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História Unintended - Preparativos


Escrita por: eveelima

Capítulo 6 - Preparativos


— Você tem certeza, criança? – Kaede perguntou pelo que devia ser a centésima vez no último mês, sua testa parecendo de alguma forma mais franzida que o normal.

— Sim, senhora Kaede. – Respondeu Rin pacientemente, sorrindo enquanto dobrava mais um belo quimono e o pousava delicadamente no topo da pequena pilha ao seu lado. – Eu tenho absoluta certeza.

— Quantas vezes mais ela terá que repetir isso até a senhora acreditar? – Riu Kagome, erguendo a pilha de quimonos e colocando-a dentro de uma trouxa de pano cuidadosamente.

— Bom, eu estava esperando pelo menos um pouquinho de hesitação às vésperas. – Confessou a idosa. – Um pouco de receio de que as coisas não vão ser exatamente da forma que você previu, agora que já é uma moça. Será tudo diferente do que você se lembra, Rin. Além disso, Sesshomaru não é exatamente...

— Por favor. – Cortou Rin, um pouco mais abrupta do que pretendia. – Não fale mal do meu senhor. Até Kagome concorda que ele se redimiu.

A jovem adolescente encarou a amiga mais velha como quem espera algum apoio. A velha sacerdotisa fora sua mentora por anos e Rin detestava ter que partir e preocupar Kaede, que acreditava que ela não estava tomando a melhor decisão.

— Bom, é verdade. – Concordou Kagome, timidamente. – Sesshomaru não é mais tão ruim quanto costumava ser.

Rin reprimiu o impulso de rebater que ele não era ruim em nenhum aspecto. Ela estava ciente das histórias antigas de Kagome sobre como o príncipe do Oeste havia tentado matá-la em mais de uma ocasião. De qualquer forma, Rin não imaginava o Sesshomaru que ela conhecia hoje levantando uma garra sequer contra Kagome. Ele até deixava que ela o chamasse de nii-san, mesmo que a contragosto.

— Mesmo assim, ele dificilmente seria o melhor indicado para cuidar de uma menina como a Rin. – Kaede insistiu, impassível.

— Mesmo assim, — Enfatizou Rin, desafiante agora, mas com um tom óbvio de brincadeira. – Ele era o único que estava lá quando eu precisei.

Apesar do tom leve que Rin usava, a sacerdotisa Kaede a olhava com seriedade, e certa compaixão ao ser lembrada das dificuldades que a menina enfrentara em sua infância.

— Mas você não precisa mais, Rin, minha criança.

Com isso, a adolescente finalmente teve o bastante. Fechou a cara para sua mentora, colocando mais um quimono dobrado na pilha ao lado com mais força do que o necessário.

— Eu sempre vou precisar dele. – Afirmou, pondo-se de pé e se retirando abruptamente da singela cabana.

Rin andou a passos duros e apressados apenas uma pequena distância, se apoiando em uma cerca que delimitava o início de uma pequena plantação de ervas ali em frente. Ela bufou, frustrada. Quantas vezes já tivera essa discussão com Kaede desde seu aniversário? Tudo que ela queria era partir em bons termos com todos, mas a sacerdotisa não parecia aceitar nunca que aquela era a escolha que ela tinha feito. Era a única escolha que ela enxergava em seu futuro, como um mundo de sombras onde provavelmente todas as direções iriam dar em algum lugar interessante, mas apenas aquela luz brilhante a atraía.

— Rin. – Kagome se aproximou, ocupando um lugar ao lado da menina e apoiando uma mão amigável em seu ombro. – Não fique brava com a vovó Kaede...

— Eu sei, você já me disse isso. – Suspirou. – Mas realmente me irrita que falem mal dele... Mas eu sei que ela se preocupa comigo, por isso a relutância.

— Exatamente. Ninguém conhece o Sesshomaru como você, e provavelmente ninguém jamais irá. Tente não se incomodar tanto com julgamentos errados.

— Eu só queria que ela tivesse certeza que onde quer que eu esteja, estarei feliz ao lado do senhor Sesshomaru. – Rin desejou, um pequeno sorriso involuntário se formando em seus lábios diante do pensamento de que faltava tão pouco para aquilo se tornar realidade. – Não quero que ela se preocupe à toa.

— Bem, a vovó Kaede terá que seguir em frente cedo ou tarde. Quanto a mim, vou confiar que nii-san cuidará muito bem de você. – Assegurou Kagome.

— Como sempre tem cuidado. – Rin completou, sorrindo mais abertamente agora.

— É um traço de família. – Kagome piscou para a amiga, antes de pegá-la pela mão e guiá-la de volta para dentro da cabana. Ainda havia muito a preparar.

Rin correu durante o dia todo. Era impressionante como não importava o tempo que ela teve para preparar tudo, a pilha de afazeres não terminava nunca.

Ela nunca reparara antes que tinha tantos quimonos, pentes, acessórios.

Tinha que reunir e desidratar ervas medicinais que viriam a calhar na estrada. Preparar provisões para pelo menos alguns dias.

Ela se sentou entre as folhas verdes espalhadas ao seu redor no campo de ervas, exausta. Jogou a cabeça para trás, tentando relaxar a coluna cansada, e começou a ver a figura da lua minguante se formar no céu. Sesshomaru estaria chegando logo.

Suspirando, ela voltou a sua tarefa.

— Precisando de uma ajuda, Rin? – Ofereceu Sango, que trazia o filho mais novo no colo, apesar da crescente barriga.

— Acho que você precisa mais que eu. – Ela riu, acompanhada da ex-exterminadora.

— Ah é, vai ser difícil trazer mais esse daqui sem você. - Sango lamentou, lembrando que Rin sempre estivera presente em todos os seus partos anteriores. – E você realmente vai embora amanhã, não é?

— É...

Pela primeira vez naquele dia, a voz de Rin soou triste ao falar de sua partida. Conversar com Sango sobre isso, inevitavelmente, a fazia pensar em Kohaku.

— Ele não vai chegar a tempo de te dizer adeus. – Sango disse em um tom triste, sabendo o quanto o seu irmão mais novo adorava aquela menina, e vice-e-versa.

Kohaku havia vindo ao vilarejo pela última vez exatamente na semana do aniversário de Rin. Ele ficara até as comemorações, deixara o seu presente e partira antes de Sesshomaru aparecer.

Rin estivera esperando que Kohaku passasse para uma visita nesse meio tempo, mas sua crescente fama como exterminador de youkais o deixava cada vez mais ocupado, e não havia a menor previsão de quando ele voltaria. Se ele não aparecesse até amanhã, da próxima vez que viesse visitá-la, descobriria que ela não mais residia ali, e que ninguém teria informações de seu paradeiro.

— Eu prefiro acreditar que ele vai aparecer. – Rin disse, determinada, voltando a reunir suas ervas.

— Se não for o caso, realmente vai embora sem uma única palavra, Rin?

A menina fechou os olhos, se sentindo frustrada. Se lembrou de quando Sesshomaru disse que ela poderia ir com ele, de como ela pensou que eles iriam partir naquele mesmo momento. Ela realmente iria atrás dele sem a menor hesitação, abandonando tudo que ela tinha ali para trás? Provavelmente não, ela ao menos iria pedir a ele alguns minutos para se despedir de todos.

Agora que ela tinha tempo para pensar nisso, ter que partir sem dizer nada a Kohaku era realmente doloroso. Depois de tudo que eles viveram juntos, de toda a amizade que eles nutriram, bastava um assovio de Sesshomaru e ela iria sem olhar para trás. Era injusto e egoísta, ela sabia, e doía muito pensar em ter que fazer isso, mas se Kohaku não chegasse a tempo... Não havia nada que ela pudesse fazer.

— Eu prefiro acreditar que ele vai aparecer. – Ela repetiu, soltando um fôlego e pondo-se de pé. – Seu titio tem que vir ver você, não é, Ichi? – Ela brincou com o bebê, segurando sua pequena mão.

Rin foi dormir naquela noite após um último banho em um rio perto dali. Era difícil pegar no sono com tantas expectativas para o dia que seguiria. Sesshomaru finalmente voltaria, e dessa vez eles nunca mais se separariam de novo. Ela imaginava como seria voltar a passar todos os dias na companhia de Jaken e Ah-Un, acampando pelas florestas, com nada além de uma fogueira e a lua para iluminar a noite. E os olhos dourados de Sesshomaru, é claro.

Ao mesmo tempo, ela tinha que lidar com a angústia da possibilidade de que ela não voltaria a ver Kohaku por sabe-se lá quanto tempo, que ele não saberia aonde ela foi. A possibilidade de não ser capaz de lhe dar um último abraço e lhe dizer suas últimas palavras de afeto antes de partir em sua própria jornada. Kohaku não podia culpá-la por querer partir, ele sabia que ela iria desde o início. Além do mais, ele estava sempre envolvido em suas próprias aventuras e Rin nunca reclamava. Bom, nunca reclamava muito. Agora era a vez dela de ir e Kohaku precisava entender isso, mesmo que... Mesmo que ele não fosse descobrir isso da boca dela, no fim das contas.

—----

Sesshomaru saltou a frente, as garras pingando de sangue, e pousou a tempo de ouvir o corpo do inimigo cair ao chão atrás dele, sem vida.

Sacudindo a mão por um instante para se livrar do excesso de líquido vermelho viscoso, ele prosseguiu com sua caminhada, ocasionalmente passando por cima de mais um corpo caído que fora arremessado para mais longe.

— Senhor Sesshomaru, se continuar assim, não vamos chegar a tempo. – Avisou Jaken cautelosamente, vindo atrás, puxando as rédeas de Ah-Un.

O humor do senhor do Oeste estava cada vez mais negativo, à medida que eles continuavam sendo atacados por pequenos grupos de fracos youkais. As criaturas eram inofensivas para o poderoso daiyoukai, mas as constantes batalhas estavam começando a tomar mais tempo do que o esperado.

Sesshomaru odiava admitir, mas o sapo tinha razão. Se continuassem nesse ritmo, ele não chegaria ao vilarejo no tempo que prometera à Rin. Ele realmente não queria que ela tivesse nenhum motivo para ficar ansiosa ou pensar que ele não voltaria mais.

— Jaken. – Ele chamou, fazendo o servo parar imediatamente. – Espere aqui com Ah-Un.

Antes que Jaken pudesse protestar, Sesshomaru já estava nos céus, a pelagem em seu ombro serpenteando pelo vento.

O grande youkai voou à toda velocidade, o chão abaixo dele nada mais do que um borrão de folhas e rochas.

Enquanto ele se apressava, pensou no atraso que vinha sofrendo nos últimos dias diante dos infindáveis ataques, aparentemente sem nenhum tipo de motivação. A fama dele era ampla, era verdade, mas, justamente por isso, demônios mais fracos deviam tender a manter distância. A não ser que eles tivessem algum motivo para pensar que o inuyoukai estaria em desvantagem ou enfraquecido, o que não era o caso.

Ele deixou o pensamento de lado quando a escuridão começou a tomar o céu e ele começou a avistar pequenas luzes se acenderem no horizonte, à medida que os humanos começavam a se preparar para a noite.

Aquela seria sua última visita àquele vilarejo, com o qual ele inevitavelmente havia se familiarizado tanto ao longo dos últimos anos. A princípio, quando ele a deixou para trás, ele procurou pensar no lado positivo que estar separado de Rin poderia ter, pois não precisaria mais se preocupar tanto com ela, e poderia focar em outras coisas mais pertinentes.

Ele não demorou a perceber que o efeito havia sido justamente o oposto. Logo, ele se vira obcecado com suas visitas, sempre procurando brechas e desculpas para voltar a vê-la mais cedo do que da última vez. Mesmo tentando enganar a si mesmo, dizendo que estava meramente preocupado com a segurança dela, que Inuyasha não era um protetor eficiente o bastante, no fundo, ele sabia. O que ele realmente queria era vê-la, por qualquer motivo insignificante que fosse.

Era desconcertante como ele parecia saber, quase que de uma forma extra-sensorial, que Rin estava próxima, que ela estava bem ali em algum lugar no meio daquelas minúsculas casas à distância, e que em breve eles se encontrariam se ele se apressasse só mais um pouco.

Ele bufou, pensando em como era patética a forma como ele pensava nela de vez em quando. Cada vez mais frequentemente, se ele ousasse admitir.

—---

— Inuyasha, você pode me ajudar com isso? - Pediu Rin, gesticulando para suas sacolas de viagem. - Vou levá-las até o bosque.

— Hunf, nem pra vir te buscar aqui aquele miserável serve, não é mesmo? - Implicou o meio-youkai, cruzando os braços.

— Ele prefere me encontrar fora da vila, você sabe. - Ela lembrou.

Inuyasha deu de ombros, facilmente erguendo a bagagem da humana sobre um ombro.

Rin se virou para as pessoas que a observavam, enfileirados lado a lado, com olhares tristes em seus rostos.

Kagome, vestindo sua característica roupa de sacerdotisa. Sango, com a enorme barriga e o inseparável bebê mais novo no colo. Miroku, com mais uma criança mais velha nos braços, e as duas gêmeas de pé ao lado do pai. E Kaede, com seu semblante sério e olhar sábio.

Rin se despediu de todos um por um, deixando sua mentora por último, que a recebeu em um abraço maternal que trouxe lágrimas aos olhos da menina.

— Se esse é realmente seu desejo na vida, minha criança, alegro-me de ver que atingiu seu objetivo. - Ela disse, pousando uma mão confortante sobre o ombro da adolescente. - Seja feliz, Rin.

— Eu serei, senhora Kaede, prometo. - Respondeu, com a voz embargada pela emoção. - Muito obrigada por tudo.

Após passar pelas despedidas, Rin seguiu Inuyasha bosque adentro silenciosamente, até alcançarem a pequena clareira onde ela costumava encontrar Sesshomaru em suas visitas.

— Obrigada, Inuyasha. - Agradeceu ela, quando o hanyou colocou suas coisas sobre a grama baixa.

— Por nada, pirralha. - Ele respondeu, escondendo as mãos nas longas mangas de seu traje de pelo de rato de fogo, olhando em uma direção aleatória ao longe, claramente desconfortável.

— Vou sentir sua falta, Inuyasha. - Rin disse, preenchendo o silêncio, se aninhando no peito dele confortavelmente.

Inuyasha desajeitadamente retribui o gesto, envolvendo a pequena humana em seus braços por um instante.

— Eu também, pirralha. Mas ainda não entendo o que diabos você quer com aquele maldito.

— Me deixa em paz! - Ela riu, socando de leve o braço dele.

Inuyasha se afastou, sorrindo também, seus brilhantes caninos à mostra.

— Até mais, Rin. - Ele se despediu, saltando de volta para o vilarejo depois de receber um aceno como resposta.

Está  ficando tarde..., pensou Rin, não conseguindo evitar o nervosismo a medida que o tempo corria e o céu escurecia. Ela estava sentada sobre a relva, sua bagagem reunida ao seu redor.

Quanto mais tempo ele demorava, mais ela ansiava por vê-lo. Mas, ao mesmo tempo, mais ela desejava que ele decidisse vir um pouco mais tarde, pois significaria mais chances de Kohaku visitá-la uma última vez.

Era um sentimento desconcertante. Querer ver Sesshomaru significava não poder mais ver Kohaku. Mas não havia como evitar, ninguém nesse mundo podia ter tudo aquilo que queria, e ela havia feito sua escolha há muito tempo.

Rin começou a arrancar pequenas folhas de capim do solo, distraidamente, sentindo as cerdas ásperas do vegetal em seus dedos, quando, sem nenhum aviso, uma voz grave soou ao lado dela:

— Rin.

Ela se virou em um instante, esquecendo sua distração imediatamente para encontrar a pálida figura de longos cabelos brancos de pé ao seu lado, seu olhar tão sério e indiferente quanto sempre era.

— Senhor Sesshomaru! - Ela saudou em um tom generosamente animado, tendo que segurar o impulso que ela sempre sentia de se atirar sobre ele e envolvê-lo em um abraço caloroso.

— Eu presumo que você esteja pronta. - Disse ele, observando as trouxas de viagem.

Rin hesitou, voltando seu olhar de volta ao vilarejo, inconscientemente mexendo em sua pulseira.

Ele não ia vir... E ela precisava ir.

— Algum problema? - O youkai perguntou, percebendo a postura dela.

Rin rapidamente se voltou para ele, tratando de forçar um sorriso ao seu rosto. Afinal, aquele era o dia pelo qual ela esperara durante os últimos oito anos de sua vida.

— Nenhum, meu senhor. Eu estou pronta.


Notas Finais


Então finalmente Rin e Sesshomaru estão juntos de novo de forma definitiva *-*
E Kohaku que se dane HAHAHA

Agora é esperar pra ver o que acontece né?

Até a próxima!


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