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História Universe and U - Capítulo 38


Escrita por: OhIsa

Capítulo 39 - Capítulo 38


— O que é isso? – Eu perguntei enquanto Alicia me olhava de maneira indecifrável.

— Eu não sei. - Ela apenas continuou a estender o envelope na minha direção e assim que eu o peguei, Alicia correu, entrou no quarto e me deixou sozinha lá.

Não era um grande envelope, não era pequeno também. Eu o olhei, não havia nada escrito. Parecia antigo. Um pouco gasto, como se tivesse sido manuseado demasiadamente. Eu abro o envelope e sinto meu centro gravitacional oscilar. É a letra da Jane. Eu suspiro. Não estou pronta para isso. Fecho o envelope, o coloco na gaveta da minha mesa de cabeceira e a fecho. Não estou pronta.

— Pois não? – Eu atendo a ligação inesperada.

— Senhorita Isles, um senhor chamado Korsak pediu para ser anunciado. – A voz monótona de alguém que não parece feliz com o próprio trabalho me surpreende.

— Tudo bem, diga que ele pode subir. – Não quero deixar Alicia sozinha, mas também não sei ao certo o que esperar, Korsak nunca fora de rodeios, sempre fora direto e eu sempre o admirei por isso.

Pouco depois, Korsak, um pouco mais velho do que eu lembrava-me e mais magro também, aparece na minha porta, ele usa uma calça cinza e uma camisa branca, a gravata sempre dando o toque final. Ele parece verdadeiramente feliz ao me ver.

— Maura. – Ele sorri.

— É muito bom te ver. – Eu sorrio e o convido para entrar. Realmente é muito bom vê-lo, me sinto levemente nostálgica com essa visita, uma pontada de tristeza também se instaura.

— Como você está? – Ele parece mais feliz do que antes.

— Bem e você?

— Eu estou ótimo, a vida é ótima. – Ele ri. – Eu estou indo buscar a Angela na casa da Jane.

— Oh. – A menção ao nome dela me deixa desconfortável, ele pôde notar, eu sei.

— Eu pensei em levar a pequena junto, ela não viu a avó fora do hospital e acho que seria muito bom para ela. – Eu não tenho tempo para considerar, Alicia abre a porta do quarto e junto com seu coelho de pelúcia e sua mochila rosa, ela carrega sua atitude. No auge dos seus sete anos, Alicia tem uma atitude extremamente parecida com a de Jane, um jeito irritante de o destino me fazer pensar em Jane com mais frequência do que eu gostaria.

— Vamos, vovô. – Ela pega a mão dele quando ele pega sua mochila. – Eu estou pronta.

— Alicia, eu ainda não decidi sobre isso. – Eu a olho de maneira séria e ela faz a mesma cara que ela sempre faz quando quer me convencer de algo. Um olhar similar ao de um filhote perdido e um bico engraçado.

— Por favor, maman?

— Tudo bem, mas não a traga muito tarde. – Eu cruzo os braços e eles se olham, cúmplices.

— Bem, eu estava pensando em talvez trazê-la amanhã. – Alicia junta as mãos, me implorando para que eu a deixe dormir fora. Ela nunca dormiu longe de mim, não desde que eu a adotei.

— Eu não acho que seja uma boa ideia. Não me sinto confortável com isso. – Coloco meus cabelos no lugar. – Alicia nunca dormiu longe de mim. Ela pode estranhar e...

— Se ela pedir para voltar, eu a trago. – Korsak tenta me tranquilizar, estranhamente, ele se parece muito com um avô ao vê-lo com Alicia. Eu nunca o imaginei dessa maneira antes.

— Eu vou ser boazinha. – Alicia sorri.

— Tudo bem, mas me ligue antes de dormir. – Eu a deixo ir, com os sentimentos confusos e uma vontade quase incontrolável de chorar a vejo dar a mão para ele e apertar o botão do elevador.

— Espera! – Ela volta correndo e eu abro a porta ao ouvir sua voz. - Je t'aime maman.

E essa é a primeira vez que Alicia me abraça. Não é um abraço doloroso, não é um abraço forçado, não se parece em nada com os outros abraços que ela me dera antes, esse é o abraço dela, o jeito dela de dizer que realmente me ama, é a primeira vez que ela me abraça de verdade. Ela não parece sentir-se desconfortável e não parece sentir nada além do amor que ela acaba de declarar. Eu a envolvo com a mesma delicadeza e me prendo a um dos momentos mais bonitos da minha vida.

Eu abro a garrafa de vinho, sirvo uma taça, a coloco sobre o apoio da banheira, tiro minha roupa e deixo meu corpo relaxar com a água morna da banheira. Pego a taça e bebo meu vinho preferido. A música toca ao fundo, lenta, delicada e harmoniosa. Pela primeira vez em anos, sou apenas eu, velas, vinho, música e uma banheira cheia de espumas. E no incrível agora, eu me sinto extremamente grata por Korsak ter levado Alicia para ficar com Angela, eu nunca parei para pensar, mas eu estou exausta. Sinto-me exausta há anos. Eu suspiro. Bebo outra taça. Ligo o aquecedor da hidromassagem e relaxo. Feliz por simplesmente relaxar. Eu suspiro. Abro o envelope. Bebo. Suspiro. Tomo coragem. Suspiro.

“Querida, Maura.

Você não sabe, mas é a quinta vez que eu escrevo para você. É a última também.

Nós tínhamos tudo. Nós tínhamos amor.

Eu cometi um erro e me arrependo todos os dias por esse erro. Eu me arrependo por ter deixado você partir, por ter permitido que você acreditasse que eu a traí, eu nunca faria isso com você. Eu simplesmente não poderia. As coisas não eram fáceis, mas eu amava o nosso difícil porque isso significava ter você na minha vida, eu não a tenho mais e isso é mais doloroso do que qualquer pessoa consegue imaginar.

Eu tentei desesperadamente fugir do que eu sinto por você, tentei sufocar cada pensamento, cada desejo, cada detalhe seu que insiste me estar presente em mim, mas de alguma forma tudo sempre me leva de volta a você. Isso acontece com uma frequência assustadora. Eu ainda a sinto aqui, não importa para onde eu vá, você está aqui. Você me tem sem me tocar. Me mantém sem me desejar e eu nunca desejei tanto algo quanto eu desejo me perder em você, sentir seu amor, sentir que você ainda me ama.

Eu pensei que o tempo resolveria. Pensei que sua ida para Paris seria o fim, mas eu ainda estou aqui, presa a tudo que eu sempre senti. Eu não quero ser absorvida pela vida que eu não vivi, mas algo sempre me leva a você e a tudo que poderíamos ter vivido, a casa com jardim que eu reformei, perto do rio, crianças correndo, minha mãe nos deixando louca, o trabalho nos consumindo, mas nada disso importaria, pois eu a teria. Você já me tem.

Eu continuo fingindo que estou bem. A minha confiança inabalada. Exatamente como eu deveria fingir. O tempo passou e eu aprendi a fingir tão bem que as pessoas deixaram de perguntar como eu estou. Eu finjo que sou forte, mas a verdade é que eu nunca estive tão frágil em toda a minha vida e tudo o que eu consigo pensar é em como você me amou quando eu fui frágil, mas pensava que era forte. Um dia você me amou. Entretanto, tudo desaparece em um instante e a realidade me atinge com tanta magnitude que eu me escondo para não desmoronar na frente de ninguém.

Eu vivo a constante realidade de me sentar sozinha no escuro, abraçar minhas pernas e reviver o dia em que tudo acabou. Tentando achar uma maneira de provar que você é tudo que eu quero, que você sempre foi e sempre será tudo para mim. Eu continuo aqui no chão. Deitada. Em silêncio. Com as lágrimas. E quando eu menos espero, seu cheiro está no ar, sua risada preenche o silêncio que grita dentro de mim. De alguma forma, tudo me leva a você.

Você está em tudo e em todos os lugares porque você continua em mim e eu continuo aqui enquanto você está milhas distante de mim.

Eu sempre prendo a respiração quando penso em você, eu sempre imagino como você está e toda vez que eu ouço o seu nome, eu procuro por você na multidão com um sorriso bobo nos lábios, mas você nunca está aqui. Eu sinto que estou despedaçada e que nunca conseguirei ser eu mesma novamente porque você é o melhor de mim. E eu tento não me desesperar, mas sei que estou perdendo essa luta.

As memórias me perseguem como uma sombra dolorosa e eu continuo apaixonada por você como no dia em que você me beijou pela primeira vez naquele elevador, em Boston. Eu ainda tenho os mesmos impulsos de protegê-la o tempo todo para que você não sofra, mesmo sabendo que eu a fiz sofrer.

Então essa é a última vez em que eu escreverei. Eu imagino que sua vida esteja ótima, imagino que você esteja feliz, desejo que esteja.

Imagino que estou abrindo os olhos e você ainda está aqui. Imagino que nada daquilo aconteceu, que você não fugiu. Que eu não a deixei partir. De repente tudo está ótimo. Eu imagino que você virá até a minha porta, baterá e me pedirá para entrar, que dirá que precisamos conversar e eu saberei que ali é o recomeço para nós. Só eu e você.

Essa é a última vez..

Sempre sua, para sempre.

Jane.”

Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia controlar. Meu corpo todo estava tremendo. Meu reflexos não funcionavam mais. Eu não evitava mais. Tudo que eu senti nos últimos anos, que eu sufoquei nos últimos anos, pareciam prestes a me enviar direto para um buraco negro. Eu estava me afogando em sentimentos.

Com um caleidoscópio de memórias, tudo parecia acontecer bem na minha frente outra vez, mas dessa vez eu era espectadora da minha própria vida, desde o dia em que Jane entrou em minha vida até o dia em que eu sai da vida dela e em uma grande epifania, eu me entreguei a verdade mais dolorosa que eu nunca admitira para mim mesma, eu sempre soube que Jane não havia me traído. Sempre soube que ela nunca faria isso comigo. Eu sempre soube.

Então por que eu fugi? Por que eu joguei tudo fora e fugi?

As perguntas, misturadas com o vinho, a dor, a saudade, a magnitude de tudo que Jane escrevera em sua carta, tudo me tirava a razão. Eu era pura emoção.

Sem pensar, me vesti, chamei um táxi e parei aqui, no endereço que apareceu quando eu pesquisei por ela no Google.

Exatamente como em sua carta, eu estou parada na frente da porta dela, pedindo para que Jane me deixe entrar, com a esperança de que ela me deixe falar. Com a esperança de que ela ainda sinta por mim tudo que eu sempre senti por ela. Com a esperança de que ela ainda me ame como eu a amo. Com a esperança de que nós iremos encontrar nosso caminho de volta uma para a outra.

 



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