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História Until the black turns red - His ink is black, his eyes are red


Escrita por: VenusNoir

Notas do Autor


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Capítulo 1 - His ink is black, his eyes are red


Tem um silêncio dentro de mim. Eu fico horas parado diante do computador, a tela do Word em branco. Horas com o caderno no colo, a ponta do lápis batendo ritmadamente na espiral torta, um ruído irritante que no entanto eu não consigo fazer cessar. Eu estou com medo de que tudo tenha se esgotado. Minha fonte. Em outros tempos, ela jorrava, mas agora queda seca, apenas gotejando muito parcamente e só de vez em quando. Eu digo, eu escrevo sobre amor, é sobre isso que escrevo. Devo amar. Mas se há fontes secas, há também fontes que sequer existiram. Eu nunca amei ninguém. A paixão me intriga, é por isso que escrevo sobre ela. E seus efeitos. Até que decidi te amar.

 

Por quê? Estou entediado, é isso. Nada acontece faz um tempo. Preciso de inspiração, talvez você me forneça alguma. Os poetas são mesquinhos. Você é o meio pro meu fim. Eu só preciso de você por alguns instantes, Jimin, alguns meses, e pronto. Não vou pedir de você nada mais que isso. Eu minto –

 

Eu tenho anjos na minha cabeça, uma legião deles, e eles alçarão voo quando seus lábios se encostarem aos meus. Tenho esperado... por dias. Quando deito, à noite, penso em me tocar, mas das últimas vezes o que fiz foi ler a Bíblia. De todos os personagens, Lúcifer é o meu preferido. Tão forte, tão rebelde. O mais belo dos querubins, também um dos mais queridos pelo Criador. E nunca fugiu de seu destino; ele fez o que fez porque devia fazê-lo. Para que o bem faça sentido, o mal precisa ascender. Eu não sou mau. Eu serei bom pra você, serei sim, é uma promessa.

 

Quando nos falamos ao telefone, eu fico trêmulo. Só por isso, eu poderia considerar real o que sinto por você, mas não posso enganar a mim mesmo. Já é um grande esforço te enganar e a todos a nossa volta. Eu finjo que sinto e acabo sentindo, mas a mentira é o fundamento de tudo isso, não nos esqueçamos. E essa minha mentira tem um propósito maior. Se algum dia você resolver me odiar, eu espero que você também se lembre disso. Sem o que você está para me oferecer, eu vou definhar. Você me faz um favor. Você me devolve a vida. Troco uma ilusão inofensiva por algumas palavras rebuscadas e frases poéticas e pretensamente profundas concatenadas numa história bonita. No fim, você vai ficar orgulhoso de mim, de si próprio e do que nós tentamos ser.

 

Eu só sou um artista medíocre, você não vê? Será que eu posso mesmo ser culpado por tentar extrair inspiração de alguém que se colocou disponível pra isso? Nós somos só experiências na vida uns dos outros. A diferença aqui é que você vai me render mais do que reflexões e feridas. Talvez eu te eternize.

 

Quando eu entro no táxi para ir até você, é como se eu estivesse no estômago de uma besta. Lá fora, há ruídos e caos, ondas e incêndios, e eu fui devorado, mas pelo menos estou seguro. Eu me persigno ao contrário, à moda dos satanistas. E assim que te vejo, seguro na gola da sua camisa, como se fosse desmaiar. Arranca de mim o que me sufoca. Porque eu tenho uma bola de pelos presa no esôfago, e ela me impede de falar e até mesmo de respirar. Eu quero que você me maltrate. Eu penso que mereço. Eu penso que sobretudo eu quero. Sempre ansiei por alguém que me fizesse desejar estar morto enquanto eu insisto em viver passionalmente toda a dor causada.

 

Anos atrás, eu me acreditava um semideus. Eu podia criar tanta coisa só rabiscando letras numa folha em branco. Eu inventava histórias bonitas, algumas pessoas até gostavam delas. Eu fui longe demais, Jimin, tão longe. Nunca mais irei voltar. Um dos meus personagens agora roubou o seu nome, suas feições e seus trejeitos. Jimin é um garoto do interior, pobre menino rico, apaixonado pelo filho da criadagem. Jimin é bobo e triste, feito fantoche por seu pai e por sua mãe, pela sociedade e pelos próprios desejos depravados. Ele ouve a voz da tia suicida, escuta-lhe o coração que não bate há décadas, os pensamentos convulsos, herdou dela o impulso de morte e a histeria. Tantos segredos ele guarda quanto tantos segredos lhe são escondidos. Esse é o seu eu que pertence a mim.

 

Eu falo com a língua entre os dentes, bebo o soju de santos e durmo à base de remédios receitados pelo psiquiatra da família. Na sua história, eu sou o amante perturbado que a um só tempo te usou e foi usado por você. Vinte e oito mil palavras, contando. Para você, um homem bom e que te ama. O nome dele é Jungkook, e ele te esperaria por setenta anos vezes sete. Jungkook adora sua alma e seu corpo. Diferente de mim, que nunca pude te tocar sem me debulhar em lágrimas, ele deseja te beijar dos pés à cabeça. Como se fizesse uma prece.

 

A pálida lua. Nívea lua. Marfim num céu escuro de ébano. Eu não peço perdão. Muito velho e triste para perdões. Me odeie, tanto faz. Eu fui crápula, você será imortal.


Notas Finais




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