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História Universo em Desequilíbrio - Quem é o outro eu?


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 20 - Quem é o outro eu?



– Algum problema, querida? – sua mãe perguntou após dar uma garfada do seu almoço. – Você quase não tocou na sua comida.
– Nada não, mãe...
– Espero que você esteja progredindo no piano. Daqui a uns dias, vou querer ver você tocar.
– Eu também. – Seu pai falou. – Alguns clientes importantes estarão naquela festa e queremos ver você fazendo bonito!
– Pode deixar, vai dar tudo certo. – ela falou forçando um sorriso.

Aqueles dois pareciam muito preocupados com sua aparência e reputação. Eles não iam dar importância nenhuma ao sumiço de um celular velho e Mônica achou que devia resolver aquele problema de outra forma. Ela tentou ligar para o aparelho algumas vezes e ninguém atendeu. Claro, quem roubou não ia cometer esse erro.

“Se ao menos o Cebola estivesse aqui... quer dizer, o original! Ele ia bolar um bom plano pra dar um jeito nisso!”

Depois do almoço, seus pais foram trabalhar e ela foi para o piano tentar tocar alguma coisa. Seus dedos apertavam uma tecla aqui e ali sem nenhum interesse.

– Mônica, tem um colega seu da escola querendo falar com você. Manda entrar? – Durvalina perguntou.
– Pode mandar.

Um tempo depois, ela ouviu alguém lhe chamando.

– Oi, bela casa. – ela virou-se rapidamente e levou um susto ao ver Cebola na sua sala.
– Oi, que surpresa! Entra aí!
– Que piano bacana, você toca?
– É... mais ou menos. Eu tento, sei lá.
– Qualquer dia desses vou querer ouvir você tocar.
– Pode levar um tempinho. E aí? Você saiu mais cedo da escola hoje... algum problema com sua mãe?
– Minha mãe tá bem, preocupa não. Eu dei um jeito de sair mais cedo por causa disso aqui. – ele tirou um celular da mochila e o mostrou a Mônica.
– Ai não acredito! Meu celular! Como você conseguiu?

Ele contou toda a história, desde o telefonema falso de sua mãe, seu disfarce e quando enfrentou Magali cara a cara.

– E você fez tudo isso pra pegar meu celular de volta? Nem sei como agradecer! – ela o abraçou pelo pescoço, lhe dando um beijo estalado na bochecha. O rapaz ficou ali, meio abobalhado e com o rosto vermelho.

– Er... de nada, foi um plazer ajudar... espelo que tudo fique bem agola... agora... – ele se atrapalhou todo, trocando as letras e falando com dificuldade após ganhar o primeiro beijo de uma garota, ainda que tenha sido no rosto.
– Vai ficar sim. De hoje em diante, esse celular fica aqui em casa, não vou levar ele mais não.
– Melhor assim. Agora eu vou chegando porque minha mãe não gosta que eu me atrase pro almoço. Você sabe, coisa de mãe.
– Tá bom. Obrigada mais uma vez, valeu mesmo! Eu só queria perguntar uma coisa... por acaso você ligou o celular?
– Eu? Não. Quando peguei ele tava desligado e deixei assim. Fica tranqüila que eu não olhei nada.
– Obrigada então. A gente se vê amanhã.

Cebola saiu da casa dando um grande sorriso. Primeiro por ter ganhado um abraço e um beijo de uma garota tão bonita. Segundo, por ter tido aquela idéia brilhante. Se tivesse levado o celular para casa e devolvido só no dia seguinte, ela ia certamente desconfiar que ele tinha visto alguma coisa. Então ele teve a idéia de parar no meio do caminho, copiar tudo para seu tablet e devolver o celular no mesmo dia.

Claro que ele precisou contar uma pequena mentira, já que tinha sim ligado o celular. Mas pelo menos falou a verdade quando disse que não tinha olhado nada. E não tinha mesmo. Por enquanto.

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– Credo, já vi que seu duplo é bem cara de pau, viu? – Magali falou num tom de reprovação. – Ele mentiu na maior cara dura!
– Mentiu nada, só omitiu umas coisinhas aqui e ali! – Cebola tentou se justificar também surpreso com a facilidade com que seu duplo havia mentido. Pelo visto, aquele ali era bem mais inteligente do que aparentava.

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Quando fez o download das fotos e vídeos do tablet para o seu computador, Cebola não pensou que estava prestes a ter a maior surpresa de toda sua vida. Ele esperava qualquer coisa, como ver a Mônica sem roupa ou fazendo coisas mais quentes com algum rapaz, embora essa segunda opção não lhe agradasse tanto quanto a primeira. No entanto, o que ele viu lhe deixou totalmente em choque apesar de ser uma foto bem simples de quatro jovens sentados no banco de uma praça, tendo uma garota dentuça no meio que segurava o aparelho para bater a foto.

Sua cabeça dava voltas e ele sentia uma coisa estranha no estômago. Que diabos era aquilo? Alguma montagem? Não... aquela foto parecia de verdade. Ou não? Que loucura!

– Mas o que tá acontecendo aqui? – ele perguntou para si mesmo examinando cada detalhe daquela foto, especialmente o rosto do rapaz que tinha o cabelo espetado igual ao dele. Aliás, o rapaz se parecia muito com ele, apenas tendo uma pele mais corada e sem aquela cicatriz na testa.

Se fosse somente aquele sujeito, tudo bem. Seria uma estranha coincidência, mas não ia passar disso. No entanto, Cebola também viu que o outro rapaz se parecia demais com o Cascão. Ou era mesmo o Cascão? Não, ele estava limpo demais e usando roupas mais descontraídas. Mas o rosto, os olhos e os cabelos eram iguais. E aquela garota de aspecto meigo? Ela se parecia um bocado com a Magali.

Para tirar as dúvidas, ele resolveu olhar as outras fotos e quase caiu para trás ao ver que todas as pessoas eram parecidas com as que ele conhecia. Em uma foto, ele viu Cascão abraçado com Cascuda. Desde quando? Eles tinham terminado quando crianças e ela nunca mais quis saber dele. Em outra, aparecia Marina com... o Franja? Era mesmo o Franja? O cabelo estava muito diferente, mais parecido com o corte que ele usava quando criança e seu visual estava bem mais nerd .

Ele também não acreditou quando viu Denise usando roupas mais comportadas e de braços dados com Carmem. E acreditou menos ainda quando viu Magali comendo uma bomba de chocolate ao lado do Quim.

Havia muitas fotos naquele celular e ele foi olhando uma a uma. Em muitas, ele viu seu sósia e numa delas ele aparecia junto com uma garota dentuça. Aquela garota...

– Peraí... será que é a Mônica? Não pode ser, a Mônica não é dentuça! – os cabelos daquela moça eram bem diferentes, assim como aqueles dentes avantajados. No entanto, o olhar era exatamente o mesmo, com aqueles bonitos e expressivos olhos castanhos. Olhando melhor, ele até achou aquela garota mais bonita, talvez por ser mais natural e espontânea. Só restava saber se era mesmo a Mônica ou não.

Se no início ele pensou que as fotos eram montagens, suas dúvidas foram dissipadas quando ele viu os vídeos. Em um deles, uma voz chamou por Magali e aquela garota meiga de cabelos compridos atendeu. Então ela também se chamava Magali? Como aquilo era possível?

Aqueles jovens tinham os mesmos nomes, mas a aparência era muito diferente. Em um dos vídeos, apareceu o rapaz que se parecia com ele fazendo uma espécie de discurso.

– Eu, como novo imperador mundial, prometo trazer a paz para todo mundo e...
– Blé, Cebola, você tá afobadinho demais, viu? – uma voz que parecia ser da Mônica falou.
– Afobado nada, eu tenho que treinar muito bem pra quando dominar o mundo! Agora deixa eu terminar o meu discurso!

Também havia outro vídeo do Cascão praticando aquele esporte chamado parkour, outro das garotas cantando juntas e mais outro do Licurgo dando aula, onde ele subia em cima da mesa e falava aquelas maluquices de sempre.

– Muito bem, Cenoura! Se você tem vinte bolas de gude, a Mônica te dá quatro coelhadas e a Magali come cinco biscoitos, de que forma isso influencia na formação de ciclones no pacífico sul?

Se os outros vídeos o deixaram confuso, esse último quase fez sua cabeça explodir. Aquela era uma das salas do colégio, com o mesmo professor Licurgo dando suas aulas malucas e fazendo aquelas perguntas sem nexo para um rapaz muito parecido com ele a quem também chamavam de Cebola, embora o louco sempre o chamasse de Cenoura. Aquilo não fazia o menor sentido e por mais que pensasse, ele não conseguia encontrar nenhuma explicação lógica.

Como era possível aquelas pessoas serem parecidas com as que ele conhecia, ter os mesmos nomes, aparecer em lugares familiares e no entanto serem pessoas diferentes?

– Ai, que dor! – ele murmurou esfregando a cabeça e parou um pouco o que estava fazendo para tomar uma aspirina. Os chamados insistentes da sua mãe pedindo por comida também fizeram que ele desse uma pequena pausa. Talvez aquilo fosse novo demais e muito absurdo para o seu cérebro assimilar.

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Até Tonhão tremia de medo ao ouvir os berros furiosos de Magali que andava de um lado para outro falando palavrões, chutando tudo o que via pela frente e esbravejando feito louca.

– Eu não acredito que vocês deixaram aquele sujeito escapar, bando de imprestáveis! Cascão, você conhece isso aqui melhor que ninguém! Como é que você não conseguiu encontrar aquele idiota?
– Ele era rápido demais, foi mal.
– Eu também não vi ele em lugar nenhum. – Titi tentou se defender.
– Cala a boca que eu não tô falando com você! – ela esbravejou novamente e continuou chutando a lataria do trailer, que estava começando a ficar amassada tamanha era a raiva contida em cada chute.

Denise estava encolhida em um canto, rezando para que aquele mal humor passasse logo, o que era pouco provável. Geralmente levava dias para passar.

– Franja, Denise, tem certeza de que vocês não conhecem aquele cara?
– Absoluta. – Franja confirmou. – ele estava mascarado e eu nunca tinha ouvido aquela voz antes.
– Fala sério! Quem aquele imbecil pensa que é pra me desafiar desse jeito? Aposto que foi coisa daquela burguesinha filha duma quenga! Claro, vai ver ela desconfiou de mim e mandou aquele maluco pegar o celular de volta! Grrrr! Que ódio! – Outro chute foi desferido, afundando a lataria e assustando a todos.

Após dar vários chutes, Magali sentou-se um pouco e abriu uma lata de cerveja para se acalmar. De qualquer forma, não adiantava mesmo chorar sobre o leite derramado. Restava apenas descobrir quem tinha sido aquele idiota que invadiu seu território. Aquilo se tornou até mais importante do que se vingar da Mônica, já que a atitude dele foi claramente um desafio. Era preciso encontrá-lo e aplicar uma punição exemplar para mostrar a todo mundo que ninguém a desafiava sem sair impune.

O problema era descobrir sua identidade. Como ele estava de máscara, Magali não pode reconhecê-lo nem mesmo pela voz. Por mais que tentasse lembrar, ela não conseguia pensar em ninguém. Era uma voz meio grossa e ele falava com firmeza. Ele também era alto, tinha uma postura confiante e parecia bem forte e ágil.

– Hum... peraí! – de repente, ela pensou em alguém. Só havia uma única pessoa naquele colégio com coragem o bastante para lhe desafiar. – Desgraçado filho da puta! Ele vai ver só uma coisa, ah se vai!

Ela levantou-se de novo e atirou a lata de cerveja parcialmente cheia para longe.

– Eu vou arrebentar a cara daquele cretino! Não quero nem saber do titio delegado dele, não quero saber de mais nada! Ele vai aprender que comigo não se brinca!

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De volta ao seu quarto, Cebola pegou uma folha de papel e enumerou várias hipóteses e teorias. Clones, robôs, alienígenas e várias teorias que mesmo parecendo malucas, ele não as descartava. Nada parecia se encaixar.

– Meio lerdinho esse seu duplo, heim? – Zé Luis alfinetou. – Será que é tão difícil assim enxergar a verdade?
– Bah, não enche! Ele vai acabar descobrindo, você vai ver! – Cebola falou fazendo cara feia.
– Ô careca, você quer mesmo que ele descubra? Isso não vai dar rolo não?
– Vixe, é mesmo! Droga, o que vai acontecer se ele descobrir? – Paradoxo respondeu.
– Bem, só mesmo acompanhando para saber. Confesso que seu duplo está me surpreendendo um pouco. Não esperava que ele fosse descobrir tão rápido.
– Espere um momento! – Astronauta falou. – Então você sabia que ele ia descobrir sobre os universos paralelos?
– Por favor, comandante, não vamos estragar a surpresa, vamos? Olhem, parece que ele está pensando em alguma coisa.

Todos voltaram a acompanhar o Cebola alternativo, que tinha se levantado da mesa e ficou andando em círculos pelo quarto.

– Deixa eu pensar direito. Eles são parecidos com o pessoal daqui, mas tem uma aparência diferente. O meu sósia é mais corado, veste roupas legais e se dá bem com todo mundo. O sósia do Cascão anda limpo, com roupas asseadas e namora a Cascuda.

Ele coçou o queixo, tentando se lembrar de mais detalhes e voltou a falar consigo mesmo.

– A garota que se parece com Magali é meiga e comportada, a outra Denise é amiga da Carmem, Marina namora com o Franja... o local parece com o do bairro, mas não é esse bairro. Algumas coisas são diferentes. Hum... o que poderia explicar isso?

Talvez a alternativa mais fácil fosse perguntar para a Mônica. Talvez não. Era bem capaz de ela se fechar mais ainda e não falar nada. Ele tinha percebido que alem de geniosa, ela era teimosa também, então forçar não ia adiantar de nada. E sua sósia daquelas fotos também o deixava intrigado. A aparência das duas era diferente embora o olhar fosse o mesmo. Seria aquele o antigo bairro onde ela morava? Não, era parecido demais com o seu bairro, apesar de algumas coisas serem diferentes.

– Poxa vida, até parece aquela coisa de... de... espera um pouquinho só! Caramba, como eu não pensei nisso antes? – Ele faltou pouco pular de alegria ao pensar na única teoria que explicava toda aquela confusão. – Universos paralelos, é isso! Cara, isso é demais!

Por pouco ele não arrancou seus cabelos. Aquelas eram mesmo fotos de um universo alternativo? Um universo onde as pessoas eram parecidas com as que ele conhecia, porém com personalidades diferentes? Se fosse verdade, como diabos a Mônica teria conseguido aquelas fotos? Como ela pode acessar esse outro universo? Ela não parecia ser do tipo cientista. De que jeito aquelas fotos foram parar no celular dela?

Cebola deu mais uma olhada no restante do conteúdo, que eram várias músicas que ele também tinha copiado. Ele reparou que algumas eram parecidas com as que ele conhecia, porém com várias diferenças nas letras e no arranjo dos instrumentos apesar de serem cantadas pelas mesmas bandas. Aquilo só reforçava ainda mais sua teoria.

Quais seriam as implicações daquilo? Ele voltou a olhar para a foto do seu duplo e viu que ele parecia ter uma vida melhor do que a sua. Quem diria... em várias fotos, os quatro apareciam juntos e felizes, indicando que eram os melhores amigos. Era mesmo possível ele ser amigo da Magali? Do Cascão sim porque os dois eram ótimos amigos na infância, mas ver seu duplo tão tranqüilo e a vontade perto da Magali do outro mundo lhe causava bastante estranheza. E, claro, também tinha o duplo da Mônica.

– Que coisa... eles parecem bem felizes. Por que eles são assim e nós não? Por que meu duplo tem uma vida tão boa e eu vivo nesse inferno? Tem alguma coisa nesse mundo alternativo que nesse aqui não tem e eu vou descobrir!

Mesmo não sabendo como, ele pretendia investigar começando pela Mônica. Se ela tinha aquele celular, então devia ter outras informações também, até mais detalhadas. Faltava traçar planos e estratégias para conseguir as informações que desejava.

Olhando novamente a foto onde seu duplo aparece com o duplo da Mônica, abraçados e felizes, Cebola deu um sorriso. Talvez aquela fosse a primeira diferença entre eles.

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Cascão dobrava de rir apesar da cara feia do Cebola.

– Fala sério, aquele ali tá achando que VOCÊ é o duplo dele! Hahaha!

Magali também dava risadas, assim como Xabéu, Zé Luis e até Astronauta dava um sorriso discreto com o canto da boca. Eles tinham que admitir que aquela situação era bem inusitada.

– Ele não sabe de nada e fica pensando besteira! Eu ser o duplo dele? Daquele bobalhão? Fala sério! Por que esse mané não entende que o duplo aqui é ele?
– Sabe, cada mundo paralelo tem uma particularidade interessante. – Paradoxo explicou - Seus habitantes também acreditam na teoria de múltiplos universos, mas cada um pensa que seu mundo é o original que os outros são alternativos. Não é engraçado?
– Putz! Agora minha cabeça deu um nó! – Cascão falou ficando meio vesgo e com a língua de fora. – Nós também pensamos isso! Quem garante que esse mundo é mesmo o original e não um paralelo? Que complicado véi!

 

 

 



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