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História Valente - Especial II


Escrita por: Aella

Notas do Autor


Chegou em vinte e quatro horas, hein. Tempo recorde. hahah
Song-chapter, pessoal, estejam avisados! :3

Lembrando que esse capítulo não segue a cronologia atual. Ocorre algum tempo mais a frente do que onde estamos. ;)

Capítulo 15 - Especial II


Fanfic / Fanfiction Valente - Especial II

  

Rebecca

 

Era bom estar viajando com outro propósito, para variar. Um propósito que não tivesse nada relacionado às responsabilidades lupinas ou alguma ameaça iminente. Era bom, simplesmente, estar em um avião a caminho do México e ter a certeza de que sua melhor amiga ruiva estaria te esperando no saguão com uma grande placa.

 

E dito e feito, apesar estarmos vindo justamente para vê-la, era ela quem fazia a maior festa. Riley, Aidan e eu carregamos nossas malas de rodinhas pelo saguão e avistamos o enorme cartaz, decorado com canetas coloridas e glitter, que Scarlet Briggs segurava. Como se ela precisasse disso. Scarlet, branquela de olhos verdes e com cabelos comparáveis à labaredas de chamas, chamava muita atenção na capital do país mais ao sul do domínio do Letum.

 

De qualquer forma, decidira fazer um cartaz, que tinha meu nome escrito com sua letra cursiva impecável, cada letra de meu nome feita com uma cor de canetinha diferente. Ela havia até desenhado um pequeno lobinho no canto inferior esquerdo do cartaz, e uma lua minguante no canto superior direito.

 

– Scarlet! - gritei ao seu encontro, as pessoas ao redor nem se importando. Reencontros barulhentos era o mínimo que você deveria esperar em um aeroporto, ainda mais na ala de desembarque.

 

– Rebecca! - retribui com a mesma quantidade de entusiasmo. Não ligamos de deixar os dois homens atrás de nós esperando.

 

Era a primeira vez que eu a via, desde que eu havia acordado do coma do qual ela mesma havia me salvado. Havíamos nos visto em ligações por Skype e nos falado por diversos telefonemas, mas o contato físico de uma melhor amiga para com a outra era impagável.

 

– Estive com tantas saudades sua, sua pirralha - continuava a chamá-la de pirralha, mesmo eu sendo mais nova do que ela. Era uma pequena piada interna.

 

– E eu sua, sua encrenqueira. - Não tinha como argumentar com ela, eu realmente era, apesar de nem sempre ser de propósito.

 

Após mais alguns minutos abraçada comigo e, cumprimentou Aidan com um abraço caloroso, mais caloroso do que eu jamais imaginaria. Eu não sabia que ambos haviam se tornado tão próximos no tempo em que estive desacordada. Era de se esperar, porém, visto que trabalharam juntos para juntar minhas duas partes novamente. Scar depois puxou Riley pelo colarinho, recebendo-o com um beijo afogueado. Riley, logicamente, não calava a boca em Columbus sobre como havia fisgado o coração da raposinha, e também como não aguentava mais esperar para ter seu reencontro.

 

Seguimo-la até um táxi, de onde fomos até o apartamento que ela havia alugado. O plano era passarmos uma semana na Cidade do México, quase como se fossem férias, curtindo o aniversário da nossa Selvagem e aproveitando para matar o máximo de saudades, visto que não sabíamos ao certo quando ela decidiria voltar à Columbus. Riley poderia ficar mais do que uma semana, mas Aidan queria voltar logo. Continuava preocupado com invasões, depois do que acontecera com Maxwell Kentner e os solitários. Eu apostava que ele jamais se recuperaria, jamais iria se permitir ficar muito tempo longe de casa.

 

De qualquer forma, apesar de minha vontade de que Scarlet voltasse à Columbus, achei melhor voltar com Aidan, tanto para dar privacidade para os dois pombinhos, quanto para voltar e aproveitar minha vida em alcateia com meus irmãos.

 

Passamos os primeiros dias visitando pontos turísticos, parques e shoppings com nossa anfitriã. Quando não saíamos, ficávamos de bobeira no apartamento dela ou então no apartamento de seus amigos Selvagens, sua mais nova família. Eram todos muito acolhedores e simpáticos. Eu gostava muito do sotaque deles, que tinham que falar comigo em inglês, pois a única coisa que eu sabia falar em espanhol era que eu não sabia falar espanhol. Bem, e também ‘me pasa el guacamole, por favor’.

 

Também aproveitei para dar umas corridas noturnas com Scarlet, fazia muito tempo mesmo que eu e ela, em nossas formas animais, não caçávamos algo juntas. Eu sentia muita falta disso. Fiquei impressionada quando ela me disse que estava aprendendo como se transformar em outro animal, que ela só saberia qual seria quando conseguisse transformar-se nele. Os Selvagens eram cheios de mistérios que nós, lobisomens, sequer imaginávamos.

 

Quando chegou nosso penúltimo dia lá, que era, de fato, a data de aniversário de Scarlet, ela insistiu que fôssemos à uma balada. Eu não gostava de baladas, Aidan claramente não gostava de baladas, Riley iria onde quer que ela pedisse. Então, fomos todos obrigados a ir, porque, nas palavras dela: Ninguém contraria a aniversariante.

 

Eu obviamente não tinha roupas para esse tipo de acontecimento, muito menos teria trazido nessa viagem se as tivesse, então Scarlet se viu obrigada a me emprestar um de seus vestidos. Deslumbrante, ela usou um conjunto de saia e top verde-musgo, cor que combinava com ela cem porcento. Quando saí do banheiro, tendo me arrumado, e me olhei no espelho, não consegui deixar de pensar que havia algo de errado. Aquela não era eu. Não era Rebecca. Mas Scar afirmava que eu estava maravilhosa.

 

– Você está de cair o queixo, Becca! - Batia palminhas rápidas, contente com o resultado. - Esse vestido lhe caiu super bem. Vem cá que vou arrumar seu cabelo.

 

Observava-me no espelho enquanto ela encaracolava meu cabelos já ondulados. O vestido que ela me emprestara era colado ao corpo, estampa de pele de cobra e com mangas compridas, mas recortadas em cima, parecendo que havia vários nós dos meus ombros até meus pulsos. Era muitíssimo curto, curto demais para meu gosto, e possuía um decote considerável. Eu não escolheria aquele vestido para mim, se fosse comprá-lo, mas, de fato, eu não estava nada mal vestindo-o.

 

Após Scarlet fazer minha maquiagem e acabar meu penteado, não podia deixar de sentir-me empoderada. Nunca fui de me sentir fraca, sempre tendo a mania de enfrentar as coisas de frente e, claro, sendo um lobisomem. Mas, arrumada como estava, sentia-me poderosa de uma maneira completamente nova. Uma maneira que eu raramente explorava. Sentia que podia dominar o mundo arrumada daquele jeito. Talvez não fosse muito confortável, mas que era uma baita ajuda na auto-estima, era.

 

Eu tinha que dar o braço a torcer pra Scarlet. Ela não era de se arrumar muito ou ser muito feminina no dia-a-dia, como eu. Corrie provavelmente servia de fonte de feminilidade equivalente a toda a população de Columbus. Contudo, quando Scarlet se metia a sair… Ninguém segurava os dons daquela ruiva. Se Scar quisesse ter sido estilista ao invés de restauradora de motocicletas - um o oposto do outro - ela certamente conseguiria.

 

Levantei do lugar, a pedido dela, e desfilei brevemente por seu quarto.

 

– Rebecca Elise Young, você está de matar. - Deu uma sonora risada, que eu tinha certeza que os meninos no quarto ao lado teriam ouvido.

 

Na verdade, levando em conta que eram lobisomens, eu sabia que teriam ouvido tudo que falávamos. Isso me deixou um tanto constrangida, pois Scarlet passou algum tempo convencendo-me a usar um par bonito de lingerie essa noite.

 

– Tenho certeza de que não vai voltar pro seu quarto de hotel desacompanhada essa noite. - Riu novamente, mas eu apenas a encarei com o cenho franzido. - O quê? A menos que queira, claro.

 

Não a respondi, apenas fiquei a observar meu reflexo, ainda um pouco incrédula com a mulher que me encarava de volta.

 

– Becca, sério, aproveite a vida um pouco. - Scarlet abraçou-me pelo lado. - Tem vários mexicanos bonitos dando sopa por aqui.

 

– Pode até ter, mas isso não quer dizer que eu tenha que dormir com eles - respondi, decidindo que não queria ter aquela conversa com ela.

 

– Vai me dizer que não quer se divertir um pouco? Quem não quer, Becca? - Novamente não a respondi. - Se não quer fazê-lo com nenhum morador local, devo avisar que conheço um lobisomem interessante que parece estar à disposi-

 

– Scarlet! - sussurrei para ela, alarmada. Ela certamente sabia que eles estariam ouvindo. - Cale a boca, você endoidou?

 

A ruiva apenas riu alto, mais uma vez, tendo inclusive que limpar uma lágrima que lhe escorria pelo olho esquerdo, quase borrando seu delineado perfeito.

 

– Ai, Becca. Apenas se divirta, okay?

 

– Okay, okay. Só pelo amor de Deus fique quieta - implorei e saí do quarto, seguida dela, meu rosto em chamas.

 

–x-

 

Eu tinha de admitir, não era de todo um lugar ruim. Eu nunca havia ido em uma balada como aquela. Na minha adolescência, ia para as baladas obscuras de Seattle, onde só tocavam músicas obscuras e onde pessoas obscuras, como Bernard, costumavam frequentar. Desde então, havia me retraído a bares e lugar com música ao vivo, não lugares para se dançar.

 

Entretanto, eu havia até gostado da balada de Scarlet. Sim, as músicas eram predominantemente em espanhol. Sim, as músicas variavam entre pop e eletrônica. Todavia, naquela noite, eu não queria estudar teoria musical. Não queria observar a complexidade dos acordes. Queria apenas, como Scarlet havia posto, me divertir.

 

Fernando e Gabriela, um casal de Selvagens que eram amigos próximos de Scar, haviam nos encontrado lá, totalmente ao acaso, mas eu gostava deles, então a companhia era bem-vinda. No começo ficamos grudados, os seis, dançando perto uns dos outros. Bem, os dois casais dançavam, ao menos. Eu me chacoalhava de forma desengonçada e Aidan apenas ficava ao nosso redor, parado feito uma estátua.

 

À medida que a noite seguia, porém, os casais foram se separando da gente, seja pela mistura de corpos inevitável que havia ali, seja por quererem alguma privacidade para amassar os corpos uns contra os outros. Portanto, ficou Aidan encostado em uma parede, praticamente imóvel, e eu me balançando de forma tosca há alguns metros dele. O fato era que eu não sabia dançar, mas naquele momento desejava muitíssimo saber.

 

Eu sabia que tinham alguns homens com seus olhares em mim e, honestamente, meu olhar também parecia se demorar na silhueta de alguns ali presentes. Porém, com Aidan tão perto, não me sentia confortável tendo esses pensamentos, e sentiria-me muito menos confortável ainda dançando sensualmente - como todos ali pareciam estar - com outra pessoa estando em seu campo de visão.

 

Portanto, quando a música finalmente mudou para uma que eu conhecia - e como não conhecer? - decidi afastar-me de Aidan. Com ele a minha volta eu não conseguiria me soltar como queria, mesmo que eu fosse apenas queimar a cara com meus talentos inexistentes para danças calientes. Assim que a batida da nova música começou, dancei meu caminho para o meio da pista, parando em um lugar mais ou menos fixo apenas quando já não conseguia ver Aidan mais.

 

Eu simplesmente não conseguia me sentir confortável dançando sensualmente, ou flertando, com outra pessoa na frente de meu Alpha. Era uma coisa muito estranha de se fazer.

 

Sí, sabes que ya llevo un rato mirándote

(Sim, sabes que já tem tempo que te observo)

 

Tengo que bailar contigo hoy

(Tenho que dançar contigo hoje)

 

Vi que tu mirada ya estaba llamándome

(Vi que teu olhar já estava me chamando)

 

Muéstrame el camino que yo voy

(Mostre-me o caminho que eu vou)

 

A música era a maior sensação do momento e, indubitavelmente, tinha a força de fazer qualquer um querer levantar e remexer o quadril. Eu estava decidida a seguir o conselho de Scarlet, mesmo que não ao pé da letra. Talvez eu não quisesse necessariamente voltar para o hotel acompanhada, mas estava com vontade de me divertir. E se um mexicano bem apessoado quisesse se divertir dançando colado comigo, quem era eu para impedi-lo?

 

Tú, tú eres el imán y yo soy el metal

(Tu, tu és o ímã e eu sou o metal)

 

Me voy acercando y voy armando el plan

(Vou me aproximando e armando o plano)

 

Solo con pensarlo se acelera el pulso

(Só de pensar nisso o coração se acelera)

 

A batida da música ficou mais rápida, como eu sabia que iria ficar, e a acompanhei com os quadris. Eu não era a única que não estava dançando acompanhada, então não me sentia mal. Entretanto, não demorou para eu perceber um moreno, pouco mais alto do que eu, com sua pele bronzeada reluzente de suor de tanto dançar, vir em minha direção. Era bonito, muito bonito, e, se eu não estava enganada, seus olhos estavam fixos em minha figura, não de qualquer outra mulher.

 

Observei-o chegar até mim, um meio sorriso confiante em seu rosto. Seus passos acompanhavam o ritmo da música. Sorri de volta para ele quando já estava a poucos centímetros de mim. Não adiantava tentar se apresentar ou conversar de qualquer forma, o som era alto demais. Eu, tão próxima dele, conseguiria entendê-lo, mas não adiantava conversar com um humano que não me escutaria. Só nos restava deixar a música nos envolver e comandar nossos corpos.

 

Ya, ya me está gustando más de lo normal

(Já, já estou gostando de você mais que o normal)

 

Todos mis sentidos van pidiendo más

(Todos meus sentidos vão pedindo mais)

 

Esto hay que tomarlo sin ningún apuro

(Isto deve ser alcançado sem qualquer problema)

 

Percebi as mãos do desconhecido, mas muito bem-vindo, moço circulando-me a cintura. Encarei seus olhos castanhos que procuravam algum sinal de aceitação meu. Eu já havia o dado, mas, mesmo assim, passei minhas próprias mãos pelos braços fortes dele, num sinal de que queria estar dançando com ele.

 

Tinha quase certeza de que vira os cabelos rubros de Scarlet pelo canto do meu olho, mas quando me virei ela já havia sido engolida pela multidão. Quando você entrava no meio, não adiantava querer ficar de olho em quem havia estado com você. Nem com o olfato lupino era possível achá-los, de tão abarrotado que estava o clube.

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Quiero respirar tu cuello despacito

(Quero cheirar teu pescoço devagarinho)

 

Deja que te diga cosas al oido

(Deixe que eu te diga coisas no ouvido)

 

Para que te acuerdes si no estás conmigo

(Pra que te lembres delas quando não estiver comigo)

 

Dançávamos, grudados e suados, e eu estava me divertindo como não havia me divertido em anos. Scarlet tinha razão, eu deveria me soltar, deveria sair de minha zona de conforto e aproveitar a vida. Abri um largo sorriso para o moço que me acompanhava, cada vez mais colados, mas ele não olhava mais para meu rosto, e sim para meus seios e seu peitoral, ora grudados, ora separados, de acordo com a batida.

 

Ri por dentro, sentindo-me renovada, percebendo o que eu poderia fazer se quisesse. Levantou seu olhar, talvez percebendo meus olhos sobre ele, e, mostrando-me seus dentes com um sorriso, aproximou seu rosto do meu para um beijo, bem, caliente.

 

~x~

 

Aidan

 

Ela havia sumido. Havia olhado na minha cara e sumido. Sumido não, fugido.

 

Eu sabia que ela queria dançar, era evidente pelos seus movimentos, mas eu não entendia porque ela não se soltava de uma vez. Por que se viu obrigada a se esquivar de mim para dançar? Sentia vergonha? Ficava incomodada porque eu não dançava?

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Quiero desnudarte a besos despacito

(Quero te despir com beijos devagarinho)

 

Firmo en las paredes de tu laberinto

(Escrevo nas paredes do teu labirinto)

 

Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito

(E fazer de teu corpo inteiro um manuscrito)

 

Agora eu a procurava em meio a tantas pessoas, grudadas demais umas às outras em público, na minha humilde opinião. Tinha tantas pessoas, tantas mujeres, confesso que era desconcertante. Eu só tinha uma delas em mente, mas tinham tantas garotas maravilhosas por ali que eu tinha que me esforçar para não perder o foco.

 

Entretanto, quando cheguei no que me parecia ser o meio da pista, avistei quem procurava.

 

Quiero ver bailar tu pelo

(Quero ver dançar teu cabelo)

 

Quiero ser tu ritmo

(Quero ser teu ritmo)

 

Nos braços de outro. Nos lábios de outro.

 

Que le enseñes a mi boca

(Pra que tu ensines à minha boca)

 

Tus lugares favoritos (favorito, favorito baby)

(Teus lugares favoritos (favorito, favorito, baby))

 

Não podia culpá-la, inteiramente. A música era insinuante e contagiante. Até para mim, que costumava me recusar a dançar, estava difícil, ao menos, não balançar o pescoço no ritmo. E, apesar de eu não ter falado com ela ainda como queria, de não termos o relacionamento que eu verdadeiramente almejava, - e, portanto, ela nem saber como eu me sentia de verdade - fiquei irado em vê-la com outro.

 

Meu lobo me xingou. Era uma balada. Era óbvio que Rebecca, extremamente atraente como estava, não iria dançar sozinha pelo resto da noite. Nós devíamos ter feito algo muito tempo antes.

 

Déjame sobrepasar tus zonas de peligro

(Deixe-me ultrapassar tuas zonas de perigo)

 

Hasta provocar tus gritos

(Até provocar teus gritos)

 

Y que olvides tu apellido

(E que tu esqueças teu próprio sobrenome)

 

Que se danasse o fato de nunca dançarmos. Se Rebecca queria dançar, ela iria dançar. E seria comigo e com mais ninguém.

 

Si te pido un beso ven dámelo

(Se te peço um beijo, vem me dar)

 

Yo sé que estás pensandolo

(Eu sei que estás pensando nisso)

 

Llevo tiempo intentandolo

(Faz tempo que estou tentando isso)

 

Mami esto es dando y dandolo

(Baby, estou dando e dando)

 

Aproximei-me dos dois, que agora não mais dançavam um de frente para o outro, mas com Rebecca de costas para o sujeito. O homem que dançava com ela estava com o nariz enfiado em seu pescoço, sentindo o maravilhoso cheiro que eu queria estar sentindo. Eu sabia que ele nunca sentiria o cheiro específico de Rebecca, o que me deixava mais aliviado.

 

Aquela delícia era só para mim. Ao menos eu esperava.

 

Sabes que tu corazón conmigo te hace ¡bom bom!

(Sabes que comigo teu coração faz bum! bum!)

 

Sabes que esa beba está buscando de mi ¡bom bom!

(Sabes que essa menina está me buscando: bum! bum!)


 

Eu não sabia muito bem como mandar um cara ir catar outra no meio de uma balada. Era só cutucar-lhe o ombro? Seria como numa valsa, pedindo a próxima dança? Ri com meu lobo. Não importava como fosse, iríamos dançar com ela e ele não passaria nem um segundo a mais com suas mãos em sua cintura.

 

Ven prueba de mi boca para ver como te sabe

(Vem, prova minha boca pra ver como tu bem sabes)

 

Quiero quiero ver cuanto amor a ti te cabe

(Quero, quero ver quanto amor cabe em ti)

 

Yo no tengo prisa yo me quiero dar el viaje

(Não tenho pressa, mas eu quero começar)

 

Empecemos lento, después salvaje

(Comecemos devagar, depois selvagem)

 

Aproveitei que ambos estavam de costas para mim e avancei, educadamente me esquivando de uma bela morena que me puxava para dançar. Era impossível eu ter olhos para outra naquele momento, com Rebecca tão perto, rebolando no ritmo da música daquela forma.

 

Puxei o ombro do cara levemente para trás. Ele virou-se para mim, Rebecca nem percebendo que metade de seu corpo havia se desgrudado dela. Percebi que ela estava com os olhos fechados, deliciando-se na melodia e, sem dúvidas, nas carícias do desconhecido. Bastou um aceno na direção da moça a nossa frente e um olhar nada amigável meu para ele soltá-la e se afastar. Homem esperto.

 

Pasito a pasito, suave suavecito

(Passinho a passinho, suave, suavezinho)

 

Nos vamos pegando, poquito a poquito

(Vamos nos pegando, pouquinho a pouquinho)

 

Cuando tú me besas con esa destreza

(Quando tu me beijas com essa habilidade)

 

Veo que eres malicia con delicadeza

(Vejo que tu és malícia com delicadeza)

 

Passinho a passinho, suave, suavezinho, passei minhas mãos pela cintura de Rebecca, decidido que ela iria ver o quanto eu queria dançar com ela, mesmo se ela decidisse que não queria dançar comigo.

 

Senti ela se endireitar por meio segundo, decerto percebendo a troca de homens que ali havia estado. Havi percebido, mas não sabia que era eu. Eu tinha certeza de que, se soubesse, iria no mínimo encarar-me. Entretanto, continuou com seus  olhos fechados, provavelmente decidida a dançar com qualquer um. Não é como se algum daqueles humanos, ou até se tivessem Selvagens, pudessem lhe fazer algum mal.

 

Fechei meus olhos como ela, aproveitando o breve momento de anonimato que tinha. Acreditava que ela não iria se soltar assim se soubesse que estava dançando com seu Alpha. Só Rebecca mesmo para fazer-me amaldiçoar minha posição. Explorava sua cintura com as mãos, o tecido liso de seu vestido grudado ao corpo, deixando pouco para a imaginação.

 

Pasito a pasito, suave suavecito

(Passinho a passinho, suave, suavezinho)

 

Nos vamos pegando, poquito a poquito

(Vamos nos pegando, pouquinho a pouquinho)

 

Y es que esa belleza es un rompecabezas

(E é que essa tua beleza é um quebra-cabeça)

 

Pero pa montarlo aquí tengo la pieza

(Mas, pra montá-lo, aqui tenho a peça)

 

Eu tinha a peça, e como. Se ao menos Rebecca me deixasse mostrar a ela como eu era, de fato, sua peça de quebra-cabeças.

 

Como o moço fizera a pouco, afundei meu rosto em seus cabelos, descansando o nariz na curva de seu macio pescoço. O cheiro maravilhoso de camélias misturado com chuva fresca. Um cheiro que me remetia à primavera, que me dava um senso de segurança, de pertencimento, tremendo.

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Quiero respirar tu cuello despacito

(Quero cheirar teu pescoço devagarinho)

 

Deja que te diga cosas al oido

(Deixe que eu te diga coisas no ouvido)

 

Para que te acuerdes si no estás conmigo

(Pra que te lembres delas quando não estiver comigo)

 

Sorri ao perceber como a letra da música se aplicava a nossa situação. Supunha que este havia sido, de fato, a intenção dos compositores. Rebecca sentiu meu sorriso contra sua pele, o que a fez estremecer.

 

– Você entende o que eles estão cantando? - decidi perguntar, mesmo sabendo que minha voz denunciaria minha identidade.

 

Ela se sobressaltou, mas não o suficiente para soltar-se de minha pegada e nem o suficiente para parar de dançar conforme a música. Após alguns segundos, que certamente ela levou ponderando se deveria continuar com a bunda colada em mim, decidiu responder-me.

 

– Na verdade não - falou, virando o rosto para trás para poder falar em minha orelha. - Não falo um pingo de espanhol.

 

Dei uma leve risada contra ela.

 

– São letras muito interessantes.

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Quiero desnudarte a besos despacito

(Quero te despir com beijos devagarinho)

 

Firmo en las paredes de tu laberinto

(Escrevo nas paredes do teu labirinto)

 

Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito

(E fazer de teu corpo inteiro um manuscrito)
 

– Não sabia que você falava espanhol - mencionou.

 

– Falo o suficiente para entender a essência da música. - Respirei fundo mais uma vez o cheiro maravilhoso que vinha da pele dela. - Mas esse não é o momento ideal para dividirmos informações sobre nós mesmos.

 

Ela ficou em silêncio, o que indicava que concordava comigo. Eu tinha certeza de que não demoraria para ela decidir dançar com outro, deixando-me a mercê de outra mulher ou, como eu provavelmente faria, fadado a ir atrás dela mais uma vez.

 

Contudo, Rebecca nada disso fez. Continuou rebolando contra mim, seu cheiro me enfeitiçando, e passou os braços por trás de minha nuca, ainda de costas para mim.

 

Quiero ver bailar tu pelo

(Quero ver dançar teu cabelo)

 

Quiero ser tu ritmo

(Quero ser teu ritmo)

 

Que le enseñes a mi boca

(Pra que tu ensines à minha boca)

 

Tus lugares favoritos (favorito, favorito baby)

(Teus lugares favoritos (favorito, favorito, baby))


 

– Me conte então, o que estão dizendo - pediu, sua voz baixa e suave como veludo, fazendo até o lobisomem grudado a ela ter dificuldades para ouvi-la.

 

Mas eu ouvi. E eu assenti. Um sorriso devasso brotando em meu rosto sem meu consentimento.

 

– Quero que mostre a minha boca seus lugares favoritos - traduzi o que pude com meu conhecimento acima da média, mas longe de fluente, da língua em questão.

 

Parecia ronronar contra mim, mas pensei ser apenas minha imaginação. Ela não estaria concordando com a letra, estaria?

 

Déjame sobrepasar tus zonas de peligro

(Deixe-me ultrapassar tuas zonas de perigo)

 

Hasta provocar tus gritos

(Até provocar teus gritos)

 

Y que olvides tu apellido

(E que tu esqueças teu próprio sobrenome)

 

– Deixe que eu ultrapasse suas áreas de perigo. Para provocar seus gritos e te fazer esquecer seu nome.

 

Subitamente, virou-se de frente e soltou-se de mim. Seus olhos castanho-claros não deixavam os meus. Não olhavam para mais nada nem ninguém que não fosse eu. E, no entanto, ela se afastava. Afastou-se por uns quatro passos, surpreendentemente sem esbarrar em ninguém e, ainda encarando-me, rebolou provocativamente até o chão.

 

Confesso que fiquei sem ar, ao menos por um breve momento. Seus olhos estavam ferozes, agora azuis, e seu corpo movia-se, calculado, sabendo que os meus próprios olhos seguiriam cada milímetro de seus movimentos.

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Vamos a hacerlo en una playa en Puerto Rico

(Vamos fazer em uma praia em Porto Rico)

 

Hasta que las olas griten Ay Bendito

(Até que as ondas gritem "Ai, Bendito! ")

 

Para que mi sello se quede contigo

(Pra que minha marca fique em ti)

 

Ela estava me enlouquecendo. Sua loba estava se divertindo comigo. E elas sabiam.

 

Finalmente, Rebecca levantou-se do chão, tão lentamente e tão maravilhosamente quanto descera, e voltou ao meu encontro da mesma forma lenta. Enfim, colocou seus braços em volta de meu pescoço mais uma vez, saciando meu anseio por seu toque.

 

Pasito a pasito, suave suavecito

(Passinho a passinho, suave, suavezinho)

 

Nos vamos pegando, poquito a poquito

(Vamos nos pegando, pouquinho a pouquinho)

 

Encaramos um ao outro por um tempo, seus olhos comandados por sua loba. Eu sabia, após tanta excitação, que meus próprios olhos também estariam tomados por meu espírito lupino. Ao encontro do gelo de Rebecca, estaria meu fogo ardente.

 

Que le enseñes a mi boca

(Pra que tu ensines à minha boca)

 

Tus lugares favoritos (favorito, favorito baby)

(Teus lugares favoritos (favorito, favorito, baby))

 

Seus quadris não paravam de rebolar e, sem conseguir conter-me, vi-me traçando seu corpo todo com minhas mãos. Ela não parecia protestar.

 

Vi, com a respiração já alterada, quando Rebecca umedeceu seus lábios com a língua, devagar. Estava me provocando, ou estava apenas umedecendo a boca após tanto esforço e tanta dança?

 

Pasito a pasito, suave suavecito

(Passinho a passinho, suave, suavezinho)

 

Nos vamos pegando, poquito a poquito

(Vamos nos pegando, pouquinho a pouquinho)

 

Uma de suas mãos acariciava minha nuca, no lugar onde meu cabelo começava. Era uma sensação muito gostosa, mesmo de uma forma não sexual. Sua outra mão percorria meu braço exposto pela regata que usava naquela noite. Senti-me orgulhoso por tê-la apreciando meu corpo, tanto quanto eu obviamente apreciava o dela.

 

Hasta provocar tus gritos

(Até provocar teus gritos)

 

Passei uma de minhas mão pelos cabelos dela também, puxando-a levemente para mais perto de mim.

 

Seus olhos agora encaravam apenas minha boca que, faminta, procurava pela dela. Seus longos cílios enfeitiçavam-me tanto quanto seu cheiro magnífico.

 

Y que olvides tu apellido

(E que tu esqueças teu próprio sobrenome)

 

Nossos narizes se tocavam, nossas testas também. Conseguia sentir o leve roçar de seus lábios, suaves contra os meus. Quando finalmente ia investir contra sua boca, não aguentando mais a tentação, querendo me saciar a qualquer custo, a música acabou.

 

E com ela, aparentemente, o feitiço se quebrara.

 

Despacito

(Devagarinho)

 

Beijava os tenros lábios de minha loba, mas o momento havia sido demasiado curto para ambos eu e meu lobo acharmos o suficiente. Na realidade, nunca poderíamos ter o suficiente dela, mas isso era preocupação para outra hora.

 

Os olhos azuis de Rebecca estavam fechados, apreciando o beijo que trocávamos, mas logo ela os abriu, arregalando-os. Fez-me arregalar os meus também, mas por causa de sua própria reação. Rompeu nosso breve beijo e se afastou de mim, não abruptamente, mas mesmo assim eu não queria soltá-la. Não queria deixá-la ir.

 

Mas precisava.

 

Ela confiava em mim. Confiaria sua vida a mim desde que aceitara-me como seu Alpha. Se Rebecca quisesse alguma coisa, teria que ser por pura e espontânea vontade dela. Encarou-me, um tanto envergonhada e confusa, até sumir pela multidão mais uma vez. Algo me dizia, entretanto, que dessa vez ela não iria atrás de outro par, mas sim de sua amiga.

 

Suspirei e fiz meu caminho em meio às pessoas, que agora já dançavam outra música, em outro ritmo. Voltei a meu posto na parede, sabendo que outra oportunidade como esta demoraria a vir.

 

Seria nosso próximo beijo no próximo aniversário de Scarlet? No fundo de meu coração, algo me dizia que não.


Notas Finais


Só eu mesmo pra escrever em especial com DESPACITO né HUSAHSUAS
Não teve como. A química desses dois era simplesmente perfeita pra essa música, claro, se estivessem sobre as circunstâncias certas. hahah Nada como uma balada no México, não é mesmo?
Agora vou me retirar porque meus dedos estão congelando. Deixem seus comentários magnilindos por favor <3
Até o próximo, pessoal. *-*


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