História Until Your Last Breath - Natureza

Aquela noite estava fria, e os olhos de Harley Quinn insistia em ficar se enchendo a cada momento. A única coisa que passava por sua mente era: "Por que ela?"

A noite foi tão curta e ao mesmo tempo tão longa que quando se deu conta, já havia amanhecido. Claro que o Coringa não estava lá, assim como nunca esteve.

(...)

Mansão Wayne (mesma noite)

Batman estava debruçado em uma de suas mesas, na cara Batcaverna. Ele apertava os olhos enquanto todos os momentos daquele dia cobriam sua mente. Enfurecido e esquecendo sua dor momentaneamente, ele derruba tudo o que estava na mesa. Alguns vidros se quebram ao cair no chão junto com objetos metálicos.

Alfred desce as escadas arqueando uma de suas sobrancelhas, ouvindo os altos sons que o homem lá em baixo fazia. Era bem óbvio que algo estava errado. E muito errado.

— Senhor? — Alfred pergunta descendo os últimos degraus 

Bruce puxa com força sua máscara, apertando-a entre os dedos. Evitando olhar para qualquer lugar.

— O que aconteceu? O senhor está bem? — Alfred se arrisca se aproximar perante a irritação dele, Bruce abaixa a cabeça se debruçando novamente em cima da mesa, apertando mais forte sua máscara — A moça está bem?

Bruce abre os olhos perante a última pergunta.

— Não. Ela não está. — Ele dá as costas, indo para a área onde guardava sua roupa, Alfred segue ele

— Não conseguiu salva-la?

Bruce para e se vira para ele.

— Eu a matei.

Alfred fica parado enquanto ele caminha para dentro. Quando volta, ele estava vestindo uma calça comum e estava sem camisa. Suas cicatrizes e novos arranhões estavam bem expostos.

— Senhor, o que aconteceu?

— A bala para o "Rei" — Bruce faz aspas com as mãos — Foi para a Rainha.

— E como isso aconteceu? — Alfred continua seguindo o Bruce, que estava subindo para a mansão

— Harley Quinn estava sozinha, foi muito rápido.

Alfred pisca algumas vezes, tentando entender o que ele estava falando.

— Ela já deve estar morta agora. — Bruce diz pegando um vidro de licor em uma estante 

— Você não acreditava mesmo na salvação dela... — Alfred estuda suas próprias palavras, prestando a devida atenção no que iria dizer — Não é, senhor?

Bruce enche um de seus copos e o vira rapidamente, ignorando a pergunta de seu conselheiro. Após o álcool descer queimando sua garganta, ele coloca o copo com força de volta na estante.

— Não importa mais.

(...)

Antigo Cassino

Harley vestiu um vestido rosa claro que levaram para ela, todas as suas roupas estavam perdidas, pois a casa deles a esse ponto já estava tomada pela polícia. Não teria sentido voltar lá para buscar algo, ao menos para ela.
Harley derruba algumas lágrimas ao olhar a paisagem nublada que refletia pelo vidro enorme daquela janela. Por um momento ela se perguntaria se choraria assim eternamente, enquanto mais tentava prender o choro, com mais força ele aparecia.

Ela sai do quarto procurando pelo Coringa, mas não o encontrou, provavelmente estava lá em baixo ou procurando um lugar para enterrar... Hera. Harley senta na cadeira daquele escritório e abraça suas próprias pernas, liberando suas lágrimas que estavam implorando para sair. A esse ponto, já pareciam ser infinitas.

Enquanto chorava, ela ouve a porta do elevador se abrindo, era o Coringa abraçado a um envelope. Harley coloca as mãos nos olhos para tentar esconder as lágrimas.

— Bom dia, pudinzinho. — Ela força um sorriso, secando seus dedos molhados no vestido

— O enterro da ruiva será essa tarde.

— Onde? — Harley seca mais uma lágrima involuntária

— Na colina ao leste da cidade. — Coringa segura seu envelope quase nas costas

Harley olha para o envelope e lhe parece muito ser o que ele guardava em seu escritório, ela se pergunta se ele voltou na casa para pega-lo. 

— Quando vai inaugurar o cassino? — Harley se levanta, sorrindo — Aposto que vai ser uma grande festa.

Coringa pensa se ela está mesmo pensando nisso, mas prefere mesmo vê-la sorrindo, mesmo que falsamente.

— Essa semana, espero que daqui quatro dias. — Ele dá as costas, desviando o envelope do campo de visão de Harley

Ela fica plantada, observando ele se afastar. Até que ele se vira novamente.

— Você não vem? — Ele pergunta já próximo do elevador

Harley Quinn caminha docemente até ele, sua tristeza estava sendo acalmada momentaneamente pela presença dele.

— Obrigada, pudim. — Harley sorri quando o elevador se fecha, com os dois indo para baixo

Coringa olha para ela e afasta seu casaco, mostrando sua arma no coldre. Ela reprime um sorriso e sibila um "Desculpa".

O dia se passa tão rápido quanto o desejado, Coringa estava cuidando do lugar e Harley adorava observar isso. Segui-lo a fazia se sentir melhor, ela usava isso para evitar de ficar em algum canto chorando. Na visão do Coringa isso já estava bem irritante, talvez fosse melhor mesmo vê-la chorando. Mas como ela quase não dizia nada, era tolerável.

A tarde estava chegando ao fim e o Joker observa um relógio na parede, seria irritante ver a cara de choro da Harley ao lembra-la de que estava na hora do enterro da Hera, mas ele queria que isso acabasse logo. Por ele, o corpo da Hera teria ficado no Asylum, e a Harley já estava superando isso.

— Harley, sinto muito mas já é 16:30, está na hora do enterro da Hera.

Harley dobra suas sobrancelhas e enruga seu queixo, indicando que ia chorar. Coringa puxa ela para um abraço e revira os olhos, irritado e impaciente por toda essa situação.

— Enquanto mais rápido você for, mais rápido vai superar isso. — Ele diz olhando impaciente para o teto

Harley continua abraçada contra ele, mas sorri pelo conforto.

— Obrigada, pundizinho. Não sei o que faria se-... — Ela diz mas Coringa a empurra pelos ombros, se afastando dela

— Sim, eu sei. Podemos? — Ele diz estendendo a mão

Harley pisca algumas vezes e aceita. Os dois caminham para fora, Coringa dá ordens a alguns homens, como "Cuidem de tudo, se acontecer qualquer coisa, vocês morrem".

Coringa dirige, enquanto Harley ficava encostada na janela do carro, observando o movimento urbano. Várias pessoas voltando do trabalho, escola, passeios. E ela indo ao enterro de sua melhor amiga.

Em poucos minutos, eles chegavam na colina indicada. Ela estava com uma grande neblina, o céu estava muito cinza. 

Harley Quinn respira fundo e desce do carro, evitando olhar para alguns poucos homens do Coringa que estavam por lá. Assim que se aproxima, todos parecem abrir passagem para ela, assim que o espaço é aberto ela vê um caixão de madeira no meio da grama, seu coração se aperta.

Todos que estavam ao redor da Hera se afastam e caminham para longe, apenas Harley fica diante de sua amiga. Ela estava linda, com margaridas brancas em forma de coroa em seu cabelo ruivo. Harley sorri em agradecimento por terem cuidado tão bem dela, em especial ao Coringa, que com certeza foi o principal responsável por isso.

E esse seria o último momento que veria sua amiga.

Coringa aparece ao lado dela e observa o corpo de Hera, olhando com desdém. Harley olha para ele e dá um sorriso fraco, ele dá um sorriso de volta.

— Quer dizer alguma coisa ou não quer prolongar isso? — Coringa pergunta, rezando para que ela escolhesse a última opção

— Eu... — Harley olha para o caixão, especificamente para o rosto dormente de Hera — Acho que ela gostaria.

— É claro. — Coringa evita revirar os olhos, se afastando

Harley para em frente ao caixão florido de Hera Venenosa, tentando resumir tudo o que ela significava. Uma lágrima involuntariamente acaba pingando no chão, ao ver as marcas de machucados em seu pescoço. Eles cobriram tanto o corpo dela de flores que era possível ver apenas o rosto e o cabelo da Hera, claro que pelos grandes machucados que seu corpo apresentava.

— Eu... — Harley diz e olha para o Coringa, tentando pegar algum apoio, ele continua olhando sério para ela — Bom, eu não acredito no que aconteceu ainda. Não sei para quem vou ligar ou me refugiar quando tivermos nossa próxima briga... — Harley dá um sorriso triste, secando uma lágrima — Chorar tem sido a única coisa que eu consegui fazer desde que ela partiu. Talvez tudo isso tenha uma razão, na qual eu talvez nunca compreenda. Ela... Talvez se transformou no vento, impossível de ser notada mas fácil de ser sentida. Eu só queria ter a capacidade de ouvi-la uma última vez, já sinto falta do som da voz dela, ou pelo menos, eu queria ter tido a oportunidade de me despedir.

Hera foi enterrada depois de tudo, os homens do Coringa auxiliaram no feito.

Harley observava cabisbaixa a terra sendo jogada sob o caixão, mas grata por tudo que viveu com ela. Em pouco tempo começou a chover, bem forte, Harley e o Coringa entraram no carro e observaram a chuva cobrindo toda a montanha.

Trovões clareavam o céu naquele fim de tarde, a natureza havia recuperado seu bem mais precioso.

(...)

Os dias se passaram devagar, com o tempo e seu pudinzinho, Harley estava aceitando a morte de Hera Venenosa. Apesar de ainda chorar em seus banhos, onde não conseguia mesmo se controlar. Mas ela estava conseguindo se manter em pé, sabia que seu pudinzinho precisava dela. Ao menos, era o que ela achava.

Na noite seguinte será a inauguração do Kingdom, o principal fluxo comercial erguido pelo Coringa. Harley Quinn se permitiu se animar, ela será a estrela principal. Tudo que seja ouro e atenção por parte de seu pudinzinho, ela está aceitando.

Durante todo o dia, Coringa organizou cada pequeno e mísero detalhe para a inauguração. Após pedir insistentemente, Harley conseguiu sua permissão para visitar o local que a Hera foi enterrada. Ela estava disposta a deixar as coisas limpas e tentar recomeçar, seguindo os ensinamentos que sua amiga lhe deu. Para agradecer e se despedir particularmente, era sábio ir até onde a Hera estava.

O dia estava calmo e claro, o sol brilhava, mas estava frio. Dia considerado "perfeito". Harley estava no carro com o homem que o Coringa mais afirmava ser "leal", ele não acreditava em lealdade, acha que todos tem um preço, mas ele podia ver a mente das pessoas. Era abominável deixa-la sair sem ele, esse foi o momento que ele mais confiou nela desde que se conheceram.

Harley desceu do carro e colocou as mãos dentro de seu casaco, pelo vento frio que passava. Ela caminha pela grama, localizando os pontos exatos que percorreu na primeira vez. Enquanto pisava na grama úmida, Harley nota um pequeno canteiro de flores.

Mas... Era diferente.

Ao se aproximar, notava-se uma especie diferente de rosas brancas com riscos vermelhos, nada que já tenha visto antes. Harley se abaixa e toca as pétalas aveludadas das flores, definitivamente não eram flores comuns. E elas não floriram justamente lá por motivos comuns.

Um sorriso se forma em Harley e ela se senta na grama, de frente para o lindo canteiro. De repente, não havia mais palavras para serem ditas, afinal a Hera não havia partido. Ela estava lá ainda, em algum lugar, ou em todos os lugares.

— É bom pensar que tenho a natureza como guardiã. — Harley Quinn diz sorrindo

Um vento forte passa, levantando os cabelos de Harley.

O sorriso dela se aumenta, enquanto ela ajeitava seus cabelos de volta no lugar.