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História Válvula de Escape - A ameaça irrefutável


Escrita por: ohmyparrilla

Notas do Autor


Boa tarde, lindezas <3

Primeiramente, gostaria de agradecer mais uma vez a todos aqueles que acompanham VdE. Prometo que ainda responderei a todos os comentários do capítulo anterior. Minhas aulas voltaram e as coisas estão corridas novamente.

Gratidão por todo o carinho que venho recebendo.

Sem mais delongas, boa leitura!

*capítulo sem revisão*

Capítulo 29 - A ameaça irrefutável


“(...) o veio negro do destino insiste sempre em reaparecer.”

– HUGO, Victor In: Os miseráveis

Às vezes, não importa quanto tentamos fugir de nossos problemas, eles sempre acabam batendo em nossa porta antes do que esperamos. Prova disso era a presença insistente de Cora no mesmo ambiente que eu pela segunda vez no mesmo dia. Minha mãe nunca soubera exercer o papel do tipo de pessoa que respeita o espaço de alguém, quando se tratava de mim, ela ignorava ainda mais qualquer uma de minhas necessidades para sobrepor suas vontades.

Eu havia acabado de liberar apenas o meu primeiro atendimento daquele dia e lá estava ela:

– Regina, precisamos conversar.– Ali estava o sorriso triunfante que passara todos os meus anos, até a adolescência, me amedrontando e sabendo que Cora estava planejando algo que eu jamais concordaria.

Lembrei-me de minhas sessões com a psicóloga e a metodologia que ela havia me ensinado a fim de conter a ansiedade e o estresse.

“Respire fundo, Regina. Dite um ritmo calmo para que o ar entre e saia de seus pulmões.”

Eu tentava me recordar de maneira vívida da voz da mulher que passara meses tentando me ajudar a lidar com minha mãe durante a adolescência. Infelizmente ali estava eu, ainda tentando aprender a como realizar tal feito, já ciente de que muito provavelmente eu jamais aprenderia a lidar com Cora Mills. Especialmente porque eu já não mais queria.

Reunindo uma coragem que eu não sabia de onde havia tirado, apenas exteriorizei o que tanto estava me corroendo naquele momento:

– Você conversou com Emma ou não?– Perguntei, era apenas aquilo que eu gostaria de saber para decidir o rumo que tudo aquilo levaria.

– Sim.– Cora limitou-se a responder. Surpreendentemente sua postura era calma, não havendo um só resquício de preocupação ou sequer de pesar em seu olhar.

– Então apenas saia da minha frente. Já deve saber que eu não aguento suportar a sua presença. Não importa o que diga, não vai conseguir me fazer mudar de ideia. Emma sempre teve razão quanto ao que eu deveria ter feito desde o primeiro momento.– Tentei falar com raiva, mas as malditas lágrimas começavam a ganhar forma em meus olhos. Entretanto, dessa vez, não permiti que elas escapassem.

– Minha filha, eu tenho certeza que não é isso o que você quer fazer, querida.– Como ela conseguia ser tão dissimulada? Era tudo o que eu conseguia pensar ao ouvir a maneira como minha mãe estava se referindo a mim, mas a surpresa maior foi o que veio em seguida:

– E eu realmente acho que se é isso mesmo o que quer, eu posso te fazer mudar de ideia.– Franzi o cenho, imaginando o quão poderosa ela acreditava ser para me fazer desistir de entregá-la. Ou ela realmente se achava digna de perdão?

– Cora, independente do que tenha a me dizer, eu preciso chamar o meu próximo paciente.– Sim, eu a ouviria. Não por ela, mas porque eu conhecia a peça o suficiente para saber que havia algum plano sendo arquitetado por sua mente maldosa.– Se quiser realmente falar comigo, espere meu turno acabar. Por mais difícil que seja acreditar nisso, existem pessoas que precisam de mim e de minhas habilidades e cuidados.– Consegui fazer com que minha voz saísse firme e, de algum modo, eu sabia que ela voltaria a me procurar, Cora não era o tipo de pessoa que desistia de jorrar seu veneno sobre alguém, especialmente se esse alguém fosse eu, a fraca e incapaz filha de Mills, como ela me julgava.

Dando às costas a ela, chamei o nome do próximo paciente na lista da emergência. Esboçando meu melhor sorriso para recebe-lo e ignorando a presença de Cora.

Eu sempre fora conhecida pela minha capacidade de colocar meus pacientes acima de meus problemas, Cora não tiraria mais nada de mim, especialmente minhas virtudes. Ainda que a paz, há muito, já houvesse tirado.

*

Belle estava em seu quarto terminando um livro de leitura obrigatória para uma de suas matérias da faculdade, o olhar concentrando revelava o foco que a jovem possuía quando estava perdida no mundo dos livros. De repente, Liz, sua colega de república, entrou no quarto em um rompante, chamando-lhe:

– Belle! Tem um homem querendo falar com você, pedi para que ele te esperasse na sala. Eu acho que o nome dele é Gold.– Liz falou.

O coração de Belle acelerou algumas batidas naquele momento, depois da conversa com o pai e da descoberta de que Gold era o homem pelo qual ela estava apaixonada, a jovem encontrava-se receosa por diversas razões. A primeira delas era de que seu pai fizesse algo, a última coisa que desejara é que aquela parceria de anos fosse abalada por sua culpa. Ela respirou fundou, afastando seus pensamentos e respondeu a amiga:

–Eu já estou indo, obrigada por me avisar, Lizzie.– Belle se levantou da cama. Entretanto, antes de sair do quarto, certificou-se de dar uma olhada no espelho e verificar sua aparência, ela sempre se sentia constrangida perto de Gold. O homem de porte elegante sempre se apresentava tão bem vestido que qualquer coisa que Belle decidisse usar subitamente parecia inapropriada.

Assim que se dirigiu à sala, notou que ele estava sentado no sofá, pela semblante calmo que ele carregava, Belle concluiu que não poderia ser nada muito preocupante, mas apenas o fato de Gold estar em sua casa, já despertava na ruiva uma grande curiosidade, levando em consideração a quantidade de vezes que ele tentara manter-se afastado dela.

– Boa tarde, Gold.– Belle o saudou, sempre gentil, apesar de um pouco receosa.– O que te traz aqui?– A jovem questionou.

Gold rapidamente levantou-se e olhou em direção a ela com um olhar enigmático, já que ela não conseguiu decifrar quais eram suas intenções ali.

– Olá, Belle. Eu vim aqui porque acho que nós temos que conversar sobre nossa situação.– Ele afirmou, com uma das mãos na nuca em um gesto de receio. Surpreendendo-o, Belle falou:

– Eu acho que já ficou tudo muito claro, Gold. Aliás, seus esforços não deixaram margem para dúvida. Você não me quer por perto porque minha presença ,de certa forma, te incomoda. Você tem medo do que as pessoas vão pensar, aliás, como você sempre diz, eu sou uma menina muito jovem que não sabe o que quer da vida ainda.– Sua tom não era dos mais receptivos, muito embora não atravessasse a margem da cordialidade. A jovem estava nitidamente ainda magoada pelos últimos atos do homem que lhe provocava tantas sensações.

– Eu fui muito grosso com você , não é mesmo?–Ele perguntou, porém em um tom mais de afirmação do que questionador, já certo da resposta.

– Você nem imagina, mas acho a sua visita tem a ver com algo que aconteceu depois da minha aparição no banco, e o fato do meu pai ter descoberto dos meus sentimentos por você. Estou certa? Olha, se ele te ameaçou pode deixar que eu falarei com ele. Eu sei que posso ter te colocado nesta situação e nada mais justo do que eu lhe tirar dela.– Belle tentava a todo custo não demonstrar como aquilo estava lhe abalando, fazendo um grande esforço para manter-se indiferente em sua retórica.

– Sim, tem a ver com conversa que tive com Maurice, mas, o que eu quero dizer é que não vim aqui pedir para que você me livre desta situação.– Belle franziu o cenho, com uma expressão de quem não estava entendendo aonde Gold queria chegar.

– Você está me dizendo que não quer minha intromissão na sua briga com meu pai?– Ela questionou, logo continuando.– No entanto, eu sinto muito, vou me intrometer sim. Vocês brigaram não, foi? Eu vou atrás dele e direi que tudo isso foi minha culpa, pode ficar tranquilo.– Belle desembestou a falar, entretanto, o que viria a seguida seria mais do que eficaz para cessar sua falácia incontida. A ruiva foi calada por um rápido beijo em seus lábios, surpreendendo-a.

Gold sorriu para Belle, levando uma de suas mãos ao rosto da jovem e colocando uma mecha de seus cabelos atrás de sua orelha. Logo, Gold tornou a falar:

– Estou lhe dizendo que não posso sair dessa situação.– Ele permanecia próximo a ela, as mãos buscando contato com as dela.– Na verdade eu até posso, mas não quero. Belle, eu cheguei à conclusão de que não podemos deixar de viver o que estamos sentindo por conta do que os outros vão pensar. Eu quero estar perto de você, conhecer as coisas que você gosta, as coisas que te irritam. Até mesmo ler alguns daqueles seus romances melosos para depois comentarmos a respeito.– Ele deu uma breve risada, fazendo com que ela correspondesse ao gesto.– Eu não sei como fazer isso, acho que já perdi a prática, mas ainda assim estou disposto a tentar e me redimir pelo completo idiota caxias que eu fui.

Surpreendo-a ainda mais, Gold falou:

– Izabelle, você aceita esse velho chato, cabeça dura e teimoso como seu namorado?– Ele perguntou olhando nos olhos, sentindo-se um verdadeiro adolescente apaixonando. A surpresa de Belle estava expressa em seus olhos, esbugalhados pela atitude inesperada.

–Você está falando sério?– Ela perguntou, tentando disfarçar o riso que se formava em seus lábios.– E meu pai? Você não está fazendo isso por causa da briga de vocês e porque você quer dar um troco?– Belle questionou desconfiada, tomada por uma pitada de insegurança.

– Eu não sei de onde você tirou que briguei com seu pai.– Gold a tranquilizou.– Nós conversamos sim, mas não houve briga nenhuma, digamos que eu me acertei com meu sogro-.– Ele piscou para ela, em um súbito ato de convencimento.– Maurice percebeu que a filha dele já é uma mulher responsável capaz de tomar suas próprias decisões, não vou criticá-lo pelo erros passados quanto ao que fez com você, pois cometi erros semelhantes e sinto muito por isso, Izabelle. Você é uma mulher madura e fantástica.– Ele afirmou, antes de continuar:

– Agora não me deixe nessa aflição, Belle. Qual a sua resposta?– O tom de Gold assumira certo nervosismo, denotando o quanto ansiava pela resposta.

– Eu não poderia estar mais surpresa, nem se eu vivesse mil anos poderia esperar por uma cena dessas.– Belle confidenciou.– Tanto de sua parte como do meu pai... Eu... eu nem sei o que dizer.

Belle deu um sorriso travesso e respondeu:

– Quanto à sua pergunta, eu acho que preciso pensar se vale realmente à pena.– Ela falou, levando o indicador ao próprio rosto, em um gesto pensativo.

– O que você acha de pensar enquanto me acompanha até um ótimo restaurante perto daqui? Podemos almoçar juntos.– Gold perguntou, divertindo-se com a brincadeira. Sua face evidenciava uma alegria genuína.

– Desde que não seja aquele que você levou sua amiga para dar “orientações”.– Belle falou, arqueando a sobrancelha.

– Não sabia que era ciumenta, Izabelle.– Ele provocou, contendo a gargalhada.

– Você não perde por esperar, Gold.– Belle rebateu em um tom de falsa ameaça. Permitindo-se agir como sempre imaginara, ela lhe deu um beijo rápido nos lábios e se dirigiu ao seu quarto para se arrumar, pedindo para que ele aguardasse.

Assim que fechou a porta atrás de si, Belle deu pulinhos de alegria. Concedendo a si mesma a permissão para agir com um pouco de imaturidade ao vislumbrar o que os livros chamariam de um final feliz.

*

– Emma me contou o que aconteceu...– Ouvi a voz receosa de Robin soar atrás de mim enquanto passava pela porta de entrada da área principal, após terminar minhas cansativas mas produtivas horas na emergência. Meu corpo pedia por descanso à medida que minha mente não parava de trabalhar, tornando a exaustão física ainda maior.

Parei defronte a Locksley, assim que senti sua destra pousar em meu braço.

– Fico feliz que já esteja a par de toda a situação, estou tão cansada que nem conseguiria explicar.– Tentei lançar a ele um sorriso de alívio, mas a julgar pela sua feição consoladora acho que estava mais para um sorriso amarelo de evidente nervoso.

– Ela me falou muito em linhas gerais, mas não quero que precise me dar detalhes. Se não quiser falar sobre isso agora, não falaremos.– Robin e sua compreensão infinita estavam ali, para minha sorte e alívio.

– Agradeço por isso, amor.– Respondi, levando uma de minhas mãos à sua face e acariciando rapidamente sua pele áspera pela barba mal feita que começava a se tornar mais evidente. O ar descuidado era charmoso, eu não poderia negar.

Robin sorriu diante do gesto e passou a caminhar ao meu lado, acompanhando-me até o estacionamento, uma vez que ele iria fazer plantão naquela madrugada.

Antes que eu chegasse até a vaga, uma Emma esbaforida correndo atrás de nós entrou em meu campo de visão.

– Hey, casal.– Ela disse, com as mãos nos joelhos e a respiração ofegante. Emma estava mesmo disposta a me alcançar.

Locksley logo a cumprimentou e lendo as entrelinhas, beijou-me rapidamente a fronte e se despediu, deixando-nos a sós.

– Preciso falar com você, Rê. Estou preocupada e me sentindo burra.– Emma falou.

– Precisa mesmo ser agora? Estou exausta.– Perguntei, confidenciando a ela meu estado. Recebendo um olhar suplicante em resposta.

– Tudo bem, mas seja breve. E obrigada por não ter afrontado minha mãe.– Disse eu, imaginando que ela não havia o feito pelo estado de calma no qual Cora havia vindo ao meu encontro mais cedo.

– Regina, eu afrontei sua mãe. Se tem uma coisa que eu fiz foi afrontar a sua mãe. Olá?– Emma arqueou uma das sobrancelhas, querendo mostrar o quão óbvio deveria ser que eu soubesse de seu ato. Franzi o cenho, subitamente tentando compreender então o motivo da calmaria de Cora, mas mantive meus questionamentos para mim.

– Por favor, não fique com raiva.– Emma pediu, as mãos em um gesto de oração e os olhos verdes pidões.

– Não estou com raiva, estouradinha.– Respondi sincera, independente do que ela houvesse dito à megera que atende pela função de minha mãe, talvez o estrago não tivesse sido tão grande.

– Ainda não disse especificamente o motivo pelo qual não quero que fique brava.– Emma inclinou a cabeça para o lado, subitamente tentando parecer mais fofa do que eu sabia que ela era.

– Então diga logo, você disse que seria breve. Daqui a pouco serão onze da noite e eu ainda estarei aqui.– Disse impaciente.

– Eu não sei onde está a carta do Graham para o Killian. E eu posso ter praticamente esfregado a folha na cara de sua mãe.– Emma falou em um tom de falsa inocência.

– Você fez o quê, Emma?– Meu tom de voz sobressaltou-se um pouco. Tudo bem, eu estava começando a ficar ainda mais preocupada com toda a situação.

– Ah, Regina, você ouviu.– Ela disse, revirando os olhos.– Não se onde deixei a carta, precisamos achá-la.

– Emma, eu vou guardar o sermão que talvez poderia te dar porque você tem razão, sempre teve. Não em seus atos violentos, mas a respeito de que há muito eu deveria ter entregado Cora à polícia.– Emma esboçou uma feição triunfante. Eu continuei:

– E quanto à carta, não seja paranoica. Eu, você e Killian temos cópias dos vídeos da câmera de segurança, eles por si só já atestam a falta de Cora.– Disse, engolindo em seco, lembrando de tudo o que caracterizava o meu eufemismo ao utilizar a expressão “falta de Cora.”

– Você é a melhor amiga de todas, carrancuda. Sabia?– Emma disse, me dando um beijo exageradamente molhado na bochecha.– Achei que fosse me matar por isso.

– Olha, vontade não me falta às vezes.– Ri da euforia de Emma.– Até porque sua atitude me fez parar para refletir e decidir que não posso mais fugir dessa situação.

– Amém, abençoada seja Emma Swan!– Emms disse, convencida.– Agora vai embora que eu não quero mais te prender aqui.– Ela me abraçou e me deu outro beijo molhado, saltitando de volta para o hospital.

Conclui meu caminho até o carro, respirando fundo e tentando me preparar psicologicamente para os próximos passos gigantes que precisava dar em prol da minha paz interior, ainda que o peso de tudo o que estava por vir fosse demasiado grande para minha baixa estatura (como dizia Robin) sustentar.

*

Assim que virou à esquina que dava para sua casa, uma das primeiras da rua em questão, Regina pode vislumbrar a figura feminina sentada no balanço do jardim. Naquele momento, Zambrano praguejou mentalmente pelo fato de ser tão raros casas com muro nos bairros nobres de Miami.

Ao estacionar o carro na rua, transtornada demais para adentrar a garagem, ela desceu, os passos firmes denotando sua impaciência e a postura impassível tentando disfarçar o cansaço que a tomava.

– Cora, o que está fazendo aqui?– Regina perguntou, tensa. Custando a acreditar que ela precisasse lutar tanto meramente para chegar em casa e conseguir algum descanso.

– Pare de me chamar assim, minha filha.– Cora disse, levanto a mão até o rosto da filha, que desviou de seu toque com maestria.

– E qual é o seu nome? Ou você mentiu sobre isso também?– Regina forjou um tom de dúvida, derramando ironia em cada palavra, recusando-se com veemência a chamar a mais velha pelo título que ela não merecia.

– Minha filha, por favor. Não seja irônica.– Cora pediu polidamente.

– Não venha com “minha filha” para cima de mim. Você é incapaz de sentir amor, Cora. Com essa sua maldita filosofia com a qual me criou, pregando que o amor é uma fraqueza, você se tornou um verdadeiro monstro.– Regina a acusou, as mãos trêmulas como uma descarga do nervosismo que se apoderava de cada terminação de seu corpo, as vistas, a essa altura, embaçadas pelas lágrimas que teimosamente procuravam sair. Lágrimas de tristeza, de raiva, e de outra infinidade de sentimentos em conflito provocados pela iminência da verdade nua e crua.

– Olhe pra você, se o amor não é uma fraqueza, por que subitamente você me parece tão fraca, minha filha?– Cora continuou a destilar o seu veneno, apenas confirmando sua incapacidade de arrependimento ou de se compadecer pelo sofrimento de outros. Vendo Regina fuzilá-la com o olhar, a mais velha perguntou:

– Será que podemos conversar lá dentro? Não quero mais um escândalo hoje, Regina.– Pediu.

– Espero que saiba que essa é a última vez que entra na minha casa.– A voz de Zambrano transbordava sua ira, o ressentimento permanecia velado dentro de seu peito, ela não estava disposta a mostrar o choque que a postura de sua mãe vinha lhe causando.– Única e exclusivamente porque sua fria calmaria me faz temer sobre aquilo que está tramando. E não me importo que você acredite que possuir sentimentos por alguém que não por si mesma seja fraqueza, diferente de você, não sou desumana.

Desse modo, Regina pegou o molho de chaves em sua bolsa, abrindo a fechadura da porta de madeira frisada.

Assim que a mãe adentrou o cômodo, Zambrano bateu a porta com mais força do que o necessário, jogando as chaves e a bolsa na poltrona mais próxima.

– Diga logo tudo o que tanto quer dizer. Não se limite a iniciar um falso pedido de desculpas ou uma falsa retórica de arrependimento. Te conheço o suficiente para saber que não dá a menor importância para tudo o que me fez passar até aqui. Te vejo apenas como uma mulher sem escrúpulos ou caráter. Uma assassina.– Regina derramou as palavras, sem pausa, sem receios. Apoderando-se da força que ainda lhe restava.

Foi surpreendida quando uma risada sarcástica e provida de uma diversão fria tomou seu campo de audição. Como ela poderia estar rindo? A Mills mais nova pensava.

– Não vim aqui para te pedir desculpas, querida. Acho que os meus atos são os responsáveis pela mulher forte que você se tornou, muito embora agora eu questione toda essa força que as pessoas daquele hospital acreditam que você emana. Vim aqui para te impedir que cometa um erro terrível.– Cora disse confiante, sentando-se no sofá elegantemente, ignorando o fato de tão ter recebido um convite para tal.

Respirando fundo e disposta a não falar mais do que o necessário, Regina disse:

– Se veio aqui disposta a me fazer mudar de ideia quanto à denúncia, não vai conseguir.– Sua voz era impassível, os punhos cerrados ao lado do corpo denotavam a raiva que ela procurava conter.

– Eu tenho certeza de que a sua fraqueza irá fazê-la ponderar sua decisão.– Cora disse, abrindo o zíper da bolsa de grife sobre seu colo, ela retirou uma folha parcialmente amassada de dentro do compartimento de couro. Voltando a fitar os olhos de Regina, tão semelhantes e ao mesmo tempo tão distintos dos seus, ela falou:

– Tenho em minhas mãos a carta que o bêbado do Graham deixou para o vigia.

– O nome dele é Killian.– Regina disse, em um tom de reprimenda. Dessa vez, fora a vez dela de encher os pulmões de ar e emitir uma audível risada.

– Você realmente acha que a única prova que tenho contra você é essa maldita carta?– Zambrano questionou, crente de que a mãe mais uma vez estava insultando sua inteligência.

– Ora, minha filha. Eu não te acho uma completa idiota.– Cora se levantou, aproximando-se alguns passos de Regina, o sorriso maliciosa ainda adornando seu rosto.– Afinal, aqui diz claramente sobre todas as provas que você tem. Se você, desde adolescente, fazia inúmeras cópias de cada trabalho que realizava na escola por medo de perdê-los, eu tenho certeza que há muito mais que isso.

Regina franziu o cenho em resposta, de repente totalmente confusa com a calmaria da mãe. Se ela tinha consciência de todas as provas que haviam contra ela, como conseguia se manter tão calma?

– Então o que acha que pode fazer quanto a isso, Cora?– Ela perguntou, verdadeiramente duvidosa.

– Se bem me lembro, a filmagem que Graham deu um jeito de tirar dos arquivos do hospital não mostram o namoradinho de sua amiga sendo sedado. Nada mostra que o responsável pela câmeras naquele dia tinha uma álibi para o momento em que tudo aconteceu.– De repente, tudo ficou muito claro para Regina, e as lágrimas que ela vinha tentando conter, ganharam espaço para serem libertas. Ela pôde sentir as gotículas que desciam pela sua face.

– O que você quer dizer com isso, Cora?– Apesar do medo, ela perguntou, custando a crer que a mãe faria o que ela estava considerando.

– Ora, querida. Se você levar todas as suas provas contra mim à polícia, eu direi que o vigia... Quer dizer, me desculpe... Eu irei dizer que Killian sabia de tudo e que foi ele quem deu um fim às filmagens para me ajudar. E algo me diz que, aquele fajuto brilhante que sua amiguinha carrega no dedo, pode ser um sinal de que você não quer colocar o noivinho dela na prisão. Não é mesmo?– Cora finalizou, mostrando-se mais uma vez capaz de orquestrar um plano magistral quando o assunto era defender sua própria pele.

Fora a vez de Regina sentar-se, seu corpo estava em choque. Naquele instante, havia muitas coisas as quais ela desejava dizer, mas o simples ato de proferir palavra pareceu impossível.

Endireitando a bolsa a tiracolo, Cora continuou o discurso, aproximando-se de Regina e tentando mais uma vez tocar-lhe o rosto:

– Agora eu vou deixar você descansar, querida.– Ela disse, afagando a bochecha da filha, ainda estática em estado de choque.– Como você mesma disse, precisa descansar, e talvez pensar um pouco mais no peso de suas decisões.

Encaminhando-se até a porta, Cora ainda virou pela última vez e proferiu:

– Lembre-se, Regina: O amor é uma fraqueza.

E ali estava a vida, mais uma vez provando que não há nada, jamais tão ruim, que não possa piorar.

*

Apesar do relógio marcar quase às onze da noite, ela sentiu o celular vibrar dentro de seu bolso. Limpando a garganta, ela atendeu:

– Boa noite, senhorita Mills.– A voz de seu advogado ressoou do outro lado da linha.– A papelada para que seu pai possa morar com você já está em andamento. Desculpe-me pelo horário, mas a senhorita havia deixado claro que queria a informação assim que tudo estivesse encaminhado.

Regina se permitiu sorrir por um breve instantes.

– E quanto à questão burocrática do MHW ( Memorial Hospital West)?– Limitou-se a perguntar.

– Também está sendo movida.– O advogado respondeu.

Dado os devidos agradecimentos e congratulações, ela desligou a ligação.

E ali estava a vida, mais uma vez provando que mesmo que as coisas estejam muito ruins, ainda há possibilidade de melhorar.

Entretanto, aquela notícia dera a ela apenas mais um motivo pelo qual lutar. Lutar para tirar o hospital do domínio de Cora, lutar para conseguir viver com seu pai, lutar pela paz que ela tanto ansiava.

Agora Regina estava certa de que daria o telefonema que ela presumiu que nunca precisaria executar. Mas naquele instante, mais do que tudo, ela precisava encontrá-lo.

Secando as lágrimas de seu rosto, as mãos trêmulas começaram a discar o número que talvez, apenas talvez, pertencesse a alguém capaz de salvá-la.


Notas Finais


Não me odeiem


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