História Unique - Sai daí, gordo

⍥⍥⍥

— Nam Joon Hyuk. — Baekhyun estendeu um caixa de bombons em formato de coração para ele mantendo a cabeça baixa. — Por favor, aceite meus sentimentos. 

— Hã... Quem é você? — olhou dos pés de Baekhyun até o rosto dele. — Ah! Uma confissão... — ele recolheu a caixa dando uma esperança a Baekhyun inexplicável, sentiu que finalmente tinha sido notado. — Eu vou aceitar a caixa de bombons, mas... Eu realmente não consigo nem mesmo dar a chance de você ser meu amigo. — Baekhyun levantou a cabeça e não entendeu o que aquela fala tinha significado. — É o seguinte, eu sei que gosta de mim já faz um tempo, você não é fácil de não ser observado com essa barriga grande andando por aí, que nem cabe no uniforme direito. — Baekhyun abaixou a blusa social do uniforme vendo que uma parte de sua barriga estava mesmo à mostra. 

— Eu... Eu... Você já sabia? — Baekhyun estava escutando as risadas no pessoal da sala e outras pessoas pararem no corredor para saberem o que estava acontecendo, que acabavam rindo também. — Então todas as vezes que eu tentava falar com você, me ignorava? — Baekhyun estava sentindo seu peito arder, assim como seu nariz por estar segurando choro. 

— Eu não ia conversar com uma pessoa que ao menos cuida de si mesma, está desse jeito desleixado e jogado. Um gordo... Eu não gosto de gordos. — Chanyeol tinha andado apressadamente e ficado na frente de Baekhyun que aquela altura não segurava mais o choro, mas estava silencioso, quase como se aquelas lágrimas fossem internas. 

— Retire o que disse para ele. — Chanyeol segurou o colarinho de Nam Joon que deu uma risada descrente. 

— O amiguinho do gordo está o defendendo. — respondeu fazendo todos ao seu redor rirem. — Se quiser agredir todo mundo que chama esse garoto de gordo, vai ter que bater na escola inteira. Não é mesmo pessoal? Quem aqui gosta de gordos? 

— Ninguém! — gritaram em uníssono. 

Naquele momento eu só queria correr, queria esconder na cabine do banheiro e chorar até desidratar ou pelo menos até meu coração parar de doer. Eu nunca me senti tão humilhado em toda minha vida, nunca me olhei com tanto ódio em frente a um espelho. Aquela maldita barriga! Aquele maldito rosto redondo! Aquele maldito eu!

Todos os dias que eu passava e via as pessoas comentando sobre mim era triste, mas eu conseguia relevar, principalmente, por ter um amigo tão bom quanto Chanyeol. Sem ele, eu estaria sozinho. Com seus elogios sobre minha personalidade e seus apertos em minha bochecha gordinha, me incentivavam a aguentar mais um dia, mas escutar aquelas palavras daquele que eu gostava... Nem mesmo meu melhor amigo conseguia me fazer não chorar. 

Eu sai correndo... É verdade. 

Covardia? 

Sim. 

Medo de ser ridicularizado por mais tempo? 

Sim. 

Insegurança de dizer o que penso? 

Sim. 

Incerteza de ser capaz de aguentar a realidade que ninguém gosta de mim por conta da minha aparência? 

A incerteza mais certa de toda minha vida. 

Encontrava-me olhando para o espelho do meu banheiro, dando tapas em minhas bochechas cheias querendo apenas que aquilo sumisse. Eu não sabia como tinha chegado até esse ponto... 

Mentira, eu sei sim... 

Tudo o que eu passava naquele colégio por conta da minha sexualidade me fazia querer ficar no quarto jogando jogos que não eram reais, onde garotos me elogiavam por tudo o que eu falava ou fazia, minha vontade era comer porcaria o dia inteiro e preencher o vazio que existe no meu coração, sem ninguém para me julgar ou me fazer sentir culpado por algo que é intrínseco a mim. 

Naquele instante, eu não queria ajuda. Ao menos queria ver Chanyeol, não queria que ele viesse com discursos motivacionais ou com sermões de como as pessoas eram podres e más, enquanto eu sou uma vítima e melhor que eles. 

Pois eu não sou! Eu sou pior, eu não me encaixo e nunca vou me encaixar. Em todos os lugares que eu for eu não serei lembrado como Byun Baekhyun, mas sim o garoto que pesa mais de cem quilos e tenta mostrar uma personalidade brilhante para ofuscar seu lado mais depressivo e infeliz. Meus pais não me entendiam, já tinham feito de tudo para tentar conversar comigo... Mas, eu não sabia se queria sair daquela situação. Se eu mudasse... De que adiantaria se eu continuaria não me sentindo bem comigo mesmo? Eu não conseguia libertar aquilo que estava agarrado com unhas e dentes no meu peito. Eu sabia que pessoas que não estavam na minha situação, nunca me entenderiam, eles nunca passaram pelo o que eu passo. 

As vezes eu tinha inveja de Chanyeol. 

Ele comia tudo e não engordava. Quando íamos em lojas, poderia vestir qualquer roupa que ficava bem... Enquanto eu tinha que ir em uma loja especializada para pessoas do meu tamanho e satisfazer-me com o que tivesse, querer alguma coisa estava fora de questão. 

Chanyeol era o retrato de alguém que poderia sentir-se bem diariamente por não ter medo de ter um enfarto em qualquer momento, de subir uma escada e não se cansar e sentir que seu coração iria sair pela boca. De poder ir ao médico e ficar feliz por escutar do doutor que tudo está normal, enquanto eu já não vou, porque sei que vou escutar... 

— Seu peso pode te matar se não tomar as devidas providências. 

É incrível como as pessoas tem facilidade de falar: você tem que perder peso, vai ser melhor para sua saúde, você vai sentir-se bem consigo mesmo, vai poder vestir qualquer coisa que queira, vai poder exibir seu corpo pela praia e viver de um jeito saudável. Mas também é incrível como ninguém se dispõe a ajudar quando digo que quero tentar melhorar. Alguns preferem minha condição para sentirem-se bem quando estão ao meu lado e os olhares das pessoas na rua vão para si e não para mim. 

A única coisa que eu tinha certeza era que minha gordura virou uma capa de proteção, era como se uma barreira que eu criei para ninguém alcançar meu íntimo. Ninguém pensava que comer do jeito que eu comia, de querer tudo em excesso era uma doença. 

De todas as madrugadas, eu acordar para comer todo o sorvete que tinha na geladeira ou toda a torta que minha mãe fazia para durar toda a semana. De não ficar satisfeito com um chocolate da caixa de bombom, mas sim toda a caixa e se pudesse comeria mais uma. Todos acham graça quando falam em uma roda de amigos — quando eu saia com o grupo de artistas de Chanyeol — que não tem problema sobrar, pois depois eu levaria para casa e comeria. Todos aplaudiam e gritavam quando eu conseguia virar um copo grande de Coca Cola e ainda comer um pizza grande sozinho. Mas depois que eu reclamava sobre eu ter engordado mais, todos me avisavam que eu não deveria ter feito aquilo ou comido aquilo outro. 

Todo mundo acha que não sofremos preconceito. Se ainda acha, vou fazer umas perguntas: 

1- Em uma entrevista de emprego para ser um secretário, por exemplo. Vão contratar uma mulher mais cheinha ou uma magra que não se cansa tão rapidamente por fazer mais tarefas? 

2- As estrelas de doramas, novelas em geral e filmes, são magros ou gordos? 

3- Quem vai à um shopping, entra em uma loja e vê que o olhar da vendedora não está sendo receptivo enquanto olha roupas? Magros ou gordos?

4- Quando pedem muita comida, quem foi? O gordo ou o magro? 

5- Quem conquista mais garotas/ garotos? O gordo ou magro? 

6- Existem mais piadas de gordos ou magros? 

Não é só essa batalha de gordos e magros, é sobre o ser humano. É o ser humano que julga, aponta, que rir e se acha superior apenas por ser uma coisa que outro não. Se vangloria por estar nos padrões. 

Em um ataque de revolta pelos meus pensamentos começo a quebrar meu quarto. Jogo tudo no chão, como se aquele gesto pudesse aliviar minha raiva interna comigo mesmo, Pego meus livros de contos, onde a princesa sempre vive feliz para sempre com o príncipe, todos magros e felizes em seu castelo, rasgo e amasso todas as folhas que deixam no imaginário que todo mundo tem o direito de ser feliz. 

— EU NÃO POSSO PORQUE SOU A MERDA DE UM GORDO! — Baekhyun pegava seu caderno de desenho e arrancava cada uma das páginas onde tinha desenhado momento felizes ao lado de Nam Joong. 

Eu só queria vingança. Eu só queria ver essas pessoas me pedirem desculpas por tudo o que tinham feito e falado comigo!! Eu só quero que as pessoas passem pelo o que eu passo para entender 1/3 do que eu passo. 

No dia seguinte, quando eu vi minha avó vindo nos vistar, eu tive um impulso. Pedi que meus pais me deixassem naquele ano ficar com ela, que eu precisava desse resto de ano de descanso, avisando que minhas notas eram suficientes para terminar aquele ano com a média. Eu só queria fugir... 

Fugir um tempo daquela realidade, não ter que encarar essas pessoas, ficar aquele tempo sozinho com meus pensamentos, arquitetando um jeito de voltar e mostrar para todos que eu posso ser diferente, que eu não só sou aquele garoto que apontam como o gordinho e assim me apelidam pelo resto dos dias. Eu queria fazer todos pagarem, pois eu voltaria diferente. 

— Pai, não arrume meu quarto. Quando eu voltar eu quero relembrar o motivo pelo qual que fui embora. — falei enquanto arrumava minhas malas para ir embora. 

⍥⍥⍥

— Chanyeol... — Lay bateu no braço do amigo, apontando para  a porta. — Aquele não é o Baekhyun? 

Todos tinham visto o chute que Baekhyun tinha dado na porta do ginásio. Chanyeol ficou de pé para enxergar melhor o que estava acontecendo na entrada sem que as cabeças tapassem sua visão. 

— Não... Não pode ser. — Chanyeol falou querendo que com sinceridade, aquela imagem que viu não fosse Byun Baekhyun.

Infelizmente ao reparar no sorriso irônico que ele abriu andando pelo ginásio, percebeu que aquele sorriso era longinquamente igual ao de Baekhyun, ao sorriso daquele Baekhyun que ele conhecia. Ele estava magro e deixava isso bastante claro com a blusa social um pouco aperta até metade do peito, deixando as clavículas expostas. Seus cabelos não eram mais do castanho que conhecia, estava com os fios pretos e seu rosto coberto por uma maquiagem, seus olhos demarcados pelo esfumaçado preto, estava com uma orelha recheada de brincos. 

Estava em uma posição desleixada e mascava um chiclete com preguiça. Chegou perto de Tommy, um inter cambista acima do peso que estava sentado e quieto esperando o diretor chegar, na primeira fileira. 

— Sai daí, gordo. — Baekhyun falou fazendo Chanyeol ficar completamente chocado, não acreditando que aquele à sua frente era seu amigo, ele nunca falaria alguma coisa assim. — Está ocupando que poderia ter duas pessoas como eu. Não vai sair? — revirou os olhos segurando o braço de Tommy o tirando a força, o fazendo chorar. — Vai chorar, bebê chorão? Chora... 

Todos estavam atônitos e passaram a cochichar sobre a volta de Baekhyun. Quando Chanyeol ia tomar a atitude de ir até o amigo, o diretor chegou falando para todos sentarem-se que iniciaria o discurso. 

Chanyeol não prestou atenção em nada do que falavam a sua volta e nem mesmo ao diretor que naquele dia estava falando para as paredes.  Ele só olhava para Baekhyun que estava com o pé em cima do degrau da arquibancada olhando para os lados sem prestar atenção em ninguém, mas sorrindo minimamente pelos comentários que ouvia ao seu lado a respeito de sua mudança. 

O coração de Park sentiu uma fincada ao ficar repassando a cena de Tommy em sua cabeça e não estava deixando seu cérebro ser lógico e falar: esse é o Baekhyun, seu amigo de 7 anos que antes estava na situação do Tommy. Ele teria que conversar com Baekhyun, teria que entender tudo aquilo, aquela quantidade de informações que não estava conseguindo digerir. 

Baekhyun estava em outra sala naquele ano e não tinha conseguido falar com ele, porque o coordenador de séries empurrou todos os alunos para suas respectivas salas. Teria que esperar até o intervalo, descobrir a sala de Baekhyun e conversar com ele. 

— O Baekhyun mudou muito. — Lay falou para Chanyeol, já que sentava ao lado do amigo e dava para cochichar com o amigo. — O colégio está uma confusão, estou até sabendo pelo grupo do colégio no Line que o Nam Joon ficou bastante interessado em relembrar a confissão dele do ano passado. Vamos assumir que ele está bem sexy mesmo. 

— Cale a boca e presta atenção na aula, Lay. — Chanyeol falou raivosamente voltando a focar para um espaço vazio do quadro. 

No intervalo, Chanyeol escutou rumores de que Baekhyun estava com Nam Joon no refeitório do colégio e assim como todo o bando que estava indo naquele direção, juntou-se a todos. A cantina estava lotada e todos filmavam aquele centro onde Nam Joon e Baekhyun estavam. Com sua altura e também raiva, abriu espaço entre as pessoas, ficando bem na frente. 

— Baekhyun! — Nam Joon falava impressionado. — É você mesmo? Está incrível! Eu não sabia que poderia ficar assim no ano passado. Acho que pisei na bola, não é? 

— Está gostando do que vê, não é Nam Joon? — Baekhyun começou a andar pelo círculo tendo uma pequena parada ao ver a figura de Chanyeol a observá-lo. — TODOS ESTÃO GOSTANDO!?  Todos gostam de pessoas magras, não é? 

— Sim!!! — gritaram em uníssono. 

Baekhyun subiu em uma das mesas da cantina chutando tudo em seu caminho, copos e bandejas. Estava sendo filmado por todos os celulares possíveis e estava escutando os gritos afinados das garotas da cantina pela atitude bad boy que estava tendo. Todos entraram em delírio quando Baekhyun abriu a camisa social em um piscar de olhos deixando a mostra seus ABS completamente sarado.  Os gritos aumentaram e Chanyeol não suportou ficar apenas olhando aquela cena e escutar o que Baekhyun disse: 

— Sei que gostaram, conheçam o novo Baekhyun! — Chanyeol subiu na cadeira e segurou o pulso de Baekhyun que tentou soltar-se do toque dele, mas a força de Chanyeol estava maior. — Me solta! 

— Eu não vou soltar e você! — apontou para o rosto de Baekhyun. — Vai vir comigo!