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História Valente - Parte I - Capítulo IV - Revisado


Escrita por: Aella

Notas do Autor


Após certa demora (desculpem-me por isso) estou aqui trazendo o capítulo quatro! <3
Espero muito que gostem, teremos algumas surpresas no final deste capítulo. Quero muito saber a reação de vocês a isso. :P
Beijos!

Capítulo 4 - Parte I - Capítulo IV - Revisado


Fanfic / Fanfiction Valente - Parte I - Capítulo IV - Revisado

 

Lucius

 

Meu lobo bufava em minha mente enquanto eu caminhava. Em parte, eu estava tenso, não fazíamos isso há um bom tempo, mas eu sabia melhor do que ninguém que ele estava, na realidade, muito irritado. Não era apenas para o público que éramos o quarto lobo mais dominante da região. Não, era para valer, e ter de acatar ordens dos outros não era uma tarefa fácil.

Principalmente quando quem estava ordenando era nossa mãe.

Dona Gwyneth era mais do que aparentava, isso seus filhos sabiam como ninguém. Ela era doce por fora – e por dentro também, lógico – mas quando estava determinada a algo… Creio que nem meu pai a segurava. Minha mãe não era dominante no sentido biológico da palavra, não como eu e meus irmãos, não como meu pai, nem como os outros Alfas. Ela tinha seus jeitinhos de conseguir o que queria, sem nenhum deles conter hierarquias ou demonstrações de poder.

Comigo e meus irmãos, ela conseguia as coisas simplesmente por exercer seu papel de matriarca, quem nos gerou, quem trocou nossas fraldas e tratou nossos machucados. Isso já dava a ela um status especial e inquestionável, como deveria dar a qualquer mãe em qualquer família. Entretanto, não era só a nós que ela dominava.

Ela fazia gato e sapato não só da alcateia, mas da cidade inteira. Todos a conheciam, como conheciam ao resto de minha família, mas mesmo os outros lobisomens não a obedeciam por ela ser a Fêmea Alfa da América do Norte. Não, minha mãe conseguia sempre o que queria porque era, quando em seu interesse, inacreditavelmente doce. Chegava a quase me dar náuseas, dependendo da situação. Mas eu não a culpava por isso, ela era doce por natureza com quem ela realmente amava. E, além disso, sendo uma fêmea submissa, tinha de conseguir uma estratégia para ser ouvida e respeitada em nosso mundo. Se um dia alguma coisa acontecesse com meu pai e seus três filhos, – e como os lobos não morriam de velho as chances de ela ser a última a morrer, mesmo após os filhos, podia muito bem acontecer – ela tinha de ter seu mecanismo de defesa, mesmo que esse mecanismo fosse conseguir o maior número de aliados e amigos possível, seja essa amizade verdadeira ou não. Ela era manipuladora, mas apenas por ter em vista sua própria sobrevivência caso algo acontecesse ao resto de nós.

De qualquer forma, Dona Gwyneth estava no meu pé agora que eu voltara para casa. Queria eu ter voltado? Honestamente, eu sabia que tanto fazia. Naquele momento, estar aqui ou estar em Columbus iria me trazer o mesmo nível de satisfação: nenhum. Não que eu não sentisse falta da minha família ou velhos amigos, sem dúvidas estava aproveitando para matar as saudades, mas não era o melhor momento para estar no Maine.

As coisas aqui estavam tensas, e dizer isso era um eufemismo. Todos os lobos da alcateia, e eram dezenas, estavam no limite. Estavam sedentos por alguma notícia e apreensivos com qualquer estrangeiro. O Letum não via muita melhora fazia dias, estava estacionado no seu tratamento. Estava um pouco mais lúcido, conseguindo raciocinar com mais sentido, mas ainda precisava de supervisão constante e auxílio psiquiátrico. Tinha pequenos surtos de vez em quando, e precisávamos de vários lobos e drogas fortíssimas para controlá-lo.

O povo estava ansioso por uma melhora, mas o único que poderia acelerar esse processo seria ele mesmo. Além disso, nossas “fronteiras” de alcateia estavam oficialmente fechadas. Não estávamos recebendo nenhum lobo de outro território e nem deixando ninguém sair. A notícia do estado do Letum era o mais confidencial segredo. Os únicos a saber, além da nossa alcateia, eram Aidan e seus lobos, e neles eu confiava.

No momento, também não era uma boa ideia solitários virem tirar férias aqui no extremo nordeste. Eles já não costumavam passar por aqui, só os mais desavisados, mas nesse momento, com um segredo desse em nossas mãos, os lobos solitários, que já não eram muito bem-vistos aqui, com certeza seriam visados para captura. O que fariam ao capturá-los? Bem, isso dependia muito dos lobos que pegassem o solitário...

Infelizmente ou não, havia um sério preconceito com solitários aqui no Maine, espalhado pelo estado inteiro. Como éramos a alcateia principal, a que continha, nas palavras de alguns, “a realeza lupina”, estava carimbado na cabeça das pessoas daqui que o correto é o lobo viver em alcateia. Mesmo se o solitário fosse completamente são e inofensivo, iria ter dificuldades se passasse por aqui.

Eu tentava não me posicionar em relação a isso, não tinha uma opinião formada. Rebecca havia sido solitária por seis meses, e era uma das pessoas mais queridas, de seu jeito particular, que eu já havia conhecido. Mathias e seus amigos já eram outra história. Nada contra o cara em si. Eu via, diferentemente de Aidan, a inteligência em suas atitudes. Não, eu não colocaria minha mão no fogo por aquele cara, não sabia se ele havia pensado a longo prazo ao deixar Becca para trás ou se queria apenas salvar o próprio couro. De um jeito ou de outro, eu sabia que a cegueira de Aidan para esses fatos era causada por ciúmes e pouco a mais.

Parei no meio da calçada para olhar o carrinho de flores da jovem Laura. Laura agora devia estar se formando no ensino médio e tocava o comércio para a mãe quase todas as tardes. Não eram lobos, mas eram da cidade. Vizinhos de longa data. Respirei fundo antes de me aproximar, não queria descontar minha raiva na garota, que era alheia a todos os meus problemas, para a sorte dela.

Ah, se minha vida fosse tão descomplicada quanto a de Aidan… Eu sabia que Rebecca estava entre a vida e a morte, – ou algo pior: o limbo existencial de um lobisomem sem lobo, caso Bexi desaparecesse – e não passava um dia em que eu não pensava nela e em como estariam fazendo para recuperá-la. Mas os dois, amorosamente, estavam perdendo tempo. Eram almas gêmeas? Sei lá, quem sou eu para dizer? Mas claramente havia uma conexão entre os dois que ambos fingiam que não viam. Complicavam o descomplicado.

Enquanto isso, eu estava sendo forçado a comprar flores que não queria comprar, para entregar a alguém que eu não queria rever, em um encontro que eu não queria ir. Revirei meus olhos para mim mesmo, era melhor acabar logo com isso. Laura já abriu um sorriso ao me ver e tentei não pensar muito no rubor que tomou conta de seu rosto enquanto eu me aproximava.

– Boa tarde, Laura. Como vai?

– Oi, Lucius. É bom ver você de volta em casa. – Passou a mão em seus cabelos, como que para arrumá-los, apesar de já estarem bem bonitos. – Ah, vou bem, obrigada. E você? – respondeu após alguns segundo de silêncio mútuo. Parecia envergonhada de ter esquecido minha pergunta, e eu achei graça.

– Estou bem. Matando a saudades do pessoal.

Laura desviou o olhar do meu e encarou o chão, envergonhada.

– Poderia me ver um buquê de flores, por favor? – pedi, e notei que ela ficou desapontada ao perceber que eu não havia vindo para ver ela, mas sim para comprar suas mercadorias.

– Claro. – Gaguejou levemente. – Qual flor gostaria, e qual cor?

– Ah, qualquer uma. A que você achar mais bonita, sei lá – falei com desinteresse, e ela me olhou de testa franzida. Deveria estar me achando um canalha.

Acabou por pegar um buquê de rosas cor de rosa e amarelas. Agradeci de forma simpática, paguei e fui embora. Fiz meu melhor para ser gentil com ela, mas nem mesmo com meu maior esforço eu conseguiria fingir me importar com o que dar a Alice.

Um calafrio percorreu a minha nuca só de pensar nela. Honestamente, não fazia sentido eu me sentir assim. Ela era bonita e inteligente. Era uma das fêmeas mais atraentes da alcateia e era surpreendente, com tantos machos por aqui, que ela não havia acasalado ainda. Segundo Alexander, era porque ela estava me esperando por todo esse tempo. Pfft.

Mesmo assim, eu me sentia mal. Na verdade, desde que eu voltara de Columbus, eu havia, talvez até de forma inconsciente, me mantido longe de outras mulheres. Mesmo com todas suas qualidades Alice era, para mim, completamente ordinária. Logicamente eu já havia notado, e talvez até comentado em algum momento de minha vida, suas qualidades. Mas não tínhamos nada em comum, nada nela me fazia querer passar tempo com ela.

Porém, eu era obrigado a isso graças às ordens da Dona Gwyneth. Todos aqui queriam me ver acasalado e tomando algum posto na alcateia, assumindo alguma responsabilidade para ajudar a governar os lobisomens. Mas eu não queria isso, havia apenas nascido em meio a isso. Eu não era como meus irmãos e o tempo que passei como solitário, com o consentimento de Aidan, me fez perceber isso com mais clareza ainda.

Mas no momento eu fazia tudo isso pensando em minha mãe. Ela estava passando por coisas suficientes agora, com o marido no estado em que estava. Ela não era tão velha quanto ele, mas esteve com ele por boa parte da vida dele. Ela certamente sentia que o fim, para meu pai, estava por vir. Eu via em seu olhar, ela estava assustada. Depois de viver tanto tempo com uma pessoa, séculos até, é muito difícil conseguir seguir em frente sozinho. E, além do mais, eu não precisava me casar com Alice. Mas passar um tempo com ela – ou como a mãe dizia, dar a ela uma chance – não iria me matar.

Não literalmente, só de tédio.

Cheguei no pequeno café em que combinamos nos encontrar. Para minha felicidade ela ainda não havia chegado. Ótimo, tinha mais tempo para ficar a sós e menos tempo para ficar com ela. Eu tinha a desculpa de precisar estar de volta no escritório do meu pai até às sete para participar de mais uma reunião chata sobre a gestão da alcateia. Essas eram as menos chatas, piores ainda eram as reuniões de orçamento geral das alcateias – como eu odiava contabilidade. Analisar os gastos de cada uma das dezenas de alcateias de nosso território e debater quais poderiam pagar mais impostos e quais deveriam receber mais auxílio era, para mim, uma verdadeira tortura. Se eu iria mesmo para a reunião das sete? Ainda não havia decidido. Se eu não fosse, certamente iria receber um sermão de Alexander, mas para isso eu realmente estava pouco me importando.

Meu tempo sozinho logo se encerrou e a acompanhei com o olhar enquanto ela adentrava o café. Procurou-me, preocupada, com seus olhos azuis e cabelos escuros esvoaçando quando virava sua cabeça de um lado para o outro. Quando finalmente me viu – o que levou um pouco de tempo, pois eu havia escolhido a mesa mais reclusa possível – abriu um sorriso e abaixou o olhar, envergonhada. Até achei fofa sua aproximação, e pensei comigo mesmo que talvez, apenas talvez, esse encontro não fosse ser tão desastroso assim. Fazia, afinal, muito tempo que eu não passava tempo com Alice, talvez eu acabasse me divertindo.

– Boa tarde – cumprimentei-a, levantando-me educadamente. Não era porque eu não queria estar com ela, afinal, que iria tratá-la mal.

– Boa tarde! – Ela sorriu e me envolveu em um caloroso abraço. Nunca havíamos sido tão íntimos, mas pelo visto ela gostava de pensar que fôssemos. – Há quanto tempo não te via, Luke! Parece que se passaram séculos!

Resisti a tentação de revirar meus olhos na sua frente, mas meu lobo fez isso por mim, mesmo sem meu consentimento. De qualquer forma, Alice estava ocupada demais me apertando e sustentando o abraço por tempo demais para perceber.

– É, fazia tempo que não voltava para casa – disse simplesmente, desvencilhando-me dela e indo me sentar.

– Você não devia passar tanto tempo sumido, Luke. – Imitou-me e se sentou. Notei que ela insistia em me chamar pelo meu apelido, mas, como eu lembrara anteriormente, não éramos tão íntimos a esse ponto. – Você é muito importante para a gente, sentimos sua falta. Você nem sequer manda notícias.

Para minha sorte, um atendente veio pegar nossos pedidos e, por isso, fui poupado de ter de dizer a ela que eu mandara sim notícias, só não para ela. Mandava para minha família e amigos mais próximos e Alice, por mais que ela quisesse fingir que fosse – ou forçar-se a se tornar – não era nenhuma das duas coisas. O máximo que fazíamos era ter conversas cordiais em reuniões de alcateia e em festas. Nunca sequer tínhamos ficado.

Enquanto esperávamos nossos pedidos chegarem, puxei assunto com ela, perguntando sobre o que andara fazendo, como estavam as coisas, assuntos genéricos. Para minha surpresa, ela conseguia ser muito agradável quando não estava sendo grudenta ou forçando a barra.

Nossos cafés e lanches chegaram e ela me contava sobre seu novo hobby. Alice trabalhava como uma das secretárias do meu pai, mas recentemente havia descoberto uma nova paixão para se dedicar em seu tempo livre: a fotografia.

Eu achava isso muito interessante. Gostava de pessoas que tinham sonhos e vida fora do trabalho, e admirava ainda mais aquelas poucas que conseguiam fazer dos sonhos seu próprio trabalho. Ela tinha coisas mais interessantes para dizer sobre si do que eu de mim mesmo. Talvez no fundo eu a invejasse um pouco por poder dizer essas coisas de si mesma.

– Tenho álbuns e álbuns cheios, agora – ela dizia enquanto bebericava seu café. – Comecei a fazer um mural no meu quarto também, mas nesse deixei de lado as fotos de paisagens e pessoas. Nesse mural só tem o pessoal da alcateia em forma lupina. – Ela percebeu minha sobrancelha arqueada por sobre a caneca de café. – É uma espécie de projeto pessoal. Eu sei, parece muito bobo.

– Não achei bobo. É uma grande homenagem a todos – falei, sincero e interessado.

– De certa forma – concordou, com um leve corar. – Mas tem muita gente faltando. – Encarou-me com seus olhos azuis por trás de sua própria bebida.

Fiquei em silêncio, imaginando aonde isso iria chegar. Cutuquei minha torta com o garfo, esperando ela dizer mais alguma coisa.

– Gostaria de tirar uma foto sua. Se importaria de servir de modelo para mim? – Seu pedido me deixou um tanto quanto desconfortável, mas o tom de voz que ela utilizou para fazer o pedido havia sido tão doce… certamente de propósito para me forçar a concordar.

– E-eu não sei, Alice. Hoje estou muito ocupado, mal consegui tempo para encaixar essa breve… reunião. – Tentava não admitir para mim mesmo ou para ela que aquilo estava sendo um encontro, pois isso implicaria algum interesse a mais na outra pessoa, interesse esse que eu certamente não tinha.

– Ah, é claro – respondeu sem olhar para mim. – Mas não precisamos fazer isso hoje. Podemos marcar qualquer dia. Quando você puder, eu estarei livre, consigo arrumar um tempinho para você qualquer dia da semana. – Um meio sorriso brotou em seus lábios. – E sei que você conseguiria se esforçar para encaixar mais uma “reunião” comigo, não é mesmo?

Pensei comigo mesmo em como essa mulher era audaciosa, não lembrava dela sendo assim no passado. Ou talvez eu nunca tenha prestado tanta atenção nela como estava agora e por isso me surpreendia. Normalmente eu não veria essa característica como um problema, admirava alguém que corria atrás do que queria. Por causa disso, havia algo em Alice que eu gostava, que eu respeitava. Entretanto, isso estava mais me irritando do que agradando.

Não queria gostar dela. Não queria querer passar tempo com ela. Não queria passar tempo com ninguém.

– Sim, logicamente quando eu puder eu marco com você para nos revermos – respondi educadamente, já aproveitando a deixa para ir me despedindo. Levantei-me da cadeira após deixar o pagamento de ambos os nossos pedidos em cima da mesa. – Porém, não consigo sequer te dizer quando isso será. Você sabe, eu e Alexander estamos conjuntamente tomando todas as funções do Letum no momento.

– Sim, como secretária do Letum tenho uma boa ideia de quanto trabalho vocês devem estar tendo. – Sua resposta havia sido um meio aviso, percebi. Ela saberia exatamente a quantidade de trabalho que eu teria, nem um pouco a menos, nem a mais. Levantou-se então contrariada, certamente não queria que o encontro fosse tão breve.

Consegui notar o brilho em seus olhos quando eu mencionei meu trabalho com as funções do Letum. Meu lobo, desconfiado, não pôde deixar de repensar os motivos pelos quais ela estava buscando nossa companhia. Todos os aspectos que eu achava intrigante em Alice meu lobo dispensava. Talvez ele tivesse bons motivos, afinal, para não querer se aproximar dela, caso os interesses dela não fossem exclusivamente por nossa pessoa.

– Sinto muito por ter de sair com tanta pressa – falei para ela após me despedir com um abraço demasiado longo.

– Entendo perfeitamente. – Abriu um sorriso caloroso, apesar de eu ainda conseguir identificar traços de decepção em sua face. – Esperarei por um telefonema, viu? Qualquer coisa eu consigo seu número, entendeu? – Ela riu com sua brincadeira, mas eu tinha certeza de que a ameaça camuflada dentro da piada era verdadeira.

Saí do café mais confuso do que quando eu entrara. Alice era um livro a ser lido, mas um livro muito mais profundo do que eu imaginara de início. Do mesmo modo, era um livro que eu não tinha vontade de ler, e meu lobo achava uma boa ideia botá-lo de volta na prateleira.

Porém, eu sabia que não podia mais confiar totalmente nos julgamentos do meu lobo, pois eu sabia perfeitamente qual livro ele gostaria de estar lendo se pudesse.

 

~X~

 

Kenna

 

Era mais fácil para mim do que para os outros. Vinha para mim quase com um sexto sentido, caçar. Deveria, a meu ver, vir naturalmente para qualquer lobisomem, mas era visível durante nossas caçadas que alguns tinham mais dificuldades do que outros. Talvez dificuldade não seria o termo correto a ser usado. Afinal, quando chegava a hora de voltar para a casa do Alfa com a caça, todos tinham ajudado de alguma forma a conseguir o grande prêmio, ou conquistado suas próprias pequenas vitórias, como um gambá ou uma lebre.

Uma lebre. Dá para acreditar? Eles realmente se contentavam com um mero mamífero minúsculo que mal saciava sua própria fome.

Bufei enquanto corria atrás dos outros lobos, seguindo a trilha de algum mamífero grande e digno de uma refeição. Pensando melhor, era dessa forma que se formava uma alcateia. Havia os mais fracos e os mais fortes. Os que ajudavam a sustentar, e os sustentados. Eu nunca iria querer ser um dos sustentados, acho que provavelmente não conseguiria viver comigo mesma sabendo que os outros me carregavam nas costas. Mas, felizmente, a verdade era que era eu que carregava muitos nas costas.

Não somente eu, isso eu admitia. Nossa alcateia era grande portanto, havia muitos lobos mais vigorosos como nós. Nosso Alfa, Joseph Beitman, era um ótimo exemplo. Eu o admirava provavelmente mais do que qualquer outro de seus lobos. Ele era um exemplo a ser seguido, com sua virilidade e liderança. Talvez fosse sonhar muito alto, mas eu gostaria de um dia alcançar seu nível de excelência em ser um lobisomem. Talvez até chegar a ser Alfa como ele.

Ou companheira de um Alfa.

Era outro jeito de alcançar meu sonho, mesmo eu preferindo a primeira opção. Eu sabia que eu seria uma excelente fêmea Alfa. Era só dar uma olhada na companheira de Joe, Nora. Era um amor, era muito acolhedora, mas esse era o fim de suas qualidades. Querendo ou não, como muitas das fêmeas que eu já havia conhecido, salvo muito poucas, ela simplesmente não levava jeito para ser um lobisomem.

Em minha antiga alcateia, pequena, só havia mais uma fêmea além de mim. Não necessito dizer que ela era quieta feito um ratinho – submissa ao extremo. Era um contraste e tanto, ela quieta e eu toda espaçosa, exigindo meu lugar. Talvez por isso não tenha dado muito certo. Meus últimos meses aqui na alcateia do Joe, contudo… ah, estava sendo maravilhoso. As fêmeas eram mais submissas do que eu, talvez por isso não gostassem muito de mim. Eu era, eu sabia, uma ameaça para elas. Eu era algo que elas queriam ser, certamente, algo que até os companheiros delas desejassem no fundo de seus subconscientes. De qualquer forma, elas mantinham sua distância por conta própria, pois eu nunca fizera nada a nenhuma delas diretamente.

Enquanto farejava o chão para confirmar que estávamos indo em direção a um grupo de veados, minhas lembranças de meus primeiros dias na Alcateia de Seattle vieram à tona. Realmente, o começo não havia sido muito agradável. As fêmeas, já de cara, não quiseram se misturar comigo. E os machos, bem, alguns tentaram me importunar, mas eu conseguia mantê-los longe sozinha. Os outros, bem, não queriam me dar espaço. Eu realmente não pertencia a nenhum grupo dentro da minha própria alcateia. Estava isolada, de certa forma. Joe me repreendia por minha rebeldia e por incitar brigas com os machos, mesmo sendo eles quem forçavam a barra.

Tudo mudou quando eu o conheci. Nossos olhares já se cruzavam desde o primeiro dia que eu cheguei. Era impossível não olhar para ele, o macho mais alto da alcateia. Forte, era um dos lobos mais imponentes, mesmo não sendo Alfa ou Beta. Certamente teria o potencial de ser, mas provavelmente não queria desafiar ninguém pela posição. Eu teria me aproximado dele antes se tivesse podido, mas ele era sempre escolhido para fazer as coisas para Joe. Era um dos lobos mais próximos de Joe, um dos mais confiáveis e que sempre chegava em casa com o trabalho feito.

Eu lembrava vividamente da primeira vez que nos falamos. Era aniversário de algum dos lobos e eu estava sentada na ilha da cozinha da casa de Joe e Nora, conversando. Já estava de olho nele desde que chegara – um pouco atrasado, mas claramente perdoado. Ele conversava brevemente com os outros enquanto fazia seu caminho até onde eu estava e, mesmo mantendo nossas conversas paralelas, nenhum de nós parou de sustentar o olhar do outro.

Não precisou falar nada para mim. Eu já sabia o que queria fazer. Quando chegou até mim, deu-me a mão e me levou para fora. Despimo-nos e, apesar de perigoso, adentramos a noite na cidade correndo como lobos. Após nos cansarmos, paramos em sua casa e... Bem, é fácil imaginar o que se seguiu a partir daí.

Max era como eu, em todos os aspectos. Era forte, era competente. Era um lobisomem de verdade. Formávamos o melhor casal lupino que eu já conhecera. Um era à altura do outro, cada um se completava exatamente como precisavam. Se ele fosse Alfa um dia, eu seria uma esplêndida companheira. Se eu fosse Alfa um dia, ele seria exatamente o que faltaria em mim para comandar.

Quando começamos a namorar, minha vida na alcateia melhorou mil vezes. Os amigos dele viraram meus amigos. Meu posto na hierarquia subiu tremendamente. Não oficialmente, pois não éramos acasalados – apenas uma questão de tempo, eu sabia – mas todos já me tratavam como se eu fosse. Ele era tudo que eu admirava em um homem, protetor, justo, esforçado. E eu era tudo que ele admirava em uma mulher, eu tinha certeza disso.

Em sua ausência, lembrava de quando ele me achava em meio a floresta durante a caçada. Fazíamos muito isso, ter nossas próprias brincadeiras à parte enquanto saíamos nas corridas noturnas da alcateia. Na maioria das vezes eu corria dele, pois ele preferia assim. Mas eu mostrava com frequência que sabia igualmente ser a predadora.

Meus ouvidos sensíveis captaram os sons de nossas presas. Apesar de estar no meio do nosso grande grupo, aparentemente eu tinha sido a primeira a acertar sua direção. Chamei meus irmãos e irmãs e passei a liderar a caça. Joseph, sempre pronto, juntou-se a mim na dianteira.

Mesmo com toda aquela adrenalina e emoção, não pude deixar de sentir a falta tremenda que o meu lobo castanho estava fazendo. Se estivesse aqui, estaria já em meus calcanhares, pronto para a dar junto comigo o golpe letal em nosso jantar. Iríamos sentir, juntos, a vida se esvaindo daquele frágil animal.

Mas aquela noite eu estava sem Max. Estava com nossos irmãos, mas não era a mesma coisa. E tudo por quê? Porque ele tinha sido convocado para ajudar em uma missão lá em Ohio, com vampiros e sei lá mais o quê.

Bufei de raiva enquanto acelerava, queria descontar minha irritação em carne fresca.

Eu perguntava a Nora insistentemente sobre Max. Perguntava a ela pois eu sabia que Joe iria se irritar comigo, todo dia lhe infernizando. Mas talvez essa seria realmente minha melhor opção, visto que ninguém saberia mais sobre o retorno de Max do que nosso Alfa.

Farejei o ar, desacelerando só um pouquinho antes de voltar com ainda mais intensidade. Estávamos perto agora, e havia muitos.

Eu não entendia por que Max ainda estava lá. Ouvi dizer que era porque o Alfa deles estava fora, e nossos lobos estavam lá para ajudar a defender o território. Independente do motivo, eu estava farta de esperá-lo voltar. Eu sabia que ele não queria estar lá. Ele mesmo havia desabafado para mim que detestou ter sido chamado para participar. Pois então, se ele não podia voltar para casa, eu iria fazer de sua estadia lá menos entediante.

Avistei o primeiro dos veados e uivei com prazer. O olhar assustado do animal, o desespero acompanhado de sua corrida pela própria vida, era pura euforia. Realmente, a caça era minha parte favorita em ser lobisomem – o poder, a tomada de decisão sobre quem morrerá e quem sobreviverá. Havia mais dois veados, os quais também corriam do restante dos lobos. Mas esse não, esse era só meu e do Alfa. Lambi minhas presas em expectativa e deixei a corrida da mãe natureza me levar.


Notas Finais


O que acharam? *O* Não esperavam por novos personagens né? tan tan taaaan
O que acharam da Kenna? E da Alice? Sejam sinceros hasuhsau


Acho que posso começar com os jornais em breve, talvez a partir do próximo capítulo, pode ser? Muita gente tava com saudades <3
Beijos e obrigada pelo apoio de sempre!!!
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