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História (un)lost. - Porto seguro.


Escrita por: futfics

Capítulo 6 - Porto seguro.


Estranhamente, não fazia um dia frio em Dortmund. Pelo menos não o frio costumeiro da Alemanha. O céu era uma imensidão azul sem nenhuma pigmentação branca de nuvem. Era um dia especialmente bonito. As pessoas se reuniam em praças e parques ds cidade, com suas crianças e seus amigos, afinal, não era sempre que tínhamos um dia assim. Era bom essa sensação de ver as pessoas simplesmente interagindo e passeando; dava uma impressão que o mundo era mais fácil do que verdadeiramente era, de que não vivíamos com medo ou de que não vivíamos ocupados demais o tempo todo que esqueciamos até de olhar para as pessoas ao lado.

Naquele dia eu também decidi aproveitar o clima e saí pra caminhar em um dos parques da cidade. Eu precisava mesmo esvaziar minha mente de tudo que aconteceu nos últimos tempos. Precisava simplesmente respirar sem ter um peso de sentimentos ruins me sufocando. Nós últimos tempos eu andava sempre muito estressada, muito tensa, parecia que estava prestes a explodir a qualquer momento. Eu tinha consciência disso mas me sentia impotente, sem saber como mudar. Não escolhi estar assim, não escolhi sentir o que eu sentia. E eu era a mais prejudicada com isso, fazia mal à mim mais do que qualquer outra pessoa.

Decidi então tirar pelo menos uma manhã para tentar me desconectar de tudo que me atormentava. Escolhi o parque eu sempre corria - era bonito e não tinha assédio - e convidei Marco para se juntar à mim. A companhia dele sempre me fez muito bem.

Era engraçado pensar os efeitos completamente diferentes que Marco e Mario tinham sobre mim. Marco sempre teve o dom de me acalmar, de me passar tranquilidade e segurança. Eu me sentia completamente salva e em paz quando estava com ele. Marco era a pessoa para quem eu ligava quando acordava de um pesadelo, quando queria uma opinião ou quando precisava de um conselho. Marco sempre me deu os melhores conselhos. Já Mario era o que embarcava nas loucuras comigo. Ele era o que fazia primeiro, pensava depois. Um pouco incosequente, mas não totalmente irresponsável. Era ele que me ajudava a fugir de casa para ir em festas que meu pai não deixava, que estava comigo na primeira vez que experimentei álcool e que quase fez uma tatuagem aleatória no braço em um impulso de momento. Claro que essas coisas foram na adolescência, mas Mario era o cara certo para sair da linha com você. Se Marco era tranquilidade e serenidade, Mario era inquietude e impulsão. E eu acho que sempre fui uma mistura dos dois.

Mas eu não queria mais pensar nisso. Mario Götze era o motivo das minhas dores de cabeça e o meu intuito ali era me livrar delas. Respirei fundo afastando esses pensamentos e continuei a correr. Corri por quase 1 hora e quando comecei a segunda volta no parque, um desanimado Marco Reus apareceu ao meu lado.

- Bom dia, bela adormecida. - zombei desacelarando.

Marco vestia uma roupa de corrida e usava seus óculos escuros, provavelmente para disfarçar a cara de poucos amigos.

- Sério, Helene. Hoje é meu dia de folga e eu estou acordado antes das 10.  - reclamou rabugento.

- Você é o jogador de futebol mais preguiçoso que eu já vi. - ri

- Não é preguiça se eu não quero acordar cedo no dia da minha folga! - reclamou.

- Ai, Marco, para de reclamar e aproveita o dia lindo que está fazendo.

Voltei ao meu ritmo de corrida e não demorou muito para Marco me alcançar. Ele sempre reclamava quando eu o fazia levantar cedo em dia de folga, mas uma das qualidades de Reus é que seu mau humor nunca dura mais que uma hora. Sorte a minha.

Depois de completar a segunda volta no parque, compramos água e caminhamos na direção de algumas árvores enormes para que pudéssemos descansar em sua sombra.

- Como você está? - Marco me perguntou após enquanto nos ajeitavamos de um modo confortável.

- Estou bem. - dei de ombros

Ficamos em silêncio por alguns momentos. Nos deitamos embaixo daquela grande árvore e, entre os galhos, podíamos ver o azul do céu. Era uma sensação reconfortante.

- Como você realmente está, Helene? - a voz de Marco se fez presente.

Fechei meus olhos e respirei fundo, sabendo exatamente o que ele queria saber. Marco me conhecia bem o sificiente pra saber que meu "estou bem" era totalmente superficial.

- Eu não sei como responder sua pergunta. Eu realmente não sei como estou me sentindo ultimamente. - respondi sincera.

- Entendo que você não saiba como se sente, mas ambos sabemos que "bem" não é a resposta verdadeira, né? - ele disse calmamente.

Virei minha cabeça em direção à Marco Reus e o observei. Ele tinha uma expressão serena no rosto, embora os óculos escuros fizessem um bom papel na hora de disfarçar. Eu o conhecia o sificiente pra saber que aquela conversa tinha um propósito e, a julgar pelo jeito que ele estava me abordando, eu provavelmente não gostaria do teor disso.

- Onde você quer chegar com isso? - fui direta.

Depois de meio segundo de silêncio, ele respondeu:

- Helly, Mario já foi embora há alguns meses. Quantas vezes você já falou sobre esse assunto depois disso?

Zero. A resposta era: 0. Mas, definitivamente, não era algo que eu quisesse falar naquele momento.

- Marco... Não! - eu falei me sentando.

Marco sentou-se também e tirou seus óculos escuros. Nós dois estávamos olhando as crianças correndo pelo parque, no silêncio mais ensurdecedor que eu já experimentei.

- Eu também sofri. Doeu em mim também. - Marco disse me fazendo olhar pra ele. - A decepção, o sentimento de se sentir enganado, a inconformidade... eu também experimentei.

Eu olhei pra ele sem ter o que dizer. Me senti a pessoa mais egoísta da terra, porque o tempo todo eu foquei e considerei só os meus sentimentos. Era como se eu tivesse esquecido que Marco era amigo do Mario tanto quanto eu era, Marco amava o Borussia tanto quanto eu amava. Em nenhum momento eu pensei no que ele estava sentindo com tudo isso, estava ocupada demais me afogando no meu próprio egoísmo.

- Sabe o que eu aprendi com tudo isso? - Reus continuou, agora olhando em meus olhos. - Que fugir dos problemas nunca é a solução. Seja bons ou ruins teus sentimentos, você têm que encará-los, Helly. Você tem que encará-los, falar sobre eles, colocar pra fora. Só assim você poderá deixá-los ir. E você precisa deixá-los ir, porque dói perguntar como você está e ter como resposta um estou bem mais triste que eu já ouvi alguém falar.

As palavras de Marco foram como um sacode que há tempos eu precisava ter tido. Encarar meus sentimentos era algo que eu ptecisava fazer e tinha consciência disso, assim como eu não fazia ideia de como fazê-lo.

- Eu não sei o que fazer. - sussurei.

- Você precisa encarar seus sentimentos e encarar a quem eles são destinados. - ele me olhou sério. - Você sabe exatamente o que fazer.

Suspirei profundamente e passei as mãos pelo meu rosto.

- Eu não sei o que seria de mim sem você, Marco Reus. - sorri o olhando de lado.

- Eu sei. - ele riu enquanto me abraçava. - Você continuaria sendo Helene Rauball, a cabeça mais dura de toda Alemanha.

Deitei a cabeça em seu ombro sabendo que em Dortmund eu tinha meu porto seguro, e em Munique a solução para resolver meus problemas de vez.



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