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História (Un)Lucky Girl - Poema


Escrita por: Lady_Dragon

Notas do Autor


AVISO! LENÇOS SERÃO NECESSÁRIOS, CASO SEJAM SENSÍVEIS COMO EU!

Bom, estou aqui com mais um capitulo, quero dizer que chorei pesado escrevendo os dois, galera a tia de vocês é chorona e ainda tive uma trilha sonora de acabar comigo mesma... Tenho problemas, eu sei.

Mas, espero que gostem do capitulo, acho que tem erros? Com certeza, revisei mais sempre escapa! Não sou uma pessoa de indicar musicas ou algo do tipo aqui, mas dessa vez, queria muito que ouvisse uma delas pelo menos. O nome é POEMA, uma musica brasileira, cantada pelo NEY MATOGROSSO. Deixarei o link nas notas finais caso tenham preguiça de procurar antes hahaha <3

BOA LEITURA!

Capítulo 17 - Poema


Fanfic / Fanfiction (Un)Lucky Girl - Poema

Aquele lugar cheirava mal, uma mistura de esgoto e algo podre entrando em decomposição há dias. Não dava para definir muito bem o que era aquele lugar, uma casa, deposito abandonado, as paredes caiam aos pedaços, haviam grades que separavam o espaço como se fosse celas improvisadas, a iluminação deixava os diversos cantos daquele local na escuridão ainda mais por causa das janelas fechadas com tijolos ou madeiras.
 Jogado em uma daquelas celas estava o garoto revoltado, gritando e tentando a todo custo abrir aquela fechadura. Segurou as barras com força observando o que acontecia bem ao seu lado, incapaz de intervir, completamente inútil, seus gritos de sua fúria não funcionavam em nada.

Jennie havia prendido os pés e os pulsos da pequena Yeri em correntes, ainda estava desacordada quando cortara partes de seu cabelo o deixando irregular, deferiu tapas e chutes na garota que nem ao menos conseguia se proteger. O ódio e desprezo estavam vivos em seu olhar, pegou aquela tesoura velha e enferrujada passando por varias partes daquele corpo já fragilizado, seu choro era alto, assim como os gritos de agonia pela lamina que cortava sua roupa e sua pele, ardia demais, não podia se mexer direito. Para mais humilhação Jennie pegou aquela mistura branca com um cheiro ainda mais forte e jogou sobre sua cabeça. Era água oxigenada com pó descolorante, aquilo caiu sobre seus cabelos e também fora passado em todas as feridas abertas os fazendo arderem ainda mais.

 A menina soluçava mantendo a cabeça abaixada não conseguindo se concentrar em mais nada além das agonizantes dores que sentia, Jennie de vez em quando levantava seu rosto a força para que olhasse para o celular, onde filmava tudo, queria guardar aquilo como recordação de sua vitória. Ela abaixou aproximando a câmera sobre suas coxas sangrentas e foi subindo lentamente até chegar a seu semblante completamente arrasado, sorriu satisfeita e deu dois tapas rápidos em sua bochecha.

- Vou mandar para seus amiguinhos, para a escola, para a televisão. – Riu fraco. – Ninguém mexe comigo e acha que sairá impune.

Yeri virou a cabeça para o lado oposto na tentativa de esconder-se, puxou as pernas o máximo que podia deixando-as perto do corpo, mas a outra puxou seus cabelo a fazendo encara-la novamente.

- Me diga Yerim. – Guardou o celular na jaqueta e passou o dedo indicador sobre seus lábios. – Já se tornou a vadia do seu namorado? Hm?

- É melhor você nem pensar nisso sua desgraçada! – Rosnou Jungkook batendo com força nas barras. – Eu juro que vou acabar com você!

 Ela riu revirando os olhos e o encarando.

- Você não pode se proteger e quer tentar me ameaçar? – A soltou caminhando para onde ele estava, manteve uma distância segura para que Jungkook não pudesse alcança-la cruzando os braços. – Um merda, é o que você é.

- Vou matar você, pode ter certeza! – Disse entre os dentes olhando fundo naqueles olhos castanhos que chegavam a brilhar de tanta maldade. – Delinquente patética!

- Kuyan, não é você que gosta de menininhas? – Perguntou sarcástica sem desviar o olhar. – Pois faça as honras aqui...

Mas o homem não gostou nada daquilo, podia ser assassino, frio, maldoso, mas ele nunca estuprou uma mulher, mesmo que tivesse tido chance, não era daquele tipo, até mesmo ele tinha seus limites. Jennie virou o encarando com fúria erguendo uma das sobrancelhas, Kuyan simplesmente negou com a cabeça.

- O problema com ela é seu, não vou me envolver mais que o necessário.

 - Acha que eu preciso de vocês pra isso? – Caminhou a passos firmes abrindo o portão de ferro, passou por Kuyan que a olhou de maneira curiosa, a viu chutar o banco velho e quebrar uma das quatro pernas. – Ela precisa de mais dor. – Mordeu o lábio inferior com vontade como se desejasse aquilo, apoiou a madeira no ombro e voltou a caminhar para cela.

- Jennie. – Kuyan a segurou antes de abrir o portão. – Pense bem, não faça nada que possa se arrepender.

- Por acaso pedi sua opinião? – O cutucou com pedaço de madeira. – Se não vai ajudar, não interfira.

 Yeri passou as mãos sobre os braços tirando aquela mistura que queimava sua pele, os cabelos tinham partes descoloridas de forma irregular, o corpo estava exausto, as costelas, as costas, nenhuma parte de seu corpo deixava de latejar, encostou a cabeça na parede levando o olhar para o lado vendo Jungkook a encarar com lagrimas escorrendo em seu rosto, pedia desculpas em sussurros, mas a culpa não era dele, talvez fosse dela, por isso estavam naquele lugar.

 - Deus...- Sussurrou ela para si. – Se esta ai, por favor... Nos ajude! – Encarou aquele telhado fechando os olhos logo em seguida, a imagem do corpo de Juhyun veio em sua mente. – Por favor...

  Acabou abrindo os olhos rapidamente dando outro grito de dor, suas costelas foram atingidas com força por aquele pedaço de madeira a fazendo perder o ar novamente. Jennie pegou em seu braço a deitando no chão, sentou sobre seu corpo e bateu em sua cabeça abrindo um grande corte. O corpo da menina amoleceu no mesmo instante, a visão ficou turva e tudo girava, as vozes ecoavam de maneira lenta em sua mente até que tudo se apagou.
-
 Vocês acreditam em vida após a morte? Acho que já perguntei isso uma vez, mas agora essa pergunta sai um pouco mais profunda. Isso o que aconteceu é real, ou pelo menos para mim parecia extremamente real, pude sentir os toques, os sentimentos, o medo, a felicidade, a ansiedade, tudo era palpável. Mesmo que sejam céticos sobre esse assunto, Deus, espíritos, outra dimensão, peço do fundo do meu coração, acreditem pelo menos nas minhas palavras, porque eu as vivi de uma maneira que acreditar era um dever não uma opção.
-

Aquele lugar era iluminado, espaçoso e aconchegante. A grama estava verde e bem cortada, escorregadores, balanços, uma grande caixa de areia se localizavam no canto direito daquele pátio onde diversas crianças corriam animadas, a fonte do lado direto estava ligada trazendo aquele som calmo, relaxante. De repente uma garotinha de cabelos curtos e castanhos passou correndo ao seu lado rindo alto e olhando para trás como se certificasse que ninguém a seguia, mas logo em seguida uma adolescente, mais ou menos da sua idade passou por si também.

 -Eu sou um furão corredor! – Aquela criança gritou desviando da adolescente que ria na tentativa de pegá-la pelo braço.

Furão corredor? Ela já tinha ouvido aquela expressão em algum lugar, mas não conseguia recordar. De repente aquela garotinha escorreu em um dos degraus da escada de cimento que levavam para o fundo daquela mansão. Agarrou o joelho esquerdo com pressa deixando as lagrimas escorrem pela bochecha, mordia o lábio tentando manter-se forte, mas aquele ferimento estava ardendo demais.


- Yerim!

 Gritou a adolescente preocupada correndo em sua direção, afagou seus cabelos beijando sua testa. Foi então que sentiu uma dor latejante em sua perna, olhou para baixo podendo ver aquele vestido azulado ter uma pequena mancha vermelha, levantou a barra vendo seu joelho conter a mesma marca da garotinha.

Era ela, aquela criança era Yeri. Quando fez nove anos caiu na escada de cimento do orfanato fazendo uma pequena cicatriz em seu joelho, não tinha sido nada grave, mas doeu tanto que aquilo ficou marcado em sua mente.


 O pátio do orfanato se desfez como uma nuvem de fumaça branca, elas começaram a se espalhar pelo o espaço que estava, tornando-se em outras formas, o chão aos seus pés antes apenas branco transformou-se em tabuas de madeira escura, havia pingos de tintas coloridos, pregos velhos, alguns enferrujados e brevemente soltos o que fazia aquele som de assoalho, um rangido engraçado. Yeri mais uma vez analisou sua roupa, o vestido antes sujo de sangue voltara a estar limpo e arrumado, olhou o joelho, apenas a cicatriz estava ali, pequena e quase escondida. O barulho da porta se abrindo chamou sua atenção a fazendo erguer o rosto, era Irene e Seulgi, estavam tão mais jovens, logo em seguida pode ver a si mesma, vestida uma saída de banho lilás, chinelos nos pés e uma sacola esverdeada em uma das mãos cheia de areia. Atrás da porta pode ver brevemente o azul do mar e o cheiro da maresia invadir-lhe as narinas, a sacola foi deixada em cima da mesa e ela, a garotinha correu para outra porta, Seulgi abriu a sacola tirando diversas conchas começando a separa-las, Irene balançava a cabeça para a direita, parecia tentar tirar a água que estava dentro do ouvido.

Onde estava? Melhor, quando estava? Aquilo tudo era um deja vu, mas não estava tão claro. O lugar era bonito, os cavaletes de pintura estavam vazios, mas no quarto a frente pode ver as telas coloridas, pinturas de Seulgi. Aquela era a casa de praia dela.

- IRENE!!

 O grito distante e abafado a assustou. Encarou a porta atrás de si que foi aberta as pressas por Irene que entrou apavorada com aquele grito, Yeri afastou um pouco mais a porta entrando no cômodo, estavam no banheiro. Seu coração acelerou de repente a fazendo perder o ar, as mãos tremiam demais, pode sentir algo descer pelas suas coxas e chegarem às pernas, sangue. Olhou para frente vendo à pequena Yerim da mesma maneira que ela, olhando as mãos assustada, no chuveiro a água escorria sobre seus ombros descendo seu corpo e levando aquela coloração vermelha pelo ralo. Coitada da pequena, aquele foi um dos dias mais apavorantes, pensou que algo de errado tinha acontecido com ela. Aos doze anos, em dia descontraído na praia veio a sua primeira menstruação, quase a matando de susto. Mas Irene a acalmou e ainda fez questão de brincar com aquela situação explicando que era comum.

 Ela mesma riu da situação, assistir aquilo era como acessar memórias arquivadas. Mas uma vez as coisas transformaram-se em fumaça, abriu os olhos vendo que estava de volta ao orfanato, naquele quarto grande cheio de camas, estavam arrumadas, podia ouvir o barulho da chuva do lado de fora, virou brevemente observando as gotas baterem com força sobre o vidro, encostou a mão ali sentido o frio subir pela sua espinha, notou que do lado de fora estava alguém sentando a beira da fonte. De repente lá estava ela, em frente aquela garota de cabeça baixa, sentindo a chuva cair sobre si, o corpo tremeu de frio, o coração se apertou e começou a chorar sem ao menos saber o motivo.

-Por quê? – Ela disse soluçando. – Porque não posso ter uma casa? – Ergueu o rosto encarando Yeri, mas na verdade nem ao menos a via, encarava o grande muro repleto de plantas presas. – Dói tanto...

 Agora se lembrava, esse foi o dia que a família que disse querer adota-la a devolveu por conta de encontrarem uma criança mais jovem. Foi tão doloroso e cruel ter aquela sensação de descarte, parecia estar preso em sua pele. Ela tinha treze anos, naquela época ainda desejava ter uma casa, com pai, mãe, um irmão ou irmã, bichinho de estimação. Como se aquilo fosse completa-la, mas, não.

- Yeri...

 A voz suave e calorosa a chamou, segurava um guarda-chuva rosa claro cobrindo seu corpo. Irene sorriu de forma gentil, abriu o braço recebendo um abraço forte da outra Yeri, que continuou a chorar.

 Yeri colocou a mão sobre o peito que doía demais, também chorava, mas chorava pelo fato de sentir aquele amor incondicional de Juhyun que sempre esteve ao seu lado, não importando a situação. Aquele calor, o aconchego, as palavras de conforto. Tudo estava gravado em sua mente, pele. Ela sempre foi sua família.

As imagens se dissolveram, Yeri caiu de joelhos no chão, chorava, chorava muito, abraçou o próprio corpo sentindo o desespero apertar seu peito, soluçava, balançava a cabeça de maneira negativa, de repente ela pode ver aquele corpo caído no asfalto. Continuava ajoelhada vendo aquilo, o sangue, a dor, as pessoas ao redor assustadas com a extrema violência.

- Juhyun... – Ela chamou afogada em suas lagrimas, encarando aquele rosto pálido e sem expressão. – Minha unnie... Por quê? Porque você tem que estar assim? PORQUE EU FIZ ISSO COM VOCÊ!?

 A escuridão tomou aquele lugar, Yeri manteve-se no chão, não conseguia se levantar, sofria muito com aquela imagem, aquela dor profunda, como se recebesse facadas dentro do coração, agonizava.

- Me perdoa... Me perdoa por não ter te dado o valor que merecia!

 Aquela escuridão a consumia, sentiu algo tocar seu cabeça com sutileza a fazendo ergue-la, não havia ninguém. Enxugou o rosto brevemente encarando os lados, tudo escuro e frio, parecia não ter fim, mas de repente logo a frente uma luz invadiu o lugar, como se uma porta tivesse sido aberta, com a força que conseguiu reunir se levantou e caminhou naquela direção. A luz branca atrapalhou sua visão a fazendo cobrir os olhos com a mão, a porta atrás de si fechou com suavidade, conseguiu enxergar sem dificuldade, estava no vestiário do colégio, de repente garotas começara a correr gritando coisas que ela não entendia.
Passou pelos armários encontrando aquela cena que a deixou apavorada, quase sem saber o que fazer. Foi a primeira vez que encontro Meena, no primeiro ataque de epilepsia, ninguém a ajudava, olhavam assustadas, apontando e cochichando. Mas lá estava Yerim, mexendo os braços pedindo para que chamassem os professores ou qualquer um, deixou a cabeça da garota caída sobre seu colo levemente inclinada.

- Para uma menina de quinze anos você sempre foi muito corajosa. – Yeri assustou-se com a voz que surgira de repente ao seu lado. Um homem de cabelos curtos e escuros, vestia uma túnica verde água, mantinha as mãos entrelaças para frente e observava a cena que não havia som algum. – Tanta dor e sofrimento.

- Quem é você? – Limpou os olhos mais uma vez enxugando outras lagrimas que escorriam. O homem virou em sua direção e deu um pequeno sorriso, seus olhos eram castanho claro, não era asiático, seu rosto tinha um pouco de sardas, ele se curvou de repente. – Porque estou aqui?

- Eu sou algo, alguém, além do que muitos podem entender. – Disse tocando em seu ombro, a sensação daquela mão sobre seu ombro lhe trouxe paz e calma. – Você é uma menina curiosa. – riu fraco. – Não se preocupe, essa dor vai passar, a saudade vira, a duvida também, mas isso tudo vai passar.

 - Não entendo, porque, porque tudo isso comigo? – Os olhos dela voltaram a lacrimejar.

- Infelizmente são coisas que agora não tem explicação, mas o propósito a frente é justo. – Yeri balançou a cabeça.

- Ela morreu... – Apertou a mão no peito. – Irene, eu vi, a culpa foi minha, ela sempre fez tudo...

-Acalme seu coração criança. – Ele disse lhe dando um abraço quente, as mãos dele ficaram em suas costas, a sensação ficou ali marcada, era boa. – A culpa não é sua, nada é culpa sua... – Beijou sua testa e se afastou. – Você é uma criança com muito amor dentro do coração, uma alma pura, mente curiosa, todos aqueles em seu caminho são parecidos, ela, é que te completa, que te despertou a ser dessa maneira. – Estendeu o braço para frente onde tinha uma porta dupla, madeira clara e tinha um vitral colorido. – Siga, o caminho é escuro, frio, mas saiba que mais para frente se iluminara. – Yeri acenou, não tinha mais perguntas, na verdade, não sabia que perguntas fazer, quando aproximou-se da porta ouviu aquele homem a chamar mais uma vez. – Acredite sempre.

 Sem responder acenou brevemente passando pela porta, o lugar era quente, mas não podia ver o céu ou o sol, apenas a grama em seus pés, um campo aberto onde seus olhos se perdiam naquela imensidão sem absolutamente nada, além da grama esverdeada e o céu branco.
Caminhando sem rumo naquele lugar, respirou fundo sentindo um cheio amadeirado muito conhecido por ela, mas que no momento não se lembrava de que poderia ser, parou de andar ouvindo seu nome ser chamado, olhou para os lados, não havia ninguém ali. Mais uma vez ouviu seu nome, e ao longe pode ver a entrada da universidade, ela estava lá, conversando com alguém, Jungkook? Sim, era ele, a primeira vez que tinha se conhecido naquele ano. Depois a sua esquerda ouviu gritos animados, assustou-se, mas logo avistou aquele grupo gigante correndo de um lado para o outro, se divertindo com a bola de vôlei.

Todos os momentos que passou naquele ano estavam sendo revividos, passava ao seu redor como uma grande tela de cinema, momentos bons, alegres e até mesmo os ruins. Ela se sentia confusa, sem entender de tudo aquilo. Porque tinha que ver, reviver aquilo? Todos aqueles sentimentos misturados, a deixavam ainda mais perdida. O que estava acontecendo?

      “Quanto tempo o coração leva para saber que o sinônimo de amar... É sofrer?”

Yeri respirou fundo passando os dedos sobre os fios de cabelo, mantendo sua calma, procurando entender tudo aquilo, como chegara aquele lugar, estava sem dores, machucados, há instantes estava presa com Jennie, agora estava... No paraíso?

- Se ficar pensando muito nunca ira casar. - Ela ergueu o rosto rapidamente ao ouvir aquela voz, vestia uma roupa branca, mangas longas e gola alta, o rosto estava corado sem machucados, o batom claro nos lábios, os cabelos soltos e jogados para trás. – Acho que é por isso que eu não desencalhei...

-I-Irene... –

 Yeri não pensou duas vezes ao correr em sua direção e lhe dar um abraço apertado escondendo o rosto em seu pescoço. Mais uma vez ela chorou, aquele abraço era real, bom, aconchegante, carinhoso, sincero, soluçou forte sentindo aquela mão passar sobre seu cabelo, sobre as costas. Estava com medo, não queria abrir os olhos e saber que nada daquilo era verdadeiro, que trata-se de uma ilusão do seu estresse, das dores causadas por Jennie, só queria continuar ali, daquela maneira onde Juhyun estava viva.

- Você não tem que se desculpar. – Ela disse de repente. – Eu amo você, não se preocupe nunca deixarei de te amar. – Yeri levantou o rosto a encarando, as lagrimas escorriam sem descanso, colocou as mãos sobre o rosto da mulher o analisando e o acariciando com os polegares. – Vou estar com você, sempre.

 Yeri não respondeu apenas a abraçou novamente, aconchegando a cabeça em seu ombro, se balançavam de um lado para o outro de maneira suave, a voz da mulher cantarolava algo que a menina ainda não sabia identificar o que era, mas sabia que era bonito, fazia seu coração bater com mais calma, como se a confortasse.



                                         Porque o passado me traz uma lembrança
                                         Do tempo que eu era criança
                                         E o medo era motivo de choro
                                        Desculpa pra um abraço ou um consolo...
-


O corpo desacordado da menina continuava no chão, sua camiseta estava aberta, os ombros, o tórax, a barriga, tudo estava sendo marcado com cortes profundos pela ponta daquela tesoura. O desejo de Jennie era afundar a tesoura na garganta daquela menina, desceu as mãos até o cós da calça, podendo ouvir os gritos alarmado do namorado que provavelmente já deveria ter deslocado o ombro de tanto tentar abrir aquele portão a força, mas parou o que estava fazendo abaixando a cabeça quando um som alto de tiro surgiu de repente, encarou a entrada onde se encontrava Kuyan que correu para saber o que havia acontecido e ele foi arremessado contra a parede, ela se levantou trancando o portão. Aqueles homens que entraram eram parceiros de Jay, um deles largou o corpo de Gae no chão, o loiro riu e apontou a arma para Jennie que ergueu o rosto sem medo.

- Não é fácil se esconder de seu irmão. – Disse.

- Vai atirar? Porque não vou me importar. – Ela virou de costas voltando para perto da menina. – Meu irmão não pode me parar!

- É o que pensa. – O rapaz a tirou na trinca da cela ao lado libertando Jungkook que os encarava desconfiado. – Sai garoto. – Os outros capangas arrastaram aquela caixa velha deixando em frente à cela de Jennie, um laptop foi colocado em cima após abrirem demorou alguns instantes, mas Jay apareceu no vídeo ajeitando o casaco.

-Olá Jennie! – Jungkook massageou o próprio ombro aproximando-se daqueles homens que mantinham uma pose séria. – Você me obrigou a trata-la como um trabalho qualquer...Então...

-
Hm, você não tem nada contra mim irmão, porque não para de se meter na minha vida, já está tarde para se preocupar comigo. – Segurou o rosto de Yeri o virando para câmera. – Veja, aprendi bem. – A soltou pegando uma garrafa verde com um liquido dentro. – My Love is fire! – Encarou a tela com um sorriso cruel.

-É melhor pensar duas vezes. – Ele riu sarcástico, quando saiu de vista Jennie calou-se no mesmo instante, Joy estava amarrada a uma cadeira, na sua boca um pano preso, pode ouvir seu choro abafado. – Então... Ainda acha que não tenho nada contra você? - Estava sem seu casaco, erguia as mangas da camisa social e tirou de trás de sua calça um revolver. – Isso é uma Magnum, abre um buraco incrível no crânio de alguém. –Abriu o tambor da arma e mostrou apenas uma bala, girou o tambor duas vezes e o colocou no lugar. – O jogo se chama roleta-russa, perde quem receber a bala. – Encostou o cano na têmpora da menina que grunhiu, mexendo-se de nervoso. – Têm cinco chances, a sexta é certeira! Solte os dois agora!

 
Joy chorava tentando se soltar daquelas cordas, Jennie não conseguia acreditar que ele havia a pego, aquele desgraçado sabia tudo o que fazia, quem eram seus amigos, mas ela tinha certeza que tinha a mantido longe o suficiente para que nenhum daqueles capangas a encontrasse.  Ela abriu a garrafa e começou a despejar o liquido sobre o corpo desmaiado, o cheiro da gasolina começou a invadir o local de maneira rápida, algumas gotas molhavam suas calças, ainda jogou um pouco envolta da cela, apertou a garrafa com raiva e a jogou para longe.

- Você não tem coragem! –

 Ela o desafiou, um dos capangas aumentou o som do laptop e pode ouvir aquele som do gatilho ser puxado, Joy fechou os olhos com força dando um grito abafado. Sem munição.

- 4 - Contou ele.

 Mais uma vez ele apertou o gatilho, Sooyoung chorava desesperada, tentava dizer o nome de Jennie tremendo de medo.

- 3

- Jennie já chega! – Gritou Jungkook, batendo no portão, só queria que aqueles homens abrissem aquela porta para tirar Yerim daquela garota.

 A menina nem ao menos deu ouvidos, estava fora de controle, não pensava, apenas agia por impulso e loucura, tirou do bolso da calça uma caixa de fósforos e acendeu um, naquele mesmo instante Jay puxou o gatilho, encarou o fósforo como se o fogo a seduzisse, aquela pequena chama dançava para si, ouviu seu nome ser chamando mais uma vez e finalmente olhou para tela do computador. Sem ter mais o pano atrapalhando sua fala, seu irmão trouxe Joy para mais perto da câmera ainda com a arma em sua cabeça.

-Jennie... Por favor!

Ela implorou, mas a garota não se importou Jay não teria coragem de matá-la, mas Jannie teria para botar fogo em tudo, olhou para o corpo de Yeri estava pronta para soltar o fósforo quando pode ouvir o som do tiro. Encarou a tela saindo de seu transe, havia sangue na câmera, Jay olhou para o cano e depois para tela, não podia mais ver Joy.

-Tragam-na pra mim!

A porta fora aberta e os homens avançaram contra ela que deixou as lagrimas caírem, mas não deixou ser pega facilmente por eles, aquele fósforo que queimara as pontas de seu dedo fora jogado no chão fazendo uma trilha de chamas seguindo em direção ao corpo da menina que estava ali. O fogo se alastrou rapidamente, mas Jungkook conseguiu erguer Yeri com rapidez apenas vendo a sua própria calça queimar brevemente da barra. Ele teve ajuda dos outros que estavam ali saindo as presas, as chamas consumiam o local rapidamente por das vigas de madeira podres, nem ao menos pensou em Jennie enquanto descia aquelas escadas correndo, aquele homem loiro apoiava as mãos em suas costas guiando o caminho para a saída, quando finalmente pode sentir o vento gélido na face escutaram um grande estrondo, o teto deve ter cedido.

 Jungkook ajoelhou-se cansado, ajeitou a menina em seus braços e limpou seu rosto com a manga da própria blusa a livrando da gasolina e o pó descolorante que havia queimando sua pele, acariciou suas bochechas com as mãos tremulas, estava apavorado, aquele homem mais uma vez parou ao seu lado checando os batimentos de Yeri.

- Ela está viva, mas precisa urgente ir ao hospital. – Ele o encarou e logo atendeu o celular de tocou. – Jay? Não, não sei, sua irmã colocou fogo no deposito...

- ATRAS DELA! – Gritou o outro que fazia uma breve ronda no terreno.

- Espera, ela saiu pelos fundos... Certo! – Desligou o celular olhando para Jungkook novamente. – Venha vamos para o hospital.

- Mas e a Jennie? – Perguntou ao se levantar, quase não conseguiu segura-la em seus braços por conta do cansaço.

- Me dê ela. – Disse o homem tirando Yeri de seus braços. – Os outros vão pegá-la, tenho ordens de levar vocês a um local seguro. Sou Todd.

 Jungkook acenou com a cabeça, olhou para o céu vendo que o sol já estava se pondo, quantas horas haviam se passado desde que acordará naquele lugar? Como estariam os outros? Taehyung, Irene... oh céus, Irene! Ele tentou não pensar no pior, sua mente não processava mais nada, apenas focava em levar Yerim o mais rápido possível para a emergência, havia perdido muito sangue, sem contar as inúmeras agressões e o golpe profundo que tinha em sua cabeça.


                                                   De repente a gente vê que perdeu
                                                   Ou está perdendo alguma coisa
                                                   Morna e ingênua
                                                  Que vai ficando no caminho



Depois de uma perseguição falha por conta do transito e muitos desvios, os garotos tomaram seus rumos ao hospital onde Wendy suplicava por ajuda já que não conseguia controlar Taehyung. Apesar de estar no mesmo estado emocional que ele, ver o corpo de alguém que se ama caído sem vida no chão não era algo fácil e simples de lidar, mas a garota tentava, caso ao contrário os dois seriam internados. Tudo aquilo era surreal, há minutos estavam bem, rindo, comendo, se divertindo e no outro, apenas tragédia e dor.
 A maca de Juhyun fora levada para dentro de uma das salas de cirurgia, não sabiam o que os médicos fariam para salva-la, se havia alguma hipótese de ela ter sobrevivido aquele atropelamento, Taehyung não conseguia sentar, andava de um lado para o outro com os dedos entrelaçados na altura do peito, como se fizesse uma oração silenciosa, o que sinceramente ela fazia o mesmo. Qualquer homem ou mulher que passava era abordado por ele pedindo informações sobre o estado de saúde de Irene, mas ninguém sabia responder. Foi então que depois de bons longos minutos, um médico se aproximou com uma expressão nada graciosa ou positiva.

- Vocês são parentes da vítima? – Aquela palavra fez o coração de Wendy parar por alguns instantes.

- Eu sou namorado dela! – Taehyung respondeu afobado. – Doutor, por favor, me dê uma notícia boa! – O homem coçou a cabeça tentando disfarçar sua expressão de lamento.

- A notícia que tenho... Bom...- Respirou fundo antes de continuar. – Infelizmente nós tivemos que induzi-la ao coma, mas pelos exames iniciais, não a nenhum indicio que ela poderá acordar. – Taehyung deu as costas por alguns instantes não podendo mais ouvir o que aquele homem tinha a dizer, mas então ele continuou. – Mas, por incrível que possa parecer, e suponho que o senhor já saiba, ela está gravida, por sorte e na verdade eu diria milagre, o feto continua intacto, por esse motivo decidimos deixá-la ligada aos aparelhos para que o bebe possa se desenvolver.

 Taehyung deu as costas, ele não conseguia aguentar tudo aquilo, não era possível, como poderia ver Juhyun deitada em uma cama, repleta de maquinas e tubos, vendo aquela barriga crescer, mas no final, ela não verá a criança, os aparelhos serão desligados e o deixara de vez. Ele não queria aquilo, não conseguiria cuidar de um bebê sem ela, sua mente negava até o fim aceitar aquilo. Escorregou lentamente pela parede do corredor, encostando a testa naquela tinta branca, fechou os olhos com força deixando as lagrimas o dominarem mais uma vez, seu coração doía, algo estava faltando dentro de si, a vontade de viver se esvaindo aos poucos, socou uma, duas vezes a parede e soluçou ficando ali, sozinho.
O médico ainda completou dizendo que apenas um membro da família poderia interromper aquele procedimento, mas mesmo que Yerim estivesse ali, era menor de idade, Irene era a única pessoa realmente próximo de família que ela tinha, como aquela menina aguentaria todo aquele estresse, ser sequestrada, e por fim descobrir que Juhyun tinha partido. Os policiais chegaram quase ao mesmo tempo que os outros rapazes que estavam com uma expressão irritada e ao mesmo tempo decepcionada por não terem conseguido seguir aquele maldito furgão. Wendy não teve que dizer muito, apenas viram o estado do colega que mantinha uma distância considerável do grupo.
 As coisas ficavam cada vez mais complicadas, todos ali deram seus depoimentos, contaram tudo o que sabiam sobre Jennie, os homens que a acompanhavam, de quem ela era irmã e toda a trajetória que conheciam. Receberam a notícia que a filha de Erin, Sooyoung também tinha desaparecido logo cedo, depois de sair de casa sem avisar, até aquele ponto ninguém fazia ideia porque ela teria desaparecido, cogitaram entre si hipótese de ela estar por trás do ataque de Jennie a Yeri, mas isso não bateria com o fato da sua ligação avisando-a dos planos da colega. Após um tempo apenas Taehyung ficou próximo aos quartos de internação, os outros foram levados para o lado de fora na sala de espera, Seulgi foi correndo para o hospital depois da ligação de Jimin, ela e Wendy ficaram juntas, abraçadas sem dizer uma palavra, apenas dando forças uma para a outra.
As horas se passaram e nenhuma notícia de Jungkook e Yerim, os policiais estavam totalmente mobilizados, a mídia focava apenas naquele assunto, mostrando fotos de todos os desaparecidos. Namjoon estava fumando do lado de fora balançando as pernas de maneira inquieta, sem saber por onde começar a procura-los, seus pensamentos foram cortados após ouvir uma buzina alta, o carro cantou os pneus estacionando rapidamente na frente do hospital, no mesmo instante seu celular tocou, ele não sabia se atendia ou prestava atenção na cena a sua frente.

- Alo? – Apagou o cigarro desviando a multidão que se formava a sua frente.

-Seu garoto e a menina estão a salvo. – Aquele tom saia sério e ao mesmo tempo cansado. Namjoon encarou rapidamente o visor não conseguindo identificar o número da chamada, logo viu as enfermeiras ajudarem os passageiros que saiam do carro. – Eu tenho uma dívida com você Namjoon, o que Jennie fez, não é perdoável, mas peço que deixe comigo, não faça nada.

- Jay, ela matou a Irene. – Comentou correndo para dentro do hospital vendo o corpo de Yerim completamente machucado ser colocado em uma maca e ser levado para a emergência. – Puta merda...

-Merda... – Aquilo o pegou de surpresa. – Acredite em mim, vou fazer com que ela pague.

 Não teve tempo de responder a ligação ficou muda, acompanhou a enfermeira que levou Jungkook para o atendimento rápido, ele estava machucado, cortes no rosto, braços e a perna esquerda queimada. O que ele passou não era algo fácil de ser contando, então o deixou ser tratado, o garoto mantinha a cabeça baixa e os olhos fechados. Ao saberem que finalmente tinham sido encontrados o grupo ficou agitado, faziam perguntas, queria entrar para saber como ela estava, como Jungkook tinha fugido, tudo foi explicado de maneira breve por ele depois que juntou-se a eles na sala de espera, precisaria esperar até que todos os exames e curativos fossem feitos em Yeri, ela precisava se estabilizar antes de receber visitas.
 Foi Taehyung que a viu passar desacordada na maca, continuava do lado de fora sem ter coragem de encarar o corpo de Juhyung, orou mais uma vez pedindo que agora, a menina estivesse bem, era isso que sua namorada iria querer. Elas ficaram em quartos separados, o mesmo médico aproximou-se de Taehyung, ficou surpreso ao saber que ambas tinham sofrido um acidade, Yeri tinha costelas trincadas, cortes profundos em todo corpo que precisaram de cinco ou mais pontos, ele temia que a pancada que recebera na cabeça pudesse afetar sua memória, mas por quanto tempo ele não saberia deduzir, apenas quando ela acordasse, lhe deram um banho para retirar todo o resíduo da gasolina e enfaixaram algumas partes do corpo por causa das leves queimaduras que tinha.

  Sentado ao lado daquela cama, o rapaz apoiava a cabeça sobre um dos braços, o outro mexia nos dedos finos e machucados daquela menina que acabara de sair dos exames, suspirou de forma pesada, mergulhado em seus próprios pensamentos, entrelaçou seus dedos aos dela rapidamente.

- Não consigo colocar a culpa em você... – Sussurrou Taehyung. – Ela teria feito à mesma coisa em todas as ocasiões de surgissem. – Encarou o rosto agora repleto de curativos, suas pálpebras mexiam com certa frequência como se estivesse sonhando com alguma coisa, acariciou sua bochecha brevemente apoiando os cotovelos sobre o colchão logo depois. – Apenas melhore logo... -

 Escutou algumas batidas na porta antes dela ser aberta mostrando a figura de Jungkook e outra mulher que reconheceu instantes depois.

- Hyung... – Seu tom saiu mais baixo do que pretendia, mas tratando-se da situação deu de ombros. – Erin... Veio vê-la.

- Minha filha também desapareceu, estava com esperanças que elas estivessem juntas. – Jungkook virou o rosto tentando manter-se em silencio sobre aquele assunto, Namjoon pediu para que mantivesse segredo até que o corpo de Joy fosse encontrado e confirmado sua morte. – Eu sabia que Yerim devia ter ficado comigo, aquela...

- Acho melhor pensar duas vezes no que vai dizer sobre Irene, porque ela salvou a vida de Yeri. – Taehyung fechou os punhos parando ao lado da mulher que encolheu os ombros ao ouvir seu tom grosso e irritado. – Não me faça expulsá-la o que posso muito bem fazer.

- Escute, estou preocupada com Yeri, e não com Irene. – Jungkook tocou em seu ombro pedindo para que se controlasse. Aquela mulher só sabia fazer comentários absurdos causados pela inveja e a raiva. – O que ela fez ou deixou de fazer é dever dela e...

- Ela morreu! – A frase saiu como um tiro fazendo Erin se calar e encara-lo. – Ligada a aparelhos apenas para que o nosso bebê cresça. – Respirou fundo tocando na perna de Yerim. – Então, por favor, um pouco mais de respeito, ela a amava demais e não se importou de perder a própria vida por alguém que amou. – Apontou para porta. – A senhora pode voltar mais tarde, quando eu ou Jungkook não estivermos aqui, não sou obrigado a compartilhar o mesmo ambiente que você, saia!

 Erin nem ao menos tentou argumentar, o olhar daquele rapaz conseguia ser mais intimidador do que qualquer outra coisa que já tenha visto da vida. Saiu do quarto ajeitando a bolsa do lado do ombro, caminhou um pouco a dois quartos à frente e parou em frente a um vidro, conseguindo uma visão parcial do corpo de Irene. Ela cobriu a boca com a mão e balançou a cabeça, foi tão estúpida, era tão impulsiva, tinha que deixar aquela raiva de lado, a situação era mais séria do que um simples contrato de adoção. Irene sempre fora mais corajosa e determinada do que ela, talvez por isso sentisse tanta inveja, esperava do fundo de seu coração que Deus a perdoasse por todas as blasfêmias que já fizera.

De volta ao quarto de Yerim, os rapazes conversavam de maneira baixa, estavam distraídos que nem ao menos perceberam que ela havia despertado. O corpo ainda doía, sentia que cada parte dele recebia diversas agulhadas profundas por toda a extensão da pele, a visão estava ruim, encarou aquilo que deduziu ser a porta, virou para o lado direito vendo três silhuetas, uma delas era branca, as outras duas não soube identificar. Suspirou pesado fechando os olhos novamente, a cabeça girava a fazendo sentir enjoo.

- Jungkook? – A voz saiu rouca e falha, chamou o rapaz quando pode identificar sua voz que saiu um pouco mais alta enquanto conversava. – Tae?

- Yerim! – Jungkook foi apressado para seu lado tocando-lhe a cabeça gentilmente. – Oi, como se sente?

- E ai mocinha, estamos aqui, não se preocupe. – Taehyung disse parando em frente à cama.

- Não enxergo direito e... Estou com enjoo. – O rapaz olhou aquela mistura de medicamentos que recebia pela veia. – E com frio...

- São os remédios, vai passar. – Comentou ajeitando os cobertores, Taehyung saiu dali avisando que chamaria o médico, Jungkook puxou a cadeira para mais perto e sentou-se. – Estou feliz que acordou, estava ficando ainda mais preocupado.

 Ela coçou brevemente os olhos, as coisas ainda estavam um pouco embaçadas os objetos não tinham formas nítidas, e ainda podia ver aquela silhueta branca atrás de Jungkook. O rapaz segurou sua mão chamando-lhe a atenção.

- O pessoal disse que tem muito repórter do lado de fora do hospital... – Disse suspirando de maneira pesada. – Aparecemos até no jornal.

- Pega carona nessa fama, canta pra eles. – Riu fraco fechando os olhos, ele sorriu acariciando sua bochecha. – Quero perguntar uma coisa, mas estou com medo da resposta.

 Jungkook sabia do que estava falando, mas quando abriu os lábios para responder fora interrompido pelo médico que passava pela porta com um pequeno sorriso no rosto, aproximou tocando brevemente na testa de Yeri que o encarou.

- Como está? – Ele perguntou analisando seus curativos.

- Não posso enxergar direito, está tudo muito embaçado. – Resmungou quando o homem checou suas pupilas lançando um flash de luz daquela sua pequena lanterna, sentiu como seu globo ocular queimasse, doíam com aquela claridade.

- Hm, seus olhos estão sensíveis, pode ter sido os produtos que caíram, a pouca luz do local, até a pancada que levou na cabeça. – Pediu permissão para que pudesse levantar aquela camiseta do hospital para examinar o resto de seu corpo, Jungkook incomodou-se um pouco e estava prestes a virar de costas, mas Yeri segurou sua mão, ela sentia dor enquanto o homem apertava sem muita força suas costelas claramente roxas. – Mas tenho certeza que logo sua visão voltara ao normal, terá que ficar aqui por um tempo, pelos exames você teve uma costela quebrada e outras simplesmente trincadas. É uma questão de segurança, saber se seu corpo ficou totalmente limpo dos produtos tóxicos que lhe deram.

- Doutor...- Ela o chamou enquanto estava distraindo olhando aquela ficha medica. – Você atendeu Bae Juhyun? Por favor, me diga o estado dela.

 Ele respirou fundo após ouvir tal pergunta, pelo que o rapaz, Taehyung o informou, elas eram extremamente unidas, pela pouca informação, teria que tomar cuidado com as palavras que usaria, Yeri passou por um trauma, talvez sua mente não aguentasse outro. Guardou as mãos dentro do jaleco um pouco sujo e aproximou-se.

- Ela, está em coma, na verdade nós a ligamos a aparelhos para que continuasse viva. – A viu virar o rosto em direção a Jungkook que acolheu beijando sua testa. – O bebê, como eu disse ao namorado dela, surpreendentemente sobreviveu ao choque, por isso decidimos que o certo seria liga-la as maquinas. – Acenou brevemente sem dizer uma palavra sequer, ajeitou-se nos abraços do rapaz que aproximou-se ainda mais da cama. – Sinto muito... Soube que eram próximas.

- Éramos uma família.

 Aquelas palavras abafadas o atingiram com um certo impacto, o homem não soube o que dizer, apenas escutou em silencio saindo do quarto da mesma maneira. Em todos os anos que trabalhou nunca sentiu tanto o sofrimento de alguém quanto daqueles jovens. Não importavam as horas, a fome, o sono, eles continuavam ali, unidos, tristes, apoiando uns aos outros a cada instante. Os observou durante alguns minutos na sala de espera, depois seguindo para os quartos onde aquele rapaz, Taehyung, continuava sem entrar no quarto da namorada, podia entender aquela dor, não querer ver a verdade a sua frente, a realidade era cruel demais. Foi até o quarto, checando a aparelhagem, revendo os resultados dos exames, todos aqueles órgãos funcionando por um verdadeiro suspiro, costelas, coluna, pernas, chamava de misericórdia divina ela não sofrer com todas as dores que sentiria se estivesse acordada.
 
As mãos estavam mais uma vez escondidas nos bolsos do jaleco enquanto continuava ali parado ao lado da cama de Juhyun, observando sua expressão aparentemente tranquila, desceu os olhos para o ventre e logo depois para a mão direita onde se encontrava uma aliança. Jovens amantes. Pensou ele com alegria.

- Sabe, senhorita Juhyun, queria poder fazer mais por você. – Tocou o dedo indicador sobre a aliança rapidamente. – É sempre triste ver vidas tão jovens irem embora dessa maneira...Tão trágica.

 Suspirou ansiosamente caminhando para fora do quarto, fechou a porta e assustou-se com um enfermeiro que estava parado a sua frente. Ele pediu desculpa curvando-se brevemente pedindo passagem logo depois, eram quase três horas da manhã, todos os funcionários pareciam zumbis, já deveria ter se acostumado com a sutiliza de seus passos. Quando voltou a caminhar por aquele corredor tentou lembrar-se de onde já o havia visto, alguma vez, mas sua memória não estava o ajudando naquele instante, deixou de lado, enfermeiros mudam de turno várias vezes.

 Estava tarde, todos estavam exaustos, mas recusavam-se a ir embora, apoiavam as cabeças nos ombros dos colegas, outros deitavam de mal jeito nas cadeiras duras e alguns apenas ficavam acordados procurando algo positivo para se focar. Algumas notícias sobre o acontecido passavam nos jornais noturnos, a polícia ainda procurava Jennie, mas não havia nada sobre Sooyoung, o que Namjoon achou particularmente estranho. Ele acabou recebendo uma ligação da delegacia pedindo para que ele e Jungkook fossem até lá, pois alguém pedia a presença deles. Depois que Yerim dormiu, foram à delegacia onde encontraram Jay de braços cruzados e uma expressão nada amigável, as pessoas daquele local o encaravam com certo receio e outro motivo era o imenso barulho que tinha dentro de uma das salas de interrogação.

- Jay? – Chamou Namjoon que apertou a mão do homem a sua frente. – O que houve? -

-Quero que denunciem Jennie, ela irá para um reformatório ou hospício, ainda não sabem. – Disse como se não tivesse importância, apontou discretamente para o casal que estava sentando a frente da mesa do delegado. – Aqueles são os pais da Sooyoung.

Jungkook engoliu a seco, o que estariam conversando?

- Vai fazer isso com a própria irmã? – Questionou Namjoon levemente desconfiado recebendo um aceno positivo com a cabeça. – Está certo, faremos isso.

- Espera, e a...

Jay apenas lhe lançou um olhar acima do ombro, como se aquilo não fosse assunto dele, mas logo o homem chamou um de seus parceiros que acenou com a cabeça e Jungkook por alguma razão pode respirar de maneira mais aliviada quando viu Sooyoung aparecer. Estava completamente pálida, vestia um moletom grande demais para ser dela, os olhos inchados, tossia de maneira forte parecia estar doente. Foi guiada até os pais que levantaram com pressa para abraça-la.

- O que? -

- Jennie tinha razão, eu não a mataria, e sabendo disso forjei tudo. - Endireitou as costas vendo o delegado se aproximar. – A versão da história é que Jennie a sequestrou também, queria ficar com ela para sempre e bla bla bla.

- O relato já foi registrado senhor Park, sua irmã será levada para o reformatório, para na próxima semana ter uma avaliação mental. – Falou o homem que apoiava a mão sobre a arma.

- Por favor... – Joy sussurrou. – Me deixe vê-la.

- Está maluca!? – Gritou a mãe. – Ela te sequestrou e torturou Yerim!

- Por favor...

 Sem mais o que dizer a mãe jogou os braços para cima sem entender, Jay a encarou sem falar nada, ele já havia a avisado para deixa-la em paz depois de tudo aquilo que nunca mais iria vê-la, Jennie precisava se desintoxicar dela. Mas Jungkook tocou em seu ombro brevemente, sabia o porquê dela querer entrar, por mais que devesse odiar Sooyoung, por ela também ter feito coisas ruins com sua namorada, ele aprendeu que em certas circunstâncias, as pessoas devem ser perdoadas, criar compaixão, acenou para ela como se a encorajasse e então ela deu um breve sorriso e abriu a porta.

- ME SOLTEM DAQUI SEUS...! – Jennie gritava sem descanso puxando os pulsos presos pelas algemas que estavam vinculados aquela mesa prateada, não importava o tanto de força fizesse, a mesa estava parafusada ao chão. Não acreditou no que via parado na frente daquela porta que acabara de se fechar. – Joy? – A voz saiu sua rouca, os olhos lacrimejaram e ela tentou se aproximar, mas Sooyoung dera um passo para trás assustada. – Eu ouvi, vi o sangue, Jay atirou em você...

-Não Jennie... – Ela mordeu os lábios chorando mais uma vez. – Você atirou em mim, quando ignorou minhas suplicas.

- Doeu, doeu muito imaginar ficar sem você, Sooyoung, por favor! – Seu tom saiu mais alto do que pretendia.

- E-eu amo você. – Disse. – Mas, estou com medo, muito medo, não posso viver com isso, o que faria comigo se perdesse o controle daquela maneira? – Chorou cobrindo a boca. – Você nem me escutou, eu poderia ter morrido de verdade! PORQUE NÃO PAROU!?

- Joy... Não... Por favor! – Ela tentou se aproximar, mas a menina se afastou gritando.

- FICA LONGE DE MIM! – A porta se abriu mostrando o delegado e seu pai. – EU PEDI, PEDI PARA QUE PARASSE, MAS VOCÊ ME IGNOROU! PORQUE NÃO ME ESCUTOU?

-Chega, vamos! – Ordenou o pai a segurando pelos braços a levando para fora.

- SOOYOUNG POR FAVOR! NÃO! –Puxou os braços com força sentindo os pulsos cortarem, o delegado a segurou pelos ombros mandando que se acalmasse. – NÃO ME ABONDONE TAMBÉM! – A porta se fechou a Sooyoung desapareceu. – Por favor... – Sussurrou caindo de joelhos.

 O que faz uma pessoa amar outra mesmo sabendo que ela é venenosa e perigosa até para si mesma? Sooyoung não sabia, mas ainda a amava, porém tinha medo, raiva, coisas que não conseguia explicar apenas sentia.



                              “Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
                              Sou a febre que lhe queima mas você não deixa
                              Sou a sua voz que grita mas você não aceita
                              O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam...
                              Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
                              O que não tem duas partes, na verdade existe
                              Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem




 O quarto estava quente, aconchegante, porem vazio, apenas aquela menina dormia de forma tranquila agradecendo o efeito dos remédios que lhe tiraram as dores no corpo, mas se dependesse de sua mente, ela não teria dormindo. Depois que acordou no hospital, não conseguia lembra-se de nada, não sabia como tinha chegado ali, como Jungkook conseguiu escapar. A única coisa que conseguia lembrar, era o semblante amigável de um homem, que nem ao menos conhecia, mas estava ali, gravado nas profundezas do seu subconsciente.


                                 Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
                                Eu acordei com medo e procurei no escuro
                                Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo


 Yeri acordou ouvindo aquela voz suave, esperou que sua visão se acostumasse a aquele abajur de luz amarelada e procurou no quarto a pessoa que cantava, mas não havia ninguém, pode ver da janela a chuva cair e a escuridão predominar.

                                     Porque o passado me traz uma lembrança
                                    Do tempo que eu era criança
                                   E o medo era motivo de choro
                                 Desculpa pra um abraço ou um consolo


Ouviu mais uma vez aquela voz familiar, apoiou as mãos sobre o colchão para sentar-se, o vidro que dava visão para o corredor do hospital estava com as cortinas fechadas, mas a menina pode ver a silhueta de alguém passar e seguir em frente. A porta de seu quarto abriu sozinha, Yeri manteve-se imóvel, ninguém entrou, mas de repente sentiu algo quente tocar-lhe as mãos, depois a cintura, tirou os lençóis e não viu nada até que notou que os remédios intravenosos foram retirados, os eletrodos que mediam seu batimento também estavam postos na mesa ao lado. Não sentia mais dores.

                                 Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
                                Nem reclamei abrigo
                               Do escuro eu via um infinito sem presente
                              Passado ou futuro


A voz chamou sua atenção mais uma vez, ecoava nas paredes do corredor, com cuidado Yerim desceu na cama, os pés tocaram o piso frio fazendo os dedos se encolherem um pouco, ficou entre o quarto e o corredor pensando se realmente deveria sair. Algo morno subiu pelo seu estomago fazendo suas costas arrepiarem de maneira incrível, segurou firme a porta sentindo seu coração acalmar-se e então saiu.

                                        Senti um abraço forte, já não era medo
                                       Era uma coisa sua que ficou em mim



Olhou para os lados e não encontrou ninguém, nem um enfermeiro, o hospital estava em um total silencio, conseguia até ouvir o som que as luzes florescentes fazia acima de sua cabeça, foi então que mais a frente pode ver algo meio brilhante, um azul claro que caminhava lentamente e de repente parou na porta de uma daqueles quartos. Yeri o seguiu, sem medo e a cada vez que se aproximava a voz ficava mais alta e aquele brilho diminuía, quando finalmente chegou à porta do quarto se abriu, e do corredor pode ver a cama. Seu coração doeu, os olhos arderam e ameaçaram a chorar, então aquela foz soou em sua mente mais uma vez.

                                            De repente a gente vê que perdeu
                                            Ou está perdendo alguma coisa
                                            Morna e ingênua
                                           Que vai ficando no caminho


Com a coragem que reuniu, entrou, caminhava com uma das mãos na parede como se fosse um apoio, se impressionou ao encarar a cama. Haviam pessoas ao redor, todas usavam túnicas de diferentes cores, mas a maioria era branca, tinham as palmas das mãos viradas para o corpo da mulher que parecia receber uma luz, a menina conseguia sentir o calor daquela luz. O quarto estava com um cheiro de flores, Damas da noite, deduziu ela. Algumas daquelas pessoas a encararam sorrindo de maneira gentil e alegre.

                                                 Que é escuro e frio mas também bonito
                                                 Porque é iluminado
                                                Pela beleza do que aconteceu
                                               Há minutos atrás


Ela sentia-se acolhida no meio daqueles desconhecidos, seu coração estava triste, as lagrimas não conseguiam mais ficar guardadas, ver aquilo lhe trazia perguntas, duvidas, medos, mas ao mesmo tempo lhe dava paz, sabia que não era ruim e sim iluminado. Soluçava ao ver Juhyun daquela maneira, queria abraça-la, chama-la, acordar daquele terrível pesadelo, encostou-se na parede e escorregou até o chão, juntou as mãos a frente do rosto e fechou os olhos sentindo seu peito fechar, como se alguém apertasse seu coração a fazendo perder o ar. Seu nome foi chamado de maneira suave, abriu os olhos vermelhos e inchados encontrando aquele homem de olhos claros e roupas esverdeadas, ele lhe estendeu a mão e sem titubear a segurou, a sensação foi como se uma chuva de sentimentos a atingissem, soluçava desesperada, não enxergava direito por culpa do choro, já não tinha mais voz e nem ao menos conseguia falar, aquelas pessoas abriram um espaço para que ela pudesse passar, o homem a ajudou a se deitar na cama ao lado da mulher.

            “Eu acordei com medo e procurei no escuro.... Alguém com seu carinho...”

Ela abraçou, chorou em seu ombro, mas foi como se alguém a abraçasse de volta, o medo ia aos poucos sumindo, o choro excessivo acalmando, os olhos se mantiveram fechados, pensando somente nos momentos bons que tiveram, as breves broncas por ter deixado a toalha de banho molhada em cima da cama, lembrou-se do medo da solidão, o escuro daquele orfanato nas suas primeiras semanas, tudo sumiu quando o rosto dela apareceu.

                                “Senti um abraço forte, já não era medo
                                 Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim...”



 A menina adormeceu, como se estivesse no colo daquela que muitas vezes a consolou, dormiu tranquila, sem pesadelos ou sonhos inexplicáveis, apenas ficou ali, com a presença inabalável de Juhyun.

 Era quase seis e meia da manhã quando a enfermeira entrou em um dos quartos com uma bandeja que servia o desjejum, assustou-se ao ver o leito vazio e arrumado, deixou a comeda de lado chamando o medico de maneira desesperada, no meio do percurso encontrou dois rapazes com uma aparência precária que não entenderam toda aquela agitação.

- Vocês são os acompanhantes da mocinha do quarto 110? – A mulher perguntou afobada recebendo olhares curiosos e acenos positivos. – Ela não está no-

- Enfermeira Hwang, a encontramos!

 A mulher foi interrompida por outro enfermeiro, saiu apressada sendo acompanhada pelos rapazes que se preocuparam imediatamente. Quando chegaram ao quarto de Juhyun, não tinham entendido, só depois de virem Yeri ali deitada ao seu lado que compreenderam todo aquele alvoroço. Como ela chegou ali? Taehyung quis chorar ao ver aquela cena, ele estava sofrendo, mas depois daquilo, sabia que ela estava ainda mais.
 O médico apareceu um pouco atordoado, talvez tenha sido acordado de seu breve cochilo, aproximou-se da cama tocando a testa da garota que dormia tranquila, ardia de tão quente que estava, procurou na gaveta ao lado um termômetro e médio sua temperatura.

- Vocês ficaram com ela essa noite? – Perguntou após tirar o pequeno aparelho e vendo quase chegar a quarenta graus.

-Não, eu tive que ir até a delegacia para resolver algumas coisas. – Jungkook disse.

- Eu acabei ficando no refeitório... Há vi dormindo, então não achei que teria problema. – Limpava o rosto rapidamente enquanto parava ao lado do colega.

- Entendi. – Voltou à atenção para as duas moças deitadas e suspirou pensando no que deveria fazer, aquilo tinha sido estranho ainda mais pelo fato dos acessos intravenosos estarem intactos na mão e no braço de Yeri, se ela retirou os medicamentos, deveria ter sangrado ou incomodado, mas o processo de retirada foi feito de modo profissional. Coçou a barba e ordenou que arrumassem aquele quarto para que pudessem colocar outra cama ao lado daquela. – Preciso que a coloquem no soro mais uma vez, ela está com febre por causa dos ferimentos. – Os enfermeiros acenaram de maneira positiva, Jungkook disse que a levaria para o quarto novamente enquanto não colocavam a cama dela ao lado de Juhyun. O médico estava prestes a sair do quarto quando parou na porta para encarar Taehyung que pela primeira vez desde que chegara estava vendo a namorada. – Rapaz...- Chamou reparando na lagrima que escorria solitária pelo rosto abalado. – Não afaste-se por causa da dor.

 O homem falou de maneira simples e saiu andando, deixando ele sozinho com seus pensamentos turbulentos. Tirou o celular que estava no bolso, a foto de fundo era dele com Irene no natal, jogados no tapete da sala de Namjoon, suspirou pesado sentando-se no pequeno sofá que havia no canto do local, a partir da meia-noite começaria o ano novo, não estava feliz, nem esperava algo bom, passou os dedos entre os fios de cabelo bufando, logo em seguida, quando apoiou os cotovelos sobre as pernas, olhou para a frente levando um grande susto. Havia uma mulher magra e pálida com vestimentas ralas, cabelos longos brancos misturados com os fios castanhos para do lado de fora da sala, o encarando fixamente, seu rosto tinha os ossos quase que totalmente salientes, olheiras profundas que lhe dava um aspecto horripilante. Parecia uma caveira. E da mesma maneira que surgiu foi embora, Taehyung resmungou baixo colocando a mão sobre o peito.

- Vai assustar o padre! – Reclamou relaxando as costas no encosto do sofá. O som daqueles aparelhos apitando o fez recordar da época em que Jungkook fora internado, trazendo aquela péssima sensação à tona.  – Bae, você tem que acordar... – Disse mais para si mesmo.

 A porta se abriu e outros enfermeiros entraram no quarto para acomodar o leito de Yeri, levaram um tempo deixando tudo arrumado, a menina ainda dormia, a febre havia baixado, seus colegas fizeram uma breve visita, mas não quiseram acordá-la, Erin também passou para vê-la, mas não disse uma palavra, ainda sentia-se envergonhada por suas atitudes.
 Quando finalmente acordou era quase horário de almoço, estranhou o quarto em que estava, mas depois viu Juhyun ao seu lado, abriu um sorriso pequeno mais sincero, acompanhou com o olhar Jungkook e Taehyung entrarem conversando sobre algo relacionado a pontos cardiais, acenou para eles sentando na cama.

- Olá! – Kookie sorriu feliz e a abraçou sem muita força para que não machucasse. – Onde estavam? – Ela perguntou os olhando de maneira curiosa. – Acordei e não entendi como cheguei aqui.

- Essa está sendo a pergunta milionária. – Brincou Tae voltando ao sofá. – Você sumiu logo cedo e te encontraram deitada com ela.

- Sim, quase matou os enfermeiros do coração. – Completou o rapaz que deitou a cabeça sobre suas pernas cobertas. – Está se sentindo bem?

  Afirmou com a cabeça, passava as mãos sobre o rosto do rapaz de maneira distraída, tentando lembrar do que havia acontecido na noite anterior. Para ser sincera, ela tinha breves relances do que achava que havia sido um sonho, mas não estava tudo extremamente fresco em sua memória. Olhou rapidamente para a grande janela que dava para o corredor e se assustou com a mulher que se escondeu quando Yeri a encarou.

- Gente... – Chamou em voz baixa. – Tem uma mulher escondida ali. – Apontou para a porta, Jungkook ameaçou a se levantar, mas Taehyung fora mais rápido puxando a maçaneta. A mulher perdeu o equilíbrio quase caindo no chão mais se endireitou o mais rápido que pode.

- Quem é você? E porque está nos espionando, desde cedo! – Tae segurou em seu braço com forma a encarando de maneira séria, mas ela não conseguiu responder.

- Oppa, espera! – Yeri pediu o vendo soltar aquela senhora. Havia alguma coisa nela extremamente familiar, mas a menina não sabia dizer. – Já nos vimos antes senhora? -

- Não. – Disse ajeitando as roupas velhas e logo encarando a cama ao lado de Yerim. – Claramente ela nunca me mencionou para vocês... – Abaixou o olhar deixando a voz fraquejar. – Não a culpo.

- Conhece a unnie? – A menina perguntou curiosa tombando a cabeça levemente para o lado.

- Claro que conhece... – Taehyung respondeu antes que a mulher, ele apertou brevemente a curva do nariz antes de continuar. – É a mãe dela.

 Aquela expressão de surpresa surgiu no rosto de todos, agora ela entendia porque a achou tão familiar. Mas Yeri pensou que a mãe de Irene havia morrido de overdose a muitos anos atrás, antes mesmo de ela conseguir entrar na faculdade. A mulher aproximou-se da cama e tocou na testa de Juhyun, a acariciou por alguns momentos e logo se afastou.

- Demorei para reconhece-la, Juhyun manda dinheiro para a senhora todo o mês, mas parece que ainda não sabe usá-lo. – Ele se referiu claramente ao seu vício em bebidas e drogas. Yeri puxou Jungkook pela touca do moletom o trazendo para perto de maneira silenciosa, ele a encarou e compreendeu aquele olhar tristonho. – Veio aqui para garantir o dinheiro ou finalmente se importa com ela?

- Hyung, calma. – Pediu Kookie encarando a mulher rapidamente.

- Ele tem razão rapaz, não se preocupe, perdi a guarda dela tantas vezes... – Encarou os aparelhos e suspirou. – E mesmo depois de tantos anos, ela me perdoou, e continuou a me dar dinheiro, mesmo sabendo que ...

- Gasta acelerando sua morte...

- Taehyung! – Repreendeu Jungkook mais uma vez. – Pare de agir dessa maneira, você não é assim.

- Verdade. – Concordou a mais velha. – Mas estou aqui, por ela, quando vi a notícia, não quis acreditar. – Colocou alguns fios do cabelo para trás da orelha, as mãos eram finas, os dedos longos com unhas quebradas e sujas, tremiam constantemente, puxou a blusa fina ajeitando-a, Yeri viu algo que a manteve em silêncio todo o momento. Uma mancha escura atrás dela. -  Juhyun, sempre determinada, valente com um coração puro... Se eu pudesse, daria a minha vida para ela, não preciso tanto, me afogo em drogas, álcool... – A mancha negra remexeu-se trás dela e Yeri escondeu-se apertando o moletom do rapaz entre os dedos. – É muito cedo para ela partir.

- Ei, o que foi? – Sussurrou passando o braço sobre seu ombro, apertou-lhe sem muita força a bochecha erguendo seu rosto. – Está pálida, está passando mal?

 A menina negou, mas não soltou-se do rapaz que ficou confuso com sua reação, sentou-se ao seu lado na cama trazendo aconchegando sua cabeça em seu peito. Bae Jinguk, era o nome dela, por muito tempo Yeri escutou as histórias tristes sobre o tempo que Juhyun passou com a mãe problemática, mas depois do orfanato, pensou que ela já havia desistido, sabendo que mãe não queria ser curada. Mas, deveria ter deduzido, nunca abandonaria alguém, e além de tudo não abandonaria quem um dia a abandonou, queria fazer diferente, lhe dar uma vida diferente, mas aparentemente, não havia progredido muito.
 Yerim não gostou nenhum pouco daquela coisa negra que estava atrás da mulher, não lhe trazia uma sensação positiva, pelo contrário, o estomago chegava a doer, quando Jinguk caminhou para fora do quarto, pode ver aquela mancha olhar para si, um arrepio mórbido subiu em sua espinha, então fechou os olhos, vendo sem explicação aquele homem de túnica esverdeada mais uma vez. O que? Os remédios não estavam fazendo bem há ela. O que estava acontecendo com sua cabeça?
 Ela suspirou de maneira pesada, vendo a enfermeira entrar trazendo o almoço, mas não estava com fome, comeu o que Jungkook a forçou para que não passasse mal, seus pensamentos estavam perdidos tentando entender o que acontecia, os sonhos, as imagens que via. Estava enlouquecendo? Depois de tanta coisa seu cérebro finalmente decidiu pifar? No fundo ela sentia que algo era realmente, a sensação calorosa de aconchego era de certo modo, palpável. Mas as coisas que via, sentia medo de ser alucinações causadas pelos remédios, o estresse, os golpes que recebera na cabeça. Como conseguia lidar com tudo aquilo? Ficar calma, vendo o corpo de Juhyun ao seu lado, saber que Jennie tinha sido encaminhada para um reformatório, mas mesmo assim ainda ter medo. Tudo era uma confusão de sentimentos. Não havia explicação racional.
 É nesses momentos que coisas “paranormais” começam a fazer mais sentindo. Como era difícil encontrar algo logico, apenas ter fé era a única certeza que poderia ter. Sempre acreditou no “outro lado”, mas nunca tivera uma experiência tão real como aquela, por isso, sua mente mantinha-se na fé, na fé de que tudo melhoraria, mesmo que demorasse o tempo que fosse.

 Depois de algumas horas, recebeu a visita de seus amigos, que claramente tentavam manter sua mente ocupada, para que não ficasse triste ou algo do tipo, Wendy e Seulgi estavam decididas a arrumarem seu cabelo mal cortado e descolorido, queriam até mesmo fazer aquilo no banheiro do hospital, mas Yeri ainda conseguiu conte-las. Passou um pequeno tempo com o psicólogo escolhido pelo médico, para ter certeza que mesmo depois de tudo, a menina tenha o apoio psicológico forte. O que, surpreendentemente, era.
Seu dia ficou muito mais alegre quando Meena apareceu de surpresa, mostrou animada a peruca nova que seu tio lhe comprou. Apesar de ainda estar em recuperação, sua energia era de uma pessoa completamente curada, os olhos voltaram a brilhar, a pele antes opaca, agora tinha cor, usava maquiagem e suas roupas elegantes como antes. Aquilo fazia seu coração pular de felicidade, Meena era sua melhor amiga, vê-la daquela maneira a incentivou ainda mais a ser curar daquelas feridas tanto físicas como psicológicas. Não pode deixar de rir ao saber que os rapazes faziam questão de usá-la para deixar Hoseok completamente tímido, o que todos achavam que era impossível, mas com ela, tornou-se algo simples e comum. Meena nem se incomodou, acostumou-se com o pensamento rápido dos colegas de sua amiga, tinha que ficar atenta ou então perderia a piada.

Quando a noite chegou a turma tinha ido embora para que pudessem voltar mais tarde para que todos comemorassem a virada de ano novo. Yeri pediu para que Jungkook fosse para casa, ficar com a mãe e o irmão, mas ele disse que eles viriam também, agora todos eles eram uma família. Sem saber se deveria, a menina contou sobre o que pode lembrar de seus sonhos, ou devaneios, não sabia definir, achou que não seria bem compreendida, mas o rapaz sempre a surpreende. Jungkook tinha os olhos cheios de curiosidade, um brilho estonteante, admirado com tais sonhos, todos cheios de detalhes e sentimentos, mostrando o quanto ela era da mesma forma. A calmaria dentro do caos. Até mesmo ariscou-se a desenhar partes daquele sonho, o que a fez sorrir, não poderia existir pessoa melhor que ele em sua vida. Amava Juhyun, como uma mãe, mas Jungkook, não sabia dizer, o amava por ele ser apenas... Ele.

 É aquela coisa... Ou as pessoas acham que você é louca, ou ela acreditam em você. Ou simplesmente as duas coisas...

Queria muito explicar tudo o que aconteceu comigo, desde meus sonhos, o que eu conseguia ver, mas não consigo, é algo que apenas consigo sentir. Sinto muito se não consegui fazer você acreditar ou simplesmente entender tudo, mas espero, que no fundo, algo tenho ficado marcado dentro de cada um de vocês. O que escrevo aqui hoje... É estranho, misterioso, e bonito. Se está lendo isso é porque provavelmente gosta das minhas postagens, que acredita em mim ou apenas está aqui para passar o tempo, não tem problema, o importante é que leia e saiba que tudo pode acontecer em nossas vidas, ninguém está totalmente livre das tragédias, dos dramas. E claro, das coisas boas e maravilhosas dessa misteriosa vida.

Agora eu entendo o que os padres dizem em todas as missas; “Eis o mistério da fé”.

 

A questão é essa, confiar em algo que não vemos, mas sabemos que é poderoso. Céus! Como isso soa a loucura! Os ateus também têm meu afeto, porque tudo é irracional ao ponto de ser ridículo.... Acho que isso foi uma heresia. AH EU VOU ENLOUQUECER!

Desculpem...

 Essa postagem foi feita três dias depois do ano novo... Eu ainda estava assimilando tudo, me recuperando, e então farei o mesmo com vocês. Absorvam, reflitam, acreditem ou não, mas a explicação da minha breve insanidade será dita logo.

                                                                Com carinho @(Un)LuckyGirl


Notas Finais


Obrigada por chegarem até aqui,espero que tenha agradado vocês. Já quero agradecer os comentários, os favoritos. Me digam o que acham que pode acontecer no próximo!!! E se vocês já tiveram alguma experiencia similar.

LINK DA MUSICA: https://www.youtube.com/watch?v=QyB6xSt52AQ


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