História Verloren (HIATUS) - Zehn

— I ain't happy, I'm feeling glad. I got sunshine in a bag, I'm useless but not for long, my future is coming on...

— Is coming on, is coming on, is coming on, is coming on, is coming on…

— My future…

— Is coming on, is coming on, is coming on, is coming on, is coming on…

— Meu Deus, calem a boca vocês dois! — Jungkook ralhou, interrompendo a cantoria de Taehyung e Jimin enquanto caminhavam para o mercadinho não tão longe dali.

— Yaah, Jungkookie! Você adora essa música! O que foi, hein? — Jimin perguntou, abraçando o mais novo de lado, se esforçando um bocadinho pra conseguir alcançar o ombro deste. Alguns segundos se passaram, mas não houve resposta alguma vindo do garoto de cabelos negros, que continuava andando pela calçada, ora olhando para o chão, ora para o outro lado da rua vazia e gelada.

— Taehyung-ssi… — balbuciou com incerteza na voz, quase desistindo no meio do caminho.

— Nossa, que formalidade! Se você amigo do Jiminnie, é meu também! — passou para o outro lado de Jungkook, o deixando no meio dos dois mais velhos dali. — O que foi?

— Qual é a do Suga com o Seokjin? — ainda não fazia contato visual, e se sentia idiota por se incomodar e ainda ter a pachorra de perguntar sobre aquilo pra alguém que nada tinha a ver com o assunto. Mas não podia voltar atrás, era só uma pergunta, afinal.

— Como assim? O que você quer saber? — perguntou confuso. A vontade de responder um “Nada não, esquece.” era gigante em Jungkook, mas nada superava a curiosidade amarga que subia por sua garganta seca.

— Sei lá… Eles parecem tão próximos…

— Ah, isso eles são sim! Tipo unha e carne, sabe? Desde que eu entrei, nunca vi uma discussão séria entre eles, sempre que o Jin hyung dá uma ordem, ele é o primeiro a acatar; e o Suga hyung é o que fica no comando toda vez que o Jin sai pra fazer negociações por aí.

— Eles são assim desde crianças, ‘né? — Jimin comentou, agora com as mãos nos bolsos dianteiros da calça jeans justa que vestia.

— Pelo que eu sei, sim. O Suga era tratado como filho pelo pai do Jin quando ainda ‘tava vivo, eles eram muito parecidos em questão de personalidade, sabe? Parecia que o Suga hyung era o filho de sangue do senhor Kim, era engraçado! Acho que foi bom pra ele, já que nunca conheceu o pai de verdade. — sorriu levemente nostálgico. — Na verdade, eu até achava que eles eram irmãos mesmo, mas eles começaram a agir estranho depois de um tempo…

— Estranho? — o loirinho perguntou curioso, como se tivesse uma conexão mental com Jungkook, que se perguntava mentalmente a mesma coisa, apesar de não ter coragem de abrir a boca. Se sentia esquisito, com uma ansiedade repentina e um desconforto no estômago, quase arrancando a pele fininha de seus lábios pela força desmedida com que os mordia. — Estranho como?

— Ah, nada de tão grave, relaxa. Começou só com uns beijinhos escondidos, mas como ninguém reclamava, eles passaram a ser mais abertos com isso.  Porra, eles já transaram na cozinha do Bangtan quando tava todo mundo lá no salão conversando, deu pra ouvir tudo! — gargalhou com a lembrança de todos os seus colegas constrangidos com aquela cena. — Eu achava que o Suga hyung ficasse por baixo, ele é tão pequenininho…

— Hey, isso não significa nada, tá legal? Eu posso muito bem foder você até te fazer chorar! — Jimin esbravejou emburradinho.

— Não duvido da sua capacidade, neném. — piscou sorridente, prestando mais atenção agora ao barulho de coisas quebrando, vindo do mercadinho à sua frente. Haviam chegado ao seu destino, afinal.

Jungkook se sentia anestesiado. Todos os sons pareciam distantes, não sentia direito o asfalto da calçada dando lugar para o piso de cerâmica do mercadinho; ignorou completamente o vidro da porta de entrada estilhaçado no chão. Seus olhos se fixaram sem ânimo em algum ponto aleatório da mercearia, em meio ao pequeno caos que circundava a caixa registradora, que provavelmente fora arrombada por quem ali estivesse. Escutou ao longe — ao menos lhe parecia longe — Taehyung comentar algo sobre o senhor Kwan ser um cego do caralho por confundir um cara de cabelo grande com uma garota, e não se preocupou em entender aquela sentença. Isso porque a mente do moreno só conseguia se concentrar nas sensações ruins que o afogavam.

Seokjin e Yoongi.

Os dois então tinham um caso antigo, e Jungkook era só o carinha que o ruivo planejava foder de vez em quando. Uma pequena parcela de sua mente, a mais racional, se perguntava o motivo de ele se sentir tão devastado com aquela notícia, mas Jungkook sabia muito bem o porquê. Enquanto travava o maxilar, deixando a fúria tomar o lugar da tristeza, o adolescente entendia o que estava acontecendo consigo, o que ele deixou que acontecesse consigo.

Tinha deixado que a admiração que tinha por Yoongi se misturasse com o seu tesão e a sensação agradável de conversar com o mais velho, se transformando em um monstro híbrido que agora o devorava por dentro ao se lembrar da imagem de Seokjin saindo daquele banheiro, limpando os lábios… Da cara de pau de Yoongi de querer beijá-lo enquanto estava todo suado e com a porra da calça aberta…

Que merda era a sensação de se descobrir apaixonado por Min Yoongi assim que também descobria ter sido usado como uma puta pelo mesmo. Que merda.

— Jimin, vai lá pra fora! Vai! — acordou do sabe-se-lá-o-quê que estava tendo com a voz grossa de Taehyung ecoando pela mercearia, empurrando o loirinho para fora do estabelecimento vandalizado, sem tirar os olhos e a mira da pistola em sua mão da porta que dava para o estoque, lugar onde, agora entendeu o que Taehyung tinha dito, o tal cara tinha se enfiado. Realmente teve todos os sentidos despertos quando viu o amigo correndo para fora do mercado e o arrastando junto.

— Cacete, Jungkook, vem logo! — reclamou Jimin, tentando fazê-lo andar até pelo menos do outro lado da rua.

— Espera aí, espera aí! — puxou o braço de volta, se liberando das mãos do outro. — Se esconde, Jiminnie! Vira a esquina e fica lá, entendeu? Não volta pra ver o que tá rolando! — deu meia volta e retornou à mercearia, virando o rosto para ver se Jimin havia o escutado, e se sentiu um pouco aliviado ao ver o melhor amigo correndo para algum abrigo.

Agora ele tinha que pensar rápido. Taehyung estava agitado, respirando rápido e apontando sua arma para a porta fechada no canto do estabelecimento; o saqueador, do outro lado; os dois trocando insultos como duas crianças de oito anos, e Jungkook sem a faca que havia ganhado de presente de Yoongi.

Yoongi…

— Agora não, caralho! — brigou consigo mesmo, dando um soco relativamente forte no próprio crânio. Tinha que arranjar rápido alguma solução para que Taehyung não fizesse merda. — Taehyung! — elevou o tom de voz, chamando a atenção do de mechas verdes.

— Aah, pelo menos tirou o “ssi”! — sorriu para o mais novo. — Que foi?

— Como assim “que foi”? ‘Tá maluco? Vai atirar no cara?

— Olha, Jungkook, eu vou te explicar umas coisinhas. — relaxou a musculatura e abaixou a arma, se virando de frente para o adolescente como se fosse contar um segredo. — Se alguém ‘tá junto com a gente nos nossos esquemas, e ‘tá com um problema, esse alguém liga pra gente em vez da polícia, e a gente resolve o problema pra ele, entendeu? — relatava ainda com a arma na mão, a balançando enquanto gesticulava, como se tivesse esquecido que ela estava ali. — O senhor Kwan paga direitinho a nossa porcentagem da maconha que o filho dele vende na faculdade lá no centro. Se o senhor Kwan tá puto com esse cara aqui — apontou para a porta ainda fechada —, a gente apaga o filho da puta, entendeu?

Jungkook não podia dizer que não fazia sentido.

— ‘Tá, ‘tá certo, mas não tem como, sei lá, só socar o cara até ele desmaiar?

— Porra, Kookie! ‘Cê tá com medo de ver gente morrer agora? Nessa altura do campeonato? Se fosse assim você nã- Ei! — se interrompeu ao tomar um susto com a velocidade em que o saqueador de cabelos longos saiu de dentro da sala de estoque, correndo em direção à saída. — Pega ele, Jungkook! — bradou com a voz grossa para o mais novo, que em um salto por puro reflexo, conseguiu agarrar o homem pelos cabelos, o ouvindo gritar de dor.

Ele era relativamente baixinho, de pele amorenada e traços ocidentais. Jungkook nunca o havia visto por aquela bandas.

— Me solta, filho da puta! — o desconhecido ordenou, com a voz carregada pelo sotaque de sabe-Deus-onde, desferindo um soco no rosto de Jungkook, que sentiu a pele arder instantes depois.

Foi tudo tão rápido que o moreno não conseguiu captar todas as informações ao mesmo tempo. Em um momento seus dedos sentiram algo molhado quando tocaram na parte de sua bochecha que ardia, conseguindo constatar que havia sofrido um pequeno corte. No outro, foi atingido com algum esguicho em seu pescoço e peitoral, junto com um estouro ecoando pela mercearia.

Se sentiu puxado pelo casaco para fora do mercadinho por alguém que estava fora de seu alcance visual, e só percebeu quem era quando levou dois não tão leves tapas no rosto, acordando de seu segundo sabe-se-lá-o-quê da noite.

Era Yoongi.

Mas o que diabos ele estava fazendo ali?

— Jungkook! Kookie! ‘Tá me ouvindo? Caralho, me responde, menino! — sacudiu o maior pelos ombros tensos, só o vendo piscar confuso por alguns segundos.

— O que… O quê que…

— ‘Cê ‘tá bem? O tiro te acertou? Cacete, seu casaco tá todo ensanguentado, sua mãe vai te matar, e depois me matar! Puta que pariu…! — segurou o ímpeto de pôr as mãos no rosto, já que agora elas também estavam sujas de sangue. — Taehyung, seu bosta! ‘Cê ‘tá maluco em atirar no cara com o Jungkook do lado? — seguiu em direção ao de mechas verdes, que olhava meio atônito para o que tinha acabado de fazer.

— Eu matei um cara… Hyung…

— É, eu ‘tô vendo!

— Caralho, eu… Eu matei um cara! — olhou para o ruivo com os olhos arregalados, fazendo a expressão assustada dar lugar a uma mais eufórica, com direito a um sorriso que deixou Yoongi um pouco assustado. — Eu! Matei! Um! Cara! Eu ‘tô oficialmente dentro agora! — avançou em Yoongi, o abraçando enquanto ria alto. — Sem limpar sangue dos outros, sem ser o único a ficar de fora vigiando, agora eu oficialmente sou parte do Bangtan! Jimin-ah, onde ‘cê tá? A gente tem que comemorar! — começou a berrar, indo para fora do mercadinho, vendo Jungkook escorado na parede, olhando para suas mãos, completamente sujas de sangue. O sangue do cara de cabelo grande.

— Hey, Kookie… — Yoongi chamou baixinho dessa vez, encostando no ombro do mais novo enquanto Taehyung sumia pelas ruas escuras procurando por Jimin. — Jungkook-ah, olha pra mim, olha pro Suga-hyung, olha. — insistiu, com o máximo de delicadeza que conseguia ter, chamando a atenção do moreno, que agora o encarava catatônico.

— P-por que o Taehyung ‘tá feliz? — foi o que conseguiu perguntar em um fio de voz, arrancando um riso seco de Yoongi.

— Porque ele acabou de completar o rito de passagem. Agora o Tae não é mais só um subordinado, ele é parte da equipe. E se você quiser fazer parte também, vai ter que fazer a mesma coisa um dia.

— Eu… Eu vou ter que matar alguém? — perguntou, sentindo como se tivesse levado um choque. sua cabeça agora girava rápido demais, e seu coração estava acelerado como nunca antes. Lágrimas fininhas escorriam furtivamente por seus olhos, chamando a atenção de Suga, que o abraçou com força, não se importando se o sangue manchava a camiseta de um de seus filmes favoritos. — H-hyung, eu não… Eu não quero…!

— Ssh, shh, calma… ‘Tá tudo bem, ok? Calma, bebê. — fazia um cafuné no maior, o ouvindo fungar enquanto tinha a cabeça afundada na curvatura de seu pescoço. — A gente vai dar um jeito, respira, fica calmo. — tentava argumentar, sentindo seu coração doer ao ver o mais novo tão vulnerável daquele jeito. — O hyung vai dar um jeito.