Na minha vida toda, eu sempre me considerei uma pessoas bastante flexível. Não que eu fosse uma pessoa condescendente, mas eu era bastante razoável com todos ao meu redor. É que as coisas não era 8 ou 80, e eu gostava de pensar nisso na hora de avaliar as situações. Ninguém era só bom ou só mal, ninguém era só falso ou só 100% verdadeiro. Existe sempre um meio termo. Mas é claro que pra tudo isso eu precisava de algo em troca.
Sinceridade. Honestidade.
Duas palavras que prezavam muito para mim. Eu nunca exigi nada das pessoas que me cercavam, a não ser que sejam completamente sinceras e honestas comigo. Aliás, são duas coisas que nem precisariam ser exigidas, levando em conta que é o básico para construir e manter qualquer tipo de relacionamento. Como manter algum tipo de relação - namoro, amizade, coleguismo - com alguém que não é honesto com você? Eu não via como.
A frase "Você está indo para o Bayern!" não se encaixava em nenhum dos preceitos que eu tinha sobre amizade. Sobre lealdade. Sobre Mario e eu. E tenho certeza que eu estava pálida e com uma expressão não muito boa no rosto, a julgar pela cara que Marco Reus estava me olhando no momento.
- Helly! - Marco suspirou profundamente, me chamando pelo apelido que me dera anos atrás.
Olhei no seus olhos com a esperança de enxergar que eu tinha ouvido ou entendido errado, buscando qualquer sinal de que aquilo não era verdade, mas a decepção nos olhos de Marco deram razão aos meus ouvidos e me confirmaram o que eu escutei.
- Marco, esper - Mario apareceu afobado na porta do vestiário, mas paralisou assim que me viu. - Helene. Há quanto tempo você está aqui? - ele perguntou assim que recuperou a fala. A julgar pela sua expressão, ele sabia muito bem a resposta.
- É verdade? - perguntei diretamente. - Você tá... se transferindo para o Bayern?
Fixei meu olhar nele. Seu rosto estava vermelho. "Diga que não, por favor, por favor, por favor" eu implorava internamente.
- Estou. - ele disse de olhos fechados, e soltou um suspiro alto logo em seguida.
Eu sabia a resposta que ele daria, mas mesmo assim... Ouvir a confissão da sua boca fez tudo doer ainda mais. Eu estava desnorteada, confusa, indignada e perdida. Comecei a andar de um lado para o outro, e escutava as vozes de Mario e Marco falando comigo, mas eu não saberia dizer o que eles falavam. Eu estava ouvindo, mas não escutando. Minha cabeça dava voltas, e só voltei a realidade quando percebi os braços de Mario se aproximarem de mim. Recuei imediatamente.
- Eu... Eu não posso acreditar - eu estava tentando raciocinar ainda.
- Helene, me escuta, por favor... Deixa eu te explicar. Eu ia te contar... - Mario começou desesperado.
- Quando? - gritei fazendo Marco, que observava a cena, se assustar. - Ia me contar quando, Mario? Quando estreasse com a camisa bávara?
- Deixa eu te explicar, por favor... - Ele implorou.
- Não tem o que explicar, Mario. - falei enquanto as primeiras lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto. - Você vai para o Bayern. Você está indo e... por que mesmo? Por dinheiro? - fiz uma careta de nojo. - Desde quando vocês estão negociando? Semanas? Meses? Você nem teve a decência de me contar. Nem para o Mario você contou, e supostamente nós éramos seus melhores amigos.
- É difícil, Helene. Tenta me entender, pelo amor de Deus. - Os olhos de Mario brilhavam indicando o início das lágrimas.
Olhei bem o seu rosto. Prestei atenção em cada pinta, cada marca, cada covinha, cada detalhe de seu rosto. Observei suas bochechas, seus lábios, o formato de seu nariz, e a cor de seus olhos. Os olhos. Olhei fixamente no mais profundo dos seus olhos. E me assustei. Me assustei porque, de repente, eu não reconhecia mais aquele olhar. Olhei desesperadamente para ele como um todo em busca de indícios de familiaridade e o que eu encontrei foi um completo estranho na minha frente. E isso foi como uma facada no meu coração.
- Você está deixando o Borussia. E está deixando a minha vida também. - eu disse com a voz baixa. Suspirei e olhei em seus olhos. - Quanto antes, melhor.
Saí andando em direção a saída sem olhar para trás.
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