História Verloren (HIATUS) - Neun

— Soca a minha cara. — o ruivo ordenou, calmo. Recebeu um cruzado de direita no maxilar, nada muito grave. — Porra, Taehyung! Soca! A! Minha! Cara! — berrou pausadamente sua ordem, o álcool e maconha o deixando levemente tonto, mas nada que alterasse drasticamente seus reflexos. Escutava a batida da música que não fazia ideia de qual era, mas aprendeu a achar agradável durante a noite; além dos gritos animados, principalmente de Namjoon e Hoseok. Jungkook estava fofo com os olhos escuros arregalados, sentado ao lado de Jimin, que parecia aflito.

— Cacete, Tae! Senta a mão no filho da puta! — Hoseok gritou após dar um longo gole de sua garrafa de soju, deixando vazar alguns filetes da bebida transparente por seu queixo. O dito sorriu antes de levantar seu punho direito mais uma vez, tomando impulso antes de soltá-lo com velocidade contra o queixo de Suga, quase o fazendo morder a própria língua enquanto dava alguns passos curtos para trás, cambaleando.

— Agora começou. — anunciou o ruivo, movimentando o maxilar de um lado para o outro, ouvindo um ou outro estalo de seus ossos pelo sutil deslocamento. Foi com tudo para cima de Taehyung, socando a têmpora do garoto, sendo agraciado com os gritos animados de seus amigos e um ou outro grunhido de desgosto, provavelmente vindo de Jimin.

A mesinha de centro foi afastada para o canto do cômodo, dando mais espaço na sala de estar para a briga daqueles dois. Não que eles chegaram a ter algum desentendimento durante aquela noite, pelo contrário, todos estavam se dando muito bem — até Jungkook conseguiu soltar algumas palavras e risadas, graças ao conhaque. Mas aparentemente era muito divertido para os gangsters trocar socos entre si sem nenhum motivo concreto, além da demonstração gratuita de violência e “masculinidade”, que os faziam se sentir bem.

Os barulhos secos do punho de um se chocando com o rosto do outro eram quase abafados pelas risadas dos mesmos, além dos quase berros de seus companheiros de gangue, animados com a perseverança da dupla que se enfrentava há quase oito minutos, sem muitas pausas, a não ser para se afastarem brevemente, estudando como a adrenalina permitia os próximos movimentos de seu adversário. Yoongi só não esperava pela agilidade do mais novo em dar-lhe uma bela de uma rasteira assim que o ruivo avançava novamente para dar seu golpe final, caindo feito bobo de costas no chão, findando assim a luta que acabava seguindo as regras do filme Fight Club, talvez por falta de criatividade de inventarem novas regras, ou pura preguiça, não se sabe.

— Não valeu! — Yoongi bradou, se levantando do chão em fúria, protestando sobre a pequena festa que Taehyung e Hoseok faziam, pulando pela sala de estar levemente escorregadia em alguns pontos pelas gotas de sangue que caíram minutos atrás.

— Como que não valeu? Valeu sim!

— Valeu nada, você me derrubou!

— E o quê que tem?

— “Quê que tem” que não é justo, ué! Revanche! — deu um não tão leve empurrão no peito do mais novo e se afastou uns dois passos, já preparado para mais um round.

— Revanche o caralho, Suga! Vem logo pra eu cuidar dessa sua cara toda fudida! — Jin ralhou com um falso ar de irritação, já puxando o mais novo pelo braço até o banheiro que havia em seu quarto, antes de olhar fixamente para Jungkook, que até se impulsionou para levantar do sofá, mas uma mão se apoiou em seu peito o fazendo voltar à posição inicial. Olhou pra cima e viu que era Namjoon o mantendo ali e acabou por não questionar, não tinha intimidade com o mais velho, e se resignou a bufar em um visível desconforto.

(...)

— Olha aí, todo ferrado… Já disse que você é peça importante, não pode ficar brincando de lutinha toda hora, preciso de você inteiro pelos próximos dias, cacete! — Jin disse, dando um cascudo na cabeça de Suga, que já estava latejando pela sequência de socos levados, soltando um grunhido de dor.

— Como se você não gostasse de me ver assim… — resmungou, massageando o local, a mão de Seokjin era vezes mais pesada que a de Taehyung.

— É, não posso negar que me dá um tesão do caralho te ver assim, machucadinho. — sorriu de canto, lambendo o lábio inferior do ruivo, sentindo o gosto do sangue que saía tímido pelo corte que havia ali.

Iniciou um beijo rude e afobado, agarrando Yoongi com força pelas costas e se apoiando na pia do pequeno banheiro da suíte, esperando que o menor fizesse o de sempre, o fodesse com vontade, como em todas as vezes que ele brigava.

— Jin, ‘peraí… — tentava falar com a boca carnuda colada na sua, os braços fortes e possessivos o abraçando, as mãos grandes apalpando a carne de sua cintura e bunda. — O Jungkook tá aí, hyung…

— E daí? — sorriu, se afastando por milímetros da boca bonita do ruivo, descendo as mãos apressadas para a braguilha da calça escura que este vestia e enfiando a destra gelada em sua cueca, apalpando o membro ainda mole por baixo dos tecidos. — Desde quando isso te impediu de me foder gostoso, huh? — raspava os dentes pelo pescoço de Suga, mordendo com certa força vez ou outra. — Ele te chupa que nem eu? Ele senta com força no seu pau, do jeitinho que você gosta? Eu duvido muito. — lambeu o lóbulo de sua orelha, sentindo os brincos que ele usava fazendo coceguinhas em sua língua. — Ele é só um gatinho assustado, não sabe fazer do jeito certo. — continuava massageando o pau do mais novo, mas impressionantemente, suas provocações não pareciam surtir o efeito de sempre lá embaixo, e também não sentia a pele do ruivinho se arrepiar como o usual, nem as mãos bonitas o arranhando com força como ele gostava.

— Jin, me larga, sério. Não tô a fim. — disse com mais convicção, se sentindo extraordinariamente desconfortável com aquilo, até um pouco ofendido, e não fazia ideia do porquê.

— Aish, que foi, hein? — reclamou, largando finalmente o corpo esguio de Suga e cruzando os braços, impaciente. — Não acredito que você tá me deixando de lado porque o pivete tá lá na sala. Você nunca fez isso, Yoongi-ah…!

Tecnicamente era verdade. Ter um “lance” com alguém nunca chegou a impedir Yoongi de transar com Seokjin sempre que quisesse, na verdade era até divertido para o ruivo ter essa disponibilidade do mais velho. Mas, de alguma forma que a mente entorpecida e levemente dolorida do ruivo não tinha mínima vontade de descobrir, ele realmente não estava sentindo nenhuma necessidade de deixar sua adrenalina fluir nos gostosos movimentos de entra-e-sai até se sentir completamente relaxado com seu sêmen sendo despejado dentro de outro corpo. Bem, ele até queria, e bastante, só não… Com Jin.

— Não interessa o quê que foi, só me deixa quieto, que merda… — bufou irritado com Jin, e consigo mesmo, por não conseguir parar de imaginar a boca macia de Jungkook descendo em beijos molhados por todo o seu corpo, culminando com aquela língua quentinha rodeando a cabeça de seu pau. Mordeu seu piercing, sem se importar muito com a dor por acabar mordendo o corte que havia ali perto, e se virou de frente para a pia, afastando o corpo de Seokjin da maneira mais sutil que conseguia, abrindo a torneira e lavando suas mãos sujinhas do sangue de Taehyung, deliberadamente ignorando o mais velho ao seu lado.

— Beleza, então. — disse após alguns segundo de silêncio, soltando um riso seco de descrença. — Quando ‘cê perceber que pessoas inocentes como ele perdem a graça fácil, ou quando a mamãe proibir o bebê de te ver, eu vou estar esperando você voltar com o rabinho entre as pernas, seu filho da puta. — sussurrou rente ao ouvido esquerdo do ruivo, beijando um corte que havia abaixo do lóbulo, manchando seus lábios com o pouquinho de sangue que tinha ali. Abriu a porta do banheiro e rumou para fora, estancando na saída do quarto quando Jungkook esbarrou em seu peito ao entrar ali.

— Desculpa, eu só vim ver se tava tudo bem com o Yoongi… — o adolescente se explicou, omitindo o fato de que pretendia espiar ou escutar algo pela porta do banheiro.

— Com ele? Tá tudo ótimo, pode ir lá conferir. — disse tranquilamente, sem se afastar do mais novo, limpando o canto dos lábios com o dedão e chupando-o, sem tirar o sorriso ladino do rosto. Desviou do garoto e seguiu para a sala novamente, ouvindo pequenas lamúrias vindo do banheiro de visitas quando passou pela porta fechada deste.

(...)

— Yoongi-hyung… — Jungkook chamou baixinho pela fresta da porta que estava aberta, vendo o mais velho rapidamente se virar em sua direção e sorrir pequeno ao vê-lo. Seu rosto estava levemente úmido, a franja molhada grudada em sua testa, aquilo era suor?

— Oi Kookie, entra. — puxou o moreno pela mão quentinha e fechou a porta com o pé esquerdo.

— Tá tudo bem? Você tá muito machucado? — perguntou, não tão preocupado assim, já que agora sua mente fervilhava com possibilidades que o faziam se sentir absurdamente desconfortável, e ele não entendia direito o motivo.

— Tá sim, foram só uns cortezinhos. Vem cá. — o puxou pela gola da camiseta, lhe dando um beijo lento e molhado, fazendo um carinho na nuca arrepiada do mais novo com a mão gelada, enquanto a outra deslizava por sua cintura. Tentava entender, enquanto as línguas dançavam sem pressa alguma, como só de tocar a pele macia do garoto já o fazia se sentir diferente. Sua mente ficava mais atenta; a pele, sensível aos toques; o sangue, correndo rápido por seu corpo, em direção a uma certa parte, que fez Jungkook se assustar um pouquinho ao sentir cutucando sua virilha depois de um curto tempo. Olhou para baixo, e não conseguiu impedir que a sensação estranha voltasse.

— Yoongi, a… Sua calça, tá aberta. — travou na hora de falar, engolindo em seco. Seus batimentos cardíacos estavam acelerados e sua garganta deu uma travada. ele queria chorar? Mas o que diabos estava acontecendo consigo mesmo?

— Ah, sim. — sorriu amarelo ao perceber sua situação. — Eu tava mijando. Mas não quando o Jin tava aqui. Depois. Enfim.

Ah, merda. Ele tava mentindo, Jungkook conseguiu perceber. Ah, que sensação horrível que ele sentia na boca do estômago…! Sua pele parecia queimar, seu coração queria pular pra fora de seu peito, e seu cérebro segurava uma placa gigante em neon dizendo “corre!”.

— Hey, Kookie, que foi? — perguntou após ter inclinado sua cabeça para retomar o beijo, mas sendo recusado pelo mais novo.

— Eu preciso ir pra casa. — falou baixinho, andando de costas até a porta, devagar. Na verdade nem pra casa queria ir, teria que lidar com as incontáveis perguntas de sua mãe, e só de pensar já se sentia cansado. Só queria sair dali o mais rápido possível.

— O que foi, não tá se sentindo bem? — perguntou preocupado ao ver o garoto respirar profundamente. Fechou a braguilha da calça e encostou a mão na bochecha vermelha do moreno. Óbvio que estava quente pra caralho. — Foi o conhaque? ‘Cê bebeu mais alguma coisa depois?

— Eu só quero ir pra casa. — se desvencilhou das mãos de Yoongi e se virou pra abrir a porta, mas tomou um susto ao sentir alguém batendo nela com certa força.

— Vocês dois, na sala, agora! Tenho que falar uma coisa importante! — era Seokjin, que tão rápido quanto chegou, saiu do quarto, batendo a porta.

— Eu te levo pra casa, ok? Só vamos ver o que ele quer contar e eu te levo. Vem. — disse ao abrir a porta do banheiro e levar Jungkook junto pela mão, andando rápido para a sala de estar, onde a situação não parecia nada diferente de quando saiu, só a música que estava um pouco mais baixa. Sorriu de canto ao perceber Taehyung e Jimin sentados no sofá, ofegantes por algum motivo.

— Até que enfim. — Jin resmungou sentado no outro estofado, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Como daqui a pouco vocês vão estar tão chapados que não vão lembrar de nada, eu vou falar agora. Semana que vem uma coisa importante vai rolar. A gente vai receber um carregamento de cem quilos de cocaína pra repassar ‘pros caras de Daegu revenderem. Grana boa, pagamento em moeda nacional.

— Beleza, eu dirijo o caminhão. — Namjoon se prontificou, adquirindo uma feição séria e compenetrada.

— Você vai ter que pegar a carga no aeroporto, um caminhão de um restaurante vai chamar muita atenção. Vai com seu carro mesmo, e arranja a placa fria. Jungkook. — chamou a atenção do adolescente, que respirou fundo ao olhá-lo fixamente. — Amanhã você fala com seu chefe, porque a carga vai ter que ficar na lavanderia até ser repassada, ok? Você vai ficar responsável por tirar os cem quilos do Bangtan e deixar lá.

— Ué, mas por que não fica no Bangtan mesmo?

— Porque eu não quero, Hoseok. — retrucou.

— Não acha que isso é responsabilidade demais, não? — Yoongi perguntou irritado, sabia o que o mais velho queria com aquilo.

— Não sei. Pra mim é bem justo, já que se o anjinho quer entrar, vai ter que aprender na prática como tudo funciona. E você, Kookie, acha responsabilidade demais? — provocou.

Ok, era agora ou nunca. A chance que Jungkook tinha pra provar que queria mesmo estar ali. Então por que ele se sentia tão desanimado, já que deveria estar eufórico com a oportunidade?

— Não. — respondeu, chamado a atenção de todo mundo. — Acho que eu consigo fazer isso.

— Eu vou junto então. — Suga avisou.

— Não precisa ir com ele, Yoongi. — Jin sorriu cínico.

— Eu não tô pedindo permissão, eu tô falando que eu vou junto com o Jungkook guardar a carga. — desafiou, ouvindo risos baixos, provavelmente vindos de Tae, antes deste se levantar para atender seu celular na cozinha.

— Eu acho justo. Deixar o moleque sozinho com cem quilos dando sopa é burrice. — Hoseok comentou, também achando graça sabe-se lá de quê.

— Certo. Mas eu quero que você se responsabilize se alguma coisa der errado, tudo bem, Kookie? Vai ser a última vez que eu deixo o Suga como seu babá.

A pele de Jungkook ainda estava quente, seu coração acelerado, mas agora era de raiva. Odiava ser subestimado em qualquer circunstância, e aquilo estava o dando uma carga grandiosa de determinação. Provaria que Seokjin e todos eles estavam errados com aqueles pré-julgamentos.

— Gente, tô descendo. — Taehyung comentou, vindo da cozinha após ter findado a ligação.

— Ué, mas porque, Tae? — Jimin perguntou.

— O senhor Kwan, do açougue, me ligou falando que tem uma doida quebrando tudo no mercadinho da frente da casa dele, e ele não ia ser doido de chamar a polícia. Vem comigo, Jiminnie! — chamou animado.

— Eu também vou. — Jungkook interrompeu, pegando seu casaco e seguindo seu melhor amigo que era arrastado porta afora por Taehyung, sem olhar na cara de ninguém ali.

— Iiih… — Namjoon provocou ao ver a feição incrédula que tomou conta do rosto de Suga. — Eu achei que as pessoas ficavam mais dóceis depois de transar, mas com o Kookie foi o contrário. —comentou, fazendo Hoseok rir escandalosamente.

— Vão tomar nos seus cus. — o ruivo respondeu, pegando a chave da moto, junto com sua jaqueta, e partindo atrás daqueles três.