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História Utopia - Livre


Escrita por: caulaty

Capítulo 8 - Livre


Wendy telefonou antes do sol nascer. O telefone ficava no escritório, no andar debaixo, mas da forma que Kyle andava exausto, mesmo que fosse logo ao lado de sua cama, era muito possível que ele não acordasse. Seu sono sempre foi leve, mas ultimamente, as poucas horas que tinha para deitar a cabeça no travesseiro eram bem aproveitadas com um verdadeiro desmaio. Não foi o barulho do telefone que o acordou às três da madrugada. Por motivos óbvios, havia sol muito cedo em Utopia. O que acordou Kyle Broflovski naquela noite foi o peso de algo em seu colchão. A cama era de casal – pertencera à sua mãe e à mãe de sua mãe, mas quando seu pai faleceu, ela quis se desfazer da cama -, grande o suficiente para que ele se esparramasse inteiro, então demorou algum tempo para que ele sentisse que havia algo de estranho acontecendo. A madeira era antiga e o estrado rangia por qualquer coisa. Kyle só acordou realmente quando sentiu, sem dúvida alguma, a palma grande tocando sua testa.

É importante ter em mente que homens do exército são treinados para dormir de olhos abertos e orelhas de pé. Assim que aquela mão quente tocou sua face, Kyle estava completamente acordado, de olhos arregalados, o corpo inteiro desperto e sentado, as mãos prontas para arrancar os olhos de alguém. Estava escuro demais para distinguir o rosto à sua frente, mas ele pôde ver a pequena luz vermelha da coleira piscando. Era o Toupeira. Ele não precisou pensar muito para se dar conta disso. Arfou por ar com a boca bem aberta, levando a mão ao peito, recostando as costas no travesseiro.

-Caralho. - Kyle sussurrou, como se faz de madrugada, mesmo que não houvesse mais ninguém dormindo naquela casa. E mesmo que tivesse vontade de gritar com ele. - O que você está fazendo?! Eu estava pronto pra te enforcar!

Não acreditava que ele compreendesse nada do que saía de sua boca, mas a adrenalina ainda corria tão rápido em seu corpo e ele não conseguia pensar. Esfregou a cara, respirando fundo, soltando o ar pela boca. Não podia ver a expressão no rosto dele, mas podia ver sua silhueta imóvel, o corpo ajoelhado sobre o colchão. Por um segundo, chegou a sentir medo dele, quando parou realmente para pensar que aquele homem talvez tivesse entrado no seu quarto à noite outras vezes. Mas então, ouviu o telefone tocando baixinho lá embaixo.

-Você quis me acordar porque tem alguém ligando? - Perguntou desconfiado, levantando-se.

Não estava vestindo quase nada quando saiu de debaixo do cobertor e correu escada à baixo, descalço, tentando chegar à tempo. Ainda estava meio adormecido quando tirou o telefone do gancho, pronto para xingar quem quer que estivesse telefonando a essa hora (embora presumisse que fosse importante). Notícias que vem de madrugada são sempre ruins, ele imaginava. Então, ouviu a voz de Wendy, cheia de energia:

-Eu consegui.

Fazia três semanas desde que Nichole lhe entregara sua coleira de criança. A convivência entre Kyle e o Toupeira havia encontrado um estágio de comodidade. Ele não andava mais nu pela casa, havia se habituado a roupas e a higiene pessoal (em algum nível, pelo menos). O que mudou, majoritariamente, foi que Kyle começou a encontrar atividades para mantê-lo ocupado e incentivá-lo a reutilizar objetos do cotidiano. O Toupeira gostava, particularmente, de cuidar do quintal. Podia passar horas com uma pazinha, adubando flores, enfiando as duas mãos na terra, arrancando ervas daninhas. Fazia tudo à sua maneira, sem muito cuidado. Kyle ainda ficava com receio de que algum dos vizinhos o visse por cima da cerca, especialmente porque todos os vizinhos eram militares. De vez em quando, o Toupeira chegava a ajudá-lo a cozinhar. Pelo menos a picar vegetais, esse tipo de coisa. Ele ainda preferia fazer tudo no chão ou em pé. Não gostava de cadeiras, de nada em que se pudesse sentar. Kyle voltou a tentar deixar o colchão no chão do quarto de hóspedes, mas não no ponto em que ele sempre dormia, caso o Toupeira ainda preferisse o tapete em vez de uma superfície macia. Há pouco mais de uma semana, ele havia começado a dormir no colchão.

A questão é que Kyle já estava, de alguma forma, acostumado a ele. E saber que logo ele não seria mais prisioneiro daquela maldita coleira quase o deixou com um pouco de medo. Era como se já o conhecesse, ou pelo menos o lado mais primitivo, mais gentil dele. O Toupeira era uma boa companhia. Silencioso, respondia somente com um grunhido ou outro, fazia pouco contato visual, mas encontrava sua maneira de se aproximar. Até mesmo a ideia de que ele começasse a falar, ainda que em uma língua desconhecida, parecia estranho demais.

Wendy apareceu perto das três da tarde, pois precisava de algumas horas de sono antes de realizar o procedimento. Stan e Kenny não conseguiram deixar a base, envolvidos demais com o trabalho, e ninguém esperava que Cartman aparecesse, de uma forma ou de outra. Stan, por outro lado, telefonava a cada vinte minutos.

Da forma que ela explicou, parecia simples o suficiente.

-Tem um pequeno chip na nuca dele. É assim que a coleira reage aos sentimentos dele, porque tem um sensor por dentro. - Ela explicava, empolgadíssima, abrindo sua maleta sobre a mesa da sala. Havia dois livros, um bisturi, ferramentas que Kyle nunca vira antes, a coleira de Nichole, uma seringa, pequenos vidrinhos com líquidos transparentes, luvas de silicone. Ela espalhava tudo pela mesa enquanto falava. - É um pequeno procedimento cirúrgico, simples e barato, que fazem em massa. Eu vou ter que remover o chip depois de abrir a coleira. E eu pensei... Ele é agitado, provavelmente é uma boa ideia anestesiá-lo. Ele absolutamente não pode se mover. Eu tenho um comprimido que vai apagá-lo por mais tempo do que o suficiente.

Kyle estava tão atordoado com a coisa toda que fez somente o que ela mandava. Quis conversar com o Toupeira antes, fazê-lo entender o que estava prestes a acontecer com ele. Era surreal. Parecia tão inútil dizer alguma coisa. Então apenas deu a ele o comprimido misturado com purê de batatas, tentando dizer a si mesmo que era a coisa certa a se fazer. De alguma forma, ainda sentia como se estivesse traindo sua confiança.

Sentiu vontade de pegar na mão dele (que estava completamente suja de purê) quando o Toupeira terminou a refeição. Ele ficava mais inquieto quando havia outra pessoa em casa. Era como se pudesse sentir que Wendy estava prestes a fazer algo com ele, mesmo que ela não estivesse no mesmo cômodo. Quando ele começou a ficar sonolento, Kyle cedeu ao desejo de acariciar os cabelos limpos dele. Convenceu o Toupeira a deixá-lo cortá-los e aparar sua barba na segunda semana. Havia um homem tão bonito por baixo daquela casca grossa.

Wendy entrou no quarto pouco depois de o Toupeira encostar a cabeça no ombro de Kyle, quase apagando. Ela não disse nada, como o ruivo imaginou que não faria, mas percebeu a forma como ela os observava. Quando ele estava completamente apagado, Wendy começou a se preparar. Kyle a deixou sozinha, sabendo que não poderia ajudá-la com nada além de prover água e oferecer privacidade. Ela só trabalhava em total silêncio e concentração; tinha dificuldade de fazer qualquer coisa fora do seu laboratório. Colocou um banquinho ao lado da cama, com todas as ferramentas sobre uma bandeja que repousava sobre uma mesinha portátil que geralmente ficava no banheiro, sustentando uma planta.

Ficaram lá dentro durante cerca de duas horas e meia, quase três. Kyle entrava no quarto esporadicamente, a cada meia hora, depois telefonava para Stan no quartel e fingia que havia algo novo para contar, mas a verdade era que Wendy não dizia absolutamente nada enquanto trabalhava naquela coleira. Ele também não fazia perguntas. Observava próximo à porta, de braços cruzados. Logo saía.

Quando Wendy finalmente desceu, ele estava varrendo a cozinha. Ela tinha uma toalha em mãos e já estava sem as luvas. Ele parou, ainda segurando a vassoura, esperando que ela dissesse algo como se esperasse um ente querido sair da cirurgia. Lembrou-se imediatamente de seu irmão mais novo, que caiu de cabeça de uma árvore quando tinha sete anos. A espera na sala do hospital foi o momento mais longo de toda a sua vida. O médico saiu para dizer que a criança não havia resistido. Por algum motivo, teve medo de que Wendy olharia em seus olhos e diria que o Toupeira simplesmente não podia existir sem aquela coleira.

Mas ela sorriu.

-Agora é só esperá-lo acordar.

Dentro da toalha, cuidadosamente envolta estava a coleira aberta, alguns fios expostos. Kyle respirou fundo. Não pôde trazer um sorriso aos lábios, mas assentiu com a cabeça em alívio.

-Wendy, você é brilhante.

-Eu tento.

Ele passou um café forte como ela gostava e serviu um bolo de banana do dia anterior. Ela parecia exausta. Com os dois sentados à mesa de café, Kyle finalmente pôde dar uma boa olhada nela. Wendy tinha olheiras roxas, seu pescoço parecia tão magro. Ela usava um corselet preto por cima da camisa branca que tinha os primeiros botões abertos, deixando seu colo à mostra, as clavículas protuberantes. O óculos de aumento estava na sua cabeça. A calça marrom-esverdeada era de couro, bem apertada nas coxas, como ela gostava. Usava um cinto grosso que parecia desconfortável. Conversaram brevemente sobre a possibilidade de o Toupeira ser estrangeiro, uma hipótese que Wendy considerava muito provável.

Quando foi anoitecendo, ela colocou a xícara sobre o pires e se levantou.

-Eu preciso ir. Será que tem algum problema, você ficar sozinho com ele?

-Não, eu acho melhor. Ele não gosta muito quando tem gente em casa. Quanto mais à vontade ele se sentir...

Ele a acompanhou até a sala, onde estava a maleta fechada com todos os seus apetrechos.

-Vocês parecem bem próximos.

-É, eu acho que agora ele confia em mim.

Talvez “confiança” ainda fosse uma palavra forte, mas não gostava de qualquer outra coisa que ela estivesse insinuando. Era verdade que se importava com ele, importava-se terrivelmente. Os dois criaram uma conexão bastante estranha que não podia ser posta em palavras. Não estava tentando buscar uma maneira de fazê-la entender esse tipo de coisa, mesmo porquê, Wendy não estava pedindo por explicações. Eles se abraçaram na porta e ele esperou que ela virasse a rua para fechar a porta atrás de si.

Telefonou para o seu Coronel com o que pareciam ser boas novas. Stan já estava saindo do quartel e perguntou se ele gostaria de uma visita, algo que Kyle recusou pelos mesmos motivos que deu a Wendy mais cedo; não seria produtivo ter outra pessoa em casa quando o Toupeira finalmente acordasse. Stan fez uma pausa longa, como lhe era de praxe, mas acabou concordando.

Wendy havia dito que talvez ele levasse mais uma hora para acordar. Depois de quarenta minutos, deixando a casa em ordem e preparando o jantar, Kyle decidiu subir. Abriu a porta com cautela, como se aquele fosse um sono normal, e não de uma pessoa dopada. A primeira coisa que percebeu foi a respiração dele, tão lenta e profunda, o peito nu que subia e descia devagar. Havia um lençol que o cobria da cintura para baixo. Tinha um dos braços jogados por cima da cabeça.

Kyle aproximou-se da cama cautelosamente e sentou no banquinho que Wendy usara durante o procedimento. Nunca entendeu muito bem porque um ser humano olharia outro dormir (pegou Kenny fazendo isso com ele uma vez ou outra), mas aquela vulnerabilidade era fascinante. Aquele homem era provavelmente uma das criaturas mais brutas em que já pôs os olhos, e ainda assim, conseguia ser doce como uma criança. O que era mais difícil de encarar no Toupeira era o quanto ele constantemente parecia perturbado. Assim, dormindo, parecia em paz.

A respiração começou a diminuir de ritmo. Kyle se endireitou no banquinho quando o homem soltou um gemido baixo e apertou os olhos ainda fechados. Ele estava deitado de barriga pra cima, o pescoço finalmente livre. Kyle enfim pôde dar uma boa olhada na tatuagem que fazia o contorno no pescoço dele, parecia-se muito com o desenho de arame farpado. Estava escuro demais para identificar se era, de fato.

Quando o Toupeira abriu os olhos, tomou fôlego bruscamente como alguém que estava se afogando quando encontra a superfície. Não foi tão desesperado, mas significante. Ele agarrou-se ao lençol primeiro, relaxando a cabeça para trás quando percebeu que estava em segurança. Talvez estivesse acordando de um sonho ruim.

-Shh. Tá tudo bem. Você vai ficar bem. - Kyle murmurou, tocando o colchão para resistir à vontade de tocar seu braço.

Só então o Toupeira percebeu que havia mais alguém no quarto. Ainda estava sonolento, piscando devagar, movendo a cabeça em lentidão. Sentiu uma dor aguda na nuca. Ergueu a cabeça para tocá-la, mas em vez do metal gelado ao qual havia se acostumado, sentiu o toque macio do algodão e da gaze. Era um curativo pequeno. O Toupeira arregalou seus olhos de mel e começou a tocar a parte da frente do seu pescoço, grunhindo baixo, aflito. Por um instante, quase pareceu que ele não estava feliz, mas sim agoniado. Ocorreu ao ruivo que ele tivesse o mesmo pavor que lhe abateu antes: o de não se reconhecer sem a coleira, de não se lembrar mais de quem era quando livre. Também era possível que Gregory o tivesse maltratado e torturado tanto com joguinhos psicológicos que o Toupeira custasse a acreditar que qualquer coisa boa poderia acontecer em sua vida. Estava esperando o momento que Gregory arrancaria isso dele.

Tudo aconteceu muito rápido depois disso. Foi o tempo de o Toupeira se sentar na cama, fazer contato visual com Kyle - seus olhos quase amarelos pareciam reluzir no escuro - e avançar. Literalmente não parecia mais um homem. Era um bicho que não respondia por si. Foi a primeira vez que Kyle chegou a ter medo dele.

Os dois caíram violentamente no chão, o Toupeira por cima dele, uma das mãos bem firme no pescoço do ruivo. Kyle era bem treinado para esse tipo de coisa. Passou alguns segundos desnorteado pela porrada que deu com a cabeça no chão (por sorte o piso era de carpete, mas não amorteceu muita coisa), e antes que conseguisse se recuperar, o Toupeira já o estava estrangulando. Kyle cravou as unhas no braço dele. Aquele homem era extraordinariamente pesado. Usava só uma mão, mas depositava ali todo o seu ódio por homens livres, por homens de Utopia, por todos que lhe trataram como propriedade. Enquanto se contorcia embaixo dele e arfava por ar, lembrou do que Kenny disse; como teria vontade de matar qualquer um que não usasse coleira.

Kyle não queria machucá-lo realmente. Usou as pernas para empurrá-lo, mas o Toupeira era movido por uma raiva tão intensa que não adiantou de nada; não foi um centímetro sequer para trás. Kyle começou a se desesperar. Se o Toupeira quisesse, de fato, enforcá-lo, provavelmente já teria o feito àquela altura. “Eu não vou morrer assim”, Kyle pensava, o coração quase saindo pela boca, arfando compulsivamente. Tinha as unhas cravadas nos braços nuss dele, nas tatuagens, deixando marcas de resistência inútil.

De repente, os pulmões se encheram de ar. A boca bem aberta sugou com força todo o ar que pôde; ele tentou erguer o tronco, mas ainda estava sob o peso do Toupeira, esmagado pelo seu corpo. A mão grande daquele homem escorregou do pescoço marcado até oss cabelos dele, e Kyle apertou os olhos em precipitação, prevendo que o Toupeira puxaria seus cachos com força para machucá-lo. Mas não foi assim que aconteceu. Quando abriu os olhos, a respiração trancada quase sem perceber, viu o rosto do outro muito próximo do seu. A mão dele passava por dentro dos seus fios ruivos, quase que acariciando-os de forma grosseira. Sentia a respiração dele pesada contra sua pele, os lábios entreabertos, os olhos animalescos ardendo na sua carne, como se o mero olhar fosse capaz de ferí-lo. Os músculos de Kyle tremiam em resposta, involuntariamente. Estremecia por inteiro dentro daquele momento de tensão. O pior era a expectativa, não saber o que seria feito dele. Seu corpo mal podia responder ao choque. Desejou, mais do que tudo, que soubesse o nome verdadeiro daquele homem para poder dizê-lo em voz alta. O seu nome expressaria tudo o que Kyle pulsava por dentro: “por favor, não faça isso, eu te vejo como um ser humano”.

Mas não sabia seu nome verdadeiro. Então murmurou, quase sem voz:

-Toupeira...

Ele ergueu um pouco a cabeça em resposta, com as sobrancelhas franzidas, o pescoço exposto bem visível, mostrando com orgulho que ele não pertencia mais a ninguém. Era um homem de si mesmo.

Começou a rasgar a roupa de Kyle. Suas mãos rudes arrancaram do corpo alvo dele a camisa fina de algodão, a calça e a roupa debaixo com tanta facilidade, como se ele fosse um boneco. Kyle só dizia “não”; era a única coisa que saía de sua boca e isso se pode entender em qualquer língua. Mas ele não parou. Botou o próprio pau pra fora, ainda fazendo pressão sobre o corpo dele, e porra, como estava duro. Era a própria liberdade que o excitava, a adrenalina, a possibilidade de fazer o que quisesse. Kyle podia sentir isso nas mãos dele, na forma como o Toupeira pegava na sua carne nua como se fosse a coisa mais pecaminosa do mundo; sentia-se tão exposto, tão submisso. Pegou-se desejando aquele homem, desejando seu corpo, sua animosidade, sua liberdade, sua raiva. Por qualquer motivo que fosse. Desejava beijá-lo, como fazem os humanos, mas os animais não sabem beijar.

Seu pescoço doía terrivelmente, sua garganta ainda parecia fechada. Às vezes, durante o sexo, ele adorava quando Kenny o pegava por trás e apertava o seu pescoço. Ma aquilo era uma brincadeira. Era diferente. Kenny jamais o machucaria, jamais. Aqui, ele não podia ter certeza de nada. O que movia o Toupeira era um pulso primitivo e imprevisível.

O Toupeira o virou de bruços e ele não resistiu. Estava ali, nu contra o chão, a bunda empinada, o pau meio ereto, todo arrepiado com aquelas mãos grosseiras apalpando o seu corpo. O homem espalhou cuspe pelo próprio pau – Kyle não conseguiu vê-lo antes de virar, mas quando sentiu a glande encaixando entre suas nádegas, parecia imenso.

Kyle amava pau. Desde novinho, desde as primeiras sensações da puberdade, era apaixonado pelo corpo masculino e pelas possibilidades de relação entre dois homens. E ter um homem dentro do seu corpo, com toda a dor envolvida (que era uma parte importante e primordial) era uma das coisas que mais amava nesse mundo.

Mas nunca foi feito dessa forma. A falta de controle era um fetiche, nada mais. Ele nunca esteve verdadeiramente submisso a alguém como naquele momento.

O Toupeira o invadiu, segurando seu corpo contra o chão, e Kyle gritou, os olhos fechados e a boca aberta. Não foi tão violento quanto foi forte. Ele o penetrou na terceira tentativa, mas uma vez que deslizou por dentro, não parou até que estivesse inteiro bem fundo, o saco bem pressionado contra a bunda dele. Seu corpo forte cobria o do ruivo, completamente deitado sobre ele. Kyle não conseguia respirar. Já estava coberto de suor, a pele tão colada na dele. O Toupeira lambia suas costas, segurando-o pela cintura, grunhindo e mordendo gentilmente a carne macia, socando bem fundo. Kyle não parava de gemer em momento algum; aquele pau grosso lhe abrindo por dentro ardia da forma mais deliciosa.

Era tão diferente de todas as fodas que já teve na vida. O Toupeira não fazia nada com cuidado; penetrava tão fundo, firme e rápido, devorando seu corpo com mãos e boca e peito, e Kyle não poderia imaginá-lo trepando em nenhuma outra posição.

Foi contaminado por aquela selvageria, como se ele mesmo fosse um bicho irracional.

Já não doía mais. A ardência era forte, a pressão era ainda pior, mas ele já estava acostumado. A boca do Toupeira continuava colada na sua nuca, cobrindo a região de saliva. De vez em quando ele chupava a pele, mas passou a maior parte do tempo concentrado em meter, em segurá-lo e em cheirar os cachos vermelhos como se tivesse contido esse desejo durante muito tempo.

O movimento era frenético, profundo. Não havia consideração pelo corpo de Kyle, era muito claro em seu toque que o Toupeira o sentia como um objeto de satisfação própria. Não estava preocupado em satisfaze-lo. Kyle não teve tempo ou sanidade para ficar com raiva desse tipo de coisa, porque não estava lidando com um homem racional. De alguma forma, nem mesmo escolheu estar ali. Não chegou a gozar, mas estava terrivelmente excitado quando sentiu a porra quente dele escorrendo por dentro. A essa altura, estava estirado no chão, com a bochecha pressionada contra o carpete. Seus joelhos ardiam pela fricção. O Toupeira passou mais de dez segundos parado assim, cobrindo seus corpo com o dele, compartilhando o suor. O pau ainda latejava fundo dentro do cu dele. Kyle já começava a ficar aflito quando o Toupeira deixou o seu corpo por completo. Ficou sobre os dois pés, a coluna ereta. Encarou Kyle de cima até ele se virar.

O sentimento era quase de ressaca. Como se até ali, Kyle tivesse sido tomado por uma força superior ou uma droga que alterasse seu estado de consciência, que o fizesse agir por instinto. Agora, estava de volta a si e percebia-se como um homem envergonhado, nu, exposto no chão com porra escorrendo entre as coxas, uma ereção indevida, corado, imundo. Fechou as pernas, sentiu-se no chão mesmo e ajeitou os cabelos com as mãos. Quis esconder o rosto.

O Toupeira estava de costas, seus músculos cobertos por uma camada fina de suor. Kyle se levantou devagar. Ainda ardia. Podia sentir como estava inchado. Aproximou-se dele arrastando os pés da forma mais silenciosa que pôde. Levou a mão ao ombro largo dele, beijou suas costas com carinho fraternal e disse baixinho:

-Fala comigo. Na língua que for, do jeito que você quiser. Só fala comigo.

Ele virou de frente e recostou a testa na de Kyle, com os olhos fechados, segurando seus rosto nas duas mãos. Talvez fosse um pedido de desculpa. Chegou a envolvê-lo nos braços e beijar sua testa. Seu peito estava bem junto ao do ruivo, então era possível ouvir como seu coração batia acelerado, sua respiração ainda irregular. Apertou-o tão forte em seus braços que Kyle quase se sentiu sufocado de novo.

-Tá tudo bem, Toupeira. - Murmurou baixinho, com a boca roçando pelo pescoço dele. Fechou os olhos e repetiu calmo. - Tá tudo bem.

Nos dias seguintes, o Toupeira seguiu sem proferir uma palavra sequer.



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