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História Universo em Desequilíbrio - O grande plano


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 14 - O grande plano


Antes de entrar em seu quarto, ele digitou uma senha de dez números para abrir a porta de segurança. No interior, as luzes se acenderam e o computador ligou automaticamente. Por todos os lados, tinha peças de computadores, placas, componentes eletrônicos e outras parafernálias que ele usava em suas experiências. Também havia muitos projetos espalhados aqui e ali e também um especial no qual ele trabalhava há alguns meses e que seria o seu trampolim para a independência e vitória. Aquele ele guardava com muito cuidado juntamente com algumas amostras que já tinha feito.

Seu quarto se parecia com uma espécie de mini-laboratório, com vários aparelhos que ele tinha inventado ao longo da sua vida. Uns funcionavam, outros não. Embora não fosse um inventor do mesmo nível que o Franja, Cebola conseguia fazer algumas coisas bem interessantes e ele adorava tudo o que estava relacionado a tecnologia.

- Hum... eles já responderam ao e-mail... – ele falou consigo mesmo bastante satisfeito. Suas sugestões para o jogo tinham sido aceitas com grande entusiasmo e dentro de algumas horas, o depósito seria feito em sua conta.

Ele fez alguns cálculos e viu que o dinheiro ia dar para suas despesas daquele mês, que tirando a internet eram pequenas, e o restante ajudaria a financiar seu projeto. Mas por enquanto ele resolveu jogar um pouco para se distrair e também para ver se conseguia ter novas idéias para aquele jogo.

Não se tratava de um simples jogo e sim O JOGO, a última moda do momento e que estava se tornando popular entre todos os jovens do país. O jogo se passava em um lugar fictício chamado de Terália, um reino que ficava em um mundo distante e que era composto por diversas tribos com uma cultura rica e variada. As pessoas se cadastravam e se integravam a uma das tribos existentes, conforme o gosto de cada um.

O jogador precisava enfrentar desafios, realizar tarefas e encontrar tesouros a fim de acumular pontos e trocar por itens que iam desde roupas e acessórios até imóveis, veículos, armas ou qualquer outro item que a pessoa quisesse. Os pontos também podiam ser trocados por cargos importantes, alianças com os guerreiros mais fortes ou até por um lugar na corte do palácio. Cada um escolhia seu avatar e também interagia com os outros usuários fazendo acordos, alianças ou guerras. As pessoas podiam se transformar em comerciantes, guerreiros, nobres da corte, ministros, senhores feudais ou, dependendo do caso, ladrões e saqueadores. Os personagens interagiam uns com os outros e tudo era organizado de forma a dar um grande realismo ao jogo.

Era basicamente um second life com toques de magia, pitadas de histórias fantásticas e muitas aventuras. Inicialmente ele tinha começado como simples jogador. Depois de mandar muitos e-mails com idéias, a empresa dona do jogo acabou percebendo seu potencial e Cebola tinha sido contratado para fazer testes, dar sugestões, descobrir falhas e bugs. Além do mais, ele tinha evoluído naquele jogo a ponto de acabar ocupando o lugar de rei daquele país fictício. Com isso, vários desafiantes foram aparecendo e sua fama foi aumentando a ponto de atrair mais e mais usuários para aquele jogo.

Só para participar, ele ganhava uma boa comissão que apesar de não ter lhe tornado rico, lhe independência financeira suficiente para custear as próprias despesas sem ter que recorrer a pensão da sua mãe, que era usada exclusivamente para as despesas da casa.

- É... estão tentando invadir o palácio do rei de novo. Hahaha! Até parece que eu vou deixar alguém me tirar do trono! – Com algumas manobras, Cebola acabou derrotando seus inimigos e mantendo a supremacia do seu jogador. Ali era o único local do mundo onde ele podia ser alguém forte, destemido e respeitado. Ele não estava disposto a deixar que ninguém lhe tirasse do poder. Não sem uma boa luta.

Como ninguém conhecia sua identidade, seu personagem tinha se tornado quase uma figura mística, alvo de muitas especulações, fãs clubes, páginas, blogs e contas no Facebook. Se algum dia descobrissem quem ele era, ia ser um desastre. Além de perder seu trabalho, as zoações poderiam aumentar mais ainda. Se ele ainda fosse o dono da rua... não, ele não era. Não mais.

Seus dedos começaram a alisar sua cicatriz, fazendo-o se perder em lembranças.

Flashback

Ele tinha feito dez anos a poucas semanas. O dia estava tranqüilo e tudo parecia normal. Cebolinha, junto com os outros garotos, estavam reunidos no clubinho lendo revistinhas e conversando entre si.

- Ué, quando a Magali vai trazer aqueles doces? Eu tô com fome! – Cascão reclamou.
- Daqui a pouco. Eu malquei com ela dez e meia. – Cebolinha respondeu olhando um relógio velho pendurado na parede.

Xaveco levantou os olhos da revista e perguntou.

- Será que ela vai trazer mesmo? – Cascão também tinha outras preocupações.
- E será que vai dar pra todo mundo?
- Eu falei pla ela tlazer bastante! Se faltar um só, eu conto tudo pla mãe dela!

Os outros garotos iam perguntar do que Cebola estava falando quando ouviram uma batida na porta. Um deles foi atender e abriu uma pequena janelinha.

- É a Magali.
- Faz ela entlar!

A menina entrou segurando alguma coisa embrulhada em um pano e Cebolinha perguntou já com a boca cheia de água.

- Você tlouxe?
- Tá aqui. Agora promete que não vai contar pra ninguém? É um segredo!
- Clalo! Minha boca é um túmulo! Dá aqui!

Ele tomou o prato da mão dela e distribuiu para todos vários docinhos da padaria do Quim.

- Hum! Delícia! Eu podia comer uma montanha disso! – Cascão falou saboreando o seu. Ver os garotos comendo aquelas gostosuras que deviam ser para ela fez com que Magali lambesse os lábios. E eles comiam com uma cara tão boa!
- Tá olhando o que, aspilador de comida? Tá quelendo um?

Ela fez que sim e o garoto jogou em sua testa o papelzinho usado para embrulhar os doces e falou entre risos.

- Então come aí! Hahaha! – os outros caíram na risada e ao ver que ela não ia embora, ele perdeu a paciência. – Agola sai daqui! Esse clube é só pla meninos!
- Você não vai contar nada mesmo, vai? – ela quis saber mais uma vez só para confirmar. O cinco fios deu um sorrisinho cínico, que ela conhecia muito bem. No entanto, ele apenas falou.
- Pode ficar tlanquila! Eu plometo que não vou falar pla ninguém. Vai embola que você tá atlapalhando a gente!

A menina saiu dali suspirando de alivio, mas não sabia que ele não tinha terminado de brincar. Por que diabos ele foi fazer aquilo? Não teria sido muito melhor ficar quieto?

Anos depois, ele ainda se recriminava por ter sido tão idiota. Mas naquele tempo, com dez anos, ele não tinha maturidade para refletir sobre seus atos. Ao passar em frente a casa da Magali, ele não resistiu e escreveu várias coisas com giz que ele sempre levava nos bolsos, revelando seu segredo. Quem passasse por aí ia ver tudo, inclusive seus pais. E ela não ia ter como provar que tinha sido ele.

Só que algo deu errado. Mais tarde, quando ele estava jogando bola no campinho com os outros garotos, Magali apareceu com a pior cara possível.

- Seu mentiroso, você prometeu não falar nada!
- E eu não falei, pindalolas!
- Você escreveu no muro lá de casa!
- Ué, o tlato ela eu não falar, mas não tinha nada soble esclever, tinha? – os outros deram uma risada. – E sai daqui que a gente tá jogando!

Ela não respondeu mais nada e os garotos acabaram vendo que em sua mão tinha uma corrente de bicicleta, o que deixou todos nervosos.

- Ué, você come colente de bicicleta agola? Vixe! Você palece um avestluz mesmo! Daqui a pouco vai queler comer até gente!

A menina não disse nada, mas seu rosto se fechou e sem nenhum aviso prévio, foi para cima do Cebolinha lhe acertando várias vezes com aquela corrente, gritando furiosa.

- Me deixa em paz! Pára de mexer comigo! Páraaaaa!

Os outros garotos tentaram interferir e ela os golpeou também.

Ele ainda se lembrava daquela surra. Seu corpo tinha ficado marcado e cheio de hematomas. Uma brecha enorme tinha sido aberta em sua testa e o sangue jorrava em abundancia.

Quando finalmente parou, ele ainda a ouviu bradando para ele e para os outros.

- Quem mexer comigo vai ver só uma coisa! Vou bater sem dó!

Fim flashback

- E agora ninguém me respeita, que droga! – ele falou em voz alta também frustrado por ter se lembrado daquelas coisas novamente. Aquilo sempre insistia em invadir sua memória como uma música que não parava de tocar na sua cabeça. Depois de vê-lo apanhando de uma menina, os garotos não o respeitaram mais. Ele tinha perdido toda moral.

Antes, Cebolinha era o dono da rua e sempre se dava bem com seus planos infalíveis, sempre aprontando com todo mundo e saindo impune. Depois daquilo, seus amigos se afastaram por medo da Magali e seus desafetos aproveitaram para tripudiá-lo. Assim ele acabou se tornando o saco de pancadas da escola, já que todos o culpavam por Magali ter se tornado aquela peste. Só que aquilo ia acabar um dia.

Quando terminou de jogar, ele foi olhar seus planos e deu um largo sorriso. O plano era perfeito. Mesmo sabendo que ia levar alguns anos para ser colocado em pratica, ele tinha certeza de que o resultado era certo. Seus dias de humilhação iam acabar e ele se tornaria o homem mais poderoso e rico do mundo, com tudo e todos aos seus pés.

Nunca mais ninguém ia desafiá-lo novamente e ele ia mudar tudo o que estava errado, a começar pelos idiotas que o perseguiram e se voltaram contra ele. Magali ia ser a primeira da lista. Ele pretendia humilhá-la de todas as formas possíveis, deixando-a aos seus pés.

- Um dia todos vão me pagar, ah se vão! Eles não perdem por esperar!

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Seu duplo tinha um olhar tão frio e cruel que até o Cebola original ficou com medo.

- Cruz credo! Eu não sou assim não!
- Ainda bem! – Cascão falou também sentindo medo.
- Nossaaa! Parece que ele quer dominar o mundo! – Magali também falou.
- Ele é doido, isso sim! Eu também quero isso, mas não pra ficar me vingando de todo mundo!

Se no inicio ele estava com pena daquele rapaz, num instante Astronauta mudou de idéia. Pelo visto, os anos de humilhações não o tinham tornado uma pessoa melhor.

- E aí, crianças? Se divertindo muito? – Paradoxo falou aparecendo de novo.
- Cara, você não falou que meu duplo queria dominar o mundo e se vingar das pessoas! E que plano é aquele? Fala aí, vai! Eu quero saber!
- Ah, olhe só! Parece que sua mãe alternativa acordou e com fome! Vamos ver o que vai acontecer.

Eles continuaram acompanhando a rotina do rapaz, que depois de cuidar dos seus negócios precisou parar para atender ao chamado da sua mãe. Quando chegou a hora do lanche, mais uma vez ele ficou abismado ao ver o quanto o duplo da sua mãe comeu. Como ela conseguia comer tanto se não fazia exercício algum?

- Nossa! Será que eu era assim? – Magali perguntou também impressionada com o tanto que aquela mulher comia.
- Comia sim, é igualzinho! – Cascão respondeu também com os olhos arregalados e Magali fez uma careta de nojo só de imaginar a si mesma ingerindo aquela quantidade enorme de comida.

Na hora da janta, ela também comeu a mesma quantidade do que tinha comido na hora do almoço e voltou a se esparramar no sofá para ver a novela das oito.

- Eu heim! Ela não vai tomar banho não? – Cascão perguntou, fazendo com que todos olhassem para ele com cara de quem não estavam acreditando. – O que foi? Eu tomo banho agora, valeu? Bom, pelo menos umas três vezes por semana.

Eles tinham notado a mesma coisa. Ela só se levantava daquele sofá para ir ao banheiro porque não tinha como fazer ali mesmo. Do contrário, ela não iria a lugar algum. Cebola continuava alternando seu tempo entre os deveres escolares, as exigências da sua mãe e as tarefas de casa. Quando ela foi dormir, ele resolveu voltar a cuidar dos seus negócios.

Ao reparar no quarto do seu duplo, ele notou que o rapaz mexia muito com componentes eletrônicos e tecnologia. Ali parecia até uma versão reduzida e simplificada do laboratório do Franja e Cebola ficou imaginando se o seu duplo seria tão inteligente quanto seu amigo em questões de inventos.

Como ele tinha ficado tão inteligente? Onde teria aprendido aquelas coisas? De tanto pensar, Cebola acabou imaginando que as coelhadas da Mônica tinham comprometido suas habilidades cognitivas, o que não tinha acontecido com seu duplo. Sem coelhadas e mais inteligente, ele estava a poucos passos de conquistar o mundo e se tornar alguém muito poderoso.

Mas à medida que o tempo passava, o Cebola original começou a sentir uma coisa desagradável dentro de si ao notar que em momento algum tinham aparecido os duplos do seu pai e da sua irmã. Quando a mulher resolveu ir para a cama, ele viu que ela deitou-se sozinha e nem sinal do seu pai. Aquilo fez com que um gosto ruim aparecesse em sua boca.

- Peraí! Cadê meu pai e minha irmã? Por que eles não apareceram? Fala aí, vai! Heim? Cadê eles?
- Digamos que eles não pertencem mais aquele espaço-tempo.
- Como é que é?

Paradoxo olhou para ele com uma expressão bastante séria e falou de uma vez, sabendo que prolongar aquilo não ia adiantar de nada.  

- Acidente de carro.

Cebola perdeu a fala e continuou olhando para ele com os olhos arregalados. Todos ficaram em silêncio, olhando para o chão tentando disfarçar o próprio desconforto.

- A-acidente de carro? Como assim?
- Vocês saíram para viajar num feriado prolongado. Então houve um acidente.
- V-você q-quer dizer que... que... meu pai e minha irmã...
- Exato. Eles tiveram sua existência interrompida por causa do acidente. Isso aconteceu quando você tinha onze anos.
- Pô, cara... que chato... – Cascão tentou falar consolando o amigo, o que não adiantou. Cebola encostou na parede tentando segurar as lágrimas. Pelo visto, a morte da Mônica alternativa não tinha sido a única coisa atrapalhada naquele mundo.
- Talvez você devesse descansar um pouco. – Xabéu sugeriu preocupada com o abatimento do rapaz. Cebola não quis sair dali.
- Como isso aconteceu?
- Você ainda não está preparado para saber disso. Uma coisa de cada vez. – Paradoxo respondeu e voltou a olhar para o vídeo. Aquilo significava que ele não ia falar mais nada e não adiantava insistir.

Cebola acabou sentando-se no chão e ficou perdido em seus pensamentos. Como não queria falar com ninguém, os outros decidiram respeitar seu recolhimento e voltaram suas atenções para o monitor que continuava mostrando os acontecimentos daquele mundo. Por que tanta coisa ali estava dando errado?  

 


Notas Finais


Desculpem a demora, é que tinha umas coisas nesse capítulo que não estavam agradando e eu precisei mudar.
Vcs devem estar se perguntando como é que o Cebola tá falando direito. Depois eu explico, tá? Uma coisa de cada vez!


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