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História Utopia - Facta non verba


Escrita por: caulaty

Capítulo 4 - Facta non verba


 

Nenhum dos três homens estava especialmente comunicativo aquela noite, a menos que se considere os comentários isolados que Cartman fazia a si mesmo enquanto entornava o copo de uísque, geralmente com o intuito de denegrir as habilidades de Kenny ao piano. O homem loiro tocava vorazmente, preenchendo a sala de estar com uma melodia assombrosa. Tocava sem partitura, rebuscando na memória tátil as músicas mais cabíveis para o momento, tudo isso de olhos fechados boa parte do tempo para conter a ansiedade. O álcool ajudava. Havia uma garrafa de uísque pela metade sobre o piano. Sempre havia bebida de sobra na casa de Kenny McCormick. Seus dedos embriagados se atropelavam constantemente, cortando o ritmo perturbador com erros grosseiros, mas ele não parava. Stan parecia nem escutar a música, por mais tremendamente alta que fosse. Estava absorvido demais pelo documento que lia, sentado sobre a superfície da escrivaninha, acompanhando as letras com o dedo indicador. Estava nervoso, Kenny e Cartman sabiam, mesmo que não demonstrasse. Não tinha qualquer intenção de forçá-lo a falar. Stan respirava fundo por vez ou outra, mas de forma geral, tinha uma habilidade estrondosa em fingir que tudo estava sob controle e nada o atingia. Estava mais silencioso do que de costume.

-Eu não aguento mais esperar. - Kenny comentou sem muito controle sobre o volume de sua voz, sem parar de tocar.

-Relaxe, sua namoradinha vai sobreviver. - Cartman resmungou, espreguiçando-se tranquilamente no sofá. - Vaso ruim não quebra tão fácil não.

-Cale a boca, Cartman. - Stan disse, apenas lançando um olhar breve em direção ao outro por cima do documento que segurava. Trouxe tudo que seria útil em um envelope que estava aberto sobre a mesa.

De repente, a porta se abriu. A porta da casa de Kenny nunca estava trancada e não havia mordomo robótico algum para abrí-la. Cartman foi o primeiro a enxergar Kyle parado imóvel na porta e branco como um fantasma. O som do piano se rompeu com um estrondo das teclas e o som do banco se arrastando no assoalho, Kenny se levantando bêbado o suficiente para trocar as pernas. Apoiou-se no teclado do piano, emitindo um som alto e desagradável. Kyle umedeceu os lábios e mal pôde pensar enquanto era envolvido pelo abraço sufocante do loiro. Kenny quase o tirou do chão ao agarrá-lo, enterrando o rosto no ombro de Kyle, pressionando-o com força contra si mesmo.

-Porra... Porra, eu achei que você estivesse morto.

Kyle encarava os olhos azuis de Stan do outro lado da sala, lentamente levando as mãos às costas de Kenny, sentindo a pele dele sob a camada fina da regata que ele usava, tão inapropriada para o frio. A expressão no rosto do general era difícil de ler, mas Kyle o conhecia bem o suficiente para perceber a mescla entre alívio e desaprovação.

-Ele está bêbado, por que você deixou ele beber? - Kyle perguntou a Stan, que encolheu os ombros.

-Eu não sou o pai dele.

-Tá bom, já chega, suas bichas. Eu disse que vocês estavam exagerando. - Cartman comentou, gesticulando com o seu copo de uísque, levemente tonto também. Talvez fosse apenas o seu jeito folgado, estranhamente charmoso, que fizesse com que ele parecesse embriagado com uma boa frequência.

Kenny o ignorou, levando a mão à bochecha de Kyle e afastando o rosto para enxergá-lo direito, encostando a testa na dele logo em seguida, tateando como se para se certificar de que ele estava inteiro. O rosto pálido e apático de Kyle não foi grande alívio; seus olhos pareciam foscos, os lábios trêmulos, a expressão atormentada.

-Você tá bem? Aquele filho da puta fez algo com você?!

-Não... Não, não é nada assim.

-Então o quê, ele te chamou lá pra dar umazinha? - Cartman perguntou antes de terminar o que havia no copo.

Kenny finalmente o soltou, ao mesmo tempo em que Stan se aproximava. Pôs a mão no ombro de Kyle e apertou levemente; os dois trocaram um olhar demorado, nenhum deles sorriu. Kenny chegou a dar um passo para trás, sentindo que estava invadindo um momento íntimo. Stan era significantemente mais alto que o ruivo. Aproximou os lábios do topo da cabeça dele e deixou ali um beijo demorado, expressando apenas pelo gesto a preocupação que ele não podia verbalizar. Ao se afastar, Stan voltou a encará-lo de forma severa, deixando o melhor amigo de lado para falar como general:

-O que você fez foi muito irresponsável. Já é suficiente o Cartman agindo como uma mula tomando decisões sozinho.

-Ei! Eu não fiz merda nenhuma. - Cartman protestou.

-Eu só não quero que isso se repita.

Kyle não parecia absorver realmente nada do que era dito em torno dele, o que deixou Stan mais inquieto do que irritado. A porta permanecia aberta. Kenny havia se afastado para pegar o casaco militar que estava jogado no sofá, esfregando os próprios braços pelo frio. Talvez a adrenalina estivesse começando a abaixar em seu corpo, mas o álcool o confundia.

-Não fique parado aí, conte logo o que aquela bicha demoníaca te disse. - Cartman resmungou, batendo com o copo na mesinha de centro. - O que deu em você?

-Eu preciso... Eu preciso que vocês venham comigo.

A voz de Kyle era fraca, sem vida. Ele não olhava para nada em particular, muito menos para os outros presentes, apenas encarava o chão porque sua mente estava em outro lugar. Stan apertou a mão em torno do braço dele como em uma tentativa de mantê-lo são. Kenny fechou o zíper do casaco e mordeu o lábio inferior, seus olhos azuis e um tom muito mais claro do que os de Stan pareciam aterrorizados de algo que ele não sabia ao certo o que era.

-Kyle, o que foi?

-Só... Venham comigo. Por favor.

* * *


 

-Puta que me pariu. - Kenny foi o primeiro a falar.

O Toupeira estava agachado em um canto escuro entre a parede e o sofá, exatamente com as mesmas roupas e o mesmo aspecto imundo de quando Kyle o conheceu, duas horas antes. Já era noite, mas ele não parecia sentir frio, apesar do tórax nu expondo seus músculos. Era difícil enxergá-lo, visto que ele propositalmente se escondera como um animal selvagem no canto mais semelhante a uma toca que pôde arranjar. Ele abraçava os próprios joelhos e arranhava a própria pele dos braços com as unhas curtas, sujas. A coleira continuava bem apertada em seu pescoço.

Kyle ainda não havia dito uma palavra sobre o homem em sua sala de estar, mas também não era necessário. Era um escravo. Isso estava estampado na sua face de estrangeiro, na sua condição e aparência. Até mesmo Cartman, que tinha a língua afiada demais para o seu próprio bem, passou alguns instantes em silêncio tentano absorver a dimensão do que acontecia.

Quando o silêncio foi rompido, o Toupeira ergueu seus olhos cor de mel – pareciam quase dourados naquela sala mal iluminada – para os quatro homens que o encaravam. Kyle era o mais afastado, como se tivesse medo concreto de se aproximar dele. Permanecia no canto com os braços cruzados em frente ao peito.

-O quê...? Gregory te deu um escravo? - Cartman perguntou, coçando o maxilar. Parecia genuinamente incrédulo. - Por que caralhos ele faria isso?!

-O cara é mais fodido da cabeça do que a gente imaginava. - Kenny comentou, mais para si mesmo do que para os outros.

-Vocês tinham que ter ouvido como ele falou. Para ele, é como se isso fosse uma medalha... Ele não faz a menor ideia. Ele é doente.

-Essa cidade é doente. - Stan disse, aproximando-se do Toupeira.

Aquele homem era de um espécime tão estranho, tão inadequado a toda a estética delicada de Utopia, que era difícil não falar sobre ele como se não estivesse ali ou não pudesse entender, como se faz com um cachorro. Incomodado com isso, Stan ajoelhou próximo a ele, não o suficiente para invadir seu espaço pessoal. Tal preservação do respeito seria cômica e trágica simultaneamente, pois um homem como o Toupeira sequer podia se lembrar do que era espaço pessoal. Ora, se nem mesmo a sua identidade era respeitada, como poderia ser diferente com seu corpo? Ele servia para servir.

-Ouça-me. Nós não vamos machucar. - Stan sentiu-se obrigado a dizer, embora não houvesse qualquer resquício de medo nos olhos selvagens daquele homem. Não parecia ter muito mais idade do que eles, mas o trabalho pesado deixou-lhe com mãos calejadas e pele rude, áspera. Ele era intimidador. Não reagiu às palavras calmas de Stan; continuou fitando seus olhos de volta, quase sem piscar.

-Ele... Eu acho que ele não fala.

-Como assim ele não fala? - Cartman perguntou em deboche, com um riso de escárnio. - Ele é retardado? Gregory te deu esse daí porque tá estragado?

-Cala essa boca, Cartman. - Kenny respondeu apreensivo, cruzando os braços. Sua voz pareceu sóbria de repente.

-Ele está aí desde que chegamos. Eu disse a ele que eu não vou fazer nada com ele, que eu vou libertá-lo, mas... Ele não reage a nada. Nem um grunhido sequer.

-Nós vamos te ajudar. - Stan disse ao Toupeira, sustentando o olhar com a mesma firmeza. - Eu sou o Coronel das forças aéreas, meu nome é Stan Marsh. Como você se chama?

O homem afastou o rosto um pouco como se para estudar a face do outro, mas não desfez a linha reta de sua boca. As linhas severas da sua expressão ficaram menos visíveis no escuro.

-Gregory o chama de Toupeira. - Kyle disse.

-Como é o nome de verdade dele?

-Eu não sei.

Mesmo ao falar com Kyle, Stan não tirava os olhos do Toupeira. Talvez fosse desconfiança, como um animal jamais dá as costas para um possível predador. Stan estava com os olhos focados na coleira em torno do pescoço dele; era eletrônica. Tinha cravada em seu entorno curvas semelhantes aos desenhos do brasão da família presidencial. Gregory demarcava seu território das formas mais doentias, sempre masturbando o próprio ego.

-Eu entendo. Você não confia em nós, nem tem razões para... Mas nós estamos trabalhando muito duro para expôr aos países debaixo o tráfico humano que acontece em Utopia. Gregory cobre muito bem os próprios rastros. Você pode nos dizer como foi trazido para cá. Nos ajude a acabar com isso.

Um silêncio longo e desconfortável tomou conta da sala. Nem mesmo Cartman se atreveu a tentar quebrar aquele gelo com alguma piadinha ofensiva ou um comentário deliberadamente rude. Kenny era o mais nervoso, caminhando um pouco em torno da mesinha de centro, depois voltando ao lugar original. Stan continuava encarando o homem imundo à espera de qualquer tipo de resposta. Até mesmo alguma espécie de reconhecimento da presença deles seria bem-vinda. Kyle permanecia logo atrás de Stanley, com os braços nas costas, pressionando a língua por dentro da bochecha.

Era verdade que havia gasto pelo menos quarenta minutos tentando arrancar alguma coisa daquele estranho antes de ir à casa de Kenny, esperando encontrá-lo sozinho. Não sabia ao certo se deveria expôr o plano deles ao escravo e também não sabia ao certo se expôr a existência do Toupeira a Stan e Cartman imediatamente seria uma boa ideia. Eles costumavam ter opiniões muito fortes e divergentes sobre o que fazer em seguida. No fim das contas, Kyle não conseguiu nem mesmo fazer com que aquele rapaz se sentasse no sofá. Ele parecia mais confortável no chão, escorado, apoiando-se nos punhos para se deslocar como um primata. Tudo a respeito dele era primitivo. Não queria sequer pensar nas coisas pelas quais ele teria passado, nas coisas que lhe foram arrancadas para torná-lo daquela forma.

-Eu acho que ele só está traumatizado demais. Por favor, não vamos enchê-lo de perguntas agora, Stan.

-É óbvio que ele não respeita vocês, olha como vocês falam com ele. - Cartman esbravejou, gesticulando a mão como sempre fazia. Conforme as palavras deixavam sua boca, ele lançava gotículas de cuspe que pareciam se dissipar no ar. - Você acha que ele ficava com essa gracinha quando o Gregory falava com ele? Eles sentem o cheiro do medo, você não pode dar confiança, ele vai te escurraçar enquanto você dorme.

-Pare de falar dele como se fosse um cachorro, caralho! - Kyle gritou ao mesmo tempo em que Kenny batia no braço de Cartman, que gritava um palavrão em resposta.

Stan fazia o possível para ignorá-los.

-Será que ele não tem algum tipo de...? -Kenny perguntou, mas interrompeu a própria frase ao dar-se conta de que estava repetindo o pensamento de Cartman em palavras mais politicamente corretas. Ele provavelmente não teria insinuado uma coisa dessas se estivesse sóbrio. Sentiu-se mal o suficiente para não terminar de falar, contorcendo o rosto em uma careta pelo gosto amargo que havia em sua boca.

Cartman não perdeu tempo:

-Não disse? Ele é retardado. Não vai servir pra nada.

-Vão para a cozinha, vocês dois. - Kyle disse, irritado. Sua voz saía trêmula, revelando o quanto ele estava nervoso.

Odiava admitir que Cartman tinha razão sobre qualquer coisa, mas realmente parecia que o Toupeira era capaz de farejar o seu medo e sua ansiedade, especialmente pela forma que encarava o ruivo debaixo, com as sobrancelhas grossas franzidas sobre os olhos reluzentes, violentos. Kyle estava bastante inquieto diante da ideia de estar sozinho com ele em casa indefinidamente.

-Para que serve essa coleira? - Stan perguntou. Estava com os olhos fixos no objeto em torno do pescoço do escravo, mas Kyle tomou a pergunta para si. Imaginou que Stan já tivesse desistido de conseguir respostas do Toupeira.

-É para... Controle. Se ele se exaltar, vai levar um choque. - Fez uma pausa, deixando escapar um som pensativo. - Gregory não disse nada sobre isso impedí-lo de falar.

-É por isso? - Stan perguntou ao homem. - Você não pode falar por causa da coleira? Não precisa dizer nada, é só afirmar com a cabeça.

Houve um momento longo de tensão. O Toupeira abaixou um pouco a cabeça, porém sustentando o contato visual. Não confirmou ou negou nada. Trouxe a mão para perto do rosto e começou a roer a unha do dedão, enfim deixando cair também o olhar por alguns segundos, parecendo envergonhado por algo que eles não podiam entender. Kenny e Cartman continuavam presentes, mas agora em silêncio, como duas crianças que levaram uma bronca da mãe. Cartman foi até a janela para acender seu charuto e fumar calmamente, precisando tomar um ar.

Kyle tinha mais facilidade em olhar para aquele ser humano quebrado no chão de sua sala quando ele não o encarava de volta. Sentia-se terrivelmente culpado pelo pequeno conforto que aquela coleira proporcionava, como se fosse uma garantia de que não acordaria no meio da noite com o Toupeira sentado sobre seu peito, pondo uma lâmina contra o seu pescoço. Sentia azia só de pensar a respeito. Céus, aquele pobre homem não podia sequer articular palavras, tamanha havia sido a perda que sofreu durante sua vida como escravo. Talvez por isso Kyle sentisse que ele era capaz de qualquer coisa. Se tivesse vivido os horrores que o Toupeira provavelmente havia vivido, teria todos os impulsos do mundo para assassinar qualquer um que fosse livre. Decidiu, na intimidade de sua própria mente, que tentaria se aproximar dele e oferecer-lhe segurança uma vez que estivessem a sós. Estava terrivelmente curioso para descobrir qual era a história dele. Precisava enxergá-lo como uma pessoa, um ser humano como outro qualquer, filho de alguém.

Dali, de onde Kyle estava de pé fitando o canto escuro entre o sofá e a parede, o Toupeira mais se parecia com uma sombra. Uma mancha. O resto de um homem que talvez já tivesse sido livre e repleto de vida, forte e imponente. Como seria o nome dele?

Kyle esperava conseguir convencê-lo a ao menos se banhar.

-Ei. - Stan chamou. - Você está ouvindo?

Quando deu-se conta, Stan o encarava com uma expressão impaciente e Kenny estava bem ao seu lado. A mão do loiro pousou em seu ombro e apertou de leve, num gesto de apoio. Kenny carregava uma dor extremamente sensível nos seus olhos azuis. Ele não era como os outros três, Kyle sabia, e era uma das coisas que mais admirava no outro. Como Kenny preservava uma empatia, uma ternura que a maioria das pessoas perde na vida adulta. Uma vulnerabilidade que era remetente apenas às crianças. Não sabia lidar com situações de tensão e costumava dizer sempre a coisa mais inconveniente, mas sua capacidade de sentir por outro ser humano era infinita. Ele absorvia a energia do ar como uma esponja. Kyle acariciou o pulso dele e tentou oferecer um sorriso fraco, reafirmando sem palavras que estava tudo bem. Kenny mordeu o lábio e voltou o rosto ao general, atento. Cartman também prestava atenção, apoiado no peitoril da janela, fumando com sua pose prepotente.

-Nós temos que tirar essa coisa maldita do pescoço dele. - Stan disse com firmeza. - Wendy deve saber como. Para ele ficar dessa forma, a intensidade do choque deve ser... Eu não acho que ele vá ter condições de colaborar com nada enquanto estiver preso a isso.

O tom de voz dele era contido, mas não o suficiente para tentar fazer com que o Toupeira não ouvisse. Estralava os dedos enquanto isso, emitindo um som alto.

-E nós podemos confiar no que ele diz? - Cartman perguntou de longe. Não era de todo absurdo, pelo menos a julgar pela expressão de Stan, que tirou alguns segundos para pensar.

-Nós nunca tivemos uma oportunidade como essa. Ele é quem tem motivos para não confiar em nós, não o contrário. - Kyle respondeu antes que o general pudesse dizer qualquer coisa.

Stan virou-se para dar uma boa olhada no homem novamente, mas agora ele estava tão entocado contra a parede que sua figura não era mais visível. Umedeceu os lábios e suspirou fundo, levando as mãos ao quadril levemente dolorido. Disse:

-Kyle tem razão. Nós não temos escolha. Kenny, telefone para a Wendy. Diga que é uma emergência e que ela precisa vir ainda esta noite. Diga que é um favor pessoal que eu estou pedindo. Nós não temos tempo a perder. Enquanto isso, Kyle, eu preciso que você me conte exatamente tudo o que Gregory te disse. Isso tudo é esquisito demais.

-Sim, senhor. - Kenny respondeu prontamente, dirigindo-se ao telefone sobre a mesa de trabalho de Kyle no escritório. Ele já tinha intimidade com aquela sala, com a casa toda. Não precisava pedir permissão antes de fazer qualquer coisa ali dentro.

Kyle acompanhou o general até a cozinha, repousando a mão nas costas dele afetuosamente. Cartman foi o único que restou na sala de estar, com seu charuto importado da terra debaixo, encarando o espaço entre o sofá e a parede onde só se via o pé descalço do ecravo, imundo, um dos dedos sem uma unha. Cartman escorregou a língua pelo lábio superior, abrindo uma espécie de sorriso.

-Você só não quer fazer parte dessa merda, não é? - Cartman perguntou em voz alta à única pessoa presente no cômodo. Fumou do charuto, fechando os olhos de satisfação. Suspirou fundo. - Eu te entendo. Às vezes eu também não quero.

Apagou o charuto e seguiu em direção à cozinha, parando na metade do caminho por um instante, pensativo. Sem dizer mais nada, – e evidentemente, não obtendo resposta – foi unir-se aos seus companheiros.



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