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História Vazio - Incertezas


Escrita por: ChisanaRumiko

Notas do Autor


OLHA QUEM VOLTOOOU HEHEHE

[OFF TOPIC]: Galhera, alguém aqui joga LOL? Eu preciso entregar uma pintura até sexta pra minha aula de pintura digital, e eu pensei em fazer um genderbend do Varus <3 Vou deixar o rascunho como capa do cap até quinta, aí quem quiser comentar ou deixar alguma dica e pans... eu agradeço! ^^

Mas vamos ao que interessa: um cap fresquinho e recheado pra vcs! :D
Ah, e se vcs estiverem achando que as coisas estão indo muito rápido e que eu tô jogando as informações sem explicar muito, pf me avisem que eu detalho melhor pra vcs
E é isso, bora lá! O/

Boa leitura! <3

Capítulo 66 - Incertezas


Era fim do turno da manhã, mas parecia que metade do dia já havia se passado para os integrantes da White Snake. Aqueles eram tempos agitados, sinal de que o atrito com a Yakuza se tornava cada vez mais evidente. Ninguém mais sonhava em dizer pela rua que ambas as organizações trabalhavam em parceria; a guerra estava praticamente declarada, só faltava ser executada.  

Porém, a agitação não se dava em um lugar qualquer, mas sim em uma sala específica de um prédio luxuoso, digna de um grupo que se sustenta com dinheiro sujo por sangue e pólvora. 

— Senhor, sinto muito incomodar, mas é urgente... — avisou um funcionário, que entrou sem bater. Justamente por isso sentia a espinha arrepiar-se por inteiro, temendo uma represália severa do superior. 

— Ah... diga — murmurou cansado o homem em terno cinza impecável, com os olhos âmbar ainda recaídos nos papéis em sua mesa. 

— É sobre a 4Guns, a gangue que mandamos invadir o empório da Yakuza na Zona Rose. 

Aquela informação foi interessante o suficiente para que o subordinado capturasse a atenção dos olhos afiados de seu chefe. 

— Eles falharam? 

— N-não exatamente, senhor... 

— Explique-se. 

— A encomenda foi roubada — certificou o empregado, com segurança. — Os 45 frascos do experimento estão previstos para chegarem no laboratório dentro de 2 horas, iniciaremos os testes assim que possível. 

— Isso é bom... — constatou o chefe, com um discreto sorriso de canto. — E qual a falha? 

— É que... — Passando para a parte ruim, o funcionário se sentiu até desconfortável em dar a notícia. — Todos eles foram pegos no final da operação, assim que enviaram a encomenda. Acreditamos que estejam todos mortos por agora. 

— Como assim? Não viram quem os capturou? 

— Não deu tempo, senhor — desculpou-se o homem, curvando o corpo. 

— E por que acreditam que estejam todos mortos? Eram bons homens, talvez tenham conseguido escapar. 

— N-não acredito ser possível, senhor — informou, com insegurança. — Não foi confirmado ainda, mas há quase cem por cento de certeza de que havia um assassino da Yakuza no local, então... 

— Mas se era só um, então não tem problema. 

— Senhor... — Mais uma vez, hesitou em falar. — Era Rivaille... 

O chefe precisou respirar bem fundo para não descontar a ira que sentia no subordinado. Com os olhos fechados, assentiu brevemente com a cabeça, indicando que já era suficiente. O funcionário logo entendeu o gesto e se retirou da sala, deixando o homem em elegante terno cinza-escuro afundar em pensamentos e conflitos internos. 

— Aquele desgraçado... — murmurou, com os dentes cerrados. — Segundo minhas fontes, já era para esse verme estar morto por agora... 

Por mais que quisesse acreditar naquelas palavras, sabia que seria impossível que eliminassem Levi Rivaille — pelo menos, não antes que o confronto entre Yakuza e White Snake estivesse resolvido. Lembrava-se muito bem do que havia visto no Coliseu: uma máquina mortífera imparável. Ao assistir todas as nove lutas, não teve mais dúvidas quanto ao fato de terem usado o soro de Grisha Jäeger nele — muito menos quanto a compatibilidade entre os dois, que chegava a ser absurda

Em toda a sua vida, Zeke nunca tinha visto nada como aquilo. Ninguém havia aceitado tão bem a droga presente no soro como Rivaille havia aceitado — nem ele mesmo foi capaz disso —, cumprindo perfeitamente bem com o papel que o doutor queria: criar um ser com força além da humana. 

Bem, na verdade, não era como se nunca tivesse visto alguém com alta compatibilidade com o soro... Havia, sim, outra pessoa. Mas essa, Zeke fazia questão de não lembrar — queria apagar da memória enquanto não conseguia apagar da existência. Só de lembrar dos olhos animalescos fixos nos seus, com o rosto quase angelical coberto de sangue, Zeke tinha vontade de quebrar a mesa e trazer o escritório abaixo. 

Sua sorte é que Grisha nunca me deixou chegar perto de você... — rosnou baixinho, cerrando os punhos sobre a mesa. 

Continuaria preso em sua bolha de ódio, se duas batidas na porta não tivessem chamado sua atenção. Demorou um pouco para colocar a cabeça no lugar e então receber o funcionário em sua sala. 

— Entre — chamou Zeke, mas sem paciência alguma. 

Com agilidade, um outro funcionário abriu uma pequena brecha da porta, o suficiente para que apenas ele passasse, e então anunciou: 

— Uma visita o aguarda, senhor. 

— Poda mandar que entre — respondeu no automático, sem se lembrar quem exatamente ele havia programado para encontrá-lo naquela tarde. Pensar em Rivaille e no demônio em suas recordações sempre o fazia perder o foco. 

Sem demora, o subordinado abriu a porta até o seu limite, deixando a passagem completamente livre para o homem de roupas surradas que aguardava do outro lado, coberto por um chapéu e um sobretudo. Zeke, assim que levantou a vista para o homem que adentrava sua sala, sorriu largamente — mas com os olhos ainda peculiarmente frios. 

— Bom vê-lo de novo em segurança, pai — disse o loiro, levantando-se de sua mesa para recebê-lo. Já o visitante, agora com o sobretudo e o chapéu nas mãos do funcionário, fez uma rápida reverência para que pudesse fechar a porta e finalmente ficar à sós com seu filho. Não relaxou até que a tranca fosse estalada. — O que foi, criou algumas paranoias nesse meio tempo de fugitivo? 

Grisha se virou, fitando Zeke diretamente nos olhos. Somente com aquele contato já dava para ter certeza de uma coisa: havia algo de errado com aquele sorriso falso. Podia sentir isso em cada pelo eriçado de sua coluna.  

— Sabe como é, filho... — murmurou o doutor, aproximando-se a passos vacilantes. — Todo cuidado é pouco. 

 

 

O humor do chefe não estava dos melhores ao chegar na agência, mas não era como se algum membro de sua equipe tivesse coragem de perguntar o motivo. Até porque sabiam que quando Levi não estava lá no horário... Bem, é porque estava ocupado com outro trabalho. 

— Espero que não tenham deixado acumular muita coisa — resmungou o homem de cabelos negros, assim que pisou dentro de sua sala. — Eu não estou me sentindo bonzinho o suficiente para deixar deslizes passarem só porque vocês são ‘’uma equipe de campo, e não de rastreamento’’. — Deu um olhar severo aos colegas, pois percebeu que alguns estavam prestes a argumentar o que havia acabado de dizer. — Vocês são um grupo de elite. Não podem depender unicamente de uma habilidade, caso não queiram levar uma bala no meio da fuça. Isso daqui não é brincadeira de polícia e ladrão. 

Dito isso, Levi se sentou em sua mesa e começou a ler os relatórios atrasados de Eld. Este que, após um olhar cúmplice de ‘’meu Deus, o que foi isso?’’, aproximou-se do chefe para discutir alguns detalhes do que havia nos documentos. 

— E eu aqui pensando que ele ia acordar de bom humor, espalhando amor para o mundo — murmurou Gunther para Petra, discretamente. 

— De onde você tirou essa ilusão? — respondeu a ruiva. 

— Bem, ele não dormiu com o garoto ontem? 

— Aah... — Ela deu de ombros. — Vai ver eles brigaram ao invés disso. O garoto parecia estar mesmo bem bêbado. 

— Droga, Eren, eu estava contando com isso! — praguejou baixinho. — Ainda estou sentindo um restinho de ressaca, e gostaria muito de um Heichou mais pacífico. 

— Ei, vocês dois — E por falar no demônio... —, por que estão de conversinha aí? Pensei ter deixado claro que não quero mais trabalho acumulado. 

— Sim, senhor — responderam ao mesmo tempo, imediatamente caminhando cada um em direção à sua mesa. 

Oluo, que apenas assistia a cena em silêncio, decidiu se manifestar quando percebeu que a poeira já havia abaixado. Sorrateiramente, aproximou-se da parceira de campo e disse: 

— Eu avisei que não era uma boa ideia sair pra beber no meio da semana. 

— Ai, Oluo, que susto! — resmungou a ruiva, pondo uma mão sobre o peito. — Agradeço a preocupação, mas o mau-humor do chefe não se deve à nossa saída ontem à noite. 

— Eu duvido muito — afirmou em desdém. — Ele com certeza ficou sabendo, não ficou? 

Petra, começando a ficar impaciente, virou-se para o colega e disse num tom ríspido, mas ainda cordial. 

— Sim, ele soube. Não só soube como foi beber com a gente no final da noite. — Aquela última informação realmente pegou Oluo de surpresa. — Agora, se não se importa, eu gostaria de evitar levar outra advertência do Heichou. Com licença. — E então, voltou a focar em seus afazeres. 

Oluo arfou, e passou uma mão pela nuca, já sabendo o que esperar daquele dia: mais estresse. 

Pelo visto, os esforços de Hanji para deixar o clima da Equipe Rivaille mais descontraído foram todos por água abaixo em questão de segundos. Porém, quando todos estavam quase desistindo de tentar amenizar a tensão no grupo, eis que duas batidas na porta acompanhadas de uma intromissão sem permissão chamam a atenção dos presentes na sala. Tratava-se de Mike, e uma outra visita um tanto peculiar... Nile Dok. 

— Bom dia, Rivaille. Ótimo saber que já está de volta à agência, as notícias são exatamente para você — informou o loiro alto, em seu tom de voz usual que mascarava qualquer tipo de emoção. — Segundo nosso colega, Nile Dok... 

— Desde quando ele é meu colega? — ralhou o de olhos cinzentos, cruzando os braços enquanto recostava-se no encosto de sua cadeira. 

Mike optou por ignorar a provocação, assim como Nile, que se limitou a revirar os olhos. Desde aí, Levi já começou a estranhar o comportamento do seu ‘’arqui-inimigo’’. 

— Bem, como eu ia dizendo — prosseguiu o Vice —, Darius Zackley e a bancada de ética finalmente liberaram seu porte de arma mais uma vez, Levi. Pode voltar às atividades normais no trabalho. 

Uma breve e contida comemoração se iniciou dentre os integrantes da equipe, felizes por terem o chefe de volta à ativa — e, com isso, esperançosos de que seu mau-humor constante melhorasse. Levi, porém, não conseguiu compartilhar da comemoração dos colegas. Estava com os olhos fixos em Nile, que retribuía o gesto de forma... cautelosa. 

Algo naquela história não lhe cheirava bem. 

— Alguma coisa a mais? — perguntou o Líder da Equipe de Casos Especiais, mas com os olhos ainda focados no Agente Federal. 

— Ah, sim, tenho outra boa notícia para dar a vocês — lembrou-se Mike, mas dessa vez deixando um fio de desconforto transparecer em sua voz. ‘’Bingo’’, pensou Levi, sabendo que o loiro não reagiria daquela forma a não ser que tivesse alguma coisa para suspeitar. — Os superiores reconheceram que a Agência como um todo está bem caótica devido a intensa atividade repentina de grupos criminosos pelo estado, principalmente aqui na capital. E, sabendo que a equipe de vocês é a mais sobrecarregada com assuntos da Yakuza… — Mike fez uma pausa para dar um suspiro, e por um milésimo de segundo, olhou para Levi como se dissesse ‘’cuidado’’. —… Foi decidido que, a partir de amanhã, Nile Dok, Agente Federal de Investigação, irá trabalhar em conjunto com a 13ª Equipe de Casos Especiais.  

O choque foi tamanho que se passaram alguns segundos sem nenhuma palavra ser proferida, apenas expressões em choque sendo manifestadas, à exceção de Levi e Nile, que mantinham um diálogo silencioso apenas com a troca de olhares — estes que, por sinal, não eram nada amigáveis. 

 

 

 

— Ah, foi mal aí — desculpou-se o fotógrafo assim que se recuperou do tombo, mas mais preocupado em checar se o equipamento estava são e salvo do que se estava tudo bem com o garoto com quem havia se esbarrado. 

Eren olhava incrédulo para aquele homem que engatinhava na calçada da rua tentando juntar as coisas que caíram de sua mochila graças à queda. Ele era estranhamente... engraçado. Não de um jeito divertido, mas, sim, de um jeito estranho e peculiar, que certamente chamou a atenção do moreno de olhos agora com um leve misto de âmbar, como um raio de sol atravessando uma ampla relva alta.  

Eles haviam acabado de se esbarrar, mas tudo que ouviu foi um simples “foi mal aí”? Não… Teria deixado essa passar em qualquer outra ocasião, mas não naquele dia, não naquele humor. 

— “Foi mal aí”? Isso é tudo que tem para me dizer? — atirou o adolescente, mais para provocar o estranho do que pelo real incômodo. Porém, para sua surpresa, o fotógrafo sequer lhe deu atenção. Sendo assim, aproximou-se marchando e com o cenho franzido, aumentando o tom de voz ao dizer: — Ei, eu tô falando com você! Por acaso é surdo? 

Desta vez, não havia como não notar a presença do moreno vindo em sua direção. O fotógrafo agarrou tudo que era seu e pôs-se de pé no mesmo segundo, imediatamente adotando uma posição defensiva. 

— Uoou, calma aí, parceiro! — murmurou com a voz trêmula, tentando não chamar mais ainda a atenção das pessoas em volta. — Foi um acidente, beleza? Não precisa ficar esquentadinho com... Ei, espera — disse, assim que pôde observar Eren mais de perto. — Você tem... um bom porte físico, não é? 

— O quê, agora está com medo que eu te dê uma boa surra? — desdenhou o adolescente, com um sorriso nada amigável nos lábios. 

— E olha pra esses olhos... — murmurou o homem, ignorando completamente o que o garoto havia acabado de dizer e se aproximando naturalmente de Eren, analisando-o sem se importar com o desconforto que isso poderia causar. — Caramba, eles são lindos, e parecem mudar de cor na luz do sol! E esse queixo? Um pouco fino e delicado, mas dá um ar de angelical pra o seu rosto, então ficou bem no conjunto. Que, por sinal... — Deu um passo para trás apenas para analisar melhor o garoto de corpo inteiro. — Deus, você é mais bonito do que eu havia notado de primeira. Não te machuquei com a queda, não foi? Isso seria lastimável...! 

Eren ficou estático por alguns segundos, sem saber como reagir àquele estranho que o tratava de forma muito mais íntima do que gostaria. Porém, tinha que lhe dar os parabéns por uma coisa: ele era tão peculiar que o fez se esquecer da eminente explosão de raiva no meio da rua. Não era como se estivesse tudo bem depois desse encontro inusitado — muito pelo contrário, continuava se sentindo um lixo —, mas certamente não estava mais com vontade de quebrar o pescoço da primeira pessoa que passasse na sua frente. 

— Você... Uh, só vai embora — resmungou o moreno, abanando as mãos na direção do fotógrafo de cabelos loiros e ondulados, presos por um parcial rabo de cavalo. — Você é louco, só pode ser. 

— Ei, não, espera! — chamou, segurando o antebraço de Eren para que ele não se afastasse ainda mais. Eren puxou o braço no primeiro toque. — Por favor... Eu preciso de você! 

— Precisa de mim? — repetiu o garoto, balançando a cabeça. “Esse louco tá a fim de mim ou o quê?”. — Olha, cara, eu não sei o que diabos está se passando na sua cabeça agora, mas saiba que eu só não saí na mão com você porque fiquei com pena. Só que... olha, eu tô tendo um dia realmente ruim e… 

— Ok, ok, relaxa... — disse o fotógrafo, sorrindo gentilmente. — Percebi que você estava meio que de cabeça-quente, então... o que me diz de fazer algo pra desestressar

O moreno se surpreendeu naquele momento. Podia ser uma coisa boba, mas aquela sugestão sutil o fez se lembrar de quando ainda nem namorava Levi, quando haviam ido para o fliperama gastar um tempo na máquina de rebater apenas porque o mais velho havia feito a mesma pergunta... 

“Quer desestressar?” 

— Como assim, desestressar? — quis saber o garoto, ainda receoso, mas sem dúvida alguma curioso. 

O fotógrafo sorriu amplamente, deixando à mostra duas singelas covinhas marcando o canto da boca. Pegou facilmente a sua câmera profissional e apontou a lente para o mais novo, conseguindo uma foto espontânea — e um tanto engraçada. Sorriu ao ver o resultado, e então olhou para o moreno mais uma vez, mostrando-lhe a foto. 

— Como eu havia dito antes... você é muito bonito. E digamos que eu precise muito de um modelo, pra agora... E então, o que me diz? 

 

 

— Vai dizer alguma coisa ou está satisfeito apenas secando meu rosto? — atirou Levi, perdendo a paciência com o silêncio de Nile. 

Depois de um longo suspiro, o Agente Federal apertou brevemente a ponte do nariz e procurou um estoque extra de calma para lidar com aquela situação e conseguir ter uma conversa sincera com Levi. 

— Rivaille, se importaria de sair comigo um minuto? Quero falar com você a sós — pediu Nile, mas sem a arrogância usual em seu tom de voz. Essa foi a parte mais assustadora para Levi. Na verdade, não só para ele, como para todos os presentes, que esperavam uma imediata discussão acalorada entre os dois “inimigos declarados”. 

O Líder do Grupo de Casos Especiais seguiu o até então colega de trabalho, mas com muito receio. Pensava que já estaria com a cabeça cheia apenas pelo trabalho estranho que Pixis o havia mandado fazer naquela manhã, mas certamente a surpresa de ter Nile Dok como seu colega de trabalho fez sua mente dar ainda mais nós.  

— Finalmente, o que quer comigo? — perguntou Levi, indo direto ao ponto, assim que chegaram a uma sala de interrogatório vazia. Cruzou os braços e esperou pelas ofensas usuais. 

— Não tenho tempo pra isso, Rivaille — ralhou Dok, parecendo mais cansado do que aparentava alguns minutos atrás. — Olha, não precisa mais esconder que você é um rato imundo da Yakuza infiltrado na polícia. 

Em questão de segundos, todas as barreiras de Levi desabaram e ele se sentiu exposto. “Como esse filho da puta sabe disso?!”, desesperou-se mentalmente, mas por fora mantendo ainda a casca fria — afinal de contas, aquilo podia ser um blefe. Estreitou o cruzamento dos braços e cerrou os punhos, mas evitou que qualquer outro sinal se revelasse. 

— O que você... 

— Já falei que não tenho tempo pra isso, Rivaille — repetiu Nile, deixando um pouco de irritação transparecer. Estalou a língua e apertou a ponte do nariz, agradecendo mentalmente pelo silêncio do outro. — Eu sempre soube que você era fiado em qualquer porcaria dessas, não fiquei te marcando só porque deu vontade. Acha que eu odeio as pessoas de graça? — Esperava ouvi-lo retrucar, mas surpreendeu-se ao ver que Levi parecia bem focado em cada palavra que dizia. “Bem, melhor assim”, pensou. — Tentei arruinar sua carreira aqui porque sabia do perigo que você representava. Mas, bem, o motivo de estarmos aqui tendo essa conversa é que... — enrolou-se brevemente com as palavras. Não queria complicar a vida de Erwin, até porque não sabia qual seria a reação de Levi. Tinha que ser cuidadoso. Porém, sabia que não era capaz de mentir. — Bem, o motivo é que eu e Erwin somos amigos há tempo o suficiente para que ele me infectasse com as insanidades dele. 

— Sabia que tinha um dedo desse f... 

— Melhor pensar duas vezes no que for dizer de Erwin, só não está algemado agora por causa dele. 

O silêncio imperou por alguns segundos, sengo acompanhado pelo desconforto entre os dois homens que se encaravam com estranheza. Pela primeira vez, podiam olhar nos olhos um do outro e ver, de fato, a identidade verdadeira escondida por detrás da máscara social que usavam — e isso não era nem um pouco confortável. 

— No final das contas... acho que você é mais inteligente do que eu julguei, não é? — prosseguiu Nile, desviando o olhar para um canto qualquer da sala, tentando evitar aquele desconforto incômodo. — Deve saber muito bem que os superiores nunca mandariam um Agente Federal para uma Agência Estadual por um motivo tão banal como “parece que as coisas andam puxadas por aí”. Eles estão de olho em você, e admito que, em parte, é por insistência minha. — Quando retomou o contato visual, o fez de forma séria e firme, sendo sustentado pelo menor. — Então, o negócio a partir de agora é o seguinte... Eu serei o seu supervisor. Não preciso nem falar que qualquer passo pra fora da linha e sua carreira aqui dentro estará arruinada. — Calou-se por um breve instante, apenas para ter certeza se acabaria com a ameaça, ou se diria o que lhe estava incomodando a consciência o dia inteiro. — Mas, mais importante do que isso... Essa é a sua chance de provar que eu estou errado, e que você é uma boa pessoa. Um bom agente. Estamos entendidos? 

— Acredito que sim — murmurou Levi, aparentando estar não muito feliz. — Não é como se eu tivesse direito de argumentar contra, não é? 

Nile deu um discreto sorriso de canto e então deu as costas, caminhando em direção à porta. 

— Ainda bem que entendeu. 

 

 

Embora ainda fosse dia, o blackout na janela fazia com que o breu reinasse no quarto. Marco estava deitado em sua cama, completamente esparramado, usando as roupas mais confortáveis que tinha. Nos olhos, trazia uma linha avermelhada logo abaixo da linha d’água — só não sabia se era por causa das lágrimas que derramou minutos atrás ou se o cigarro de maconha que trazia na boca já estava fazendo efeito.  

Havia chegado ao seu limite...  

Algumas horas atrás, estava tudo bem. Bastou ligar para Jean, pensando em fazer algo para distrair o tédio inevitável das férias, que as coisas começaram a desandar. Como sempre, acharam um motivo bobo para discutirem e arruinar com seu bom-humor. Não entendia o porquê do melhor amigo agir daquela forma tão complicada, sempre com desculpas do tipo “É você que não entende o que eu estou passando!”. Era a coisa mais tola que podia ouvir. O que ele poderia estar passando de tão ruim, a ponto de magoar seu melhor amigo? E mais... ainda sabendo que o amava...? 

Mas nem disso tinha mais certeza. 

Enquanto que para Eren, o tempo passado só havia fortalecido a sua ligação com seu namorado, para Marco e Jean tinha sido o completo oposto. E detestava ter que admitir, mas invejava fortemente o moreno de olhos verdes. Por que quando Eren saiu do armário, tudo ficou exatamente como estava, mas com ele tinha sido diferente? Eren por acaso era um gay melhor do que ele? Era porque Eren era mais bonito que ele? 

Qual era a maldita diferença entre os dois para que o tratamento de Jean fosse tão diferente? 

Não gastou muito mais tempo com essas perguntas bobas, sabia que não encontraria uma resposta mesmo que ficasse pensando nisso o dia inteiro. E, sinceramente? Já estava cansado disso. Preferiu dar mais atenção à fumaça fina que saía de sua boca, que, à medida que subia, se misturava com outra de tom levemente mais acinzentado. 

Sorriu ao se lembrar que não estava sozinho — até porque não saberia onde conseguir um cigarro de maconha. Sentado logo ao seu lado, com o corpo recostado à parede, estava Bertolt e seu singelo tabaco entre os dedos, vez em quando tragando um pouco da fumaça enquanto observava as diversas reações de Marco à droga que o oferecera. 

— E pensar que eu estava com dor de cotovelo só por causa de um fora de Jean antes de você chegar... — murmurou Marco, com um sorriso bobo nos lábios. 

— Você levou um fora dele? — quis confirmar o moreno alto, mesmo tendo ouvido em alto e bom som. 

— Claro que levei, aquele ser tosco e homofóbico nunca seria capaz de chupar um pau — desdenhou, dando indícios de estar perdendo o filtro. — Azar o dele, eu boto mais fé nas minhas habilidades lidando com um pau do que qualquer entregada que ele encontrar por aí. 

Finalmente, Bert teve uma confirmação direta do que havia entre Jean e Marco, e aquilo era melhor do que esperava. Afinal de contas, queria usar o “amigo” para alastrar ainda mais seu domínio pelo colégio, e por Marco ser consideravelmente popular nas classes mais novas, aquele era seu pote de ouro. Afinal de contas, só precisava manipular um pouquinho os sentimentos dele para que o destruísse por completo, a ponto de depender de seus produtos para manter ao menos uma falsa felicidade. E havia oportunidade melhor do que aquela: um coração genuinamente partido? 

Achando a situação tanto engraçada quanto interessante, o moreno alto não resistiu à tentação de se aproximar do amigo jogado em sua cama e puxá-lo pela curva bem definida da cintura. 

— Ei, ei... esqueceu por que me chamou aqui? — ronronou Bert, sorrindo para a sua presa. 

Marco retribuiu o gesto com um sorriso bobo ainda mais alastrado, acariciando o braço forte que o segurava. 

— Pra esquecer de toda essa merda com Jean… — respondeu o garoto de pele pintada, com a voz morna. 

— E quem é esse tal de Jean mesmo? 

Marco sorriu ainda mais, o que o forçou a fechar os olhos. Com isso, não pôde ver a forma como Bertolt o olhava — curioso, intrigado e, de certa forma… deslumbrado. Sem pensar muito no que estava fazendo, Bert se inclinou e tomou os lábios do amigo com os seus, domando-os com habilidade mas sem rispidez — não sentiu nenhuma resistência da parte de Marco, então não houve necessidade de impor o contato. Muito pelo contrário; Bert descobriu que por entre os lábios suaves e de carne macia, havia uma boca gentil e convidativa, com uma língua sensual que o envolvia em um ritmo inebriante. 

Ah, não esperava ter uma recompensa tão boa por destruir os sentimentos de alguém. 

Evoluir a carícia, expandindo o contato com as mãos, foi algo natural para os dois adolescentes, que logo se viram ritmados com o movimento dos corpos um do outro. Não era exatamente aquilo que Bert havia planejado, mas se tinha a oportunidade... Por que não a usar? Também havia coisas que ele próprio desejava esquecer sufocando nos desejos carnais. 

E quanto a Marco...  

Lá no fundo de sua consciência, sabia que tinha algo de errado com aquilo. Nunca havia usado drogas — sequer chegou a passar dos limites com álcool. Nunca havia mentido para mãe dizendo que não traria ninguém para casa. Nunca havia deixado ninguém se aproximar enquanto estava com a guarda baixa, como estava fazendo naquele momento. E mais... nunca pensado em se entregar para alguém no primeiro beijo, ainda mais alguém que não conhecia de fato, mas naquele momento, aquela parecia ser a escolha correta. 

Tudo porque, no final das contas, o sentimento de ser um rejeitado, tanto pelo garoto que amava quanto pelos amigos — que aparentemente não se importavam com sua dor — parecia agora um pesadelo antigo. Tudo que não podia falar para mais ninguém, muito menos para a própria família, parecia transbordar de cada fibra de seu corpo apenas com o toque de Bertolt. Não precisava de palavras, precisava apenas... dele. 

Precisava de Bertolt, tanto quanto um dia precisou de Jean. 

— Eu vou fazer com que você se sinta bem, Marco... — murmurou próximo ao ouvido que também possuía algumas pintinhas. Beijou cada uma delas. — Confie em mim, e tudo vai dar certo. Você vai ficar bem feliz..

 

 

A tensão na sala apenas aumentou quando Grisha recebeu um prolongado silêncio como resposta do filho. Sentiu que havia algo de estranho desde que conversaram pelo telefone, mas não imaginava que teria um calafrio tão forte ao ser encarado diretamente pelos olhos gélidos de Zeke. 

— Eu acho que não entendi direito... — disse o mais novo por fim, em um tom contido. — Você disse que... não vai colaborar? 

Grisha suspirou com pesar, já esperando ter a decepção como resposta. 

— Olha, filho... — hesitou por alguns instantes, pensando na melhor forma de fazê-lo entender sua situação. — A Yakuza está na minha cola desde o dia em que eu abri meus olhos pela primeira vez. Não demoraria muito até que alguém me encontrasse caso eu prossiga com os experimentos, eu não posso me manter ativo. E você sabe que eu... Eu não quero fazer mais isso. Quero me livrar desse fardo o quanto antes, enquanto ainda tenho tempo pra tentar expiar tudo que eu já errei... 

A cada palavra dita, o Doutor sentia que o clima ia piorando entre os dois. Claro, não participou da criação de Zeke, mas era seu filho e sabia como ele pensava... Sabia que, naquele momento, ele estava com muita raiva. Naquele momento, sentiu mais saudade de Eren do que nunca; com apenas um olhar, podia dizer o que o filho mais novo estava sentindo, e o que deveria fazer para contornar a situação da melhor forma possível. Já o filho mais velho... Este, sim, possuía alguns traços seus em sua personalidade. O que significava que aquele silêncio penumbroso não poderia significar nada além de coisas não muito boas. 

— Você tem razão — disse o loiro por fim, mesmo que não parecesse muito conformado. Aquela frase foi tão chocante para Grisha, que já estava acostumado com o orgulho infinito de Zeke, que no mesmo instante ele pôde confirmar: havia algo de errado. — A Yakuza realmente sempre esteve na sua cola... Maldita seja a Família Jäeger, não é? — Deu um singelo sorriso, mas não foi acompanhado pelo pai. — Ainda bem que você me renunciou como filho bastardo e eu não precisei crescer sob o terror constante de ser um Jäeger

— Zeke... 

— Mas, convenhamos... Não acha a escolha que está fazendo agora meio burra? — disse, ainda trazendo a sombra de um sorriso nos lábios. Grisha praguejou o momento em que decidiu se encontrar com ele. — A Yakuza sempre perseguiu e sempre irá perseguir você... Não importa se você está na ativa ou se decidiu se aposentar mais cedo. Tudo que eles querem é a sua carniça dentro dos limites deles, onde eles podem facilmente te executar caso seja conveniente. Ainda não entendeu que a chance que eu estou te dando agora é de garantia de segurança

— Me manter atrelado a uma organização nesses tempos de paz armada é a coisa mais arriscada que eu poderia fazer — reforçou Grisha. — Zeke, eu não vou mais fazer experimentos em pessoas... 

— Se espera um dia voltar pra sua família feliz, então está muito enganado — atiçou o filho. — Aceite, Grisha... você ama o que faz. E nós dois sabemos que Carla já percebeu que você nunca conseguiu abandonar esse seu lado doentio. Ela nunca vai te aceitar de volta, mesmo que você realmente deixe tudo para trás. 

— Então o mínimo que eu posso fazer agora é, de fato, largar tudo — disse, engrossando o tom de voz. Detestava quando o escutava falar de Carla. — Filho, por favor, entenda que eu realmente me arrependo das coisas que fiz, e que agora só estou procurando uma forma de consertar as coisas pra ser um pai melhor... 

— Um pai melhor pra mim ou pra aquele projeto de demônio que você nunca devia ter deixado sair do porão de casa? — rosnou Zeke, começando a perder a compostura. 

Ah, porcaria, lá vamos nós de novo...”, pensou o Doutor, já sabendo do complexo que Zeke tinha com o meio-irmão. No início, acreditava que era apenas porque Eren teve o direito de crescer ao lado do pai, e a inveja do mais velho seria completamente compreensível para Grisha. Porém, quanto mais os anos foram se passando, o ódio que o filho mais velho guardava do mais novo apenas aumentava, e de uma forma que nem mesmo o próprio pai conseguia entender. Os dois nunca chegaram a se encontrar — teve o cuidado de nunca deixar que se aproximasse de sua família —, mas ainda assim Zeke guardava um ódio carregado, como se Eren fosse o responsável por todas as calamidades do mundo.  

— Eu vou perguntar apenas mais uma vez — disse o loiro pausadamente, voltando à estabilidade. — Aceita trabalhar para a White Snake em troca de proteção? 

A resposta veio sem muita demora, em um tom frio e gélido: 

— Não. 

Zeke abriu um largo sorriso, daqueles que faria até uma assombração pensar duas vezes antes de se aproximar. Subitamente, sua postura havia relaxado, como se ele estivesse em zona de conforto... e isso não fazia sentido para Grisha. Ele havia acabado de dizer não, por que Zeke reagiria assim? 

Inevitavelmente, quis sair daquele prédio no mesmo segundo. 

— Sabe, Grisha... — murmurou Zeke, com o ar bem mais relaxado, até mesmo divertido. — Você pode ser um puta de um cientista, mas eu sempre vou te ver como uma pessoa extremamente estúpida. — Inclinou-se levemente para mais perto do pai, que cerrou os dentes. — Eu tinha tudo pra ser a cobaia perfeita, eu seria o experimento perfeito... Mas, não, você decidiu gastar seu tempo com aquele lixo inútil... Onde está seu precioso Eren agora para te proteger, hein? — À medida que falava, deixava seu sorriso macabro tomar espaço em seu rosto. — Eu seria tão incrível que faria até aquele retardado do Levi Rivaille da Yakuza engolir as próprias bolas antes de procurar encrenca comigo. — Escutar o nome de Levi fez Grisha automaticamente ficar ainda mais tenso. — É... eu estava na última luta do Coliseu. Acha que nós não ficamos sabendo da afronta que a Yakuza planejou naquele dia. 

— Deram o soro para Rivaille? — espantou-se o Doutor. — Isso é loucura! Pixis perdeu a cabeça?! Ele é um assassino de ponta, se ele reagir bem ao soro, vai ser... — interrompeu-se ao lembrar que estava na frente de uma pessoa tão perigosa quanto. 

— Ainda bem que entende os riscos. Sabe, eu realmente não queria que as coisas terminassem dessa forma, mas é o que dizem... Para situações extremas, é necessário medidas extremas. 

Naquele momento, o Doutor pôde ouvir a porta se abrindo, e logo entendeu que Zeke faria realmente de tudo para ter o que queria. Entendendo a situação, não hesitou em puxar a pistola escondida no cós de sua calça e apontá-la para o próprio filho. Porém, Grisha era um médico, e não um policial... Seus movimentos não foram rápidos o suficiente para que pudesse usar Zeke de refém, e logo sentiu a dor de uma forte pancada atingir-lhe a nuca. 

O breu veio logo em seguida, e o médico desejou mais do que nunca que ele fosse eterno. 

 

 

Finalmente, os últimos raios de sol atravessavam pela janela aberta e banhavam o quarto de Eren com tons de laranja e amarelo. Ele estava deitado em sua cama, olhando fixamente para o teto, como fazia sempre que entrava em conflito interno. Não conseguia entender por que aceitou o convite do fotógrafo, ainda mais sabendo que aquele podia ser apenas um golpe. Por sorte, não era, e o adolescente saiu de fato mais “desestressado”, como o mais velho havia dito.  

Não é como se tivesse feito algo de errado, mas ainda assim, trazia um peso na consciência que o esmagava por dentro. Parte de si queria ligar imediatamente para Levi e contar tudo de uma vez, não aguentando fardo de seu “pecado” — mesmo que ele fosse, tecnicamente, inexistente —, já imaginando a bronca que o mais velho daria ao saber que seu namorado havia se tornado um modelo. Porém, uma parte mais rebelde — e ainda revoltada com tudo que estava acontecendo — pensava diferente... 

“E se eu não contar pra Levi?”, era o que ecoava no fundo de sua mente. No mesmo instante, todos os segredos que o namorado guardava lhe veio à tona, como se isso o desse crédito para ter seus próprios segredos também. E, na verdade, era exatamente o que queria; estava cansado de ser o único deixado no escuro pelo mais velho... E daí se não contasse que poderia trabalhar de modelo? Levi nunca havia deixado ele entrar naquele quarto trancado também. 

No final de um longo debate interno sobre sua própria moral, Eren inevitavelmente correu sua atenção para o celular, procurando alguma distração útil em uma rede social. Ao perceber que aquilo não estava ajudando em nada, pensou em ligar para Armin e ver se uma conversa descontraída com seu melhor amigo não melhorava seu humor —não seria problema algum contar sobre seu “segredinho” para Armin. Porém, no momento em que abriu os Favoritos da sua lista de contato, inevitavelmente o nome do namorado surgiu em sua tela.  

Depois de um longo suspiro, resolveu ceder à tentação. 

— Pirralho, já ia te ligar — disse Levi assim que atendeu. Sua voz não era muito animada; na verdade, estava até mais rouca que o normal. 

— Parece cansado — resolveu comentar, sorrindo involuntariamente ao escutar a voz do mais velho. — Dia puxado? 

 Nem me fale... — resmungou. — Mesmo se eu te contasse tudo que aconteceu, acho que ainda assim não seria capaz de explicar o quão confuso foi pra mim. 

— Jura? Foi algo tão grave? 

— Calma, não foi nada relacionado a uma operação. Foi só uma conversa estranha que eu tive com um... antigo colega, por assim dizer. 

— Hmm, acho que entendo — disse em tom de gozação. Por mais que quisesse manter o clima descontraído, não conseguiu evitar de pôr uma leve pitada de acidez em sua voz ao dizer: — Pode falar sobre isso ou é mais um de seus segredos que menores de idade não podem saber? 

— A conversa estava fluindo tão bem, por que você tinha que jogar na minha cara que eu posso acabar preso? — brincou Levi, fazendo o namorado rir contidamente. — E, por favor, não me lembre que você é menor de idade. Eu sei que você vai me encher o saco com seus ‘‘quase 17 anos’’, e eu também sei que não tem problema, mas ainda assim, sempre tem aquele pesinho na consciência... 

— Ok, eu já entendi. Quer dar um tempo e só voltar quando eu já tiver 21? 

— Pensei que a gente já tinha superado essa fase de “vamos-não-vamos-terminar”. 

— E eu pensei que você já tinha superado a nossa diferença de idade, mas cá estamos nós falando disso. 

— Touchè — disse o mais velho com um sotaque forçado, arrancando mais alguns sorrisos do moreno. — E o seu dia, como foi? Ficou só de pernas pra cima sem fazer nada ou tomou vergonha na cara e pelo menos fez uma faxina pra fingir que é útil? 

— Gostaria de aproveitar este momento para apreciar o quão gentil você é comigo — amuou o moreno, mas apenas de brincadeira. Porém, a pergunta o fez recapitular o dia, e inevitavelmente se lembrou do incrível desconforto na casa do namorado, da notícia da mãe, do seu segredo com o fotógrafo... 

— Eren? — chamou, estranhando o silêncio do garoto. 

— Meu dia foi normal — resmungou por fim, suspirando pesadamente. — Acho que sou um vagabundo inútil, como você acha que eu sou. 

— Por que você está sendo uma vadia? Aconteceu alguma coisa? 

Eren deu mais um longo suspiro. 

— Eu não sei se quero falar sobre isso com você. 

 Eren, o que aconteceu? — reforçou o namorado, sem muita paciência para aquela enrolação. 

Porém, forçar o garoto a falar não deu muito certo — muito pelo contrário. Um silêncio desconfortável se estabeleceu entre o casal. 

— Não é nada — disse o moreno, após uma longa pausa desconfortável. — É como você sempre diz, eu só sou um pirralho mimado e imaturo que se irrita com qualquer coisa. 

— Vem cá, nós estamos tendo uma briga? — atirou Levi, com o tom de voz mais firme. — Porque eu não me lembro de ter dado motivo pra isso. Muito pelo contrário, estou tentando entender por que você está assim. Vai colaborar ou vai continuar jogando indireta? 

Mais uma vez, os segundos correram sem nenhuma palavra a ser dita. 

— O que tem naqueles quartos trancados? — resolveu perguntar, por fim, mas já com a voz igualmente ríspida. 

 Que quartos trancados, Eren? — perguntou, num tom cansado. 

— Aqueles do seu apartamento, os que ficam no corredor do seu quarto. Tem dois quartos extras que sempre ficam trancados... o que tem neles? 

 O que isso tem a ver? — devolveu Levi, mas dessa vez com algo a mais na sua voz, um desconforto malmente mascarado, o que deixou a curiosidade do garoto ainda mais aguçada. E o incômodo também. 

— Por que não quer dizer de uma vez o que tem lá? — perguntou, já mudando para uma posição ereta sentada na cama. Sentia os músculos tencionarem na mesma proporção em que sua irritação crescia. 

— Primeiro, abaixe seu tom de voz quando for falar comigo — disse o mais velho, claramente se contendo para não reagir à grosseria do namorado. — Segundo, lá eu guardo coisas do trabalho. Não tem nada pra você ver naqueles quartos. 

— Ah, nada pra ver... — murmurou sarcasticamente, pondo-se de pé. — Agora, tudo na sua vida tem a ver com seu trabalho, e coincidentemente eu nunca posso saber do que se trata... 

— Que bicho te mordeu hoje, pirralho? — atirou, claramente irritando-se com a conversa. — Eu sou um agente do governo, Eren, o que mais você queria? 

— Eu queria que você fosse honesto comigo. Sei que você guarda alguma coisa naquele quarto que não quer que eu veja... o que é? 

— Você não viu o que tinha lá, viu? — atirou Levi, mas vacilando novamente no tom de voz e deixando transparecer um pouco de insegurança. Eren rangeu os dentes para aquilo. — Se não viu, então não tem por que continuarmos com essa conversa. 

— Eu vou ter que arrombar a merda daquela porta pra você ter uma conversa decente comigo sobre a vida secreta que você leva escondida de mim? 

O moreno havia cuspido aquelas palavras da boca para fora, sem saber o efeito que elas teriam no mais velho. Se soubesse da expressão arrasada que Levi fazia do outro lado da linha, talvez não tivesse ido tão longe na sua insistência. Mas agora já era tarde. 

— Eu confiei as chaves do meu apartamento pra você — rosnou o policial, tentando conter o turbilhão de sentimentos que pareciam bloquear a passagem de ar em sua garganta. — O que mais você quer de mim? 

— De que adianta me dar chaves que não abrem todas as portas? 

Sem saber, Eren abriu uma ferida que dificilmente havia sido fechada no coração de Levi no passado, e agora, talvez fosse mais difícil ainda de curá-la novamente. Não haviam palavras que pudessem reverter o dano feito — ao menos, não que pudessem ser ditas pelo garoto com o sangue quente como estava. 

Com um grande peso no coração, o mais velho encerrou a chamada, silenciando o próprio silêncio existente entre eles. 

Eren deixou a mão cair da orelha, imóvel mesmo quando o celular colidiu com o chão. Seu semblante era frio e vago, completamente inexpressivo. Porém, dos seus olhos escorriam tímidas lágrimas, que não se atreviam a ganhar volume. Eram apenas filetes de dor que cortavam as bochechas pálidas, traçando um caminho úmido e solitário até o final de seu rosto... ainda inexpressivo. 

Seu dia havia melhorado, havia revertido com sucesso o humor instável de mais cedo com o ensaio fotográfico. Então, por que estava sentindo aquela raiva latejante queimando o seu peito mais uma vez?  

Estava tudo bem... 

Estava tudo bem... 

Estava tudo bem... 

Eren havia repetido aquilo trinta vezes em sua mente, e repetiria trinta vezes mais, se em sua mente não tivesse surgido o rosto do namorado. 

Não, não estava tudo bem. 

O que sentia naquele momento era vontade de arrancar fora a mandíbula do primeiro que aparecesse na sua frente, e aquilo estava longe de ser “tudo bem”. A única coisa que ainda conseguia raciocinar naquele momento era que, sem sombra de dúvidas... Levi tinha mais controle sobre ele do que imaginava.  

E foi então que o garoto sorriu. 

 

 

Aquele lugar realmente podia ser a definição de inferno. Não importa aonde estivesse, sempre seria capaz de ouvir os gritos e berros como se o próprio som fosse capaz de agredi-lo, e isso sem falar no cheiro pútrido nem um pouco convidativo. Por sorte, deram a Reiner um tempo à sós numa espécie de antecâmara para poder se preparar pelo que lhe aguardava dentro de alguns minutos. Estava sentado em um banco de madeira, completamente imerso em pensamentos. 

Dentre as várias coisas que se passavam na cabeça do adolescente, a que mais o incomodava era a guerra moral travada em seu subconsciente — que parecia estar mais consciente do que nunca. Embora o caos da torcida frenética ecoasse naquele cubículo afastado e escuro, a mente de Reiner conseguiu atingir o ápice de pleno silêncio, quase em estado de meditação. Muito estava em jogo naquele momento, e o adolescente não sentia mais a capacidade de distinguir o certo do errado. O momento de maior desespero foi quando percebeu que não havia mais alguém em que confiava, nem mesmo em si próprio.  

Naquele instante foi que percebeu o quão barato era o preço de sua vida, um alguém qualquer sem passado digno e sem perspectiva de um futuro próspero. 

Em meio ao vazio em que se encontrava, um borrão preto lhe chamou a atenção, distanciando-o de seus pensamentos. Era Bertolt, que se agachava em sua frente enquanto apoiava uma mão em seu ombro. Parecia sereno — até contente, para falar a verdade. 

— Estou orgulhoso da sua decisão, Reiner — contou o melhor amigo, mostrando os dentes em um sorriso breve. — Não imaginei que fosse topar com essa ideia, por isso não cheguei mais cedo. Mas estou aqui por você agora. 

Não houve uma palavra de agradecimento ou cumplicidade por parte do loiro; houve apenas a seriedade de quem encarava o abismo. 

— Você tem certeza, não é? — disse em um fio de voz. 

— Quê? 

— Tem certeza de que é isso que você quer, não é? — repetiu a pergunta, dessa vez encarando profundamente os olhos castanho-escuros do moreno à sua frente. 

Bertolt silenciosamente retirou a mão do ombro do amigo, com um semblante que refletia a confusão que sentia. 

— Sim, eu tenho — respondeu calmamente. — E você? 

Reiner deu um longo suspiro enquanto punha-se de pé. Bert fez o mesmo, dando um passo para trás logo em seguida para dar passagem ao loiro, que andou hesitante até a porta da saída. 

— Eu já não me importo mais — murmurou com a voz sem vida, enquanto caminhava para um caminho sem volta de violência e, quem sabe, riquezas sem real valor.  

O ânimo de Bert se esvaia a cada passo dado por Reiner, sendo completamente substituído por culpa e, quem sabe, também remorso. Por um segundo, pensou se realmente estava escolhendo o melhor caminho, tanto para ele como também para aquele que aprendeu a chamar de irmão. Porém, não durou muito; tudo se perdeu em meio aos gritos fervorosos quando, de dentro do ringue, foi anunciada a próxima luta: Bill Fuhr, mais conhecido como Havoc pelas atrocidades cometidas dentro dos ringues, e Reiner Braun, rapidamente apelidado como Pyrite, o Ouro dos Tolos, por aqueles que apostavam. 

O Coliseu fervia em antecipação. 

 

 

A paz da bebedeira de Dott Pixis foi interrompida por duas breves batidas na porta, um padrão já conhecido pelo chefe da máfia. Sinalizou que podia entrar, e assim o subordinado o fez; William permanecia com seu semblante frio e distante, mas daquela vez, havia um toque a mais… Algo que Dott não conseguia distinguir. Mesmo depois de tantos anos juntos, não era capaz de decifrar os pensamentos de Will. Aquilo o incomodava profundamente. 

— Vim trazer os relatórios dos encargos dessa semana — anunciou o mais velho, esperando o consentimento do chefe para que prosseguisse. — Tivemos sucesso nas negociações de isenção fiscal, além de fecharmos acordos com alguns senadores para facilitar negociações estrangeiras de narcóticos. Infelizmente, perdemos contato com Gustav e alguns de seus subordinados. Aparentemente, eles não estão em nosso território.  

Dott olhou para o homem sério parado em sua frente com um sorriso sínico, quase travesso. O tópico o fez lembrar do adestramento de Gustav e, inevitavelmente, de um outro assunto que particularmente mexia bastante com William. Dott estava entediado o suficiente para provocá-lo apenas para se divertir. 

— E nosso amado Levi? 

William prendeu a respiração brevemente, tensionando a mandíbula por alguns segundos, como se segurasse para não dizer algo inapropriado. Dott estava conseguindo o que queria. 

— Alvos aniquilados — respondeu, com alguma dificuldade. 

— Bom… — murmurou satisfeito, tragando de sua bebida.  — Pode se retirar agora. 

Mesmo após o comando, William permaneceu imóvel, olhando fixamente para o chefe. Todos têm um limite do que conseguem tolerar, e Will sentia que estava cada vez mais perto de chegar ao seu.  

— Você é um péssimo líder — desabafou por fim, mesmo que ainda com alguma reserva em seu tom de voz. — Não percebe que o desconforto dos subordinados com a forma como você lida com essa organização é alarmante? 

— Nem Jesus agradou a todos, não foi? — respondeu divertido, mas escondendo irritação por detrás do sorriso sarcástico que trazia no rosto. — Sinceramente, William, não sei por que está falando de algo que é um problema meu. Você não tem competência para lidar com esses assuntos... não é como se você fosse o líder — acrescentou debochadamente, divertindo-se ainda mais com o cenho franzido do mais velho. — Pare de se meter onde não é chamado. 

— Eu estou apenas te alertando… 

— Não preciso da ajuda de um fracassado como você — interrompeu-o com o tom de voz mais firme, a ponta de sua irritação finalmente mostrando-se presente. Após um longo e incômodo silêncio entre os dois, Dott suspirou pesadamente e tragou da bebida. — Meu Deus, você fica insuportável sempre que Levi é citado, parece que do nada ganha coragem pra me enfrentar… — Olhou para o mais velho com seus usuais olhos ladinos, que não deixavam nenhum detalhe escapar. — Está levando para o pessoal? 

— Sabe que Levi é como um filho pra mim — foi tudo que Will conseguiu dizer. 

— Eu até entendo quando Carmen fala uma bosta dessas, como se aquele imbecil merecesse tanta consideração… Mas você? Não há ligação entre vocês, só se conheceram depois que ele se tornou o carrasco que é hoje. — Assistiu atentamente quando a postura de William mudava, demonstrando seu desconforto crescente. — Por que se importa tanto com aquele verme? 

Levou alguns segundos até que Will desse sua resposta. 

— Ele me lembra de quando eu era mais novo. 

— Verdade, os dois são parecidos… — debochou mais uma vez. — Ambos jogaram tudo fora por algo estúpido.  

Antes que o mais velho pudesse dar a sua resposta — que, por sinal, não seria nem um pouco respeitosa para com o líder —, a conversa foi interrompida por um terceiro, um subordinado que abriu a porta logo após bater duas vezes, sem esperar por uma resposta. 

— Senhor, sinto muito interrompê-lo, mas Lorde Reiss está aqui para vê-lo — anunciou o homem parcialmente escondido pela porta semiaberta. 

— Ah, finalmente… — resmungou, dando um último gole em seu uísque antes de caminhar até a porta. Iria pacificamente se retirar, mas o álcool parecia estar lhe dando excelentes ideias naquele dia; parou ao lado de William, próximo o suficiente para que pudesse cochichar em seu ouvido: — Não sei por que tem tanto interesse no meu cachorrinho, mas tente não se apegar demais. Os dias dele estão contados. — Ao dizer aquilo, assistiu à reação de descontentamento quase que instantânea de Will, que cerrou os punhos. Bufou para aquilo, revirando os olhos. — Se não fosse por esse seu coração mole, poderia estar hoje no meu lugar… William Pixis. 


Notas Finais


Valeus, falous, mamãe ama vcs ;D

"Ah CHisana, quando é que vc vai postar de novo?"
Então, galerinha, eu não sei. Fico de férias do trampo dia 20, e volto dia 3 :') (#saveChisanaRumiko)
Além disso, meu namorado tá fazendo questão de roubar todo meu tempo livre (mas eu estaria mentindo se dissesse que não gosto disso hehehee -v-)
Mas eu n acho que vá demorar mto não, eu to loooca pra acabar essa fic (PELAMOR DE DEOS ACABA LOGO)
Acho que ta sendo uma tortura tanto pra mim quanto pra vcs ^^'

Enfim...
Um bjo
Um qjo
E muito obrigada por não desistirem de mim, amo vcs <3


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