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História Unwell - Erva, trégua e Mississippi John Hurt


Escrita por: caulaty

Capítulo 5 - Erva, trégua e Mississippi John Hurt


Token precisava admitir que aquilo poderia ter sido muito pior. E essa hombridade ele tinha, a de reconhecer quando estava errado. Talvez “errado” não fosse a palavra certa, pois seus receios continuavam sendo perfeitamente justificáveis e muito presentes. Mas apesar dos pesares, ter Kenny por perto provou-se menos terrível do que ele imaginou que seria. Algumas coisas sobre ele eram quase agradáveis, por mais difícil que fosse admitir isso. Ele estava sempre grudado naquele violão, puxando alguma coisa boa despretensiosamente, cantando com sua voz rouca que, para o mais completo choque de Token, era gostosa de se ouvir. Sempre fumava seus cigarros na varanda, onde passava a maior parte do tempo; era perceptível que ele fazia o possível para não incomodar. Lavava a louça depois do jantar, pelo menos nas noites em que Token ia jantar no apartamento de Kyle. E, de forma geral, ele era apenas divertido. Não da forma convencional e forçada, não como esse tipo de gente que expressa alegria de forma histérica, esse tipo de sujeito chegava a embrulhar o estômago de Token. Não, o humor de Kenny era extremamente sarcástico e certeiro. Ele era perspicaz, observador, sem pudores.

É claro, nem tudo eram arco-íris e flores naquela convivência esquisita. Kenny McCormick também podia ser uma pessoa intragável quando tinha vontade. Ele não era particularmente limpo, sempre acabava sujando o balcão com qualquer coisa que fizesse ali, sempre bebia suco direto da caixa, andava por aí sem camisa, não se atentava ao volume alto durante a madrugada e acabava xingando os vizinhos pela janela. Sempre se esquecia de esvaziar os cinzeiros. Mas o que realmente incomodava Token não eram essas coisas propriamente ditas; afinal de contas, Kenny não fazia essas coisas no seu apartamento. Aquela casa era de Kyle, Token não teria razão para se incomodar com isso. Kyle teria. Isso sem contar o fato de que o ruivo era infinitamente mais neurótico com limpeza e organização do que Token. Então o problema não eram as toalhas molhadas que Kenny largava sobre o sofá ou a caixa de leite quase vazia que ele colocava na geladeira por preguiça de abrir uma nova e jogar a velha fora.

Não, o problema definitivamente não era esse. O que incomodava Token de verdade, no fundo, era o quão confortável Kyle parecia com tudo isso. Aquilo não parecia normal. A tolerância e a condescendência de Kyle eram a parte verdadeiramente incômoda, ainda mais quando Token se lembrava de todas as vezes que teve que ouvir alguma bronquinha estúpida por não usar um porta-copos. Tudo bem, era diferente, ele tentava se convencer disso. A condição de Kenny era diferente. Mas mesmo assim, Kyle não parecia nem minimamente irritado por ter que limpar o rastro de bagunça que aquele homem deixava para trás. Ele parecia… Relaxado.

Nas primeiras semanas, a coisa toda era muito mais tensa e Kenny era muito mais comedido. Ficava trancado no quarto durante longos períodos de tempo e Token nem chegava a vê-lo quando visitava. Só o ouvia sair do quarto de madrugada. Ele provavelmente dormia o dia inteiro e Kyle só parecia preocupado. Ao final do primeiro mês, entretanto, os dois estavam muito mais próximos. Não era incomum que Token chegasse no apartamento e eles estivessem bebendo juntos em horários inadequados, jogando baralho ou apenas conversando no sofá, Kenny sempre muito à vontade.

Aquilo não era realmente um problema. Token começou a se convencer de que talvez Kenny não fosse o ser humano desequilibrado que julgou a princípio, que ele talvez fosse apenas um homem que passou por terrores demais em sua vida jovem e precisava de um pouco de estabilidade. Ele já estava ganhando peso, mas tinha unhas muito fracas e cabelos muito opacos, que caíam com uma facilidade tremenda. Token pegou-se preocupado analisando de longe os possíveis sintomas da saúde de Kenny, consequência das condições desumanas em que viveu por sabe-se lá quanto tempo.

Mas no dia em que chegou na casa de Kyle para encontrar Kenny completamente chapado no sofá, enquanto Kyle calmamente guardava as compras da semana como se nada houvesse… Foi o primeiro sinal de que eles relaxaram rápido demais. Token puxou Kyle para a lavanderia (sem tocá-lo bruscamente, sabendo o quanto ele detestava ser arrastado), mas não estava realmente preocupado em não ser ouvido pelo loiro, que permanecia estirado na sala, com a mente em outro planeta.

-Você viu o estado dele?! O que é isso, Kyle?

Kyle cruzou os braços imediatamente, e Token tinha experiência de vida o suficiente com aquele homem para saber o que isso significava: “eu não estou mais te escutando”. Aquilo só o deixou mais irritado. O ruivo não fez menção alguma de responder, apenas esperou. Estavam bem próximos à máquina de lavar, que ficava ao lado da secadora. Era um cômodo pequeno, exigindo que ambos ficassem muito próximos para dividir o espaço com um pequeno varal de chão e um cesto de roupas sujas. Mesmo a lavanderia de Kyle era um ambiente esquisitamente organizado; os produtos de limpeza eram guardados em uma ordem específica. Kyle suspirou fundo e descruzou os braços enfim, após encarar os olhos negros de Token como se estivessem em um concurso para ver quem pisca primeiro. Apoiou-se na máquina de lavar e deitou a cabeça de lado.

-Eu entendo que isso te incomode. - Respondeu calmamente.

-Que me incomode? Olha só, - Ergueu um dedo indicador no rosto de Kyle, mas ao ver a expressão do outro, abaixou a mão até a altura do peito. - eu fumei a faculdade inteira enquanto você me chamava de hipócrita por querer ser médico e usar drogas, eu não sou o moralista aqui. Só é bizarro pra mim que você… Que você aceite tudo que ele faz! Nós não temos mais vinte anos, ele é um homem adulto que não tem responsabilidade alguma e coloca drogas dentro da sua casa?! Tomando os remédios que ele toma, Kyle?! Aliás, eu duvido que ele esteja tomando qualquer coisa. Ele não deveria nem estar ingerindo álcool se estivesse, e você está aí abrindo garrafas de vinho com ele no meio da tarde. Você sempre teve muito mais juízo do que isso, eu não faço ideia do que deu em você ultimamente.

Kyle ergueu um pouco o queixo, com a lateral do quadril pressionando contra a máquina desligada, uma mão sobre o tampo dela e a outra na cintura, encarando o rosto de Token com uma expressão em branco. Esperou alguns segundos antes de dizer:

-Acabou?

-Você quer ouvir mais? Porque eu definitivamente posso falar mais.

-Não precisa. - Enfim, relaxou um pouco o corpo e saiu da posição que o fazia parecer tão pedante, respirando fundo, cruzando os braços em frente ao peito mais uma vez. - Token, eu gosto disso muito menos do que você. Mas você não está aqui todos os dias, você não tem ideia de como ele fica. Nós já conversamos sobre a erva, ele já me disse que isso o acalma, eu concordei porque eu prefiro isso aos ataques de pânico que ele tem. Ele precisa relaxar.

-Ele precisa é tomar os remédios dele.

-Eu sei disso, mas eu não vou amarrá-lo e fazê-lo engolir o remédio, Token. Você mesmo disse, é um homem adulto.

Token deixou um momento de silêncio acontecer entre eles, perdendo gradativamente a vontade de brigar. Deu um passo para trás e coçou um pouco a cabeça.

-Ele não vai melhorar desse jeito, Kyle. Ele precisa ir ao psiquiatra regularmente, seguir a risca a medicação e parar de viver socialmente alienado.

-Não tem nada que você possa me dizer que eu já não saiba. Mas Kenny tem o ritmo dele, isso não vai mudar de uma hora pra outra.

De repente, a porta da lavanderia se abriu. Os dois homens viraram o rosto para ver Kenny escorado ao batente da porta, com olhos semi-abertos, sorrindo com o cantinho da boca antes de bocejar.

-A mamãe e o papai vão se divorciar? - Perguntou em um tom tão sádico que fez o sangue de Token ferver por um momento, esquecendo-se de todos os bons argumentos que Kyle lhe apresentou até então. - Acho justo eu paticipar dessa conversinha sobre o meu bem-estar.

-Com licença. - Token disse, antes de passar por ele pela portinha estreita, abrindo caminho com o ombro, empurrando-o sem muita força.

Mas aquele foi o começo de uma série de outras situações em que decidiu mastigar solitariamente suas próprias opiniões e deixar que Kyle controlasse as coisas como melhor lhe satisfizesse. Parecia a solução mais saudável para todo mundo. Foram nos dias subsequentes que eles conseguiram encontrar algum tipo de paz. Por mais controlador que Kyle fosse, ele sabia encontrar Token no meio do caminho para que as coisas fluíssem da melhor forma possível. Passou a visitá-lo no horário do almoço com mais frequência durante a semana seguinte e começaram a passar mais tempo no apartamento de Token para relembrar como era o seu tempo completamente sozinhos. Com isso, Token começou a acreditar que a única coisa que lhe faltava, no fim das contas, era essa privacidade de poder trepar sem ninguém no quarto ao lado. Ou mesmo transar no meio da sala, da cozinha, só isso aliviou metade do estresse gerado.

Então, um evento peculiar aconteceu. Nada extraordinário, nada impossível, apenas peculiar. Token chegou na casa de Kyle por volta de dez da noite. Sempre entrava com a própria chave, deixava a pasta em cima da mesa e trancava a porta. Reparou que as chaves do carro não estavam em seu lugar habitual, ao lado da planta na mesinha de vidro logo na entrada. Mas pôde ouvir o som de uma melodia familiar vindo da varanda. Pegou a música pela metade e, mesmo assim, não precisou de muito tempo para reconhecê-la. Como era de costume também, Kenny não se deu ao trabalho de parar só porque havia alguém entrando. Mesmo que fosse um bandido tentando invadir, era capaz de ele não parar de tocar o violão.

Ouvia a voz de Kenny entornando uma letra bastante familiar:

-Now, I'm raring to go, got red shoes on my feet, my mind is sittin' right for a Tin Lizzie seat… Hurry down, sweet daddy, come blowin' you horn, if you come too late, sweet mama will be gone.

Token deu o ar de sua graça na porta entreaberta da sacada e não fez coisa alguma por um tempo; ficou somente ouvindo aquela voz rouca e desinibida, os acordes que de vez em quando desafinavam, mas nem por isso ele parava. Kenny parecia ter acabado de sair do banho e usava um suéter que tinha cara de novo. Kyle estava comprando roupas para ele agora. É claro que estava.

Faltavam apenas alguns versos para a música terminar, mas Kenny interrompeu o som correndo os dedos pelas cordas aleatoriamente, batendo na bunda do violão e virando-se para encarar Token pela primeira vez.

-E aí, cara.

Havia um cigarro aceso no cinzeiro e uma lata de cerveja aberta, mas nenhum copo. Token pisou na sacada, os braços cruzados em frente ao abdômen, oferecendo um cumprimento com a cabeça.

-Kyle não voltou ainda?

-Ah, é. Ele ligou aqui pra ver se você já tinha chegado, mandou eu te avisar que ele se enrolou lá e vai atrasar.

Token deixou escapar um suspiro impaciente e começou a cavar nos bolsos em busca do celular, tentando não pensar muito sobre o fato de que Kenny era suficientemente de casa para atender ao telefone.

-Por que ele não me ligou? - Perguntou mais a si mesmo do que para o loiro. Ao sacar o aparelho, apertou o botãozinho para iluminar a tela, mas nada aconteceu.

Kenny encolheu os ombros e alcançou o cigarro para prendê-lo entre os dedos, deitando um pouco a cabeça para trás na hora de tragar.

-Ele disse que não conseguiu.

-Cacete. - Resmungou baixo, constatando que estava sem bateria. -Faz tempo que ele ligou?

-Faz uns... Vinte minutinhos. - Kenny ajeitou o violão novamente em posição para tocá-lo, com o cigarro ainda preso entre os labios, dedilhando as cordas despretensiosamente como se aquele violão fosse sua amante. - Senta aí de boa, cara, ele não deve demorar muito.

Token não se moveu imediatamente. Kenny também não esperou; bateu as cinzas brevemente e colocou o cigarro de volta no cinzeiro, pigarreando antes de começar a brincar com as cordas, explorando que música nasceria em seguida. Parou após uns trinta segundos para entornar um gole da cerveja. Token de utilizou dessa brecha para se sentar na cadeira vaga.

-Você curte Mississipi John Hurt? - Perguntou. - Estava tocando Richland Woman Blues.

Kenny sorriu, erguendo a cabeça e, com isso, jogando o cabelo para trás. Token parecia resignado com o fato de que passariam algum tempo sozinhos e estava tentando ser educado. Mas havia quase uma empolgação orgulhosa naquela pergunta, como se Token não quisesse revelar de todo o brilho nos olhos.

-Porra, eu curto pra caralho. Aquilo sim que é Blues.

-O meu pai tinha vários discos de vinil dele, eu arrumei a vitrola só pra poder ouvir. Estão comigo agora.

Kenny endireitou as costas de empolgação, deixando o violão de lado por um instante, apoiando Irene de pé no chão com todo o seu cuidado.

-Tá me zoando. Você tem vinil dele?!

-Tenho, é uma delícia de ouvir. A qualidade do som é outra coisa.

Esse foi o início de um diálogo longo sobre o papel de Mississipi John Hurt na história da música, sua influência em outras vertentes do Country Blues e sua vida como trabalhador braçal explorado. Token não viu o tempo passar e nem soube exatamente em que ponto da conversa decidiu que seria uma boa ideia aceitar abrir uma cerveja também. Ou duas. Mas depois que Kenny lhe entregou a lata, Token já estava relaxado na cadeira com dois botões da camisa abertos, confortável o bastante para dizer:

-Até que você não canta mal pra um garoto branco.

Kenny soltou uma gargalhada alta.

-Você ainda canta?

Lembrava-se que, pelo menos há muitos verões atrás, Token tinha a voz mais bonita e mais afinada dentre todos eles, ainda que só cantasse de brincadeira, arrasando bêbado nos karaokês por aí. Respondeu com um sorriso tímido, balançando a cabeça como quem não diz que sim nem que não, gesticulando. Reconfortou-se na cadeira, separando um pouco as pernas.

-Mais ou menos. Não tenho mais tempo pra essas coisas.

-Ah, que besteira. - Kenny respondeu com um sorriso sem vergonha, abrindo a lata apoiada na coxa. Ofereceu um brinde breve antes de entornar um gole; escorreu cerveja pelo seu queixo, mas ele limpou com a manga distraidamente. Deixou a lata na mesinha ao lado e alcançou Irene para ajeitá-la em seu colo. - Vê se você conhece isso aqui.

Ele começou a dedilhar uma melodia calma, levando algum tempo para encontrar os acordes certos, explorando no momento como se não tocasse aquela canção há anos. Devia ser verdade. Quando Token finalmente a reconheceu, abriu um sorriso imenso. O contraste de seus dentes brancos com a pele escura deixava o sorriso ainda mais bonito. Kenny imaginava que ele fosse o tipo de pessoa com dinheiro sobrando pra limpeza dentária a cada seis meses.

-Don't you know they're talkin' about a revolution? It sounds like a whisper… Don't you know they're talkin' about a revolution? It sounds like a whisper while they're standing in the welfare lines crying at the doorsteps of those armies of salvation. Wasting time in the unemployment lines, sitting around waiting for a promotion.

Token ainda tinha uma das vozes mais bonitas que Kenny já ouvira. Tão profunda, tão grave, afinada como se ele não precisasse fazer esforço algum. Ele tinha um senso de ritmo natural. Estalava os dedos no ritmo do violão que desafinava por vez ou outra. Kenny balançava a cabeça de um lado ao outro, mordendo o lábio inferior, concentrado. Uniu-se a Token somente no refrão:

-Poor people gonna rise up and get their share, poor people gonna rise up and take what's theirs.

E por um momento, Kenny abriu um sorriso largo para Token. Não pararam de cantar; foi muito breve, mas significativo o suficiente para que Token percebesse que não sentia mais aquele mesmo velho incômodo na boca do estômago agora que conseguia enxergar em Kenny aquele garoto que cresceu ao seu lado. Na infância, é claro, não tinha dimensão do que os dois se tornariam. Token vivia na maior mansão de South Park, Kenny vivia na casa mais fuleira, caindo aos pedaços. Houve uma época em que isso simplesmente não era importante. O que era importante aos oito anos de idade era que Kenny jogava bola bem pra cacete e Token sempre dividia os brinquedos. Isso era o suficiente para que eles se dessem bem. Token não sabia dizer exatamente quando deixou de reconhecer Kenny McCormick como um amigo.

Todas essas complicações foram postas de lado durante pelo menos uma hora, talvez quase duas, eles não ficaram acompanhado o movimento do relógio. As únicas pausas que fizeram foram para pegar mais cerveja. Kenny fumava enquanto tocava violão, emendando uma música atrás da outra; blues tristonhos, em sua maioria. Alternava entre tocar as cordas e bater na madeira do violão como forma de percussão, o que Token também fazia, batucando na superfície da mesinha. Já estavam bêbados quando Kyle chegou em casa.

O ruivo já franziu as sobrancelhas em confusão logo que abriu a porta e ouviu duas vozes cantando. Só fez trancar a porta antes de caminhar até a sacada, ainda carregando as pastas, com a chave na mão. Não largou objeto nenhum pelo trajeto, tampouco tirou o grosso sobretudo preto ou as luvas. A porta da sacada estava entreaberta, o que abafava um pouco a cantoria, mas ele já pôde reconhecer que era “The times they are a changin’”. Deslizou a porta discretamente, tentando não atrapalhar, pois já enxergava através do vidro uma cena que absolutamente não esperava ao chegar em casa. Token percebeu sua presença primeiro, visto que Kenny estava empenhado demais em tocar Irene com vigor, balançando a cabeça um tanto baixa. Token sorriu embriagado, mas não parou de cantar. Kyle soltou um riso baixo, apoiou-se no castilho da porta e observou a cena até a música terminar.

-Come mothers and fathers throughout the land and don't criticize what you can't understand… Your sons and your daughters are beyond your command. Your old road is rapidly agin’; Please get out of the new one if you can't lend your hand for the times they are a-changin'.

Kenny bateu no violão ao terminar a música, como lhe era de costume. Já havia percebido a presença de Kyle também a essa altura, mas só então fez contato visual e lhe ofereceu uma piscadinha, deixando Irene descansar recostada no chão, o braço apoiado contra a cadeira.

-E aí. - Disse enquanto a ajeitava.

Kyle começou a rir da quantidade de latinhas vazias que havia naquela sacada. Balançou a cabeça em uma reprovação que não era realmente séria; revelava isso pelo sorriso doce que havia em seus lábios. Estava adorando aquilo tudo, Token percebeu, e não achou ruim. Não era um homem orgulhoso.

-Como foi lá? - Token perguntou enquanto Kyle se aproximava, inclinando-se para beijá-lo rapidamente, levando uma das mãos à testa de Token para alisar seus cabelos para trás, deixando um carinho na testa.

-Cansativo. Não estava me divertindo tanto quanto vocês, ao que parece.

E para isso, Kenny ergueu a lata de cerveja pela metade e entornou um novo gole. Kyle riu. Apesar disso, tinha uma aparência exausta, círculos escuros logo abaixo dos olhos. Isso era muito incomum para alguém que preservava tanto o seu sono de beleza.

-Eu tô morrendo de fome, você fez jantar? - Perguntou a Token.

-Porra. Desculpa, eu esqueci completamente.

Kyle estreitou os olhos. Pareceu incomodado por não mais de dois segundos.

-Vocês não comeram nada?

Kenny encolheu os ombros, dando uma última tragada no cigarro antes de esmagá-lo no cinzeiro cheio. Então respondeu:

-Eu tô acostumado a passar dias sem comer, vai vendo.

-Que horror, Kenny. - O ruivo disse com um riso tenso, umedecendo os lábios. Ainda usava os óculos de grau. Ajeitou a pasta nos braços e andou em direção à porta para entrar em casa novamente, parando para informá-los. - Tudo bem, acho que ainda tem lasanha. Eu não vou interromper o momento de vocês.

Token riu muito mais do que riria normalmente de uma afirmação como aquela. Permaneceu sentado durante alguns segundos, dando-se conta do quanto sentia-se bem e confortável com tudo. Pela primeira vez em muito tempo, a ideia de sentar para jantar com os dois parecia-lhe, de fato, agradável. Então, friccionou um pouco as mãos no tecido da calça e se levantou.

-Vamos, rapaz. Nem só de cerveja vive o homem. - Disse a Kenny, começando a recolher as latinhas vazias.

Kenny prontamente o ajudou, esboçando um sorriso malicioso.

-Olha, eu tenho as minhas dúvidas.



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