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História (Un)Lucky Girl - Blacklist (Segunda parte)


Escrita por: Lady_Dragon

Notas do Autor


Primeiramente gostaria de me desculpar pela demora, tive alguns contra tempos muito irritantes e não tive paciência para escrever ou postar, me perdoem!
Bom, mas aqui está a segunda e ultima parte, como disse antes esse capítulo é mais focado no passado Jennie e no relacionamento dela com a Joy. Espero que gostem e me perdoem mais uma vez.

Obrigada pela paciência, favoritos, comentários. Boa Leitura!

Capítulo 14 - Blacklist (Segunda parte)


Fanfic / Fanfiction (Un)Lucky Girl - Blacklist (Segunda parte)

 
- Não quero saber, você tem que conversar com ele Jungkook. – Reclamou Yeri batendo a mão em sua perna, estavam a caminho da casa de Sooyoung para pegar suas coisas e se tivesse coragem tentar conversar com ela. – Seulgi disse que ele vive na casa dela.

- Eu não quero saber! – Repetiu suas falas. – Não quero olhar para a cara dele, só se for para socar.

- Aish, como você é infantil, essa briga já deveria ter acabado. – Ele virou o rosto para a janela bufando. – Então, você pensa naquela Serri, está comigo por vingança é isso!? – Cruzou os braços, indignada, balançou a cabeça ficando irritada.

-O que!? – Ele a encarou. – Não, Yeri, não é isso...

- Ah não? – Ela realmente estava irritada. – Então me explica!

-É complicado...

- Nossa, cala a boca garoto! – Irene se pronunciou no banco da frente o vendo pelo reflexo do retrovisor.

 Acabara de se colocar em uma grande encrenca, nem de longe pensava em Serri, ele apenas estava bravo. Mas pelo o que?Na verdade nem ele mesmo sabia, talvez fosse magoa guardada e seu orgulho alto que não deixava que se aproximasse do outro novamente. Olhou brevemente para a menina que estava chateada.
 Saíram do carro após ser estacionado, Yeri nem esperou por ele e foi rapidamente até a porta, viu aquela mulher que invadiu o apartamento, sorria de maneira triste e surpreendeu-se quando a menina a abraçou.

- O que aconteceu com suas mãos? – Perguntou assustada, Yeri sorriu e as escondeu no bolso da jaqueta.

- Nada, eu quebrei um vaso da Irene e acabei me cortando...

- Foi um acidente. – Erin encarou a mulher, mas era um olhar de desprezo.

 Yeri tossiu e sorriu chamando sua atenção. O clima começava a ficar tenso mais uma vez. Conhecendo Juhyun, com certeza responderia aquela expressão de mau gosto.

- Vou pegar minhas coisas... – Disse indo em direção das escadas, mas Erin segurou sem braço levemente.

- Já separei seus pertences, acho que não há mais coisas, mas pode ir. – Sorriu passando a mão em seus cabelos.

 Ela concordou e subiu as escadas. Erin voltou para a sala e encarou o rapaz que tentava acalmar Juhyun que resmungava em voz baixa. Sentou-se no sofá ao lado e cruzou as pernas.

- E você quem é? – Interrompeu a conversa deles, o rapaz sorriu de maneira gentil e levantou se curvando rapidamente.

- Jeon Jungkook senhora, sou... – Parou por alguns instantes pensando nas consequências em dizer a palavra namorado por conta da sua idade, mas sentiu um leve tapa na perna, possivelmente uma tentativa de encorajamento de Juhyun. – Namorado da Yerim.

 A mulher encarou Juhyun, logo voltou para o rapaz que sentou-se novamente, sentiu aquele aperto no peito lembrando-se da cena que fizera ali mesmo, acusando, gritando, mas não quis demonstrar tal fraqueza, com certeza Irene jogaria em sua cara outras verdades, então ergueu a cabeça e deu de ombros.

- Se essa mulher permite que um homem mais velho com a minha filha... – Irene fechou os punhos com raiva. – Espero que não faça nada de errado com ela.

 Claro que ela queria ter respondido há aquela provocação, mas Jungkook segurou levemente em sua mão fechada, não valia a pena.

- Não se preocupe senhora Park, pode ter certeza que sou posto na linha bem rápido, não seria capaz de fazer nada de errado com ela ou até mesmo magoa-la.

- Porque ao contrario de algumas pessoas eu sei como educar alguém sem precisar ser ignorante!

 Irene não podia ficar calada, era obvio. Há viu levantar os ombros mais uma vez como se não se importasse, mas era claro que sim. Respirou fundo pensando em como resolveria aquele mal-entendido com Yeri, que por sinal, estava demorando demais.

 Ela na verdade estava sentada em sua antiga cama observando o quarto que a acolheu por um ano. Gostava daquele lugar, sentiria muita falta de conversar com Erin na hora da janta, irem ao shopping juntas, entre outras coisas, mas sabia, bem lá no fundo que nada seria como antes. Sua confiança neles havia sido extremamente abalada, mesmo que ainda tivesse aquele sentimento de carinho, Yeri não alimentaria falsas esperanças, já fizera isso por uma boa parte de sua curta vida, Irene era a única pessoa que sempre estaria ao seu lado e não admitiria que Erin ou qualquer outra pessoa a tratasse mal. A cena escandalosa no apartamento nunca séria esquecida.
 
Foi até o armário, abaixando estendendo o braço para o fundo encontrando aquela caixa que sempre a acompanhava, a puxou e sentou-se no chão. Não tinham coisas extraordinárias ali, apenas lembranças do orfanato e seus poucos pertences que carregava quando fora encontrada no parque. Suspirou pesadamente e se assustou quando Sooyoung entrou no quarto de repente também levando um susto.

- O que faz aqui? – Perguntou rapidamente revirando os olhos.

- Só vim pegar o resto das minhas coisas, já estou indo, não se preocupe. – Joy continuou a encará-la enquanto fechava aquela caixa que um dia já mexeu. Reparou nas faixas que enrolavam suas mãos e deduziu que aquilo tinha sido obra de Jennie, coçou a nunca um pouco incomodada.

- O... o  que houve com suas mãos? – Estava mesmo perguntando aquilo? Não tinha obrigação nenhuma de se preocupar, mas sabia que Jennie poderia ser extremamente violenta. Yeri levantou o olhar para si e sorriu rapidamente.

- Nada, cortei no vidro de uma janela. – Porque ela não diz a verdade? Joy se perguntou a vendo sair do quarto lentamente.

- Yerim... – A chamou a vendo parar no corredor. – Jennie te machucou?

A encarou sem entender virando em sua direção.

- Você tem algo a ver com isso?

- Por mais que eu não goste de você, e claramente tenha te agredido, não, sinceramente não tenho nada com isso. – Aproximou-se segurando uma de suas mãos olhando as faixas um pouco sujas de sangue. – Eu queria que fosse embora e consegui, mas Jennie, ela te odeia, e odeia de uma maneira assustadora, por mais que possa pensar que me importo com você, por que não me importo, tenho que avisar, ela não vai parar até de prejudicar na maneira física.

- Sei disso... Ela é exatamente como você. – Puxou a mão de volta para si. – Eu só quis uma família Sooyoung, mas você não pode me dar uma chance.  – Mordeu o lábio inferior segurando as lagrimas que por algum motivo queriam cair, riu fraco e balançou a cabeça. – Eu queria tanto te odiar, por tudo o que fez, mas simplesmente não consigo, mesmo tendo essa personalidade distorcida, ainda vejo algo bom e gosto de você. Mas não ficarei onde não sou bem-vinda, ninguém aqui ligava para mim, apenas ocupava um vazio como você sempre dizia.

- Sabe por que te odeio? – Perguntou a vendo voltar a andar. – Porque todo mundo sempre fica do seu lado, a coitadinha órfã, recém chegada, perdida no mundo, as pessoas te ajudam sem pensar duas vezes, você espirrava e três idiotas apareciam para trazer um lenço. – Puxou seu ombro a obrigando parar e encará-la mais uma vez. – Aqui era o único lugar que se importavam comigo, custei muito para ter amigos naquele colégio, ter popularidade, então você chegou e virei Joy à irmã da órfã, meus pais nem me escutavam mais, não viajamos por um ano por sua causa, me senti abandonada.

- Você apenas é uma garota mimada e birrenta Sooyoung. – Yeri disse olhando no fundo de seus olhos. – Não sabe o verdadeiro significado de abandono, não sabe o vazio que ficamos por dentro, sendo rejeitados por aqueles que te colocaram no mundo. – Ela chorava, mas manteve a cabeça erguida. – Não ser amado, sentir-se inútil, sozinha no meio de uma praça onde as pessoas olhavam para você e simplesmente fingiam que não te viam. Fome, frio, medo, tristeza. – Enxugou rapidamente as bochechas. – Você não sabe como é ser abandonada.

 Deu as costas e desceu as escadas, a porta da sala estava aberta, suas malas já haviam sido postas no carro, agradeceu mentalmente, poderia ir embora e enfurnar-se no quarto, teria que pensar em como lidaria com aquela ameaça constante de Jennie, mas sentia-se estúpida por ter dito tudo aquilo para Sooyoung, ela não precisava saber sobre sua vida antes de conhecê-la, seu karma já era grande demais, o universo se encarregaria de ensiná-la da maneira correta.  Foi até a porta, mas fora puxada pelo braço com certa força fazendo que a caixa escorregasse de suas mãos chamando a atenção dos outros que estavam ali ao lado do carro.

- A melhor coisa que faz é fazer-se de vitima não é!? – Praticamente gritou a frase enquanto ainda segurava em seu braço, Erin chamou sua atenção para que a soltasse porem ignorou.

- Eu não me faço de vitima. – A empurrou. – Venci cada desafio que tive durante dezesseis anos, tendo apenas uma pessoa como apoio. – Yeri avançou contra Joy que pela primeira vez encolheu os ombros assustada. – Eu tenho minha própria força interior para correr atrás das coisas que quero sem precisar ferir ninguém, tenho amigos porque sou verdadeira, eles me ajudam porque sabem que não posso fazer tudo sozinha. – Apontou o dedo indicador próximo ao seu rosto e a encarou de maneira séria. – Você sempre teve tudo, não dá valor nem as pequenas coisas, não dá valor a si mesma, como quer que alguém goste do você? Uma casca humana sem alma, apenas cheia de ódio, inveja e rancor. – Sentiu as mãos de Jungkook sobre seus ombros, ele entrava em sua frente pedindo para que se acalmasse. – Isso é a única coisa que você terá se não mudar!

 Sabe aquela sensação de alivio? Quando tudo que estava preso em sua garganta sai como um grito de desespero? Era o que eu sentia naquele instante, falar tudo aquilo para Sooyoung foi à única maneira que encontrei para me livrar daquela raiva que eu negava dentro de mim. Se ficasse lamentando tudo o que não tive durante esses anos, seria apenas uma criança desiludida e fraca, sem coragem para vencer. Erguer-se é a única maneira de temos para seguir em frente e lutar para sermos pessoas melhores. É doloroso, cansativo, mas podem ter certeza que é gratificante no final de tudo, saber que seremos melhores do que aqueles que desistiram de nós, antes mesmo de tentar. Melhores no sentindo de caráter e não de ego. 

 Agora, vamos pensar em algo diferente. Vocês julgam os outros antes mesmo de conhecê-los?
 
 Se você disse que não, sinto muito, mas está mentindo, todos nós julgamos uns aos outros, mesmo que seja uma brincadeira entre amigos. Comentam sobre aquela pessoa que passa em silencio no corredor do trabalho, apelidam a mulher que veste uma saia um pouco mais curta para seus “padrões”. Todos nós fazemos isso, eu faço isso, mas em silencio, na minha mente, pois eu não o conheço, não sei sua história, dores, sofrimentos, medos. Somos o que somos por causa da nossa vivencia.
 Quando conheci Meena, ela estava no banheiro, às garotas a olhavam sem fazer nada, achando que poderiam ser infectadas ou algo parecido. Aquilo me revoltou de tal maneira, mas não pude culpá-las, estavam tão assustadas quanto eu, a diferença é que tive uma atitude. Hoje, parei de julgar os outros pela aparência ou por usas atitudes. Meena sempre disse que o importante é saber quem você é não se importando com o que os outros pensam.

O que estou querendo dizer é... Cuidado ao julgar o outro, olhe para si mesmo antes de tudo. Não somos melhores que ninguém, você só pode ser melhor que você mesmo. Confuso não é? Um dia talvez faça sentindo para todos, como faz para mim.

 Esse papo todo para dizer que ainda não sei por que Jennie me odeia tanto e também para esclarecer minha profunda magoa com Jungkook e sua memória sobre aquela garota Serri. Ele pode negar o quanto quiser, mas lá no fundo ainda pensa sobre ela e como foi traído, não estou com ciúmes, mas com tristeza, já se passaram três anos, as pessoas mudam, os erros são apagados, temos que aprender a perdoar, caso contrario, não conseguimos seguir em frente.

 Mas, confesso, quero colocar a cabeça dele dentro de um vaso entupido, porque, afinal, fui criada por Bae Juhyun. Perdoar sim, esquecer? Jamais.

 

 Houve uma discussão alta dentro daquela casa depois que todos foram embora, Erin bateu com força na porta da menina que se recusou a abrir, estava cansada dela sempre agredir Yeri, mesmo ela já estando fora da casa, a psicóloga não havia ajudado em nada era isso que Erin pensava, deveria ter ajudado a sua filha a ser menos... Louca. Sentia-se esgotada com tanto problema que Sooyoung lhe trazia nos últimos meses. Seu marido nem ao menos ser importava, dizia que ela melhoraria agora que Yeri tinha ido embora. Então... Porque ele aceitara adotá-la? Erin não sabia mais o que fazer pensar, era um vazio assustador que sentia em seu peito.

 Joy estava irritada, mas não conseguia tirar as palavras de Yeri da sua mente, como se ecoassem dentro de quatro paredes com caixas de som no último volume.

“Uma casca humana sem alma, apenas cheia de ódio, inveja e rancor.”

 Não, ela não tinha razão. Dizia para si mesma enquanto andava a passos rápidos naquele shopping indo em direção a praça de alimentação, havia saído de casa escondido para evitar ainda mais sua mãe que não parava de gritar. Avistou aquela figura loira que acenava de maneira animada e descontraída em uma das mesas, jogou a bolsa no banco ao lado e se sentou bagunçando os cabelos.

- Diga princesa o que houve no paraíso? – Lisa brincou enquanto terminava de comer a casca daquele sorvete.

- Esquece... Estou muito irritada pra falar desse assunto... A Jennie não veio? – Perguntou olhando para os lados, Lisa acenou de maneira negativa.

- Ela não atendeu minhas chamadas ou leu minhas mensagens, deve estar tramando um atentado por ai. – Passou o guardanapo nos lábios e encarou Joy que apoiava as mãos sobre o queixo. – Eu não participei do ataque que ela queria fazer em Yerim, desculpa, mas, não vi motivos para isso...

- Ela me disse, ficou com medo. – Sua falava saia sem animo, à outra riu.

- A questão é que vocês a odeiam, eu não a odeio, ela não fez nada pra mim. – Pegou o celular para checar as mensagens. – Tudo bem que fiquei de castigo, minha mãe me proibiu de sair e não ver os boys, mas só foi uma conseqüência.  – Olhou para Joy que balançava a cabeça bufando de maneira irritada. – O que!? – Perguntou. - Eu entro na onda de vocês porque é divertido colocar terror nos outros, mas a partir do momento que começa a sair dos limites, eu paro.

- Por que você é medrosa demais para bater em alguém, não sabe o que é amedrontar de verdade as pessoas. – Joy disse.

- Amiga, para que se ta mal. – Zombou. – Eu bati nela, a humilhamos na frente do colégio inteiro, nosso ano acabou ela ainda tem mais um, isso vai persegui-la. – Ajeitou o cabelo atrás da orelha olhando para os lados. – A questão é que não sou medrosa, sou humana, a garota já sofreu demais com a gente, eu olho pra ela e fico com dó, não quero mais fazer nada. Pronto falei.

 Joy a encarou de maneira séria.  Sou humana... Fora a mesma coisa que Yeri havia dito há algumas horas atrás e aquilo a incomodou.

- Uma casca humana sem alma, apenas cheia de ódio, inveja e rancor. – Disse recebendo um olhar desentendido da outra. – Foi isso que a Yerim disse pra mim... Também que é a única coisa que terei se não mudasse esse meu jeito de ser.

- Hmm bem, acho que não deixa de ser verdade. – Lisa comentou com certo receio. – Sabe, eu acredito naquele ditado que diz “você colhe o que planta”. – Olhou para tela do celular mais uma vez antes de continuar. – Você tem todo o direito de não gostar de alguém, mas, as pessoas também terão o direto de não gostar de você, quanto mais coisas ruins fazemos, mais estamos propensos a receber esse mal de volta.

- Não sei o que fazer Lisa... – Disse de maneira sincera. – O que eu sinto, não é controlável, ela me irrita com aquele jeito meigo, sempre querendo fazer o bem, santinha...  As pessoas estão sempre do lado dela! – Jogou os cabelos para trás do ombro incomodada. – Porque ela consegue isso?

- Exatamente porque ela é meiga, gentil e boa. – Falou simplista. – Essa é a idéia daquele ditado, Yeri só colhe o bem porque só faz o bem, ela atrai pessoas legais ao lado dela, enquanto a gente atrai aqueles que são iguais a nós. – Joy a escutava de maneira atenta e até um pouco receptiva, o que Lisa achou estranho vindo dela que geralmente mandava em tudo e todos. – Saiba que adoro você a Jennie, nunca vi pessoas tão parecidas quanto vocês duas, mas não acha exagerado tudo que fez com a Yeri? Pensa, o que ela fez de tão grave para que a odiasse tanto?

- A gente pode, por favor, mudar de assunto, já está começando a falar como a minha psicóloga!

 Lisa riu e concordou. Das três, Lalisa era a que mais tinha consciência de seus atos, apesar de saber muito bem que não era uma pessoa para se considerar “politicamente correta”, tinha seus erros, se arrependia de muitos deles. Principalmente daqueles que envolviam homens. Mas só viveria uma vez e então não perderia oportunidades de errar e acertar, mas era claro que o erro que com certeza evitaria séria de ser presa por agredir alguém, ou até mesmo ir para um reformatório, achava que não teria estrutura mental para agüentar.
 A garota se perguntava como Sooyoung havia ficado daquela maneira, tão fria e raivosa, quando a conheceu era apenas uma pessoa calada, claro, que o temperamento curto sempre esteve presente, mas aquele caráter cruel era algo novo e perturbador. Era nova no colégio, ainda tinha aqueles cabelos longos e escuros, quando entrou na sala delas pela primeira vez, manteve sem silêncio nas primeiras aulas até foi Jennie que chamou sua atenção. Foi uma época meio conturbada, já que Joy não parecia ter gostado dela logo de primeira.


                                                                                  Abril de 2015 – Segundo ano do ensino médio

- Classe, essa é a nova colega de vocês, transferida da Tailândia, Lalisa Monoban. – Disse a professora de matemática com um sorriso, segurava em um dos ombros da garota que mantinha as mãos na frente do corpo. – Espero que sejam gentis e receptivos com ela.

 A nova garota, Lalisa, fora orientada a se sentar na ultima carteira do fundo ao lado da porta.  Alguns dos alunos a cumprimentaram com um aceno de cabeça rápido, perguntavam em cochichos se a novata falava ou entendia o coreano de forma fluente. Os jovens daquela escola poderiam ser mais cruéis do que poderiam imaginar, uma pequena turma mista já planejava uma pegadinha de boas-vindas, talvez durante o intervalo das aulas ou até mesmo na saída. Eles não perdiam tempo para humilhar alguém que julgavam fora dos padrões.

 Estavam próximos ao fim da terceira aula, o intervalo estava próximo e Lalisa apenas pensava em andar naquele colégio gigante e comer alguma coisa. Ajeitou o material na bolsa, separando alguns dos pertences importantes no bolso da calça, estava prestes a se levantar quando uma garota puxou a cadeira a sua frente e se sentou apoiando os braços em sua mesa.

-E ai Monoban! – A menina ergueu o olhar para outra que tinha um sorriso de canto, seus olhos eram marcantes e até mesmo um pouco intimidadores. – Sou Jennie, bem-vinda a Seul e a esse manicômio que apelidaram de colégio.

 Ela riu curvando a cabeça rapidamente.

- Lisa. – Estendeu a mão para frente, Jennie segurou sua mão e sorriu de volta. - Estava indo lá embaixo comer alguma coisa...

- É então, sobre isso, achei você legal demais para deixar o povo te esculache no pátio. – Lisa não entendeu muito bem, a outra revirou os olhos. – Você é nova, e eles são babacas, querem fazer uma pegadinha, mas elas geralmente são bem pesadas, então, acho melhor andar com a gente.

 Quando disse a gente, apontou para a garota de cabelos curto ao lado da porta que não tinha uma expressão muito animada, mantinhas os braços cruzados e olhar longe das duas. Jennie se levantou e a chamou para que pudessem descer. Aquela menina se chamava Sooyoung e claramente não tinha ido com a sua cara, já que não respondia nenhuma de suas perguntas. Deixou de lado, afinal, preferia levar um gelo daqueles do qualquer outro tipo de trote que aqueles alunos queriam fazer com ela. Lisa ainda ficou um pouco desconfiada, já que Jennie e Sooyoung eram da mesma sala e poderiam estar tramando para ajudá-los a fazer essa pegadinha, mas mudou de idéia depois que se sentaram para comer o lanche e um grupo de rapazes se aproximou.

-Olá meninas! – Disse o rapaz de cabelos negros com um sorriso torto nos lábios, mantinha as mãos no bolso da blusa e as encarava, Sooyoung fizera um sinal de silencio para Lisa que apenas desviou o olhar para sua comida mais uma vez. – O que? Não vão me responder gracinhas?

- Tchau, não temos interesse! – Jennie pronunciou de maneira autoritária lambendo o polegar e logo o encarando. – Gente estúpida fica do outro lado do pátio! – Apontou para frente.

 Lisa olhou para Sooyoung que apenas fez uma careta para que não se importasse, mas era um pouco obvio que aquele rapaz não tinha gostado do que ouvira, sentou-se sem permissão ao lado de Sooyoung e passando os dedos sobre sua bochecha.

- A gente só quer bater um papo com a tailandesa, lindinhas!

- Dou exatamente dois segundos para tirar essa sua mão de mim, ou vou bater com a bandeja na sua cara!- Sooyoung se irritou e Lisa pode perceber que Jennie também. Aquelas duas eram malucas?

- Quer mesmo me irritar? Deixa a garota em paz, que ela nem é da sua sala para começo de conversa, então antes que eu tenha que mandar alguém te espancar na esquina, acho melhor se levantar e ir embora.

 Lisa já nem sabia mais o que estava acontecendo, obviamente aquela história de trotes com novatos era levado muito a sério. Jennie era assustadoramente perigosa até na maneira de falar, achou que poderia ser apenas uma ameaça falsa, mas aquele rapaz levantou-se depressa lançando um para si logo em seguida.

- Você não manda nesse colégio Jennie. – Falou entre os dentes, ela se levantou apoiando as palmas das mãos sobre a mesa o medindo de cima abaixo.

- Quer apostar? – O desafiou, Sooyoung se levantou e se colocou a frente dele.

- Sai daqui, agora Kevin, não vai ter trote. – O rapaz lambeu os lábios rapidamente e virou de costas caminhando para o lado oposto. – Babaca! – Resmungou ela voltando a se sentar.

- Vem cá, vocês são o que? Máfia coreana escolar?  - Jennie riu alto e Sooyoung apenas levantou os ombros. – É sério, o que foi isso?

- Oh pequeno prato de comida tailandesa, você não sabe de nada.

 Jennie zombou voltando a comer seu lanche. Aquilo foi o começo estranho de uma amizade ainda mais esquisita. Demorou um tempo até Joy tivesse plena confiança em si, mas era aparente que ela e Jennie dividiam pensamentos parecidos, se uma dizia que a cor era azul, a outra poderia resmungar, mas logo depois concordava com a cor. Como se mandassem uma na outra, às vezes brigavam, mas logo voltavam a se falar.  Lisa gostava de dizer que eram as meninas super poderosas.


                                                                            Dezembro de 2016 – 16:30, casa da Jennie

- Lembra quando a Jennie colocou aquele garotinho dentro do lixo? – Joy ria limpando a lagrima que escorria lembrar-se daquelas histórias com Lisa era engraçado ainda mais por ela fazer caretas e tentar interpretar todos os envolvidos. – As perninhas da criatura ficaram balançando de um lado para o outro, ai aquilo foi hilário.

- Eu ainda prefiro o dia que colocamos taxinhas dentro do sapato do professor de educação física, aquele ali aprendeu a sambar! – Comentou Jennie roubando o doce que estava na mão de Joy que a xingou. – Tem mais ali oh chata!

- Era o ultimo verde! Que saco em garota! – Lisa revirou os olhos, pegando o saco que estava no chão. – Mania de pegar minhas coisas... – Reclamou mais uma vez.

- Bla bla bla, para de encher o saco!

 Elas se encaram com um olhar ameaçador, Lisa se colocou no meio delas antes que Joy avançasse sobre a outra que estava rindo na cama. Depois de explicar por cima o porquê que não poderia sair, chamou suas colegas para lhe fazer companhia, Jay havia saído para algum lugar e só chegaria tarde da noite e para evitar ainda mais discussões e quase agressões, decidiu ficar no quarto.  Mas ainda não tinha desistido de sua idéia principal, apenas a atrasou.
 Jennie aproveitou o momento de distração de Joy que tinha três ou quarto daquelas minhocas acidas e roubou duas as comendo logo em seguida, ficou tão irritada que mesmo com Lisa entre elas avançou contra Jennie que ria e mostrava a língua.

- AAAH CHEGA! EU TO SENDO AGREDIDA TAMBÉM!

 Suplicava Lisa que sofria alguns puxões de cabelo e tapas ao lado do ouvido, Jennie a empurrou a fazendo cair por cima de Joy e logo aquilo havia virando um montinho de pessoas.

- EU SOU A RAINHA DO MONTE! – Gritou Jennie pulando em cima delas que reclamavam de maneira insistente. – Curvem-se súditos!

- Não consigo... respirar.

- Sai de cima hipopótamo! – Joy disse com a voz abafada balançando o único braço que estava livre.

 Acabaram rindo de tudo aquilo, era uma amizade um pouco conturbada, cheio de xingamentos e agressões, mas elas nunca ficaram longe uma das outras. Todas cúmplices de tramóias e artimanhas um pouco cruéis. Lisa acabou recebendo uma ligação inesperada de sua mãe, pedindo que voltasse para casa, precisava de ajuda para arrumar as malas, viajaria para Tailândia para visitar a avó que estava doente, ficaria responsável pelos seus irmãos até o natal, sem pensar em reclamar, acabou indo embora mais cedo.
 
 Joy ainda ficou por ali, não queria voltar para casa e ter que ouvir ainda mais sermões de sua mãe e possivelmente de seu pai também. Estava encostada na janela aberta vendo as poucas arvores que tinha na casa do vizinho balançarem por conta do vendo frio, continuava a comer aquele pacote de doces que havia comprar junto de Lisa, escondendo suas preferidas para que Jennie não as roubasse mais uma vez.

- Porque está tão quieta? – A voz da outra cortou seus devaneios chamando sua atenção, lançou um rápido olhar para a garota que tinha as pernas apoiadas na parede.  – Aconteceu alguma coisa?

- Não.

- Ah claro, e eu sou hetero! – Debochou levantando-se, parou ao seu lado puxando o doce de seus lábios escutando um baixo rosnado. – Fala logo!

- É que a Yerim estava lá em casa e acabamos discutindo... Ouvi coisa que não queria. – Finalmente respondeu vendo a expressão calma da colega se tornar sombria. – Não, sem pensamentos psicóticos!

- Aish! – Bateu as mãos sobre as coxas impaciente. – Não suporto imaginar a cara dela. – Jogou-se mais uma vez na cama encarando o teto. – Quero apertar aquele pescoço dela.

- Jennie, para, a Lisa tem razão em uma coisa, a gente acaba atraindo coisas piores para nós mesmo. - Sentou-se sobre seu colo a encarando. – Seu irmão não brigaria com você e não te trancaria no porão se parecesse de querer ir atrás da Yeri e eu não seria levada ao psicólogo, ouvindo sermões dia e noite se não tivesse perdido a linha com ela.

- Você se lembra de uma frase que disse para mim? – Jennie apoiou-se na cama aproximando-se de seu rosto. – “Todos aqueles que te ferirem devem ser punidos.”

 Sooyoung suspirou de maneira pesada tocando em sua bochecha.

- Isso, foi em uma situação diferente, e você sabe.

- Ela feriu você primeiro e depois me afetou, não há nada de diferente...

 Joy estava prestes a respondê-la quando fora interrompida pelo seu beijo lento, doce e acido, assim como aquela relação. Jennie teve uma vida turbulenta, sempre arrisca com tudo e com todos, aprendeu a se defender da única maneira que lhe foi ensinada, com a opressão e o medo.


                                                                              Março de 2013 – Oitava série, ensino fundamental


 Os alunos saiam da quadra e da piscina direto para o vestiário, tomar banho e voltar para a classe para a aula de geometria. Sooyoung havia sido escolhida para recolher os materias de natação, claro que reclamou, não arrumava nem seu quarto direto agora tinha que pegar aquelas bóias que foram largadas dentro na piscina. Ficou resmungando o tempo todo enquanto jogava as coisas para fora d’água, enrolou-se na toalha colocando tudo dentro dos cestos e caixas transparentes. Quando finalmente terminou foi caminhando a passos lentos para não escorregar, havia esquecido seu chinelo dentro do armário, desceu os degraus até o vestiário o encontrando vazio, pelo menos não teria que aturar as colegas fazendo barulho. Mas o lugar não estava totalmente vazio, pode ouvir o som de um dos chuveiros ligado, porem estava do outro lado e a cortina fechada, ela nem se importou, tomou seu banho rápido para que pudesse correr até a próxima aula.
 Ajeitava a camisa social, a saia e as meias para colocar o sapato quando viu aquela garota finalmente sair dos chuveiros, ela a conhecia, não era sua amiga, mas a conhecia de nome, já que todos no colégio evitavam chegar perto por causa da fama do irmão. Jennie. Ela fora para o outro lado dos armários para se vestir e Sooyoung apenas a seguiu pelo reflexo do espelho, colocou seus sapatos e fechou a porta de seu armário. Estava saindo em silencio com a pequena bolsa nas mãos quando deu mais uma olhada na garota, suas costas desnudas mostravam marcas gigantes de machucados, arranhões, cicatrizes e feridas que pareciam ser recentes, todo seu corpo estava marcado. Sooyoung saiu rápido antes que ela percebesse que a encarava aquilo era horrível.
 Depois que voltou para a sala, não viu Jennie aparecer, quando o professor de história estava entrando, ela apareceu. Sempre com a mesma expressão de desprezo, a seguiu com o olhar rapidamente e depois ajeitou-se na cadeira. Ficou curiosa por alguns instantes, mas então acabou deixando de lado. Cada um cuidava da própria vida. Ajeitava seu material na mochila ansiosa para chegar em casa e dormir durante o resto da tarde, mas quanto arrastou a porta para sair sentiu alguém puxa - lá para trás forçando a porta a se fechar novamente, seu corpo se chocou contra a madeira. Jennie a encarava com uma expressão nada amigável.

- Acho melhor não abrir a boca. – Ameaçou ela.  – Se eu souber que falou algo para alguém sobre o que viu...

 Sooyoung a empurrou com força a afastando.

- Se fizer isso de novo, eu que desço a porrada em você entendeu sua maluca! – Se exaltou um pouco. – Não tenho interesse nenhum em falar sobre você e seus problemas.

- Sabe quem eu sou? Acha que pode me ameaçar.

 Sooyoung deu as costas e abriu a porta saindo para o corredor.

- Não ligo e não me importo com você!

 Disse alto em bom som enquanto caminhava para a saída, não acreditava que aquela cretina tinha a ameaçado. Só de raiva deveria contar o que tinha visto, mas respirou fundo a balançou a cabeça. Gente louca deve ficar no próprio canto, sem mexer com ninguém. Sooyoung não tinha medo dela e nem do irmão encrenqueiro.

 As semanas foram se passando, elas nem ao menos se olhavam, se esbarravam algumas vezes no corredor, mas eram como se não existissem. Mas algo inesperado aconteceu em plena sexta-feira, Jennie havia chegado cedo a sala de aula deixando até Sooyoung impressionada, tinha a cabeça abaixada pouco se mexia na mesa, falava apenas para responder a chamada, o mais estranho de tudo aquilo era o blazer do colégio que usava, estava calor, como conseguia ficar com aquilo? Sooyoung deu de ombros e continuou com sua atenção nas aulas.
 O sinal do intervalo tocou, os alunos se preparam para descer, a próxima aula séria no ginásio, então, não haveria necessidade de voltarem para sala. Jennie se levantou tentando colocar a mochila nos ombros, mas não conseguiu, apoiou-se rapidamente a mesa sentindo a cabeça girar, estava suando, as pernas tremiam assim como seu corpo, de repente tudo ficou escuro.
Quando acordou, notou que estava na enfermaria, um pano úmido sobre a testa, seu blazer e sua camisa estavam em uma cadeira o que a deixou alarmada tentando se levantar.

- Pensa que vai aonde garota? – Jennie encarou a menina que segurava seus ombros. – Você desmaiou na sala, te encontrei no chão.

 Jennie ajeitou-se na cama, as costas ardiam menos e já não sentia tanta dor, passou levemente a mão no ombro esquerdo e voltou a encarar a aquela garota de cabelos curtos.

- Qual seu nome? – Perguntou em voz baixa, a viu sentar na cadeira a frente da cama.

- Sooyoung. – Ela puxou a cortina procurando a enfermeira que havia saído para buscar mais algodão. – Eu disse a ela que você caiu de costas no chão, uma mentira qualquer...

 Jennie acenou brevemente com a cabeça. Perguntava-se por que aquela garota estava a ajudando, tinha sido estupidamente agressiva com ela e nem ao menos fazia questão de cumprimentá-la, como se não tivesse conversando ou claro trocado ameaças. A garota, Sooyoung, apoiou as palmas das mãos sobre o assento da cadeira e bufou olhando para cima enquanto balançava as pernas de um lado para o outro.

- Se quiser ir embora, pode ir, já fez demais por mim... – Disse um pouco sem jeito, não era comum alguém ser gentil com ela. Sooyoung lhe lançou um olhar por cima do ombro, logo depois apontou para as mochilas que estavam próximas.

- Ninguém quis ficar aqui, nem mesmo os zeladores, a diretora disse que sua mãe não atendeu as ligações, então, vou te levar pra casa. – Falou de maneira simples não importando muito. – Não precisamos ser amigas e nem precisa me contar o que são essas coisas, apenas quero ter minha consciência limpa sabendo que chegara em casa.

 Jennie nada disse apenas olhou para o relógio que marcava 13:00 da tarde, já deveria ter chegado em casa a uma hora atrás, tinha dormido demais, seu pai chegaria as 14hs para almoçar e quando visse que não havia nada,com certeza sofreria. Levantou-se da cama rapidamente sentindo as pernas fraquejarem, caiu com os olhos naquele piso frio, Sooyoung se assustou ajudando ela a se levantar. Não conseguia entender nada, estava agitada e nervosa.

- Calma ai, não precisa de tudo isso, a enfermeira te deu um medicamento, vai ficar sonolenta. – Sooyoung a colocou sentada na cama mais uma vez, deu uma rápida olhada em seus ferimentos vendo que já estavam secos e então pegou sua camiseta. – Toma.

- Você não entende, preciso fazer o almoço do meu pai... E

 Não conseguia terminar uma frase sem que sua voz tremesse de medo, as coisas que poderiam acontecer com ela se não chegasse em casa a tempo, seriam horríveis.  Nem ao menos escutou o que Sooyoung tinha a dizer e saiu correndo dali pegando a mochila, pode ver os alunos do período da tarde, esbarrou em alguns deles enquanto passava pelo grande portão, seu coração batia tão forte que poderia enfartar a qualquer instante, estava cega pelo medo e desespero que nem ao menos viu que o farol estava aberto, a buzina do caminhão a deixou praticamente surda, foi tudo tão rápido. Estava caída no chão com os olhos arregalados, algumas pessoas ficaram ao seu redor preocupadas, foi quando percebeu que Sooyoung estava atrás de si, ofegante segurando com firmeza a alça de sua bolsa.

- Sua estúpida!

 Foi à única coisa que disse antes de ajudá-la a se levantar. Não conseguia entender o porquê ela a ajudava tanto, as pessoas espalhavam sua má fama, assim ninguém se aproximava, tinham medo dela e se seu irmão que para ser sincera, realmente não era alguém que queira deixar irritado. Mesmo assim, ela parecia não se incomodar ou intimidar.
 Estavam a dois quarteirões de sua casa, Jennie ainda pensava que aquilo era uma má idéia, seu pai não permite visitas, mas enquanto pensava sobre aquilo, viu Sooyoung entrar em um daqueles pequenos restaurantes, saiu com diversas sacolas o que a deixou intrigada.

- O que é isso?

- O almoço do seu pai. – Disse voltando a caminhar. – Coloque as coisas na panela e finja que foi você que fez.

- Não tinha pensado nisso. – Comentou distraída abaixando a cabeça.

É porque você não pensa, só age por impulso e quase é atropelada!

 Concordou em silêncio. Tinha razão, não conseguia raciocinar direito quando ficava nervosa. Sooyoung a ajudou pediu para que não saísse da cozinha avisando que seu pai detestava visitantes, ainda mais quando não os conhecia. Colocaram a mesa e jogaram os recipientes anteriores fora para que ninguém visse e desconfiasse. Jennie não soube agradecer, nunca alguém além do seu irmão já fizera algo de bom para si. Elas se despediram, mas não como da outra vez, foram poucas palavras, sem xingamentos ou agressões, sem perguntas. Sooyoung parecia entender seu silêncio.  
 E mais uma vez as semanas se passaram, mas diferente de antes, Jennie permitiu-se ser cativada pelo jeito meio ácido de Sooyoung que nunca deixou de responder suas provocações, às vezes não falavam nada, mas sempre ficavam juntas. A cada dia Sooyoung entendia mais aquelas feridas que a garota tinha já chegara com parte do rosto inchado, tinha cortes nos lábios, marcas de dedos em seu pescoço. Mas nunca sequer perguntou, ela ainda não confiava em si para contar.

                                                                                    Final de Junho, 2013 – Inicio das férias.


- Odeio férias... – Resmungou Jennie enquanto chutava uma pedrinha.

- Como assim? – Estranhou a outra. – Melhor época do ano, faço vários nada.

 Jennie parou de andar e segurou em sua mão a levando para sua camiseta, alguns botões foram abertos, Sooyoung se impressionou com os pequenos círculos de queimadura, passou levemente os dedos e suspirou. Ela não teria férias.

- Nunca vai me contar? – Perguntou fechando os botões, Jennie pediu em silêncio para segurar sua mão, assim fez. – Tudo bem, já tenho uma idéia do que acontece.

 Estavam sentadas em um dos bancos daquela praça aproveitando que haviam saído mais cedo, Sooyoung encarava o céu azul enquanto tentava encontrar o canudo do milk-shake cegamente com a língua, Jennie riu balançando a cabeça, a menina a encarou sem entender.

- O que?

- Encontrei um apelido genial para você... – Fez uma pequena pausa. – Joy! – Recebeu um olhar torto. – Você me diverte.

- Não sou palhaça! – Resmungou.

- Para de ser chata, é um apelido legal. Vou te chamar assim sempre!

- Oh céus, o que eu fiz pra merecer isso?

 Jennie voltou a rir, sentia-se estranha ao lado dela, como se seu estomago desse voltas e voltas, o coração acelerava, não conseguia manter uma conversa muito longa sem sentir-se envergonhada. Aquilo a deixava irritada, mas com medo ao mesmo tempo. Era tão diferente de si, porem igual algumas vezes, era mais calada, pensava nas conseqüências dos atos duas ou três vezes, a ajudava em tudo, principalmente naqueles momentos difíceis. Seu irmão, Jay, estava cada vez pior, não parava em casa, sua mãe ficava no hospital de plantão e também raramente a via em casa, então, apenas sobrava ela e seu pai. Aquilo doía em todo seu corpo, mente e alma. O medo, a dor, o desespero.
 Suspirou pesado sabendo que as coisas só piorariam e se tornariam ainda mais recorrentes com as férias, os abusos, os socos, as correntes... Onde estava Jay? Porque ele não ajudava? Vive fazendo favores para os colegas marginais e para a própria irmã, nada! Tinha tristeza e raiva dentro de si, mas aquilo não lhe ajudaria em nada, não tinha força para fazer alguma coisa. Os únicos momentos que tinha de tranqüilidade era com Sooyoung. Raramente contava piadas ou fazia gracinhas, mas ficar ao lado dela, de alguma forma lhe trazia conforto... Segurança.

 Olhou para o celular rapidamente checando as horas, suspirou mais uma vez, tinha que voltar para casa, não queria criar motivos de desavença. Por alguma razão estava com um mau pressentimento.

- Preciso ir... – Comentou fazendo Sooyoung sair de seus próprios pensamentos. – Chegar mais cedo em casa...

 Se levantou esticando os braços, logo ajeitou a bolsa nas costas, Sooyoung a seguiu com o olhar e cruzou os braços.

- Está cedo, não precisa sair correndo. – Jennie concordou mais medo assim continuou de pé. – Porque não faz nada? Policia? Assistentes sociais? Não pode viver assim...

- Você não entende Joy... – Colocou as mechas do cabelo atrás das orelhas. – O melhor a fazer é que não se intrometa...

- Tá, tudo bem. – Se levantou pegando a mochila. – Vou com você até o ponto, mas se precisar de alguma coisa, me liga.  E lembre-se... Todos aqueles que te ferirem devem ser punidos

  Jennie riu fraco, não queria que ela se envolvesse em seus problemas, mas realmente gostava de saber que se preocupava. Pararam no ponto vazio em silêncio, Sooyoung mexia no celular concentrada, a outra cutucava nas unhas curtas um pouco agitada, odiava aquela maldita inquietação, ficar ali sem dizer ou fazer nada a deixava incomodada.  Olhava algumas vezes para a colega que mordia de maneira involuntária os lábios, ria fraco em alguns momentos, Jennie abaixou a cabeça quando ela a encarou.

- O que foi agora? – Sempre direta, acenou brevemente.

- Nada... – A encarou novamente recebendo aquele olhar sempre desconfiado, sorriu aproximando-se e bagunçou seus cabelos. – Obrigada, por se preocupar, você faz isso melhor que minha família.

  Sooyoung resmungou passando os dedos sobre os fios fora de ordem deixando Jennie ainda mais perdida, não estava raciocinando direito, pode ver de longe o ônibus parando no farol então tomou uma atitude talvez não muito bem pensada.  Segurou em seu rosto de maneira suave a assustando, abaixou o braço que segurava o celular e juntou seus lábios em um simples toque. Jennie logo se afastou ao ouvir o som do ônibus estacionando no ponto, beijou sua bochecha e se despediu sem ao menos esperar uma resposta ou reação.  Seu coração estava a acelerado, quase não podia senti-lo, sua boca formigava e as mãos tremiam que coisa mais idiota pensava ela, mas não conseguia negar que havia gostado, apenas esperava que Joy não a odiasse ou se afastasse por causa da aquilo.
 Estava distraída enquanto caminhava de volta para casa após descer do ônibus, foi quando atravessou a rua e notou que o carro de seu pai estava estacionado. Seu corpo congelou por inteiro, havia chegado mais cedo e aquilo não era algo bom. Abriu a porta com receio podendo ouvir o som da televisão ligada na sala, seu volume estava alto demais, respirou fundo passando de cabeça baixa pelo corredor até seu quarto. A maçaneta e a fechadura foram tiradas para que Jennie nunca fechasse a porta era a mesma coisa no quarto de Jay, mas ele nunca parava em casa, então não havia importância, tratou de trocar de roupa da maneira mais rápida que conseguia e saiu apressada para a cozinha fazer o almoço.
 Era assim todos os dias, tinha que chegar no horário estimado, caso ao contrario seu pai lhe puniria. Suspirou ansiosa tentando manter o foco em qualquer outra coisa que não fosse o homem na sala, cortava a cenoura, a beterraba, o arroz cozinhava na panela elétrica, o frango fritava rapidamente, tudo era preparado no maior capricho, sem muito sal ou pouco. Assustou-se quando sentiu alguém tocar em seu ombro batendo uma parte da palma da mão sobre a panela quente, não gritou ou reclamou apenas aprisionou contra o pano que carregava no ombro fazendo uma breve expressão de dor.

- Desculpe filha... – Sua mãe estava ali, levou sua mão para baixo da água corrente e acariciou rapidamente seus cabelos. Sua aparência estava horrível, as olheiras profundas, o rosto pálido e sofrido, tinha hematomas do pescoço para baixo. Seu pai era esperto o bastante de não agredi-la diretamente no rosto por conta do serviço. – Eu cuido daqui, vá descansar...

- Não... Mãe – Jennie tentou argumentar, mas o homem alto de cabelos negros apareceu na porta da cozinha, a menina desviou o olhar ao notar que vestia apenas uma cueca.

- Deixa a velha fazer a comida, você vai me servir!

 Não, aquilo era o que menos queria. Preferia queimar-se diversas vezes nas panelas e nos óleos quentes do que encostar naquele homem mais uma vez. Seu pulso fora segurado com força, foi praticamente arrastada para fora da cozinha, tentou puxar o braço, mas era praticamente impossível, ele a levou para a sala a jogando contra o sofá seu corpo pequeno fora pressionado fortemente por conta do peso do homem que estava acima dela. Por sorte a campainha tocou de maneira escandalosa, ele fizera um sinal de silencio para Jennie que segurava as lagrimas com todas as forças. A campainha tocou mais uma vez, sua mãe abriu a porta com pressa se assustando com os policias que estavam ali, olhando por cima dos ombros da mulher que não estava entendo nada.

- Aqui é a residência de Jay Park? – Disse um dos policiais que não retirava a mão do cinto onde sua arma estava pendurada. Ela acenou brevemente. – Ele foi preso por assassinato, formação de quadrilha e porte de drogas, temos um mandando de busca e vamos vasculhar a casa.

 A mulher nem ao menos tentou impedi-los, entraram sem pedir licença, seu pai saiu da sala furioso questionando aquilo tudo apenas recebeu aquele pedaço de papel no rosto, Jennie se levantou com pressa e seguiu os policiais com o olhar.  Reviravam tudo, colchões, armários, gavetas. Seu coração estava em desespero, à única pessoa que poderia tira-la daquele inferno, tinha sido presa, como ele poderia ter feito aquilo com ela? Sua mãe não aguentaria mais, já fugia de casa graças aos longos períodos no hospital, apenas ela sofria com aqueles abusos dementes de seu pai.
 Ela não pode dizer nada, aqueles homens entravam e saiam de sua casa empacotando coisas, falando alto, evidencias de possíveis crimes que seu irmão poderia ter cometido, mas ela sabia que o que eles encontraram no porão e nos quartos não tinha nada a ver com Jay e sim com seu pai, o homem doente.  Manteve-se em silencio, não conseguia se mexer, o olhar intimidador daquele ser repugnante estava sobre si a todo o momento, observando cada mínimo movimento seu.
 
As coisas não poderiam ter ficado piores, quatro dias se passaram e Jennie queria visitar seu irmão, mas ela não podia, estava presa aos prantos nas novas correntes que seu pai havia comprado depois que aqueles polícias levaram as antigas, sua mãe, ela mais uma vez escondeu-se no hospital, dizia que tinha muitos plantões para cobrir. Ninguém mais se importava com Jennie ou com seu irmão Jay que fora jogado na prisão. Sentia medo, um medo inexplicável, aquele local abafado e úmido, esquecido por todos. Alguém a procuraria? Sooyoung sentiria sua falta? No sexto dia, ela não suportou mais, não aguentava as dores no corpo, sua cabeça latejava profundamente, em um ato de puro desespero prendeu sua mão direita contra daquele aquecedor velho que havia ali, a dor que subiu pelo seu braço foi intensa, aguda, queimava, seu dedão tinha quebrado. Mordeu com força os lábios sentindo o gosto do próprio sangue, mas felizmente um de seus braços estava solto daquelas correntes, porem não queria machucar-se ainda mais, precisava se livrar as outras correntes sem quebrar mais partes do corpo. Ela parou de se mexer quando começou a ouvir passos no andar de cima, as portas eram abertas com tanta brutalidade que conseguia ouvir tudo, mais uma vez seu desespero apareceu, não contava que seu pai chegasse tão cedo naquele dia, escondeu a mão solta entre as pernas quando os passos na escada do porão foram ouvidos.

- Mas que merda? – Exclamou aquele rapaz que tinha os cabelos negros penteados para trás quando encontrou Jennie daquela maneira. – Gae! Ela está aqui!

- Kuyan... – Ela praticamente sussurrou o nome daquele homem, era um dos colegas de seu irmão.

 O outro integrante da gangue de Jay desceu as escadas apressado, ela foi solta, sua mão fora brevemente enfaixada com um pedaço da camiseta de Kuyan que a pegou no colo. Como e porque eles estavam ali, Jennie não sabia, mas não podia deixar de sentir-se aliviada, estava fraca e repleta de dores. Estavam passando pelo corredor que levava para a sala quando as luzes foram acesas de repente e seu pai aparecer batendo com força na cabeça de Gae com um taco velho, Kuyan afastou-se fazendo uma careta.

- Deixa a garota e eu não mato você. – Disse pisando sobre as costas do outro que estava inconsciente no chão. – Aquele garoto não para de se intrometer até preso, que filho da puta!

 Ele virou de costas e correu de volta para os quartos, Kuyan entrou no quarto principal fechando a porta da melhor maneira que foi possível pedindo para que Jennie se escondesse. Mesmo exausta foi apresada até aquele armário abaixando ali mesmo, seu estomago revirava, o coração batia em sua garganta apertou a mão contra a barriga, pois sentia muita dor. Pode ouvir um grande estrondo que provavelmente fosse da porta, aquele homem era louco, completamente fora de controle. Não conseguiria sair dali, ele nunca pararia de persegui-la.  Deixou as mãos escorregarem para o chão sentindo que havia uma caixa ao seu lado esquerdo.

- Queria saber como aquele moleque conseguiu tantos aliados... – Riu o outro quando bateu com aquele taco nas costas do rapaz que tentava se levantar. – Eu sou o dono de tudo... Ele pensa que pode comigo?

- Você é um bosta, sabemos que armou pra ele. – Kuyan disse de maneira fraca olhando para o corredor onde seu colega continuava caído. – Jay é drogado, mas não burro como você!

- Eu faço o que quiser, na hora que eu quiser!

- Não mais!

 O homem se virou alarmado vendo a menina apontar sua própria arma para si, ele riu de forma irônica apontando o taco em sua direção aproximando-se lentamente.

- Você é fraca sua vadia, abaixa essa bosta antes que eu...

 Ela atirou, seu olhar era de puro ódio, rancor, raiva, medo e sem pensar duas vezes apertou o gatilho mais vezes ate vê-lo cair no chão. Havia muito sangue, sua mão tremia, mas não hesitou em nenhum segundo, aproximou-se daquele monstro que estrebuchava naquele chão de madeira saia sangue de sua boca e suas mãos tentavam tolamente para o sangramento, nunca sentiu tanta satisfação em toda a sua vida, vê-lo daquele jeito, era assustador porem extremamente maravilhoso.

- Jennie... – Chamou Kuyan se levantando enquanto apoiava-se no colchão. – De o ultimo tiro. – A encorajou.

 A garota o encarou e logo voltou a atenção para o homem que cuspiu em sua direção, forçou o cano da arma em sua boca o escutando resmungar e tentar segurar seus pulsos, ouviu o quase engasgar de tão fundo que havia empurrado aquele revolver.

- Todos aqueles que te ferirem devem ser punidos!


 Ela disse com firmeza antes de puxar aquele gatilho mais uma vez.

                                                                         É assim que enlouquecemos...

                            Desordem mental

É o que temos dentro de nós, algo que não conseguimos controlar, são depósitos e depósitos de memórias e ideias que ficam esparramados pelos cantos da mente. 
Quando algo dentro de nós não está certo, incomodando de maneira profunda, ficamos bagunçados, por dentro e por fora...
Mas, essa bagunça, faz parte de mim, é uma parte que não pode ser perdida, são essas gavetas desordenadas que mostram quem eu sou. Não posso ser domada, não posso mudar quem eu sou por alguém! NUNCA MUDE POR NINGUÉM! Apenas por você mesmo. 

Um dia essa bagunça se tornará ordem, minha ordem, minha liberdade. Amo essa bagunça, por mais que às vezes me sinta perdida. Precisamos nos perder, para encontrarmos o melhor caminho. Um caminho que só eu posso achar sou feliz comigo mesma, nessa minha desordem mental...


 Vocês conseguem entender agora? A pequena insanidade que todos nós temos que lidar? Não posso julgar ninguém, não sou digna disso.

 Durante anos, Jennie sofreu, encontrou sua paz com Sooyoung que a aceitou da maneira que ela era, guardou seu segredo para sempre, assim como Jennie havia guardado aquele segredo que elas mesmas fizeram.

  Joy aceitou tudo... Desde seu pecado ao seu amor... E isso, é algo que nunca podemos menosprezar, devemos valorizar aqueles que sabem o que somos e nos respeitam por causa disso. Mesmo que essa aceitação seja de uma pessoa completamente fora de si.

Todos nós temos nossas próprias listas negras. Não se sabe exatamente como elas começam ou porque as criamos, mas elas estão presentes.


 Agora eu tenho que resolver meus próprios problemas, claro, eles não são tão complicados ou até agressivos como de algumas pessoas, mas mesmo assim me afetam demais. Minhas inseguranças...

 Na verdade estou cansada... meus problemas ficaram para outro dias, sinto muito.


Notas Finais


E então como foi? Bom? Ruim?
Obrigada por chegarem até aqui, me contem o que acharam.

Até a próxima!


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