O jogo estava para começar, basquete, um dos esportes favoritos de Ester. Era um jogo importante da temporada, Yankees X Knicks, e ela já estava pronta meia hora antes do jogo começar, com camiseta e boné dos Knicks e um shorts mais confortável que encontrou, quando a campainha tocou. Lógico que ela não estava esperando ninguém, mas não custava nada ver quem era. E lá estava, um homem alto, magro e bonito - muito bonito -, com cabelos castanhos compridos, olhos verdes, cerca de vinte e cinco anos. Ela sabia quem era, amigo do David, o britânico que havia voltado à Inglaterra há oito anos, mas não tinha mudado muito desde então.
- James? - perguntou, surpresa.
- Sim. - repondeu ele, com um sorriso mostrando as covinhas. - O David está?
- Bem, - era difícil explicar a ausência do irmão sem chorar - não. Mas, entra.
- Você é Karen, não é? Namorada dele.
- Na verdade, - disse ela, indo se sentar no sofá, ao lado de James - não. A Karen é loira, baixinha; ele nunca te contou isso?
- Não.
- Aliás, eles terminaram. Eu sou a Ester.
- Ah! Sério? Você está... Diferente.
- Eu sei. A última vez que me viu eu tinha dez anos.
- Desculpa. Mas, me fala, onde ele está? Eu acabei de voltar para Nova York e quero rever meus amigos.
- Bem, - disse, com um tom de dor na voz, desbotando o sorriso - ele sofreu um acidente há alguns meses, e... Ele... Ele morreu.
- Ele... Isso é sério?
- É, sim. Estou morando aqui sozinha, agora. É mais ruim do que parece.
Um sorriso fraco e forçado passou pelo rosto dela, que não percebeu que estava chorando até James esticar o braço para enxugar uma lágrima em sua bochecha.
- Quer assistir ao jogo comigo? - perguntou ela, tentando mudar de assunto.
- Claro. - respondeu ele, com um sorriso, cativante - Também sou fã dos Knicks, - disse ele, apontando para a camisa dela - lembra?
Às 3h da tarde, Ester já estava dormindo. Passara a madrugada inteira sem conseguir dormir, aproveitando a insônia para descobrir onde encontraria Daniel Shultz vulnerável em uma sexta-feira. Intreceptou-o em uma trilha, em um bosque no Central Park, às 7h da manhã, arrancou a cabeça do homem e o prendeu à uma árvore, dizendo apenas que manter alguém como ele vivo era perda de tempo, e entalhou sua marca no tórax dele. Durante o jogo, passou a maior parte do tempo conversando com James sobre como os Knicks eram melhores que os Yankees, sobre os acontecimentos dos últimos anos, rindo quando lembravam de algo engraçado, tornando-se amigos, agora. James explicou a Ester que quando fez dezoito anos, os pais insistiram para ele fazer faculdade em Londres e continuou lá durante mais alguns anos, trabalhado.
James e David se conheceram quando David tinha dezessete anos, James tinha quinze. Tinham a música como uma paixão em comum.
Junto com outros amigos, Murphy, o mais velho do grupo, Jarred e Luke, formavam um grupo de amigos que tocavam em bares e restaurantes pela cidade.
Murphy era baixinho e magrelo, era loiro e tinha olhos azuis, e era muito zoado pelos outros, mesmo sendo o mais velho, por ser fraco e medroso. Mas em compensação, tinha uma voz que fazia Ester imaginar que um anjo estava cantando, doce e aguda, mas sem ser enjoativa.
Jarred era o ruivo de olhos verdes, tinha a voz grave e rouca, mas era bom ouvi-lo cantar. Era alto e forte, com rosto expressivo e bem marcado. Para Ester, ele parecia um viking.
Luke era tão alto quanto David e o mais novo do grupo, forte e musculoso mas sem muito exagero. A pele negra e os olhos cor de mel dele encantavam Ester. Luke foi o último a entrar no grupo, tinha dezesseis anos quando conheceu os outros meninos - e nessa época James já estava em Londres -, e quatro anos depois, quando Ester fez dezesseis, ele a pediu em namoro, e, para a surpresa de todos, David não fez nenhuma objeção quando o relacionamento começou.
James agora estava ali, cantando, a pedido dela, enquanto ela descansava com a cabeça no colo dele. Ester se lembrou que, quando James estava em Nova York, David e os outros diziam que as músicas que James cantava eram um orgasmo auditivo. Ester não entendia a expressão quando era criança, mas agora sabia o porquê, e ainda assim a voz dele era perfeita para ela, tanto que a fez relaxar confortavelmente até dormir. Não por causa do cansaço, mas porque a voz dele a hipnotizava. Era ótimo tê-lo ali, com ela, fazendo-a descansar, respirar, sonhar com unicórnios em vez de zumbis.
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