O que vem lá adiante é a tristeza.
De mãos dadas com as lágrimas, usurpando qualquer lembrança ou sentimento pândego.
Conseguiam mais uma vez.
Os dedos finos seguravam com firmeza o pincel. Não se pode, nessas horas perder a concentração.
O que vem lá adiante é a solidão.
De mãos dadas com o escuro e a letargia, arrastando-se pelos cantos.
Matizando a tinta, entre o laranja e o branco.
Mais branco do que laranja.
Pêssego? Não. Mais claro ainda.
A pele pálida e aveludada que um dia os dedos calejados pelo tempo, outrora tocaram.
Deslizaram, sucumbiram.
Apertaram, acariciaram.
O que vem lá adiante é o vazio.
De mãos dadas com o espaço e o tempo, não incontingentes.
O tic-tac do relógio torto na parede tingida e respigada.
Outrora um retrato ali havia, já não mais.
O que vem lá adiante é o desespero.
De mãos dadas com a agonia e a dor. No âmago, dor perene de uma perca.
Rodopiava na sala. Girava os calcanhares no chão. Sobre a tinta e uma tela e outra.
Bagunça, desolação, mas ainda um coração batendo.
Apenas um?
Sim, um só, agora.
De lá pra cá. O pincel tocava a tela trançada fio por fio. A imagem ia se formando.
Limpe o pincel na água cor chá.
Um dia amou, no outro, não mais.
O que vem lá adiante é a insanidade.
De mãos dadas com a despedida precoce de um amor outrora vivido como nunca.
-Será que podes, sim? Erguer teu queixo à acima?
-Como quiseres, ma petit.
Agora, o roxo, o lilás, o púrpuro.
Violetas pintadas com amor e carinho. Plenitude nos olhos brilhantes que já há tempos se apagaram.
Uma cortesia para quem lhe serviu o vinho naquela tarde.
Rodopia, Minseok, na sala de pintura.
Uma cor só?
Sim, o preto. Minha cor favorita, você.
Cabelos brancos. Tão claros e níveos.
O que vem lá adiante, é Lu Han.
De mãos ocupadas, carregando a tela com certa rubrica ao canto.
Alma plissada, que mau respira.
Outro dia, rapaz janota.
Em seu funeral, pele fina como papel seda.
Mas ainda belo.
Agora vem o bege, da sarja. Enrole o pincel e deslize. Mescle as cores na paleta.
O que vem lá adiante é a concentração.
De mãos dadas com o perfeccionismo de uma pintura servente de lembranças do passado.
As mãos devem ser sutis ao segurar o vaso lascado, de barro vermelho.
Não se pode, nessas horas, dilapidar tinta.
-Está pronto! Vê?
Gritou, eufórico. Louco, beirando a sandice.
O auto retrato de seu amor verdadeiro.
Sem modelo e nem cor.
Por que cor é luz. E sem luz, os olhos não captam cores.
O que vem lá adiante, é o fenecimento.
Sem mais.
“O verdadeiro valor de um homem não pode ser encontrado nele mesmo, mas nas cores e texturas que faz surgir nos outros.”
Albert Schweitzer
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