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História Valente - Parte I - Capítulo VI - Revisado


Escrita por: Aella

Notas do Autor


Chegou mais um capítulo quente para vocês e cheio de novas promessas. :3
Espero de coração que gostem!

Capítulo 6 - Parte I - Capítulo VI - Revisado


Fanfic / Fanfiction Valente - Parte I - Capítulo VI - Revisado

 

Lucius

 

Minha mãe me encarava com um sorriso no rosto, do outro lado da sala. Seus olhos azuis escuros estavam brilhando por diversos motivos. Era nessas horas que eu percebia que seu sorriso realmente se parecia com o de um lobo feroz. A felicidade de Dona Gwyneth era graças aos médicos e psiquiatras do meu pai, os quais nós todos esperávamos chegar na grande sala de estar da mansão Landon. A lenha na lareira estalava enquanto esquentava o ambiente, iluminando o rosto de meus familiares.

Eu estava sentado sozinho em uma poltrona, a mais próxima da mesa de bebidas refinadas que meu pai colecionava. Eu poderia não sofrer dos efeitos do álcool, mas poderia fingir, ao menos para mim mesmo. Minha mãe se sentava ao lado de Arabella, companheira de Robert. Ele, é claro, não pôde estar conosco, já que estava no México com Aidan e depois voltaria para Columbus a fim de cuidar do corpo humano de Rebecca. Arabella era, claramente, a favorita de minha mãe, já que seria a próxima fêmea de um Letum. Um dia minha mãe passaria o posto para ela, uma grandiosa cerimônia comparável a uma coroação. Arabella era basicamente a pupila de Dona Gwyneth.

Por esse motivo, mesmo sem querer, havia uma quase imperceptível rivalidade entre Arabella e Pearl. Rivalidade esta notável em seus modos de agir e até mesmo de vestir, para olhos atentos. Como eu fazia parte dessa família a bastante tempo, essas pequenas intrigas eram o que me salvava do tédio em diversas reuniões familiares.

Pearl, companheira de Alexander, sempre fazia questão de estar vestida em um nível acima de Arabella. Hoje, por exemplo, Arabella estava com uma simples blusa polo rosa com uma saia cinza que ia até os joelhos. Enquanto isso Pearl, além de ter arrumado o cabelo – pensando melhor, eu nunca a havia visto com o cabelo desarrumado ou apenas solto – usava um vestidinho de inverno formal e um colar de pérolas, presenteado por minha mãe. Para a infelicidade de Pearl, entretanto, o tom de rosa de seu vestido era quase idêntico ao da blusa de Arabella, o que perceptivelmente a estava incomodando e a deixando de mau humor.

Ao lado dela, fazendo carinho em sua mão para talvez amenizar seu mau humor, estava meu outro irmão, Alex. Alexander estava de cenho franzido, ao contrário de Pearl, que estava mal-humorada, de Arabella, que parecia estar absorta em outro mundo, e de nossa mãe, que possuía um sorriso que parecia não caber em seu rosto delicado. A expressão no rosto de meu irmão era de pura preocupação. Os médicos tinham nos dito que trariam boas notícias, mas, ao analisar meu irmão, pude deduzir que o que eles haviam falado para ele em particular havia sido um tanto diferente do que falaram para o resto de nós.

Enquanto esperávamos, fiquei ouvindo as conversas banais das mulheres com minha mãe. Preferi focar minha atenção nos pequenos detalhes do relacionamento das três fêmeas da família Landon do que deixar minha mente vagar para assuntos mais inquietantes. Era perceptível nas conversas delas como as duas competiam pelo favor de minha mãe. Sempre que Pearl acrescentava alguma coisa à conversa ela dava uma olhada para Gwyneth para ver sua reação, se aprovava ou desaprovava de seu comentário. Deveria ser um tanto exaustivo ser nora da esposa do Letum.

Sem nem perceber, meus pensamentos se voltaram a minha vida em Columbus, aos anos que passei lá, longe da “corte” lupina. Pensei em Scarlet, que já havia fugido daqui. Mesmo se eu quisesse, mesmo se um dia seria possível eu e ela ficarmos juntos… como ela conseguiria se adaptar a isso? Scarlet não era como Pearl, não era como Arabella, não era como Gwyneth. E não era nem sobre licantropia que eu estava pensando. Este era outro problema completamente a parte, que também teria um impacto de muito peso, eu tinha certeza.

Não é que eu não gostasse de minhas cunhadas, sempre me trataram bem, nos divertíamos juntos e, inclusive, elas mesmas se divertiam entre si, apesar de tal rivalidade. Também não era que eu duvidava de seu amor por meus irmãos, isso eu nunca havia questionado. Era perceptível a sinceridade do amor entre eles todos, então eu jamais havia suspeitado que uma delas estivesse aqui nessa sala hoje apenas movidas por interesse. Mas, querendo ou não, sempre há uma vantagem a mais ao escolher acasalar-se para dentro de uma família como a nossa.

Exceto para Scarlet e exceto para mim.

Eu sabia que ela nunca sequer havia sonhado com o status e poder de minha família. Não porque achava que fosse inalcançável, mas porque simplesmente não possuía tais ambições. E eu não as possuía também. Eu não poderia arrastá-la para uma vida tão cheia de compromissos, holofotes e frescuras. Se ao menos eu conseguisse, eu mesmo, desatar-me disso tudo…

Meus pensamentos – que assim que foram quebrados percebi que estavam sendo alimentados também por meu lobo – foram interrompidos pelas portas da sala se abrindo e dando espaço para o psiquiatra chefe da cidade e o médico responsável pelo meu pai. Minha mãe virou-se no mesmo segundo para a direção deles, ansiosa pelas tão esperadas notícias.

– Olá, Senhora Landon – O psiquiatra adentrou e prosseguiu em cumprimentar a todos logo em seguida, individualmente. Percebi que era ele quem faria a maior parte do falatório, o que implicava que a situação de meu pai era mais preocupante no quesito de saúde mental do que física.

– Como prometi, – falou, sentando-se por fim. – vim trazer notícias ótimas para vocês. Sei como estão esperando notícias mais concretas de Octavian, mas ele realmente teve um progresso um tanto quanto lento. Agora, porém, creio que ele já poderá deixar o observatório da clínica e voltar para casa.

Minha mãe e Arabella se abraçaram e vi que Alexander apertou a mão de Pearl carinhosamente.

– Todos seus ferimentos foram tratados já faz algum tempo – dessa vez foi o médico que acrescentou. – e cuidamos para monitorar suas funções biológicas nesse tempo em que ele esteve fora.

Minha mãe agradeceu os dois e prosseguiu fazendo várias perguntas sobre meu pai, principalmente para o psiquiatra. Ambos os homens pareciam se esforçar até demais para tranquilizá-la de todas as formas possíveis e a convencê-la de que seu marido estava tão bom quanto antes. Voltei a examinar Alex de longe e, vendo que sua cara de preocupação havia apenas suavizado um pouco, fiquei com uma pulga atrás da orelha.

– Ele está totalmente lúcido e são agora – voltou a assegurar o psiquiatra, mas olhando diretamente para mim. – Está tendo que ingerir alguns medicamentos lupinos e terei que continuar a monitorá-lo à distância, mas acredito que em alguns meses podemos inclusive parar com os remédios. – Assenti. – É, porém, aconselhável que ele continue a governar com auxílio até que pare com os remédios. – Alexander, já conhecendo a agenda mais conturbada de nosso irmão mais velho, sabia que o incumbido seria ele e assegurou o psiquiatra que assim o faria.

Após mais alguns minutos de conversa, liberamos os dois médicos, para prepararem meu pai para voltar para casa. Começamos a falar sobre ele e estávamos planejando uma festa de boas-vindas, até que minha mãe abruptamente nos interrompeu, praticamente me expulsando de casa.

– O que você ainda está fazendo aqui, Lucius?! – gesticulava exageradamente com os braços, sinal de sua alegria que transbordava. Era difícil resistir não sorrir com ela daquele jeito. – Olha o horário!

Olhei para o grande relógio que havia na sala e arregalei meus olhos. Realmente, estava atrasado. Mas isso certamente não me incomodava tanto quanto a ela.

– O que tem ele, mãe? – quis saber Alexander, se intrometendo em meus compromissos desde que eu era adolescente, que já fazia muito tempo.

– Pergunte a ele, meu filho. – Todos olharam para mim e, após um suspiro, aquietei a curiosidade de todos.

– Tenho um compromisso com Alice – murmurei. E aí estava, o outro motivo para minha mãe estar radiante hoje.

– Ah, que fofo! – Pearl falou, juntando as duas mãos em apreciação. – Sempre achei que vocês dois formariam um belo casal. Ela é doida por você – acrescentou essa parte como se fosse um segredo, sussurrando.

Para meu desgosto vi minha mãe concordar veementemente com a cabeça.

– Não somos um casal – esclareci enquanto vestia meu casaco para ir embora. Pior do que sair com Alice era ficar ali com aquele bando que queria me empurrar para cima dela.

– Não ainda, mas já estão no quinto encontro – Dona Gwyneth cochichou, obviamente ciente de que ninguém naquele recinto deixaria de ouvir seu comentário. Eu não precisei me virar para saber que Alexander teria um sorriso no rosto que me faria querer socá-lo.

Grunhi, propositalmente avisando aos meus familiares que estava sendo um sofrimento passar tempo com Alice. Fechei a porta da sala atrás de mim e atravessei o hall para sair de casa. Eu sabia, no fundo, que aquilo era apenas uma meia verdade.

Antes que eu finalmente alcançasse a porta, senti uma mão me puxando pelo ombro e me virei. Alexander me lançou um olhar de aviso e nos levou para fora.

– Não quero que elas escutem o que tenho a te dizer, Luke.

– E o que seria? – perguntei, ajustando meu casaco, mas eu já fazia ideia pelo menos do assunto.

– O psiquiatra hoje. Bem, digamos que ele tenha amenizado algumas coisas.

– Hm – foi minha simples resposta, seguida por um pedido para ele continuar e explicar melhor.

– Ele me disse ontem, durante uma ligação, que nosso pai está sim lúcido e aparentemente normal. – Segurei minha respiração. – Entretanto… Relatou que no começo do tratamento, nosso pai estava mais violento ou, pelo menos, com um pavio mais curto ainda do que o de costume. Ele disse que a princípio nosso pai não está mais demonstrando essas características, mas falou que podia ser uma boa ideia observarmos se ele continua com esse comportamento. 

Tudo bem, isso não era exatamente uma mudança tão radical assim nos comportamentos do meu pai, mas tinha sua devida importância.

– Temos que ficar de olho nele. – Murmurei, já me virava para seguir meu caminho, mas o que Alex ainda tinha a dizer me fez congelar.

– Ele falou... O psiquiatra disse que ele estava proferindo algumas ideias um tanto... extremistas, no começo do tratamento. – Percebi como Alex tinha parado para escolher um adjetivo adequado, mas pelo tom sabia que poderia tanto ser dito que as ideias de nosso pai estavam sendo malucas e absurdas.

Engoli em seco. Isso sim era um problema.

– Acredito que tenha sido apenas fruto de sua forte medicação – tentou tranquilizar a mim, e talvez até a si mesmo.

‘Esperamos que não seja sinal de sua loucura iminente’ – meu lobo adicionou, mas nenhum de nós teríamos coragem de emitir isso em voz alta.

De repente, qualquer distração, mesmo que fosse Alice, era bem-vinda para tirar esses pensamentos de nossa cabeça. Até mesmo meu lobo parecia desejar a companhia dela, apenas naquele momento, para não termos de pensar no futuro que poderia estar se aproximando.

 

-x-

 

– Que droga, Luke! Da próxima vez que você me deixar esperando por quarenta minutos eu vou pessoalmente até sua casa te arrastar porta afora.

Eu estava saindo de um café com Alice, que decidira que queria um café quentinho para se aquecer antes de fazermos nosso programa para hoje. Já fazia uns vinte minutos que estávamos juntos e ela ainda continuava a permanecer no assunto de minha demora. Porém, eu tinha que admitir que fiquei surpreso em como ela, mesmo de brincadeira, desafiava minha autoridade. Achei divertido, mas sabia que fazia apenas parte de sua tática para me cativar.

– Duvido muito que você um dia consiga – falei a ela, rindo levemente da ideia. – Sou um cara pesado e não aconselho qualquer um a mexer comigo.

– Ah, mas eu não sou qualquer uma, Lucius. – Seus olhos azuis, lindamente adornados com maquiagem preta, fitavam-me. Eu precisava abaixar bastante meu rosto para poder encará-la, devido a nossa diferença de estatura. – Talvez eu realmente não conseguisse somente por uma questão de força, mas sou muito persuasiva quando quero ser.

Suas palavras impregnaram o ar, flutuando entre a gente, e eu fiquei sem saber o que responder. Essa tinha, sem dúvidas, sido sua intenção. Alice havia conseguido me deixar sem palavras. Havia, eu ousava admitir, até me deixado constrangido.

Acompanhei-a até meu carro, abrindo a porta para ela entrar. Depois de já ter passado tanto tempo com ela, percebi que o que me incomodava de fato não era exatamente a companhia dela, mas sim o fato de que isso nunca havia sido ideia minha. Na verdade, ninguém havia sequer perguntado minha opinião. Minha mãe apenas esperava que eu fizesse o que ela havia “sugerido”. Mandado seria uma palavra mais adequada, para falar a verdade. Alexander, bem, ele via isso como sendo um caminho rápido para meu amadurecimento e, talvez assim, eu pudesse tomar mais responsabilidades e livrar as dele um pouquinho.

Se Robert estivesse aqui eu sabia que ele não se envolveria, até porque, além de ser médico, ele tinha que cumprir os papéis políticos e financeiros de Beta do continente. Nada fácil, nada simples. O cara mal tinha tempo para almoçar em paz. Mas eu sabia que, ao voltar a viver cotidianamente comigo, ele ia tentar dar umas espetadas aqui e ali sobre como estava na hora de eu criar vergonha na cara e crescer de vez.

O Letum, bem, era o pior de todos. Eu sabia perfeitamente bem o que ele queria. Queria que eu fosse mais como meus irmãos, isso era óbvio. Mas também queria me ver acasalado de uma vez, com uma loba de sua aprovação. Eu sabia que ele achava que ter um filho solteirão denegria a imagem da família. Além de solteiro, eu fazia questão de demonstrar como eu não tinha interesse em me envolver nos jogos da política lupina. E isso tudo o irritava demais.

Apesar disso, eu acreditava que não podia ficar bravo com minha mãe. Eu sabia que ela tinha meus melhores interesses em vista em tudo que ela fazia. De todas as envolvidas, eu acreditava verdadeiramente que ela era a única que forçava a minha barra com Alice sem motivos próprios. Sem dúvidas queria que, quando meu pai voltasse para casa, para seu posto, se deparasse com seu filho mais novo se endireitando. Ou, ao menos, se envolvendo com uma boa moça da alcateia. Provavelmente para meu próprio bem.

No fundo, para o Letum, eu não tinha muito valor. Era um pensamento que vinha me corroendo desde que eu era adolescente, e disso já se fazia muito tempo. Ele já tinha dois filhos homens, lobos fortes, dominantes, carismáticos e mais do que aptos para serem grandes líderes. Não que eu não fosse assim, eu era parecido com meus irmãos, mas ele já tinha o bastante disso. Eu desconfiava que Octavian gostaria mesmo é de ter tido uma filha, uma princesinha lupina para desfilar por aí – a última peça para formar uma família lupina exemplar. Ao invés disso, ele havia recebido mais um lobo, chamado Lucius.

Portanto, para ele, eu tinha a obrigação de, no mínimo, acasalar bem e manter as aparências da família. Ele já havia me feito um grande favor ao me deixar morar como solitário em Columbus por tantos anos – uma espécie de retiro, onde eu deveria me preparar para dizer adeus finalmente à minha antiga vida sem responsabilidades. Ele não me cederia mais nenhum outro.

– Em que está pensando tanto? – questionou Alice, percebendo meu olhar vago e meu silêncio, enquanto eu dirigia em direção ao norte da cidade, onde havia uma tremenda floresta em que nosso grande número de lobos poderia se aventurar sem preocupações.

Caso eu realmente não tivesse escolha, se era minha obrigação passar tempo com Alice, então eu deveria, ao menos, aproveitá-lo. Eu não precisava acasalar com ela. Contudo, podia muito bem divertir a nós dois e fazer nosso tempo valer a pena.

– Apenas em minha própria tolice – respondi, decidindo finalmente esforçar-me em dar a ela encontros de verdade. Mesmo já sendo o quinto encontro, estava na hora de eu me permitir aproveitá-los. Ela continuou a me encarar, esperando que eu revelasse mais, curiosa pela minha mudança de comportamento. – Não sei por que nós dois não saímos mais vezes antes de eu me mudar para Columbus.

‘O motivo é óbvio. Não tínhamos olhos para ela, e não vamos ter, Lucius.’ Meu lobo falou de forma ameaçadora, mas eu fingi que não o escutei.

Não precisei desviar o olhar da estrada para perceber a mudança repentina em Alice. Como era comum com os lobos, era possível detectar as emoções e o humor de uma pessoa, quando muito fortes, pelo olfato. Alice, assim que eu havia me pronunciado, tinha passado a exalar um aroma de puro deleite. Eu tinha certeza de que ela estaria portando um sorriso de orelha a orelha.

– Também me admiro com isso – revelou por fim, quando havia conseguido controlar seu contentamento, para não o deixar tão visível assim pela voz. – É incrível como nos damos bem. Eu me sinto muito bem quando estou com você, Luke.

– E eu quando estou com você. – Não era nem uma completa verdade, nem uma completa mentira.

‘Não consigo compreender por que você está concordando com isso! Você está enganando a si mesmo, você deve perceber isso, certamente!’ bradou meu lobo, indignado. Mas eu não queria ouvi-lo, não poderia ouvi-lo. Eu não aguentaria.

De que adiantava, afinal, eu permanecer nesse sofrimento? De que adiantava, se eu seria forçado a passar tempo com Alice? Se eu seria forçado a esquecer...

Quando finalmente chegamos ao nosso destino, ajudei-a a sair do carro, sendo ligeiro para abrir a porta para ela como um cavalheiro. Alice desceu com uma bolsa, que depois percebi que era onde ela guardava sua câmera. Passeamos a pé pela floresta por cerca de trinta minutos até que eu sugeri que fôssemos dar uma corrida como lobos.

– Na verdade, – ela disse, um pouco envergonhada, mas a determinação transparecendo mais do que sua vergonha. – Eu pensei que a gente pudesse tirar umas fotos – sugeriu, e eu sorri. Havia me esquecido de seu pequeno hobby.

– Tudo bem, podemos tirar umas selfies com sua câmera.

– Ah, não. – Ela deu uma leve risada. – Não quero selfies. Sou longe de uma fotógrafa profissional, mas gosto de aspirar a ser. Lembra que te contei uma vez sobre o mural que tenho no meu quarto?

Lembrava-me vagamente, mas fazia algum tempo desde que ela me contou, então pedi por mais detalhes.

– Tenho todos meus amigos da alcateia fotografados, na mata, como lobos. Já são dezenas de lobos colados na minha parede. – Ela riu. – Mas tem um lobo muito importante que está faltando... – Seus olhos azuis, elétricos, não deixavam dúvidas sobre quem ela estava falando.

Querendo ou não, eu tinha gostado muito daquilo. Sim, eu acreditava que o interesse dela por mim não era exatamente devido a minha personalidade. Suspeitava de que seu tamanho esforço em manter minha atenção era devido à minha família. Contudo, algum sentimento genuíno ela deveria possuir, já que queria me colocar em seu mural. Ela queria que eu fizesse parte de algo que, para ela, era importante, e isso me deixou feliz.

– É claro, Alice. Ficaria honrado.

Andei para trás de algumas árvores para tirar minhas roupas e me transformar. Para a surpresa de Alice, que acho que nunca havia realmente parado para me admirar em minha forma lupina, um lobo negro de olhos azuis escuros saiu em meio às árvores para seu encontro.

Fitei-a, esperando que ela me desse alguma instrução sobre o que exatamente fazer. Eu não estava acostumado em ser fotografado, não assim, só de forma mais informal. Honestamente, estava meio perdido. Entretanto, ela permaneceu me encarando por alguns minutos antes de finalmente falar alguma coisa.

– Nossa, você é realmente deslumbrante. – Percebi o rubor se espalhando pelo seu rosto no mesmo instante em que soltara sua frase. Mesmo ela querendo me conquistar, deu para notar que ela não queria ter sido tão franca e direta a esse ponto. As palavras haviam escapado de seus lábios. – Quer dizer, – gaguejou. – seu pelo é tão brilhante. De todos os lobos negros que eu já vi, você é o mais escuro. Tão escuro e brilhante quanto um céu estrelado.

Nenhum de nós, nem o lobo, nem o humano, conseguiu ignorar a boa sensação que ouvir as palavras de Alice causou, independentemente do quão contrário meu lobo estava com a situação. Uma coisa era certa: ela estava fazendo um ótimo trabalho em massagear nosso ego.

Após eu agradecer sutilmente com um aceno de cabeça, ela começou a me direcionar para os locais em que achava que as fotos ficariam mais bonitas. Pedia para eu posar de diferentes formas: em posição de ataque; em pleno salto; de barriga para cima, como um cachorro carente! Confesso que eu estava me divertindo bastante com Alice naquela tarde, mais do que eu havia me divertido com alguém em muito tempo.

– Aqui, Luke. Acho que assim está bom. Venha ver como ficaram.

Fui até ela, ambos – lobo e humano – igualmente curiosos e ansiosos para ver os resultados. Ela passava por cada foto, mas não sem antes olhar para ver minha reação para com cada uma delas. Algumas ficaram bem borradas e esquisitas, mas um bom número delas ficaram de fato extraordinárias. Ela parou em uma em que eu estava com os dentes à mostra, de frente para a câmera, agachado e pronto para investir contra minha presa.

– Essa aqui ficou especialmente boa, vou colocar bem no centro de minha parede – comentou, e então virou-se para mim, decidida a dar sua própria investida. - Você é realmente um cara feroz, Luke. Amedrontador, mas medo está longe do que eu estou sentindo por você há um bom tempo. – Colocou sua mão direita em meu pescoço, acariciando meus pelos. – Queria poder mostrar para você o que sinto.

Antes que minha parte lupina tivesse sequer chance de refletir sobre qualquer coisa, transformei-me na frente dela. Sua mão agora segurava meu rosto, seus olhos sofriam com a tentação de se desviar do meus.

– Você é muito boa nisso – confessei, referindo-me tanto em suas habilidades fotográficas, quanto em suas habilidades para me fazer ceder. Meu lobo rosnou alto em minha mente, abafando o som do resto do mundo por alguns segundos, mas consegui repelir sua atitude com esforço.

– Obrigada. – Um meio sorriso surgiu em seu rosto, mas eu logo o desfiz, chocando meus lábios de forma rápida e determinada contra os dela, silenciando os protestos que ecoavam dentro de mim.

 

~X~

 

Scarlet

 

O clarão, a princípio, parecia que ia me cegar. Estava durando por tempo demais, eu achava, mas eventualmente começou a se dissipar e eu pude ver o maravilhoso mundo que me aguardava.

Parecia, sem dúvidas, com o conceito de Paraíso que muitas culturas possuíam. Havia natureza por toda parte, água corrente, altas árvores carregadas de folhas, arbustos floridos com todas as cores do arco-íris. Surpreendi-me até mesmo com animais silvestres vivendo inalterados pelos efeitos da humanidade.

Ao relembrar algumas aulas e discussões que eu tivera com os Selvagens, lembrei-me, morbidamente, de que os belos animais que eu estava vendo eram nada mais que espíritos. Animais que morreram, de uma forma ou de outra, no mundo material. Já o cenário em si, eu sabia, era graças aos grandes espíritos da natureza que, aqui no mundo deles, tinham mais força e podiam exercer seus poderes sem a interferência de humanos e sua devastação ou poluição.

Era uma cena maravilhosa, acolhedora. Era tentador passar horas sentada ali na grama, da mesma forma como eu havia chegado, apenas observando e me deleitando com o sossego. Decidi fechar meus olhos por um momento, desligando-me por uns minutos e apenas concentrando-me nos belos sons da natureza.

Quando abri meus olhos, porém, levei um susto tão grande que caí para trás. Um menininho me encarava. Estava há uns dez metros de distância de mim, mas certamente não havia estado ali antes. Repeti para mim mesma de que não havia motivo para eu me alarmar. Isso era normal. Do mesmo modo que os espíritos dos animais vinham para cá, os dos humanos também vinham. Tomei coragem para me levantar e, inspirando profundamente, aproximei-me do pequeno garoto.

Ele nada falou, mesmo eu o circulando, minha curiosidade ultrapassando meu bom senso. Não aparentava ter mais do que doze anos, mas parecia estar bastante à vontade nesse lugar, o que me dava a impressão de que ele já estava há algum tempo aqui.

– Qual o seu nome? – perguntei, mas ele apenas negou com sua cabeça.

Insisti novamente, com a voz um pouco mais suave, com medo de que eu pudesse assustá-lo.

– Essas coisas não têm importância aqui – esclareceu, por fim.

Arqueei minha sobrancelha. Certamente eu nunca havia me sentido tão curiosa em toda minha vida.

– Há muitos outros de vocês aqui? – Pensando melhor, não era uma pergunta muito esperta. O mundo espiritual era enorme, gigantesco, maior inclusive em extensão do que a Terra. Todas as almas vinham para cá em algum momento, mas eu estava com tantas coisas passando pela minha cabeça naquele momento que falei a primeira que surgiu.

O menininho assentiu com a cabeça e indicou para que eu o seguisse. Esquecendo-me totalmente de minha promessa a meus amigos Selvagens, adentrei a mata densa com ele. Passamos por alguns espíritos também caminhando pela floresta, mas não era esse o destino dele. Finalmente, chegamos a um vasto lago, rodeado por pequenas pedras e cedros altos. Em um de seus lados havia um enorme paredão de rocha, pelo qual escorria uma belíssima cascata. A água era cristalina, refletindo as árvores e a paisagem como um espelho.

Havia uma particular aglomeração de espíritos aqui. Poucos falavam entre si, parecendo a maioria estar absorto na mesma contemplação e na mesma paz que eu estivera há apenas alguns minutos. O menino que me levara até ali me deu as boas-vindas, confessando que não tinha recebido a visita de nenhum novo Selvagem há algum tempo. Agradeci educadamente, avisando que iria dar uma volta no lago antes de partir.

A extensão do lago era verdadeiramente longa, mas eu secretamente agradecia por isso. Dava-me uma desculpa para ficar mais tempo nesse maravilhoso mundo novo. Eu passava pelos espíritos, curiosa, estudando seus rostos e suas expressões. Era fácil de ficar observando-os, pois quase todos simplesmente ignoravam minha presença.

Ao longo de minha caminhada, entretanto, percebi um espírito em particular que me chamou a atenção. Estava mais afastada do que os outros e, ao contrário deles, não estava nem conversando com outro espírito, nem relaxando, nem sequer olhando para a linda visão que era o grande lago. Parecia, inclusive, estar um tanto quanto perdida e aflita, porém eu não conseguia enxergá-la tão bem àquela distância para poder ter certeza.

Decidi chegar mais perto dela, admirando seus longos cabelos castanho-claros, um pouco ondulados, que esvoaçavam com a suave brisa do lago. À medida que fui me aproximando, comecei a me dar conta que aquele corpo, aqueles cabelos, eram familiares. Dando os últimos passos que nos separavam, prendi minha respiração, tentando tomar coragem para chamá-la.

Coloquei minha mão de leve em seu ombro, impressionando-me em como os espíritos eram materiais nesse mundo. Não estava preparada, porém, para me impressionar ainda mais ao me deparar com os olhos cor-de-mel de minha melhor amiga, amedrontados, encontrando-se com os meus.


Notas Finais


Muito obrigada por me acompanharem até aqui! Não esqueçam de deixar um comentário divo me dizendo o que acharam do sexto capítulo.
Não esqueçam de curtir a página da Saga Dominante no facebook! Lá também estou postando novidades sobre minha nova história original: A Cruzada de Karynthia <3
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