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História Valente - Parte II - Capítulo XV - Revisado


Escrita por: Aella

Notas do Autor


Obrigada a todos pela paciência e pelo apoio! Acho que muitos vão querer pular as notas e ir direto ao capítulo, e eu não os culpo! haha Mas queria agradecer pelos comentários no segundo especial. Fazia tempo que eu queria fazer um novo capítulo mais descontraído e fiquei feliz que tenha sido bem recebido <3
Boa leitura!

Capítulo 16 - Parte II - Capítulo XV - Revisado


Fanfic / Fanfiction Valente - Parte II - Capítulo XV - Revisado

 

Mathias

 

Rebecca e Kenna estavam sendo arrastadas para o prédio de questionamento. Ambas feridas, mas com parte dos ferimentos já cicatrizando. Movi-me silenciosamente para poder mantê-las sob minha visão. Conseguia, agora, ver Connor, que se transformara em humano brevemente para gesticular instruções.

 

Connor franziu o cenho para mim, vendo que eu queria agir naquele mesmo instante. Indicou-me com a mão que podíamos esperar mais, que iam apenas colocá-las nas jaulas. Sem dúvidas ele acreditava que não iriam machucá-las mais e que, portanto, não deveríamos nos arriscar sem os reforços. Se ouvíssemos que elas estavam sendo maltratadas, daí sim partiríamos para a briga.

 

Voltei a observar os lobos e Rebecca. Ela ainda parecia cansada, apesar de estar se curando de suas marcas de batalha. Andava a passos lentos, fazendo os homens de Maxwell a empurrarem com força.

 

– Ande logo – resmungou um deles. – Pare de enrolar!

 

Um dos outros homens riu e eu tive uma tremenda vontade de estripá-lo.

 

– Calma, é de se esperar que ela não esteja aguentando depois da surra que levou de Maxwell.

 

Trinquei meus dentes, sabendo que Rebecca deveria estar se contorcendo muito por dentro após ouvir aquelas provocações. Ela continuou a andar, mas agora parecia estar se arrastando ainda mais, propositalmente, para irritar os lobos. Ou talvez estivesse, de fato, esgotada.

 

As mulheres finalmente atravessaram o quintal da casa e Maxwell as esperava, segurando aberta a porta do Prédio de Questionamento. Alguns de seus lobos foram entrando, mas a maioria ficou do lado de fora, ainda fazendo ronda, comendo ou observando o quintal.

 

Percebi o olhar mortífero que Kenna deu para Maxwell, mas ele apenas riu enquanto ela passava, entrando no prédio atrás delas e trancando a porta.

 

~x~

 

Rebecca

 

Fazia tempo que eu não entrava aqui. Eu nunca tivera muitos motivos para utilizar o Prédio de Questionamento e isso era algo pela qual eu era grata. Podia ser dominante, mas não gostava de torturar os outros ou mantê-los prisioneiros. Mesmo se um dia fosse preciso, tenho certeza de que Aidan não me deixaria cumprir essa função, sem dúvidas com o intuito de me proteger dessas tarefas, pois a tortura era uma coisa perigosa com a qual se acostumar.

 

De qualquer forma, aqui estava eu novamente, passando pelas diversas máquinas e aparelhos que, eu sabia, seriam e já tinham sido o pesadelo de algum ser sobrenatural. Talvez agora fosse minha vez de vivenciar um desses pesadelos.

 

Respirei fundo ao passar pela primeira grande sala, aliviada pelo fato de os lobos não me empurrarem para cima de qualquer um daqueles instrumentos de tortura. Eu jamais deixaria Maxwell e seus homens me torturar de olhos fechados, mas sentia que já não tinha muito mais forças em mim. Eu precisava descansar, estava abatida e sem conseguir recuperar minha total potência. No estado em que eu estava, seria difícil impedir alguém de me fazer mal.

 

Aliviada, percebi que estavam levando Kenna para o subsolo e, ao pôr meus pés naquela fatídica escada de metal em espiral, não consegui deixar de lado minhas lembranças da primeira vez em que fui enjaulada em Columbus e da minha tentativa de fuga. Fuga essa obviamente malsucedida, a qual resultou em minhas pernas serem quebradas. Eu acreditava que, desta vez, eu tinha o mesmo nível de chances de escapar. Ou seja, nenhuma.

 

Descemos a escada em espiral até chegar no subsolo do prédio, onde havia as tão conhecidas jaulas, o frigobar de Aidan e a mesa onde ele esperava seus prisioneiros cansarem e resolverem colaborar.

 

Kenna e eu fomos arremessadas, sem nenhum cuidado, para dentro de uma mesma jaula, a mesma que eu havia ficado tanto tempo atrás. Lembrei-me de como Aidan havia trazido uma muda de roupas, cobertas e travesseiro para mim, pois estava frio naquela época do ano. Dessa vez, porém, quem me tinha como prisioneira não podia se importar menos com o bem-estar meu ou de Kenna, sua ex-namorada. Estávamos nuas no chão frio da cela e eu apostava que iríamos ficar assim indefinidamente. Provavelmente queriam que ficássemos assim, a fim de ampliar nossa humilhação e manter nossa moral baixa.

 

Aproximei-me da loba, abraçando-a e recebendo seus quentes braços em meu entorno. Não estava particularmente frio naquele dia, mas o subsolo em si era gelado, além do chão frio de metal. Sentamo-nos no chão, ainda abraçadas, tanto para aquecimento corporal, quanto aquecimento espiritual. Estávamos metidas nessa enrascada juntas, e juntas íamos sair. Ou ao menos gostaríamos de acreditar que sairíamos.

 

Eu não sabia onde estava Connor. Não sabia onde estava Clayton, Spencer, e nenhum dos outros. Só rezava para estarem bem. Até onde eu sabia, Max podia ter enviado alguns lobos para caçar meus irmãos. Max não precisava de mais lobos em sua alcateia, já tinha um número maior do que a antiga Alcateia de Columbus. Portanto, eu não tinha dúvidas de que, se encontrassem algum de meus irmãos, iriam atacar para matar, com medo de alguma rebeldia futura.

 

Estremeci com o pensamento e Kenna pensou que fosse por frio. Acariciou-me os braços, fazendo fricção para aumentar o calor.

 

Ela queria me proteger, fazer-me sentir bem. E eu tinha o mesmo desejo. Era totalmente compreensível, tendo em vista que provamos uma para outra, por meio de combate, que tínhamos níveis de dominância parecidos. Era instintivo uma querer proteger a outra. Então nos entregamos ao abraço, uma descansando o rosto nos cabelos da outra, para não ter que encarar os rostos dos homens que nos trancaram e nos observavam. Para tentar esquecer, ao menos por alguns momentos, a situação na qual estávamos.

 

Eu rezava – apesar de já ter perdido minha religiosidade há muito tempo – para Aidan aparecer. Eu sabia que era extremamente improvável. Ele estava em outro país, pelo amor de Deus. Estava preocupado com outras coisas, que também tinham a ver com minha ilustre e problemática pessoa. A menos que alguém tivesse conseguido avisá-lo, ele nem sequer sabia sobre o que estava acontecendo em seu território.

 

Território esse que deixei ser invadido. Território que não consegui defender.

 

Apesar de toda a raiva que eu nutria há anos por Maxwell Kentner, e apesar de já ter ganhado uma luta com ele há poucas horas na floresta, eu não consegui ganhar dele quando mais importava. Eu sabia que muito se devia ao fato de eu ter acabado de brigar com Kenna, que em tão pouco tempo se tornou um grande porto seguro para mim. Eu sabia que ele tendo se tornado Alfa – ou quase isso – nutria de seus lobos energia a mais, poder a mais. Um Alfa sempre ficava mais forte na presença de sua alcateia.

 

Mas mesmo sabendo de tudo isso eu não conseguia me perdoar. As dores que eu sentia serviam apenas para eu me amaldiçoar ainda mais. Para lembrar-me quão fraca eu tinha sido. Eu simplesmente não havia sido boa o suficiente, mesmo tendo tamanha força, tamanha dominância.

 

Eu nunca havia sido boa o suficiente. Não tinha sido boa o suficiente para me encontrar na alcateia de Joseph; não tinha sido boa o suficiente para merecer o amor de minha mãe; não tinha sido boa o suficiente para satisfazer Bernard; e não era boa o suficiente para proteger a casa de minha família.

 

Nas horas que se passaram, os lobos ficaram conversando em si, e eu e Kenna tentávamos ao máximo bloquear suas conversas. Nesse meio tempo eu havia sentido o corpo de Kenna relaxar contra mim, num sono que, eu esperava, teria a ajudado a se recuperar um pouco. Parte de mim ficou feliz que ela havia decidido deixar de ser forte por um momento, confiado em mim a tal ponto. Olhando para cima, pelas pequenas janelas no alto das paredes, pude ver que já estava noite lá fora. Eu não tinha percebido que tinha chorado, mas, quando levantei o rosto dos ombros de Kenna, vi que a tinha molhado um pouco.

 

Maxwell percebeu minha movimentação e decidiu pigarrear alto, chamando nossa atenção e acordando Kenna, fazendo-nos olhar para ele, apreensivas.

 

– Ficamos entediados com vocês duas só abraçadas e chorando em silêncio. – Meu orgulho foi atingido com suas palavras, não queria que um bando de lobisomens usurpadores visse minha fraqueza. – Nós todos – gesticulou para os quatro lobos que se encontravam com ele no subsolo, todos sentados e bebendo as latas de Pepsi que Aidan tanto adorava, que mantinha estocadas em seu frigobar. – Esperávamos que os abraços de vocês fossem evoluir para algo mais.

 

Kenna e eu nos entreolhamos enojadas com seu comentário asqueroso.

 

– Devo admitir que isso seria algo muito prazeroso de se ver, especialmente para mim. Mas não sou egoísta, não privaria meus queridos amigos de aproveitar a cena também.

 

Maxwell era inacreditável, simplesmente inacreditável. Parecia que cada respiração dele me fazia odiá-lo ainda mais. Se é que era possível odiá-lo mais do que já o odiava.

 

‘Se arrependimento matasse…’ – grunhiu Bexi. – ‘Deveríamos ter acabado com a triste vida do desgraçado de uma vez por todas na floresta.

 

Ela tinha a mais completa razão. Entretanto, querendo agir de forma sensata uma vez na vida, optei por deixá-lo vivo para não criar problemas diplomáticos entre Seattle e Columbus. Mal sabia eu…

 

– Sintam-se à vontade para se segurarem novamente – debochou com sua voz grave e maliciosa. – Inclusive, incentivo-as a fazer justamente isso. – Recostou-se na cadeira com uma perna sobre a outra, numa pose de quem estava com todo o controle.

 

Fuzilei Maxwell com o olhar e estava prestes a mandá-lo à merda quando Kenna deu o ar de sua graça.

 

– Você só pode ser muito idiota se acha que eu e Rebecca obedeceríamos a qualquer coisa que você pedisse. Você é deplorável, seu saco de merda.

 

A raiva que repentinamente tomou o rosto de Maxwell era evidente. Seu humor mudou em questão de segundos, ficando completamente ensandecido com as palavras de Kenna.

 

– Não estou pedindo, sua cachorra. Inclusive nunca tive que te pedir nada, fácil do jeito que é. Sempre disposta a abrir as pernas para mim só com o mais breve dos olhares. – Segurei minha respiração. – Às vezes eu nem queria nada com você, apenas queria um espeto de carne ou um chá, mas lá estava você, sedenta como se estivesse no cio.

 

Os homens de Maxwell, todos já como humanos, riam e olhavam para Kenna como se ela fosse se abrir para qualquer um deles também.

 

– Maxw-

 

– Eu não iria te deixar na mão, é claro, sou homem com ‘H’ maiúsculo – interrompeu-a ele. – Mas você sempre foi fácil, ao menos para mim. Então não se faça de santa ou de rebelde, e entenda que eu não peço nada a vocês. Eu mando. – Sua voz ficou grave como o retumbar de um trovão. – Eu sou dono de vocês agora. Estão aprisionadas, pertencendo a uma alcateia na qual eu sou o Alfa.

 

A raiva em mim, assim com a dele, também estava crescendo.

 

– Joseph sempre foi muito burro. Sim, mantinha as fêmeas em seu devido lugar, ao menos a maioria, né Rebecca? – Seu olhar pousou sobre mim, deixando-me muito incomodada. – Mas não como eu faria. Eu jamais deixaria vocês duas viverem caso fossem insubordinadas. Jamais deixaria uma de minhas fêmeas abandonar a alcateia. E agora tenho aqui minha oportunidade para comandá-las como eu bem entender.

 

– Você não irá conseguir – retruquei.

 

Notei o silêncio que se apoderou de Kenna depois das palavras malignas de quem ela um dia havia amado. Eu sabia que, para minha própria segurança, eu deveria ficar quieta. Não deveria provocar Maxwell, não quando eu não tinha condições para me defender. Mas... eu simplesmente não conseguia deixar ele sorrindo vitorioso, desfilando pelo meu território e atacando verbalmente uma pessoa que não fez nada que não fosse se dedicar a ele.

 

– Meus irmãos são fortes, confio neles. Você não conseguirá acabar com eles com tanta facilidade. Além disso, – falei, mais como uma esperança do que uma certeza. – Aidan acabará com você. Aidan irá te fazer em pedacinhos, irá pisar por cima de seu cadáver. Você é uma pobre desculpa de um Alfa. É um covarde! Um covarde que só teve coragem de virar Alfa de uma alcateia através da invasão. Uma invasão feita justamente quando Aidan está bem longe daqui, pois você não tem bolas o suficiente para enfrentá-lo. E, quando ele chegar, você vai se mijar nas calças só de ouvir o rugido de raiva dele ao ver o que fez com o que é dele.

 

O recinto emudeceu-se completamente. Até mesmo as respirações de todos eram quase inaudíveis. Maxwell, por cerca de um minuto, ficou apenas me olhando, seus olhos vidrados com ira.

 

– Você não sabe o que acabou de fazer. – Suas palavras saíram quase como um sussurro.

 

Irrompeu para dentro da jaula, chegando cada vez mais perto de Kenna e eu, que estávamos no canto mais longe dos lobos possível.

 

– Você acha que Aidan é tão foda? Acha ele um líder tão bom? – A cada passo que ele dava parecia que o chão tremia. – Aidan sequer está aqui, não é? Deixou sua alcateia, que já é pequena, sob os cuidados de seu Gamma. Eu podia ter tomado essa alcateia muito tempo antes, mas queria ter a satisfação de ver você lúcida para apreciar meu trabalho.

 

– Seu desgraçado… – murmurei.

 

– Você sempre teve um significado para mim, Rebecca, e lamentei quando você partiu de Seattle. – Sua voz estava calma e fria. – Você, por um tempo, foi minha fêmea desafio. Vejo que você também é a fêmea desafio de Aidan. Pois bem, se acha que ele é tão grandioso assim, diga-me, por que ele ainda não comeu você?

 

– Você... Cale a boca! Você é um lunático depravado que-

 

– Pois irei provar que sou mais Alfa do que Aidan sequer sonharia ser. Irei concluir o feito que Aidan é incapaz de fazer. – Aproximou-se o máximo possível de nós e chamou seus capangas. – Meninos.

 

Puxou-me pelos cabelos, quase arrancando-os de meu couro-cabeludo. Arrastou-me pela jaula, mas Kenna pulou em cima dele para tentar me ajudar. Infelizmente, os lobos de Max já tinham acatado seu chamado, e Kenna foi empurrada para longe e recebeu um belo chute no queixo, fazendo-a voar como uma boneca de pano para a outra extremidade da cela.

 

Arranhei Maxwell e me debati, tentando soltar-me dele e da dor insuportável em meu couro cabeludo. Minha pele queimava com o atrito de ser arrastada pelo chão. Após chutar Kenna repetidas vezes, caída no chão, um dos homens pegou meus braços, segurando-os para eu não conseguir mais investir contra meu agressor.

 

Tiraram-me da jaula e me jogaram em cima da mesa sem nenhuma delicadeza, trancando Kenna de volta lá dentro e fazendo-me soltar um grito agudo causado pela dor nas minhas costas. Maxwell, consumido pela raiva que nutria de mim, tapou minha boca com agressividade.

 

Quando meus gritos finalmente foram abafados, conseguimos ouvir os barulhos que vinham de fora. Latidos, uivos, grunhidos e ganidos. Parecia que uma guerra havia repentinamente começado.

 

– O que está acontecendo lá fora? – Maxwell perguntou a ninguém em particular. – Vão lá verificar! Não deixem ninguém entrar! – Os homens de Max começaram a sair, mas ele os interrompeu com um berro. – Não todos, seus imbecis! Dois de vocês fiquem aqui comigo. Preciso que segurem essa cadela para mim.

 

Engoli em seco, com sua mão ainda tapando minha boca. Dois homens me prensavam contra a mesa, cada um segurando um lado do meu corpo. Maxwell finalmente decidiu deixar-me gritar.

 

– Tenho certeza de que meus lobos conseguirão lidar com o que está acontecendo lá em cima. Além disso, a lição que pretendo te dar vai durar apenas alguns minutinhos.

 

– São meus irmãos, tenho certeza! – gritei para ele. – Eles estão aqui, vão matar todos vocês!

 

– É tarde demais, Beccinha. E você já está fugindo dessa punição há tempo demais.

 

– Eu vou matá-lo – grunhi. – Juro que se ninguém o fizer antes, vou matá-lo com minhas unhas e meus dentes.

 

Isso só fez um sorriso brotar em sua face, um sorriso doentio que fez meu estômago se revirar. Mas o que intensificou a sensação foi vê-lo subindo em cima de meu corpo. Encarei os olhos castanhos, impiedosos, de Maxwell. Seu lobo estava à tona, sabia disso pela sutil mudança de tom no contorno de seus olhos. Seu lobo era, como o esperado, tão doentio quanto ele.

 

Comecei a me debater, tentando manter Maxwell longe de mim. Cuspi na cara de um dos lobos que me segurava, conseguindo distraí-lo rapidamente e soltar o lado direito do meu corpo. Com toda a energia que me restava, com toda a força que eu dispunha, joguei o peso de meu corpo contra Maxwell na forma de um soco, acertando em cheio sua bochecha. Vi um de seus dentes voar de sua boca, e ele cambaleou para trás, cuspindo sangue.

 

– Sua vadia! – explodiu Maxwell, enquanto o lobo que eu havia distraído já prontamente me empurrava de volta com força contra a mesa, fazendo um choque percorrer minhas costas e o metal da mesa se deformar. – Vou te dar a surra do século! E quando você estiver na beira da vida e da morte, vou tomá-la para mim, antes de terminar o serviço.

 

Maxwell voou para cima de mim, mas dessa vez completamente consumido pela raiva. Pegou minha cabeça em suas mãos e bateu-a repetidas vezes contra a mesa. Minha visão ficou turva, fiquei tonta, sentia que estava prestes a desmaiar. Consegui espiar Kenna, grudada às barras da jaula, desesperada para poder me ajudar. Contudo, ela estava trancada, e ainda por cima segurava sua mandíbula ensanguentada, que parecia estar numa posição nem um pouco natural. Senti o primeiro impacto no meu estômago, e os demais vieram rápidos como tiros. Soco após soco, Maxwell me atingia nos rins, no estômago, e no rosto.

 

Antes de eu apagar completamente, ouvi um estrondo gigantesco no andar de cima, acompanhado de passos apressados e diálogos gritados.

 

– Só quero meu Beta e meu Gamma aqui. O resto de vocês, terminem de aniquilar esses vermes.

 

Ninguém teve tempo de reagir àqueles sons ou àquela voz que eu tanto ansiava por ouvir, tamanha rapidez dos eventos.

 

Consegui ver, através dos filetes de meus olhos já inchados, Aidan surgir, humano, praticamente pulando do andar de cima direto para o subsolo, como se as escadas nem estivessem ali. Atrás dele veio Trevor e Connor, ambos com tanto ódio em suas expressões quanto meu Alfa.

 

Os olhos de Aidan, quentes como o fogo ardente, pousaram sobre a cena e se demoraram nos meus.

 

– Você estará tão morto que seu cadáver ficará irreconhecível – falou apenas, antes de voar para cima de Maxwell Kentner.

 

~x~

 

Aidan

 

Nunca havia corrido tanto em toda minha vida, e olha que, para um antigo bombeiro, essa é uma afirmação e tanto.

 

Assim que eu e os lobos chegamos no que costumava ser nossa casa, agora totalmente revirada e repleta de impostores, percebi que a luta já havia começado sem mim. Nós, que havíamos acabado de chegar, não hesitamos em nos juntar à batalha, prontamente indo ajudar nossos irmãos, que estavam em desvantagem. Robert, que nos havia trazido de volta a Columbus, não pensou duas vezes sobre se juntar a nossa causa e lutava bravamente ao nosso lado.

 

Adentrei a casa, desesperado e em busca de apenas uma pessoa. Era uma mistura tão grande de cheiros que era impossível discernir quem havia passado por onde. Verifiquei todos os aposentos, xingando alto quando vi tanto meu quarto, quanto meu escritório totalmente desarrumados, com papéis, documento e fotografias jogados e rasgados pelo chão.

 

Rebecca não estava ali.

 

Perguntei-me se ela estaria participando da batalha, o que não seria de nenhuma surpresa. Ao menos na parte da frente e dentro da casa não a achei. Peguei um pedaço comprido de madeira, que havia surgido de algum móvel quebrado, e marchei pela porta de trás em busca de algum sinal dela no quintal.

 

Lobos voavam ao encontro uns dos outros, sangue escorrendo de ambos os lados. Meus lobos lutavam bravamente, principalmente estando claramente superados em número. Eu sabia que eles se ajudavam e não eram estúpidos, fatos que me permitiam passar reto por eles em busca apenas dela. E ao mesmo tempo eu não queria demorar para vir ajudá-los.

 

Ao perceber que Rebecca não estava em meio àquele caos, senti-me aliviado primeiro. Depois percebi, em desespero, que se ela não estava ali, deveria estar em uma situação ainda pior. A fúria e resiliência de meus lobos era também um reflexo disso. Lutavam como se não tivessem nada a perder, para poder salvar sua irmã de alcateia.

 

Enquanto atravessava o jardim, aproveitei para dar com o bastão de madeira na cara de lobo que correu em minha direção. Ele ficou atordoado e então abandonei-o, focado mais em procurar Rebecca do que matar esses lobos. Passei ao lado de George que, apesar de ter chegado junto de mim, já estava mais do que integrado na luta. Estava lutando com apenas um oponente, mas vi que outro tinha planos de surpreendê-lo por trás. Com o pedaço de madeira em mãos, corri e finquei o instrumento nas costas do lobo, que não havia me visto chegar, empalando-o. Deixei o bastão ali, no corpo do lobo, e prossegui.

 

Avancei mais alguns metros quintal adentro, mas percebi Clayton, em forma lupina, vindo até mim. Transformou-se no meio do caminho, milagrosamente sem tropeçar. Parecia bastante assustado.

 

Ele estava há poucos metros de mim quando um lobisomem pulou em sua direção, buscando pegá-lo desprevenido pela lateral. Decerto achou que Clayton, estando em forma humana, estaria vulnerável. Porém Clayton, apesar de humano, ainda possuía seus sentidos aguçados e se jogou no chão bem no instante em que o lobisomem o atingiria. O inimigo caiu no chão, rolando alguns metros, o que deu tempo a Clayton para correr até o ancinho que eu usava para fazer pilhas de folhas no outono. Com o instrumento em mãos, correu até o lobo que, apesar de já ter ficado em pé, não conseguiu desviar do ancinho agora fincado em sua garganta.

 

– Aidan, você precisa correr – afirmou Clayton, finalmente podendo chegar até onde eu estava.

 

– Do que está falando? O que sabe? Preciso achar Rebecca.

 

– Sim, é disso mesmo que estou falando. – Clayton estava ofegante, seu peito subindo e descendo com dificuldade e o ancinho em mãos. Percebi que estava ferido, uma marca de uma mordida sangrava na altura de sua clavícula esquerda. Ele percebeu meu olhar e minha preocupação. – Nós damos conta do pessoal aqui fora, mas ela está no Prédio de Questionamento. Os lobos aqui de fora não estão deixando nenhum de nós chegar perto, mas nós vamos fazer nosso melhor para mantê-los ocupados até você conseguir chegar lá.

 

Percebi que Trevor e Connor não estavam muito longe de onde eu e Clayton trocávamos nossa conversa rápida. Chamei-os para vir comigo e corremos até o Prédio de Questionamento, Clayton, Mathias e Liam nos seguindo, para engajar qualquer lobo que tentasse nos impedir.

 

– O que ouvimos lá dentro Aidan... – Mathias hesitou – Não parece nada bom. Elas estavam presas, mas alguma coisa aconteceu que começaram a brigar.

 

– Por isso iniciamos o combate antes de vocês chegarem – Clayton acrescentou, mas logo em seguida ele e Liam correram em frente, na porta do Prédio, pois havia dois lobos de prontidão, certamente com o intuito de não deixar ninguém entrar. Meus lobos iniciaram o combate, conseguindo deixar a entrada livre para nós.

 

‘Elas?’

 

Eu nem sabia quem era a outra pessoa, e nem conseguia raciocinar sobre aquilo no momento. Mathias, sem perder tempo, transformou-se em lobo e jogou-se contra a porta trancada. Com o estrondo causado pelo peso de um lobisomem, a porta do Prédio de Questionamento foi quebrada e, agradecendo Mathias, voei para dentro.

 

– Só quero meu Beta e meu Gamma aqui. O resto de vocês, terminem de aniquilar esses vermes – ordenei, não sabendo ao certo se só Mathias nos acompanhava ou se Clayton e Liam já tinham voltado.

 

Quando enfim cheguei ao subsolo congelei por alguns segundos.

 

Havia Rebecca, uma mulher e três homens. A mulher estava trancada na jaula, nua e com a mandíbula quebrada de uma forma que certamente era muito dolorosa. Ela segurava o queixo, mas dava para perceber que, se soltasse, sua mandíbula ficaria pendendo de uma forma horripilante. Rebecca estava jogada na mesa, dois homens segurando-a e Maxwell Kentner em cima dela, socando-a até o limite de sua lucidez.

 

Meu lobo já estava prestes a sair desde que havíamos chegado em casa, porém, vendo aquela cena, ele estava sedento por justiça.

 

Os olhos de Rebecca estavam cheios de mágoa, sofrimento e fúria. Estavam desfocados e inchados, como se ela estivesse a apenas um soco de desmaiar. Eu não conseguia discernir se ela sequer conseguia me ver. Ela estava impotente em uma situação muito perigosa e certamente se culpava por isso. Além da obviedade do mal que estavam fazendo a ela, eu queria destroçar todos os filhos da puta que invadiram meu território pelo simples motivo de fazê-la se sentir assim.

 

– Você estará tão morto que seu cadáver ficará irreconhecível – comuniquei com uma falsa tranquilidade, tendo o efeito desejado em Maxwell. Minha voz calma e gélida fez o bastardo congelar no lugar e, no mesmo instante, avancei contra ele.

 

Connor e Trevor se ocuparam de cuidar dos lobos cúmplices de Max. Quanto à outra mulher, eu sabia que eu não precisava nem comandar. O primeiro dos dois que lidasse com seu respectivo adversário, iria soltar a moça e levá-la até um lugar seguro.

 

Joguei-me contra ele, em um movimento que me remetia aos jogos de futebol americano de meu ensino médio. Rolamos no chão, acertando socos e chutes sempre que possível um no outro. Amaldiçoei-me por ter deixado meu bastão de madeira no lobo defunto. Seria muito útil para espancar Maxwell, um jeito ainda mais humilhante de derrotá-lo. Maxwell conseguiu acertar um soco em meu estômago seguido de um em meu maxilar, fazendo-me parar brevemente para cuspir sangue. Em resposta, soquei seu queixo de baixo para cima, fazendo-o cair de costas no chão.

 

Vendo-o jogado no chão, senti-me mais forte, quase satisfeito. Ele ainda merecia muito mais, mas era óbvio que eu não o deixaria sair ileso. Inclusive, eu havia falado a verdade. Ele não sairia vivo desse Prédio.

 

Aproveitei que ele ainda não havia se levantado e o puxei pela gola da camiseta que, inclusive, era minha. Joguei-o contra a parede sem soltá-lo, dando repetidos socos em seu rosto e ocasionalmente em seu tórax. Sangue escorria de seu rosto, seu nariz já há muito tempo quebrado e cortes se formando em suas têmporas. Ver a cara de sofrimento dele, apesar de prazerosa, não era o suficiente, não quando Rebecca tinha passado por tudo aquilo, não quando ele havia colocado as mãos imundas nela, machucando-a a tal ponto que ela mal conseguia manter os olhos abertos.

 

Parei apenas pois vi uma movimentação atrás de mim. Um dos lobos de Maxwell estava fugindo, e Trevor o seguiu escada acima. Connor e a outra fêmea, apesar de também estar debilitava, ajudavam Rebecca a se levantar e a se acalmar. Ela tremia.

 

Ele a fez tremer. E ele nem se arrependia.

 

No curto espaço de tempo que levei observando Rebecca, Maxwell havia aproveitado para se transformar. Fui surpreendido pelo lobo grande que ele era, quase do meu tamanho, e fui jogado por sua força para o outro lado da sala, arrastando comigo a mesa, derrubando o frigobar e quase derrubando Rebecca e os outros.

 

Antes de deixar meu lobo tomar conta, algo que me custou muito autocontrole, gritei para Connor tirá-las daqui. Tomar cuidado com elas lá fora, mas tirá-las daqui. Nenhuma delas estava em condições de ajudar na retomada do território, mesmo se quisessem.

 

Senti meu irmão lobo implorando para eu deixá-lo sair e fazer com que Maxwell tivesse o que merecesse por ter se metido em nossa alcateia, com nossa Rebecca.

 

‘Eu nunca mais vou deixá-la passar por algo assim’ – Ele jurou, antes de tomar seu lugar controlando meu corpo. – ‘Rebecca nunca mais se sentirá desamparada, não enquanto eu respirar.’

 

Senti a habitual dor e o habitual desconforto da transformação, mas foi uma das únicas vezes que eu ansiava pela dor, pois ela significaria que eu estava pronto para fazer Maxwell sofrer. Após terminar, dei uma breve corrida, o máximo que o espaço contido permitia, e pulei em Maxwell. Prevendo meu ataque, porém, ele me encontrou de frente, mandíbula pronta para se defender e garras longas para me atacar.

 

O que ele não esperava era que minha fúria fosse ampliada com a chegada de meu lobo.

 

Rolamos no chão até um de nós conseguir sair por cima, depois de muitas mordidas e arranhões. Pedaços de carne eram arrancados tanto do corpo dele, quanto do meu. Com uma fúria cega, consegui me colocar por cima dele.

 

E foi então que a carnificina realmente começou.

 

O subsolo já estava todo destruído e ensanguentado, mas agora só com nós dois no recinto, não tinha ninguém mais para atrapalhar ou com quem se preocupar. Maxwell já estava em mau estado, provavelmente já sabia que não teria saída, contudo, ele estava agora preso sobre mim, completamente à minha mercê.

 

E foi assim que eu vinguei Rebecca. Vinguei Rebecca, vinguei meus lobos, vinguei a outra loba que estava presa e vinguei qualquer outra pessoa que ele já tinha machucado na sua infeliz vida. Fui tomado por tamanha ira que parecia que nenhum tempo havia se passado. Talvez tivesse sido de fato muito rápido, mas eu não conseguiria me recordar com detalhes do que eu fizera. Não ouvi os ganidos, os gritos, os protestos, apesar de saber que tinham sido presentes.

 

Apenas fitei as tiras de carne que haviam sido Maxwell Kentner, espalhadas pelo chão, pelas paredes, algumas no teto. Pedaços grandes, médios e pequenos de seu corpo jogados por todos os lados. Sangue por tudo, pingando de cima. Meu pelo estava encharcado, como se eu tivesse saído de um banho no lago, um pouco por causa de meu próprio sangue, mas principalmente por eu ter me banhado no sangue dele. Eu havia cumprido minha promessa. Maxwell Kentner estava irreconhecível.

 

Virei-me para subir as escadas e terminar a batalha ao lado de meus lobos, passando ao lado de um pedaço do rosto desfigurado de Maxwell. O olho lupino que estava naquela tira dele estava arregalado. Encarei aquele órgão como se seu dono ainda estivesse vivo e vendo através dele. Uma vontade primitiva e animalesca emergiu de mim. Eu gostaria de poder pegar cada pedaço do corpo de Maxwell e pendurá-los ao longo da cidade – do país; do continente! – para que todos soubessem o que acontecia com quem fazia Rebecca Young, loba da Alcateia de Columbus, protegida por Aidan Rucker, sofrer.

 

Por Deus, eu queria fazer todos os lobisomens do mundo saber! E por isso fiz questão de pisar com minha pata traseira no que sobrou de seu rosto, esmagando aquele olho assustado, como se não passasse de um pedaço de merda que eu precisava limpar de minha pata.


Notas Finais


Por favor deixem suas opiniões, sugestões e críticas nos comentários. O que acharam dos acontecimentos desse décimo quinto capítulo? Estou curiosa.

Caso vocês ainda não tenham visto, já foi postado o Jornal de Entrevista com Corrie Daniels-Barnett, onde ela respondeu todas as perguntas que lhe foram enviadas no final da semana passada. Deem uma olhada, ela revelou bastante coisa sobre si mesma e sobre o mundo de quem nasce lupino! Vão lá também para votar em qual personagem deve ser entrevistado a seguir. :)
https://spiritfanfics.com/jornais/entrevista-dominante--corrie-daniels-barnett-10215942

Beijos e, como sempre, muito obrigada!


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