História (Un)Lucky Girl - Hailstorm

- Pensei que não viria para a escola pelo resto da semana, se sente melhor? – Yeri estava virada para trás conversando com Meena que aparecera de surpresa, não tinha confiança de que estava totalmente recuperada, seu rosto continuava pálido e diversas vezes se distraia do assunto, como agora. – Meena!

- Oi? Desculpa, acho que viajei um pouco... – Disse sem graça mexendo cabelos. – Fui ao medico, ele disse que era apenas um resfriado.

 A menina encarou e mais vez perdeu o olhar em algum objeto dentro da sala de aula, Yeri não gostava nada daquilo, havia pesquisado sobre alguns sintomas de sua doença e “desligar-se” daquela maneira não era bom sinal. Pediu apenas para que se cuidasse se precisasse de alguma coisa ou passasse mal poderia chamá-la até no meio da prova que não iria se importar, a outra assentiu com a cabeça depois abriu um curto sorriso.  Ela não podia deixar de agradecer Yeri por estar sempre ao seu lado, com seus ataques se tornando mais crônicos sem explicação, não poderia freqüentar o colégio mesmo medicada com ela ao seu lado sabia que mesmo que tivesse uma convulsão estaria em boas mãos. Meena simplesmente se odiava, odiava passar mal, perder a memória depois que acorda, aquilo não era justo, não podia sair para lugares diferentes como baladas, parques, por que tudo pode lhe causar um ataque, uma pancada mais forte e o dia poderia virar um inferno.
 Meena teve que ficar um pouco além do horário escolar por conta das outras provas que perdera, ficou acompanhada de um inspetor dentro da sala dos professores para terminá-las, os atestados médicos e a carta de sua mãe permitiram que ela pudesse fazer-los depois. Massageava as têmporas enquanto saia do prédio, estava um pouco cansada, mas isso não a impediu de acenar animadamente para a colega que a esperava deitada no banco gélido de concreto, caminhou um pouco mais rápido ficando ao seu lado passando pelo portão.

- Pensei que já tinha ido.

- Não tenho pressa, só vou mais tarde para a reunião do senhor Byun.

- Como é? É divertido? – Perguntou enquanto sentavam no ponto de ônibus.

- É muito interessante, as pessoas são completamente, sabe, diferentes, tem a mente tão aberta que até assusta! – Yeri riu fazendo a outra rir também. – Não que ir comigo?

- Eu posso? O professor Byun só chamou você e...

- Para, ele vai aceitar todos que se interessarem pela aula!

 Meena ficou em silencio por alguns instantes e então concordou em ir.  Não faria nada em casa além de assistir séries e provavelmente cair no sono como todos os dias, uma vida monótona acabava com ela, os remédios acabavam com ela. Decidiram ir juntas até a universidade onde as reuniões aconteciam, mas como estava sendo acabaram indo para o apartamento de Irene, a mulher estava com problemas no serviço por conta de alguns fornecedores que não entregaram os matérias da campanha a tempo, então não conseguira buscá-la na escola como de costume. Yeri não se preocupa mais com isso, enquanto Sooyoung estiver longe, sabia que estaria tudo bem.  Estava subindo as escadas de volta para o quarto com uma bandeja cheia de lanches e sucos para elas, abriu a porta com dificuldade a empurrando com pé logo em seguida, Meena saiu de perto da janela onde tinha certeza que havia visto alguém espionado do outro lado da rua, mas decidiu esquecer aquilo e sentou-se na cadeira da escrivaninha onde a amiga havia deixando a bandeja.
 Conversavam sobre diversos assuntos enquanto comiam, Meena disse que assistiu uma série que poderia ter sido escrita pela Yeri, os monstros, a personagem principal, a historia em geral eram idênticas as suas idéias fantasiosas, também comentou que ela deveria seguir a carreira de escritora e roteirista, com certeza faria muito sucesso.  A outra riu, talvez tivesse razão, pensaria mais afundo quando terminasse o colégio.  Ficaram um tempo em silêncio apenas terminado as bolachas recheadas, Yeri notou como a colega estava perdida nos próprios pensamentos, parecia incomodado com alguma coisa, a chamou recebendo um olhar curioso.

- Sim?

- Ta tudo bem? Você não parece estar confortável, está passando mal? –A menina balançou a cabeça de maneira negativa devolvendo o copo vazio a mesa.

- Não é nada, só ando pensando demais, não se preocupe! – Sorriu de maneira gentil.

- Tem certeza? Posso te ajudar? – Questionou vendo a outra desviar o olhar rapidamente, algo estava acontecendo. – Meena, sou sua amiga, pode confiar em mim.

- Você não vai entender Yeri... – Seu tom era desanimado, manteve a cabeça baixa querendo que mudassem de assunto, sentiu as mãos da outra tocarem em seus ombros a fazendo olhá-la.

- Claro que vou, você sempre me entende, deixa eu tentar!

 Claramente estava determinada a tirar aquela expressão de decepção da face da outra que já não sabia mais o que pensar, Yeri estava muito perto, seu coração batia tão rápido que poderia sair pela sua garganta a qualquer instante, sem saber como agir inclinou-se para frente deixando que seus lábios encostassem aos dela de repente. Yeri não teve reação, tudo tinha acontecido rápido demais, foi Meena que se afastara cobrindo o rosto com as mãos, começou uma série de pedidos de desculpas seguidos, tentou aproximar-se da outra mais uma vez porem ela dera um passo para trás pedindo para que parasse.

- Espera, isso foi, me deixa assimilar o que aconteceu... por favor! – Yeri pediu enquanto se sentava na cama, sua melhor amiga tinha acabado de beijá-la, aquilo era muito estranho.

- Yeri me desculpa, eu... Como sou idiota! – Mexeu nos cabelos de maneira inquieta, as piores coisas passavam em sua mente naquele instante, não tinha quer ter agido por impulso, o que ela pensaria? O diria depois daquilo? – Por favor, não, não me odeie.

- Meena...

- Eu gosto de você! – Confessou em fim evitando encara - lá, sentia o rosto ferver de vergonha, mas depois daquilo não podia esconder o que sentia, aquilo estava guardado há muito tempo, o que tivesse que acontecer iria acontecer, e então teria que aceitar. - Gosto mesmo, mas não era assim que eu pretendia contar... Me perdoa por favor!

- Eu não estou brava, só estou... Assustada. – Disse finalmente. – Nunca tinha beijando alguém na minha vida, de repente você faz isso, as pessoas ficam confusas! – Gesticulava rapidamente com as mãos, isso acontecia quando estava muito nervosa. - Isso é, esquisito...

- O fato de uma garota te beijar não te incomoda? – Meena a encarou recebendo uma resposta negativa, Yeri estava tão surpresa como ela. – Fiquei com medo de você me julgar... por ser... você sabe...

- Vamos por partes ta... – Ela disse apertando a curva no nariz com os dedos, ainda assimilava o que tinha acontecido, apesar de não se importar com o fato de ser beijada por Meena, estava sim preocupada mais com a confissão que fizera.  Yeri gostava dela, mas não da mesma maneira. – Não me importo que você seja lésbica se essa era sua preocupação, mas, por favor, não me beije do nada de novo é assustador ficar parada numa situação daquelas.

 Meena riu alto não acreditando no que ouvia, sua colega fazia expressões engraçadas o que a fez rir ainda mais, sentou ao seu lado lhe dando um abraço logo em seguida. Yeri era o tipo de pessoa que chamaria de especial, era compreensiva, tinha uma inocência invejável sem contar a maneira carinhosa que tinha com os outros. Talvez, fosse aquele jeitinho meigo e cuidadoso de Yeri que chamara tanto sua atenção, colocou seu cabelo atrás da orelha e acariciou sua bochecha, ela aproximou de seu rosto novamente, pode sentir sua respiração descompassada e ao mesmo tempo ansiosa, estava com medo? Não pode deixar de sorrir ao imaginar aquilo, como ela conseguia ser fofa até mesmo naquela situação, em fim juntou seus lábios, dessa vez com mais calma e sem sustos não queria deixá-la com uma péssima impressão logo no primeiro beijo.
 Não era como havia imaginado algumas vezes, mas não poderia dizer que aquele beijo era ruim, pelo contrario, não tinha muita moral para dizer alguma coisa, Yeri era completamente leiga no quesito romance, nunca soube o que era um relacionamento, evitava conversar sobre esse tipo de assunto, não sabia o porquê, mas fazia isso diversas vezes, porem Meena acabou quebrando aquela barreira invisível que havia construído. Era algo novo, e diferente, sem julgar se era certo ou errado, por que sabia muito bem o que a sociedade pensava entre relacionamentos “não heterossexuais”.  Quando se separaram podia sentir as bochechas arderem ferozmente, jogou-se na cama escondendo o rosto com as mãos arrancando risos da colega mais uma vez, Meena deitou-se ao seu lado encarando o teto branco.

- Então você nunca ficou com ninguém, que interessante. – Disse rindo enquanto ouvia um resmungar baixo da colega ao lado. – Não se preocupe, seu segredo está bem guardado.

- Meena, sobre isso...

- Não precisa dizer, posso ver no seu rosto que não gosta de mim da mesma maneira que eu. – Ela a olhou de canto abrindo um sorriso. – Não estou triste, você me deixou beijá-la, posso morrer feliz!

-Credo! Não diga coisas assim menina! – Sentou-se indignada com o que acabara de ouvir. – Gosto de você, mas como amiga, de verdade, não quero estragar isso...

- Não vai...

 Meena continuou a sorrir, ajeitou-se na cama bagunçando os cabelos da outra logo em seguida. O celular de Yeri tocou de maneira escandalosa dentro da mochila levantou-se para buscá-lo, não ficou surpresa em ver o nome que aparecia na tela. Jungkook ligara para avisar que a reunião iria ser mais cedo e que ela já estava atrasada, tinha certeza que no meio de tantas coisas que ele havia dito uma delas era uma ameaça caso não aparecesse. As duas meninas pegaram as mochilas saindo apressadas pelo prédio, correndo até o ponto onde por sorte o ônibus que precisavam tinha acabado de parar. Durante o caminho contou como era o local, as pessoas e principalmente Jungkook que parecia sempre estar ligado nos 220, disse também para não se importar com o interrogatório que provavelmente ele faria ao conhece – lá.
 Quando chegaram ao teatro Meena teve a mesma reação que Yeri quando viu aquele local pela primeira vez, o professor Byun ficou alegre ao vê-las, sentaram na primeira fileira próxima ao palco, conversam sobre alguma coisa relacionada ao universo da internet quando o homem parou de explicar estranhando o rapaz que pulava diversas cadeiras até chegar à fileira da frente quase caindo após seu pé escorregar, sentou-se ao lado de Yeri que encarava o outro tentando segurar a risada.

- Oláá. – Jungkook arrastou o comprimento ajeitando-se na cadeira, colocando a mochila sobre o colo.

- Você é um idiota.

 Ele apenas concordou com a cabeça a fazendo segurar a risada, pediu desculpas para o professor e então voltaram a falar como o plágio nas redes sociais é um crime mais comum do que roubar canetas da empresa.  Apesar de estar se divertindo com as respostas dos alunos e de como seu professor conseguia ser totalmente diferente do que era dentro da sala de aula do colégio, mas mesmo com aquela atmosfera descontraída, Meena não conseguia evitar sentir ciúmes de como Yeri era próxima daquele rapaz, pareciam se conhecer a anos, ele a arrastou de um lado para o outro quando um casal de alunos soltou uma musica aleatória. Tinha certeza que sua amiga não havia percebido, mas Meena, logo notou o modo que ele a olhava, pois era da mesma maneira que ela, admiração, arriscava a dizer, paixão.  Não gostou nada daquilo, apenas deixou de lado aquela situação por que sua cabeça girava, sentia tontura, quando passava a mão sobre a testa podia sentir as gotículas de suor, seus lábios formigavam e algumas vezes perdia a sensibilidade dos dedos das mãos. Ela respirou fundo tentando manter a calma, não queria correr o risco de ter uma crise. Voltou a prestar a atenção no professor quando sentiu a mão da amiga tocar na dela chamando sua atenção, ela a encarava com aquela mesma expressão de preocupação, apenas abriu um sorriso para tranqüilizá-la então ela sorriu de volta e ajeitou-se na cadeira.
 Deveriam ser quase 16hs30 da tarde quando as meninas andavam pela trilha de pedras até a saída do campus, dividiam um saco de minhocas acidas que compraram em uma das maquinas de lanches, riam de alguma coisa que Yeri havia contando da época que ainda estava no orfanato, lembrou de como tinha acreditado em um dos meninos que havia dito que se pulasse do beliche poderia voar como o Peter Pan, mas o que aconteceu foram um braço quebrado e três pontos na testa. Disse que já era estúpida desde criança. Elas gritaram depois que Jungkook apareceu do mais profundo nada envolvendo os braços em seus ombros, Yeri colocou a mão sobre o tórax podia jurar que seu coração tinha parado, Meena queria ter agredido ele por ter feito aquilo, mas apenas blasfemou mentalmente, as convidou para irem a uma cafeteria não muito longe dali, tinha um pouco de tudo, comida, uma pista de dança, considerava o melhor lugar do planeta em uma sexta-feira fria como aquela. Yeri não sabia se deveria, não queria ficar arrastando a amiga para lugares que não ficasse confortável, mas a outra aceitou sem pensar duas vezes, o que queria mesmo é ficar o máximo de tempo possível perto de Yeri.
 Jungkook não pode evitar fazer uma expressão de desgosto ao chegar na cafeteria e ver que Jimin também estava ali com Yoongi, se aquilo não era um predador não sabia do que mais chamá-lo.

- O que você está fazendo aqui? – Jimin passou direto por ele abraçando Yeri que se assustou por estar distraída conversando com Meena, o rapaz trincou os dentes irritado. – Oh carai to falando com você!

- Que que é Kookie, Yoongi me convidou e eu vim. – Respondeu dando de ombros para o outro que não conseguiu disfarçar o incomodo que sentia, Yeri afastou seu braço que ainda a envolvia e deu um passo para trás.

- É bom ver vocês de novo. Essa é Meena, minha amiga.

 Meena simplesmente se curvou para os rapazes que acenaram e como nada passava despercebido dos olhos da outra, logo notou o desconforto de Yeri com aquele rapaz, Jimin, toda vez que ele se dirigia a ela, desviava o olhar envergonhada. Mas seria possível? Quantas ameaças ela contaria em apenas um dia? Estavam sentados conversando enquanto esperavam suas bebidas, Jimin era tão indiscreto que suas cantadas poderiam ser pescadas da esquina, mas Yeri parecia evitar responde-las, enquanto Jungkook praticamente ameaçava o outro com aquela faca de plástico. Sentia-se cansada com toda aquela energia, de repente sentiu os dedos gelados da menina tocarem sua testa a fazendo se afastar de repente.

- Meena, está com febre de novo, vamos para casa! – Yeri disse preocupada.

- Estou bem... – Era mentira, mas não queria estragar aquele encontro entre amigos, estava se divertindo.

- Você está pálida... – Comentou Jungkook, ela lhe lançou um olhar agressivo o que o fez levantar as mãos como se não tivesse dito nada. – Só comentei!

- Por favor – Yeri aproximou-se de seu ouvindo cochichando para que ninguém mais ouvisse. – Me avise se estiver passando mal, não quero que nada aconteça.

 A garota a olhou e concordou abrindo um sorriso logo em seguida. Não demorou muito para que os garotos corressem e brigassem para saber quem seria o primeiro a ligar aquela caixa de musica, aquele café realmente tinha uma pista de dança, havia até mesmo luzes coloridas que podiam ser ligadas para que o ambiente virasse uma balada, elas se perguntaram o que faltava ali? Já serviam comida, música, talvez uma hidromassagem. Não duvidava de mais nada.
 Ninguém podia dizer que eles não sabiam dançar porque seria maior mentira de alguém já poderia contar, como alguém pode dançar e parecer que não tem osso nenhum no corpo? Era assustador! Elas ficaram ali sentadas rindo de como aqueles garotos eram mais infantis que uma criança, depois de um tempo ligaram aquelas luzes piscantes que mudaram de roxas para vermelhas, mais alguns desconhecidos juntaram-se as eles, tinha tentando manter-se sentada mais acabou vendo levada para a pista assim como Meena.
 O tempo foi passando e eles não se importavam muito estavam se divertindo ao som de uma musica estrangeira que Yeri não conseguia se lembrar de quem era, mas não ligou muito e só continuou tentando aprender os passos que Jungkook espiritualmente a ensinava, ela estava criando a certeza que tinha dois pés esquerdos ou o que ele passava que era impossível se aprender.

- Chega, desisto... – Ela finalmente parou de dançar apoiando as mãos no joelho. – Meu deus vocês são movidos a luz solar?

- É algo natural! – Jungkook disse rindo pulando de um lado para o outro. – Já fui muito preguiçoso não quero mais essa vida.  Ei cadê a sua amiga?

 Yeri se levantou ajeitando os cabelos que caiam sobre seu rosto, realmente não havia visto a colega sair do seu lado, voltou para a mesa onde estavam, mas ela não estava ali também, olhou rapidamente pelas grandes janelas do local vendo que já anoitecia, Meena não iria para casa sozinha. Ela e outras pessoas ali presentes se assustaram com o grito de uma funcionaria que saia compressa do banheiro, apontava para a porta em desespero, Yeri sentiu como seu coração fosse apertando por uma mão de pedra quando ouviu a mulher dizer que tinha uma garota caída no chão, não esperou que dissesse mais alguma coisa apenas correu empurrando as pessoas da sua frente, abriu a porta e praticamente jogou-se no chão ao ver aquela cena que juro nunca mais deixar acontecer. Ela tentava controlar o choro que escorria por suas bochechas enquanto segurava a cabeça de Meena para o lado a encostando em suas pernas, daquela maneira ela não sufocaria com o próprio vomito, seu corpo inteiro tinha espasmos frenéticos, não sabia por quanto tempo ela estava assim, mas aquilo não era bom.

- Yeri o que... Meu Deus!

- Jungkook... Por favor, liga para ambulância, agora!

  A mesma maneira que entrou naquele banheiro ele saiu apressado atrás do celular, quando a ambulância chegou Meena já havia parado de vomitar e seu espasmo diminuído, mas ela continuava desacordada, foi levada diretamente para o hospital deixando Yeri ainda mais desesperada, acabou ligando para Irene e logo em seguida para os pais de Meena, estava se culpando por não ter ficado mais atenta a ela que não pareceu bem durante o dia todo, e mesmo assim a deixou sozinha, passando mal dentro do banheiro de um lugar desconhecido. Quando a noite caiu, trouxe uma forte chuva de granizo junto com ela, deixando o clima ainda mais frio, Yeri estava praticamente congelando sentada naquela varanda onde a chuva molhava seus sapatos e suas pernas, mas não conseguia sair dali, se ficasse mais algum tempo dentro daquela sala de espera totalmente branca iria enlouquecer, mas também se recusava a Ir embora sem saber como sua amiga estava. Seu peito doía, os olhos ardiam de tanto chorar, estava orando para todas as entidades que conhecia e acreditava para que a colega não tenha sofrido algo pior, ela provavelmente havia batido a cabaça com a queda e sabe lá Deus se algo horrível não tinha acontecido. Sua cabeça estava jogada para trás naquele banco de madeira, já havia perdido a conta de quantas vezes havia espirrado, apenas estava tentando manter o pensamento longe daquela situação, a culpa que sentia era tão grande que a impedia de respirar direito, abriu os olhos assustada ao sentir algo a cobrir de repente. Jungkook estava encostado na porta de vidro com os braços cruzados enquanto observava aquelas pedrinhas brancas caírem com força no chão.

- Foram os holofotes... – O rapaz a olhou sem entender. – As luzes que o Jimin ligou, a seqüências das luzes piscando a fez ter o ataque.

- A culpa não foi sua Yeri...

- Eu devia ter prestado a atenção, acabei entrando na bagunça e a deixei sofrer...

 O rapaz suspirou de maneira rápida e sentou-se ao lado da outra que começava a chorar mais uma vez.

- Sei que ela é sua amiga, mas não pode cuidar de tudo que está à volta dela, foi um acidente. - Afagou sua cabeça devagar, tirou um guardanapo do bolso da calça estendo para a menina. – Toma, a senhora Choi pediu para a enfermeira te dar um calmante.

- Pra que eu caia dopada no chão? – Brincou de maneira irônica pegando o comprimido.

-Exato, ai você acorda em uma banheira de gelo sem alguns órgãos enquanto estou vendendo eles no ebay para a Guatemala!  

 Ela tentou segurar o riso mais não conseguiu, tomou aquele remédio sem nenhum liquido recebendo uma desaprovação do colega ao lado. Aquela chuva de granizo continuava sem descanso, o rapaz a convenceu a entra e continuar observando a chuva do ladro de dentro do refeitório, pelo menos estariam secos e ninguém ficaria doente. Yeri continuava com a blusa do rapaz sobre seu corpo já que aquela jaqueta escolar não esquentava absolutamente nada, devia ter tirado o uniforme quando tinha chegado em casa, mas acabou esquecendo, o dia havia sido tão agitado, um dia completamente bipolar. Seu corpo já sentia o peso da tensão que havia passado, o remédio estava fazendo sua função perfeitamente, tinha preguiça até mesmo de pensar nos problemas, os músculos do corpo começavam a relaxar e os olhos inchados querendo finalmente descansar, soltou um longo suspiro e deixou a cabeça cair sobre os ombros do amigo.

- Por que gosta tanto de tirar fotos? – A pergunta veio de repente cortando o rapaz de seus próprios pensamentos.

- Fotografia era minha válvula de escape, tive depressão por muitos anos e fotografar de alguma maneira... Me libertava.

 Yeri ajeitou-se naquele sofá antigo encarando o rapaz que continuou a observar a chuva, Jungkook era tão alegre e disposto, aquilo foi difícil de assimilar a sua personalidade de agora.

- Tomei remédios, freqüentei psicólogos, psiquiatras por anos, eu tinha muitos problemas aos quatorze.

- É muito difícil imaginar você sem um sorriso. – Ela puxou as pernas para cima do sofá, bocejou rapidamente e coçou os olhos. – Mas eu entendo, escrever é minha válvula de escape.

- A vida não é tão ruim quanto o mundo quer que nós impor, o lado bom de chegar ao fundo do poço é que a única saída é para cima. – Riu sozinho. - Quer que te leve para casa? Irene disse que iria demorar.

- Não, quero saber como a Meena está, só saio daqui depois do resultado.

- Então já que vamos ficar aqui, quero ouvir um texto seu...

 - Eu não tenho nada agora.

- Tem lápis e papel na bolsa, pode começar, não quero saber vamos, vamos!

 Jungkook disse animado batendo palma pegando a bolsa da menina que estava no chão, aquele clima estava muito melancólico e torturante, mas um pouco acenderia velas para fazer um culto. Entendia toda aquela preocupação que tinha com a colega, mas não tinha condição alguma de fazer algo a mais, ele enxergava a culpa que sentia nos olhos, Yeri era uma garota muito intensa em tudo o que falava ou fazia e ele gostava disso. Ficou observando-a escrever em silencio, algumas vezes ela perdia o olhar naquela inabalável chuva e logo voltava a se concentrar no caderno, quando terminou arrancou a folhou dobrou uma única vez e entregou para o rapaz.

- Só leia quando chegar na sua casa! – O ameaçou com a caneta. – Não sei lidar com meus textos sendo lidos em voz alta.

- Ah, mas eu quero ler agora! – Provocou abrindo o papel, a menina avançou para cima dele segurando seu pulso, ele puxou o braço para cima rindo enquanto ela ainda tentava arrancar o papel de sua mão. – Borboletinha não pega!

- Você é mau!

 Resmungou formando um bico involuntário nos lábios, pegou aquela blusa preta e voltou a se cobrir com ela do outro lado do sofá, escondeu o rosto com as mãos já se preparando para a vergonha alheia que viria, mas nada aconteceu, ouviu uma risada abafada vindo do colega, ela reclamou ao sentir o peso dele sobre o dela.

- Não sou mau, vou ler em casa, prometo!

  Foi à única coisa que disse antes de tirar as mãos delas do próprio rosto deixando um beijo demorado em sua bochecha, ele levantou e saiu do refeitório em direção a sala de espera onde perguntaria sobre a condição de Meena. O coração de Yeri parou de bombear sangue para o corpo e focou tudo em seu rosto, aquilo foi tão inesperado quanto o beijo que recebeu da amiga mais cedo, mas o que estava acontecendo com aquelas pessoas? O que tinha de errado com ela? Começou a respirar mais devagar antes que tivesse um ataque cardíaco, relaxou o corpo no sofá e encarou o teto que tinha poucas luzes acesas, repetiu para si mesma diversas vezes que era normal ficar envergonhada, mas não estava se convencendo disso.
 Jungkook havia saído do banheiro ajeitando os cabelos enquanto ia de encontro com pais de Meena quando avistou a senhora Choi sendo consolada pelo marido, estava extremamente abalada, ao lado conversando com eles estava Irene que também não tinha uma expressão muito tranqüilizadora, o rapaz apressou o passo já preparando o próprio espírito para a pior noticia que poderia receber naquela noite.

- Juhyun. – Ele a chamou com o tom um pouco mais alto do que esperava. – O que aconteceu?

- Jungkook cadê a Yeri? – Ignorou completamente a pergunta que fizera, seu olhar era de preocupação e receio. – Ela sabe de alguma coisa sobre a Meena?

- O que? Não! Fiquei com ela até agora no refeitório, na varanda. – Tentou explicar da maneira mais calma que encontrou, mas ainda sim atropelava algumas palavras. – Irene, me diz, ela esta bem?

- Encontraram um tumor no cérebro dela.

 Ele deu um passo para trás como se tivesse levando um soco no estomago. Aquilo tinha sido um baque grande para ele e imaginou o que seria para Yeri, não conhecia Meena como ela, nem ao menos trocaram muitas palavras, mas ele se sentiu extremamente triste com aquela noticia, era tão jovem, e claramente era muito ligada a menina. Jungkook se sentiu completamente sem chão, só imaginava como seria a reação da menina quando ouvisse aquilo, estava passando pelas portas automáticas para entrar no refeitório quando sentiu seu braço ser puxado com força para o lado oposto, Irene o colocou contra parede e o encarou de maneira séria.

- A Yeri não vai saber do que ela tem, ouviu? - O dedo indicador dela estava apontado para seu rosto, o rapaz ficou boquiaberto não acreditando no que acabara de absorver.

- Ficou maluca? Ela está morrendo de preocupação a horas, está se culpando por ter que trazê-la para o hospital. – Respondeu indignado.

-É exatamente por isso que não vai ficar sabendo de nada. – Se aproximou ainda mais dele que se afastou batendo as costas na parede. – Ela não precisa de mais problemas na cabeça, você é amigo dela em menos de semanas, não sabe de absolutamente nada.

- Irene, não interessa o tempo de nada e sim do fato de mentir pra ela sobre algo realmente sério!
 
- Escuta aqui! – Ela jogou a bolsa na pequena mesa de canto que estava ali quase derrubando o vaso de flores de plástico. – Aquela garota agüenta a porra de irmã obsessiva que a espanca, a humilha, a expõe para metade do universo e aqueles pais que na adoção assinaram um termo de proteger e amar, não fizeram nada! Sabe como está a mente dela? Sabe o quanto ela chora pra mim todas as vezes que foge de casa por que eles a castigaram por algo que não fez?  - Irene respirou fundo colocando as mãos na cintura tentando manter a calma. - Ela tenta se manter de pé porque tem a mim, e se faz de forte por causa da Meena  que é a única amiga verdadeira dela, agora, imagina como ela vai ficar? Acha que não estou acabada com essa noticia? Pensa que não estou com medo, remorso de esconder isso dela? Jungkook, eles ainda não sabem se aquilo é maligno ou benigno, então, por favor, não conte nada para ela, não até terem certeza.

 Ele não tinha o que dizer, acreditava que Irene tinha uma parcela de razão, mas ao mesmo tempo não conseguia aceitar que mentisse. O que seria pior? A verdade ou quando algo pior acontecesse com Meena à mentira fosse desmascarada. Yeri não perdoaria nenhum dos dois por esconder tal noticia, ambos seriam castigados por aquilo, mesmo que tudo tenha sido feito com uma boa intenção. Mentir, nunca era algo bom.
 Irene o deixou ali imerso nos próprios pensamentos enquanto acordava e levava a menina completamente sonolenta para casa, ela lhe deu um breve sorriso acenando logo em seguida devolvendo sua blusa, os remédios a deixaram completamente desligada a qualquer problema, então provavelmente Juhyun não teria que lidar com uma série de perguntas sobre o estado de Meena. Não queria mesmo estar naquela situação.
 
 Jungkook ficou mais algum tempo com a família depois que as duas foram embora, conversou brevemente sobre alguns exames e os pais de Meena apenas agradeceram sua preocupação e por tê-la trazido para hospital, se não fosse por eles talvez ela não sobrevivesse a outro ataque que teve por conta do tumor.  Nunca tinha passado por uma situação daquela, mesmo depois de seus próprios problemas, ele via que há coisas pior do que sua depressão, as pessoas lutam para viver todos os dias, e um dia ele tentou se livrar da própria vida por que não suportava o peso dela em suas costas. Percebeu como era egoísta.
 Estava deitando sem conseguir dormir, revirava-se de todos os lados da cama, já passou pela sua playlist de musica pelo menos uma três vezes, fez atualizações em seu site com as fotos que faltava para postar e mesmo assim nada do sono aparecer, ficou ali com o computador sobre as coxas enquanto navegava em sites alheatórios da internet quando notou uma de suas publicações anexadas a outro site, riu fraco ao ver a foto que tirara sem querer de Yeri quando a conheceu na reunião do professor Byun.


 “A gente aprende a nunca julgar um livro pela capa, mas sempre julgamos uns aos outros.
Sempre disse que eu era uma pessoa livre desse tipo de pensamento, mas hoje um rapaz me mostrou ao contrario. Essa foto foi tirada por alguém que sabe mostrar a verdadeira essência de alguém, com apenas um clique” com carinho @ (Un)Luckygirl


 Ela realmente tinha escrito algo na foto, apenas não mostrou para ele. Sua pagina tinha textos geniais, havia uma idéia que era boa com as palavras, mas não tanto como aquilo. Lembrou-se do pedaço de papel que ela havia lhe entregado no hospital, levantou-se da cama batendo um dedinho do pé no armário onde procurava sua calça, amaldiçoou o móvel em pensamento e voltou para cama, prometerá que leria somente quando chegasse, então, sua promessa estava cumprida.



   “O tempo está passando, não sei se é melhor entrar ou ficar do lado de fora.
    Os dias passam,e estou perdendo todas as minhas penas ao vento.
    Escavando em minhas memórias quem eu era antes de tudo.
    De como me envolvi nessa guerra sem fim.
  
    Estou pronta para o que me lançarem
    Estou apenas esperando a dor vir
    Estou implorando para acreditar, para ter a verdade.
    Como uma chuva de granizo que caiu sobre nossas cabeças
  
    Elas caíram sobre mim, me machucando.
    Mas só estou tentando pegar o que é meu.
    Vou enfrentar o granizo a qualquer custo.
    Mesmo que as pessoas que me ajudem estejam no escuro.

    Estou saindo para nunca mais voltar...”



 Jungkook entendeu tudo, o porque Irene a protege com tanto afinco, porque contou todas aquelas coisas para convencê-lo a não comentar nada sobre Meena. Yeri não mostrava os sentimentos, ela os transforma em palavras, textos que são intensos e até mesmo tristes. Eram mais parecidos do que imaginava, não por conta do gosto musical ou pelos quadrinhos de super-heróis que liam, mas, pelo fato de fugirem do mundo exterior com seus hobbies, onde eles podiam ser livres de qualquer coisa.

 Ele não acreditava em coincidências, e sim em que tudo acontece por um motivo, se tudo aquilo que Irene lhe disse é verdade, Yeri corria o risco de um dia acabar como ele ficou, sem esperanças nas pessoas e em si mesmo, e resultar em algo trágico.


 Muitas tempestades de granizo estavam chegando, e estava preparado isso.



                                                                                  “Hailstorms coming, baby bring it on”