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História Unnatural Rosemary - Capítulo IV - The Thing's We Left Behind - Part 2


Escrita por: ABorralheira

Notas do Autor


Oi gente,

Comentem e digam o que estão achando e o que esperam que vá acontecer. Seus comentários servem como ajuda e como incentivo. É de fã para fã.

Beijo!

Capítulo 5 - Capítulo IV - The Thing's We Left Behind - Part 2


3 – Heartache

— O que há de errado com você, Isaac? Você está escondendo alguma coisa?! Você está sempre quieto, taciturno. Mal olha para a sua própria filha e agora quer levar ela de volta? Depois de tudo o que eu passei...

— Depois do que nós passamos! Eu a perdi também, mais do que você. Onde você esteve todos esses anos? Onde estava você e Lorena quando ela mais precisou de vocês?

— NÃO SE ATREVA A FALAR ASSIM!

— Porque não, Tito? Você levou anos para atender os telefonemas dela.

— EU AMAVA MINHA FILHA!

— Eu também. Mas sua filha se foi e agora eu preciso cuidar da filha dela. Rosemary vai comigo e não tem nada que você possa fazer para impedir isso.  

— Por um ano, Daiana voltou pra casa. Pra cá, para nossa casa. Ela estava assustada e com medo. Não falava de você, chorava e dormia com as luzes acessas. O que aconteceu, Isaac? Onde diabos você estava?

— Eu estava tentando protegê-la.

— Do que? De você mesmo? Aonde você vai durante a noite? Porque você não está com a sua filha? Você está tentando proteger ela também? Quem é você, Isaac? Quem é você?

— Eu sou o pai de Rosemary e ela vai comigo.

— Se você levá-la agora, você matará minha esposa e a mim.

— Who cares? We’re all dead anyway – Finalizou Isaac, em um inglês pessimista e provocante.

4 – As Time Goes By

Três anos se passaram após a morte de Daiana e alguns bons centímetros foram acrescentados à estatura de Rose. Estava mais mocinha, mais esperta, caíra na pré-adolescência. Tinha ouvido a briga entre Isaac e Tito na noite anterior. Não sabia muito bem o que pensar. Sempre pensara em seu avô e seu pai como homens bons e perfeitos, mas agora se perguntava o que ambos tinham feito à sua mãe. Rosemary havia parado de chorar durante a noite a algum tempo e virara uma pessoa que mais ouvia do que falava. Amava o avô, mas ele a estava sempre circundando, como se estivesse com medo de que ela desaparecesse sem o menor motivo.  A avó passava muito tempo fora de casa ou nas plantações de uva. Já Isaac, saía quase todas as noites, nem sempre voltava pra casa e falava muito pouco com Rosemary. Rose sentia saudade de sua antiga casa em Manhattam e de seus amigos. Não queria ir pra longe de Tito, mas também não queria continuar naquela casa onde tudo cheirava a luto e tristeza. Sentia que ninguém olhava para ela como Rosemary, mas sim como Daiana. Viam nela o fantasma da mãe. Além do mais, pulara algumas séries na escola, o que lhe rendera boas inimizades. Sentia muito pelos avós, mas queria voltar para casa.

5 – Family Remains

Isaac e Rose não voltaram para Manhattan. Mudaram-se para uma cidade menor, fora da Ilha. O tratamento de Daiana custara uma boa parte das finanças da família, que buscava agora um lugar mais acessível para viver. A nova casa de Rosemary era um pouco maior do que a casa em que viviam. Tinha quatro quartos, três banheiros, uma sala e uma cozinha. Também contava com um pequeno jardim na parte da frente e um modesto quintal nos fundos da casa. Nenhuma árvore. Rose sentia falta de sentar-se nos pés dos grandes troncos que sustentavam copas verdíssimas. Olhou para o livro que trazia na mão e lembrou com pesar do avô.

Rose não sabia mais se tinha sido uma boa escolha deixar o Brasil. Tinha certeza que magoara Tito quando confirmou o desejo de voltar para seu antigo país. Mais do que isso, sua relação com seu pai não era a mesma de que se lembrava. Tinha lembranças de um Isaac sorridente, de uma casa com raios de sol ao amanhecer. Agora existia só um silêncio embaraçoso, como se não fossem pai e filha.

Isaac se esforçara para manter um lar aconchegante para Rose. Quente, como o de Daiana sempre fora. Pintou as paredes com cores vibrantes e bem combinadas, pendurou lindos quadros expressionistas. Dentre eles, dois ou três pintados por Daiana. Tito deixou a maior suíte da casa para Rose, transformou um dos quartos em uma excelente biblioteca, espalhou plantas pela casa e sempre acendia incenso pela manhã, deixando um aroma de laranja e canela no ar. Criou o hábito de acender a lareira todas as noites e dormir de frente para ela, em uma poltrona que ganhara de Daiana assim que foram morar juntos.

— Porque você não dorme na cama?

Isaac se sobressaltou quando viu a filha parada na ponta da escada, o cabelo bagunçado e bochechas vermelhas.

— Hey baby. Did you lost your sleep?

— Eu estou cansada, mas não consigo dormir – Emendou Rosemary, em português.

— You need to speak in english here, darling. Tomorrow you have school, you need to practice.

— Eu sei, mas eu não estou na escola ainda.

— Está bem, venha aqui.

Rose não conseguiu se mover e estranhou o pedido. Toda a conversa que tinha com Isaac, desde que deixaram o Brasil, parecia ensaiada, comedida. Quase como puxar assunto com estranhos no elevador ou na fila do banco. 

Pela primeira vez em três anos, Rose viu um deslumbre do pai que conhecia. Por um pequeno momento, ele não estava olhando para ela como se visse o fantasma de sua falecida esposa. Olhava pra ela como sua filha.

Após alguns segundos de hesitação, Rosemary foi ao encontro do pai.

Isaac colocou a taça do vinho que bebia no chão e levantou a manta que o cobria para abrigar Rosemary.

— Então, você está quase no High School, hein? Parece que você driblou algumas etapazinhas.

— É, parece.

— Está animada?

— Um pouco. Não costumam gostar de mim nas escolas. 

— É claro que eles gostam, só não estão acostumados a lidar com alguém como você.

— Alguém como eu?

— Sim. Você é muito inteligente e madura. As coisas vão ficar melhores quando encontrar pessoas mais velhas do que você.

— Eu espero que sim.

— Aqui, eu ia te dar isso amanhã de manhã, mas já que você está aqui – Disse Isaac, tirando uma pequena caixinha de madeira de seu bolso.

Com olhos curiosos, Rosemary pegou a o pequeno quadrado nas mãos. A madeira em bom acabamento era coberta com duas camadas de verniz e tinha um cheiro peculiar de eucalipto. Ao abrir a caixinha, Rose se deparou com um lindo colar dourado. Tinha como pingente uma esfera redonda, feita de vidro. Dentro da esfera, uma substância branca que Rose não demorou a identificar como sal.

— É sal marinho – Disse Isaac apontando para a esfera - Você gostou?

— É lindo! – Falou Rose, dando um grande abraço no pai.

— É pra dar sorte. Foi sua mãe quem fez.

— O que?!

— Ela pensava que esse era um ótimo jeito de carregar o mar consigo.

Rosemary começou a chorar. Em todos esses anos, não falaram sobre Daiana. Agora, de repente, não apenas tocaram no nome dela, como compartilhavam a saudade e o choro. Isaac afagou o rosto de Rose em seu peito e beijou a cabeça da filha.

No dia seguinte, Rosemary acordou com o despertador. Tomou um banho quente, vestiu-se e desceu as escadas. A sala cheirava a panquecas, café e bacon. Ao entrar na cozinha, deu de cara com uma mulher alta, de cabelos ruivos.

— Aunt Anne?

— Hey, sweetheart!

Anne Brown correu para dar um beijo na sobrinha. Anne os tinha ajudado com a mudança e visitava a casa a cada dois ou três dias.

— Seu pai precisou trabalhar, mas deixou isso aqui pra você.

Em cima da mesa tinha um pequeno baú vermelho e um bilhete em caligrafia cursada.

“Boa sorte hoje. Não se esqueça de usar o colar”.

Rosemary abriu o baú e se deparou com alguns livros, revistas, um álbum de fotos e dois cadernos de anotação.

— O que é isso?

— Sua mãe gostava de guardar recortes de revistas e jornais e anotações dos livros que lia. Era um hábito dela. Seu pai achou que você ia gostar.

Rosemary estava em silêncio. Olhava para os papéis como se olhasse diamantes.

— Já volto – Anunciou.

Subiu as escadas correndo e voltou quase quinze minutos depois.

Rose mal conseguiu comer, de tão animada que estava. Nem se importava com a escola nova e com seu primeiro dia de aula. Queria voltar para casa o mais rápido possível para ver e rever cada coisa dentro daquele baú.

— Quando você chegar vou fazer uma torta de pêssego. Que acha?

— Acho ótimo, tia Anne.

— Minha garota! Pegou seu casaco? E seu lanche? Não está se esquecendo de nada?

— Não.

— Agora, deixa eu ver...

Rosemary abaixou um pouco o cós da blusa e mostrou o colar que ganhara na noite anterior

— Ficou magnífico em você – Disse Anne, dando um beijo na testa da sobrinha.

6 – Abandon All Hope

— Você gosta de cinema também?

Dean estava parado no corredor, olhando os pôsteres e fotos de Rosemary. Sam estava na sala, remexendo em alguns livros com aspectos de velhos e acabados.

— Você é maluca, mas tem bom gosto.

— Me desculpe por atirar em você.

Dean esboçou um meio sorriso, meio suspiro de forma irônica.

— Onde você tirou essa foto? – Perguntou ele, apontando para a foto em que Rosemary aparece sorrindo com três crianças negras.

— Em Nairóbi, alguns anos atrás. Meu orientador foi fazer umas pesquisas e eu fiquei por lá, como voluntária.

— Voluntária de que?

Rose sorriu.

— Existem coisas muito piores do que os monstros, Dean.

— Eu não acredito nisso.

— Esses três garotos – Rose apontou para a foto – tinham AIDS. Os três estavam subnutridos. Com fome, com sede. Sem acesso aos remédios necessários. Eles têm remédios bons lá, sabia? Mas custam muito caro. E você pode gastar muito dinheiro, com produtos falsificados. Todos os três queriam me ensinar a dançar e eles estavam tão felizes. Como pode alguém, naquele estado, ficar feliz por dançar? – Rosemary meneou a cabeça, sem olhar para Dean – Eu não pude deixar de ficar feliz também, por um segundo. Foi quando tiraram essa foto. Amadi, Zubayda e Farih. Eu penso neles todas as noites – suspirou.

Por um momento, toda a raiva que Dean sentira de Rose se esvaíra. Parecia que ele a conhecia há muito tempo e que precisava protegê-la. Queria dizer alguma, mas o que poderia dizer?

— Quem é você? – Soltou.

Diferente de todas as vezes que tinha feito essa pergunta naquele dia, essa não soou agressiva, nem invasiva. Foi mais uma dúvida sincera, sedenta. Dean sentiu um forte impulso de tocar em Rosemary, descobrir a mulher por trás daquele véu castanho que cobria seus olhos. Rosemary abriu a boca para falar, quando Sam se aproximou.

— Você tem muitos livros raros por aqui – disse ele.

Foi como se a rouca voz de Sammy a tivesse trazido de volta de um devaneio.

— É. Eu tento mantê-los longe da Universidade – Os olhos dela e de Dean se cruzaram por um segundo.

— Pelo mesmo motivo que você reagiu tão mal ao ver os papéis que trouxemos? – Perguntou Sam.

Foi a vez de Dean voltar a realidade. A menção dos papéis trouxe de volta a urgência que o atormentara nas últimas semanas.

— Sim e não. Vem, vamos para a sala – Disse Rose, indo em direção à mesa de jantar.

Nesse momento, um grande gato preto e branco entrou pela porta dos fundos. Trazia um pequeno sino dourado pendurado ao pescoço. Os irmãos Winchester se lembraram de ver uma foto de Rose, um pouco mais nova, com aquele gato nas mãos. O gato cheirou Sam e Dean e depois foi se roçar nas pernas de sua dona.

— Você não parece o tipo de pessoa que gosta de gatos – Disse Dean.

— Eu adoro gatos. Além do mais, ele é um sensor.

— Um sensor? – A sobrancelha de Dean estava levantada, tentando processar a informação.

— Você é um caçador e não sabe o que é um sensor? – Disse Rosemary, esboçando um sorriso.

— Animais são sensitivos, Dean – Interveio Sam – Eles podem ver e ouvir coisas que nós não podemos e costumam se manifestar a respeito. Por isso, na Idade Média, os gatos eram associados a bruxarias. Eles reagiam de formas estranhas, gritando durante a noite, nas bordas das florestas o que fez as pessoas pensarem que eles estavam possuídos, mas eles só estavam reagindo ao que estavam vendo, como um aviso. Na França e na Inglaterra as pessoas tinham o costume de colocar gatos mortos dentro das paredes, como forma de proteção. Não adiantava porque eles não servem de amuletos, só de avisos. Eles e a maior parte dos animais. Em 1968, no Wisconsin, uma família inteira fugiu de um espírito vingativo por causa das galinhas.

— Muito bem, Sam! Eu saquei rápido que você era o irmão inteligente – Disse Rose, piscando pra ele e colocando ração em um pires decorado – Come garoto e chega de rua pra você – E voltando-se para os meninos emendou - O motivo de eu não deixar esses livros caírem nas mãos de pesquisadores é que eles possuem descrições de rituais reais. Se forem lidos, ou usados de alguma forma podem ser um portal para coisas que nem o maior caçador do mundo saberia que existe.

— Você não tem medo de que peguem isso na sua casa? – Quis saber Sammy

— Nenhuma pessoa sabe sobre eles. Só seres sobrenaturais se interessariam em pegá-los aqui, mas a casa está muito bem protegida em relação a isso.

— Eu vi o Símbolo de Salomão na sala. Tem um no seu escritório também.

— Sim, existem muitas outras formas de impedir que fantasmas, demônios, monstros e pessoas possuídas entrem aqui.

— Você é bem paranoica pra uma professora – Debochou Dean.

— Os papéis me assustaram porque possuem alguns símbolos desses tipos de rituais. – Disse Rose, fingindo que não tinha escutado a provocação de Dean - Eu não sabia que vocês eram caçadores e não seria a primeira vez que um civil botava as mãos em algo assim e estragava tudo.

— O que nos entregou? Como você descobriu que éramos caçadores? – Questionou Dean.

— Sua loucura. – Respondeu Rosemary, olhando nos olhos dele de forma impessoal – Só caçadores se importam daquele jeito.

Dean engoliu em seco. Só reconheceria aquele fardo, quem já o tivesse carregado. Julgara mal a mulher sentada em sua frente?

— Você está bem? – Perguntou Rosemary a Dean – Seu braço está doendo?

— Não. Eu estou ok – O rosto de Dean estava três tons mais claros que o normal – Não se preocupe.

— Eu vou buscar a comida. Você perdeu muito sangue, precisa se alimentar – Disse Rosemary, indo para a cozinha.

Alguns minutos depois Rose voltou carregando pratos, copos e talheres, se contorcendo para a pilha não cair. Sam foi ao seu auxílio. Rose foi e voltou quatro vezes, antes de estar satisfeita com a composição de sua mesa de jantar. Serviu arroz árabe, purê de batatas, salada de alface e legumes cozidos, molho de mostarda e picanha assada na crosta de sal. Tinha suco de laranja, vinho e água para acompanhar.

— Se vocês não comerem, eu não falo sobre o caso  - Anunciou.

Sam e Dean pegaram os lindos pratos de porcelana que estavam à sua frente e começaram a se servir.

— Quanto tempo você ficou dentro daquela cozinha?

— Não seja idiota, Dean. Algumas coisas já estavam prontas na geladeira.

Após encherem seus pratos, Dean puxou a garrafa de vinho para si e Rosemary interviu.

— Você não tem ideia do que isso faria com você no estado em que você está – E rindo levou a garrafa para o outro lado – Beba suco.

Antes de voltar a se sentar, Dean viu algo reluzir no pescoço de Rosemary. Era o mesmo colar em que tinha reparado naquela manhã, quando se viram pela primeira vez.

— Posso fazer uma pergunta? – Disse ele.

— Claro.

— O que é isso no seu colar?

— Sal.

— Sal?

— É. Foi um presente. A corrente é feita de ferro puro e banhada a ouro e o pingente tem sal grosso moído. É um pouco pesado, mas funciona muito bem.

— É um colar de proteção? – Sam entrou na conversa.

— Sim. Enquanto eu estiver com ele nenhum espírito ou demônio pode tocar em mim.

— Uau. Preciso arrumar um desses – Disse Dean.

Enquanto comiam, os três iam conversando sobre o caso. Rosemary abriu uma pasta que trouxe consigo. Tinha imprimido todas as notícias sobre os desaparecimentos e mortes que estavam ou poderiam estar relacionadas ao caso do Winchester. Marcara em um mapa todos os locais e horários de morte e sumiço. Agora pedia aos meninos que lhe contasse as circunstâncias em que cada um dos corpos havia sido encontrado. Com exceção de Cloe, que teve sua morte detalhada em cada jornaleco do país.

— Então, só tinha esses quatro papéis?

— Não. Nós acreditamos que tinha um para cada vítima. Esses foram os que nós pegamos antes da polícia.

— E a polícia realmente tem os outros três?

— Só temos certeza de um. Nós tentamos pegá-lo, mas sem sucesso.

— Isso não faz sentido – Disse Rose.

— O que você disse na sua sala, sobre esses papéis não terem sido deixados aleatoriamente. É isso o que perturba você? – Perguntou Sam.

— Sim. Vocês alguma vez já viram um ser sobrenatural deixar vestígios assim?

— Não, realmente não.

— Vou buscar a sobremesa – Disse Rose, indo novamente para a cozinha.

Para o deleite de Dean, Rosemary trouxe consigo torta de maçã e sorvete de creme.

— Deus, eu acho que eu nunca comi tão bem assim em toda a minha vida – Exclamou ele. Rose riu.

— Olha – Disse Rose, colocando um grande papel em cima da mesa – Esses foram alguns dos símbolos que estavam naqueles papéis. Só existe um símbolo em comum em todos os quatro e todas essas quatro vítimas tiveram uma parte ou todo o coração sumido, certo?

— Certo. E o que sobrou estava putrefato – Confirmou Sam.

— Bom... Esse símbolo aqui remete a um povo que vivia no que agora é o México, muito anterior aos Astecas. Era usado em um ritual de “purificação do coração”.

— Porque as aspas?

— Era mais um ritual de acusação. A forma de eles purificarem o coração era expor todas as suas mazelas. O que poderia explicar os diferentes estados de decomposição do coração das vítimas.

— Então é um deus pagão? – Perguntou Dean.

— É. Mas o que é pagão? Quando o nosso mundo se tornou cristão, tudo o que não pertencia ao cristianismo ou à cristandade, era pagão. Os astecas eram pagãos, os nórdicos eram pagãos, até os gregos eram pagãos. É como pegar todas as populações indígenas do mundo, com diferentes origens, línguas, costumes e chamar todos eles de índios, como se fosse uma coisa só. Entende?

— Você quer dizer que cada deus pagão tem um jeito específico de agir, de matar e de morrer? – Perguntou Sam.

— Sim. Mesmo que isso seja um deus pagão em ação, você não pode matar todos os deuses pagãos com uma estaca afiada molhada em sangue de morto.

Diante da cara de perplexidade dos dois, Rosemary emendou:

— Eu preciso perguntar. Quem colocou vocês nesse caso?

— Bobby Singer, ele é um amigo – Disse Sammy.

— Vocês confiam nele?

— É claro que confiamos – Disse Dean – Ele é como um pai para nós.

— Porque você está perguntando isso? – Indagou Sam.

— Porque tem alguma coisa errada nessa história. Quem me indicou pra vocês?

— Professor Morrison, da Seattle University.

— Ele disse de onde me conhecia?

— Ele mencionou um congresso em Columbia. Disse que você era um prodígio.

— Ok.

Quando Dean olhou para o relógio, percebeu que já estava próximo das quatro da tarde.

— Rose... Essa coisa, seja o que ela for, está deixando três vítimas em cada cidade. Nós precisamos voltar pra Brokeville. É a nossa única chance.

— Eu não acho que vocês deveriam voltar lá.

— O QUE?! – Exclamou um Dean, perplexo.

— Vocês não tem ideia de com que estão lidando. Eu sou inteligente, mas não faço mágica. Precisaria de pelo menos mais dois dias para decifrar todos os símbolos nesses papéis e achar uma conexão entre as vítimas.

— Então, o que nós deveríamos fazer?! Deixar as pessoas morrerem?!

— Pessoas morrem todos os dias, Dean. Você não pode salvar elas todas.

— Rose, nós não podemos fazer isso – Interveio Sam.

— E o que vocês podem fazer? Vocês não sabem o que está matando aquelas pessoas, não sabem como rastreá-lo, não sabem como matá-lo e não sabem quem será a próxima vítima. Isso é suicídio.

— Eu não me importo com o que você diz! Todos os deuses pagãos que encontramos até hoje morreram do mesmo jeito. Estaca ensanguentada no coração, cabeça arrancada, o de sempre – Provocou Dean.

— SE for um deus pagão e SE isso der certo, como vão encontrá-lo?

— Nós dirigimos cinco horas pra você nos contar isso, não para nos dizer pra seguirmos nossas vidas e nos conformarmos que aquelas pessoas vão morrer.

— Dean, se acalma. Rose deve ter algo mais que você pode nos dizer pra nos ajudar. Algo que nós não estamos vendo – Suplicou Sam, de forma conciliadora.

— Não tenho. Se vocês me derem mais tempo...

— Nós não temos mais tempo! – Gritou Dean. – Isso foi uma enorme perda de tempo. Vamos embora Sammy.

— Dean, para! Rosemary tem razão! O que nós vamos fazer?

— Resolver sozinhos, como nós sempre fizemos. Dando um jeito. Eu não preciso de nenhuma professorazinha me dizendo pra me trancar em casa e me esconder – Dean virou para Rosemary – Foi isso o que você fez? É por isso que você pensa naqueles meninos todas as noites? Você foi lá, deu um pouco de comida e remédios e depois voltou pra sua casa, seguindo sua vida? Você tem medo de perguntar, de saber se eles estão vivos ou mortos? “Pessoas morrem todos os dias”.  É isso o que você diz para si mesma?!

Os olhos de Rosemary estavam cheios de água.  Ela respirou fundo e reuniu todas as suas forças para dizer:

— Saiam agora da minha casa.

A voz de Rosemary cortou o ar como um metal.

— Sabe? Por alguns momentos eu pensei que você era uma coisa, mas eu estava redondamente enganado. Eu não sei quem você é e não sei como você conhecia o meu pai ou o que ele significava para você, mas eu sei que você não aprendeu nada com ele. Obrigado pela comida, obrigado por atirar em mim e obrigado por porra nenhuma – Disse Dean, grosseiro, enquanto abria a porta que dava para a rua, seguido de perto por Sam.

7 – Simon Said

                A escola de Rose ficava a quase quarenta minutos de sua casa. Era distante, mas muito conceituada. Antiga, a escola possuía grande tradição e formara algumas das mentes mais relevantes do século. Harvard, Columbia, Oxford. Todos se lembravam de citar as universidades, mas não as escolas primárias e secundárias, onde certos gênios haviam passado parte crucial de suas vidas. A “A. L. School” parecia perfeita para as ambições de Isaac em relação à Rosemary.

                Anne deixou Rosemary na frente da escola com um abraço de despedida. Rose ficou um momento parada, olhando o carro da tia se afastar. Rose já tinha visitado a escola com seu pai. Mas agora, sozinha, o prédio parecia ainda maior e mais imponente. “Pelo menos tem muitas árvores por aqui”, pensou.

Rose tinha nas mãos seu horário impresso. Teria que começar visitando a senhora S. King, sua conselheira. A conselheira passou a Rosemary algumas informações úteis e outras inúteis, explicou com funcionava a escola e avisou que acompanharia de perto seu desempenho, já que era uma aluna mais nova naquela série. Além do mais, qualquer problema que Rosemary tivesse com os alunos mais velhos, era para falar com ela.

A primeira aula seria de Inglês, a última de Educação Física. No intervalo, Rosemary abriu sua mochila e tirou de lá um pacote com um sanduíche, uma garrafa de suco de amora um pedaço de bolo de cenoura com chocolate, que aprendera a fazer no Brasil. Preferiu sentar embaixo de uma árvore, ao invés de no refeitório ou nas mesinhas espalhadas pelos jardins.

— Oi, meu nome é Alice Cresta. Posso sentar com você?

A menina que tinha se aproximado tinha a pele muito clara, cabelos pretos cacheados e olhos verdes. O aparelho e os óculos a faziam parecer um pouco menos bonita do que realmente era. Rose tomou um susto, mas fez que sim com a cabeça.

— Eu estou na sua turma de Inglês, também sou aluna nova.

— Você tem a mesma idade que eu? – Indagou Rose.

— Não. Eu sou um pouco mais velha – Respondeu Alice, claramente constrangida.

A grade de Alice estava quase idêntica a de Rose e não demorou muito para que as duas começassem certa amizade.  Na última aula, quando chegou ao campo de Educação Física, Rosemary deu por falta de Alice. O lugar parecia gigante. Tinha um campo de futebol, duas quadras, duas piscinas olímpicas e um prédio que concentrava algumas salas, banheiros e vestiários. De todos os prédios, aquele era o que mais parecia antiquado. Algumas paredes estavam descascando, com negras infiltrações nos tetos. Rosemary reparou que as árvores naquela parte estavam um pouco secas e que, de alguma forma, o ambiente parecia mais sombrio.

Após dar algumas voltas na quadra de basquete, Rose decidiu ir ao banheiro. Os dois banheiros do primeiro andar estavam interditados, então Rose precisou subir dois ramos de escadas para se aliviar. Assim que entrou no prédio, Rose sentiu um frio intenso. Estranhou o porquê aquela parte do campus não pegava sol e o porquê ninguém se importava em arrumar aquele prédio horrível.

No banheiro, havia pichações e algumas portas quebradas. Quando estava lavando as mãos, Rose ouviu um choro e alguns risos. Ao sair, deu de cara com Alice cercada por alguns meninos e meninas de uma série superior. Eles estavam tentando forçar Alice a subir até o terceiro andar do prédio. Diziam que uma menina tinha sido morta lá e agora assombrava aqueles corredores. Alice chorava e se contorcia. Não queria subir. Rose bateu a porta do banheiro com força, o que fez com que todos olhassem para ela.

— Está tudo bem aqui, Alice?

O choque e a cólera estamparam-se no rosto de todos. Os olhos de Alice estavam esbugalhados e vermelhos.

— Quem diabos é você? – Perguntou um menino meio brutamonte.

— Eu sou Rose. E tenho absoluta certeza que vocês não deviam estar aqui.

O queixo do brutamonte caiu. Rosemary parecia mais velha do que Alice e tinha uma voz calculista que o fez sentir um frio na barriga, mas não seria desafiado por uma menina, tinha uma reputação a manter.

— Cai fora daqui antes que sobre pra você – disse ele rangendo os dentes.

— Eu não vou a lugar nenhum sem a Alice.

As pernas de Rosemary estavam bambas, mas ela não deixaria ninguém perceber. O brutamonte avançou para ela e deixou o hálito quente do seu bafo roçar as bochechas da garota.  Antes que mais um passo fosse dado, outro menino interviu.

— Qual é Charles. Você não quer arrumar um problema assim agora. Tá cheio de professor aí embaixo. Deixa a menina ir.

Rose olhou para o garoto que falava. Era um pouco maior do que ela, magro e de intensos olhos pretos, quase vazios.

— É Charles, você não quer arrumar esse problema – Debochou Rosemary, ainda sem saber ao certo o que estava fazendo.

Charles recuou um pouco e fez sinal para que deixassem Alice ir. Alice correu para Rose. Quando Rose e Alice se viraram para sair, a voz de Charles soou ameaçadora:

— Sabe Rose. Você não vai estar por perto dela para sempre. Coisas ruins acontecem com pessoas que andam sozinhas.

Rose parou de supetão. Foi tomada por um ódio súbito e absurdo, como se outra pessoa tivesse tomado conta de seu corpo. Não aceitava ser ameaçada. Preferiria alguém que a machucasse, a alguém que dizia que iria machucá-la. Não deixaria que ninguém a fizesse viver com medo. Rose se virou para trás.

— Eu ouvi vocês falando que tinha um fantasma no terceiro andar. Você já foi lá, Charles? – Perguntou Rosemary, com ar debochado. O menino não respondeu e ela emendou – Eu achei que não. Eu não tenho medo de fantasmas. Se eu for até, você deixa Alice em paz ou eu deduro você para a conselheira King. Ela parecia bem interessada em saber dos podres de alguns alunos implicantes.

Rose não queria começar o ano com fama de dedo duro, mas decidiu apelar para essa carta. À menção de senhora King, Charles ficou pálido. Rose deduziu que ele estava por um fio com a diretoria. Algumas meninas soltaram risadinhas debochadas, mas Charles aceitou a proposta.

— Feito. Mas você não vai ao terceiro andar e sim ao quarto andar.

— O QUE?! – Exclamou o menino de olhos vazios – Ela não pode ir lá, é perigoso. O Chão está podre, tem fiações desabando.

— Você vai lá e eu deixo sua amiga em paz – Disse Charles, ignorando o outro.

Alice começou a chorar de forma histérica, pedindo para Rose não fazer isso.

— Está tudo bem, Alice. Vai lá pra fora e fica perto de algum professor. Não conta nada para ninguém. Daqui alguns minutos eu encontro você, está bem?

Alice desceu as escadas correndo e pela janela Rosemary viu ela se afastar no gramado. Rose então se virou para o grupinho em sua frente e suspirou bem fundo.

— Ok, vamos lá.

8 – After School Special

No final do corredor do quarto andar, tinha uma escada de incêndio com um número 3 e uma seta apontando para baixo. Rosemary precisaria tirar uma foto da placa, para provar que esteve lá. Ao entrar no corredor, Rosemary sentiu um frio ainda mais intenso do que sentira quando entrou no prédio, sua boca começou a soltar uma fumaça, como se fosse inverno. Quanto mais se aproximava do fim do corredor, mais os pelos de seu braço se arrepiavam e seu corpo sucumbia em calafrios. “Ótimo primeiro dia”, pensou. Tentando descontrair a tensão que agora se apoderava dela. “Fantasmas não existem. Você não pode ter medo de coisas que não existem”.

                Rose chegou ao final do corredor e tirou uma foto da placa da escada. Estava muito escuro naquele ponto e ele queria sair o mais rapidamente dali. Quando estava voltando, Rose percebeu que algumas luzes começaram a piscar e sentiu um pavor gritante. Começou a andar depressa, mas tropeçou em uma falha do chão putrefato. Caiu. Rose fez um pequeno corte na bochecha e se levantou rapidamente. Tinha arranhado as palmas das mãos e um joelho. Antes de se levantar, ouviu alguém chamando seu nome.

— Hey! Rosemary! Você está bem?

Rosemary se chocou ao perceber que era o menino de olhos negros e vazios.

— Você já tirou a foto, agora vamos embora!

Rosemary estava um pouco atordoada, mas se levantou com cautela. Quando seus olhos finalmente focaram no rapaz que a chamava, Rose viu uma estranha sombra atrás dele. O coração de Rosemary parou. Ela apontou e gritou para que ele corresse, mas antes que ele pudesse reagir, foi arremessado a alguns metros para frente, caindo quase próximo a Rosemary. Os olhos de Rose se encheram de água. Suas pernas estavam paralisadas. Só conseguia ouvir o bumbo do próprio coração. Uma voz melódica, quase infantil soou por de trás dela. Parecia uma canção de ninar, preenchendo todo o corredor. Rose virou a tempo de ver a sombra passar por alguns espelhos e então todas as portas bateram de uma só vez fazendo Rose correr na direção do menino caído e tentar acordá-lo. As luzes do corredor começaram a piscar mais forte e o menino acordou desnorteado.

— NÓS TEMOS QUE IR! NÓS TEMOS QUE IR AGORA! – Gritou Rose, em choque.

Ela e o menino correram em direção à escada que dava pro terceiro andar e se precipitaram em alguns degraus, fazendo com que os dois caíssem e rolassem. Ali, desceram correndo uma rampa que dava acesso rápido ao segundo andar, onde um pouco de sol batia. Rose e o menino deixaram seus corpos caírem na grama seca, suados e exaustos. Rose olhou para cima e viu as luzes do quarto andar piscarem mais uma vez antes de se apagarem.  

 9 – Children Shouldn’t Play With Dead Things

Quando chegou em casa, Rosemary foi direto para o quarto, tomar um banho quente e tentar disfarçar as feridas que havia ganho. Anne estava preparando uma torta de pêssego e ouvia rock, mal prestando atenção ao estado da sobrinha que apenas disse que estava apertada para ir ao banheiro.

Isaac chegou em casa em tempo de comer a torta e quis saber que corte era aquele na bochecha de Rosemary. “Caí na aula de Educação Física. Meu cadarço desamarrou”. A resposta pareceu satisfatória e nem Isaac e nem Anne fizeram mais perguntas. Sabiam que cair na frente da turma, no primeiro dia de aula, deveria ter sido embaraçoso e não queriam prolongar o constrangimento de Rose.

— Você gostou do que deixei pra você hoje?

Com tudo o que tinha acontecido, Rose nem se lembrava do baú da mãe e isso revirou seu estômago. Se o que vira tinha sido real, sua mãe também estaria por aí?

— Eu amei, mas ainda vou olhar melhor. Eu estou cansada. Vou subir. Obrigado pela torta, tia Anne – disse Rose, dando um beijo em cada um e subindo as escadas.

Alguns meses se passaram depois do ocorrido e Rose se certificou de que mais nenhuma criança subisse ao quarto andar, dedurando Charles para a conselheira. O menino tomou uma suspensão por um mês e ficou de castigo por outro, mas não teve prova de que Rosemary o tinha entregado. Bruno, o menino dos olhos vazios, sempre dizia um oi quando passava por ela, mas parecia querer evitar a chance de entrar naquele assunto. Tanto Rose quanto ele, estavam perturbados demais para falar sobre aquilo. De qualquer forma, um pensava dever ao outro sua própria vida. Rosemary era grata por Bruno ter aparecido lá e Bruno era grato por Rosemary o ter tirado de lá. Nenhum dos dois verbalizava isso, ou qualquer coisa que tinha a ver com aquele dia. Rose continuava se encontrando com Alice sempre que podia. As duas tinham virado boas amigas e Rose descobrira que Alice tinha um ótimo gosto musical e cinematográfico. Ela sempre indicava boas fitas para Rose que, em troca, emprestava os melhores livros para a garota. Algumas vezes eles faltavam à última aula para ir ao cinema ou ao shopping, tomar milk-shake e rodar pelas grandes lojas de discos que haviam por lá. Alice tinha visitado a casa de Rose algumas vezes e Isaac estava muito feliz que a filha estava fazendo novos amigos.  

Isaac passava algumas noites fora, mas no geral, seu relacionamento com Rose tinha melhorado bastante. Algumas vezes, ela ficava olhando para ele por longos minutos, abria a boca para falar mais fechava e então terminava lhe dando um beijo de boa noite e voltando para o quarto. Isaac pensava que ela queria dizer algo sobre Daiana, mas era outra coisa que estava tirando o sono da menina.

Em um dia de Outubro, um burburinho começou a se formar nos corredores e o diretor avisou que as aulas seriam canceladas após o meio dia. Já era quase inverno e o sol não estava dando as caras. O tempo estava cinza. Rosemary estava no campo de futebol e estranhou a movimentação em torno do prédio de Educação Física. Quando viu uma viatura da polícia se aproximar, Rose correu em direção ao prédio, subindo pela rampa dos fundos, de onde ela e Bruno escaparam da última vez em que esteve lá. Rose viu um saco preto deposto no chão. A polícia estava esperando a escola fechar, para retirar o corpo. Rose viu uma pequena mecha de cabelos para fora do plástico e começou a chorar. Tratou de sair correndo dali. No dia Seguinte a notícia já tinha sido espalhada por toda a cidade, mas Rosemary não queria acreditar no que ouvia.

Uma menina havia sido encontrada morta em um prédio decadente da conceituada escola A.L. School. Segundo os fiscais que foram acionados pela polícia, o prédio não estava em condições de abrigar crianças e deveria ser desativado. A diretoria não soube informar as origens das infiltrações e destruições, já que uma reforma tinha sido aplicada ali alguns meses antes. A escola estava sendo processada por Elizabeth e Theodore Cresta, pais de Alice, a menina morta.

11– Point Of No Return

Rosemary tremia e estava incontrolável. Sentia-se diretamente culpada pela morte de sua amiga. Acontece que Charles, voltando de sua suspensão, queria continuar a praticar seus bullying e forçar incursões de terror ao terceiro e quarto do prédio assombrado. Mas acima de tudo, queria vingança da pessoa que o tinha exposta ao ridículo de ser exortado pelos pais publicamente.  Por algum motivo, duvidava que tivesse sido Rosemary quem o tinha entregado para Mrs. King, então achou que o mais provável era que aquela atitude teria partido de Alice, uma típica covarde que agiria por trás das costas de seu opressor. Quando Rosemary se ausentou, Charles obrigou Alice a subir ao quarto andar do prédio e ficar por lá até que ele a mandasse descer.

A causa da morte não tinha sido determinada pela polícia, mas Rose sabia muito bem o que tinha acontecido lá em cima. Lembrava-se nitidamente do que tinha visto, ouvido e sentido. Seu corpo gelou. Queria gritar e se debater, machucar sua pele, voltar no tempo e tirar Alice de lá. Só de pensar que a última coisa que sua amiga tinha sentido era medo e terror, Rose desejava estar morta, tão morta quanto a pobre Alice estava agora.

Rose contou para Anne sobre Charles e outras crianças confirmaram o caso aos Cresta. O menino foi expulso da escola que começou a receber diversas ações de conscientização sobre bullying e convivência.

Rosemary tinha parado de frequentar as aulas, perdera peso e estava sempre com olheiras. O humor de Isaac também mudara completamente. Saía todas as noites, falava pouco e queria e mudar Rosemary de escola. Ela não aceitou. Só precisava reunir forças o suficiente para voltar até lá.

Duas semanas e meio depois, Rose decidiu voltar às aulas e Isaac insistiu em levá-la e buscá-la todos os dias.  Quando chegou, Bruno estava à sua espera, mas ela sequer olhou para ele. Rose sabia muito bem que Charles não era o único que forçava crianças irem até aquele prédio e que Alice não seria a última vítima. Decidiu então matar a primeira aula e dirigiu-se para o último lugar em que Alice estivera viva.          

12 – The Thing’s We Left Behind

Com mais ódio do que medo, Rosemary subiu até o terceiro andar pulando uma janela quebrada, que dava para a rampa de acesso. Sentiu o ar a sua volta ficando gelado, mas não titubeou. Pegou um torniquete que trouxera consigo e começou a quebrar todos os canos e torneiras possíveis. A água começou a jorrar por todos os corredores, salas e cabines sem parar. Rose foi até a escada que dava para o terceiro andar e começou a bater nas finas barras de ferro que a seguravam. Queria quebrar os degraus e impedir a passagem. As luzes começaram a piscar e o degrau em que Rose estava despencou, fazendo com ela atingisse o chão lá embaixo. Uma dor excruciante tomou conta dela. Rosemary jamais tinha sentido tanta dor. A água, que agora ia inundando o prédio, começou a abraçá-la, cobri-la. A boca de Rose começou a soltar novamente aquela fumaça e ela sabia que precisava sair urgentemente dali.  

Quando as portas do corredor começaram a bater e as luzes começaram a piscar, Rose alcançou o pátio exterior, estava segura. Ela passou a mão em suas costas e viu que estava sangrando. A dor ia-lhe tirando as forças. Rose respirou fundo e pegou a mochila que tinha deixado perto de uma das árvores secas que cercavam o prédio. Trocou de roupa, colocou um casaco escondendo seu rosto e decidiu ir embora dali.

Com o prédio inundado e a escada de acesso andar destruída, era mais fácil garantir uma interdição fiscal e impedir que outras crianças subissem até onde nunca deveriam ter ido.

 Ao chegar ao pátio que dava para o estacionamento, Rose reparou em um carro preto parado próximo ao prédio assombrado. O motorista, um homem de pouco mais de quarenta anos, mantinha os olhos fixos nas janelas do quarto andar, onde as luzes ainda piscavam. Rose estranhou e se perguntou se ele a teria visto deixar o prédio, mas abstraiu o pensamento e decidiu seguir seu caminho.  O carro, um Chevrolet Impala 67, embora antiquado estava bem conservado e carregava a placa “KAZ 2Y5 – KANSAS”.


Notas Finais


Capítulo V - Ain't No Rest For The Wicked

Rose cobra um favor antigo. Sam e Dean pegam a estrada de volta para Brookeville. John investiga a morte de Alice. Bobby faz uma descoberta.


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