai mudar isso. - Ele argumentou.

Tousousai fechou os olhos, massageando a testa enrugada como quem tenta conter uma repentina dor de cabeça.

- Você é idiota, Sesshomaru? - Ele perguntou com desdém, mas engoliu em seco ao receber um olhar duro e mortalmente impaciente do ouvinte. Mas, mesmo com a intimidação, reuniu coragem para prosseguir. - Você acha mesmo que a sua humana não tem um papel a desempenhar em tudo isso? Não aprendeu nada observando as pistas que seu pai lhe deixou ao longo do caminho?

A atenção de Sesshomaru estava dividida entre as palavras do ferreiro e a vibração inquieta da Tenseiga, de forma que ele começava a ter dificuldades em decidir em qual das duas coisas se focar. Mas as argumentações seguiam ininterruptas, obrigando-o a prestar o dobro de atenção.

- Seu pai lhe deixou a Tenseiga por um motivo, ele sabia que você precisaria dela. - Continuava a voz envelhecida do ancião, sobressaindo acima do ruído que a lâmina da ressurreição provocava em contrapartida. Aos poucos, Sesshomaru começava a perceber que as palavras de Totosai eram nada mais que um eco da voz mística da própria Tenseiga, aquelas eram informações que a Tenseiga queria que fossem ouvidas. - Você acredita que o papel da humana que você escolheu como Senhora do Oeste terminou na batalha contra Naraku alguns anos atrás? Que ela era apenas um artifício colocado em seu caminho só para que você pudesse aprender os sentimentos requisitados para dominar o Meidou Zangetsuha, para que pudesse transferir a habilidade de volta para a Tessaiga e, com isso, superar sua inveja e criar sua própria espada a partir de seu próprio poder?

O inuyoukai permaneceu quieto diante daquela linha de pensamento. Nunca antes havia parado para pensar no papel que Rin desempenhara em toda aquela sucessão de acontecimentos, em como no fim de tudo ela havia sido uma chave tão essencial para a aquisição de seu poder supremo atual, e não apenas o domínio do Meidou Zangetsuha. Mas Totosai estava certo em um aspecto. Se fosse apenas aquele o seu propósito, algo tão impecavelmente planejado pelas forças do destino ou o que quer que determinasse essas coisas, ela não deveria ter permanecido no cenário até o atual momento. Ele deveria tê-la deixado para trás há muito tempo, e muitas vezes realmente ponderara fazê-lo, mas por algum motivo se via incapaz de afastar-se.

- Pense, Sesshomaru. Sua mãe fez tudo o que pôde para garantir que a Meidou Seki fosse entregue à sua humana em específico. Você acha que ela fez isso para que a pedra ficasse guardada na segurança do castelo enquanto você luta uma grande batalha por conta própria?

- Não... - Foi Rin quem respondeu à pergunta, em uma voz baixa e pensativa. - Ela disse que apenas eu seria capaz de controlá-la.

- O seu inimigo tem posse de uma relíquia do submundo e você precisa destruí-la. - Instruiu Totosai, com seriedade em seu tom. - Mas você possui apenas uma das relíquias também...

- Serão necessárias ambas. - Rin interrompeu mais uma vez, compreensão começando a atingir suas feições enquanto ela inconscientemente segurava seu pesado pingente em uma das mãos. - A Tenseiga e a Meidou Seki, juntas...

A humana observou cuidadosamente o rosto de seu senhor, sentindo-se aliviada em vê-lo olhar de volta para ela com uma expressão que parecia lentamente dissolver-se na mesma compreensão que ela alcançara. Ele finalmente havia entendido a importância de estarem unidos naquele confronto, e talvez fosse exatamente essa união que Takayama não tivesse sido capaz de prever ao articular seus planos. Entretanto, isso levantava mais questionamentos na mente confusa da senhora do Oeste.

- Mas Hayashi me disse que ele vinha impedindo que Takayama conseguisse tirar qualquer proveito desse tal artefato. - Ela colocou suas dúvidas em palavras, esperando obter mais informações. - Se for esse o caso, por que é tão vital que nós tenhamos que destruí-lo?

A vibração da Tenseiga retomou sua intensidade, e logo Totosai estava traduzindo a resposta com clareza impecável:

- Vocês estão prestes a lutar uma grande batalha. - Seu dedo magro se ergueu, apontando na direção do penhasco e da planície além, para a concentração inimiga. - Se eu conheço bem o Sesshomaru, em breve todos aqueles infelizes farão uma viagem sem volta para o mundo dos mortos. Me parece que seu amigo Hayashi estará lidando com muito mais gente do lado inimigo por lá. Será que ele vai ser capaz de conter a influência de Takayama nessas circunstâncias?

A imagem pintada pelas palavras de Totosai imediatamente se formou para o par. Uma guerra secundária, sendo travada no mundo dos mortos. Cada vida perdida do lado de cá do plano seria uma adição ao lado de lá. Uma situação delicada, onde um pequeno desequilíbrio poderia desencadear no vazamento de informações vitais para o inimigo. Um pequeno desequilíbrio poderia significar a diferença entre vitória e derrota.

- Por favor, escute-o. - Rin pediu mais uma vez, apoiando uma mão sobre o braço do parceiro. - Só dessa vez, senhor Sesshomaru.

O daiyoukai a olhou nos olhos, divido entre a força impulsiva e incontrolável de seu instinto protetor, e a razão por trás de toda a discussão que se estendera por todo aquele tempo. Ele cerrou a mandíbula, frustrado com a estrada bipartida à sua frente, com a forma confusa que circunstâncias pareciam se desenrolar. Depois de tudo o que acontecera durante a jornada para derrotar Naraku, ele havia jurado a si mesmo evitar envolver Rin em qualquer situação perigosa novamente. Pelo o que parecia, essa era mais uma daquelas vezes em que ele simplesmente não tinha escolha a não ser continuar a tentar protegê-la em meio às adversidades.

Sem a influência de Rin em sua vida, ele não teria hoje a formidável Bakusaiga, a compilação de todo o seu poder na forma destrutiva de uma arma de guerra. E, sem a influência dele na vida dela, Rin tampouco seria capaz de desvendar os mistérios da Meidou Seki. E talvez fosse aquele o ponto central de tudo isso, eles precisavam um do outro para alcançar o potencial máximo ao qual estavam destinados. E, quando havia sido o próprio Hayashi a arquitetar todo essa confusão em primeiro lugar, era difícil de duvidar que o desfecho seria o mais benéfico possível.

Sesshomaru tomou um longo fôlego, sentindo o calor da mão de Rin sobre seu braço aquecê-lo por cima da manga de seu quimono. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa para encerrar de uma vez aquele impasse, no entanto, um gentil floco de neve pousando sobre seu nariz desviou sua atenção do rosto de Rin para o céu ensolarado.

Ele franziu o cenho, não estando esperando mais uma queda de neve àquela altura da estação, em um dia especialmente ameno. Por outro lado, a temperatura realmente parecia estar caindo drasticamente de repente...

Assim que as peças se encaixaram em sua mente, Sesshomaru puxou Rin para perto de si, bem a tempo de notar os primeiros homens no círculo que os cercava começarem a congelar dos pés à cabeça bem em sua frente. O ataque foi tão silencioso que os menos atentos não o perceberam até que já fosse tarde.

- O-o que é isso? - Rin perguntou, apavorada, ao ver que Sesshomaru sacava a espada ao seu lado. Ela estremeceu com o frio repentino, a mão que o segurava se apertando com mais força em seu braço.

- Parece que nossa batalha começou mais cedo do que o previsto. - Ele respondeu com o tom mortalmente sério, os olhos afiados encarando a linha de estátuas de gelo à sua frente, e os nortenhos que começavam a avançar entre elas em sua direção. - E do lado errado.

De imediato, todo o acampamento se moveu, o som inconfundível de armas sendo empunhadas e a respiração tensa de soldados que se preparavam para um confronto se misturavam ao ar gelado da atmosfera. Um dos guerreiros de gelo pisou à frente, um pergaminho se desenrolando em sua mão. A mensagem escrita não era perfeitamente visível à distância, mas não era necessário ler para saber o conteúdo. Tsugaru, o senhor do Norte, havia sido informado das reviravoltas no Oeste, no fim das contas. E pela retaliação repentina, não era difícil adivinhar o que o frio governante pensava da união de seu - agora não mais - aliado à uma mulher representante da inferior raça humana.

O youkai invernal tinha uma expressão ilegível ao encarar o general dos inuyoukai, mas suas intenções se clarificaram quando os olhos cor de gelo se voltaram à pequena hanyou deitada nos braços da humana sacerdotisa.

Sesshomaru moveu-se como um raio no segundo em que o oponente ameaçou avançar contra sua filha, mas antes que pudesse interferir, seu meio-irmão já se postava defensivamente em frente à parceira, a enorme lâmina da Tessaiga chocando-se contra o bastão feito de gelo e empurrando violentamente o atacante para trás.

Rin mal perdeu tempo com seu suspiro de alívio ao ver sua filha sair ilesa de um ataque tão direto e repentino. Seu coração ainda batia freneticamente em seu peito.

- Kagome! - Ela chamou com urgência, apressando a amiga a agir o mais rápido possível. Aquilo estava longe do que ela havia planejado. No momento em que a batalha começasse, Miyuki já deveria estar há muito tempo invisível e inalcançável sob a barreira de Kagome. E agora elas não tinham tempo para um arranjo ideal.

A miko assentiu, reunindo seu foco ao se dirigir ao marido:

- Inuyasha, me dê cobertura.

O hanyou concordou, deixando que Sesshomaru tomasse a frente da batalha enquanto ele focava em garantir que Kagome pudesse retirar o bebê de perto da confusão que se iniciava com o exército do Oeste avançando contra os inimigos.

Assim que Sesshomaru percebeu que a questão da segurança de Miyuki estava momentaneamente sob controle, sua postura defensiva voltou-se para Rin. A Guarda do Lírio a cercara rapidamente e é claro que a figura de Totosai desaparecera da cena no instante que o perigo se iniciara, mas o líder rapidamente tratou de tomar as rédeas da situação para si, embora fosse difícil, tanto para ele quanto para Rin, focar em qualquer coisa que não fosse o embrulho cuidadosamente protegido nos braços da sacerdotisa que habilidosamente se afastava da zona de ataque, desaparecendo por trás de uma rajada de Lanças de Diamante que cortava através do gelo e da carne igualmente gelada dos inimigos que se atreviam a persegui-la.

A neve mal caía sobre o chão e rapidamente se manchava de carmim com o sangue que se derramava livremente sobre o acampamento, membros congelados se desfaziam tão facilmente quanto delicados cristais, mas diante da ferocidade de espadas, mesmo a carne resistente de youkais tornava-se frágil, se espalhando em porções cada vez mais numerosas entre os pés dos que ainda batalhavam.

O Oeste mantinha sua posição, mas apesar de estarem inicialmente em maior número, o ataque surpresa havia visivelmente abalado as estratégias de combate previamente combinadas, a luta tornava-se caótica e imprevisível, e o líder via-se preso à tarefa primária de manter sua parceira fora de perigo. Os nortenhos estavam cientes de que enquanto eles se mantivessem o mais misturados possível aos soldados do Oeste, estariam a salvo da impiedosa e fatal Bakusaiga, visto que era uma arma de largo alcance, incapaz de diferenciar amigos de inimigos. Por outro lado, embrenhados entre os inuyoukais e os youkais das terras centrais, tornavam-se vulneráveis a ataques diretos.

Sesshomaru podia prever que aquele confronto inicial terminaria com um resultado vitorioso para o Oeste, mas claramente não sem um abalo significativo em sua força de ataque. Além de perder os números dos guerreiros do norte que mudaram de lado, havia ainda as baixas a considerar. Apesar da perspectiva negativa, ele prosseguiu, não tendo escolha a não ser eliminar a ameaça presente. Sua espada enfrentava diretamente o aparente líder dos youkais de gelo, que desviou com habilidade de seu golpe frontal e desvencilhou-se do atacante para passar por ele.

O general inu rapidamente moveu Rin para o lado oposto a fim de evitar que o oponente pudesse atingi-la, mas surpreendeu-se ao vê-lo simplesmente passar diretamente por ela também.

- Ele vai atrás da Kagome! - Rin observou com pavor, seus olhos arregalados em desespero.

Inuyasha interceptou a trajetória do youkai errante com um golpe pesado da Tessaiga que levantou uma nuvem de finos flocos de neve do chão com uma cratera violenta na terra abaixo. O youkai de gelo saltou por cima do golpe, prosseguindo em seu objetivo ao passar por mais um obstáculo.

- Direção errada. Esse imbecil. - O hanyou deu de ombros, erguendo o enorme canino do chão e colocando-o sobre o ombro em repouso por um instante. - De qualquer forma, Kagome já conseguiu erguer a barreira sagrada. A pirralhinha está segura.

Pela primeira vez, Rin permitiu-se relaxar, a tensão em seus ombros visivelmente se desfazendo, mesmo que a batalha sangrenta ao seu redor continuasse em progresso ativamente. Ela colocou uma mão sobre o peito, em uma tentativa de acalmar o coração palpitante.

- Tem certeza de que será o bastante? - A preocupação de Sesshomaru não se dissolveu tão facilmente.

- Por favor, estamos falando de youkais contra uma sacerdotisa do nível da Midoriko. - O meio-youkai afirmou, um certo tom de orgulho cuidadosamente escondido por trás de sua expressão arrogante usual. - Para derrotarem a Kagome, só se criassem uma outra Jóia de Quatro Almas.

A conversa foi forçadamente interrompida quando a batalha alcançou o trio. Inuyasha rapidamente engajou na luta, desaparecendo entre os guerreiros que seguiam em perseguição ao fugitivo do norte, determinado em capturar até a última presa. O grupo avançava na mesma direção, o incessante som de metal contra gelo acompanhando-o, até que, repentinamente, mudou para o característico choque de metal contra metal.

Sesshomaru voltou-se na direção da nova sinfonia, seus olhos atentos e seu nariz aguçado rapidamente captando a presença de novos combatentes na batalha. E, novamente, não estavam do seu lado.

- Como esses desgraçados chegaram tão rápido aqui em cima? - Ele rosnou, com a realização de que os recém-chegados eram nada menos que o exército de Takayama que aguardara esse tempo todo na planície abaixo, incapazes de vencer a diferença de nível no relevo com a facilidade necessária para iniciar um confronto.

- Meu senhor, tem uma enorme rampa de gelo na colina! - Algum de seus soldados o informou, enquanto recuava de um ataque frontal.

O daiyoukai sibiliou, envolvendo a cintura da humana ao seu lado esquerdo para mantê-la o mais perto possível. É claro, o capitão dos soldados do norte estivera claramente focado em um objetivo, e não se direcionava para Miyuki e sim para... A colina, a única coisa que os separava dos rivais.

- Eu suponho que Hayashi não tenha compartilhado com você as estratégias do inimigo. - Ele comentou, lançando um olhar rígido para a esposa.

Rin apenas negou com a cabeça, nervosa demais com toda a situação inesperada para encontrar sua voz presa na garganta seca.

- Imaginei. - Disse ele, lutando contra a vontade de abrir um portal para o Meidou ali mesmo apenas para ter a chance de esmurrar a cara do falecido amigo. De todas as informações úteis que ele podia ter dado, a única coisa que o idiota dissera fora para enfiar uma humana indefesa na batalha!

A interação de espadas que parecia tímida no início logo evoluía para violentas investidas à medida que as duas bandas rivais se misturavam em um caótico jogo de luzes, rosnados, mordidas e golpes que esbanjavam a pura brutalidade de youkais que haviam se reunido ali naquele local apenas com o propósito de matarem uns aos outros.

O corpo resistente de Sesshomaru funcionava como um perfeito escudo para sua protegida, e ela o fitou com uma admiração espantada enquanto ele começava a cortar os oponentes a uma velocidade surpreendente, avançando sem hesitar em golpes violentos, os pés se movendo quase que automaticamente como se pudessem prever exatamente onde precisariam estar para executar os ataques perfeitos. Rin arfava, fazendo seu melhor para acompanhá-lo.

Apesar da situação desesperadora de estar inserida em sua primeira batalha de verdade e, além disso, uma batalha que já havia começado completamente fora de seus planos ou dos planos de seu líder, a humana sentia-se estranhamente mais confiante do que o normal. Quanto mais perto estivesse de Sesshomaru, mais ela sentia a energia que ele emitia de alguma forma fluir através dela e envolvê-la, cedendo-lhe uma determinação e disposição que ela desconhecia.

À medida que os traidores de gelo eram brutalmente massacrados, a temperatura no campo de batalha voltava a subir gradualmente, a neve cessando por completo, deixando que o sol brilhasse como se pretendesse aquecer ainda mais o clima fervente entre os dois exércitos rivais que se enfrentavam com ferocidade sob seus raios luminosos.

De repente, uma sombra bloqueou a luz da estrela flamejante e, ao olhar para o céu, grandes asas se abriam com plumas cinzentas em tons que variavam do mais escuro ao mais claro. A envergadura era impressionante, ampla o suficiente para manter no alto a figura do youkai responsável por todo o derramar de sangue que se sucedia lá embaixo.

Sesshomaru encarou o inimigo, de certa forma admirando sua audácia de se exibir de forma tão exposta. Se Rin não estivesse de pé bem ao seu lado, em um único golpe ele teria dado um fim ao sorriso sarcástico na face daquele pássaro.

- Takayama, vejo que está ficando bastante confiante. – Sesshomaru comentou, enquanto Rin se encolhia mais ao seu lado. – E tolo.

- Preste atenção ao seu redor, Sesshomaru. – O outro respondeu, de fato deixando a confiança transbordar em seu tom de voz. – Você perdeu essa batalha antes mesmo do início.

O líder inu permitiu-se olhar de soslaio o cenário ao seu redor. Realmente, o ataque inesperado dos youkais de gelo havia cobrado um preço, tanto em seus números, quanto em sua organização e estratégia. E se, por um lado, a presença de Rin ali o atrapalhava tanto no desempenho da luta quanto da liderança, por outro, ele sentia-se estranhamente mais poderoso tendo-a por perto. A Tenseiga continuava a vibrar, mas daquela vez não era mais uma de suas reclamações. A espada da ressurreição reverberava com energia excedente, como se de alguma forma se fortalecesse na presença da Meidou Seki ao seu lado.

Fazia sentido, já que a pedra que Rin carregava mantinha uma conexão direta com o outro mundo, aquele que também empoderava o canino de seu pai. Enquanto ele ponderava as palavras de Takayama e a situação em que se encontrava, mais um de seus homens era abatido por um inimigo bem ao seu lado, o esguicho de sangue jorrando de sua garganta rompida forçando a humana a se afastar dois passos para o outro lado, onde mais alguém perdia a cabeça diante de um impressionante golpe direto. Dessa vez, um dos homens de Akizuki.

- Você esquece de levar uma coisa em consideração, pássaro. – Disse, a mão direita silenciosamente deslizando a Bakusaiga de volta em sua bainha e rapidamente trocando para puxar o cabo da espada ao lado dela. – Para derrotar um exército sob o meu comando, você tem que fazê-lo, no mínimo, duas vezes.

A Tenseiga brilhava com uma intensidade nunca antes vista, o nível do poder que ela emanava era inédito até mesmo para o seu mestre naquele momento. Na visão de Sesshomaru, a luz no campo de batalha diminuía consideravelmente, deixando em evidência apenas os cadáveres dispostos ao chão. Sobre cada um deles, havia uma série de emissários do outro mundo em busca das almas abandonadas nos corpos sem vida. Com um pouco mais de foco e um controle excepcional sobre um poder recém-adquirido, ele era capaz de distinguir facilmente aliados de inimigos, fazendo com que os focos de luz abrangessem apenas os corpos de seu interesse.

Por mais que detestasse admitir, até aquele dia ele havia sido incapaz de usar a habilidade suprema da Tenseiga, a habilidade contraposta à Ferida do Vento da Tessaiga. Antes de ter a Meidou Seki de Rin fornecendo-lhe o que parecia ser uma boa dose da compaixão de sua portadora, ele jamais teria sido capaz de fazer o que estava prestes a fazer naquele momento.

A Tenseiga brilhou, pueril, sobre toda a extensão manchada de sangue do terreno e, com um único golpe de seu poder máximo de cura, centenas de soldados se erguiam sobre seus pés novamente, apenas aqueles cuja lealdade pertencia ao general inu das terras do Oeste.

- Acho que você terá que recomeçar do zero agora. – Sesshomaru comentou com um sarcasmo superior ao youkai que ainda mantinha-se planando levemente no ar com o suave bater de suas enormes asas.

Uma vez que seus renovados homens retomavam a batalha, novos em folha enquanto o exército inimigo permanecia fragilizado, enfraquecido e cansado, Sesshomaru se viu finalmente livre para focar no seu alvo principal.

Takayama o encarou com os dentes trincados e ferozes olhos alaranjados. Aquela não era uma habilidade conhecida de Sesshomaru e, àquela altura, ele duvidava que houvesse qualquer poder que o inu daiyoukai pudesse ter mantido escondido. Seu espelho não havia lhe dito nada a respeito daquilo. E, por falar nisso, a presença da humana Rin ali também era uma variável nem sequer cogitada pelo falcão, e a expressão de choque no rosto dela deixava claro que nem mesmo ela estava ciente de que seu marido possuía aquele dom em particular.

Depois da emboscada arriscada no castelo, que quase terminara na captura e assassinato da mais recente senhora do oeste, era mesmo absurdamente irresponsável que Sesshomaru tivesse trazido-a com ele até ali. Mas bem, isso facilitava muito o seu plano. Os dois alvos em um só lugar. Incógnitas desconhecidas ou não, era uma chance imperdível para o takayoukai.

Determinado, ele avançou sobre o casal, o bater poderoso das asas causando uma rajada de vento sobre as cabeças dos homens que ele sobrevoava. Em um movimento absurdamente rápido, o senhor do oeste tinha de volta em punho a mortal Bakusaiga, a figura de Rin habilidosamente protegida atrás de suas costas.

Sem perder tempo, o daiyoukai atacou primeiro, a velocidade e força de seu golpe rasgando pelo ar na forma de violentos raios esverdeados. Mesmo com um tempo de resposta tão curto, Takayama escapou facilmente da mira, seu desvio habilidoso e gracioso como o de qualquer ave de rapina.

Os olhos atentos de Sesshomaru o seguiram, sua lâmina movendo-se no exato tempo necessário para bloquear a rajada de fagulhas energizadas que as asas do inimigo lançavam em sua direção em um só movimento. O daiyoukai ajustou sua postura, rapidamente notando que aquele não era o mesmo Takayama que enfrentara das outras vezes. Sesshomaru rapidamente fez a conexão, lembrando-se de que em todas as outras vezes em que estivera na presença do falcão e este lhe parecera extremamente patético e desajeitado, ambos estiveram confinados em ambientes fechados, com espaço limitado. Ali, em campo aberto, era mais do que claro que a situação mudava drasticamente. O takayoukai facilmente dominava os céus, sua velocidade e confiança evidentes pela facilidade com a qual se movia.

Sesshomaru ansiava em mostrar ao desgraçado que ele não era o único capaz de se mover com maestria pelo ar, mas a presença de sua fêmea mantinha sua prioridade fixa no chão. Rin observou por cima do ombro de seu senhor enquanto ele tentava mais um golpe à distância, dessa vez bem mais rápido e potente. Mesmo assim, os raios poderosos da Bakusaiga desapareceram no céu, enquanto o alvo escapava mais uma vez. Porém, o trajeto de fuga foi rapidamente interceptado por um fio luminoso ligado à mão livre do inuyoukai, o chicote venenoso envolvendo-se ao redor do calcanhar de Takayama e puxando-o para o chão com tamanha violência que o impacto do corpo contra a terra abriu uma generosa cratera, o som do golpe chamando a atenção dos outros combatentes que os cercavam.

O falcão não perdeu tempo ao sacar uma espada para se libertar, e tampouco o inu desperdiçou a oportunidade de pegá-lo agora que estavam em pé de igualdade. Sesshomaru rosnou, ansioso para inutilizar aquelas duas asas irritantes quando colocasse as mãos nelas, já até podia ouvir o som que os ossos fariam ao se quebrarem, em antecipação.

A Guarda do Lírio mantinha uma formação em V ao redor de sua senhora, e Sesshomaru só precisava de um segundo livre para executar seu golpe. Sua mente rapidamente calculou e balanceou os youkis dos oponentes mais próximos e, uma vez que teve certeza de que Rin estaria segura por alguns instantes, ele partiu para o ataque contra o líder inimigo, suas garras afiadas investindo contra uma das asas, enquanto Takayama rapidamente recolhia o membro de volta à segurança de suas costas para evitar que fosse danificado.

A visão de Rin da batalha dos dois foi momentaneamente bloqueada enquanto seus guardas se reposicionavam para protegê-la, mas ela não conseguia desviar o foco na luta, tentando a todo custo ver por cima das figuras altas dos homens que a cercavam. Assim, quando algo a atingiu pela lateral, ela foi completamente incapaz de registrar o que era, enquanto seu corpo rolava para o chão com a força do golpe surpresa.

Caindo de costas contra a terra gelada, ela abriu os olhos e os arregalou em surpresa ao ver o enorme cão branco de pé sobre seu corpo, rosnando em ameaça. Levou-lhe um instante para registrar o que estava acontecendo, por que Sesshomaru a atacaria de forma tão agressiva? Mas logo deu pela falta da meia-lua característica no centro da testa, e seu cérebro começou a compreender pela diferença de tamanho o engano inicial.

- M-mizuno? - Ela titubeou em descrença.

A única resposta que recebeu foi mais um rosnado da cadela, algo que teria o potencial de deixá-la congelada de medo em situações normais. Mas aquela não era uma situação normal. Ela estava no meio de uma guerra, o governo de suas novas terras estava em risco, sua família estava em risco, e a descarga de adrenalina corria livre por seu sangue.

Aproveitando a vantagem que seu tamanho reduzido em relação à inimiga lhe concedia, ela rapidamente tratou de rolar por entre as patas frontais de Mizuno, colocando-se de pé em um movimento impressionante dada sua falta de preparo. Entretanto, mal a humana havia endireitado sua postura, uma gigantesca pata com garras à mostra avançou perigosamente perto de seu rosto, seus reflexos sendo a única coisa a salvá-la de um golpe que teria o potencial de arrancar sua cara fora. Em vez disso, ela instintivamente se impulsionou para trás, caindo mais uma vez sentada no chão, com apenas um corte de raspão em uma de suas bochechas.

O coração de Rin batia freneticamente em uma tentativa de continuar bombeando seu sangue com rapidez o suficiente para sustentar suas reações, mas uma vez que ela se viu caída ali, com os olhos vermelhos da inu fêmea a encarando bem na sua frente, ela sabia que não teria tempo de escapar mais uma vez. Coragem começava a ceder espaço para o pânico, enquanto ela começava a aceitar que seu destino terminaria ali, nas garras daquela que ela pensara ter se livrado de uma vez por todas, meses atrás.

No entanto, quando a cadela preparava o que seria seu ataque final contra sua vítima, um peso que chegava a superar o seu próprio a empurrou com violência para longe da humana. Rin olhou para cima, deixando o alívio preenchê-la ao ver seu amado de pé sobre quatro patas, em sua verdadeira forma.

No instante em que sentira o cheiro familiar de Mizuno, somado ao cheiro do sangue de Rin, Sesshomaru não havia pensado duas vezes. Ele transformara-se em pleno ar enquanto saltava para o resgate da parceira, jamais ousando arriscar usar a Bakusaiga quando o alvo estava tão perto de quem ele pretendia proteger. Agora que a tinha novamente sob sua guarda e sua adversária colocava-se rapidamente de pé após o empurrão, olhos vermelhos encaravam olhos vermelhos, rosnados sendo trocados entre as duas bestas, ecoando pelo campo de batalha.

A fêmea ousadamente partiu para uma nova investida, os dentes afiados expostos para um ataque, mirando no pescoço. Sesshomaru ergueu-se sobre as duas patas traseiras, deixando que ela mordesse o ar e aproveitando a postura superior para golpear a nuca de Mizuno com a descida pesada de sua pata frontal, forçando-a contra o chão sob o peso de seu corpo.

Ele estava prestes a fechar a mandíbula na jugular de sua presa imobilizada, quando as fagulhas de Takayama o atingiram sobre as costas, forçando-o a voltar o foco ao youkai ave que tornara a sobrevoar os céus após ter sido deixado de lado momentaneamente. Mizuno usou a distração de seu captor para empurrá-lo com as patas, colocando-se novamente de pé e agitando a longa pelagem para se recompor.

Rin observava a disputa apertada, semi-escondida atrás de uma das patas de trás de seu senhor, notando como ambos Mizuno e Takayama começavam a cercá-lo, forçando-o a dar as costas para um ou outro eventualmente. Mas, agora que ela o tinha por perto mais uma vez, apesar da situação desfavorável, seu medo novamente voltava a ceder, dando espaço para a mesma energia e auto-confiança que ela sentira no início.

As palavras de Totosai ecoavam em sua mente, trazendo à tona por sua vez o discurso que ouvira da mãe de seu senhor, tanto tempo atrás.

Você acha mesmo que sua humana não tem um papel a desempenhar em tudo isso?

Fique com a pedra, Rin. É sua agora, pois estão inseridas uma na outra, e só você poderá controlá-la.

Com esses lembretes, adicionados ao estranho fluxo de energia que parecia fluir nos dois sentidos entre ela e seu parceiro, Rin começava a sentir a determinação para agir preenchê-la aos poucos. Ela não estava ali por acaso, e definitivamente a pedra não havia sido confiada a seu poder para tornar-se completamente inútil.

Quando a humana segurou o amuleto em sua mão, estava quente, muito mais energizado do que ela já o havia sentido antes. Seus olhos castanhos fitaram o cenário ao seu redor com atenção, notando que Sesshomaru havia decidido dar combate ao takayoukai, provavelmente julgando que Mizuno seria uma oponente que lhe daria menos trabalho, já que ele a conhecia melhor.

Mas Rin não estava disposta a deixá-lo ser atacado por nenhum dos dois lados. Quando o inu graciosamente moveu-se para direcionar sua postura de ataque ao youkai falcão, Mizuno rapidamente sincronizou sua própria investida, saltando na direção do macho com o focinho retraído para mostrar os caninos.

Antes que ela pudesse frear o ataque, entretanto, um portal negro surgiu diretamente em seu percurso, o diâmetro absurdamente amplo para ser capaz de engolir a enorme forma bestial da cadela. Inevitavelmente, ela caiu na escuridão, deslizando para o esquecimento antes que pudesse voltar atrás, o portal se fechando no segundo em que sua cauda desapareceu, selando seu destino para sempre.

O campo de batalha inteiro pareceu parar para observar a cena de uma fera daquela magnitude simplesmente sumir no meio do nada, a própria Rin encarava o vazio onde antes Mizuno estivera, boquiaberta.

Diante da distração e da aparente ausência de uma oponente que justificasse a transformação, Sesshomaru de repente estava sobre os dois pés, na forma humanoide, bem ao lado da humana. A respiração dela era ofegante, não pelo esforço da magia, pois aquilo havia sido incrivelmente fácil para ela, mas pelo choque da situação que tinha em suas mãos no momento.

Havia realmente... matado Mizuno? Havia matado alguém?

Rin não sabia bem o que ela realmente esperara que devesse fazer ali, no meio de uma guerra, mas de alguma forma, ser diretamente responsável pela morte de alguém não havia passado pela sua cabeça até o momento. Era verdade que honestamente não se dava bem com a antiga rival amorosa e, mais verdade ainda, que a mesma não havia medido esforços para matá-la apenas alguns instantes atrás, mas ainda assim...

Não podia dizer que se arrependia, era apenas um estranho conceito para se acostumar. Mas, se havia uma hora em que se acostumaria, definitivamente seria ali e agora.

Os olhos dourados de Sesshomaru a olharam com preocupação por um momento, silenciosamente aferindo seu bem-estar, dado seu estado desconcertado. A humana rapidamente tratou de endireitar a postura e assentir brevemente, garantindo que tinha tudo sob controle, embora não tivesse exatamente certeza se era esse o caso. De qualquer forma, aquele não era o momento para hesitar, ambos sabiam que hesitações apenas passariam a impressão de que eles não sabiam o que estavam fazendo, e não seria uma boa impressão para dar a inimigos.

O casal voltou-se para Takayama a tempo de vê-lo se recuperar do choque, o caos da batalha voltando a se restaurar naturalmente ao redor deles. O takayoukai permanecia no ar, recusando-se a renunciar sua posição de vantagem para deferir um ataque direto. A Bakusaiga de Sesshomaru não via problema com a distância, seus raios destruidores espalhando-se livremente pelos céus, procurando apenas uma oportunidade de atingir uma única pena que fosse do inimigo.

As evasivas de Takayama não eram facilitadas agora, já que assim que ele desviava de um ataque da espada, imediatamente a sua frente logo havia um portal do submundo aberto, pronto para engoli-lo, forçando-o a tomar uma outra rota, apenas para ter que lidar mais uma vez com a lâmina mortal do inuyoukai.

A única coisa impedindo que o falcão fosse continuamente encurralado no meio das armadilhas eram as pausas que a dupla precisava fazer para combater os atacantes no solo, embora a velocidade de Sesshomaru e a abrangência da magia de Rin fizessem um trabalho rápido em limpar o perímetro por tempo suficiente para que pudessem focar mais uma onda de ataques no líder inimigo.

Takayama franziu o cenho, insatisfeito com o rumo que aquela batalha estava tomando. Aos poucos começava a perceber que as malditas incógnitas em seu plano estavam desempenhando um enorme papel no desandamento de sua estratégia, muitas coisas que ele não podia prever, que não podia controlar. Ele recuou, aproveitando mais uma distração providenciada por seus soldados, buscando dentro do quimono por seu espelho.

Aquele objeto maldito estivera extremamente silencioso nos últimos meses, de forma que só conseguira obter sussurros ininteligíveis na maior parte de suas sondagens. Mas, diante da situação desfavorável, ele procurou invocar mais uma vez os poderes ocultos por trás do vidro espelhado, deixando sua visão periférica aguçada atenta a qualquer ataque.

- Senhor Sesshomaru, o espelho! - Rin apontou ao notar o brilho prateado refletido pelo sol, lembrando-se das instruções de Totosai antes da batalha.

O daiyoukai a ouviu, focando na relíquia misteriosa, sua mão posicionando o cabo da Bakusaiga em prontidão, antes de ser interrompido pela mão da humana sobre seu antebraço.

- Não, o senhor tem que usar a Tenseiga.

A espada da ressureição em nenhum momento se aquietara durante a batalha, parecendo ainda ressonar com a pedra pendurada no pescoço de Rin, compartilhando sua energia, absorvendo seu poder.

Ele assentiu, aceitando a sugestão e trocando as lâminas, esperando uma oportunidade e fazendo bom uso de suas garras para eliminar os soldados inimigos por perto enquanto isso. Rin notou a concentração de Takayama se focar no objeto em suas mãos, enquanto ele reluzia com poder. Eles precisavam agir rápido, muitas vidas já haviam sido perdidas...

- Vá, eu posso me virar por um instante. - Ela garantiu e, como que para provar seu ponto, tratou de usar o fluxo abundante de energia que agora fluía facilmente por seu corpo, dobrando-se à sua vontade, para abrir mais um portal e parar mais um ataque contra si. - O senhor tem que se apressar.

- O objetivo não era que estivéssemos juntos? - Ele questionou, não cedendo tempo para que ela respondesse, envolvendo-a pela cintura com o braço esquerdo e elevando os dois às alturas, avançando na direção do inimigo com uma velocidade excepcional.

Sesshomaru sabia que para que a Tenseiga funcionasse propriamente, o fluxo de energia entre eles precisava ser mantido. Era como Totosai havia dito, ele precisava da Meidou Seki por perto, ou tudo aquilo não faria sentido. Além do mais, Rin sempre estaria mais segura ao seu lado.

Takayama não demorou a perceber o ataque iminente, seus sentidos estando bem atentos. Ele foi forçado a deixar de lado o espelho por um instante, preparando uma defesa, mas ergueu uma sobrancelha ao notar que a espada que Sesshomaru empunhava no momento era a inofensiva Tenseiga.

Apesar disso, o takayoukai estava farto de surpresas por um dia, tratando de guardar seus pontos vitais só para o caso de o inu ter alguma outra carta na manga. Sesshomaru, no entanto, não tinha nenhuma intenção de atingi-lo com a espada da cura que vibrava com energia emprestada pela segunda relíquia do submundo ao seu lado. Enquanto Takayama assumia uma posição defensiva, a lâmina da katana cortava através de nada, por um instante parecendo tão inútil quanto sempre fora, até que um agudo som de vidro estourando soou pelo céu.

Quando Takayama estendeu a mão para avaliar o estrago, os cacos do espelho caíram ao chão, cintilando com a luz do dia, completamente inutilizados enquanto a energia sinistra do objeto se esvaía. Ele sibilou em frustração, mas não hesitou em largar a moldura inútil com desdém. Aquela velharia já não funcionava muito bem, de qualquer forma.

Rapidamente, a ave youkai mudou para uma posição de ataque, mais uma vez fazendo uso de sua vantagem no ar, uma nova onda de espinhos energizados sendo lançada contra o daiyoukai a sua frente, forçando o oponente a defender sua fêmea e recuar diante do poder de um golpe executado de tão perto.

Sesshomaru voltou a pousar, colocando Rin cuidadosamente no chão atrás de si. Já era difícil o suficiente coordenar uma luta mantendo-a ali, ter que mantê-la em seu colo enquanto voava era totalmente inviável, ainda mais contra um voador tão habilidoso.

Takayama se preparou, prevendo que eles voltariam ao mesmo estilo de ataque anterior, o que não estava lhe sendo muito favorável. Como antecipado, as ondas de poder da Bakusaiga logo vinham em sua direção, mas seus olhos afiados de rapina notaram rapidamente uma leva de seus soldados prestes a tentar um ataque por trás de Rin. Quando o portal para o submundo se abriu no seu caminho, ele soube que ela teria que abrir um outro logo em seguida para proteger a retaguarda. E o falcão, sem cerimônias, se deixou ser engolido pela escuridão.

Sesshomaru paralisou seus movimentos por um instante, observando a repentina vitória com descrença, vendo a figura do líder do exército inimigo simplesmente desaparecer na magia de Rin. Aquilo havia sido um pouco mais fácil do que ele havia esperado.

Rin, por outro lado, não tinha tempo para perder com o choque por seu ataque finalmente ter capturado a presa, já que havia uma boa quantidade de presas extras vindo logo atrás dela. Ela se virou com destreza, levantando sua pedra na direção dos inimigos e mais uma vez - agora era tão fácil quanto respirar - deixou que o vazio do Meidou cuidasse deles. De fato, os homens foram absorvidos por um lado do portal. Da outra face, entretanto, a face que se dirigia diretamente para ela, olhos amarelos a encararam com arrogância, um sorriso vitorioso aparecendo logo em seguida e a última coisa que ela conseguiu ver sair da escuridão foi o brilho afiado de uma lâmina, que em um movimento habilidosamente rápido, estava enterrada em seu abdômen.

Ela segurou a mão que a apunhalava com ambas as suas, como se pudesse afastá-lo dela e desfazer o ferimento que havia sido aberto. O gesto não deu em resultado algum, entretanto, e tudo que ela pôde fazer foi olhar com desespero nos olhos de seu assassino, enquanto seu sangue quente começava a escorrer pela abertura.

O ataque acontecera absurdamente rápido, de forma que a primeira coisa que Sesshomaru havia registrado havia sido o retorno repentino do cheiro de Takayama que havia acabado de desaparecer, e antes que ele pudesse averiguar, o segundo registro havia alcançado suas narinas: O cheiro agridoce do sangue de Rin.

O takayoukai tratou de alçar voo imediatamente, procurando se manter longe da fúria do inu que certamente viria. Não estava disposto ainda a arriscar combate direto, no chão, contra o temido general.

Sesshomaru, entretanto, não poderia se importar menos com a fuga do inimigo, a única coisa que ele conseguia ver era o corpo de Rin começar a cambalear, ameaçando cair. Ele a aparou antes disso, aninhando-a em seus braços, tentando se convencer de que estava tudo bem, talvez houvesse sido apenas um ferimento superficial. O último portal que ela havia aberto lentamente se desfez, pouco a pouco tornando-se translúcido até desaparecer. A energia compartilhada com a Tenseiga seguiu pelo mesmo caminho, esvaindo-se até que ele não pudesse mais sentir a conexão que estivera presente durante toda a batalha.

A luz nos olhos dela, por outro lado, ainda encontrava-se ali enquanto ele a virava para olhar seu rosto, deixando os joelhos cederem para que pudesse apoiá-la melhor em seu colo.

Apesar do momentâneo choque que mais uma vez fizera com que os guerreiros pausassem suas lutas para absorver o ocorrido, logo os inimigos tentavam aproveitar a fragilidade aparente do daiyoukai para um ataque, mas assim que deram o primeiro passo em direção ao casal, a lâmina ainda empunhada pela mão direita do líder inu emitiu uma onda radial destrutiva ao seu redor. O aviso era claro: Aquele que se aproximasse, morreria, não importando quantos dos dele morressem junto.

Sesshomaru não toleraria intromissões, não em um momento tão delicado quanto aquele. Ele sabia que precisava tirar Rin dali, talvez levá-la até a sacerdotisa, ela precisava de tratamento. Mas os olhos castanhos úmidos com lágrimas não derramadas o prendiam ali, incapacitavam seus movimentos, como se lhe implorassem para ficar ali com ela só mais um pouco.

- Rin... - Ele se permitiu sussurrar, esquecendo-se completamente da plateia que os cercava. Havia um estranho nó em sua garganta, algo que ele não se lembrava de ter sentido alguma vez, algo que tornava a sua fala difícil de sair com a costumeira clareza e imponência de sempre.

A humana, sua humana, abriu a boca para dizer algo, mas a única coisa que saiu por seus doces lábios foi um borbulhar de seu próprio sangue.

Sesshomaru estivera tão vidrado em seus olhos que esquecera-se da piscina de sangue que se formava sob o corpo dela, a mancha se espalhando livremente por seu quimono de cores claras. E agora que ele via a quantidade de sangue que havia ali, o desespero começou a tomar o lugar do torpor. Um desespero cujas proporções ele jamais havia experimentado, que ele jamais imaginara ser possível. Toda a sua vida, ele havia caminhado em uma estrada guiada pela morte, ao ponto de haver se tornado um conceito perfeitamente banal.

A primeira morte de Rin havia sido a primeira vez em que o conceito o havia incomodado, ao ponto de fazê-lo querer mudar aquela realidade. A segunda vez, havia sido a primeira vez em que o conceito o havia causado dor e culpa, ao ponto de fazê-lo se arrepender de todas as decisões que havia tomado até ali, abrir mão de tudo o que havia conquistado, se apenas pudesse tê-la de volta.

Mas naquela terceira vez...

Desde o momento em que havia aceitado seus sentimentos por aquela humana, em que havia decidido fazê-la dele de uma vez por todas, ele havia considerado sua mortalidade. Várias e várias vezes. Ele havia eventualmente aceitado-a, como uma parte natural, uma limitação que parecia até mesmo justa, dada a satisfação que a presença dela trazia à vida dele.

Ninguém devia ter permissão para ter tamanha satisfação por tanto tempo. Ele, muito menos. Nunca fizera nada de bom para merecer tamanha bênção.

Então estava acordado e aceito. Um dia, ele diria adeus para sua insubstituível Rin. E, daquela vez, seria para sempre.

Por que então, agora ele via a luz desaparecer de seus belos olhos, sentia como se estivesse sugando com ela partes vitais de seu ser? Ele mal podia respirar e, por algum tempo, começou a se preocupar que estivesse de alguma forma partindo com ela também.

Mais assustador do que isso, por um momento, ele desejou que estivesse.

Sesshomaru sabia que havia dito a si mesmo que a deixaria ir. E quando tomara a decisão, quase não doeu. Muito.

Mas a verdade era que ele não estava pronto. Ainda não era a hora.

Rin, ainda não estou pronto...

O sentimento de desespero se tumultuava com os outros que começavam a desabrochar, como um grande redemoinho, era tudo uma carga muito maior do que ele havia sido feito para suportar. A revolta começava a sobressair sobre os outros, fazendo-o querer rosnar em desafio para quaisquer forças divinas que pudessem ser responsáveis por aquilo.

Ela era jovem. Jovem demais. Ele não conseguia aceitar aquela quebra de contrato com o destino. Aonde haviam ido todos os anos que lhe foram prometidos? Oitenta anos com ela. Setenta, sessenta... Seu punho se fechou com força, os dentes trincados em absoluta indignação.

No entanto, o destino começava a lhe parecer algo abstrato demais, de forma que o youkai logo começava a procurar outros a responsabilizar. Se Hayashi não houvesse enchido a cabeça dela com besteiras. Se ela não tivesse sido tola o suficiente para ouvi-lo e vir até ali... Se ele não tivesse se deixado distrair por um segundo, se tivesse prestado mais atenção.

Por fim, o inuyoukai levantou a cabeça lentamente, relutando em deixar de lado a visão do rosto perfeito da humana em seus braços.

Seus olhos brilhavam com a cor carmim incandescente, transbordando com a sede de sangue, e encaravam fixamente a figura alada no céu.

Não Hayashi, não Rin, tampouco ele mesmo. O verdadeiro culpado estava bem ali à sua frente.

E, para a sua sorte, era alguém que podia punir.

 

xXx

Rin despertou na completa escuridão. Aos poucos, seus olhos começaram a se adaptar à baixa luminosidade, embora não houvesse muito para ver além dos pontos avulsos de luz que tornavam aquele cenário inconfundivelmente familiar.

Ela se sentou, tentando se situar em sua mente nublada. Por acaso havia atravessado acidentalmente um de seus portais para o Meidou?

Mas as memórias rapidamente a inundaram, fazendo-a arfar ao lembrar-se da dor, do medo, do sangue...

Ela levou as mãos ao abdômen, procurando pela ferida, mas encontrou seu corpo perfeitamente intacto. Mas ela não precisava de evidências... As lembranças eram prova suficiente.

Ela havia morrido. Estava acabado.

Rin começou a ofegar com a realização, o desespero começando a preenchê-la enquanto ela se forçava a aceitar aquela realidade. Mais do que aceitar, ela queria entender. O que poderia ter dado tão absurdamente errado, para terminar daquela forma tão desastrosa?

Como que para atender aos seus questionamentos internos, uma figura aparecia à sua frente, caminhando a passos calmos em sua direção. Quando Rin fez contato visual com o recém-chegado, ele acenou de forma animada, o que apenas serviu para deixá-la mais confusa do que estivera ao reconhecê-lo.

- Hayashi! - Ela o chamou, colocando-se de pé em um só movimento. - O que está acontecendo?

O inuyoukai não se deixou abalar pelo tom de indignação que detectou na voz dela. Ele sorria, parecendo perfeitamente calmo em revê-la ali, naquelas condições.

- Olá mais uma vez, Rin.

- Eu estou morta? - Ela perguntou sem cerimônias, indo direto ao ponto e cortando a tentativa de conversa casual.

- Bem, você devia estar familiarizada com isso à essa altura, não é?

A resposta indiferente e irritantemente divertida dele lançou uma expressão de horror para o rosto da humana, forçando-a a cobrir a boca com ambas as mãos para esconder seu choque.

- Não, eu não posso morrer! - Ela argumentou, irracionalmente. - Eu tenho uma filha bebê, eu nem passei tempo com ela ainda! Eu tenho... O senhor Sesshomaru-

As palavras se prenderam em sua garganta, afogadas pelas lágrimas que começavam a cair por seu rosto, desaparecendo na escuridão ao pingarem de seu queixo.

- O que aconteceu, Hayashi? Eu fiz o que você disse, você disse que ficaria tudo bem...

O youkai deu de ombros, em uma postura resignada.

- Talvez você tenha sido um pouco inocente de acreditar tão facilmente em mim. - Ele justificou. - Não passou pela sua cabeça que eu possa ter decidido que Takayama tem razão, no fim das contas?

A humana o encarou, boquiaberta, a respiração engasgada por um instante. O inu não deixou manter a surpresa por muito tempo, já que logo a expressão séria se dissolveu em uma risada estrondosa.

- Você tinha que ver a sua cara! - Ele zombou. - Acha mesmo que eu faria isso com a minha senhora, Rin?

A piada extremamente inapropriada apenas serviu para irritá-la ainda mais. Tudo bem que estava falando de Hayashi, mas como ele podia se divertir diante de uma situação como aquela? Não devia ao menos demonstrar um pouco de pesar? Ela havia ficado arrasada quando soubera da morte dele!

- Como você consegue brincar em uma hora dessas? - Ela questionou, cruzando os braços. - O que deu errado no seu plano, afinal?

- Até agora, nada. - Ele respondeu, finalmente adotando um tom mais sério. - Você fez bem, Rin. Agora deixemos o resto com Sesshomaru.

Os olhos da humana se arregalaram. Suas próximas palavras saíram pausadamente, enquanto ela lutava para manter a calma diante daquela enorme confusão.

- Espere. A minha morte era parte do seu plano?

Hayashi suspirou pesadamente, abandonando de uma vez por todas o humor em seu tom de voz. Seus lábios se apertaram em uma linha rígida, antes de ele responder:

- Eu não diria isso, era apenas necessária. - Antes que ela pudesse abrir a boca para questioná-lo mais uma vez, o youkai ergueu uma mão para silenciá-la. Já bastava de rodeios, por mais divertido que fosse. Era hora de falar a sério. - Você não lembra do que aconteceu na primeira vez em que esteve aqui, Rin, mas as entidades do submundo não esqueceram.

Agora que ele tinha a atenção completa da humana, Hayashi prosseguiu com seu conto:

- Naquele dia, quando Sesshomaru percebeu que você estava morta, ele fez tudo o que podia para tentar te trazer de volta. A Tenseiga não funcionava, mas a mãe dele ofereceu uma possível solução, sugerindo que ele experimentasse eliminar o Guardião do Inferno. E é claro que ele não hesitou em fazê-lo. - Contou ele, observando os olhos surpresos de sua ouvinte enquanto ela ouvia pela primeira vez os detalhes dos acontecimentos daquele dia fatídico. - Infelizmente, não deu certo, embora a Senhora do Oeste tenha dado seu próprio jeito de te devolver a vida, como você já sabe. Mas isso não muda o fato de que Sesshomaru assassinou a entidade responsável pelo gerenciamento desse lugar, ele quebrou o balanço entre os mortos pela segunda vez e, assim como da primeira vez, ele fez isso por você.

A humana piscou, desnorteada com aquela revelação. De alguma forma, seu coração ainda tinha espaço para sentir-se aquecido ao saber que seu senhor fora tão longe apenas para tê-la de volta, já naqueles tempos. Ela sabia que ele não mediria esforços para protegê-la. Entretanto, as palavras sombrias de Hayashi deixavam bem claro que não ficaria por isso mesmo. E ele logo tratou de confirmar sua hipótese.

- Pode te parecer que você não tenha responsabilidade alguma pelo o que houve, mas os do lado de cá parecem concordar de que o assassinato foi feito em seu nome. Na verdade, Sesshomaru é apenas difícil demais de ser morto e trazido até aqui, de forma que é muito mais fácil punir você.

- M-me punir? - Ela titubeou, cada vez mais confusa. - Punir como?

- Você se lembra de quando me perguntou se todos os que morreram estavam aqui? - Ele perguntou, continuando depois de vê-la assentir. - Eu te disse que apenas os que partiram recentemente permaneciam nesse lugar. Com isso, eu queria dizer que apenas os que morreram nos últimos oito anos, aproximadamente, estavam presos. Foi a data em que Sesshomaru congelou o funcionamento dessa passagem, em uma tentativa vã de te salvar. Desde então, nenhuma alma tem sido permitida seguir ao seu descanso ou condenação.

A humana o encarou com horror, sem ser capaz de imaginar a proporção do impacto que a interferência de seu amado havia causado, tentando mensurar qual seria o volume de mortes no período de oito anos, em uma época de guerras e sangue... Mas, mais preocupante do que isso tudo, era qual seria o papel dela na resolução daquela bagunça.

- E o que eles querem que eu faça?

- É tão difícil assim de imaginar? O Guardião do Inferno foi morto por sua causa. - Ele explicou, sua voz adquirindo um tom mais sério. - E, agora, cabe a você tomar o lugar dele.

Os olhos de Rin não podiam ficar maiores diante daquela conclusão, o coração começando a acelerar enquanto ela inconscientemente começava a se afastar, preparando-se para fugir dali o mais rápido que pudesse. Antes que ela pudesse começar a correr, o amigo a segurou pelo braço rapidamente, virando-a para que pudesse apoiar as mãos sobre seus ombros, em uma tentativa de acalmá-la. Não estava funcionando.

- Eu não posso fazer isso, eu não posso ficar aqui! - Ela argumentou, evidenciando cada vez mais seu crescente desespero. - Hayashi, eu não posso morrer, muito menos ser esse tal Guardião! Quem vai cuidar da Miyuki? O senhor Sesshomaru não pode sozinho. Eles precisam de mim...

A sua voz desapareceu ao notar que Hayashi voltara a sorrir. Ela honestamente estava se segurando para não bater na cara dele. Mas o olhar que o amigo lhe dirigia de alguma forma foi capaz de acalmar tanto sua fúria quanto seu temor.

- Rin, essa é uma oportunidade perfeita para você, não vê? Decerto seria um belo castigo por toda a eternidade para qualquer um, mas você... Você controla a Meidou Seki, você tem esse lugar inteiro nas suas mãos! - Ele explicou, o tom ficando mais animado à medida que progredia com seu raciocínio. - Ninguém pode te prender aqui se você não quiser ficar, você poderá sair e entrar quando quiser. Fazer o seu trabalho de tempos em tempos, satisfazendo as entidades e mantendo o equilíbrio no mundo dos mortos, e depois retornar para a sua família.

Ela congelou no lugar, tentando entender o significado do que ele estava tentando dizer.

- Retornar? Mas eu estou...

- Morta? - Completou, com humor. - Agora, sim. Mas, uma vez que você se torne o novo Guardião, uma criatura sobrenatural e eterna... Essa situação seria inevitavelmente revertida. De fato, quando você aceitar o seu papel, a única pessoa capaz de te matar realmente seria o próprio Sesshomaru, o mestre da Tenseiga.

Os pensamentos de Rin começavam a correr freneticamente por seu cérebro, agora que começava a ver as coisas pela perspectiva que Hayashi oferecia. Sob essa nova luz, o plano dele finalmente fazia pleno sentido. Ela precisava estar na batalha para unir forças a Sesshomaru e ajudá-lo a desarmar Takayama, precisava morrer para ir até ali e se tornar algo que seria praticamente imortal...

Ela respirou fundo, tentando recuperar o fôlego que havia desaparecido de repente.

Poderia ficar com Sesshomaru... Para sempre.


Notas Finais


Êlaiá! A batalha finalmente saiu!! Mas ainda não terminou haha

Sesshomaru largou de teimosia e deixou a Rin fazer o que ela tinha que fazer, mas agora nosso Sessh com certeza se arrepende da decisão :'(

Várias pontas começaram a ser amarradas aqui. A Rin finalmente conseguiu usar com perfeição a Meidou Seki, nós demos adeus definitivo à nossa querida Mizuno (será mesmo? HISAHEIS ok, parei. RIP). Takayama está prestes a enfrentar um Sesshomaru furioso 100% bolado (eu não queria estar na sua pele agora, amigo). Mas, acho que o mais importante de tudo, estamos descobrindo qual vai ser a chave para a longevidade prolongada da Rin! Yay! <3

Como estou com pressa de liberar o capítulo para vocês, vou me despedindo aqui. Espero que gostem o suficiente pra relevar meu atraso. :)
E ah, MUUUUITO OBRIGADA PELOS FAVORITOS! Unintended finalmente passou dos 100 e contando! Fiquei feliz pra caramba, vocês são os melhores! *--*
Beijos e até o próximo!


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