História Upside Down - "The Haunted Cave"

Não foi fácil, eu admito. Não foi fácil sequer começarmos a estudar. Dexter fazia corpo mole e inventava coisas pra fazer só pra demorarmos mais a começar, foi bem complicado. Começamos estudando para a prova de biologia que teríamos semana que vem, como ele tinha dificuldade, achei melhor estudarmos um pouco de cada assunto, assim não seria algo tão repetitivo e sem graça pra ele.
-Podemos fazer uma pausa?-pediu Dexter, fazendo bico
-Não faz nem 5 minutos que paramos pra fazer um lanche!-exclamei- Pare de reclamar ou nunca vamos sair dessa mesa.
Ele respirou fundo
-Mas já está escurecendo, já estudamos o bastante por hoje!
-Fique calado e termine esses exercícios.
Ele me olhou de cara feia e continuou quebrando a cabeça pra resolver os exercícios. Alguns minutos depois, resolvemos parar, finalmente. O loiro se jogou na cama e soltou uma risada aliviada.
-Ate que enfim acabou!
Ouvimos alguém bater na porta.
-Rapazes!-a doce e amigável voz da Sra. Prescott soou do outro lado da porta.
-Pode entrar, mãe!-gritou Dexter
Ela abriu a porta. Estava com o mesmo estilo casual de sempre, um macacão despojado, botas de jardinagem e o cabelo loiro trançado.
-Venham aqui em baixo! Temos uma novidade pra contar à vocês!-ela sorriu, animada e em seguida saiu do quarto
-O que será?-perguntei à Dexter, enquanto me levantava e me dirigia à porta
-Sei lá, cara, mas parece legal!-ele riu e saiu
Descemos as escadas e fomos até a sala, onde estavam Louise, meus pais, Octavia e Edward.
-E então?-perguntou Octavia, impaciente- O que é?
-Fale você, Peter.-insistiu minha mãe
Meu pai pigarreou
-Bom, para animarmos esse clima pra baixo, resolvemos fazer algo divertido juntos...
-Pai, você está enrolando.-interrompi
Minha mãe olhou pra ele e assentiu com a cabeça.
-Tudo bem, tudo bem.-ele disse- Um parque de diversões novo está sendo inaugurado amanhã, sábado, e Carrey e eu compramos ingressos para todos irmos, o que acham?
-Obaaaa!-exclamou Edward, pulando e gritando pela sala- Vamos pro parque de diversões! Octavia, não é o máximo?
-É... tanto faz...-ela virou a cara, mas pude ter certeza de que a ideia havia deixado-a animada também.
Olhei para Dexter, ao meu lado e vi um sorriso estampado em seu rosto, ele olhou pra mim.
-Vai ser muito legal!-notei que resistia à tentação de se juntar ao Ed comemorando.
Dei um meio sorriso.
-Agora vamos jantar e depois já pra cama, entendido?-disse minha mãe
-Sim senhora!-comemorou Ed
Todos nos reunimos na sala de jantar, Louise havia preparado espaguete com almôndegas e estava delicioso. Dexter estava delirando com a comida.
-Cara... isso aqui tá bom demais...-ele dizia, de boca cheia
-Dexter! Engula antes de falar!-repreendeu sua mãe
Ele riu
-Desculpe, desculpe.
Depois do jantar, meus pais foram colocar Octavia e Edward para dormir, enquanto eu e Dexter íamos ate o quarto e nos preparavamos pra pegar no sono.
-Vê se não demora pra ir dormir.-eu disse- Não quero meus pais nos dando sermão porque você deu trabalho pra acordar.
Dexter sorriu
-Eu vou tentar, mas é bem difícil quando estou ansioso!
Ele pulou e se jogou na cama
-Você é uma criança crescida.-afirmei, revirando os olhos
Ele deu uma gargalhada
-E você um velho rabugento no corpo de um adolescente.
Eu me senti ofendido, mas não disse nada, apenas fiz uma cara irritada de desaprovação. Me encolhi na cama e fechei os olhos, em alguns minutos havia dormido. Acordei ao ouvir uma voz soar bem próxima ao meu rosto.
-Cam! Acorda, Cam! A gente tem que ir pro parque de diversões!
Abri os olhos devagar e me deparei com um par de olhos dourados me olhando nervosamente. Me sentei na cama e esfreguei os olhos.
-Que horas são?
Dexter olhou o celular
-São 7 da manhã! Levanta logo!
Eu o encarei, atordoado
-Achei que o parque só era aberto às 10...-eu disse, bocejando
-E é.-confirmou o garoto- Mas eu não consigo mais dormir de tão animado, então vamos nos arrumar logo e esperar todos acordarem já prontos, pra não perdermos tempo.
Eu bocejei
-Dexter, eu...
-Anda logo!-ele me interrompeu, me puxando da cama
Estranhei a situação. Não era eu quem acordava cedo e ele quem chegava atrasado toda aula? Não, eu não havia acordado tarde, ele quem havia acordado cedo demais por estar muito ansioso. O parque de diversões parece algo completamente comum pra mim, mas de alguma forma aquilo o afetou de verdade. Ele é tão infantil, alegre e simples. Isso me acalma bastante de alguma forma. Quando acabei de tomar banho e me vestir, desci as escadas e vi Dexter e sua mãe na sala de estar organizando algumas coisas que iriam levar. Próximo à eles, estavam meus irmãos, pareceram ter acordado cedo para ir ao parque de diversões. Bom, não imagino que Octavia tenha levantado por conta próprio, provavelmente Edward levantou antes e a despertou, assim como Dexter fez comigo... eles realmente se parecem. Nos reunimos para tomar café da manhã na cozinha.
-Tia Louise, deixa eu acordar a mamãe e o papai!-insistiu Ed
Sra. Prescott sorriu
-Seus pais trabalharam muito a semana inteira, deixe-os descansar um pouco mais.-ela respondeu, enquanto servia um copo de leite com achocolatado pra mim. Alguns minutos depois, meus pais desceram, já prontos e tomaram um rápido café da manhã. Nós ja havíamos terminado, então estávamos na sala esperando-os.
-Eu aluguei uma van para nos levar!-anunciou meu pai, animado.
De alguma forma, acho que a ideia de um passeio em família (com dois membros a mais) o deixava bem feliz. Talvez por não termos muito momentos como esse e ser uma boa forma de descontrair dos pensamentos negativos herdados do incêndio. Pensava nisso enquanto olhava pelo vidro da janela, ao lado de um Dexter enjoado reclamando durante todo o percurso e ameaçando vomitar.
-A gente tá chegando?-perguntou Ed
-Estamos na metade do caminho.-respondeu minha mãe, calmamente.
Edward esperou alguns poucos minutos calado
-E agora? Já tá perto?-insistiu
-Ainda não, Edward.-respondeu Octavia, rispidamente
Em menos tempo ainda, Edward se ergueu pra frente outra vez
-A gente tá perto?
Meu pai olhou pelo retrovisor
-Não Ed, ainda vai demorar muito, muito mesmo, e a cada vez que você pergunta se já estamos perto vamos demorar mais ainda.
Edward se calou por um tempo
-Já passamos da metade?
O resto do percurso foram confusões entre meus pais e Octavia contra Edward, acompanhados das risadas de Louise e Dexter abraçando a própria barriga inclinado pra frente. Como percebi que todos estavam distraídos e não brigariam comigo por estudar em um passeio em família, puxei minhas anotações que trouxe secretamente no bolso do meu casaco e comecei a revisá-las.
Depois de algum tempo, finalmente chegamos. Guardei meu bloco de anotações de volta no bolso e saí da van, logo depois de Dexter. Olhamos à nossa frente e era a entrada do parque de diversões: Colorido, brilhante, alegre e enorme. Haviam palhaços por todos os lados, crianças correndo por aí, balões de gás hélio sendo vendidos na entrada e doces. À minha esquerda, Octavia e Edward observavam, maravilhados. À minha direita, Dexter tinha a mesma reação de meus irmãos.
-Isso é tão legal!
Ergui uma sobrancelha
-Não estava com enjôo?
-Ah, isso passa quando sai de dentro do carro... ei mãe! Eu e Cam vamos na frente!-ele me puxou pelo braço antes que eu pudesse me dar conta e entramos no parque. Era maior ainda do que aparentava. Um imenso carrossel, uma roda gigante lotada, uma montanha russa de se ter medo antes mesmo de entrar e outras atrações um pouco menores.
-Onde quer ir primeiro?-perguntei pra Dexter, cujos olhos brilhavam de animação
Ele parou pra pensar, olhando ao redor
-Vamos na montanha russa!-ele apontou
-Certo...
Ele correu até lá e eu tive que correr para conseguir alcançá-lo também. A fila não estava tão grande, talvez por termos chegado tão cedo, isso pareceu motivar mais ainda o loiro. Pouco tempo depois de chegarmos na fila, pudemos entrar.
-Mantenham-se segurando firme e com as mãos e pés dentro do carrinho.-advertiu a moça que trabalhava no parque.
Dexter estava meio nervoso, como pude notar, suava um pouco e mexia as mãos nervosamente. Então o carrinho começou a se mexer lentamente, até que acelerou e quando me dei conta estava no topo da montanha russa. Quando menos esperei, o carrinho caiu com velocidade total deslizando sobre os trilhos.
-AAAAAAHHHHHHHH!-eu ouvia gritos desesperados e demorei um pouco até perceber que eram os meus, olhei para Dexter esperando que a reação dele fosse parecida, mas ele estava rindo e gritando, realmente se divertindo com aquilo. Isso me fez sentir inveja. Finalmente o carrinho havia parado, minha respiração estava ofegante e eu estava tonto.
-ISSO FOI TÃO LEGAL!-gritou Dexter, ao descer do carrinho
-É...-eu respondi, tossindo pra disfarçar a voz rouca de tanto gritar.
-Pra onde vamos agora?-ele perguntou
-É você quem sabe...-eu respondi, ainda tentando manter a calma e não demonstrar a tontura
Ele apontou pra um jogo de tiro ao alvo
-Aquele parece divertido!
Mais uma vez tive que acompanhar os passos apressados de Dexter. Basicamente, ganhava o jogo se conseguisse acertar os alvos, que se mexiam e trocavam de posição rapidamente. Parecia bem fácil, com os meus conhecimentos de cálculo, então me ofereci para ir primeiro, paguei cinco pratas e peguei o revolver de brinquedo que atirava bolinhas de pingue pongue.
-Vai Cam! Você consegue!-disse Dexter, rindo e fingindo uma torcida ao meu lado
Me preparei e mirei, estava com certeza que acertaria o alvo, havia calculado mentalmente a trajetoria e o momento exato em que deveria disparar, mas no momento em que atirei, antes da bolinha alcançar o alvo, este mudou de posição.
-Só pode estar de brincadeira!-reclamei- Esse jogo é roubado!
-Deixa eu tentar.-disse Dexter, puxando a arma de mim depois de ter pagado as cinco pratas. Na primeira tentativa que ele fez, acertou o alvo, sem nem ter pensado antes.
-Viva!-comemorou ele, pegando o ursinho pardo de gravata que era o prêmio.
Eu estava indignado. Havia calculado exatamente o que deveria fazer e não consegui acertar o alvo, mas quando ele tentou, na primeira vez já conseguiu. Emburrei a cara e cruzei os braços.
Ele olhou pra mim
-Não fica assim! Toma, pode ficar com meu ursinho.-e sorriu de forma gentil, como sempre
O encarei por uns segundos
-Não, o prêmio é seu, foi você quem conseguiu.
Ele fez um biquinho
-Você vai recusar o presente que estou te dando?
Respirei fundo e revirei os olhos, pegando o ursinho em seguida. Ele riu e partiu pra outro brinquedo. Foram diversos seguidos, apenas com a pausa para o lanche. Mesmo para alguém que parecia ter uma energia infinita como Dexter, ao final do dia ja estava cansado.
-Ainda temos tempo pra mais algum...-ele disse, olhando ao redor- Mas acho que ja fomos em todos...
Percebi que havia um chamado "Caverna Assombrada" que provavelmente era o único que ainda não tínhamos visitado.
-Ei, vamos naquele alí.-apontei
Pude ter a impressão de ver seus olhos se arregalando, mas se aconteceu, logo foi substituído por um sorriso entusiasmado.
-Sim! Porque não?
Fomos até o brinquedo, como estava no final do dia e logo o parque iria fechar, não havia mais nenhum outro ali além de nós dois. Entramos na caverna, aparentemente tudo estava normal, até que as luzes se apagaram de repente. Senti algo agarrando minha blusa e se aproximando de mim.
-C-cam...-ouvi a voz de Dexter, trêmula e assustada
Então percebi o motivo de ele não ter escolhido essa caverna antes: Ele tinha medo de escuro. Como não havia percebido isso antes? Ele sempre deixava a luz do abajur da mesa de cabeceira acesa antes de dormir, mas eu achava que era porque ele tinha o hábito de ler gibis e pegar no sono esquecendo o abajur ligado.
Respirei fundo.
-Você... está com medo... não é?-era a pergunta mais óbvia que eu podia ter feito, mas precisava ter certeza antes de fazer algo extremamente constrangedor
-É-é...-ele respondeu
Devagar e sentindo meu rosto queimar a cada segundo que passava, aproximei minha mão da mão dele, até que ambas se encostaram e ele segurou forte.
-V-vai ficar tudo bem...-eu disse, extremamente vermelho e olhando pro outro lado, com uma expressão irritada no rosto- Eu... não vou deixar... n-na-nada acontecer com v-você... o-ok?
-Sim.-tive a impressão de que ele estava sorrindo, mas não dava pra ter certeza com as luzes todas apagadas. Seguimos em frente, a cada monstro que aparecia e nos dava um susto, ele apertava minha mão com mais força. Nossas mãos suavam muito e eu estava sentindo minha cara arder cada vez mais, mesmo que de alguma forma, aquilo me deixasse mais tranquilo... n-não é como se fosse o fato de estar segurando a mão DELE que me fizesse sentir assim, ok? Provavelmente me sentia assim por estar gostando de ajudar alguém que está assustado, nada demais, pare de tirar conclusões precipitadas! (Autora: Da pra parar de conversar com os leitores e focar em terminar de descrever as situações?) Certo... bom, finalmente conseguimos chegar no fim da caverna, só percebemos que ainda estávamos de mãos dadas depois de um tempo.
-A-ah...-separei as mãos rapidamente, com certeza de que minha diferença para um tomate era mínima
Ele estava vermelho, mas com um sorrisinho no rosto.
-Obrigado... é... meio constrangedor um cara de 16 anos ainda ter esse tipo de medo... eu sou um idiota-ele riu, desconcertado
-Não é não.-afirmei, sério e ja conseguindo voltar a coloração normal do rosto aos poucos- Pare de falar bobeiras, vamos logo encontrar o resto...
Eu estava me sentindo irritado. O fato de ele se xingar e se diminuir dessa forma me fez querer socar aqueles três caras que se aproveitavam dele na escola. Me fez querer não ter desmaiado, ter me levantado e apanhado no lugar de Dexter, devolvendo todos os socos com mais força naquele ruivo estúpido. Em meio à esses pensamentos, encontramos meus pais, irmãos e a mãe de Dexter. Na van, Edward dormiu durante toda a viagem e Dexter havia tomado um comprimido para aliviar o enjôo, o que acabou por o fazer sentir muito sono e dormir profundamente até o final da viagem. Ao chegarmos em casa, apenas tomamos banho, alguns comeram algo e outros apenas se jogaram na cama e apagaram completamente. Olhei para Dexter dormindo ao meu lado e comecei a repassar mentalmente tudo o que havia presenciado naquele dia, isso me deu uma sensação boa e me fez sorrir, mesmo que tentasse conter. e