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História Unkind Fate - Some days


Escrita por: Mikan_

Notas do Autor


Olá
Antes de qualquer um de vocês partirem para a one shot, eu tenho coisas super importantes para dizer.
Essa fanfic trata de um tema bem sério, no caso, transsexualidade e aids.
Quero deixar claro que eu não quis ofender ninguém com isso, de forma alguma.
Eu respeito qualquer tipo de pessoa, minha intenção aqui é só contar uma história.
Gente, por favor, não leiam se vocês não se sentem confortáveis com tais assuntos, sério.
Espero que vocês entendam a real mensagem da fanfic, vejo vocês nas notas finais!

Capítulo 1 - Some days


 

Trembling, crawling across my skin

Feeling your cold dead eyes

Stealing the life of mine

I believe in you

I can show you that

I can see right through all your empty lies

I won't last long, in this world so wrong.

 

 

 

Jinny era só mais uma, gostava de dizer que nunca fora única em nada. Prostituía-se desde os quinze anos, quando ainda usava o nome de Kim Jinhwan; mandou-o embora com o dinheiro que conseguiu, mas isso também rendeu-lhe uma briga com sua família, expulsaram-na, chamaram-na de desonrada, desrespeitosa, pecadora.

Contudo, não importava-se realmente, nenhum daqueles que possuíam o mesmo sangue que si jamais souberam como era para ela; eles não davam a miníma, então decidiu fazer o mesmo.

Voltou ao ramo antigo, sem mais opções e recomeçou sua vida; era adorada por todos que tinham o prazer de ganhar uma noite ao seu lado, havia um grande preço para conseguir tal coisa; o chefe de Jinny adorava-a, ele não era uma pessoa boa, de modo algum, mas se precisava usá-lo para continuar lucrando, faria sem problemas, mesmo que sentisse a injustiça por trás daquilo. Afinal, tinha batalhado por anos para que se tornasse uma mulher por completo para no final, acabar daquele modo deplorável. Tinha nojo de qualquer um que tocava-a, fosse jovem, velho ou até alguma mulher; não queria que marcassem aquele corpo que demorou tanto para conseguir, era péssimo.

Entretanto, se negasse seria ainda pior.

Fizera-o apenas uma vez e acabou por passar o resto do mês usando o dobro de maquiagem para cobrir os rastros, além de não receber de nenhum de seus clientes.

 

—Jinny, está pronta?-Apenas ouvir aquela voz dava-lhe náuseas. Ele se aproximava novamente, enroscava os dedos em seus fios loiros, afastando-os de seu pescoço e beijava sua pele. Jinny fechava os olhos, rezando para aquele ser desprezível apenas cansar-se dela.

 

—Você já tem um cliente, meu bem. É uma pena.-Sussurrou rente a sua orelha, causando-lhe um arrepio horrível.

 

Era como se as noites em que havia abusado dela ecoassem em sua cabeça, trazendo de volta todos os seus gritos por socorro que foram ignorados. A loira levantou-se, pegando sua bolsa, sorriu falso para o chefe enquanto puxava para baixo o vestido curto e justo.

 

—É uma pena mesmo.-Não fazia muita questão de disfarçar o que sentia por ele.

 

Ele sabia e gostava.

A moça saiu da sala, tentando controlar sua respiração enquanto passava um pouco mais de perfume. Quando chegou a "recepção" assustou-se em ver o rapaz jovem ali.

 

—Eu te disse pra não voltar, não?-O moreno virou-se para ela, sorrindo de canto.

 

—E eu te disse que voltaria, não é?-Jinny revirou os olhos.

 

Koo Junhoe era o jovem atrevido que havia pago por Jinny mais de uma vez em apenas uma semana, ele não vinha até ela atrás apenas de sexo. Ele fazia-a sentir-se bem e isso deixava-a irritada, queria que ele apenas deixasse-a para lá ou tratasse-a como uma qualquer; nenhum cliente jamais fizera-a ficar apenas pela sua companhia, mas ele fazia.

 

—Vamos logo.-A moça suspirou alto, saindo primeiro enquanto praguejava baixinho.

 

—Meu carro está um pouco longe daqui, se importa em andar?-Jinny negou com a cabeça, apesar de já estar sentindo o quanto seus pés doeriam.

 

Ossos do ofício, era um tanto mais baixa que as outras garotas e todas deveriam parecer perfeitas. Portanto, o salto agulha em seus pés era extremamente necessário e doloroso. A loira parou seus passos quando Junhoe pegou em sua mão.

 

—Você é um cara estranho, huh?-Comentou, pegando um cigarro em sua bolsa, acendendo-o em seguida.-Quem paga prostitutas para andar de mãos dadas?-O rapaz gargalhou.

 

—Você tem um ótimo argumento, mas só estou segurando na sua mão pois vi o quão difícil é para você andar com isso.-Apontou para os pés da moça, recebendo uma risada seca como resposta.

 

—Se eu fosse mais alta não seriam necessários.-Soprou a fumaça, observando-a flutuar para longe

 

—Se você fosse mais alta, não teria te escolhido.-Retrucou o moreno, sorrindo para ela.

 

—Oh, céus, eu deveria mesmo ser mais alta!-Tragou o cigarro escutando a risada dele.

“Cara estranho” pensou, segurando um sorriso.

 

 

 

×

 

 

 

Jinny sempre odiou admitir para si mesma o quanto aquele garoto fazia-lhe sentir-se protegida, ela nem mesmo admitia ter medo, mas Jinny tinha medo, era inevitável; nunca sabia o que fariam com ela.

Ah, já haviam feito tantas coisas...

Contudo, Junhoe não era assim. Ele pagava mais para trazê-la apenas no dia seguinte, passavam horas conversando, era como se ele enxergasse além do objeto que a loira acreditava ter se tornado.

 

—Eu pedi pizza, espero que você não se importe, mas eu sou péssimo cozinhando.-Riu fraco, enquanto procurava por alguma camisa sua que ela pudesse vestir.

 

Grande parte delas estava suja, Junhoe não tinha muito tempo para cuidar daquele tipo de coisa.

 

—Eu gosto de pizza.-Concordou, sorrindo minimamente, já que ele não olhava-a.-Não se preocupe em achar algo para mim vestir, eu posso colocar meu vestido.-Levantou-se, procurando pelo tal.

 

—O que? Aquela coisa desconfortável? Nem pensar!-Exclamou quando finalmente achou a camisa, era três vezes maior que a moça, mas com certeza melhor do que o vestido que ela usava antes.

 

Jinny virou-se surpresa, vendo que ele vinha em sua direção com a roupa pronta para que vestisse e ficara ainda mais surpresa quando ele vestiu-a, para depois acariciar-lhe a bochecha e sorrir para si.

 

—Melhor assim.-Disse baixinho, beijando-a em seguida.

 

A moça estava surpresa, pensou que jamais sentiria o que era um beijo carinhoso novamente. Porém, lá estava ela com os braços ao redor do pescoço de Junhoe enquanto ele tinha os seus em sua cintura. A campainha fez com que separassem-se, Jinny assistiu o rapaz andar até a porta; sentiu-se estranha, não queria ter gostado daquele beijo, tampouco queria acreditar que ele estava mesmo sendo tão legal consigo sem querer nada em troca. Estava esperando por um pedido absurdo, algo que teria que fazer por alguns trocados a mais.

Junhoe deixou a pizza sobre o balcão da cozinha e chamou a moça, sorrindo para ela.

—Você faz isso com todas as que traz aqui? Uau, você deve mesmo ser rico.-Jinny poderia gostar de estar na compainha dele, mas nunca deixaria sua personalidade forte de lado. Facilitava quando tudo apenas acabava.

 

—Só deixo passar porquê está adorável com essa camisa.-Falou, pegando um pedaço da pizza para si.

 

—Eu nunca deveria ter aceitado vir aqui de novo.-Jinny murmurou, mordendo seu pedaço de pizza antes que aquele maldito sorriso escapasse para seus lábios.

 

 

 

×

 

 

 

Jinny esteve absurdamente mal por algumas semanas e, com medo de perder uma de suas maiores fontes de renda, seu chefe levou-a á um hospital. Depois de passar por tantos exames, a loira esperava que lhe dissessem que tinha apenas uma intoxicação alimentar, não queria estar doente, mas o que disseram-lhe foi pior do que qualquer notícia, foi pior do que ser expulsa de casa.

 

—Kim Jinhwan, após os exames descobrimos que é soropositivo, portanto precisaremos fazer mais alguns exames para determinar se o senhor possui Aids.-O doutor olhou com pena para o rapaz a sua frente, ele tremia, mas fazia-se de forte perante a seu acompanhante.

 

Seus olhos nem mesmo lacrimejaram, pelo contrário, ele sorriu para o doutor, surpreendendo-o ainda mais.

 

—Tudo bem, eu voltarei.-Pegou sua bolsa, arrumando o vestido e levantando-se.

 

Saiu dali de cabeça erguida e coração quebrado, vomitara na primeira lixeira que viu. Estava destruída e ainda tinha seu chefe na sua cola, enchendo-a de perguntas que não poderia responder mesmo se soubesse como fazê-lo.

 

—Jinny, você não pode estar doente!-Agarrou-a pelos braços, segurando tão forte que as unhas curtas perfuraram a pele branca.

 

Jinny estava séria, não dissera uma palavra, pois sabia o que viria depois daquilo. Ele espancou-a, atrás da resposta; era só um homem cuja a mente já estava perdida, imersa entre o real e o irreal. A loira não o perdoava por aquilo, mas não tinha a menor escolha, preferia ser espancada a ser estuprada novamente, já não tinha mais voz para gritar tentando impedir aquilo.

Ao menos, aquele ser desprezível tirara-lhe do "cardápio" daquela noite. O que deixou Junhoe intrigado, ela estava disponível em todas as noites, o que havia acontecido? Assim que deixou aquele lugar, sentiu o cheiro da fumaça dos cigarros dela. Jinny estava sentada num canto isolado, vestida com roupas confortáveis e fumando; seus olhos encaravam o céu enquanto as palavras do doutor se repetiam em sua cabeça.

 

—Jinny?-A moça virou-se, revirando os olhos ao ver Junhoe ali.

 

Ele, por outro lado, mostrou-se surpreso com o estado dela: o olho esquerdo inchado e roxo, a boca suja de sangue seco e as bochechas ainda tinham as marcas avermelhadas dos nós dos dedos de seu chefe.

 

—Você é grudento mesmo, pirralho.-Resmungou, tragando o cigarro.

 

—O que aconteceu com você?-Sentou-se do lado da moça.

 

—Coisas do trabalho, eu não estou disponível hoje, volte amanhã.-Soprou a fumaça para cima, encarando o céu. Não queria olhar para ele, pois sabia que olharia-a com pena.

 

—Jinny...-A moça interrompeu-o novamente, dessa vez olhando-o nos olhos para dizer-lhe:-Vá arranjar o que fazer, pirralho!

 

Levantou-se, abrindo a porta atrás de si para que pudesse voltar para seu quarto. Arrastava os chinelos pelo chão, como as lágrimas arrastavam-se por suas bochechas, continuava tragando o cigarro, mesmo que fosse proibida de fumar ali dentro. Jogou-se em sua cama, atirando o cigarro pela janela.

Estou mesmo acabada, huh?-Murmurou para si mesma, sentindo-se irritada.

 

 

 

×

 

 

 

Não teve abraço amigo, palavras gentis ou qualquer minimo gesto de humanidade. Num momento tão difícil quanto aquele, onde descobrira que morreria em breve e que tinha mesmo Aids, não houve ninguém para acalmá-la. Estava mais magra e ainda cumpria com sua função, gastando o salário em bebidas no lugar de tratar-se; Junhoe ainda tentara pedir por sua companhia, mas Jinny estava fraca demais para aguentar tantos compromissos numa noite só. Entretanto, naquele dia em especial, o moreno chegou cedo decidido a comprar o resto da noite ao lado da moça.

 

—Jinny, você está bem mesmo para atender aquele cliente?-Hwanhee perguntou-a, a loira havia acabado de vomitar pela quarta vez em menos de cinco horas.

 

—É o meu trabalho.-Sorriu, limpando a boca. Saiu num andar tortuoso, odiando aqueles saltos ainda mais, mas não mais do que odiou vê-lo ali, sorrindo como sempre.

 

—Troque de roupa, coloque algo mais confortável que isso.-Sussurrou perto de sua orelha, olhando-a nos olhos.

 

Como parte de seu trabalho, a moça obedeceu o pedido e assim que trocou suas roupas voltou a recepção. Junhoe sorriu novamente para ela e, pela primeira vez, estendeu-lhe a mão na frente das outras moças que ali trabalhavam; Jinny entrelaçou seus dedos aos dele, se sentindo estranha com toda a atenção que ganhavam.

 

—Estava pensando em comer alguma coisa, o que me diz?-Disse o moreno, enquanto calmamente caminhavam até seu carro.

 

—Você continua estranho, sabe que o serviço de acompanhantes não é exatamente o que eu faço, não?-Retrucou a loira sorrindo, nunca deixava um sorriso sequer escapar diante dos olhos de Koo Junhoe, mas naquele dia apenas decidiu que agiria como verdadeiramente era.

 

—Abra uma exceção para mim.-Abriu a porta do veículo para moça.

 

—Pague a conta e eu posso pensar.-Disse divertida, entrando no carro.

 

—Trato feito.-Junhoe sorriu novamente, dando a volta no veículo depois de fechar a porta.

 

 

 

×

 

 

 

Depois de comerem, Junhoe levou Jinny para sua casa, onde ficaram jogando conversa fora.

 

—Todas sempre me perguntam se você me maltrata porquê só me traz de volta de manhã.-Comentou a loira, tomando um pouco de sua água e torcendo para aquele enjoo sumir.

 

—E o que você responde?-Questionou, curioso.

 

—Você é o meu melhor cliente.-Disse meio baixo, com um sorriso sincero enfeitando o rosto.

 

Junhoe sentiu-se um tanto quanto envergonhado com a afirmação repentina da moça, tendo como única reação beijá-la. Entretanto, aquela não fora a melhor opção; Jinny estava com medo do próprio corpo, sabia que não o infectaria apenas com aquilo, mas não se tratava apenas de infectá-lo ou não. Tratava-se daquele frio na barriga, das bochechas queimando e o coração acelerado.

Nada bom...

A loira afastou-o, mantendo as mãos sobre seu peito. Estava chorando, o que diabos era aquilo?.

 

—Junhoe, por que você me beija como se me ama... Gostasse de mim?-Sua voz saía trêmula, mas os olhos encaravam os dele firmemente.

 

—Que besteiras você está dizendo? Não é como se eu gostasse de você.-Ela encarou-o com tristeza, não havia surpresas para alguém de seu ramo, mesmo quando ele carinhosamente limpou suas lágrimas, a loira não mudou suas expressões.-Eu gosto de você Jinny!-Beijou-a novamente, deixando-a estática.

 

—Não faça isso comigo.-Murmurou entre o beijo, afastando-o de novo-Eu estou saindo do ramo, sabe?-Os braços aumentaram o aperto em sua cintura, deixando-a ainda mais mal.

 

—Isso é ótimo! Eu estava pensando em pedir-lhe para morar comigo.-Aqueles olhos brilhando pareciam veneno para a mente de Jinny.

 

—Com ramo eu quero dizer vida, Junhoe.-O rapaz fitou-a confuso, destruindo sua coragem-Eu estou morrendo, pirralho.-Riu seca, mordendo os lábios com força.

 

—Jinny...-Sua boca abria diversas vezes, mas as palavras apenas tinham desaparecido de sua mente.

 

—Quanto eu te devo? Não posso cumprir com o resto do trabalho.-Levantou-se, sentindo sua cabeça doer.

 

—Não me deve nada, não foi para isso que eu te chamei.-O moreno ainda tentava digerir tudo o que estava acontecendo-Não há uma cura para o que você tem?-Perguntou, num fio de voz, vendo a loira sorrir.

 

—Eu não quero uma.-Levou sua mão até a dele, segurando-a.-Olhe, você não precisa ficar assim, isto é um favor para mim.-Sorriu novamente, sentindo o peito arder.-Apenas não...-O rapaz interrompeu-a com um beijo profundo.

 

—Não diga para mim não procurá-la.-Acariciou o rosto da moça.-Eu pagarei por todas as noites que você ainda tem, esteja lá para mim e eu farei o mesmo por você.-Encostou a testa na dela, nem sabia o porquê de estar sugerindo aquelas loucuras, em breve seu saldo bancário estaria no negativo, mas não queria soltar daquela mão, não queria deixá-la ir.

 

—Você é mesmo estranho, pirralho.-Abraçou-o, soltando as lágrimas que vinha prendendo por anos.-Obrigada.-Sussurrou, apertando-o.

 

 

 

×

 

 

 

Jinny demitiu-se no dia seguinte, recebendo ameaças de morte deixou o lugar gargalhando alto; não deixaria Junhoe perder seu dinheiro quando sabia que podia evitar aquilo.

 

—Faça o que quiser, Bae! Eu vou morrer de qualquer jeito.-Berrou, quando saiu dali. Estava livre, mas não estava feliz; seu estado estava péssimo, tanto que até sua pequena bagagem parecia ter o peso de todo mundo.

 

—Junhoe.-Sorriu ao vê-lo encostado no próprio carro, mexendo em seu celular.-Sabe de uma coisa? Eu acho que vai chover e eu adoraria caminhar na chuva com você.-O moreno sorriu de volta.

 

—Que bom que pensamos igual.-Enlaçou a cintura da moça, beijando-lhe rapidamente.-Passamos em casa e então caminharemos o quanto você quiser, feito?-Jinny assentiu, sorrindo feliz como não fazia há anos.

 

No caminho, a moça passou a sentir náuseas insuportáveis as quais tentava a todo custo disfarçar, mas Junhoe já havia visto, mantinha-se calado pois sabia que ela ficaria desconfortável.

 

—Jinny, alguém alguma vez já te carregou no colo?-Estacionou o carro na frente de seu prédio.

 

—Minha mãe conta?-Retrucou, fazendo-o rir.

 

—Certo, presumo que hoje será um dia cheio de novas experiências.-Sorriu, abrindo sua porta.

 

Caminhou até o outro lado do carro e, como de costume, abriu a porta para a moça, com um breve diferencial: dessa vez ela saíra do carro em seus braços. Jinny soltara uma gargalhada gostosa ao assimilar a pergunta que ele havia feito com o acontecimento. Abraçou-o pelo pescoço e deitou sua cabeça no ombro dele.

 

—Você é o melhor, pirralho.-Murmurou, estava se sentindo cansada naqueles últimos dias.

 

Mas Junhoe recarregava todas as suas energias quando devolvia-lhe a inocência que a muito fora roubada de si, estar com ele mudava completamente seu humor.

 

 

 

×

 

 

 

Quando a chuva começara a cair, os dois já caminhavam há alguns minutos. Suas mãos estavam unidas e pareciam absurdamente felizes em estarem sendo encharcados aos poucos pela chuva; mesmo quando esta tornara-se mais forte, ambos ainda sorriam um para o outro. Junhoe tentou dizer a moça para voltarem para casa, pois apesar de estar adorando vê-la sorrir, ainda estava preocupado com sua condição e, madura como sempre, Jinny fingiu não escutá-lo, sorrindo travessa.

 

—O que disse!? Está chovendo forte demais, não consigo ouvi-lo!-Junhoe revirou os olhos, aproximando os lábios da orelha dela.

 

—Vamos embora!-Disse, fazendo-a rir.

 

—Eu estou me divertindo, me dê mais alguns minutos.-Pediu, dificultando a situação do moreno.-Junhoe, vamos apostar uma corrida?-O rapaz mal teve tempo para raciocinar e Jinny já havia tirado seus sapatos e corria rindo alto.-Se me pegar podemos ir para casa!-Desafiou, olhando para trás com um sorriso largo no rosto.

 

Sem mais opções, Junhoe correu atrás da moça, alcançando-a sem problemas; seus braços contornaram a cintura magra, erguendo a moça do chão enquanto ela ria animada. O moreno colocou-a novamente no chão, apenas para virá-la para si.

 

—Eu sempre quis beijar alguém na chuva.-Jinny disse, ainda sorrindo.

 

—Estou qualificado para o papel?-Acariciou-lhe os cabelos, sorrindo junto dela.

 

Sempre está.-Sussurrou, tendo seus lábios tomados no instante seguinte.

 

Beijar alguém na chuva era tão comum quanto fazê-lo sem ela, mas tornara-se especial por ser Koo Junhoe ali junto dela.

 

 

 

×

 

 

 

Depois de tomarem banho, Junhoe começou a agir um tanto estranho; a intenção de seus beijos havia mudado e, mesmo sabendo que aquilo resultaria em algo ruim, a loira não conseguiu evitar. Não conseguia empurrá-lo para longe de si, queria aquilo. Tinha saudade de tê-lo para ela, ainda que soubesse que aquilo não aconteceria novamente.

Nunca mais...

Suas pernas estavam em volta da cintura do moreno, enquanto beijavam-se caminhava trombando nos móveis, guiando-os até seu quarto. Jinny ainda correspondia-o a altura, enroscando seus dedos no cabelo dele e aprofundando o beijo da forma que queria. Logo estavam na cama do rapaz, trocando um beijo ainda mais quente e necessitado; as mãos dele já desciam para a calcinha da moça quando ela separou aquele beijo, tinha os olhos tristes e negava com a cabeça silenciosamente.

 

—Jinny? Não se sente bem?-Perguntou, ofegante.

 

—Nós não podemos, Junhoe.-Sentou-se na cama, ainda negando com a cabeça.

 

—Não se importe, eu posso esperar.-Ela novamente negou, deixando-o confuso.

 

—Nós nunca poderemos, eu nunca poderei.-Segurou o rosto dele com ambas as mãos.-Eu não tenho o direito de te levar comigo, por favor não tente mais isso.-A voz novamente tremulava, quebrando o coração do rapaz.

 

—Isso quer dizer que a doença que voc...-A moça tampou a boca de Junhoe, negando diversas vezes com a cabeça.

 

—Não diga, por favor não.-As lágrimas rolaram por seu rosto, ela continuou a negar com a cabeça mesmo quando fora abraçada.-Me perdoe, Junhoe.-Sussurrou, sentindo-se culpada.

 

—Tudo bem, Jinny. Você não tem culpa alguma.-Beijou-lhe os cabelos, sem soltá-la.

 

Não queria que ela visse suas lágrimas.

 

 

 

×

 

 

 

Jinny olhava-se no espelho, pensava estar parecendo um monstro. Suas bochechas tornaram-se inexistentes, os olhos eram fundos e tinham enormes bolsas negras, os lábios estavam sempre sem cor e rachados; seu corpo também estava uma droga, era como se toda sua carne tivesse simplesmente desaparecido. Admirava a coragem de Junhoe de ainda olhá-la com o mesmo olhar carinhoso, estava se achando tão feia!

 

—Junhoe, você já pensou em se casar?-O moreno fora pego de surpresa, acabando por engasgar-se com o café que tomava.-Acho que isso responde a pergunta.-Murmurou.

 

—E quanto a você, já pensou em se casar, Jinny?-Disse ao recompor-se.

 

—Sim, com você.-O rapaz novamente engasgava-se, fazendo a loira gargalhar.-Foi só uma brincadeira, se acalme.-Disse entre risos. Junhoe encarou-a emburrado e a moça foi até si, ainda sorrindo, abraçou-o de lado, aproveitando que ele estava sentado, e acariciou seus cabelos.

 

—Talvez tenha um pouco de verdade, se isso te fizer sorrir.-Disse baixinho, assustando-se quando Junhoe puxou-a pela cintura, fazendo-a se sentar em seu colo.

 

—Agora que eu estou sorrindo, posso ter a honra de beijá-la?-Jinny gargalhou, incrédula com o quão bobo ele era. Ainda assim assentiu. Beijar Junhoe era proposta irrecusável.

 

—Ainda quer se casar comigo?-Perguntou, olhando-a nos olhos.

 

—Agora!?-Ela riu.

 

—Por que não? Estamos até mesmo vestidos para a ocasião! Você está de branco e eu de preto, não há momento melhor.-Sorriu sendo agraciado pela risada amável da loira.

 

—Yah, eu estou usando uma camisa sua e você está de pijama!-Argumentou, rindo.

 

—Isso realmente importa?-Perguntou, sorrindo quando Jinny negou com a cabeça.

 

—Sempre achei a sua varanda um ótimo lugar para casar.-Comentou, acariciando-lhe o rosto.

 

—Eu tenho alguns anéis.-A moça riu, deitando a cabeça sobre o ombro do rapaz.

 

—Vai mesmo casar comigo?-Sussurrou, mexendo na gola da camisa dele.

 

—Se você quiser, então eu irei.-Sorriu, gostava de quando a loira soltava-se em seus braços e deixava-o abraçá-la forte.

 

—Espero que algum anel sirva no meu dedo.-Jinny voltou a encará-lo, sorrindo junto dele.

 

Junhoe pôs-se de pé, com a moça em seus braços, então caminhou até seu quarto. Achou fácilmente a caixinha de madeira onde guardava todos os seus anéis; os ganhados, os que havia comprado e até mesmo os achados. Sabia que havia um anel que serviria perfeitamente no delicado dedo da loira, havia achado-o três dias antes de conhecê-la; era um anel prateado simples com uma linha vermelha que decorava toda a circunferência. Para si apenas pegou um anel igualmente prateado, mas sem decoração alguma.

Colocou Jinny no chão, sorrindo para ela. Sentia seu coração acelerar como nunca; entrelaçou os dedos aos dela e caminharam até a varanda.

 

—Nós podemos apenas colocar as alianças e pular para parte onde você me beija? Sempre achei o resto todo um tédio.-Disse, sincera.

 

—Como quiser, senhorita Koo.-Pegou delicadamente a mão direita da moça encaixando o anel, servira como se tivesse sido feito sob medida.

 

—Senhorita Koo soa melhor do que meu próprio nome.-Brincou, colocando o anel no dedo dele.

 

—Acho que com isso eu posso beijá-la.-Puxou-a para mais perto, sorrindo.

 

—Sempre que você quiser.-Falou, antes de ter seus lábios capturados pelos dele.

 

 

 

×

 

 

 

Jinny sabia que seu último dia de vida se aproximava, mas não queria que Junhoe a visse naquele estado. Se ele gritasse por ela, se chorasse ou apenas comentasse que não queria que se fosse; Jinny não conseguiria partir em paz. Saiu de casa cedo, assim que viu-se sozinha no apartamento; caminhou pelas ruas usando suas melhores roupas, queria ser achada com sua beleza conservada. Não notou quando suas pernas levaram-na para rua onde seus pais moravam, viu a casa onde cresceu e lamentou-se por não poder despedir-se decentemente. Fez o caminho de volta, seus pais não sabiam quem ela era; conheciam apenas Kim Jinhwan, seu filho que morrera numa cirurgia, como os vizinhos contaram-lhe quando buscou por eles. Ela não existia mais na vida daquele casal, não podia cobrar-lhes nada.

Caminhou por mais algumas horas, parando quando as náuseas mostravam-se fortes demais. O celular vibrava como louco no bolso de seu jeans, Junhoe já sabia que ela havia desaparecido; continuou andando, tentando ignorar aquilo. Parou perto de um rio, ali estava fresco e não se sentia tão mal; sentou-se nos bancos que lá haviam, pegando o celular, Junhoe já havia enviado-lhe cinquenta mensagens, sentiu-se mal por ter fugido, então ligou para ele.

 

–Não diga nada e me escute.

 

–Jinny...

 

–Nós sabemos que estou morrendo, eu não quero que me veja assim.

 

–É a sua vontade?

 

–Sim, é.

 

–Eu vou respeitá-la.

 

Junhoe desligou, deixando Jinny aliviada e livre para chorar por sua própria perda. Quando imaginou-se partindo, ela estava feliz, mas a realidade mostrava-se dura e contrária a seus pensamentos.

Novamente...

 

 

 

×

 

 

 

Já era noite e a loira estava se sentindo horrível, assustada e extremamente fraca. As batidas de seu coração eram tão lentas que espantavam-na, buscou por seu celular, as mãos trêmulas quase deixaram-o cair.

 

–Ju-junhoe... Eu mudei de ideia.

 

–Mudou de ideia? Céus, Jinny onde você está!?

 

–Per-per-perto de um r-rio. N-não estou longe de você.

 

Antes que as próximas palavras fossem ouvidas, o corpo de Jinny foi encontrar-se com o chão. A moça tremia e suava frio, lutava, mesmo quase inconsciente, para manter-se viva; como última visão, enxergou o anel em seu dedo anelar, lembrando-se das palavras de Junhoe há umas semanas atrás.

“Esteja lá para mim e eu farei o mesmo por você.”

Jinny desejou estar lá para ele, apenas por aquela última vez.

 

 

Junhoe corria aos tropeços, não pensara no próprio carro, nem mesmo trancara seu apartamento; apenas ela importava naquele instante. Lembrava-se do rio que ficava há algumas quadras de sua casa, se ela estivesse lá, poderia chegar há tempo.

 

“Por favor Jinny, por favor!”

 

A princípio, os arredores do rio pareciam vazios, mas depois de correr entre os bancos, Junhoe achou a moça desacordada no chão. Seu coração falhou algumas batidas, se ela já estivesse morta, sentia que não aguentaria.

 

—Jinny? Graças aos céus você está respirando!-Tomou-a nos braços, ela estava tão pálida e frágil.

 

Jun... Hoe...-Os olhos abriram-se devagar e com dificuldade, ela conseguiu sorrir para ele.

 

Eu estou com você, está tudo bem.-Beijou seus cabelos, sentindo o coração latejar no peito.

 

Jinny encarou-o, a vida sumia de seus olhos aos poucos, carregando consigo os pedaços do coração de Junhoe. Então, no seu último fio de voz, ela lhe disse:- Eu est-estava feliz... E-eu estava feliz de ser a senhorita Koo... Eu estava feliz... De estar c-com você... Junhoe.


Notas Finais


Pra começo de conversa: Cês me desculpam por algum erro com a doença, eu usei só o que eu sabia mesmo.
Eu estou mesmo muito nervosa com em postar essa OS, cês nem tem ideia!
Espero que ela seja bem recebida e que vocês vejam que não se trata da Jinny ser transsexual ou dela ter aids.
Se trata da felicidade que ela conseguiu de volta, mesmo que momentânea, num momento tão difícil.
Espero que vocês tenham gostado, nos vemos nos comentários <3


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