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História Valente - Parte I - Capítulo II - Revisado


Escrita por: Aella

Notas do Autor


Muito obrigada a todos os leitores que continuam comigo nessa aventura! Vocês são mesmo demais e estou me esforçando muito para continuar a entregar uma história de qualidade igual ou superior a Dominante. c:

Espero que gostem desse novo capítulo, hoje nos olhos da nossa ruiva favorita. Apreciem a leitura!

Capítulo 2 - Parte I - Capítulo II - Revisado


Fanfic / Fanfiction Valente - Parte I - Capítulo II - Revisado

 

Scarlet

 

Era uma sensação estranha para mim, ficar assim. Já havia, claro, ficado nervosa diversas vezes na minha vida, mas nunca em proporções tão grandes como estava agora. Eu estava inquieta. Tentava contar até dez, até trinta, até cinquenta, mas não me acalmava. Tentava colocar uma música calma e lenta para ouvir, só para trocá-la por outra em vinte segundos. Tentava ler algumas notícias pelo celular, mas logo largava para ficar mexendo desconfortavelmente nos fiozinhos da poltrona do avião ou torcendo o fio do meu fone de ouvido.

A viagem para o México havia sido uma verdadeira tortura. Não estava nervosa de um jeito ruim, não era bem isso. Estava muito contente pela viagem, principalmente porque todos acreditávamos que ali conseguiríamos a solução para juntar a Becca e sua loba novamente. Porém, essa ansiedade estava me deixando louca.

Além disso, eu havia descoberto há apenas alguns dias que eu não era uma das únicas Selvagens restantes no mundo, como fui levada a pensar desde sempre. De certa forma eu tinha parentes. Muito distantes, mas mesmo assim parentes. Pessoas como eu, mas que haviam crescido em um ambiente onde todos ao seu redor estavam lá para explicar a eles e a ajudá-los com seus dons, a aperfeiçoá-los. A guiá-los ao longo de seu crescimento, a explicar a eles o que eram, a se unir como uma verdadeira alcateia lupina.

Sentia um pouco de inveja deles. Eu, mesmo sendo criada na Alcateia do Maine com os outros lobisomens, era tratada com uma estranha, como alguém de fora. Havia crescido dentro de uma alcateia? Sim, mas eu não sou loba e nunca fui tratada como tal. Meu lugar não era exatamente ali, mesmo sendo melhor para mim crescer com lobos do que com humanos. Entretanto, não eram minha alcateia, uma família para mim. E de repente descobrir que o Letum sabia que havia várias pessoas como eu, mesmo que distantes, sem me contar ou me dar a chance de conhecê-los… inflava minha raiva crescente dele desde o incidente com Elizabeth Roman.

Tecnicamente Octavian Landon, como havíamos descoberto que era o nome verdadeiro do Letum, era o primeiro e único Alfa que eu já tive. Uma figura paterna, mesmo que se fizesse muito distante. Eu não crescera com nenhuma figura paterna ou materna, pois apesar de ser acolhida pela alcateia, não havia sido realmente adotada por ninguém, não de acordo com a visão tradicional de adoção. Mas sabia que o mais próximo dessas figuras para mim tinham sido Octavian e Gwyneth. Apesar disso – e eu era grata por tudo que fizeram por mim e pelo que puderam me proporcionar – eu não estava em bons lençóis com meu “pai adotivo”.

Eu sempre pressentira, desde pequena, que o Letum me via como alguém inferior, mas, como quase todos na alcateia também pensavam assim, não via nisso uma razão para não gostar do Letum especificamente. À medida que fui crescendo e me aproximando de Lucius de outra forma que não a amizade, fui percebendo outras coisas.

Luke, obviamente, era bem mais velho que eu. Minhas mais jovens lembranças incluíam um Lucius Landon já adulto. Apesar de ser o mais novo dos irmãos, ele não era um lobisomem jovem. Robert já era acasalado com Arabella quando cheguei. Ainda pequena, vi Alexander acasalar com sua companheira, Pearl. Faltava somente Lucius. Sua mãe, Gwyneth, parecia querer que seu filho encontrasse alguém especial também, mas queria mais ainda vê-lo feliz. Não se importava se demorasse mais algumas décadas para a pessoa certa aparecer.

Octavian, por outro lado…

Lembrava-me vagamente de, ainda pequena, ouvi-los discutindo dentro do escritório do Letum. A porta estava encostada, mas era possível enxergar através de uma pequena fresta que havia ficado aberta. Eu estava brincando sozinha, como muitas vezes fazia, pelos corredores da casa do Letum e, como qualquer criança, não poderia ser culpada por minha curiosidade.

Octavian parecia farto de esperar por uma atitude de Lucius. Naquele tempo, se não me engano, ele estava namorando uma loba da alcateia. Agora mais velha e tendo tido minhas próprias experiências com o lobo – sabendo as crenças que ele tinha sobre relacionamentos – não me surpreendo com o fato de que ele não queria dar o passo que faltava com a tal loba. Octavian insistia que ele precisava acasalar logo, que, como um dos filhos do Letum da América do Norte, não poderia ficar solteiro e “farreando” para sempre. Lembro que fiquei chocada quando falou para o filho de que poderia escolher qualquer fêmea não acasalada, não somente de sua alcateia; que podia largar sua namorada da época se já estava desinteressado ou achasse que ela não daria uma boa esposa.

Mesmo com sua falta de interesse em compromissos, Luke havia ficado bastante bravo e ofendido com o pai. Lembrava-me vividamente de ele ter dito:

“Não questiono seu amor e companheirismo para com minha mãe. Sei que vocês se gostam e que um é bastante devotado ao outro. Mas se o senhor, pai, realmente me enxerga como sendo uma pessoa de tão baixa índole, de ser capaz de fazer uma coisa dessas, me faz questionar se quero continuar sendo parte desta alcateia. Não posso renunciar meu sangue, mas posso renunciar meu bando.”

Não preciso dizer que o Letum ficou ainda mais furioso depois disso, furioso ao ponto de me amedrontar e me fazer sair correndo dali. Se eu fosse pega bisbilhotando especificamente essa conversa… dava-me até calafrios de pensar o que poderia ter me acontecido. Luke me protegeria, – eu tinha certeza disso, pois brincávamos bastante naquela época – mas ninguém poderia contestar o poder ou dominância do Letum. Nem mesmo Luke. Se ele quisesse me impor um terrível castigo, ou até mesmo me matar, só dependeria mesmo de sua própria vontade e não importaria a opinião de ninguém.

Ele sempre havia sido bastante frio comigo, o Letum. Às vezes, quando eu era adolescente e Luke havia parado de se envolver em relacionamentos e já não via mais ninguém há um bom tempo, creio que reclamava para o filho que ele passava tempo demais ficando comigo, ao invés de fazer suas tarefas da alcateia ou de socializar com as outras fêmeas. Nunca vi ele reclamando, então não posso ter certeza, mas acredito fortemente que deveria ter acontecido não uma, nem duas, mas várias vezes. Era simplesmente da natureza de Octavian, fazer uma coisa dessas. Eu sabia que Lucius faltava a reuniões ocasionalmente, não fazia a patrulha do território, nem sequer procurava trabalhar para ajudar nas finanças da alcateia. Ao invés disso, ficava comigo no meu tempo livre. Sabia que ele tinha pena de mim, que eu ficava muito sozinha, mas havíamos nos tornado amigos de verdade.

À medida que eu crescia e fui superando minhas pequenas paixões adolescentes pelos vários lobos à disposição na alcateia – que eu sabia que eu nunca poderia namorar, pois nunca se interessariam por uma mera raposa – comecei a perceber Luke. E apesar de hoje eu já ter tido e passado por meu momento com Lucius, ele era facilmente um dos lobisomens mais encantadores da alcateia. Ainda por cima, ele gostava de mim – no mínimo de minha companhia. Eu não tinha dúvidas de que, por causa de nossa aproximação que parecia só aumentar, o Letum começou a perder a paciência e simpatia comigo, que já não era muita.

Quando eu decidi me mudar, viver a minha vida e não a de um lobisomem, eu imaginava que Octavian deveria ter oferecido um sacrifício humano para o deus dos lobisomens em agradecimento. Alguns meses depois, porém, quando Lucius apareceu em minha porta dizendo que queria morar comigo para minha proteção – proteção, claro… – eu imaginava que os dois haviam travado uma terceira guerra mundial. Como Lucius conseguiu a permissão de seu pai para sair da alcateia e viver como solitário, e comigo de todas as pessoas possíveis, eu não fazia ideia. Porém, de uma coisa eu estava certa: o Letum não queria ver minha cara tão cedo.

Apesar dessas implicâncias com Luke, e talvez desse terrível jeito de pensar, Octavian era um ótimo Alfa e um bom líder. Lembrava que muitos lobos sempre o elogiavam, e não era por medo ou opressão, mas por pura admiração. Com o tempo, infelizmente, as coisas mudam. Principalmente quando o tempo parece nunca passar, quando se é antigo demais.

Para seu azar, o Letum acabou me encontrando de novo, cara a cara. Não somente isso! Ele poderia ter me encontrado em um café, passeando na rua, no supermercado. Mas é claro que ele me encontrou lutando junto de seu filho – extremamente protetor em relação a mim, diga-se de passagem – e a cereja em cima do bolo era que ele me viu matar sua ex-namorada.

Parece a situação ideal, não?

Uma situação tão esplêndida que ele inclusive tentou me matar depois de eu ter incendiado a louca da vampira que causou tanto sofrimento a mim e meus amigos. Confesso que na hora eu não estava entendendo nada do que estava se passando. Roman estava obviamente tomada de raiva por ele, tentando matá-lo, mas ele permanecia sem querer ferir a mulher, mal se defendia. Não fazia sentido. O Letum tinha sérios problemas em seguir em frente, pelo visto. Na hora, contudo, eu nem pensei duas vezes antes de agir e terminar o que havíamos começado. Não interessava para mim se os dois ainda sentiam algo um pelo outro, ou se precisavam acertar as coisas. Era por causa daquela infeliz que minha melhor amiga sofreu tanto. Não somente ela, mas vários outros lobos antes dela, que inclusive não tiveram tanta sorte quanto Becca e Bexi, que ainda estavam vivas. Roman era um perigo para meus amigos e para a raça. Na realidade, fizemos o trabalho de Octavian naquele dia. Nada mais do que ele mesmo deveria ter feito sem hesitar.

E eu sabia que, para piorar tudo ainda mais, se não fosse por Lucius eu teria virado lanchinho de lobisomem.

Suspirei. Eu não me sentia bem pensando no Letum, então me enrolei mais no lençol da cama de hotel, ajeitei os travesseiros e liguei a TV. A maioria dos canais era em espanhol, língua que eu só sabia algumas palavras, mas não estava a fim de entender muita coisa no momento. Apenas queria ver as imagens passando e ouvir o burburinho da TV para abafar meus pensamentos.

Agora Luke havia partido, voltado para sua casa. De certa forma, Octavian conseguiu o que queria, mesmo não sendo nas condições preferíveis. Eu tinha certeza de que ninguém o deixaria comandar por um tempo, pois ele precisava se recuperar e buscar tratamento. Quem estaria no comando agora seria Alexander, visto que Robert estava nos ajudando. Luke também estaria ajudando o irmão e, talvez, sendo o mais responsável que ele já foi na vida.

Havíamos nos despedido com um silencioso entendimento. Antes do que aconteceu com Roman eu estava friamente furiosa com o lobo. Estava cansada de ficar estagnada como uma amiga que não poderia ser sua namorada, apesar de, entre quatro paredes, agirmos como namorados. Não era isso que eu queria para mim mesma. Eu via agora que ele jamais iria mudar e que era perda de tempo eu tentar persistir. Após a luta e todos nós quase termos morrido, por diversos fatores, percebi que o jeito que ele me olhava havia mudado, mas a chama em seus olhos ainda não queimava forte o suficiente.

Nós éramos extremamente importantes um para outro. Eu acreditava fortemente que era provável nunca encontrarmos outra pessoa assim, mas sabíamos que nossa relação funcionava melhor sendo apenas o que era quando eu era mais nova: uma forte amizade com uma vontade de amar que sabíamos que não conseguiríamos saciar.

Eu sentia sim saudades dele e talvez até desejasse ter tido mais coragem para me despedir de uma forma direta e em particular, mas não tive. Eu sabia que o que ele estava fazendo no Maine era sua missão, sua herança e seu dever. Ele podia ser o terceiro na linhagem para assumir a posição de Alfa dos Alfas, porém ainda era indispensável.

Não tinha como saber se ele voltaria para o estado de Ohio. Se acabassem por decidir que Robert deveria assumir a posição, eu sabia que nada mudaria na vida de Alexander, por exemplo. Mas para Luke podia ser diferente. Talvez, por ser seu irmão mais novo e agora ter um homem a menos na família, Lucius decidisse que fosse melhor ele ficar e ajudar seu irmão mais velho nos primeiros anos de governo.

Iria, Lucius, pensar em mim? Eu apostava que sim, igual eu pensaria nele também. Entretanto, seria mais no sentido de imaginar como um estaria tocando a vida sem o outro. Quem saberia dizer o que Luke faria em sua alcateia de origem? Conhecia todos de lá muito bem, conhecia as fêmeas de lá muito bem.

Ouvi o clique do cartão da porta sendo utilizado para abri-la. Saber que meu colega de quarto havia voltado do mercado para me fazer companhia me deixou mais leve. Estava na hora de eu parar de passar todo meu tempo livre pensando em o que Luke estaria fazendo.

Riley entrou no quarto com seu típico sorriso e sua típica frase de olá.

– Oi, meu amor. – Mexeu em seu cabelo loiro para tirá-lo do rosto, bagunçado por causa do vento, enquanto punha as sacolas em cima da pequena mesa que acompanhava o quarto. – Comprei café que você pediu. Não lembrava se você gostava do tradicional ou do extraforte, mas peguei o tradicional porque achei mais seguro. – Ele riu de si mesmo. – Comprei também um grande pote de chantili. Sei que você sempre fala que quer tomar café com chantili, mas nunca compra você mesma.

Isso chamou minha atenção e me sentei na cama para ver melhor cada item que ele tirava da sacola e guardava no armário ou no frigobar.

– Você é muito atencioso, Riley – elogiei-o com um sorriso preguiçoso no rosto, mas era verdade.

Eu nunca havia me envolvido com alguém que se importasse tanto comigo ou prestasse tanta atenção em tudo que eu falasse. Contudo, Riley era assim, e ele estava sendo a melhor parte do meu último mês.

– Não é nada demais – respondeu, ainda tirando os itens das sacolas. – Apenas vi lá na prateleira e lembrei de você na hora.

Sorri para mim mesma. Na época em que vivíamos, parecia que ninguém mais se lembrava de lembrar do outro. Mas para Riley isso era de sua própria natureza. Senti-me um tanto culpada. Sabia que se nossos papéis fossem invertidos, e eu tivesse saído para fazer compras e ele ficado, sem dúvidas eu teria passado todo o tempo pensando em Luke. Ao invés de me preocupar com o tipo de café que ele quisesse ou comprado chantili para acompanhá-lo, seria capaz inclusive de eu esquecer completamente de comprar o café. Ou pior, comprar o chá gelado que Luke gostava no lugar do que Riley pedira.

– Ventando muito lá fora? – perguntei, mais para tentar parar de me torturar mentalmente do que por interesse.

– Nossa, demais. – Por reflexo, mexeu em seu cabelo, novamente tentando, em vão, arrumá-lo. Só conseguiria arrumar o cabelo de novo com uma boa penteada. – Mas até que não é ruim. Está muito quente lá fora, Scar. O vento refresca. Ainda bem que você e Aidan vão sair somente quando escurecer, acho que você não vai precisar sair de regata. Pode ousar vestir uma blusa de manga curta, mas é só palpite. Não me culpe se você suar até desidratar.

Dei uma risadinha sincera. Riley estava sempre de bom humor, o que me deixava sempre de bom humor por tabela quando estava na presença dele.

– Vou levar em conta seu conselho – falei antes de me deitar de novo na cama e pegar o pacote de salgadinhos que ele havia jogado em minha direção. – Acho que vou passar um tempo com a Bexi antes de sair, se ela não estiver com o George, é claro.

– É uma boa ideia. Ela deve estar ansiosa.

– Deve mesmo. Se eu quase não consigo me aguentar parada, imagine ela.

– É ótimo que George pôde vir junto. Acho que vocês não sabiam, mas a agenda dele é bem lotada lá em casa.

– Eu não sabia que ele era assim tão renomado – confessei. – Mas se ele consegue até consultar o fantasma de um lobo que não fala, acho que eu me consultaria com ele também se um dia precisasse.

Não pude deixar de pensar comigo mesmo que eu provavelmente precisava, visto que eu precisava me esforçar para tirar meu ex-amante da cabeça a todo instante.

Riley abriu um sorriso brincalhão e veio se sentar ao meu lado na cama.

Quando ele havia saído para fazer compras, eu havia ido tomar um banho. Depois do banho, porém, eu não havia terminado de vestir minhas roupas. Talvez fosse por pura preguiça, talvez eu estivesse muito inquieta, talvez eu estivesse ocupada demais pensando em Lucius. Enfim, eu estava apenas vestindo uma camiseta e minhas roupas de baixo, nada mais, mas até aquele momento eu estava okay. Estava embaixo dos lençóis afinal, pois gostava de deixar o ar dentro do quarto frio o suficiente apenas para eu querer me cobrir com uma camada de cobertas.

Agora, porém, Riley veio se juntar a mim na cama. Ele era adorável e eu estava gostando muito de onde estávamos indo com nosso relacionamento – nada sério demais, mas ao mesmo tempo extremamente confortáveis um com o outro. E certamente ele já havia me visto com menos roupas do que agora. Contudo, não pude deixar de sentir meu rosto esquentando ao pensar se ele ia querer apenas se aconchegar ou aproveitar um pouco mais do tempo que tínhamos até eu sair.

– Você nunca viu os dois juntos, né? Tipo em uma “consulta”? – Neguei com a cabeça. – É muito interessante – explicou, agindo com naturalidade em relação a minha nudez parcial. – Como a Bexi não fala, obviamente, já que é literalmente o espírito de um animal, para fazê-la ficar mais confortável ele mesmo se transforma em lobo.

Concordei com a cabeça, não tendo pensado nessa possibilidade. Agora que eu parava para pensar, a maioria dos lobisomens se transformavam para se comunicar mais intimamente com Bexi. Certas coisas podiam entender apenas com alguns movimentos corporais dela, mas a maioria das coisas suas partes lupinas conseguiam entender e se identificar melhor do que as partes humanas. As únicas exceções a isso éramos eu e Aidan.

Eu conseguia me comunicar com ela relativamente bem provavelmente graças a nossa forte ligação antes de elas serem separadas. Durante os meses em que Becca havia morado em Columbus, nós logo havíamos tido uma evidente conexão e forte amizade, passando quase todo nosso tempo livre uma na companhia da outra, ocasionalmente com Luke no meio. Mesmo assim, eu achava que os lobos dos meninos conseguiam captar ainda mais do que ela queria dizer, como verdadeiros lobos em uma alcateia.

Aidan, bem, os dois possuíam quase que uma linguagem própria, secreta e apenas deles. Acho possível que algumas coisas eles não conseguiam compreender totalmente – seja com palavras, seja com gestos corporais – mas com certeza faziam parecer que sabiam tudo que o outro queria comunicar. Eu acreditava que os dois estavam em tamanha sintonia um com o outro que nem precisavam entender cem porcento de cada coisa. Ficavam confortáveis com talvez a metade disso.

– É inclusive mais fácil para ele falar com ela, né. Para confortá-la e tudo o mais. Creio que a Bexi prefira receber um afago de lobo do que um abraço humano desajeitado, mesmo que no fundo seja a mesma pessoa a lhe fazer o gesto – continuou Riley.

Concordei verbalmente com Riley. Já devia ser difícil o suficiente para uma loba, que nunca existiu sozinha, estar separada e tão longe de sua outra metade. Precisávamos sempre deixar a Bexi o mais confortável possível. George, por ser o mais submisso e já estar acostumado a lidar com o psicológico abalado de pessoas devido a sua profissão, certamente tinha alguma expertise nisso. Contudo, se havia alguém que a deixava ainda mais à vontade, mais até do que eu, esse alguém era Aidan.

Talvez fosse porque ele era o Alfa dela. Um quesito puramente animal, já que agora o que restou era somente o lado lupino de Rebecca. Ela estava vulnerável, apesar de ser dominante, e queria ficar perto de seu Alfa. Eu conseguia compreender isso. Com ele, ela tinha a certeza de estar em boas mãos e segura. Além disso, sempre que estavam próximos, Aidan aproveitava para lhe fazer algum tipo de carinho, para tentar acalmá-la ou relembrá-la de que ela era importante para todos aqui. Nessas situações, eu suspeitava que Bexi não se importava de Aidan estar em forma humana, pois um lobo não consegue fazer carinho atrás da orelha tão bem quando um humano.

Bem, de todas nossas suposições para com a Bexi, uma coisa era fato: ela estava mais à vontade com Aidan do que eu jamais imaginaria ser possível, levando em conta sua aversão, desde que eu a conheci, do Alfa da região. Mesmo depois de entrar na alcateia, ela nunca havia estado tão próxima dele. Uma das coisas que me intrigava seria se esse relacionamento – essa mudança de atitude – iria mudar quando nós conseguíssemos salvar a Becca. Iria ela, inteira e não mais separada, agir da mesma maneira?

Havia também Mathias, metido no meio da equação. Logicamente eu lembrava como ela e Mathias haviam se aproximado em Las Vegas, de forma rápida e arrebatadora. Eu não havia passado tempo o suficiente com ele para formar uma opinião concreta. Entretanto, já estava pendendo para o desgosto, pois, querendo ou não, ele havia deixado a Becca com os caçadores e salvado a si mesmo. Eu sabia, melhor do que ninguém, como a Becca podia ser insistente quando queria, e não duvidava de que ela devia ter gritado e teimado para ele fugir e se salvar, a buscar ajuda. Apesar de toda a insistência do mundo, eu jamais faria isso, e não achava louvável que um possível namorado da Becca fosse capaz de acatar a esse desejo martirizante dela. Talvez fosse burrice minha, mas eu preferia ver a Becca com um homem que valorizasse a honra acima da esperteza.

Além disso, nas últimas semanas em Columbus, eu havia percebido que Mathias não passava mais tanto tempo com Bexi. Parecia até desconfortável com ela, nas poucas vezes que vi os dois juntos. Acho que eu não tinha sido a única a perceber, também. Aidan era suspeito, eu sabia, mas ele parecia não querer que ela passasse muito tempo com Mathias de qualquer maneira, principalmente não mais do que ela passava com ele próprio.

– Sabe o que mais eu comprei, também? – Riley interrompeu meus pensamentos, fazendo-me refletir agora nos minha própria condição amorosa, e não na de Rebecca. – Vinho.

Não consegui conter uma gargalhada. Não esperava que ele fosse comprar vinho no meio de uma viagem.

– Para mim obviamente não faz diferença, apesar de eu apreciar o gosto. Mas ouvi falar que você é fã de uma taça ou duas de vinho, no fim de tarde… Talvez mais de duas.

Levantei a cabeça para ele ainda gargalhando, mas imediatamente parei quando encontrei seu olhar. Levantou-se para abrir o vinho e me servir um copo, mas durante todo seu trajeto, não quebrou nosso olhar em momento algum.

Riley era a personificação da simpatia, isso todos sabiam. Mas havia um único momento em que não havia sequer um traço de simpatia em seu rosto: quando ele estava pronto para reivindicar o que era dele. E, com aqueles olhos castanhos e vorazes em cima de mim, eu sem dúvidas iria me permitir ser dele, ao menos naquele momento.


Notas Finais


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